A Imagem de Deus e a Frustração do Ateísmo Científico

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    A Imagem de Deus e a Frustrao doAtesmo Cientfico

    Por: J. P. Moreland

    Traduo: Eliel Vieira

    Este ensaio o segundo captulo do livro Good is Great, God is God: Why Believing in

    God is Reasonable and Responsible (IVP, 2009).

    E Deus criou o homem a sua prpria

    imagem, na imagem de Deus ele o criou;

    macho e fmea ele os criou. Genesis 1:27

    Um dos papis mais importantes de uma cosmoviso fornecer uma explicao

    para os fatos e para a realidade, da maneira como ela verdadeiramente . Na verdade,cabe a uma cosmoviso explicar o que existe e o que no existe, de maneira coerente

    com os comprometimentos explanatrios centrais desta cosmoviso. Neste sentido, ns

    podemos considerar uma cosmoviso uma hiptese explicativa.

    Das explicaes de uma cosmoviso sobre fatos para a teorizao cientfica que

    objetiva explicar pequenas coisas em nosso dia a dia, todos ns nos engajamos bem de

    forma apropriada em um raciocnio do tipo se-ento, ou o que os filsofos chamam de

    mtodo hipottico-dedutivo: se a lua estivesse em tal e tal lugar, ento a mar estaria

    assim e assado. Mas a mar no est assim, ento a lua no pode estar naquele local. Se

    minha filha no veio direto para casa da escola, ela no teve tempo para arrumar seu

    quarto. O quarto est uma baguna, ento provvel que ela no veio para casa logo

    aps sua aula terminar. E assim por diante. E se os fatos so da forma como ns

    deduzimos que eles deveriam ser, dada nossa hiptese, ento eles fornecem evidencias

    convincentes de que nossa hiptese verdadeira a melhor explicao para os fatos.

    Todos os direitos da traduo reservados.

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    Uma teoria pode explicar muito bem alguns fatos, mas existem fatos

    recalcitrantes que obstinadamente resistem em ser explicados por uma teoria. No

    importa o que o defensor de uma teoria faa, o fato recalcitrante simplesmente se

    acomoda em seu canto e no incorporado facilmente teoria. Neste caso, o fato

    recalcitrante fornece evidncias falsificativas para a teoria e algum nvel de confirmao

    para as teorias rivais.

    A Bblia ensina que os seres humanos foram criados conforme a imagem de

    Deus (Gn 1:27). Isto implica que existem coisas sobre nossa composio que so da

    forma como Deus . No incio de suas Institutas Religio Crist, Joo Calvino

    observa:

    Nenhum homem consegue examinar a si mesmo sem imediatamente voltar seus

    pensamentos para o Deus em quem ele vive e se movimenta; porque

    perfeitamente bvio que os dons que ns temos no podem ter vindo de ns

    mesmos.1

    Como portadores da imagem de Deus, os seres humanos tm todos aqueles dons

    necessrios para representar e serem representantes de Deus, realizar as tarefas

    designadas e exibir a relacionalidade existente colocado ante eles: dons da razo,

    autodeterminao, ao moral, personalidade, formao relacional, etc. Neste sentido, a

    imagem de Deus diretamente fundamentada na natureza ou ontologia de Deus.

    A natureza ontolgica da imagem de Deus implica, entre outras coisas, que a

    composio dos seres humanos deve fornecer um conjunto de fatos recalcitrantes para

    outras cosmovises. O raciocnio por trs desta afirmao o seguinte:

    (1)Se a f crist verdadeira, ento certos aspectos deveriam caracterizar osseres humanos.

    (2)Estes aspectos, de fato, caracterizam os seres humanos.(3)Assim, estes aspectos fornecem um nvel de confirmao para a f crist.

    Estes aspectos caracterizam Deus e, alm disto, vm dele. Ele nos fez para

    que os tivssemos.

    O cristo oferece, ento, um desafio para as outras cosmovises em particular

    o naturalismo cientfico: mostrar que voc tem uma explicao melhor para estes

    1John Calvin, Institutes of the Christian Religion, 1.1.1.

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    aspectos do que a explicao crist (com sua doutrina da imagem de Deus), ou mostrar

    que estes aspectos no so na verdade reais, mesmo que eles paream ser.

    A natureza recalcitrante dos seres humanos para o naturalismo cientfico j foi

    largamente observada. Desta forma, o filsofo de Berkley John Searle recentementeobservou,

    Existe exatamente uma questo predominante na filosofia contempornea. [...]

