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1 A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NO EDUCAR MEDIEVO: UM ESTUDO DA REGRA DE SÃO BENTO. MARQUIOTO, Juliana Dias – UEM OLIVEIRA, Terezinha – UEM Introdução Realizamos este estudo no campo da história da educação, entendendo a educação não no sentido restrito a escola, mas a educação enquanto formação humana, de criação de bons hábitos, costumes, valores, de relacionamento entre as pessoas e das pessoas consigo mesmas. Resgatamos para tal o que expõe Aristóteles a respeito da formação dos homens. De acordo com Aristóteles (384 - 322 a.C.) todas as coisas que os homens fazem têm um objetivo diretamente, mas em uma visão mais ampla de todos os atos existe um objetivo superior, para o qual todas as ações se voltam, que não é desejado em função de outra coisa, mas em si mesmo, esse seria o bem maior. Diz ainda que esse sumo bem deve ser objeto de estudo da mais prestigiosa ciência, a política. Vemos que o autor além de mencionar que a ciência política se destina aos homens mais maduros em espírito, ainda evidencia a importância de se conter as paixões para o bom uso da racionalidade. Aristóteles considera o bem supremo como a felicidade, porém afirma que as pessoas divergem sobre o que esta seja. Para o autor definir o que é felicidade para o homem seria mais fácil se soubéssemos sua função, pois para tudo temos como o bem e a perfeição o cumprimento de sua função. Investigando sobre essa função do homem Aristóteles seleciona aquilo que é próprio apenas dele, seria este a atividade do elemento racional, "o bem do homem vem a ser a atividade da alma em consonância com a virtude" (Aristóteles, 2001, p. 27), e para ele esta deveria ser a condição de um homem a vida toda para que o consideremos venturoso. Sendo então a felicidade essa atividade da alma conforme a virtude cabe-nos perguntar como esta é conquistada, ao que o autor responde: É por esse motivo que se pergunta se a felicidade deve ser adquirida pela aprendizagem, pelo hábito ou por alguma outra espécie de exercício, ou se ela nos é dada por alguma providência divina, ou ainda pelo acaso. (...)

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A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NO EDUCAR MEDIEVO: UM

ESTUDO DA REGRA DE SÃO BENTO.

MARQUIOTO, Juliana Dias – UEM

OLIVEIRA, Terezinha – UEM

Introdução

Realizamos este estudo no campo da história da educação, entendendo a educação

não no sentido restrito a escola, mas a educação enquanto formação humana, de criação de

bons hábitos, costumes, valores, de relacionamento entre as pessoas e das pessoas consigo

mesmas. Resgatamos para tal o que expõe Aristóteles a respeito da formação dos homens.

De acordo com Aristóteles (384 - 322 a.C.) todas as coisas que os homens fazem

têm um objetivo diretamente, mas em uma visão mais ampla de todos os atos existe um

objetivo superior, para o qual todas as ações se voltam, que não é desejado em função de outra

coisa, mas em si mesmo, esse seria o bem maior. Diz ainda que esse sumo bem deve ser

objeto de estudo da mais prestigiosa ciência, a política. Vemos que o autor além de mencionar

que a ciência política se destina aos homens mais maduros em espírito, ainda evidencia a

importância de se conter as paixões para o bom uso da racionalidade.

Aristóteles considera o bem supremo como a felicidade, porém afirma que as

pessoas divergem sobre o que esta seja. Para o autor definir o que é felicidade para o homem

seria mais fácil se soubéssemos sua função, pois para tudo temos como o bem e a perfeição o

cumprimento de sua função. Investigando sobre essa função do homem Aristóteles seleciona

aquilo que é próprio apenas dele, seria este a atividade do elemento racional, "o bem do

homem vem a ser a atividade da alma em consonância com a virtude" (Aristóteles, 2001, p.

27), e para ele esta deveria ser a condição de um homem a vida toda para que o consideremos

venturoso. Sendo então a felicidade essa atividade da alma conforme a virtude cabe-nos

perguntar como esta é conquistada, ao que o autor responde:

É por esse motivo que se pergunta se a felicidade deve ser adquirida pela aprendizagem, pelo hábito ou por alguma outra espécie de exercício, ou se ela nos é dada por alguma providência divina, ou ainda pelo acaso. (...)

