A ILUMINAÇÃO DO ESPAÇO URBANO LUCIA MASCARÓ

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  • 8/6/2019 A ILUMINAO DO ESPAO URBANO LUCIA MASCAR

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    Lucia Mascar

    A ILUMINAO DOESPAO URBANO

    Espaos com ilu mina o precri a do recint o Espaos com ilu mina o precri a do recinto Espaos com ilu mina o precri a do recint o Espaos com ilu mina o precri a do recinto Espaos com ilu mina o precri a do recinto urbano.urbano.urbano.urbano.urbano.Fonte: MASCAR, 2000.Fonte: MASCAR, 2000.Fonte: MASCAR, 2000.Fonte: MASCAR, 2000.Fonte: MASCAR, 2000.

    Vista diurna da fachada de um edifcio em Vista diurna da fachada de um edifcio em Vista diurna da fachada de um edifcio em Vista diurna da fachada de um edifcio em Vista diurna da fachada de um edifcio em Campo Grande, MS.Campo Grande, MS.Campo Grande, MS.Campo Grande, MS.Campo Grande, MS.Fonte: MESQUITA, A.C., 2005Fonte: MESQUITA, A.C., 2005Fonte: MESQUITA, A.C., 2005Fonte: MESQUITA, A.C., 2005Fonte: MESQUITA, A.C., 2005

    Vistas not Vistas not Vistas not Vistas not Vistas not ur ur ur ur ur nas da iluminao renovada das nas da iluminao renovada das nas da iluminao renovada das nas da iluminao renovada das nas da iluminao renovada das cidades cidades cidades cidades cidades de de de de de Buenos Aires e do Rio de Janeiro.Buenos Aires e do Rio de Janeiro.Buenos Aires e do Rio de Janeiro.Buenos Aires e do Rio de Janeiro.Buenos Aires e do Rio de Janeiro.Fonte: MFonte: MFonte: MFonte: MFonte: MASCASCASCASCASCAR, 2004; SILVA, 2004.AR, 2004; SILVA, 2004.AR, 2004; SILVA, 2004.AR, 2004; SILVA, 2004.AR, 2004; SILVA, 2004.

    Il umin ao pbl ica de Sevil ha, Espanha.Il umin ao pbl ica de Sevil ha, Espanha.Il umin ao pbl ica de Sevil ha, Espanha.Il umin ao pbl ica de Sevil ha, Espanha.Il umin ao pbl ica de Sevil ha, Espanha.Fonte: MASCAR, 2002Fonte: MASCAR, 2002Fonte: MASCAR, 2002Fonte: MASCAR, 2002Fonte: MASCAR, 2002.

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    At pouco tempo atrs, a iluminao de espao urbano era uma rea negligenciada,tanto pelos iluminadores como pelos arquitetos e urbanistas. A idia mais atual a de promover critrios de iluminao estticos e funcionais que se adqem diversidade de estruturas encontradas na cidade. Que coincidem no espao mas

    no so levadas em considerao e inclusive estudadas e praticadas por especialistasdiferentes. So muitas as variveis a serem levadas em considerao.

    O TEMPO preciso compreender que as seqncias temporais so as que

    marcam as mudanas que fazem a histria, criam a periodicidade (oudiferenas de significado), sendo elas as que permitem pensar na existnciade geraes urbanas, em cidades que se sucederam ao logo da Histria eque foram construdas e iluminadas segundo diferentes maneiras e ideologias suficiente passear por uma cidade para encontrar, na sua paisagem,

    elementos que foram criados em momentos que no esto mais presentes,que foram presentes no passado e outros que esto no presente do presente,em instalaes recentemente construdas, mas que j so passado.

    Alguns dos atores urbanos se movimentam segundo tempos rpidos,que precisam de uma iluminao intensa, confortvel, segura: so osindivduos e empresas hegemnicas. Outros se movimentam segundo tempolentos, os da economia pobre, que no precisa seno de uma iluminaode subsistncia, apenas discreta quando muito. Para os primeiros temsignificado as grandes avenidas ou auto-estradas que unem, por exemplo,o aeroporto ao centro da cidade , nas que se circula rpido e onde estodadas as condies materiais dentre elas a de sua iluminao artificial para que o tempo gasto na viagem seja curto. J entre os bairros acirculao ( e a iluminao das ruas ) lenta, mais devagar no sentido deque no h materialidade (iluminao e ruas adequadas) que favorea otempo rpido. E isso se reflete claramente na iluminao urbana, talvez,sem se ter a conscincia das razes dessa situao quando se analisa otema.