    Como ns nos ajustamos? [...] Como ns podemos enquadrar esta

    autoconcepo que temos de ns mesmos de agentes criadores de sentido,

    livres, racionais, atentos, etc., com um universo que consiste inteiramente de

    partculas brutas sem sentido, sem liberdade, sem razo e negligente?2

    Para o naturalismo cientfico a resposta No bem assim. Notveis ateus

    falharam em observar a dificuldade que o naturalismo cientfico encontra em prover

    uma explicao para estes aspectos comuns dos seres humanos. Na verdade, a natureza

    dos seres humanos levou alguns a abraar o tesmo. No ssmico livro que narra a

    aceitao do tesmo pelo famoso ateu Antony Flew Deus Existe Roy Abraham

    Varghese observa que,

    a racionalidade [conscincia, liberdade de vontade e eu] que nsinequivocamente experimentamos que vai desde as leis da natureza at nosso

    pensamento racional no pode ser explicada se ela no tiver um fundamento

    ltimo, que no pode ser nada menos do que uma mente infinita.3

    Neste ensaio eu vou primeiro apresentar um breve esboo do naturalismo

    cientfico contemporneo e ento comentar cinco aspectos dos seres humanos que

    configuram evidncia contra o naturalismo emfavordo tesmo bblico. Vou empregar

    citaes mais diretas do que o que tpico para um ensaio como este, e isto pode tornara leitura um pouco incmoda. Mas eu ajo assim para mostrar que minha representao

    destes cinco aspectos reconhecida pelos mais famosos ateus como problemas srios

    para o atesmo e como fundamentos para a crena em Deus. Ao citar diretamente ateus

    reconhecidos, ser difcil me acusar de ter criado um espantalho do naturalismo

    contemporneo.

    2John Searle, Freedom & Neurobiology(New York: Columbia University Press, 2007), p. 4-5.

    3

    Antony Flew e Roy Abraham Varghese, Deus Existe (Ediouro, 2007). No contexto, apenas aracionalidade mencionada, mas em outras partes do livro, algumas referncias so feitas

    conscincia, livre-arbtrio e o eu.

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    A NATUREZA DO NATURALISMO CIENTFICO

    A fim de ter um maior insight sobre porque a conscincia to problemtica

    para os naturalistas, ser sensato analisar brevemente a natureza do naturalismo como

    cosmoviso. Usualmente o naturalismo inclui:

    diferentes aspectos de um entendimento naturalista sobre o que constituiconhecimento (por exemplo, uma rejeio da chamada primeira filosofia

    junto com uma aceitao de um cientificismo forte ou fraco a viso de que a

    cincia o paradigma da verdade e da racionalidade);4

    uma Grande Histria equivalente a um relato etiolgico de como todas asentidades, sejam elas quais forem, vieram a existir, explicada em termos de

    uma historia evento-causal, descrita em termos cientficos naturais, com um

    papel central dado teoria atmica da matria e biologia evolucionria;

    uma ontologia geral na qual as nicas entidades permitidas so aquelas queou (a) carregam uma similaridade relevante com aquelas que, acredita-se,

    caracterizam uma forma completa de fsica ou (b) so dependentes a, ou

    determinadas por, entidades fsicas e que podem ser explicadas de acordo

    com condies causais necessrias (isto , dado uma organizao adequada

    da matria, ento a entidade emergente tem que surgir) nos termos da Grande

    Histria e da atitude epistmica naturalista.

    O cientificismo constitui o corao do entendimento naturalista sobre o que

    constitui o conhecimento, sua epistemologia. Wilfrid Sellars diz que no que se refere

    descrio e explicao do mundo, a cincia a medida de todas as coisas, sobre o que

    o que, e sobre o que no .5 Os naturalistas contemporneos abraam ou a forma fraca

    ou a forma forte de cientificismo. De acordo com os primeiros, campos de pesquisa no-

    cientficos no so destitudos de valor ou no oferecem resultados intelectuais, mas

    eles so vastamente inferiores cincia em sua epistemologia e no merecem crdito.

    De acordo com o segundo, valores cognitivos invlidos esto presentes na cincia e em

    nada mais. De qualquer forma, naturalistas so extremamente cticos em relao a

    4A verso forte do cientificismo sustenta que a cincia nos d a nica base para o conhecimento; a

    verso mais fraca afirma que a cincia nos fornece a base mais certa do conhecimento; mesmo seoutras disciplinas fornecerem justificaes ou conhecimento mais fracas.5

    Wilfrid Sellars, Science, Perception, and Reality(London: Routledge & Kegan Paul, 1963), p. 173.

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    afirmaes sobre a realidade que no so justificadas pelos mtodos cientficos nas

    cincias rgidas.

    Como tenho usado esta frase, a Grande Histria o relato naturalista da

    criao. Toda a realidade espao, tempo e matria vieram do big bang. Muitoscorpos pesados foram desenvolvidos com a expanso do universo. Pelo menos na Terra,

    algum cenrio de sopa prebitica explica como seres vivos vieram a existir a partir de

    uma qumica sem vida. E os processos da evoluo, entendidos em termos

    neodarwinianos ou do equilbrio pontuado, trouxeram existncia todas as formas de

    vida que ns conhecemos, incluindo os seres humanos. Desta forma, todos os

    organismos e suas partes existem e so o que so porque eles contriburam (ou pelo

    menos no atrapalharam) na luta pelo avano reprodutivo, mais especificamente, porqueeles contriburam com as tarefas de comer, lutar, fugir e reproduzir.