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Desse ponto de vista, a felicidade também deve ser partilhada por grande número de pessoas, pois quem quer que não esteja mutilado em sua capacidade para a virtude pode conquistá-la por meio de um certo tipo de estudo e esforço. Mas se é preferível ser feliz dessa forma a sê-lo por acaso, é razoável que seja assim que se atinge a felicidade, já que tudo aquilo que ocorre por natureza é tão bem quanto poderia ser, e do mesmo modo acontece com o que depende da arte ou de qualquer causa racional, sobretudo se depende da melhor de todas as causas. Confiar ao acaso o que há de melhor e mais nobre seria um completo contra-senso. (ARISTÓTELES, 2001, p. 31).

Temos então maior clareza sobre a educação em Aristóteles, pois nesta citação fica-

nos claro os seguintes aspectos: o objetivo do homem é uma vida feliz, esta vida feliz depende

da atividade da alma conforme a virtude, esta por sua vez - é de se acreditar – é alcançada por

meio de estudo e esforço.

Segundo Aristóteles, então, os homens deveriam ser formados para agir conforme a

virtude, encontramos correspondência naquela educação recebida pelos monges, que de

acordo com os princípios cristãos desenvolvia a ação virtuosa por meio de muito esforço e

disciplina.

Referencial teórico

Pare realização do presente trabalho utilizamos fontes diversas, que possibilitaram a

compreensão da unidade do nosso tema.

O conceito de educação do qual partiu a análise foi tirado de Aristóteles, que nos

propõe uma educação enquanto formação do ser humano para que possa agir conforme a

virtude e conquistar a felicidade.

A Regra de São Bento é a obra em torno da qual realizamos este trabalho, escrita por

Bento de Núrsia, tornou-se grande exemplo de ordenação para uma vida virtuosa conforme os

preceitos cristãos.

Para compreensão do período em que é criada A Regra de São Bento utilizamos o

livro História da Pedagogia de Franco Cambi. Porém, a compreensão deste período é

auxiliada pelo conhecimento de aspectos importante do fim da antiguidade que encontramos

em A Civilização do Ocidente Medieval de Jacques Lê Goff.

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Objetivos

Compreender da formação dos homens no interior dos mosteiros fundados por Bento

de Núrsia;

Ampliar os conhecimentos sobre a Idade Média e consequentemente sobre a História

da Educação;

Apreender de aspectos relativos à disciplina na A Regra de São Bento, com vistas a

realizar uma reflexão sobre este tema nos dias atuais.

Metodologia

Cabe-nos ainda esclarecer que utilizamos o método regressivo utilizado. A disciplina é

aqui tomada como problema histórico por ser sensível atualmente problemas com esta ou com

sua falta.

Baseamos nossa pesquisa no que expõe Marc Bloch sobre a pesquisa em história,

desta forma o que se encontra em questão aqui não é como algo aconteceu no passado, mas

utilizar os conhecimentos do passado com vistas a compreender o uso presente. Tratamos da

disciplina com vistas a proporcionar uma maior reflexão sobre seus aspectos hoje.

Segundo o autor com o conhecimento das coisas do passado podemos orientar

melhor nossas ações do presente, "a ignorância do passado não se limita a prejudicar a

compreensão do presente; compromete, no presente, a própria ação" (Bloch, 2001, p. 63).

Um outro aspecto de grande importância nos levanta o autor sobre o estudo

histórico, a questão é se o historiador deve julgar a realidade que estuda ou apenas

compreendê-la. "Por muito tempo o historiador passou por uma espécie de juiz dos infernos,

encarregado de distribuir o elogio ou o vitupério aos heróis mortos" (BLOCH, 2001, p. 125),

mas o autor condena esta postura.

Segundo Bloch julgar uma realidade na qual não vamos agir e que possui valores

diferentes dos nossos é um empecilho ao nosso conhecimento, não podemos compreender o

outro se julgarmos seu viver de acordo com nossos valores. Cabe a nós o contrário, buscar

compreender a constituição de sua mentalidade de acordo com o meio em que viveram.

Entender e explicar devem ser as metas, não atribuir valor. A compreensão dos aspectos

educativos na obra que nos propomos a estudar não é possível se não aplicarmos este

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principio. Trata-se da organização da vida de homens muito distantes de nós no tempo e até

mesmo no espaço, de valores muito distintos daqueles encontrados em nossa sociedade.

Julgar torna impossível a profunda compreensão.