    OS OBJETIVOSIlumina-se o ambiente noite para alcanar certos objetivos sociais

    ( ou econmicos), que incluem segurana, apoio ao desenvolvimento,destaque s reas histricas ou espaos verdes pblicos ou para enviar mensagens.

    Comunidades diferentes podem ter objetivos distintos em relao iluminao pblica de ruas, avenidas ou espaos urbanos. Pode ser instalada, fundamentalmente, para a segurana e visibilidade dos motoristas;tambm pode ser instalada para criar a sensao de segurana entre osvizinhos de um bairro. Ou pode ser instalada numa rea de jogos ou deprtica de esportes, por exemplo, para fazer possvel seu uso noite. Emmuitas reas centrais das cidades, a iluminao artificial vista como umelemento esttico que pode ajudar a atrair consumidores aos comrcios darea.

    Vista de Old Town Ridge mostrando a luz balanada entre diferentes edifcios, de maneira que cada um deles forme parte de um todo integrado.Fonte: CHARTERED INSTITUTION OF BUILDINGS SERVICES ENGINEERS, INSTITUTION of LIGHTING ENGINEERS.Lighting the environment, A guide to good urban lighting.Birmingham: SP Print Group, 1995, p.07.

    Vista noturna de Porto Alegre, RS.Fonte: www.portoimagens.com

    Vista noturna da iluminao da Av. Borges de Medeiros, Porto Alegre, RS, mos- trando a influncia das fachadas iluminadas na iluminao do espao urbano.Fonte: www.portoimagns.com

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    A PAISAGEM A iluminao eltrica mudou o tempo e as horas de vida normal

    diurna. Antes da iluminao pblica barata, limpa e eficiente, poucasatividades eram possveis de serem realizadas no espao pblico noite.

    Tambm modificou sua percepo. Ruas bem iluminadas se supem quesejam seguras porque permitem ver melhor ou, talvez, desanimar aoscriminosos (tema j discutido por vrios autores). Como afirma Benya,... a iluminao exterior oferece o nicomanto de segurana que cobrequase todos os tipos de propriedades ou edificaes... (2004). Mas tambmtem seu encanto de modernidade que muito agrada s pessoas em geral.

    Mas, esteticamente, a iluminao noturna da maior parte de nossascidades incoerente e incompleta e bom se perguntar como esta situaoaconteceu. Sem dvida, ocorreu desde que o trnsito de veculos aumentouna dcada de 1960 e o entorno sofreu com o incremento e o desenho da

    iluminao, que no tinha uma preocupao nem com efeitos estticosnem com os componentes do espao urbano que tambm iluminava. Oresultado foi uma iluminao uniforme (para os usurios dos veculos) epouco refinada, com problemas de poluio luminosa e sombrasindesejveis projetadas sobre as caladas (pssimo para pedestres e aedificao circundante). Pela sua vez, a iluminao artificial dos edifcios(dominantes da poca, as famosas torres de vidro) que escapa pelas suasaberturas cria conflito, tambm, no espao urbano com a iluminaopblica e com os componentes do prprio recinto, alm de significar desperdcio energtico.

    Essa situao parece estar sendo superada. Atualmente, vriascidades latino-americanas esto realizando programas de atualizao dailuminao pblica, que geralmente formam parte de um plano derenovao do centro antigo e seus equipamentos e que, freqentemente,inclui sistemas de trnsito, parques, praas e monumentos. Em menor escala, projetos urbanos e suburbanos tais como conjuntos habitacionais,hospitais, centros de compras e instalaes de lazer tambm tm recebidonovas instalaes projetadas com critrios renovadores como, por exemplo,ausncia de poluio. Em dcadas passadas, a tendncia foi aumentar ailuminncia e instalar equipamentos mais ornamentais; em vez de fornecer o mnimo necessrio, os proponentes entusiastas de uma melhor iluminao freqentemente queriam o bvio: mais luz melhor distribuda.Mas atualmente se enfatiza novos aspectos de projeto e se revisa os valoresusados, como so os casos de Rio de Janeiro, Curitiba e Buenos Aires,reconhecendo, por exemplo, que o desenho dos postes e das luminriaspode ser requintado, como j o foi em outras pocas, representando umaboa oportunidade para o desenho de objetos de uso artisticamenteresolvidos. E se incorpora os novos princpios do processo de projeto dailuminao do espao urbano tais como a inexistncia de poluioluminosa e do ofuscamento assim como a de se ter uma boa reproduodas cores; note-se o cuidado do projeto que evita produzir um halo luminososobre o conjunto de edifcios, destacando cada um deles sem ofuscar.