    A Grande Histria possui trs aspectos-chave. Primeiro, existem duas teorias

    fundamentais em seu centro: a teoria atmica da matria e a teoria da evoluo. Se

    tomarmos John Searle como representante dos naturalistas aqui, isto vai significar que

    as explicaes causais so centrais para a (alegada) superioridade explanatria da

    Grande Histria.6

    Segundo, a Grande Histria expressa o monismo filosfico cientfico, de acordo

    com o qual, qualquer coisa que existe ou acontece no mundo suscetvel a explicaes

    por mtodos cientficos naturais. primeira vista, a maneira mais consistente de

    entender o naturalismo neste ponto enxerg-lo como carregando alguma verso forte

    do fisicalismo: tudo o que existe , fundamentalmente, matria, mais provavelmente

    partculas elementares (seja tomadas como pontos de potencialidade, centros de

    massa/energia, unidades de matrias/ondas espacial, ou reduzidas a [ou eliminadas em

    favor de] campos), organizadas de vrias formas de acordo com as leis da natureza.

    Nenhuma entidade no-fsica existe, incluindo entidades emergentes.7

    Terceiro, a histria do universo uma histria sobre revelar cadeias de eventos,

    na qual pequenas partculas constantemente se reorganizam para formar conjuntos

    maiores e mais complicados (por exemplo, tomos, molculas, organismos, planetas).

    6John Searle, The Rediscovery of the Mind(Cambridge, MIT Press, 1992), pp. 83-93.

    7

    Mesmo quando os naturalistas se aventuram para longe do fisicalismo forte, eles ainda argumentamque adies para uma ontologia fisicalista forte precisam ser representadas como fundamentas,

    emergentes e dependentes de estados fsicos e eventos da Grande Histria.

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    Os nicos tipos de causas no universo so mecnicas/eficientes (do tipo que um efeito

    produzido) e materiais (o material do qual alguma coisa feita). No h propsito,

    objetivos, causas finais ou teleologia irredutvel. E no existem agentes livres com

    poder ativo para serem as causas reais originrias de suas prprias aes, sem terem

    sido antes determinados a agir pelas leis da natureza e fatores ambientais externos.

    Na verdade, a Grande Histria determinista em dois sentidos. Primeiro, atravs

    do tempo o estado do universo (e tudo o que h nele) em qualquer momento particular,

    juntamente com as leis da natureza, so suficientes para determinar ou estabelecer as

    possibilidades do estado do universo no momento seguinte. Segundo, em um ponto no

    tempo, as caractersticas e os comportamentos de objetos de tamanho comum como

    pedras e seres vivos (incluindo seres humanos) so determinadas pelas caractersticas ecomportamentos de suas partes menores, de nvel microfsico.

    Em resumo, so trs as restries para desenvolver uma ontologia naturalista, e

    alocar entidades nela:

    As entidades devem se sujeitar epistemologia naturalista. As entidades devem se sujeitar Grande Histria naturalista.

    As entidades devem carregar uma similaridade relevante a aquelasencontradas na qumica e na fsica, ou serem demonstradas como

    necessariamente dependentes de entidades qumicas ou fsicas.

    CINCO ASPECTOS RECALCITRANTES DA IMAGEM DE DEUS

    Uma vez que os aspectos metafsicos do tesmo so fundamentais em sua

    existncia Deus, o Ser bsico, uma autoconscincia unificada com racionalidade,livre arbtrio e valor intrnseco dificilmente ser surpresa que eles apaream em outros

    lugares na ordem criada, especialmente em associao com seres que alegam ter sido

    criados para ser como Deus. Desta forma, o tesmo bblico prediz que estes cinco

    aspectos so aspectos irredutveis e ineliminveis dos seres humanos, e que o fato deles

    parecerem ser desta forma fornece confirmao do tesmo bblico.

    Mas as coisas no vo to bem para o naturalismo cientfico. Ele ou ela no

    comea com o Logos, mas com as partculas (cordas, ondas) que so brutas, mecnicas,

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    inconscientes, irracionais, sem propsito, e servilmente sujeitas s leis e carentes de

    valor. E ento uma histria contada sobre como estas partculas continuam a se

    reorganizar em agregaes maiores e maiores do mesmo material. Nesta viso, os

    organismos vivos incluindo os seres humanos so estruturas relacionais de partes

    que foram ajuntadas por vrias foras no unificadas e impessoais. Por sessenta anos ou

    mais os naturalistas tm tentado reduzir ou eliminar estes cinco aspectos dos seres

    humanos a fim de represent-los em vias naturais para uma cosmoviso cientfica

    atesta, dentro da estrutura de suas restries. Rotular estes aspectos como fenmenos

    emergentes apenas nomear o problema que precisa ser resolvido, no uma soluo (p.

    ex., a conscincia simplesmente emerge quando a matria alcana uma forma de

    complexidade apropriada). Como, por exemplo, elas podem ter emergido em primeiro

    lugar? Mas os seres humanos tm resistido a tais esforos naturalistas eles so fatos

    recalcitrantes para os naturalistas e isto exatamente o que esperaramos que

    acontecesse caso o tesmo bblico fosse verdadeiro. No o que seria esperado na

    Grande Histria. Vamos investigar estas questes mais profundamente.

    1. Conscincia e estados mentais. Muitos acreditam que mentes finitas

    constituem evidncia para uma mente divina como sua criadora. Se ns limitarmos

    nossas opes a tesmo e naturalismo, fica difcil entender como uma conscincia finitapoderia ser o resultado da reorganizao da matria bruta; muito mais fcil entender

    como um Ser consciente poderia produzir conscincias finitas.

    Este argumento presume o entendimento comum de estados de conscincia,

    como sensaes, pensamentos, crenas, desejos e volies. Desta forma, estados

    mentais implcitos no so, em nenhum sentido, fsicos, uma vez que eles possuem

    quatro aspectos que no so propriedades de estados fsicos:

    Existe um sentimento qualitativo cru ou um como isto para ter um estadomental tal como uma dor.

    Muitos estados mentais possuem intencionalidade direcionada a um objeto.(p. ex., um pensamento sobre a lua).

    Estados mentais so internos, particulares e imediatos ao indivduo que ostm.

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    Estados mentais falham em ter aspectos cruciais (p. ex., extenso especial,localizao) que caracterizam estados fsicos e, em geral, no podem ser

    descritos usando linguagem fsica.

    Uma vez que estados mentais so imateriais e no fsicos, ao menos duas razesforam oferecidas sobre porque no pode haver nenhuma explicao cientfica natural

    para a existncia de estados mentais.

    Primeiro, algo surgindo do nada. Antes de a conscincia aparecer, o universo

    no continha nada alm de agregaes de partculas/ondas em campos de foras. A

    histria naturalista da evoluo do cosmo envolve a reorganizao das partes atmicas

    em estruturas cada vez mais complexas de acordo com a lei natural. A matria bruta,

    mecnica, fsica. A emergncia da conscincia parece ser um caso de alguma coisa

    surgindo do nada.

    Em geral, reaes fsico-qumicas no geram conscincia. Alguns dizem que

    elas geram sim, no crebro, ainda que o crebro parea similar a outras partes do

    organismo (p. ex., ambos so colees de clulas, totalmente descritas em termos

    fsicos). Como causas similares podem produzir efeitos to radicalmente diferentes? O

    surgimento da mente completamente imprevisvel e inexplicvel. Estadescontinuidade radical parece ser uma ruptura no mundo natural.

    Segundo, a inadequao das explicaes evolucionrias. Os naturalistas

    afirmam que as explicaes evolucionrias podem ser oferecidas para o surgimento de

    todos os organismos e suas partes. A princpio, um relato evolucionrio pode ser

    apresentado para o aumento progressivo de complexidade nas estruturas fsicas que

    constituem diferentes organismos. Entretanto, organismos so como caixas-pretas, na

    medida em que a evoluo levada em conta.

    Conquanto que um organismo, quando recebe certos inputs, gere os outputs

    comportamentais corretos, em concordncia com as exigncias feitas pela vantagem

    reprodutiva, o organismo ir sobreviver. O que acontece dentro do organismo

    irrelevante. Ele se torna significante para o processo evolutivo apenas quando um output

    produzido. Estritamente falando, o output, no o que o causou, que suporta a luta

    pela vantagem reprodutiva. Alm do mais, as funes que os organismos executam

    conscientemente poderiam tambm ser feitas inconscientemente. Desta forma, tanto a

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    existncia simples de estados conscientes quanto o contedo mental preciso que os

    constitui esto fora dos limites da explicao evolucionria.

    As explicaes evolucionrias no fazem o suficiente para que possamos afirmar

    que a conscincia simplesmente emergiu da matria quando ela alcanou certo nvel decomplexidade. Emergncia no uma explicao para o fenmeno que precisa ser

    explicado. simplesmente uma indicao.

    2. Livre arbtrio. amplamente aceito que o entendimento comum e espontneo

    sobre livre arbtrio humano que as pessoas em geral tm, o que os filsofos chamam

    de liberdade libertria: a ao de algum livre se esta ao no tiver sido determinada

    direta ou indiretamente por foras externas ao controle deste algum, e este algum

    deve ter sido livre para agir ou no agir como agiu; a escolha desta pessoa deve ser

    espontnea, sendo originada com o agente, e apenas com ele.

    No meu objetivo argumentar em favor do libertarianismo. Eu simplesmente

    ofereo duas observaes razoavelmente bvias.

    De um lado, como John Searle recentemente observou, a experincia da

    liberdade libertria to convincente, mas to convincente na verdade, que as pessoas

    no podem agir pensando que esta experincia uma iluso, mesmo se fosse.8 Ele nos

    lembra que quando o garom nos apresenta uma escolha entre carne de porco ou vitela,

    ns no respondemos, Olha, eu sou um determinista. Eu vou apenas esperar e ver o

    que acontece!

    De acordo com o entendimento majoritrio no cristianismo, Deus tem liberdade

    libertria e Ele criou os seres humanos para possuir esta liberdade. Em contraste, a

    maioria dos filsofos concorda que a liberdade libertria e a teoria do agente que ela

    implica so incompatveis com a representao geralmente aceita do naturalismo,

    apresenta h pouco. John Searle diz que nossa concepo da realidade fsica

    simplesmente no nos permite a liberdade radical [libertria].9 E se a responsabilidade

    moral (e intelectual) tem esta liberdade como condio necessria, ento reconciliar as

    perspectivas ticas e naturais impossvel.

    8John Searle, Freedom & Neurobiology(New York: Columbia University Press, 2007).

    9John Searle, Minds, Brains, and Science (Cambridge, Mass: Havard University Press, 1984), p. 98.

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    No que talvez seja a melhor tentativa naturalista de efetuar tal reconciliao,

    John Bishop francamente admite que

    a ideia de um agente responsvel, com a habilidade originativa de iniciar

    eventos no mundo natural, no se adqua facilmente com a ideia de [um agentecomo] um organismo natural [...]. Nosso entendimento cientfico do

    comportamento humano parece estar em tenso com a pressuposio da posio

    tica que ns adotamos para este comportamento.10

    Existem muitas razes pelas quais os atestas admitem que o livre arbtrio

    incompatvel com o naturalismo cientfico. Mas aqui vai a principal delas. Todas as

    coisas particulares e seus comportamentos na ordem naturalista so nomolgicas e,

    portanto, submissas s mesmas leis da natureza.11

    Alm disto, uma ao livre envolveum exerccio de poder ativo por um primeiro motor, uma causa no causada, um agente

    no determinado. Em contraste, uma vez que todos os eventos na ontologia naturalista

    so acontecimentos passivos, todos eles so exemplos de motores movidos. Alguma

    coisa tem que acontecer primeiro com um objeto um evento que desencadeia seus

    poderes causais passivos antes que ele possa gerar qualquer acontecimento. Neste

    sentido, toda causao naturalista envolve alteradores alterados. Mas um primeiro motor

    pode ativamente produzir uma mudana sem ter sido mudado primeiro.

    Deve ser bvio porque tal agente no um objeto que pode ser localizado na

    ontologia natural. Motores no movidos com poder ativo so quintessencialmente no

    naturais! De fato, neste ponto eles so exatamente como o Deus da Bblia.

    3. Racionalidade. De acordo com o cristianismo, Deus o ser fundamental

    racional e criou os seres que carregam sua imagem com equipamentos mentais que

    apresentam racionalidade e que so aptos para apreender a verdade e seus vrios

    ambientes. Mas racionalidade uma entidade bizarra em um mundo cientificamente

    naturalista. O filsofo cristo Victor Reppert concorda: As condies necessrias para

    10John Bishop, Natural Agency(Cambridge: Cambridge University Press, 1989), p. 1.

    11De fato, todos eles esto sujeitos ao determinismo sincrnico e diacrnico neste sentido: Em relao

    ao determinismo sincrnico, em certo tempo t, as condies fsicas so suficientes para determinar ou

    estabelecer as chances do prximo evento envolvendo o objeto e seu meio. Em relao ao

    determinismo diacrnico, em certo tempo t, os estados e os movimentos do objeto so determinadosou tm suas chances estabelecidas pelos estados microscpios do objeto e do seu meio. Esta

    determinao posterior da essncia ao topo.

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    a racionalidade no existem em um universo naturalista.12 De acordo com o naturalista

    Thomas Nagel:

    O problema ento no ser como, se participamos dela, a razo pode ser

    validada, mas como, se ela for universalmente vlida, ns podemos participardela. No existem muitos candidatos a esta questo. Provavelmente a resposta

    no-subjetivista mais popular atualmente um naturalismo evolucionista: Ns

    podemos raciocinar desta forma porque isto uma consequncia de uma

    capacidade mais primitiva de formao de crenas que teve valor de

    sobrevivncia durante o perodo em que o crebro humano estava evoluindo.

    Esta explicao sempre me pareceu ser ridiculamente inadequada. [...] A outra

    resposta bem conhecida a religiosa. O universo inteligvel a ns porque ele e

    nossa mente foram feitos um para o outro.13

    Existem pelo menos duas razes para acreditarmos que os seres humanos no

    podem ser agentes racionais em uma cosmoviso cientificamente naturalista, e que so

    preditos de ser do jeito que so em uma cosmoviso bblica: (1) a necessidade do eu

    racional e contnuo e (2) a necessidade de um espao para fatores teleolgicos (objetivo-

    direo) durante o processo.

    preciso no apenas um eu unificado em cada tempo em uma sequnciadeliberada, mas tambm um eu idntico que permanece durante o ato racional.

    Considere o argumento de A. C. Ewing:

    Para compreender a verdade de qualquer proposio ou mesmo entret-la como

    algum com sentido, o mesmo ser precisa estar ciente de seus elementos

    constituintes. Para estar ciente da validade de um argumento, o mesmo ser

    precisa entreter premissas e concluso; para comparar duas coisas, o mesmo ser

    precisa, pelo menos na memria, estar ciente de ambos simultaneamente; e umavez que todos estes processos acontecem durante algum tempo, a existncia,

    literalmente, continuada mesma entidade exigida. Nestes casos, um evento

    que consista em refletir sobre A, seguido por outro evento que consiste em

    refletir sobre B, no suficiente. Eles precisam ser eventos de reflexo que

    ocorrem no mesmo ser. Se um ser pensar em lobos, outro pensar em comer e

    outro pensar em cordeiros, certamente isto no significaria que uma pessoa

    refletiu na proposio lobos comendo cordeiros. [...] necessrio que exista

    12Victor Reppert, C. S. Lewiss Dangerous Idea (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 2003), p. 70.

    13Thomas Nagel, The Last Word(New York: Oxford University Press, 1997), p. 75.

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    Existem duas razes bsicas para acreditarmos que uma alma simples e

    individual no uma opo para o naturalista. Primeiro, o naturalista est

    comprometido com o fechamento fsico. Todos os eventos fsicos que possuem causas

    possuem apenas causas fsicas; quando algum for traar as causas antecedentes de um

    evento fsico, este algum no precisa e, na verdade, no pode sair do campo da

    fsica. Se por algum tipo de mgica uma alma simples pudesse ser uma entidade

    emergente, ento a alma no seria uma entidade com poderes causais. Entretanto, a

    maioria dos naturalistas bane de sua ontologia entidades que no tenham poderes

    causais, desta forma uma alma sem poderes causais equivalente uma entidade no-

    existente. Jaegwon Kim fala pela maioria dos naturalistas quando diz que:

    Se a mente imaterial vai fazer um neurnio emitir um sinal, [...] ento ela vai dealguma forma intervir neste processo eletroqumico. Mas como isto pode

    acontecer? Na prpria interface entre mente e fsica, onde uma interao mente-

    corpo acontece direta e imediatamente, a mente no-fsica precisa de alguma

    forma influenciar o estado de algumas molculas, talvez gerando descargas

    eltricas nelas ou as cutucando de uma forma ou de outra. Isto realmente

    concebvel? [...] Mesmo que a ideia de uma alma influenciando o movimento de

    uma molcula [...] fosse coerente, a postulao de um agente causal no

    pareceria nem necessria nem til compreenso dos motivos pelos quais ecomo nossos membros se movem.15

    Segundo, dado a Grande Histria, aparte da simplicidade atmica (se existir tal

    coisa), todos os maiores conjuntos (como crebros e corpos) so agregaes de partes

    substanciais separveis que se colocam em vrias relaes externas umas com as outras.

    Em tal ontologia, macrosubstncias so trocadas por estruturas constitudas por mirades

    de partes separadas. No existe um eu unificado e substancial conectado ao corpo.

    Daniel Dennett diz, Ns agora entendemos que a mente no est [...] em comunicao

    com o crebro de alguma forma milagrosa; o crebro, ou, mais especificamente, um

    sistema ou organizao interior ao crebro.16 E Carl Sagan terminantemente disse: Eu

    sou uma coleo de gua, clcio e molculas orgnicas chamado Carl Sagan. Voc

    15Jaegwon Kim, Philosophy of Mind (Boulder, Co.: Westview, 1996), pp. 131-132. A maioria dos

    Fisicalistas [] aceitam o fechamento causal fsico no apenas como uma doutrina metafsica

    fundamental, mas como uma pressuposio metodolgica indispensvel para as cincias fsicas (PP.

    147-148).16Daniel C. Dennett, Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon (New York: Viking Press,

    2006), p. 107.

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    uma coleo de molculas quase idnticas, com um selo diferente.17 Os termos

    configurao, sistema, organizao e coleo capturam muito bem a natureza relacional

    no-substancial de tais agregaes. Em contraste ao naturalismo cientfico, o Ser

    fundamental do cristianismo um esprito unificado e substancial, bem como aqueles

    que foram feitos imagem deste Ser.

    5. Valor igual intrnseco e direitos. Na viso crist Deus, o ser fundamental,

    possui valor intrnseco, e seu amor constitui a fonte de obrigao moral objetiva para os

    seres humanos. Alm disto, uma vez que todos os seres humanos compartilham a

    imagem de Deus igualmente, todos eles tm igualmente alto valor e tambm direitos,

    simplesmente por terem a imagem de Deus. Desta forma, uma cosmoviso crist possui

    naturalmente um lugar para (e prov uma), explicao sobre (1) a existncia de valorintrnseco, (2) a realidade de obrigao moral objetiva e (3) alto valor igual e direitos

    para todos os seres humanos. Mas estes trs pontos no podem ser explicados

    adequadamente pelo naturalismo cientfico.

    Vamos olhar primeiro a existncia de valor intrnseco e a existncia de uma lei

    moral objetiva. O evolucionista naturalista Michael Ruse observa que,

    moralidade uma adaptao biolgica, no menos que mos, ps e dentes.

    Considerada como uma justificao racional para afirmaes que objetivam

    algo, a tica ilusria. Eu aprecio quando algum diz Ame seu prximo como

    a ti mesmo e se refira a algum coisa alm dela prpria. Contudo, tal referncia

    na verdade no tem fundamento algum. Moralidade apenas um auxlio para a

    sobrevivncia e reproduo [...] e qualquer sentido mais profundo ilusrio.18

    Dado o naturalismo cientfico, fica difcil entender como poderia existir valor

    intrnseco e ordem moral objetiva ou porque esta ordem teria alguma coisa a ver com os

    seres humanos. Alm disto, os processos combinatrios da Grande Histria no podem

    explicar o surgimento de valor intrnseco simples; assim sua existncia conta contra o

    naturalismo e a favor do tesmo cristo. Como o ateu J. L. Mackie reconhece:

    Propriedades morais constituem um grupo to bizarro de propriedades e relaes que

    17

    Carl Sagan, Cosmos (New York: Randon House, 1980), p. 105.18Michael Ruse, Evolutionary Theory and Christian Ethics, in The Darwinian Paradigm (London:

    Routlegde, 1989), pp. 262-269.

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    muito improvvel que elas tenham surgido no curso ordinrio dos eventos sem um deus

    todo-poderoso que os tenha criado.19

    Em adio ao valor intrnseco e uma ordem moral objetiva, o naturalismo

    cientfico no pode explicar o valor igual e intrnseco e os direitos dos seres humanos,simplesmente pelo que so. Os naturalistas Peter Singer e Helga Kuhse reconhecem que

    a melhor, talvez nica, maneira de justificar a crena de que todos os seres humanos

    possuem o mesmo valor nico luz do fundamento metafsico da doutrina judaico-

    crist da imagem de Deus.20 Esta afirmao de Singer e Kuhse foi reconhecida por um

    grande nmero de pensadores durante algum tempo. Por exemplo, no incio dos anos

    60, Joel Feinberg, indiscutivelmente o maior filsofo poltico e legal daquele tempo,

    apresentou o argumento abaixo.21

    De acordo com Feinberg, um direito natural um direito humano inaltervel,

    incondicional e que possua certas propriedades epistemolgicas (p. ex., seja percebido

    pela intuio racional direta) e metafsicas. Se os direitos humanos so direitos naturais

    que se aplicam a toda humanidade igualmente, ento eles pressupem o valor humano

    igual, no o mrito equivalente. O mrito humano (p. ex., talentos, dons, carter,

    personalidade, vrias habilidades) classificado, mas o valor humano no. Os direitos

    iguais so revertidos aos indivduos independentemente de seus mritos classificados.

    A questo ctica a seguir, Feinberg acredita, nunca foi respondida de forma

    adequada: por que deveramos tratar todas as pessoas igualmente em qualquer rea em

    face das desigualdades existentes ou dos mritos entre eles? A resposta simples Porque

    ns simplesmente temos tal valor no responde pergunta do ctico. Se o valor

    humano real e genrico, diz Feinberg, ento ele deve sobrevir a alguma base (1) que

    todos ns temos em comum e (2) no-trivial e de valor moral supremo. Trabalhando

    dentro do campo naturalista, Feinberg considera vrias tentativas de delinear tal base, e

    ele julga todas elas falhas porque elas:

    exigem uma entidade como a inestimaveidade, para a qual ns no temosnenhuma resposta sobre de onde ela vm e ainda com relao a qual seria

    19J. L. Mackie, The Miracle of Theism (Oxford: Clarendon, 1982), p. 115. Cf. J. P. Moreland and Kai

    Nielsen, Does God Exist?(Buffalo, N.Y.: Prometheus, 1993), chaps. 8-10.20Helga Kuhse and Peter Singer, Should the Baby Live?(Oxford University Press, 1985), pp; 118-139.

    21Joel Feinberg, Social Philosophy(Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1973), pp. 84-97.

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    preciso postular-se uma faculdade intuitiva de conscincia direta, misteriosa e

    problemtica como tal entidade;

    so fundamentadas em graus de propriedade (algum que possui, para umgrau maior ou menor) tanto quanto a racionalidade (Feinberg toma a

    potencialidade para a racionalidade como na forma de graus) tem, no

    podendo, portanto, fazer o trabalho de fundamentar o valor igual a todos;

    simplesmente d nome ao problema a ser resolvido e no fornece umaexplicao para o prprio problema.

    Ao fim do dia Feinberg reconhece que as noes de valor igual e de direitos a

    todos os seres humanos no tm fundamento e talvez simplesmente expressem uma

    atitude, no-cognitiva e no-justificada, de respeito pela humanidade presente em cadapessoa.

    Meu objetivo ao mencionar Feinberg no de avaliar suas afirmaes, mas

    simplesmente ilustrar o quo difcil ser justificar o valor igual e os direitos de todos os

    seres humanos se algum tomar o rumo do naturalismo.

    A teoria evolucionria tambm tornou difcil justificar o valor igual e os direitos.

    David Hull talvez o maior maior filsofo da teoria evolucionria no sculo XX faz aseguinte observao:

    As implicaes para espcies que se movem da categoria metafsica que podem

    apropriadamente serem caracterizadas em termos naturais para uma categoria

    para a qual tais caracterizaes so inapropriadas, so extensivas e

    fundamentais. Se as espcies se evoluram de alguma forma parecida com a

    forma como Darwin imaginou que elas evoluram, ento elas no podem ter o

    tipo de natureza que os filsofos tradicionais afirmavam que elas tinham. Se as

    espcies em geral carecem de naturezas, o mesmo acontece com os Homo

    sapiens, como espcies biolgicas. Se o Homo sapiens carece de uma natureza,

    ento nenhuma referncia biologia pode ser feita para suportar as afirmaes

    de algum sobre a natureza humana. Talvez todas as pessoas que so pessoas

    compartilham personalidade, etc., mas tal afirmao precisa ser explicada e

    defendida sem referncias biologia. Porque muitas teorias polticas, morais e

    ticas dependem de alguma noo ou algo parecido da natureza humana, e a

    teoria de Darwin trouxe questo todas estas teorias. As implicaes no esto

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    vinculadas. Algum sempre pode desassociar Homo sapiens de seres

    humanos, mas o resultado uma posio muito menos plausvel.22

    De forma similar o ateu James Rachels afirma que a abordagem darwinista para

    a origem dos seres humanos, embora no implique a falsidade destas noes, aindaassim fornece um invalidador interno para a ideia de que os seres humanos so feitos

    imagem de Deus e que os seres humanos tem dignidade intrnseca e valor como seres.

    De fato, de acordo com Rachels, o darwinismo o solvente universal que dissolve

    qualquer tentativa de defender a noo de dignidade humana intrnseca:

    Os suportes tradicionais para a ideia de dignidade humana morreram. Eles no

    sobreviveram colossal mudana de perspectiva trazida tona pela teoria de

    Darwin. Pode-se pensar que este resultado no precisa ser devastador para aideia da dignidade humana, porque mesmo se os suportes tradicionais tiverem

    de fato morrido, ainda assim a ideia precisar ser defendida em algumas outras

    bases. Novamente, entretanto, uma perspectiva evolucionria torna algum

    ctico. A doutrina da dignidade humana diz que o ser humano merece um nvel

    de cuidado moral completamente diferente daquele reconhecido aos simples

    animais; se isto for verdade, deveria existir algum tipo de diferena moral

    significante entre eles. Portanto, qualquer defesa adequada da dignidade

    humana vai exigir algum conceito sobre os seres humanos que seja radicalmente

    diferente do conceito dos outros animais. Mas isto precisamente o que a teoria

    evolucionria traz questo. Ela nos deixa suspeitos em relao a qualquer

    doutrina que enxergue grandes hiatos de qualquer tipo entre os seres humanos e

    todas as outras criaturas. Sendo assim, um darwinista pode concluir que uma

    defesa bem sucedida da dignidade humana muito improvvel.23

    CONCLUSO

    Eu argumentei que na cosmoviso crist, Deus, o ser fundamental, possui e

    compartilha com as criaturas criadas conforme sua imagem (1) conscincia, (2) livre

    arbtrio libertrio, (3) racionalidade, (4) um eu unificado (e, como Trindade, trs

    eus unificados) e (5) valor intrnseco. Em contraste, dadas as restries

    22

    David Hull, The Metaphysics of Evolution (Albany: State University of New York, 1989), pp. 74-75.23James Rachels, Created from Animals (Oxford: Oxford University Press, 1990), pp. 171-172. Cf. pp. 93,

    97, 171.

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    epistemolgicas e a Grande Histria da ontologia naturalista cientfica, nenhum destes

    cinco pontos se adapta naturalmente de forma que no constitua ad hoc.

    Os naturalistas no podem apelar para a emergncia para solucionar seus

    problemas porque (1) este apenas um nome dado para o problema a ser resolvido, eno uma soluo real e (2) faz petio de princpio contra o tesmo cristo da forma

    mais escandalosa possvel. Parece, ento, que os aspectos importantes que nos

    caracterizam como seres humanos fornecem evidncia de que existe um Deus Criador

    que nos criou. E isto exatamente o que algum iria esperar encontrar, caso o ensino

    bblico da imagem de Deus fosse correto.

    PARA LEITURA ADICIONAL

    Moreland, J. P. Consciousness and the Existence of God. London: Routledge, 2008.

    _________. The Recalcitrant Imago Dei: Human Persons and the Failure of

    Naturalism. London: SCM Press, 2009.

    Reppert, Victor. C. S. Lewiss Dangerous Idea. Downers Grove, Ill: InterVarsity Press,

    2003.

    Swinburne, Richard. The Evolution of the Soul, rev. ed. Oxford University Press, 1996.