A Análise tem como objetivo a orientação e tomada de decisões sobre o presente e

não sobre o passado que se toma como base para compreendê-lo.

Vemos ainda de acordo com Bloch que pode-se identificar entre os fenômenos

humanos certo parentesco, ou seja, uma tendência estável para cada tipo de instituição,

crença, prática, acontecimento. Desta forma "compreendemos sempre melhor um fato

humano, qualquer que seja, se já possuímos a compreensão de outros fatos do mesmo

gênero." (p. 129).

O próprio homem que em seus atos parece exprimir personalidades diferentes, não

deixa de ser único, no qual estas aparentemente distintas se completam. Da mesma forma a

sociedade, como produto das consciências dos homens que a compõe, apresenta diferentes

interações, traços diversos entrelaçados, ao que Bloch acrescenta que “não mais que no seio

de qualquer consciência pessoal, essas relações em escala coletiva não são simples.”

(BLOCH, 2001, p. 133) e ainda que “o conhecimento dos fragmentos, sucessivamente

estudados, cada um por si, jamais propiciará o do todo; não propiciará sequer o dos próprios

fragmentos” (BLOCH, p. 134), é preciso conhecer o movimento histórico em que tais

fragmentos se encontram, a dinâmica em que estão inseridos.

Nada mais legítimo, nada mais saudável do que centrar o estudo de uma sociedade em um desses aspectos particulares, ou, melhor ainda, em um dos problemas precisos que levanta este ou aquele desses aspectos, (...). A fim de compreenderem a atitude do vassalo para com o seu senhor, será preciso também informarem-se sobre qual era sua atitude para com Deus. O historiador nunca sai do tempo. Mas, por uma oscilação necessária, que o debate sobre as origens já nos deu à vista, ele considera ora as grandes ondas de fenômenos aparentados que atravessam, longitudinalmente, a duração, ora o momento humano em que essas correntes se apertam no nó poderoso das consciências. (BLOCH, 2001, p. 134 e 135).

Por acreditar nessa utilidade do estudo de fenômenos relacionados ao foco da

pesquisa que não nos dedicamos apenas ao estudo das questões referentes à disciplina na

Regra e muito menos nos utilizamos apenas desta obra para compreensão das mentalidades do

período.

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Desenvolvimento

A Alta Idade Média constitui na história dos homens um período de características

muito marcantes. Uma sociedade em desordem na qual principia o surgimento de novas e

sólidas instituições.

Para melhor entendimento das características do período iniciamos com o estudo de

suas origens. De acordo com Le Goff o povo romano foi conservador e utilizava seu Estado

para assegurar a estabilidade de suas instituições, porém no século II surgem em seu interior

forças de destruição e renovação.

As invasões germânicas não eram novidades, mas se intensificaram no século V.

Causou neste momento grande destruição nos campos, nas cidades, na economia, além de

diminuição demográfica e da urbanização. “Os camponeses viram-se obrigados a se colocar

sob dependência cada vez maior dos grandes proprietários, estes passaram também a ser

chefes de grupos armados, e a situação do colono tornava-se cada vez mais próxima da do

escravo” (LE GOFF, 2005, p. 21 e 22) desta forma vemos surgir as características da

sociedade feudal.

Os Godos iniciaram a incursão pelo oriente e foram seguidos por outros povos

nômades. Le Goff ressalta que os invasores estavam geralmente fugindo de outras mais fortes

e cruéis, apresentando crueldade em função do desespero, como “quando os romanos lhes

recusavam o asilo que pediam em geral pacificamente” (LE GOFF, 2005, p. 22).

Salviano, por volta do ano 440 aponta como causa da ruína romana seus próprios

fatores internos e Le Goff nos confirma que:

A verdade é que os Bárbaros foram beneficiados com a cumplicidade ativa ou passiva da massa da população romana. A estrutura social do império, em que as camadas populares eram progressivamente esmagadas por uma minoria rica e poderosa, explica o sucesso das invasões. (LE GOFF, 2005, p. 24).

Vemos ainda que muitos cidadãos romanos “para não perecer sob a opressão pública,

procuram entre os Bárbaros a humanidade dos Romanos porque não podem mais suportar

entre os Romanos a desumanidade dos Bárbaros” (LE GOFF, 2005, p. 24). Desta forma

vemos que a falta de humanidade das instituições romanas deram força a seus opositores. O

nome de cidadão romano, outrora tão valioso, passa a ser motivo de vergonha. Como nos

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afirma Le Goff, podemos notar no interior desta relação uma fusão entre Bárbaros e

Romanos.

Os tempos das incursões nômades foram, segundo Le Goff, de confusão acrescida de

terror. Confusão gerada pela mistura entre os povos nômades e destes com os romanos. Terror

gerado por massacres e devastações. E estas características não serão abandonadas no início

da Idade Média, perdurarão por pelo menos dez séculos. Os homens da Idade Média eram

filhos de Bárbaros como os Alanos descritos por Amiano Marcelino: “o prazer que os

espíritos amáveis e pacíficos encontram num passatempo instrutivo eles encontram nos

perigos e na guerra.” (LE GOFF, 2005, p. 27).

Com as diversas conquistas e enfrentamentos o mundo modifica-se politicamente com

a lenta fusão entre nômades e romanos, dando configuração ao cenário da Idade Média.

As características do mundo medieval são marcadamente resultado de uma fusão da

interpenetração do mundo nômade e do mundo romano. Já no século III o mundo romano

abandonava suas características e sua unidade dava espaço à fragmentação. Havia a separação

entre o Oriente e o Ocidente, além do próprio isolamento das partes do Ocidente. O comércio

declinava, a agricultura e o artesanato restringiam sua área de circulação, o numerário se

atrofiava e os campos vazios multiplicavam-se. As populações se agrupavam em células

voltadas para dentro, entre territórios desertos. As invasões faziam com que as áreas urbanas

fossem se extinguindo, pois as cidades eram principal alvo dos nômades, local de acúmulo de

riquezas, e não se mantiveram porque suas populações às abandonavam e migravam para os

campos. Na área urbana principia a faltar mercadorias e os citadinos refugiam-se perto dos

locais de produção, no campo. Por este motivo de acordo com o autor a ruralização é

beneficiada pela ação dos nômades, embora não seja por eles criada. Também vemos que a

ruralização, além de ser um fato econômico e demográfico, é um fato social que marca a

imagem da sociedade medieval e que influi sobre a mentalidade desta era, com as condições

materiais de vida e sua compartimentação profissional e social.

A legislação na Alta Idade Média tendia a compartimentação, que se manteve ao longo

do período medieval, reclamava-se o particularismo jurídico e reforçava-se a mentalidade de

capela e de campanário.

Os homens da Igreja passam a ter papel de destaque.

Na desordem das invasões, bispos e monges – tais quais São Severino – tornaram-se chefes polivalentes de um mundo desorganizado: ao seu papel

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religioso agregaram um papel político ao negociar com os Bárbaros; econômico, ao distribuir víveres e esmolas; social, ao proteger os pobres contra os poderosos; até mesmo militar, ao organizar a resistência ou lutar “com armas espirituais” quando as armas materiais não existiam (...) tentavam lutar contra a violência e moderar os costumes. (LE GOFF, 2005, p. 40).

Vemos então o forte papel desempenhado por bispos e monges, que ultrapassam o

âmbito do puramente religioso e se colocam na defesa de seus fiéis.

Utilizamos o texto de Cambi para nos auxiliar no conhecimento de aspectos

históricos do período que estudamos, da cultura, do modo de produção, da influência que as

incursões nômades tiveram no surgimento das características deste período – a Idade Média –,

da influência da Igreja sobre os homens, e principalmente da educação e das instituições a que

esta era confiada.

Cambi situa a Idade Média entre os anos 476, queda do Império Romano, e 1492,

descoberta da América. Período em que a organização da sociedade se estrutura

predominantemente em torno do feudo, que tem um senhor ao qual os demais habitantes são

submissos em troca de proteção.

No feudo a economia era de subsistência e a produção predominantemente agrícola.

Quanto à cultura vemos que, desenvolve-se somente no castelo do feudatário ou nas igrejas e,

sobretudo, nos mosteiros; ela também se caracteriza por poucos intercâmbios e é toda

devotada à fé cristã, aos seus dogmas, aos seus mitos. (CAMBI, 1999, p. 155). Logo, a

própria estrutura social do feudo dá forma a sua cultura. A mobilidade social na sociedade

feudal era escassa, os estamentos possuíam um papel social fixo de acordo com um modelo

piramidal.

Esse quadro feudal foi determinado, segundo o autor, pelas invasões que tornavam a

rota do mediterrâneo e as rotas terrestres muito perigosas, o que fazia os grupos sociais se

fecharem em si por motivo de segurança.

A queda do Império e a dissolução das instituições romanas também foi fator que

apoiou os reinos bárbaros.

A sociedade e o homem medieval são, também, o produto da mentalidade cristã, que concentra toda a vida do além-túmulo, que torna a vida mundana trabalhada pela consciência do pecado, que vê “o mundo sensível como uma espécie de máscara” que alude a “uma realidade mais profunda”. (CAMBI, 1999, p. 156).

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Assim vemos a disposição de suportar as dores da vida terrestre com a garantia de

uma felicidade futura, após a morte.

No que se refere à educação Cambi explicita que:

Neste tipo de sociedade – hierárquica e estática –, o problema educativo coloca-se de forma radicalmente dualista, com uma nítida distinção de modelos, de processos de formação, de locais e de práticas de formação, entre as classes inferiores e a nobreza, delineando formas e percursos radicalmente separados; do mesmo modo a educação se organiza em instituições – como a família e a Igreja – que têm uma identidade suposta permanente (pelo menos em teoria) e que manifestam uma forte impermeabilidade à mudança, determinando um tipo de educação tradicional, embebida de valores uniformes e invariáveis, ligados à visão cristã do mundo. (CAMBI, 1999, p. 157).

Desta forma a educação se diferencia entre os nobres e o povo. Mantém-se também

valores invariáveis e uniformes.

(...) embora fechado em si mesmo, o Ocidente feudal não é absolutamente impermeável: há todo um pulular de deslocamentos (peregrinações, feiras) e alguns intercâmbios com outras áreas culturais (através de Veneza com Constantinopla; através da Espanha com o Islã), cria fantasias sobre o exótico e o distante etc. (CAMBI, 1999, p. 157).

E esta mesma ambigüidade estará presente nas práticas educativas.

Há também, segundo Cambi, um “monopólio eclesiástico da educação” e “difusão

do modelo cristão, como ideal e como retículo de instituições educativas” (CAMBI, 1999, p.

158).

A formação das elites centrava-se na transmissão de um saber diferente em muitos

aspectos do saber antigo. Vemos o surgimento de

(...) um novo modelo de escola, ligado à vida monástica, que organiza ensinos de alcance sobretudo religioso, segundo regras e procedimentos rigorosamente fixados, dando vida a um tipo de saber bem diferente do antigo, feito de comentários e de interpretações, ligado a textos canônicos, que não “descobre” a verdade, mas a “mostra”: um saber dogmaticamente fixado e que se trata apenas de esclarecer e de glosar. (CAMBI, 1999, p. 158).

O ensino se modifica e, segundo Cambi, torna-se transmissão de um saber fixo,

dogmático.

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Estas escolas eram organizadas pela Igreja e ganham espaço gradativamente. De

acordo com Cambi “já no século V, as escolas monásticas (ou abaciais) vinham

acompanhando as escolas estatais romanas de gramática e de retórica, substituindo-as depois

gradativamente e propondo uma formação não literária, mas religiosa” (CAMBI, 1999, p.

158). Vemos então que a educação medieval a partir do século VII é marcada pelo

monasticismo e cristianização dos nômades, e nos mosteiros a Regra de São Bento torna-se

modelo de comportamentos e organização diária.

Vemos ainda que a paidéia cristã é defendida por vários teóricos do período, cada

qual ressaltando maior inclinação para o lado místico ou para o racional, e segundo Cambi

essa paidéia é o objetivo mais específico e máximo da educação. Então podemos

compreender que apesar da diferente valoração da razão e da fé, sempre se buscará uma

formação religiosa, espiritual e mística como finalidade da educação.

No caso da educação do povo Cambi expõe que dava-se de forma muito diferente,

pois esta se cumpria essencialmente por meio do trabalho, “era o aprendizado, na oficina ou

nos campos, que, desde a idade infantil, dava uma formação técnico-profissional e ético-civil

ao filho do povo” (CAMBI, 1999, p. 166), assim aprendiam não somente a realizar o trabalho,

mas a própria forma de se relacionar socialmente de seu mestre.

O povo também se educava por meio de ritos e festas das Igrejas aos domingos e

dias comemorativos. As imagens nas Igrejas geram sentimentos e comportamentos, agem no

imaginário dos fiéis e nele cria a necessidade de identificação com aquele modelo de vida.

Eram também formadas, as consciências, nestes ideais por meio das orações que se

realizavam em diversas horas do dia e em eventos diversos e ainda por meio dos cânticos. O

cântico se constitui também em outra forma de influir na formação da mentalidade do homem

neste período.

Os esclarecimentos feitos até agora dão base para podermos nos aprofundar no

estudo próprio d' A Regra de São Bento, na qual podemos notar grande clareza e descrição

cuidadosa das tarefas e comportamento adequados, auxiliando o seu devido cumprimento.

A obra se inicia com um convite ao desprezo das próprias vontades e ao combate ao

lado de Cristo, em nome de uma vida após a morte. Diz também que “devemos preparar

nossos corações e nossos corpos para combater dentro da santa obediência aos preceitos” (A

Regra de São Bento, 1993, p. 14). Isso nos evidencia o conteúdo da presente obra, a

ordenação que possibilite ao corpo e a alma uma preparação para uma vida reta.

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Devemos, pois, constituir uma escola do serviço do senhor. Nela nada vamos estabelecer que seja duro ou pesado. Entretanto, se aparecer alguma coisa um pouco mais apertada por questão de conveniência, para emenda dos vícios ou conservação da caridade, não fuja logo, cheio de pavor, do caminho da salvação que não se começa sem passar por certo aperto inicial. (A Regra de São Bento, 1993, p. 14).

Alertando para a dificuldade de adaptação com a vida monástica São Bento aponta que

esta é por vezes necessária.

A Regra distingue entre os monges quatro espécies. Os que vivem sob a Regra e um

Abade são os cenobitas, que por serem uma espécie valiosíssima serão dos que tratará a obra.

Explicita as atribuições do Abade, que deve ter os demais como filhos adotivos e por

eles prestar contas, deve prezar para “que suas ordens e sua doutrina derramem o fermento da

justiça divina na mente dos discípulos” (A Regra de São Bento, 1993, p. 17). Que dê bons

exemplos, ensinando “mais por ações do que por palavras, de tal maneira que, aos discípulos

capazes de compreender, proponha por meio de palavras os mandamentos do Senhor, mas aos

duros de coração e aos simples mostre os preceitos divinos por suas ações” (A Regra de São

Bento, 1993, p. 18), para que Deus não lhe diga que mesmo narrando sua justiça este adiou

sua disciplina e menosprezou as palavras.

O Abade também não deve fazer distinção entre as pessoas como havia na sociedade,

mas se necessário distinguir que não se faça pelas origens dos monges, mas por suas boas

ações. Vemos assim que as questões relativas ao nascimento dos monges, se livres ou

escravos, são de menor (ou nenhuma) importância, mas o que importa mesmo é a disciplina

que este apresenta vivendo sobre a Regra. “Seja, pois, igual a caridade da parte dele para com

todos e uma só disciplina em todas as coisas, segundo o merecimento de cada um” (A Regra

de São Bento, 1993, p. 18).

Ainda orienta o Abade para ser severo como um mestre e afetuoso como um pai

amoroso. “Aos indisciplinados e irrequietos deve questionar duramente; aos obedientes,

mansos e pacientes, deve pedir insistentemente que façam progressos para melhor. Aos

negligentes, porém, e aos que não fazem caso, insistimos em que repreenda e castigue” (A

Regra de São Bento, 1993, p.19). Deve cortar o pecado pela raiz, corrigindo com advertência

uma ou duas vezes os de mais entendimento, reprimindo com varas e castigos corporais os de

má índole logo de início. Ninguém deve seguir no mosteiro o seu próprio coração, nem

discutir com seu Abade.

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Tratando da obediência, a regra explicita que esta é o primeiro degrau para a

humildade, vemos que em São Bento todo relacionamento entre os homens tem bases na

relação entre o homem e Deus, a obediência devida ao superior é em nome daquela que se

presta a Deus. Ao discípulo cabe em tudo obedecer com humildade, submissão e reverência.

São Bento explicita sobre os Ofícios Divinos da noite a sua forma correta de

realização nas diferentes épocas do ano. Faz o mesmo com as Vigílias. Durante o dia serão

prestados louvores em sete Ofícios, são eles: Matinas, Prima, Terça, Sexta, Noa, Vésperas e

Completas. Da mesma forma a Regra também identifica quantos salmos devem ser ditos

nessas mesmas horas e em que ordem devem ser ditos, e ainda sobre o Aleluia e as Orações.

Devem ser escolhidos irmãos de boa reputação, que tenham santa vivência monástica

e saibam dar bons conselhos, para ocupar o lugar de decanos, com os quais, em decanias, o

Abade possa repartir suas tarefas.

Também vemos na Regra especificações quanto ao modo de dormir dos monges. Para

que pecados sejam evitados devem dormir cada um em uma cama, todos no mesmo lugar, ou,

caso não seja possível, em grupos de dez ou vinte, sob os cuidados dos mais velhos, com um

candeeiro sempre aceso. Devem dormir vestidos, com as vestes presas por cintos ou cordões,

sem os facões para que não venham a se cortar. Preparados para que ao sinal não demorem a

se levantar e chegar ao Ofício Divino. Os mais jovens não devem dormir ao lado um do outro,

mas sempre intercalados com os mais velhos.

Quanto aos comportamentos inadequados a Regra esclarece que:

Se houver um irmão teimoso ou desobediente, orgulhoso ou murmurador, ou que contraria em qualquer coisa a Santa Regra e despreza as ordens dos seus superiores, seja advertido pela primeira vez em particular pelos seus superiores, conforme o preceito de Nosso Senhor. (A Regra de São Bento, 1993, p. 53).

Mas esta advertência é vista como oportunidade para que o irmão se emende. Caso

não se corrija e entenda o sentido das penalidades ele deve ser submetido à excomunhão,

porém se for de má índole o castigo deve ser corporal.

Caso um irmão não se corrija com advertências e nem com a excomunhão, deve ser

aplicado a ele castigo mais severo, ou seja, com varas. Mas se mesmo assim o irmão não se

corrigir e insistir em defender seu modo de agir, que o Abade e todos os irmãos orem pode

ele. Se nem assim se corrigir, para que não contamine os demais monges, deverá ser expulso.

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O irmão expulso só poderá voltar ao mosteiro se prometer corrigir-se completamente do erro

que o fez ser expulso, e deverá ser posto em último lugar para mostrar-se humilde. Se

novamente sair só poderá ser recebido pela terceira vez, após isso não será permitido regresso.

Os castigos devem variar de acordo com a idade e a inteligência. Então, as crianças,

adolescentes e aqueles incapazes de compreender o sentido da excomunhão, devem ser

punidos, quando necessários, por jejuns ou varas.

São Bento expõe ainda sobre as atribuições do celeireiro, para esta função deve ser

escolhido um homem sábio, sóbrio, maduro, temente a Deus, que não coma muito, ou seja

orgulhoso, agitado, injusto, lento ou pródigo.

A Regra ainda expõe que as ferramentas e objetos dos mosteiros devem ser confiados

pelo Abade para aqueles que esteja seguro dos bons costumes, para que tomem conta e

recolham. Tenha o Abade um cadastro de controle dos objetos. Que os irmãos que não

tiverem cuidado pelas coisas do mosteiro sejam repreendidos, se não se corrigir seja

submetido a disciplina regular.

Os irmãos devem se servir uns aos outros, todos devem ajudar na cozinha, a menos

que afastado por motivo de doença, não apenas preparando os alimentos e servindo, mas

também limpando a cozinha e os pés dos irmãos. Devem comer pão e beber vinho antes de

servir aos demais irmãos a comida, para que não murmurem.

A Regra especifica sobre a leitura à mesa e na capela.

Quando ouvir o sinal de que é hora do Ofício Divino o irmão deve largar o que está

fazendo e para lá se dirigir, aquele que chegar com atraso não ocupará seu lugar no coro, mas

o último, e deverá no final prestar satisfação. Também devem ser punidos os que se atrasarem

à mesa.

Aquele que errar em leitura na capela deve se humilhar ali mesmo, para não receber

castigo severo. No caso das crianças o castigo deve ser corporal. Deve também sofrer severo

castigo aquele que fizer alguma falta e não buscar o Abade e a comunidade para prestar

satisfação, escondendo o erro. Mas se o pecado for algo na sua alma procure o Abade e seus

diretores espirituais para que peça perdão e auxilio, sem que os demais irmãos precisem ficar

sabendo.

O oratório (capela) do mosteiro não seja destinado a outros fins, que os que ali

permanecerem após os Ofícios Divinos orem em silêncio e não atrapalhem os demais.

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Os monges, segundo a Regra, não devem receber de qualquer pessoa cartas ou outros

objetos, nem enviá-los, sem a permissão do Abade.

As roupas e calçados devem ser distribuídos de acordo com o que o Abade julgar

necessário às condições de temperatura do local em que vivem.

Quando alguém se candidatar a entrar para o mosteiro deve ser provado primeiramente

antes de lhe ser concedido tal coisa, se for persistente poderá inicialmente ocupar a cela de

hóspedes e após isso a cela onde os noviços comem, estudam e dormem, sob os cuidados dos

mais velhos. O candidato deve mostrar seriedade nos Ofícios Divinos, obediência e

perseverança nas provações. A ele deve ser exposto tudo de duro que se deve passar para

chegar a Deus. Se permanecer firme após dois meses será lida para ele a Regra e será

questionado se aceita viver sob esta ou se prefere partir. Se não voltar atrás que seja mantido

na cela dos noviços e novamente provado. Após mais seis meses leia-se novamente a Regra e

se permanecer após mais quatro meses a leiam novamente, e se persistir firme que seja aceito

como membro da comunidade.

Haverá na capela por parte do candidato a promessa de estabilidade e a redação de

documento. E após prostrar-se aos pés de todos da comunidade será tido como membro desta.

Os monges de outros lugares devem ser recebidos por quanto tempo quiserem, porém

que se conforme com as condições do lugar em que é recebido.

A Regra trata ainda da forma de nomeação de um Abade, que seja escolhido pela

comunidade ou por seus representantes mais sensatos. Podendo no caso de escolha

inadequada sofrer intervenção do bispo. O escolhido deve ter boa formação nas Sagradas

Escrituras, ter virtudes admiráveis e amor aos irmãos.

Para porteiro do mosteiro a Regra determina que seja escolhido um monge mais velho

e sábio, que tenha maturidade para não sair frequentemente do seu posto. E tenha cela perto

da portaria, que receba e transmita os recados, se necessário tenha um assistente jovem.

O mosteiro deve ter no seu interior água, moinho, horta e o que mais for necessário

para que os monges não necessitem sair. Os irmãos que saírem de viajem ao regressar não

contem aos demais o que viu ou ouviu fora do mosteiro, para que não contaminem os demais

com as coisas de fora.

Os irmãos devem obedecer ao superior em todas as coisas, mesmo as que parecerem

mais duras. Se lhe parecer impossível comunique ao superior, mas se este não recuar na

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ordem, se esforce em obedecer. A obediência não deve ser prestada somente a Abade, embora

seja superior, mas que os monges se obedeçam uns aos outros.

Por fim a Regra afirma que nem toda observância da vida espiritual está exposta na

Regra.

Conclusões

Se primeiramente temos Aristóteles nos afirmando que o homem deve ser educado

para que viva de acordo com a virtude, sendo desta forma bom e tendo suas ações orientadas

para o bem supremo, a felicidade, temos em São Bento, já cristão, determinações de uma

organização ideal da vida dos monges para que estes atinjam a virtude e sejam formados bons,

de acordo com a comunidade monacal na qual estão inseridos e na intenção de atingir o amor

de Deus.

Notamos então que o estudo de A Regra de São Bento é de grande auxilio para

pensarmos hoje a questão da disciplina. A observância constante de disciplina em

comportamentos e tarefas é comum na nossa sociedade? Vemos a disciplina como elemento

formador do caráter dos homens ou como simples auxílio na organização da vida diária,

podendo inclusive ser dispensável? E ainda: estamos realmente preocupados com a questão da

disciplina para a formação dos homens ou estamos apenas nos aproximando, sem se

aprofundar nem encará-lo de frente, deste assunto quando sentimos a necessidade de tratar da

indisciplina e corrigir os males que esta trás?

O presente trabalho não tem como objetivo dar respostas para a questão da disciplina,

mas abrir caminhos para sua reflexão, por esse motivo as conclusões se apresentam menos em

afirmações e mais em perguntas.

Referências

A REGRA DE SÃO BENTO. Petrópolis: Vozes, 1993. 119 p.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2001. 241 p.

BLOCH, Marc. Apologia da história: ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

2001. 159 p.

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CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: Unesp,1999. p.154 – 192.

LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005. 400 p.