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    O PERFIL As cidades so conhecidas pelo seu perfil, no somente pelo visto

    distncia mas tambm por aquele que o usurio descobre no seu percursourbano. Durante o dia o contorno formado pela convergncia da abbada

    celeste e os edifcios e a noite a silhueta que faz com que diferentes cidadese bairros sejam reconhecveis.

    Percebe-se melhor num entardecer de cu claro de vero mas sempreest l; a abbada celeste como uma seo triangular de um znite quedesce para o horizonte e nos bairros onde a cidade menos densamenteconstruda, nas praas e parques, torna-se maior a parcela de cu visvel.Neste sentido, cada bairro da cidade assume um carter que lhe prprio,na anlise final, como resultado da reao do campo de viso humano.Dado importante para o projetista do espao urbano.

    bastante normal que as silhuetas da cidade desapaream noite.

    Elas podem ser apagadas pela luz claramente delineada desde as janelas,mas a iluminao pblica tambm contribui para sua diluio, pois consiste,principalmente, de uma srie de pontos brilhantes freqentemente posicionadode tal forma que apagam qualquer relao inerente da estrutura da cidadee o perfil que percebido verticalmente.

    O ESPAO URBANO ATRAVS DO DIA E DO ANO A cena urbana, que muda dia e noite, agora de forma mais marcante

    na medida que a iluminao artificial noturna se generaliza, oferece situaesdiferentes de apreciao e percepo do espao urbano. E belasoportunidades de desenho urbano e luminoso (ou de provocar o caosluminoso urbano).

    As vias de trnsito mudam a sua aparncia e, por tanto, a suainfluncia, tanto na iluminao natural como na artificial do recinto urbanono somente atravs do dia mas tambm ao longo do ano, mas o fazem demaneira diferente se tm vegetao ou se so secas, por exemplo. Na Av.de Mayo da cidade de Buenos Aires comprova-se a influncia da presenada vegetao na iluminao natural do recinto urbano: no inverno(permitindo alguma refletncia das fachadas) e no vero (quando as rvoresas cobrem quase por completo), sem poder contar com ela. A iluminaoartificial est desenhada corretamente para se integrar sem prejudicar nem avegetao nem a iluminncia recebida na faixa de rolamento e nas caladas.Na Av. Diagonal Norte da mesma cidade, verifica-se a importncia de umespao urbano ser seco , sem vegetao, na iluminao natural do recinto,no qual possvel contar com a refletncia das superfcies que o delimitamatravs do ano, importando s as sombras projetadas pela edificao, semter a contribuio da refrescante ao da arborizao urbana..

    A poluio luminosa tambm acontece durante o dia: superfciespolidas ou brilhantes das fachadas dos edifcios , por exemplo, refletem a ludo Sol e suas cores invadindo os edifcios prximos e seus ambientes internoe os externos. uma poluio luminosa dinmica, como a fonte de luz quea provoca. Nada h regulamentado sobre este tema.

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    pelas luminrias; de outro lado, ela determina as sombras do espao delineado e

    a tangibilidade da forma e da textura de um edifcio. A perspectiva longitudinal de pontos brilhantes enfatiza a

    tridimensionalidade do espao urbano. ela revela a regularidade longitudinal das superfcies horizontais; torna-se um guia tico, podendo-se prever o trajeto de uma rua

    longa antes de que ela termine; interage com a emisso da luz agregando ritmo s sombras das

    superfcies verticais delineadas, as quais conferem variao s ruas.Fazendo isso ajuda-se percepo tridimensional em situaes onde oguia tico menos eficiente devido baixa iluminncia;

    se o guia tico focalizado nos pontos brilhantes divido emtrechos claros quebrados por pausas, o efeito de profundidade pode ser

    aumentado e a monotonia amenizada; finalmente, permite modelar o volume e o curso de uma rua,

    fazendo mais fcil perceber seu trajeto.

    O DIA E A NOITE NO RECINTO URBANO ILUMINADO: UM PROJETO NICO A cidade um produto eminentemente histrico que se expressa

    ligando a estrutura social e as formas espaciais em umtodo ambientalestruturado. Essa a viso que deve orientar a iluminao de seus recintosurbanos.

    A cidade se materializa e se expressa no conjunto de espaosprivados articulados com o espao pblico. A relao entre o espaopblico e o privado uma dialtica, cada espao pblico tem uma faceprivada e cada espao privado tem um rosto pblico.

    Os atores sociais, produtores da cidade, a materializam (e ailuminam) desde distintas lgicas: a lgica do ganho, a lgica da polticae a lgica da necessidade. Os que atuam desde a lgica do ganho realizamprocessos de produo de e na cidade, gerando componentes, suportes,infra-estrutura (iluminao), equipamentos, solo urbano em forma parciaou descontnua. De forma parcial e fragmentada, atendendo a seusinteresses.

    Os atores que produzem a cidade atravs da lgica poltica, por meio de uma ocupao particular do poder, atuam em forma direta ouindireta por meio das normativas, da planificao e da gesto urbana. Etambm de forma parcial e fragmentada, geralmente, por atender a umaou duas das funes urbanas e no ao conjunto delas, por exemplo: ailuminao de ruas e avenidas.

    Um terceiro grupo produz a cidade atravs da lgica danecessidade: so os atores sociais que autoproduzem a cidade porqueesto fora do mercado e fora da poltica pblica, sem iluminao de seusespaos pblicos ou privados normalmente.

    Deveriam ser os atores polticos, nas suas diversas verses (podermunicipal, universidade, comunidades de base atravs de seus

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    Vistas noturnas da iluminao renovada das cidades de Buenos Aires e do Rio de Janeiro.

    Fonte: MASCAR, 2004; SILVA, 2004.

    Diferent es altu ras de montagem e seus objetos iluminados.Seriam tambm as intenes?

    Fonte: LIGHTING Arts& Science. Sidney:vol.21,1,February 2001,p.15

    representantes), por meio da gesto pblica, da educao e da participaocitadina, os que unidos teriam de orientar e articular a cidade (suailuminao) como um bem pblico, como uma totalidade estruturada;como ohabitat possvel da totalidade dos roles sociais, econmicos,

    tecnolgicos e artsticos do homem moderno, que no se desenvolve numhabitat de isolamento e insegurana.

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    Lucia Mascar

    Doutora em Arquitetura pela USP; ps-doutora em Arquitetura e meioambiente pela Universidad de Sevillha, Espanha; professora do ProgramaMavile nvel especializao, mestrado e doutorado do Departamentode Luz y Visin da Universidad Nacional de Tucumn, Argentina;

    professora do Programa de Ps-Graduao em meio ambiente edesenvolvimento regional da Universidade para a Regio e do Estadodo Pantanal, UNIDERP; professora colaboradora do Programa de Ps-Graduao em Arquitetura, PROPAR-UFRGS.

    REFERNCIASBENYA, J. R.Big cities, bright lights: lighting the urban landscape. www.lightforum.com/design/FRANDSEN, S.; CHRISTENSEN, E.Night light in Copenhagen.New York:NYTNYTNYTNYTNYT, 553, 1977.MASCAR, L. et al. Iluminao natural a artificial do recinto urbano.Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 200

    Pesquisa.MASCAR, L.Luz e arquitetura.Porto Alegre: PROPAR UFRGS, 2003. Textos de aula.MATTIVI, M.R. ; KIRSCHBAUM, C.El medio ambinte visual urbano en el subtrpico.SANTOS, Milton.O tempo nas cidades . So Paulo: Cincia e cultura, 56, 2, abril-maio 2004, p. 21-22.SANTOS, E. dos.A iluminao pblica como elemento de composio da paisagem . Proto Alegre: Programa de Ps-

    em Arquitetura, PROPAR, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFarquitetura.