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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL HENRIQUE MANOEL CARVALHO SILVA A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE NA FOMENTAÇÃO DO PROTAGONISMO JUVENIL E FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS SÓCIO-POLÍTICAS São Paulo 2011

A Importância da PJ na Fomentação do Protagonismo Juvenil e Formação de Lideranças Sócio-Políticas [SILVA H.M.C.]

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Este trabalho teve como objetivo conhecer a participação/ militância de jovens nos espaços sócio-políticos e em movimentos sociais que estão (ou já estiveram) inseridos na Pastoral da Juventude (PJ). Desse modo, foi de suma importância compreender se a participação dos jovens na PJ foi determinante para despertar os seus interesses pela atuação nesses espaços. Propôs-se ainda analisar a visão que os jovens detêm enquanto protagonistas das suas histórias. Nesta perspectiva, realizou-se uma contextualização sobre os conceitos de juventudes, buscando conhecer os principais fatores que afetam a vida dos jovens como: educação, trabalho, violência e questões relacionadas à vida familiar, bem como se discutir sobre a PJ contribuindo para o protagonismo juvenil. Engendrou-se, por outro lado, uma discussão sobre o Serviço Social dialogando com a juventude e, para finalizar, a partir dos resultados obtidos na pesquisa de campo, utilizando a técnica do Grupo Focal, foi realizada a análise dos resultados obtidos que confirmaram a questão norteadora deste trabalho, levando-nos ao alcance dos objetivos que foram delineados, ou seja, a PJ se coloca como agente de transformações na vida dos jovens que buscam nela o despertar para o protagonismo.

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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL

HENRIQUE MANOEL CARVALHO SILVA

A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE NA FOMENTAÇÃO DO PROTAGONISMO JUVENIL E FORMAÇÃO DE

LIDERANÇAS SÓCIO-POLÍTICAS

São Paulo 2011

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HENRIQUE MANOEL CARVALHO SILVA

A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE NA FOMENTAÇÃO DO PROTAGONISMO JUVENIL E FORMAÇÃO DE

LIDERANÇAS SÓCIO-POLÍTICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social do Curso de Serviço Social da Universidade de Santo Amaro, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Marlene Almeida de Ataíde.

São Paulo

2011

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HENRIQUE MANOEL CARVALHO SILVA

A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE NA FOMENTAÇÃO DO PROTAGONISMO JUVENIL E FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS SÓCIO-POLÍTICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social do Curso de Serviço Social da Universidade de Santo Amaro.

Data da Aprovação _____/_____/_____.

BANCA EXAMINADORA

Marlene Almeida de Ataíde (orientadora) Doutora em Serviço Social

Universidade de Santo Amaro - UNISA

Débora Nunes de Oliveira Mestre em Serviço Social

Universidade de Santo Amaro - UNISA

CONCEITO FINAL: ______________________

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A todos que acreditam nos jovens e lutam por uma sociedade mais justa e fraterna.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e força para caminhar, lutar e alcançar meus

sonhos e objetivos.

Aos meus pais, Severino e Filomena, pelo amor incondicional e

principalmente por acreditarem no meu potencial. Também aos meus irmãos,

pessoas que admiro muito, pelo companheirismo e apoio. Amo vocês.

À minha pequena, namorada e amiga, pelo companheirismo, partilhas e

momentos juntos, especialmente, pela compreensão e apoio no desenvolvimento

desse trabalho.

À Professora Marlene Almeida de Ataíde, minha orientadora, cujo apoio tem

me permitido realizar este ideal de profissão e vida, dedico minha admiração e

respeito. Aprendi muito com essa pessoa!

Às professoras e professores que nos acompanharam durante esse

processo de formação, pelas trocas de saberes e conhecimentos, sou eternamente

grato.

À professora Débora Nunes de Oliveira, leitora desse trabalho, pelas dicas e

atenção.

Agradeço a todas e todos da minha turma (inclusive os que saíram durante o

curso), vivenciamos e trocamos muito conhecimento nesses quatro anos de

formação, aprendi muito com cada um de vocês, cada um na sua particularidade.

Devo um agradecimento especial às/aos jovens que participaram da

pesquisa de campo, pela contribuição para este trabalho e especialmente pela

partilha de suas trajetórias e experiências e mais, por acreditarem nas juventudes.

Agradeço à UNISA, por ter disponibilizado o espaço e recursos para que

fosse possível realizar a pesquisa de campo, assim como a disponibilidade do

Rafael e da Valéria, companheiros de curso, em ajudarem para a efetivação do

Grupo Focal, muito obrigado.

Aos pejoteiros e pejoteiras de todo o Brasil, em especial os da minha

paróquia. Ao pessoal da Lista da PJ Nacional, muita gente que anseio um dia

conhecer, agradeço pelo apoio e dicas para a construção deste.

Aos meus amigos e amigas, de perto e de longe, os novos e os de longa

data, por fazerem parte da minha história e pelo incentivo para a construção deste.

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"Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida."

Cora Coralina

"O alicerce fundamental da nossa obra é a juventude."

Che Guevara

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RESUMO

Este trabalho teve como objetivo conhecer a participação/ militância de jovens nos

espaços sócio-políticos e em movimentos sociais que estão (ou já estiveram)

inseridos na Pastoral da Juventude (PJ). Desse modo, foi de suma importância

compreender se a participação dos jovens na PJ foi determinante para despertar os

seus interesses pela atuação nesses espaços. Propôs-se ainda analisar a visão que

os jovens detêm enquanto protagonistas das suas histórias. Nesta perspectiva,

realizou-se uma contextualização sobre os conceitos de juventudes, buscando

conhecer os principais fatores que afetam a vida dos jovens como: educação,

trabalho, violência e questões relacionadas à vida familiar, bem como se discutir

sobre a PJ contribuindo para o protagonismo juvenil. Engendrou-se, por outro lado,

uma discussão sobre o Serviço Social dialogando com a juventude e, para finalizar,

a partir dos resultados obtidos na pesquisa de campo, utilizando a técnica do Grupo

Focal, foi realizada a análise dos resultados obtidos que confirmaram a questão

norteadora deste trabalho, levando-nos ao alcance dos objetivos que foram

delineados, ou seja, a PJ se coloca como agente de transformações na vida dos

jovens que buscam nela o despertar para o protagonismo.

Palavras-chave: Juventudes, Pastoral da Juventude, Protagonismo Juvenil,

Participação.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gráfico: Assuntos que mais interessam aos jovens – Pesquisa Perfil da

Juventude, 2003. ...................................................................................... 25

Figura 2 - Redução da maioridade penal. (charge encontrada na Internet) .............. 36

Figura 3 - Símbolo da Pastoral da Juventude ........................................................... 38

Figura 4 - Símbolo da Campanha. Fonte: www.juventudeemmarcha.org. ................ 52

Figura 5 - Bandeira da PJ, Grito dos Excluídos, 2009, Praça da Sé - São Paulo/SP.

................................................................................................................. 53

Figura 6 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 2008. ............................ 54

Figura 7 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 2009. ............................ 54

Figura 8 - Organização da sala em círculo e café da manhã (ao fundo) - Grupo

Focal. ........................................................................................................ 64

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Situação educacional dos jovens em 2007 (Em %). ................................ 27

Tabela 2 - Número de homicídios na população de 15 a 29 anos, por UF e Região.

Brasil, 1997/2007. ..................................................................................... 34

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACE – Ação Católica Especializada.

ACG – Ação Católica Geral.

CEB‟s – Comunidades Eclesiais de Base.

CCJ – Centro de Capacitação da Juventude.

CDL – Curso de Dinâmicas para Líderes.

CEU – Centro Educacional Unificado.

CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano.

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

CONJUVE – Conselho Nacional de Juventude.

DNJ – Dia Nacional da Juventude.

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente.

EJAAC – Espaço Jovem Alexandre Araújo Chaves.

EJC – Encontro de Jovens com Cristo.

ENESSO – Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

IPJ – Instituto Paulista de Juventude.

JAC – Juventude Agrária Católica.

JEC – Juventude Estudantil Católica.

JIC – Juventude Independente Católica.

JOC – Juventude Operária Católica.

JUC – Juventude Universitária Católica.

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

ONG – Organização Não Governamental.

ONU – Organização das Nações Unidas.

PJ – Pastoral da Juventude.

PJE – Pastoral da Juventude Estudantil.

PJMP – Pastoral da Juventude do Meio Popular.

PJR – Pastoral da Juventude Rural.

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios.

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PPJ – Políticas Públicas para as Juventudes.

ProJovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens.

ProUni – Programa Universidade para Todos.

RCC – Renovação Carismática Católica.

SNJ – Secretaria Nacional da Juventude.

SdC – Semana da Cidadania.

SdE – Semana do Estudante.

TLC – Treinamento de Liderança Cristã.

TdL – Teologia da Libertação.

UNE – União Nacional dos Estudantes.

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura.

UNICEF – United Nations Children's Fund (Fundo das Nações Unidas para

a Infância).

UNISA – Universidade de Santo Amaro.

USP – Universidade de São Paulo.

VAI – Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1 JUVENTUDE (S) .................................................................................................... 14

1.1 Visitando a literatura. .................................................................................. 14

1.2 Juventude e participação: breve histórico da trajetória política da juventude

brasileira a partir da década de 60. .......................................................... 19

1.3 Juventude e contemporaneidade: fatores que afetam a vida dos jovens. .. 24

1.3.1 Juventudes e educação. .................................................................. 26

1.3.2 Juventudes e trabalho. .................................................................... 28

1.3.3 Juventudes e família. ....................................................................... 30

1.3.4 Juventudes e violência. ................................................................... 32

2 A PASTORAL DA JUVENTUDE E O PROTAGONISMO JUVENIL ..................... 38

2.1 Contexto histórico da Pastoral da Juventude, do “A-E-I-O-U” aos dias

atuais. ....................................................................................................... 38

2.2 Protagonismo juvenil e seu conceito. .......................................................... 45

2.3 A Pastoral da Juventude e o seu protagonismo na sociedade

contemporânea......................................................................................... 47

3 O CAMINHO PERCORRIDO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............. 55

3.1 O Serviço Social: dialogando com as juventudes. ...................................... 55

3.2 A pesquisa: tipo, instrumentos e métodos para a coleta de dados. ............ 59

3.3 Os jovens/ sujeitos participantes do Grupo Focal. ...................................... 66

3.4 Objeto e objetivos da pesquisa: geral e específicos. .................................. 67

3.5 O problema e a hipótese. ............................................................................ 68

3.6 Análises dos resultados. ............................................................................. 68

3.6.1 O inicio de tudo... ............................................................................. 68

3.6.2 A construção do protagonismo. ....................................................... 71

3.6.3 A participação nos espaços sócio-políticos e movimentos sociais. . 74

3.6.4 Os acontecimentos importantes na Pastoral da Juventude. ............ 77

3.6.5 A visão que têm sobre o protagonismo das suas histórias. ............. 79

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 84

REFERÊNCIAIS ........................................................................................................ 86

ANEXOS E APÊNDICES .......................................................................................... 91

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INTRODUÇÃO

Este trabalho originou-se das minhas indagações sobre o significado da

Pastoral da Juventude (PJ) na vida dos jovens dela pertencentes, bem como, se

essa participação os conduz ao protagonismo juvenil. Nesta direção, a questão

norteadora indicou que a PJ colabora para despertar as juventudes na prática do

protagonismo e na formação de lideranças sócio-políticas.

Outro fator determinante pelo qual a escolha do tema se deu, foi minha

participação na PJ desde o ano de 2001. Em cujo espaço enquanto militante passei

por um processo de formação no qual vivenciei experiências e práticas que

fomentaram meu próprio protagonismo, tendo contribuído assim, para que eu

pudesse me inserir em outros movimentos/ espaços de participação.

Desta forma, este estudo teve como objeto a participação e militância de

jovens nos espaços sócio-políticos e em movimentos sociais que estão inseridos (ou

já estiveram) na PJ. Teve como objetivo geral entrevistar jovens nas idades entre 15

e 29 anos, de ambos os gêneros para compreender como o protagonismo juvenil foi

se construindo nas suas vidas. Para os objetivos específicos delimitou-se por

compreender se a participação desses jovens na PJ foi determinante para despertar

os seus interesses pela atuação nos espaços de participação, bem como, analisar a

visão que os jovens detêm enquanto protagonistas das suas histórias.

A pesquisa foi na perspectiva qualitativa cujo método eleito foi o Grupo

Focal, pelo fato de proporcionar uma estreita relação entre os sujeitos e por

proporcionar um ambiente favorável para a partilha de idéias. Outro aspecto a ser

considerado é que esse método promove uma maior interação no surgimento de

idéias e conceitos, além de se considerar que todos os sujeitos possuíam uma

vivência comum com o tema deste estudo e também por tal método proporcionar

trocas, sentimentos, atitudes, crenças e experiências.

Nesta perspectiva, ao dar inicio ao presente trabalho buscou-se

primeiramente compreender sobre a categoria juventudes e, logo no primeiro

capítulo levantou-se uma discussão além dos seus conceitos, mas buscou-se

também conhecer os principais fatores que afetam a vida dos jovens como:

educação, trabalho, violência e questões relacionadas à vida familiar.

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No segundo capítulo foi realizada uma contextualização sobre a PJ e

protagonismo juvenil.

No terceiro, foi engendrada uma discussão que versa sobre o Serviço Social

dialogando com a juventude e por fim a pesquisa e os procedimentos metodológicos

utilizados com concomitante análise dos resultados, estabelecendo uma conexão

com o referencial teórico.

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1 JUVENTUDE (S)

1.1 Visitando a literatura.

Mesmo para os que, entre nós, consideram-se crescidos, pensar sobre juventude envolve pensar sobre nós

mesmos: sobre o que éramos e somos sobre o que poderíamos ter sido sobre o que esperamos ser. [...] é como se a natureza descarregasse nos adolescentes os apetrechos da

idade adulta, mas a sociedade não os ensinasse a lidar com as novidades, com as transformações.

(Isolda de Araújo Gunther)

Discutir na contemporaneidade sobre a temática juventude torna-se uma

tarefa complexa, principalmente no sentido de realizar uma conceitualização a

respeito dessa categoria, mas que, segundo Novaes (2000, p. 46) “certamente é

válido começar definindo o que se entende por juventude”.

Se levarmos em consideração a visão que norteia o senso comum de

algumas pessoas na nossa sociedade, inúmeros são os discursos feitos sobre a

representação da juventude. Conforme Camacho (2006), muitas vezes são taxados

de apáticos diante de problemas que antes lhe despertava a rebeldia, ora por quem

antecipa suas conclusões de forma fatalista, como por exemplo, “esta juventude está

perdida!”, opinião embasada pelas notícias acerca da “delinqüência juvenil”, as

sucessivas rebeliões ocorridas na então FEBEM1, ou sobre o tráfico e uso de

drogas, sempre fazem uma correlação entre juventude e violência ou

irresponsabilidade. Ainda consideram que a juventude está imersa numa total

alienação, provocada, em tese, pela mídia ou pelas precárias oportunidades de

educação, saúde e trabalho.

Constata-se ainda a célebre frase “a juventude é o futuro”, levando-nos a

uma enganosa compreensão, não poucas vezes intencional, que desconsidera o

que os jovens são, fazem e pensam agora, no presente. Essas idéias não deixam de

ser uma forma de minimizar e/ou desqualificar as opiniões e manifestações públicas

dos jovens, ou legitimando não ser necessário que os jovens sejam responsáveis ou

1 FEBEM = Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, atualmente conhecida como

Fundação CASA (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente).

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tenham preocupações como trabalho, educação, saúde, o que seria tarefa dos

adultos.

Sabe-se, entretanto que concepções pertencentes ao senso comum

merecem uma qualificação cientifica, ou seja, requer conceitos elaborados e

embasados em estudos de forma aprofundada por autores que se dedicam ao tema

em questão. Para tanto são necessários grandes esforços e aprofundamentos

literários na extensa bibliografia que, principalmente nas ultimas décadas teve

grande destaque, onde muitos autores e autoras discutiram sobre essa temática.

Conforme Costa (2000, p. 66) é necessário “ter em mente essa

complexidade [...] para evitar equívocos no uso desse conceito”. Nesse sentido, este

estudo irá analisar algumas definições e pesquisas realizadas por especialistas

desta temática, fazendo então uma “visita à literatura” visando não uma definição

engessada, mas sim, buscar contribuições que possam colaborar para uma

definição que abranja as dimensões e diversidades dessa categoria.

Ao se tentar definir o que é juventude, percebe-se inicialmente uma questão

muito utilizada dentro de um senso comum, que é interpretar a juventude como

apenas um “momento de transição” da fase de criança/adolescente para a fase

adulta. Chegando ao ponto de ter essa categoria como apenas uma “fase” da vida,

onde tais sujeitos são destituídos de direitos e que, simplesmente, necessitam de

tutela. Esse conceito não deixa de ser verdade, porém não pode ser interpretado de

forma isolada, sendo então delicado determinar quando essa categoria se inicia ou

mesmo se encerra como diz Ataíde (2008, p. 41) que “não se pode inserir a

juventude em critérios rígidos, como uma etapa com um início e um fim pré-

determinados”. Além do que, essa categoria deve ser vista como sujeitos portadores

de direitos.

Na busca de um conceito de juventude, não se deve então resumi-la ou

mesmo considerá-la somente como uma faixa etária, pois ao se debruçar nas

literaturas percebe-se que há disparidades nesse quesito.

Conforme Netto (2006, p. 42) “alguns grupos chegam a definir a juventude a

idade inferior a 30 anos”. Para confirmar esta informação pode-se citar a

Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) que classificam uma pessoa como

jovem aquela que possui idade entre 15 e 24 anos.

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Já o Estatuto da Criança e do Adolescente2 (ECA) considera o

adolescente/jovem, o sujeito com idade entre 12 e 18 anos; no entanto a Secretaria

Nacional da Juventude (SNJ) considera uma pessoa como jovem, as que possuem

entre 15 e 29 anos3.

Mesmo não considerando a categoria juventude apenas como “momento de

transição” e como uma “faixa etária”, este estudo irá desenvolver-se em pesquisas

focadas com sujeitos entre 15 e 29 anos.

Desse modo, há a necessidade de se buscar maiores esclarecimentos e de

se fundamentar com maior profundidade as características da juventude porque,

[...] por sua vez, embora ainda viva muitas das características da adolescência, encontra-se em uma etapa de maior equilíbrio emocional e com maior experiência de vida. O período é caracterizado por certa autonomia em relação à família e à solidificação da identidade pessoal. Chega-se à identidade através de um processo de crise, reavaliação, questionamento e assimilação de um quadro de referencias e de valores, que dão sentido e direção para a vida... (BORAN, 2003, p. 260-262)

Outro ponto que se debate na busca de uma “possível” definição de

juventude é o fator biológico (e fisiológico), onde se ressalta como a fase das

mudanças físicas e da puberdade. Segundo Novaes,

Biologicamente, o jovem é aquele que, em tese, está mais longe da morte. Biologicamente mais predisposto à vida, tem gosto pela aventura, tem maior curiosidade pelo novo. Em conseqüência, tem um lado mais propenso ao revolucionário. (2000, p. 46)

Porém neste estudo, essas características levantadas – curiosidade, gosto

aventureiro e ações revolucionárias – não serão considerados simplesmente como

uma questão biológica, para tal podemos afirmar que “a juventude não é mais

somente uma condição biológica, mas uma definição cultural. [...] deixa de ser uma

condição biológica e se torna uma definição simbólica” (MELUCCI, 1997, p. 9-13).

2 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi instituído no Brasil pela Lei 8.069 no dia

13 de julho de 1990. É a principal referência legal para as questões de proteção e diretos da criança e do adolescente. 3 Faixa etária estabelecida de acordo com a Lei 11.129 de 30 de Junho de 2005, que

também institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) e cria o Conselho Nacional da Juventude e a Secretaria Nacional de Juventude. Esta faixa etária consta na proposta de Projeto de Lei 4529/04 para a criação do Estatuto da Juventude.

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Dentro de um espaço cultural e social as pessoas podem ser interpretadas

como jovens, não especificamente pela faixa etária que se encontram, mas pela

forma como agem e também as suas posturas. Por isso quando se discute juventude

há a necessidade de termos clareza de que estamos falando de uma categoria que

apresenta certas diversidades, especificidades e entendida como um segmento

(importante) da sociedade e não vê-la apenas como uma fase biológica, mas sim

como uma categoria social, com necessidades específicas e que se constitui a partir

de determinado contexto social e histórico. Para completar tal análise, ressaltamos a

definição de Groppo, compreendendo a juventude como uma categoria social,

vejamos:

Ao ser definida como categoria social, a juventude torna-se, ao mesmo tempo, uma representação sócio-cultural e uma situação social. Ou seja, a juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a elas atribuídos. Ao mesmo tempo, é uma situação vivida em comum por certos indivíduos. (GROPPO, 2000, p. 7 e 8).

Considerando que a categoria juventude destaca-se na sociedade e detém

um importante papel, Dayrell (2003, p. 41) destaca alguns critérios que constituem

essa categoria e são tidos como históricos, culturais, sociais e políticos dentro do

período e realidade da sociedade da qual está inserida.

É importante ressaltar que o termo juventude é ressente na sociedade,

surgindo por volta do século XVIII com a Revolução Industrial, para explicar tal idéia

POSSATO JR. e LUCAS em seu artigo “Juventudes e Meio Urbano” expõem que,

Durante a Revolução Industrial (séc. XVIII e XIX), o mundo todo muda. A burguesia ascende ao poder, ganhando o que Marx chamou de luta de classes. A economia, antes essencialmente rural, começa a se concentrar nas cidades, o que provoca o êxodo massivo das famílias para os centros urbanos. A família patriarcal, feudal, cede lugar à família nuclear. Um número maior de jovens agora tem acesso aos estudos. Surgem grupos juvenis organizados e articulados. A própria palavra “Juventude” só passa a ser empregada nessa época, referindo-se justamente a esses grupos. Sendo assim, concluímos que o termo, além de recente, é próprio da/o jovem

urbana/o [...]enquanto grupo organizado e articulado. (POSSATO JR. e LUCAS, 2009, p. 105)

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Na história da humanidade, muitos dos feitos e fatos foram realizados por

pessoas consideradas jovens, que com suas identidades em construção e

geralmente participando de algum grupo onde partilhavam de ideais e

questionamentos tendiam a ações consideradas como revolucionárias.

Essas idéias fundavam-se principalmente em propor mudanças e

transformações da sociedade nas quais esses jovens estavam inseridos. Sendo

assim, pode-se dizer que esses jovens estão mais propícios a diversos tipos de

ações que influenciem e transformem tais espaços.

Mas de quem se fala quando usamos a palavra juventude? Ou jovem? Cada

vez mais estudiosos do assunto retomam a discussão no sentido de aceitar a idéia

de juventude como juventudes, considerando a diversidade de situações de vida que

afetam os jovens, diferenças em termos de cultura, classe socioeconômica, grupo,

etnia, gênero, dentre tantas outras. Levi & Schimitt a respeito desse assunto

exemplificam:

De um contexto a outro, de uma época a outra, os jovens desenvolvem outras funções e logram seu estatuto definidor de fontes diferentes: da cidade ou do campo, do castelo feudal ou da fábrica do século XIX [...] Tampouco se pode imaginar que a condição juvenil permaneça a mesma em sociedades caracterizadas por modelos demográficos totalmente diferentes. (LEVI & SCHIMITT, 1996, p. 14).

E como afirma José Machado Pais:

Não há de fato um conceito único de juventude que possa abranger os diferentes campos semânticos que lhe aparecem associados. Às diferentes juventudes e às diferentes maneiras de olhar essas juventudes corresponderão, pois, necessariamente, diferentes teorias. (PAIS, 1996, p. 36).

Abramovay (2008) em seu artigo denominado “As trajetórias das juventudes

brasileiras” para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em análise à

Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) em 2007 diz que, não há

somente uma juventude, mas sim juventudes, que constituem um conjunto social

diversificado com diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e

poder na nossa sociedade.

Baseando-se no que já foi escrito até o momento pode-se dizer que um

conceito de juventude pode partir dos seguintes pontos (vistos simultaneamente):

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a. Cronológicos, ou seja, faixa etária;

b. Biológicos (e fisiológicos), fase de mudanças físicas e da puberdade;

c. Sociológico, vista pelo viés da transição da situação de dependência para

uma maior autonomia e a inserção de forma mais ativo-participativa na

sociedade, ou seja, sua participação, ação e transformações na

sociedade inserida, de forma organizada e com suas necessidades

especificas.

Desse modo nossos estudos serão direcionados, não especificamente a

uma juventude e sim às juventudes. Buscando não se limitar apenas a um ponto ou

fator que caracteriza uma pessoa como jovem, mas sim os encarando como sujeitos

de direitos e inseridos dentro de uma sociedade com suas necessidades específicas,

com capacidades de ação e transformação dos espaços.

1.2 Juventude e participação: breve histórico da trajetória política da juventude

brasileira a partir da década de 60.

Para Paiva (2000, p. 41) os jovens, sendo elementos questionadores e que

estão em processo de formação (de suas opiniões) e por estarem dentro do conjunto

da sociedade, podem ser o que muitas dessas sociedades precisam para dar inicio a

processos de ruptura. Segundo Novaes (2000, p. 46) os jovens “tem um lado mais

propenso ao revolucionário”. Nesse sentido podemos citar ainda uma frase muito

conhecida de Che Guevara4, onde diz que "ser jovem e não ser revolucionário é

uma contradição genética". O termo revolucionário pode ser entendido como a

propagação de novas idéias e a introdução de processos visando transformações e

mudanças da sociedade e não somente como ações que acontecem por meio de

violência e revoltas, mas sim da construção e participação. Para confirmar tal

análise,

[...] o jovem é um revolucionário, por estar convivendo com outros jovens [...] a fim de que, juntos, pudessem promover transformações, fazer seus manifestos e, assim, transformar aquilo que eles acreditavam que deveria ser transformado. (PAIVA, 2000, p. 42-43)

4 Ernesto Guevara de La Serna (Che Guevara) nasceu em 14/06/1928 na cidade de Rosário

(Argentina) e morreu assassinado em 09/10/1967 na aldeia de La Higuera (Bolívia). Foi médico, guerrilheiro e Ministro em Cuba.

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20

Dessa forma pode-se dizer que, em alguns momentos na história da

humanidade, as juventudes, ao perceberem sua força, passaram a sonhar e

construir juntos, sendo assim, tiveram participação efetiva no que se refere às

maiores mudanças e transformações na sociedade.

Contudo, para continuar a analisar juventudes relacionadas à participação,

protagonismo e liderança sócio-política faz-se necessário realizar um resgate

histórico da trajetória política da juventude.

Este sub-tema irá se limitar ao contexto brasileiro a partir da década de 60

até os anos 2000, expondo e tendo o foco nas participações populares e práticas de

ações protagonistas que mais se destacaram ao longo da história brasileira desde os

anos 60. Pois para se aprofundar nas diversas formas de participação e ações que

ocorreram durante todo esse período, é necessário um estudo mais detalhado e

aprofundado, o que não é o objetivo desse trabalho.

Este resgate histórico é necessário para podermos interpretar as juventudes

não de uma forma comparativa, mas sim destacando algumas características de

cada geração sem criar estereótipos ou mitos.

Muitas vezes ao se falar dessa categoria, realizando um resgate histórico e

analisando as décadas anteriores, principalmente dos anos 60 e 70, no senso

comum, acaba-se por fazer comparações, que restringem a sua definição à

“juventude ideal”, no sentido de engajamento e participação.

Essas análises vêm muito impregnadas de elementos comparativos, relativos à participação da juventude em décadas anteriores. As décadas de 60 e 70 são, principalmente, a referência fundamental de como a juventude deve atuar ou exemplo de juventude engajada. Tais reflexões, contudo, deixam de considerar o momento histórico [...] (MOREIRA, BARBOSA, 2010, p. 13)

Realizando esse recorte, nas décadas de 60 e 70 pode-se afirmar que houve

grande índice de participação e de movimentação política dos jovens brasileiros,

especialmente dentro do movimento estudantil, por meio da União Nacional dos

Estudantes5 (UNE).

5 Fundada no dia 11 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil na cidade do Rio

de Janeiro/RJ, pelo Conselho Nacional de Estudantes.

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21

Esse momento se deu justamente na época de um regime extremamente

opressor, o período da ditadura militar6, onde os protestos juvenis eram contra a

ameaça de endurecimento dos governos e as repressões políticas.

No Brasil, é particularmente nesse momento que a questão da juventude ganha maior visibilidade, exatamente pelo engajamento de jovens de classe média, do ensino secundário e universitário, na luta contra o regime autoritário, através de mobilizações de entidades estudantis e do engajamento nos partidos de esquerda; mas também pelos movimentos culturais que questionavam os padrões de comportamento. (ABRAMO, 2007, p. 82)

Além do movimento estudantil e outros movimentos sociais e políticos, havia

muita participação dos jovens nos partidos políticos, em especial os tido como de

esquerda (com visões socialistas e comunistas).

Nessa temática alguns fatores como o idealismo, a rebeldia e a utopia

contribuíram para fortalecer a participação juvenil, e estes acabaram sendo

considerados como características quase que essenciais dessa categoria

(ABRAMO, 2007, p. 83). Contudo, não se pode deixar de dizer que nem todas as

juventudes tinham tais características, muitos não estavam envolvidos com os

movimentos da época, sendo alguns conservadores, moralistas, tradicionalistas ou

mesmo distantes dessas lutas.

As juventudes desse momento da história (que ficou muito marcado) são

comumente denominadas como “geração de 68”, pois neste ano tiveram vários fatos

e atos de mobilização juvenil, ligados com o movimento estudantil e os movimentos

sociais, dentre eles, aconteceu uma grande marcha fúnebre após assassinato de um

estudante no Rio de Janeiro7 e poucos meses depois acontece também uma grande

mobilização popular em protesto contra o Regime Militar, que ficou conhecida como

Marcha dos 100 mil8.

6 O início da ditadura militar no Brasil se deu em 31 de março de 1964, com o golpe militar

que tira do poder o presidente João Goulart, assumido então pelo Marechal Castelo Branco, durou até a eleição presidencial de Tancredo Neves no ano de 1985. 7 No dia 28 de Março de 1968, no Rio de Janeiro, o estudante Edson Luís Lima Souto é

assassinado pela Policia Militar durante uma manifestação contra o fechamento do Restaurante Central dos Estudantes, conhecido como Calabouço. Tal espaço provia de alimentação a baixo custo para os estudantes e era usado para reuniões, manifestações e organizações dos estudantes. 8 Em 26 de Junho de 1968 na cidade do Rio de Janeiro.

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Em 1968, na cidade de Ibiúna-SP foi realizado o XXX Congresso da UNE,

que foi invadido pela polícia, resultando na prisão de mais de 700 pessoas que

participavam do congresso, dentre elas as principais lideranças do movimento.

Nesse período, conforme mencionado, o Brasil passou por um sistema de

Ditadura Militar. Descontente o povo reivindicou por liberdade e direitos, surgindo

então organizações populares, associações e movimentos sociais, que tiveram

inserido como participantes e militantes muitos jovens.

Os diversos tipos de movimentos sociais, dentre eles o estudantil, possuem

um vasto contexto histórico e tiveram maior enfoque, atuação e espaços para

participação nas décadas de 70 e 80. Esses movimentos sociais surgem a partir de

reflexões, experiências de lutas, reivindicações e causas comuns. Desta forma, as

juventudes estavam inseridas e vivenciando o apogeu dos movimentos sociais no

Brasil, que neste mesmo período possuía grande influência de alas progressistas da

Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) ligados principalmente à Teologia da

Libertação9 (TdL) (GOHN, 2003, p. 26). Com essa participação e organização

popular começam a surgir muitas lideranças populares dentro das juventudes.

Com o fim do regime militar e instituída a democracia, muitas dessas

lideranças começam também a participar do campo político/ partidário.

Os anos 70 e 80 ficaram marcados também pelos movimentos culturais,

pelos movimentos de ocupações de imóveis e propriedades e também os

movimentos ambientais.

No histórico da categoria juventude, vale ressaltar que neste período,

precisamente o ano de 1985 é declarado pela ONU como o Ano Internacional da

Juventude: Participação, Desenvolvimento e Paz.

Porém, passa a existir o estereótipo de que as juventudes dos anos 80 são

apáticas, ou seja, não se inserem nos processos políticos e nem participam das

decisões e reivindicações que se fazem necessárias. Porém, desconsideram-se os

reais motivos que possam ter levado a diminuição das participações juvenis na

sociedade, sobre isso POSSATO JR. e LUCAS em seu artigo “Juventudes e Meio

Urbano”, afirmam o contrário deste estereótipo, apontando um dos reais motivos

dessa não participação, onde os jovens acabam sendo “vitimas” do sistema vigente,

9 Para maiores conhecimentos sobre a “Teologia da Libertação” ver o livro: “O que é teologia

da libertação?” de Francisco Catão pela Editora Brasiliense – 1985.

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[...] as/os jovens não são acomodadas/os, nem desinformadas/os. Eles são pressionados pelo sistema a deixar de lado suas reivindicações para providenciar o seu sustento, ou contribuir no sustento da família, ou ainda garantir o sustento de seus

dependentes. (POSSATO JR. e LUCAS, 2009, p. 108)

Ainda nos anos 80, há o fortalecimento do neoliberalismo, que foca e investe

no consumismo e individualismo, sendo que os jovens são um dos seus principais

alvos de investimentos.

Nesse momento começa-se a ter forte investimento e influência por parte da

mídia, na verdade “nenhum outro segmento é mais elogiado, retratado e perseguido

pelos meios de comunicação de massa do que a juventude” (POSSATO JR.,

LUCAS, 2009).

Dando inicio aos,

[...] anos 90 a visibilidade social dos jovens muda um pouco em relação aos anos 80: já não são mais a apatia e desmobilização que chamam a atenção; pelo contrario, é a presença de inúmeras figuras juvenis nas ruas, envolvidas em diversos tipos de ações individuais e coletivas (ABRAMO, 1997, p. 31).

Esse momento também fica marcado pela participação e atuação das

juventudes, em especial dos movimentos estudantis, sociais e populares no que

ficou conhecido como Movimento dos “Caras-Pintadas”, ocorrido em 1992, com o

objetivo de se realizar o impeachment do então Presidente da República Fernando

Collor de Mello, o que de fato acontece. Tal movimento e realização ficam

conhecidos como uma das maiores conquistas da história brasileira partindo da

organização popular, nesse caso com forte influência e articulação das juventudes.

Com isso, percebe-se que as juventudes tiveram forte participação no

contexto histórico brasileiro, junto aos movimentos (estudantis e sociais), com

destaque as décadas de 60, 70 e 80. E que ainda essa participação continua,

todavia se desenvolve conforme as necessidades da sociedade.

Esse resgate é importante para uma compreensão sobre as participações e

formas de lideranças sócio-políticas das juventudes contemporâneas e sua forma de

desenvolver e praticar o protagonismo juvenil nas realidades em que estão inseridas

e nos fatores que acabam por influenciar ou mesmo afetar as suas vidas.

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1.3 Juventude e contemporaneidade: fatores que afetam a vida dos jovens.

A juventude (juventudes) representa um importante segmento da população.

São milhões de jovens espalhados pelo mundo, especialmente no Brasil, país em

que estamos nos referindo neste estudo.

De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), contidas em sua PNDA de 2007 a juventude brasileira é composta por 49,8

milhões de jovens entre 15 e 29 anos, o que representa 26,5% do total de 189

milhões de habitantes no Brasil.

Esses jovens vivem um momento muito especial e singular, onde surgem

anseios e preocupações, como o trabalho e renda, a formação e educação, a

família, os diversos tipos de violências (onde geralmente são as principais vitimas) e

ao mesmo tempo desabrocham sonhos, ideais e utopias que emergem cheios de

sentimentos, emoções e de vontades, vontades de vencer, crescer e construir.

Enfim, seu futuro e trajetória de vida.

Ao estudar sobre juventudes, relacionadas com participação e protagonismo

juvenil, faz-se necessário analisar, pelo menos, alguns dos principais fatores que

afetam diretamente (ou indiretamente) a vida dos jovens e assim buscar uma melhor

compreensão da temática proposta. Neste estudo será dado destaque para quatro

fatores, divididos da seguinte forma:

a. Educação;

b. Trabalho;

c. Família e

d. Violência.

A escolha desses fatores se deu durante as leituras e estudos e em especial

ao analisar a pesquisa “Perfil da Juventude Brasileira”10. Sendo que em seu

questionário foi realizada uma pergunta referente aos assuntos que mais

interessavam os jovens em questão. Resultando no seguinte gráfico:

10

Pesquisa de iniciativa do Projeto Juventude/Instituto Cidadania, com a parceria do

Instituto de Hospitalidade e do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Essa pesquisa foi realizada sob a responsabilidade técnica da Criterium Assessoria em Pesquisas. Foram entrevistados 3.501 jovens, entre 15 e 24 anos, distribuídos em 198 municípios, contemplando 25 estados da União, sendo realizada e concluída em 2003.

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25

Figura 1 - Gráfico: Assuntos que mais interessam aos jovens – Pesquisa Perfil da

Juventude, 2003.

Sendo esses fatores considerados como assuntos que mais os interessam e

que acabam interferindo direta ou indiretamente nas suas ações e formas de

participação, é de suma importância que sejam mencionados e discutidos neste

estudo.

A idéia é trazer algumas análises e dados específicos que demonstrem essa

co-relação das juventudes, considerando que esses fatores são tanto motivos para

preocupações como para os sonhos. Desse modo, contém forte influência para que

as juventudes possam buscar meios de participação e protagonismo.

Não existe aqui a pretensão de uma contextualização detalhada, mas sim

um olhar mais atento para que possamos obter uma concepção da vida dos jovens

em seus meios, visando um conhecimento mais apurado de suas ações e de alguns

fatores que acabam por afetá-los.

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1.3.1 Juventudes e educação.

A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.

(Nelson Mandela)

Um dos principais fatores que acerca a vida dos jovens é a educação, como

podemos ver no gráfico do item 1.3 deste estudo, pois, aparece em primeiro lugar

como um dos assuntos que mais interessam os jovens. Tal fator pode ser

interpretado, tanto em formato de preocupação, como algo que se almeja/planeja na

busca de um futuro promissor, por isso tal questão aparece em primeiro lugar.

Quando falamos de educação, é fundamental visualizar a situação

educacional da juventude brasileira atual. Ou seja, devido às diversas restrições,

principalmente no que se refere ao acesso, à falta de oportunidades e a baixa

qualidade do ensino, esta área, que é essencialmente importante, não tem recebido

os recursos para alcançar o jovem em sua plenitude.

A melhoria da qualidade da educação, em geral, e do ensino básico, em particular, deve constituir, portanto, uma das principais metas das políticas educacionais dos países. É fundamental que as escolas estejam abertas para se adaptarem às transformações da sociedade contemporânea. (BARBER-MADDEN e SABER, 2009, p. 27)

Observa-se ainda, que muitos jovens não tiveram o devido acesso à

educação durante sua infância/adolescência, resultando em pouca efetividade

quando chegam ao Ensino Fundamental. Conforme aponta BARBER-MADDEN e

SABER (2009, p. 26) o ingresso tardio no ciclo básico de ensino é tido como um

fator determinante aos consideráveis níveis de repetência, desestimulando a

permanência dos jovens nas escolas e contribuindo para os baixos índices de

escolaridade. Desse modo, quando não interrompem os estudos, devido a uma série

de questões que envolvem as suas vidas (índice bastante alto como pode ser visto

na tabela 1, a seguir) relacionadas principalmente à renda e trabalho, chegam às

próximas etapas, como por exemplo, ao Ensino Médio, com elevadas defasagens

educacionais. Isso aumenta o índice, que já é alto, de jovens que ainda estão no

Ensino Fundamental ou Médio, quando já deveriam ter concluído os mesmos.

Outro aspecto de relevância a ser observado concerne nas suas poucas

habilidades de leitura, escrita e compreensão textual. Tais situações acabam por

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27

resultar no aumento do índice de jovens que desistem dos estudos, antes mesmos

que os concluam e também o índice de analfabetos no país, conforme é descrito nos

dados da PNAD, do IBGE, de 2005,

[...] tal fato evidencia-se pela grande proporção de analfabetos que declaram ter freqüentado a escola sem, no entanto, ter aprendido a ler e escrever sequer um bilhete simples. De acordo com os dados da PNAD, do IBGE, realizada em 2005, 38,7% das pessoas analfabetas, com 15 anos de idade ou mais, já haviam freqüentado a escola. [...] Outras causas também explicam o número elevado de analfabetos no país, entre as quais se destacam as limitadas oportunidades de acesso a cursos de alfabetização, a qualidade dessa oferta e as limitações dos estudantes que comprometem a sua permanência nos cursos e a continuidade nos estudos. (Juventude e Políticas Sociais no Brasil, 2009, p. 94).

Para termos uma real percepção da situação educacional dos jovens no

Brasil, podemos ver a tabela número 1, a seguir, onde retrata o ano de 2007. É

assustador ver como em dias atuais esses índices possam ser alarmantes e que

ainda muitos jovens estão fora dos espaços educacionais.

Tabela 1 - Situação educacional dos jovens em 2007 (Em %).

Page 29: A Importância da PJ na Fomentação do Protagonismo Juvenil e Formação de Lideranças Sócio-Políticas [SILVA H.M.C.]

28

Um dos poucos avanços que podem ser citados com relação à educação,

refere-se ao ensino superior, onde o índice de jovens que entraram na academia

teve considerável aumento. Isso se dá devido há alguns programas de bolsa e de

cotas (étnico-raciais e/ou sócio-econômicas). Um exemplo se dá com a instituição,

pelo Governo Federal, do Programa Universidade para Todos (ProUni), no ano de

2004. Esse programa tem como objetivo principal tentar suprir a baixa densidade de

jovens que ingressam, ao nível de ensino superior. No caso, são concedidas bolsas

de estudos em instituições privadas para estudantes que tenham renda familiar per

capita de até três Salários Mínimos.

Com a educação e a construção de conhecimentos os jovens tornam-se

mais críticos, movimentando-se, num sentido dialético. Assim, como Paulo Freire

(2003) ensina que educação está ligada ao movimento, em especial que vai de fora

para dentro e depois vem de dentro para fora. Com isso há a necessidade de gerar

o novo, de construir, o que torna o jovem, quando recebe a devida formação da qual

tem direito (pública e de qualidade), um agente de transformação, resultando em

ações, geralmente coletivas, pois há ainda a necessidade de uma construção em

conjunto, não de forma isolada e individual.

1.3.2 Juventudes e trabalho.

Ao abordar a temática “juventudes e trabalho”, vários fatores são remetidos,

como a questão do primeiro emprego, a dificuldade de inserção no mercado de

trabalho, a formação profissional, a baixa remuneração, a exploração da mão-de-

obra jovem, dentre outros. Neste estudo atentaremos alguns desses pontos, em

especial sobre a inserção do jovem e o primeiro emprego.

Atualmente vivemos em uma sociedade capitalista, Martinelli (2007),

fundamentada no pensamento marxista, que define o capital como uma relação

social entre aquele que detém o meio de produção com aqueles que possuem a

força de trabalho, parte de dois pressupostos; o capital não é mais pensado como

uma coisa, mais como relação social, um determinado modo de produção marcado

não apenas pela troca monetária, mas essencialmente marcado pela dominação do

capital.

Page 30: A Importância da PJ na Fomentação do Protagonismo Juvenil e Formação de Lideranças Sócio-Políticas [SILVA H.M.C.]

29

O modo de produção capitalista abrange tanto a natureza técnica da

produção como a maneira pela qual se define a propriedade dos meios de produção,

e as relações sociais entre as pessoas em decorrência do processo de produção.

A sustentação e base do capitalismo se dão ao acumulo de capital, ou seja,

a mais valia (lucro) e a propriedade de terras e bens de produção. Dentro desse

sistema há uma relação de desigualdade e exploração, onde aqueles que não

possuem tais bens oferecem sua força de trabalho em troca de remuneração.

A juventude não está isenta desse processo, sendo ela atualmente

considerada a população economicamente mais ativa, todavia, a que também está

mais atingida pelo desemprego.

Existe uma grande contradição nessa questão quando se aborda o fato da

inserção do jovem no mercado de trabalho, pois geralmente é exigido que haja

experiência e certo conhecimento na área, porém até aquele momento muitos jovens

ainda não tiveram tal oportunidade ou mesmo algum tipo de capacitação.

Outro ponto de contradição se dá ao fato dos jovens serem considerado

como promissores e aqueles que estão aptos às grandes mudanças que estão

ocorrendo no mercado de trabalho, principalmente em decorrência da globalização e

do rápido crescimento tecnológico. Para tal cita-se,

Os jovens, principalmente os que vivem em situação de vulnerabilidade, historicamente são considerados um grupo com grande dificuldade de inserção na atividade econômica. E, no atual contexto, se deparam com um mercado de trabalho fortemente impactado pelas mudanças da estrutura da produção. No entanto – e paradoxalmente –, são também considerados como um dos segmentos com melhor qualificação media e grande flexibilidade para adaptarem-se ao surgimento de novas oportunidades. Portanto, podem ser considerados como um grupo potencialmente mais preparado a uma inserção positiva no mundo do trabalho e a uma interação sustentável nos processos de desenvolvimento. (ABRAMOVAY; ANDRADE; ESTEVES, 2007, p. 270)

Na “Pesquisa Perfil da Juventude” (2003), quando perguntados dos assuntos

que mais interessam aos jovens, o fator emprego/trabalho, aparece em segundo

lugar, conforme Figura 1 – Gráfico.

Pode-se afirmar que este interesse se dá pela somatória de algumas

questões, dentre elas podemos citar a grande necessidade de complementação de

renda familiar, a preparação/ formação que recebem nas escolas, onde preparam

(ou “treinam”) essa categoria para o mercado de trabalho, pois um regime escolar se

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aproxima muito do que é uma rotina de trabalho, com horários, responsabilidades,

hierarquias, etc. – e também, o forte incentivo fornecido pela mídia, para as práticas

de consumo, fazendo com que essa população seja considerada o maior público

alvo de campanhas (marketing) de produtos. Sendo assim, a juventude acaba se

tornando o grande alvo do mercado de consumo.

Bom, para suprir tais necessidades, o jovem precisa de dinheiro; e não

possuindo bens oferece sua mão-de-obra, na maioria dos casos, por baixa

remuneração. Pode-se dizer ainda que “[...] para numerosos jovens, a experiência

ou inexperiência do mercado de trabalho constitui um momento decisivo da sua

redefinição identitária”. (BAJOIT; FRANSSEN, 1997, p. 76). O que faz com que o

jovem receba forte influência na definição da sua personalidade e de suas escolhas.

Atualmente existem alguns programas de capacitação profissional, com o

objetivo de preparar o jovem para o mercado de trabalho, fazendo com que ele

tenha essa primeira experiência, o primeiro emprego como um estagiário ou

aprendiz.

Outra questão a ser apontada é que as pessoas consideradas jovens, ainda

estão estudando, o que acaba dificultando o seu rendimento tanto na construção de

conhecimentos como no desenvolver de suas tarefas no ambiente de trabalho.

Há a necessidade de conciliar as duas funções, o que pode resultar num

desgaste físico e mental. Muitas vezes ainda, ao abandono da escola. A realidade

atual é de que muitos jovens estudantes estão inseridos no mercado de trabalho, na

maioria, pessoas de famílias de baixa renda.

Sendo os jovens uma categoria importante na sociedade, necessitam

também de oportunidades e capacitação que lhes proporcione o direito ao primeiro

emprego, desse modo podendo suprir suas necessidades e de seus familiares.

1.3.3 Juventudes e família.

Ataíde (2008) quando discute sobre família diz que,

[...] é uma instituição em constante transformação, por fatores internos à sua história e ciclo de vida em interação com as mudanças sociais. A sua história percorre a dialética continuidade-mudança, entre vínculos de pertencimento e necessidade de individualização. É no cenário familiar que aprendemos a nos definir como diferentes e

enfrentar conflitos de crescimento. (ATAÍDE, 2008, p.208-209)

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Sendo assim, e tendo dito que os jovens vivem um momento de mudanças e

transformações, não só físicas e biológicas, mas de pensamentos, ideais e valores,

faz-se necessário a abordagem do fator família, uma vez que este espaço colabora

para os processos de mudanças.

O jovem em sua capacidade e necessidade de se relacionar e participar de

algum grupo, já tem por inicio (teoricamente) a sua família como principal “modelo”.

No entanto na definição feita por Kaloustian (2008), a família é,

A família é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade, é também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais. (KALOUSTIAN, 2008, p. 11-12)

É certo dizer que não necessariamente a formação de uma pessoa será

definida por sua base familiar, porém há de se ter alguns tipos de influências, que

serão levados em conta durante toda a trajetória de vida desse ser, nesse caso o

jovem. Tal análise pode ser fundamentada quando Ataíde (2008), diz que,

[...] é sabido que a família, pelas funções e pelos papeis sociais que exerce perante seus filhos, quer seja na sua socialização, ou na construção da sua identidade pessoal e social, tem um peso preponderante no acervo de conhecimento a ser transmitido. (ATAIDE, 2008, p. 23).

Ou ainda quando Kaloustian enfatiza que,

A família é percebida não como o simples somatório de comportamentos, anseios e demandas individuais, mas sim como um processo interagente da vida e das trajetórias individuais de cada um de seus integrantes. (KALOUSTIAN, 2008, p. 13)

O Artigo 4º do ECA, diz que “é dever da família, da comunidade, da

sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a

efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação [...]”. Não tratando

de uma forma generalizante, mas tal dever nem sempre é posto em prática, tendo

em vista que muito jovens acabam por não ter contato com suas famílias genitoras,

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muitas vezes passando quase que toda infância e juventude em casas de

acolhimento e abrigos. Nesse caso estamos falando de um tipo especifico de família,

porém é certo afirmar que nos dias atuais não existe um conceito único (ou mesmo

ideal) de família, sendo que,

A família, da forma como vem se modificando e estruturando nos últimos tempos, impossibilita identificá-la como um modelo único ou ideal. Pelo contrario, ela se manifesta como um conjunto de trajetórias individuais que se expressam em arranjos diversificados e em espaços e organizações domiciliares peculiares. (KALOUSTIAN, 2008, p. 14)

Perante essas informações, infere-se que atualmente, a família

(independente do modelo ou arranjo) é um importante espaço para o jovem, certo de

que mesmo com mínimas condições esse espaço ainda pode lhe garantir algum tipo

de suporte, sendo em muitos casos responsáveis por esse apoio e orientação;

principalmente para o enfrentamento de outros fatores influentes na vida dos jovens,

como educação, trabalho e violências, fatores esses que serão discutidos nos

próximos subitens.

1.3.4 Juventudes e violência.

Violência é todo ato em que o ser humano é

despido de sua humanidade, tratado como coisa. (Marilena Chaui)

[...] Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério O jovem no Brasil nunca é levado a sério A polícia diz que já causei muito distúrbio

O repórter quer saber por que eu me drogo [...] (Banda Charlie Brown Jr.)

A violência na contemporaneidade é uma situação que vem causando uma

série de preocupações, especialmente para aqueles sujeitos que não poupam

esforços intelectuais para discutir essa questão tão controversa bem como as

causas que vem atingindo sumariamente a categoria juventude, principal alvo de

violência.

Saber que existe essa concepção, que perpassa pelo senso comum e pela

reprodução nos meios midiáticos, é fato, pois acabam por não considerarem os

jovens como sujeitos de direitos e deveres, mas simplesmente como culpados,

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desconsiderando tal categoria pertencente às expressões da questão social11 e das

desigualdades sociais existentes no nosso país.

Os atos de violência envolvendo os jovens, geralmente, são analisados e

descontextualizados da sociedade em que estão vivendo. Essa inversão dos fatos

assusta, pois estatisticamente é nítido que a juventude é, na maioria das vezes, a

principal vítima das violências, conforme informa Waiselfisz (2010, p. 87-88) que no

ano de 2007, as vítimas de homicídio na faixa de 15 a 29 anos de idade

representaram 54,7% do total de homicídios de todo o país.

Segundo o mesmo autor o crescimento dos homicídios envolvendo jovens

passou de 21,1 mil em 1997 para 28,5 mil em 2003, ou seja, nesse pouco espaço de

tempo (seis anos) houve um aumento de 35,1%. Já de 2003 a 2007, houve uma

singela queda de 28,5 mil para 26,1 mil jovens, vítimas de homicídio no país, ou

seja, uma queda de 8,4%. Tais dados podem ser vistos na tabela a seguir:

11

Questão social apreendida como conjunto das expressões das desigualdades da

sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2009, p. 27).

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Tabela 2 - Número de homicídios na população de 15 a 29 anos, por UF e Região.

Brasil, 1997/2007.

Segundo o Mapa da Violência - 2010, entre 1997 e 2007 o número de

homicídios na população jovem teve um aumento de 21.084 para 26.102 homicídios,

enquanto na população total (incluindo os jovens) passou de 40.507 para 47.707

homicídios.

Já comparando esses índices de violência entre toda a população jovem do

Brasil com as de população internacional, o Brasil fica como o sexto país no ranking

de homicídios entre jovens (WAISELFISZ, 2010, p.138-139). Ainda sobre esse

crescente índice no Brasil cita-se,

Page 36: A Importância da PJ na Fomentação do Protagonismo Juvenil e Formação de Lideranças Sócio-Políticas [SILVA H.M.C.]

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O aumento da violência criminal e institucional nas duas últimas décadas, especialmente nas grandes metrópoles brasileiras, tem sido reconhecido como uma realidade, tanto pelas estatísticas oficiais quanto por autores preocupados em compreender as suas causas e tecer analises, objetivando uma contribuição para melhor dissecar toda a sua complexidade. (ADORNO E BORDINI, 1991; CALDEIRA, 2000, apud FRAGA, 2008, p. 83)

Pode-se dizer que os principais alvos dos diversos tipos de violência são: as

mulheres, negros, indígenas, homossexuais, empobrecidos e jovens. Além da

violência física que essas “minorias sociais” recebem, há também a violência

psicológica, expressa no machismo, no racismo, na homofobia, e na discriminação

com os pobres e as juventudes.

O pior é que infelizmente nos dias de hoje algumas dessas expressões são

ditas como extintas, dentro de um senso comum e por uma reprodução midiática, o

que na verdade é uma ilusão, pois estas estão agregadas na sociedade. Um

exemplo, é que as principais vítimas de violência, além de jovens, ainda se

encaixam em uma dessas minorias sociais, como descreve Fraga,

Os homicídios contra jovens pela forma como se apresentam no Brasil [...] não podem ser classificados simplesmente como conflitos interpessoais. Ganharam, na verdade, o caráter de extermínio de população supérflua [...], pois já foram excluídos da convivência humana. (FRAGA, 2008, p. 101)

Acrescenta ainda que,

O aumento da violência na ultima década apresentou, portando, características não verificadas anteriores. A alta letalidade, com o aumento espetacular da taxa de mortalidade, notadamente entre jovens; [...] há uma aumento da vitimização de jovens nos anos 1990, atingindo seletivamente os mais pobres. (FRAGA, 2008, p. 89-91)

Outro fator alarmante e que na verdade resulta em formas de violências,

principalmente com os jovens, é o tráfico de drogas, presente e crescente em

praticamente todas as cidades do país. Nesse caso, geralmente, os jovens acabam

sendo vistos apenas como “marginais”, sem nenhuma análise dos reais motivos

pelos quais tenham se envolvido, chegando à interpretação de que situação já é

algo comum na sociedade.

O envolvimento de jovens com o tráfico não significa novidade para a sociedade brasileira, é parte de sua paisagem e de suas desigualdades. Somente quando a mídia veicula imagens

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impactantes sobre acontecimentos violentos produz-se indignação, condição importante, mas insuficiente para a formação da política. (FRAGA, 2008, p. 88).

A mídia acaba por reproduzir o pensamento de “trombadinhas” e além do

mais, faz com que a sociedade multiplique tal pensamento. Resultando em medos

ou mesmo em indiferenças, aceitando que tal realidade “não tem mais jeito”.

Há a necessidade de que sejam realizados investimentos efetivos em

programas sociais, em políticas publicas e em especial as de prevenção à violência,

pois geralmente os investimentos acabam sendo colocados apenas em programas e

políticas de punição, como presídios e instituições como a Fundação Casa. Que

infelizmente, conforme retratados nos noticiários e em diversos estudos são também

formadores/ executores de violências para com os jovens, conforme retrata o

Relatório da UNICEF12 sobre Violência Institucional (2011), onde diz que

A violência em nosso país assume diversas facetas, mas uma das mais preocupantes é a institucional, aquela cometida justamente pelos órgãos e agentes públicos que deveriam se esforçar para proteger e defender os cidadãos. (UNICEF, 2011, p.1)

Neste tópico pode-se abordar ainda uma importante questão, trata-se da

Redução da Maioridade Penal para 16 anos (que atualmente é de 18 anos,

conforme Constituição Federal de 198813).

Dentro do que já foi mencionado neste

estudo, este ponto também pode ser

considerado como de reprodução midiática,

que apenas expõe os jovens “infratores”,

meramente como delinqüentes. Essa redução

existe como uma proposta para uma possível

solução e diminuição das violências na

sociedade.

Na atualidade existem vários debates

sobre essa temática, mas é certo dizer que tal

12

UNICEF - United Nations Children's Fund (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 13

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas

da legislação especial, Constituição Federal de 1988.

Figura 2 - Redução da maioridade penal. (charge encontrada na

Internet)

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decisão não seria a solução cabível, pois o correto é que “a sanção aplicada precisa

ter conteúdo pedagógico, resultando na chamada medida sócio-educativa” (UNICEF,

2011, p.118).

Tal discussão é merecedora de que sejam realizados estudos mais

aprofundados, e se perguntar se tal medida é a mais eficiente. Se punir é a solução.

Esse assunto deve passar da condição de senso-comum, expondo os reais

pontos a serem discutidos e obter soluções que possibilitem uma cultura de vida que

dê oportunidades a essa categoria, tomando medidas preventivas e principalmente

educacionais, pois, mesmo sem uma análise mais detalhada, é certo dizer que com

os devidos investimentos em outras áreas como trabalho, educação e saúde haverá

uma grande diminuição nos índices de violências na sociedade brasileira.

Ao concluir este tópico, pode-se dizer que é necessário ver o jovem (as

juventudes) como sujeito de direitos e participantes da sociedade e também

perceber suas reais necessidades, desse modo serão proporcionadas oportunidades

para que se possa construir uma sociedade mais justa.

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2 A PASTORAL DA JUVENTUDE E O PROTAGONISMO JUVENIL

“Só uma Juventude organizada, será uma juventude forte” (CELAM - Puebla, 1185/1188)

2.1 Contexto histórico da Pastoral da Juventude, do “A-E-I-O-U”14 aos dias

atuais.

Figura 3 - Símbolo da Pastoral da Juventude15

Para se discutir sobre a importância da Pastoral da Juventude no que se

refere ao despertar dos jovens para o protagonismo juvenil e atuação/ militância em

espaços sócio-políticos, há a necessidade de realizar um resgate histórico desta

organização.

Para tanto, uma contextualização com o objetivo de compreender o que

significa essa organização se faz importante.

14

A menção “A-E-I-O-U”, refere-se aos principais Movimentos Juvenis da ICAR (JAC, JEC,

JIC, JOC e JUC), que antecederam a criação da PJ contemporânea e que lhe dá base e fundamentos. 15

O símbolo da Pastoral da Juventude representa uma cruz estilizada, como se ela

estivesse deitada no chão, servindo de caminho. A cor vermelha representa paixão pelo novo, pelo protagonismo juvenil e pela utopia. O mesmo surgiu em um concurso nacional realizado entre o final dos anos 80 e início dos anos 90. Criado pelo jovem Cristiano, do Regional Sul I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Disponível em: http://www.pjsul1.org/site/pastoral-da-juventude.php. Acesso em: 15/01/2011.

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A Pastoral da Juventude ou simplesmente PJ, sigla que será adotada no

decorrer do trabalho, é uma pastoral organizada e inserida na Igreja Católica

Apostólica Romana (ICAR). Seu surgimento se deu em meados dos anos 70,

conforme Boran (1982, p. 25) “a década de 1970 assistiu ao inicio de uma

reorganização de Pastoral da Juventude Orgânica e de uma avaliação mais crítica

do seu papel na Igreja e na sociedade”.

Porém anteriormente a esse período, na ICAR, houve outras organizações e

movimentos de juventudes, sendo que muitos desses são influenciadores e

forneceram base para a PJ no seu cotidiano. Assim, a PJ é fruto de uma história que

praticamente vem sendo construída no Brasil desde a década de 30.

A partir da década de 30, sob orientação dos bispos brasileiros e idealização

do Papa Pio XI, a ICAR no Brasil passa a ter como objetivo obter uma maior

participação dos leigos16 na sua hierarquia e também propagar o cristianismo para

seus locais de vida e trabalho. Assim, foram criados espaços e movimentos (a

maioria para as juventudes) para atuação na vida pessoal, familiar e social,

conforme explica Oliveira (2002). Esses espaços e movimentos foram embasados

na Doutrina Social da Igreja17 e ficaram conhecidos como Ação Católica.

A Ação Católica no Brasil é caracterizada por duas fases, a primeira

conhecida como Ação Católica Geral (ACG) que foi do ano de 1932 ao ano de 1950.

Já no segundo momento que foi de 1950 a 1966, surgiu a Ação Católica

Especializada (ACE), com grande influência das idéias do cônego belga Joseph

Cardijn18 (Oliveira, 2002, p. 16).

No período da ACE destacam-se os grupos específicos de juventudes:

Juventude Agrária Católica (JAC), Juventude Estudantil Católica (JEC), Juventude

Independente Católica (JIC), Juventude Operária Católica (JOC) e Juventude

Universitária Católica (JUC). E estes grupos serviram de embasamento ao posterior

surgimento da PJ como a conhecemos hoje, conforme retrata Boran (1982),

16

Leigo, pelo dicionário Michaelis, é aquele que não tem ordens sacras. Disponível em:

http://michaelis.uol.com.br. Acesso em: 05/12/2010. 17

É um conjunto de princípios, critérios e diretrizes de ação com o objetivo de interpretar as

realidades sociais, existem várias cartas e documentos que dão diretrizes. Disponível em: www.vatican.va. Acesso em: 05/12/2010. 18 Joseph L. Cardijn, 13/11/1882 – 24/07/1967 - foi um sacerdote de origem belga.

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Nos anos 1960-66, a Ação Católica desenvolvia uma Pastoral de Juventude de meio especifico através da JOC (Juventude Operária Católica), da JEC (Juventude Estudantil Católica), da JUC (Juventude Universitária Católica), da JAC (Juventude Agrária Católica) e da JIC (Juventude Independente Católica). Os jovens eram despertados para assumir um compromisso de trabalho social no seu meio. [...] Os grupos eram ambientais, Isto é, surgiram dentro das escolas, universidades e fábricas [...]. (BORAN, 1982, p. 22)

Tais movimentos tiveram grande influência e participação na sociedade, pois

suas ações além de organizadas eram efetivas, resultando em transformações e

mudanças na sociedade. Eram concretas, de nível formativo e intelectual, se dava

numa vivência da fé na prática social e política, sendo que nesse mesmo período o

Brasil passava por uma Ditadura Militar, o que também resultou em diversos tipos de

perseguições a esses grupos e suas lideranças.

Para termos uma real noção desse período e obtermos uma melhor

compreensão das “heranças” deixadas por esses movimentos, Dick explica que,

Se fôssemos destacar algumas heranças destes “movimentos” da Ação Católica Especializada acentuaríamos, em primeiro lugar, a questão pedagógica: as formas que se usaram para educar cidadãos crentes. As Semanas de Estudo, a exigência na aplicação da Revisão de Vida, as análises de conjuntura, as leituras, a mística adaptada ao meio etc. formaram verdadeiras gerações. Em segundo lugar, o modo como os “movimentos” estavam organizados, com equipes liberadas a nível nacional e regional, visitando os grupos e realizando Congressos, Encontros e Assembléias levadas pelos próprios jovens e as diversificadas atividades nos “meios” como a Semana da Juventude, etc. Era um conjunto de práticas que foi gerando o que hoje chamamos de “protagonismo juvenil”, despertando pessoas maduras na fé e na vida. Foi nesse conjunto de “instrumentos” que esteve à riqueza e o risco da Ação Católica Especializada. (DICK, 1999, p.10)

Ainda sobre a presença e comprometimento dos jovens desses movimentos

na sociedade, o referido autor ainda nos diz que,

O aprofundamento do “Ideal Histórico” e a compreensão da necessidade de intervir na sociedade levou os jovens a se comprometerem progressivamente com seu meio e, por causa disso, com a sociedade. Vemos lideranças da JUC assumindo, junto com os comunistas, a direção da União Nacional de Estudantes nos inícios de 1960. Foi a época mais pujante de sua história, em parte pela presença dos cristãos. Algo semelhante sucedia com os estudantes e os operários. O que mais marcou politicamente estes movimentos foi o surgimento, com a ajuda deles e como

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conseqüência prática dos debates teóricos que faziam, da tendência política conhecida como “Ação Popular” (AP). (DICK, 1999, p.11)

Esses movimentos também tiveram importância com sua participação e

presença na ICAR, porém alguns deles não tiveram uma longa permanência, sendo

que chegaram a se desarticularem resultando no término/ extinção de alguns deles.

Atualmente em ação e articulação no Brasil, existe apenas a JOC. Sobre a extinção

de alguns desses movimentos, Boran (1982) diz que em 1966, em virtude da

repressão política e de desentendimentos internos, começa um processo de

desarticulação da JEC e JUC, o que mais tarde levaria ao fim destes.

Sobre as influências da ACE na PJ atual, Oliveira (2002, p. 32) descreve que

posteriormente a esse momento, alguns grupos de jovens foram nascendo por meio

de ex-militantes da ACE.

Contudo, antes de se ter uma PJ de forma orgânica, surgiram outros

Movimentos de Jovens (ou Encontros de Jovens), onde esses tiveram forte destaque

e atuação dentro da própria ICAR, muito mais do que na sociedade, sendo, deste

modo, o oposto dos movimentos descritos anteriormente.

Como metodologia, estes movimentos usavam o testemunho pessoal e um forte impacto emocional. Havia pouca ou nenhuma abordagem da dimensão social do Evangelho. Os movimentos apenas procuravam resolver problemas pessoais. [...] A solução para os males da sociedade se encontrava na conversão de cada indivíduo dentro dela. Pensavam que, transformando o jovem, automaticamente a sociedade se transformaria também. (BORAN, 1982, p. 23)

Dentre esses movimentos pode-se citar como exemplo, o Treinamento de

Liderança Cristã (TLC), a Renovação Carismática Católica (RCC), os Folocalares, os

Encontros de Jovens com Cristo (EJC), movimentos de carismas Marianos,

Franciscanos, Jesuítas, Salesianos, etc. E muitos desses são de origem e

influências internacionais. Sobre esses movimentos Oliveira (2002, p. 21) nos

explica que “começaram a acontecer em toda parte encontros de jovens católicos,

comandados por forte impacto emocional”. Esses movimentos não tinham como foco

um trabalho voltado à sociedade e sim a edificação individual do ser. Muitas vezes

não realizando um trabalho efetivo, ou mesmo de continuação, ou seja, sendo algo

momentâneo.

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Esse momento que antecede uma PJ orgânica é caracterizado também

pelas expectativas resultantes dos documentos originados nas reuniões do

Conselho Episcopal Latino-Americano, (CELAM) de Medelín (1968) e Puebla (1979),

onde a ICAR assume como opções preferenciais “os pobres e os jovens” para as

ações de seus trabalhos sociais e de evangelização.

Já entre as décadas de 1970 e 1980, começam a surgir algumas iniciativas

de ações e organizações, que já podem ser consideradas como pontos importantes

dessa história, resultando enfim na PJ. Conforme Oliveira (2002) descreve,

O período de 1973 e 1978 foi marcado por algumas iniciativas da CNBB de articular experiências de uma Pastoral da Juventude. Realizaram-se nesse período dois encontros nacionais da PJ. Em 1973, no Rio de Janeiro, aconteceu o Primeiro Encontro Nacional. Em 1976, também no Rio de Janeiro, aconteceu o Segundo ENPJ. Esses dois primeiros encontros reuniram pessoas com prática de PJ, para refletir a situação e buscar caminhos de organização. (OLIVEIRA, 2002, p. 30)

Isso possibilitou que os trabalhos que já vinham sendo realizados com as

juventudes fossem ampliados, surgindo então uma proposta de trabalho mais

orgânica. Desse modo, já nos anos 70 e 80 começam os trabalhos de organização

da Pastoral da Juventude por iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB). Nesse mesmo período surge também o que é conhecido como “as

pastorais da juventude especificas”, ou seja, voltadas para meios específicos da

sociedade, além da PJ são elas:

a. Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) têm sua articulação e atuação

dentro dos espaços das escolas, com os jovens estudantes.

b. Pastoral da Juventude Rural (PJR), sendo que,

O que distingue a PJR é a separação territorial em relação aos jovens urbanos e, conseqüentemente, problemática e culturas diferentes. [...] A PJR está ligada à questão da terra, um dos temas mais importantes da atualidade, tanto do ponto de vista da reforma agrária quanto da ecologia. (BORAN, 2003, p. 162)

c. Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), “A PJMP também se

organiza a partir dos grupos de paroquiais e das comunidades de base”.

(BORAN, 2003, p. 162). Sua metodologia e atuação são muito próximas

as da PJ, em muitos casos sendo até mesmo confundidas.

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Essas organizações trabalham com o objetivo de desenvolver o

protagonismo dos jovens para as ações de transformações e mudanças das

realidades das quais estão inseridos. E são criadas, a partir destas, as comissões,

coordenações e assessorias a nível nacional, dando uma maior base e sustentação

para essa pastoral.

Outro fator muito importante desse momento é a metodologia utilizada nos

trabalhos desenvolvidos, sendo que essa realiza uma forte observação e critica da

realidade, analisando as dimensões (tanto política, social e de fé) com intuito de uma

ação transformadora.

Esse método é conhecido como “Ver-Julgar-Agir” e atualmente foi

complementado com mais duas etapas: o “Rever e Celebrar”.

O método se desenvolve em três momentos: partir da realidade, da vida dos jovens (ver), confrontar os desafios levantados pela realidade com a fé (julgar), partir para uma ação de transformação do meio (agir). [...] Essa nova metodologia fez surgir uma nova espiritualidade que unia fé e vida. (BORAN, 2003, p. 25)

Ainda sobre a metodologia utilizada na PJ, vale expor sobre a “A Formação

Integral”19, sendo que dentro de “uma pastoral organizada e que trabalha com uma

concepção que proporciona a continuidade e a conscientização da caminhada

(Oliveira, 2002, p. 106), tal método proporciona o entendimento do ser humano na

sua totalidade.

A Formação Integral abrange cinco dimensões da pessoa humana (do

jovem), passando do processo de iniciação ao processo de militância. Tais

dimensões são chamadas da seguinte forma:

a. Dimensão da Personalização; trata-se de uma dimensão que proporciona

o conhecimento pessoal.

b. Dimensão da Integração; proporciona um conhecimento com o outro,

integrando o jovem no seu grupo, na comunidade e sociedade na qual

está inserido.

19

Para mais informações sobre esse método, sugere-se o livro: “Dimensões da formação

integral na PJ – Cadernos de Estudos da Pastoral da Juventude Nacional, número 2”, PJ-Nacional, São Paulo-SP, CCJ, 1988.

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c. Dimensão da Conscientização Política; Nessa dimensão o jovem é

despertado ao senso crítico, ajudando-o a se tornar um sujeito de

transformações, trabalhando junto à sociedade.

d. Dimensão Teológica/ Teologal; ajuda o jovem a crescer na fé, recebendo

conhecimentos sobre a igreja e sua relação com o Divino.

e. Dimensão da Capacitação Técnica; trata-se da dimensão da ação, onde

capacita o jovem para a liderança e militância.

Esse método é aplicado na vida do jovem dentro de suas experiências e

ações no grupo de jovens no qual participa, sendo que o grupo passa também por

alguns períodos durante a sua existência: Convocação, Nucleação, Iniciação e

Militância.

Vale ressaltar que tal metodologia não é engessada e nem sempre acontece

de forma linear, ou seja, muitos jovens nos seus grupos acabam por experimentar

dessas dimensões, ou duas ou três juntas, ou de forma aleatória, podendo, em

algum momento, ser necessário retornar a uma etapa já passada/ vivenciada.

Sobre os grupos de jovens, Oliveira (2002) explica que os/as jovens se

reúnem, se organizam, rezam e desenvolvem ações.

A estrutura da PJ parte da articulação dos grupos de jovens (ou grupos de

bases), que são organizados por coordenações nos diversos níveis e ambientes,

chegando a uma estrutura nacional.

A Pastoral da Juventude tem os grupos de jovens como uma opção político pedagógico onde a vivencia grupal acontece para a ação evangelizadora. “Organizamo-nos a partir dos grupos de jovens, por acreditar que este é um espaço privilegiado de valorização do protagonismo juvenil, da vivencia comunitária e da evangelização. Fator importante para o processo de educação na fé. A reunião do grupo é um momento importante e fundamental na vida do grupo. É no processo de reunião que o grupo nasce, cresce e amadurece. A reunião é o “miolo” da fruta, na formação integral do grupo jovem que entra no processo” (Disponível em: http://www.pj.org.br/grupos-de-base.php)

Dessa forma, PJ é a ação das juventudes inseridas junto à ICAR de uma

forma protagonista, pois em suas diretrizes consta que é a ação do jovem para o

jovem numa busca de aprofundamentos e vivências de fé e de transformações das

realidades nas quais estão inseridos.

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2.2 Protagonismo juvenil e seu conceito.

Um importante fator a ser discutido neste trabalho diz respeito ao

protagonismo juvenil, termo este utilizado principalmente nas últimas duas décadas.

Para iniciar uma compreensão/ definição sobre o protagonismo juvenil,

primeiramente buscamos no dicionário a etimologia do termo, que diz: [...] o

protagonismo, vem de quem protagoniza e se origina do grego, Protagonistés que

significa o principal personagem de uma peça dramática ou a pessoa que, de

qualquer acontecimento ou qualquer obra literária, desempenha ou ocupa o primeiro

lugar20.

Por essa razão ao considerar o protagonista como o sujeito da atuação

principal e de participação efetiva e construtiva, o protagonismo juvenil tem os jovens

como os “atores principais” de ações relacionadas com a sua vida privada, familiar,

afetiva e com os demais fatores que influenciam em suas vidas, também os

problemas relacionados aos espaços comunitários.

Sobre o protagonismo juvenil, Souza (2006), faz uma análise do discurso

que o permeia, tendo um olhar crítico sobre a questão, dizendo que o mesmo é tido

como um discurso e que por sua vez é instituído com o objetivo de controle social,

capacitando o jovem não para uma ação efetiva, de caráter social e comunitário,

mas sim de um jovem autônomo, de ações voltadas à caridade, ao voluntariado,

sendo aqui interpretada apenas como medidas assistencialistas ou mesmo que não

o desperte para a prática de uma liderança sócio-política. Souza (2006), parte de

uma linha paralela a de Costa (2000), que contextualiza o termo Protagonismo

Juvenil como,

[...] a participação do adolescente em atividades que extrapolam o âmbito de seus interesses individuais e familiares e que podem ter como espaço a escola, a vida comunitária (igrejas, clubes, associações) e até mesmo a sociedade em sentido mais amplo, através de campanhas, movimentos e outras formas de mobilização que transcendem os limites de seu entorno sócio-comunitário. (COSTA, 2000, p. 176)

E acrescenta que é,

20

Disponível em: http://michaelis.uol.com.br. Acesso em: 20/12/2010.

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[...] uma forma de reconhecer que a participação dos adolescentes pode gerar mudanças decisivas na realidade social, ambiental, cultural e política onde estão inseridos. [...] visando, através do seu envolvimento na solução de problemas reais, desenvolverem o seu potencial criativo e a sua força transformadora. (COSTA, 2000, p. 65)

A contextualização de Costa (2000) referente ao protagonismo juvenil está

voltada principalmente há um conceito de que o jovem está tomado como um

elemento central da prática educativa, onde o mesmo deve participar de todas as

fases das ações propostas. Entende-se que no conceito de Costa (2000) a prática

do protagonismo juvenil é tida como um instrumento de trabalho onde o educador

deve estimular a participação do jovem. O mesmo explica que tal estratégia deve

contribuir não apenas com o desenvolvimento pessoal dos jovens, mas da

comunidade que esse jovem está inserido. O referido autor diz ainda que o

protagonismo juvenil contribui para a formação de pessoas mais autônomas e que

se comprometem socialmente, ou seja, com características de solidariedade. Costa

em seu discurso diz que se deve reconhecer o jovem, não apenas como um

problema, mas como parte da solução. Sobre isso fica o possível entendimento de

que a “idéia subjacente é a de evitar o descontrole social por meio da educação dos

jovens [...]”, conforme Souza (2006, p. 99). Desse modo pode-se dizer que o

conceito proposto por Costa (2000) volta-se diretamente para o voluntariado,

desenvolvendo um protagonismo com ações que satisfazem apenas o indivíduo, ou

grupo próximo que o rodeia.

Este trabalho tem como embasamento principal, o conceito de que o

protagonismo juvenil é a ação concreta do jovem com a sua participação efetiva na

sociedade, com ações coletivas, ou seja, sem se isentar de ideologias e

movimentações sociais; Em poucas palavras, suas ações não são de caráter

individualista, mas sim de um bem comum. Sobre tal proposta de protagonismo, na

qual a PJ remete, Rogério de Oliveira explica em seu blog “E por falar em Pastoral...”

que,

[...] no entender da PJ o protagonismo juvenil remete a uma ação além dos interesses particulares. Ele é o momento preciso e precioso em que os próprios jovens podem criar, interferir na essência e elaborar políticas para defesa de seus direitos. É preciso, portanto, ressignificar a expressão protagonismo juvenil para que as juventudes não sejam portadoras de um discurso que os controla e domina. (Disponível em: http://pejotando.blogspot.com/2010/09/protagonismo-juvenil.html)

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Complementando ainda, Boran (2003) diz-nos que os próprios jovens são os

verdadeiros responsáveis pela sua formação e a formação de outros militantes e

sobre o que é o protagonismo juvenil, explicando ainda que, a palavra „protagonista‟

vem do mundo do teatro, significando o „ator principal‟, enfatizando que o jovem

deve estar no palco participando e não sentado no meio da platéia, assistindo

passivamente.

Tais definições permitem-nos uma reflexão, que leva a uma interpretação

mais simples do termo protagonismo juvenil, no sentido de discernir que as ações

realizadas por parte dos jovens dentro de seu contexto social, de certo modo,

respondem a problemas reais, como forma da prática da sua cidadania, não

somente pelo discurso, mas sim pela ação. O protagonismo juvenil deve ser, não só

um meio de incentivo, mas permitir condições através da capacitação e acesso ao

conhecimento, para que os jovens possam ser sujeitos na construção de uma nova

perspectiva social, ou seja, de interesses comuns e nãos apenas individuais. De

certo modo então, os jovens tendo esse senso crítico, reconhecendo seu papel e

importância na sociedade e ocupando com qualidade os espaços podem transmutar

o protagonismo juvenil de conceito para prática.

2.3 A Pastoral da Juventude e o seu protagonismo na sociedade

contemporânea.

Ser Pastoral da Juventude é ter ousadia, utopia. Ser protagonista da vida, da luta.

Ser PJ é ter o coração verde da esperança que não morre, Vermelho dos mártires.

É ter o coração de todas as cores, do mundo, das raças, Da alegria de viver.

(Fabio Ferreira, Poeta e Pejoteiro)

A PJ é um movimento que traz significados que podem ser traduzidos "da"

Juventude e não "de" Juventude. Assim, caso fosse “de Juventude”, pode-se

verificar que seriam os outros, em especial os adultos, trabalhando para os jovens,

planejando e delegando suas ações. Desse modo, os jovens não seriam os sujeitos

e protagonistas da sua história.

Tendo sua nomenclatura como Pastoral da Juventude, significa assumir e

dizer que o compromisso de se organizar, planejar e agir parte em primeiro lugar do

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próprio jovem. Sendo assim ele é o protagonista de suas ações, e que conforme diz

Boran (2003) na PJ os jovens devem estar na linha de frente e devem ser os

protagonistas. Para complementar o referido autor, explica que,

A PJ, portanto, não está mais formando “igrejeiros”, mas líderes que chamam a atenção das organizações políticas e civis. A pastoral prepara militantes para ser fermento no meio da sociedade civil. [...] Um número significativo exerce funções de liderança nos partidos e movimentos sociais e nas administrações municipais conquistados por partidos populares (BORAN, 2003, p. 59).

Como já mencionado no primeiro capítulo, a fase da juventude é o tempo da

descoberta pessoal e social. A PJ é um espaço que colabora para essas

descobertas. Nela o jovem é despertado e motivado a ouvir, ver e sentir as

realidades nas quais estão inseridas, e com isso despertando inquietações

motivadoras das ações transformadoras da realidade, sendo assim, muitos partem

para militância, se inserem em outros espaços sócio-políticos e movimentos sociais.

“A Pastoral da Juventude exerce o papel fundamental de: fomentar nos jovens senso-crítico e capacidade de analisar a realidade cultural e social do mundo onde vivem [...] Ajudar o jovem a integrar sua dimensão de fé com o compromisso sociopolítico”. (CNBB, 1986, p. 25-26)

Pode-se afirmar que a PJ contribuí para o protagonismo juvenil, dispondo

aos jovens a oportunidade de terem uma identidade própria, ou seja, ser ele mesmo,

considerando as suas transformações sociais, biológicas, físicas e psicológicas.

Sobre isso Dick (2009) diz:

Querer, por isso, que o jovem seja protagonista de si ou de sua organização é querer que ele seja ele, ficando evidente que uma identidade nunca vai contra a identidade do outro. Para afirmar essa „identidade‟ é claro que o jovem vai negar submissões, qualquer que ela seja. (DICK, 2009, p.37)

As experiências e participação na PJ proporcionam o despertar do/a jovem

ao protagonismo juvenil. Tal prática protagonista do jovem pejoteiro21 pode ser

realizada com a sua militância dentro do próprio grupo, em outros

movimentos/pastorais da ICAR, em movimentos sociais ou outros espaços de

21

Pejoteiro/ pejoteira - adjetivo referente ao jovem que faz parte da Pastoral da Juventude.

Há quem escreva: pjoteiro/ pjoteira.

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49

participação sócio-políticos, como associações, conselhos, sindicatos, Organizações

Não Governamentais (ONGs), etc. Onde Castanheira (2008), diz que,

Estas participações ocorrem simultânea ou posteriormente ao engajamento com a Pastoral da Juventude. A importância da participação em outras organizações é enfatizada na formação política e religiosa da PJ, na qual a militância é apresentada como um “projeto de vida”, podendo ser exercido na própria pastoral, em outros ambientes da Igreja ou ainda em organizações intermediárias da sociedade. (CASTANHEIRA, 2008, p.3)

A referida autora ainda nos explica outra importante influência da PJ na vida

das juventudes, trata-se de suas escolhas pessoais e profissionais, sendo que sua

participação na PJ não se limita simplesmente a aquele momento. Onde muitos dos

jovens além de se inserirem nos espaços de participação e militantismo, conforme já

dito, acabam por escolher muitas vezes uma carreira profissional ligada às ciências

humanas e sociais, conforme explica a seguir,

Todavia, esse direcionamento do militantismo em muitos casos culmina na definição de determinados tipos de atuação profissional. Ou seja, para uma parte considerável desses militantes o engajamento e a participação na Pastoral não constituem um estágio ou uma fase “passageira”, característica de sua “juventude”. Pelo contrário, a participação anterior em tal pastoral torna-se um dos ingredientes principais de sua inserção profissional em diferentes esferas de atuação. Uma questão pertinente para dar conta disso, consiste justamente em investigar as condições e as lógicas sociais que possibilitam a reconversão da militância anterior na pastoral em recursos que conduzem a postos e cargos profissionais. (CASTANHEIRA, 2008, p.3)

Na PJ, vivenciando as etapas dentro do grupo de jovens, ocorre um

amadurecimento pessoal; proporcionando o despertar e interesse pela participação

resultando em transformações e ações concretas. Desse modo, a militância passa a

ser uma necessidade para o jovem inserido nesse processo, onde seu senso-crítico

está aguçado, onde a sua visão política lhe proporciona enxergar as reais

necessidades da sociedade da qual está inserido. Sendo assim, eles não mais

conseguem ficar apenas participando das reuniões de grupo de jovens, entre quatro

paredes, ele precisa de mais, precisa praticar o que a muito vem discutindo,

estudando e conhecendo. Sobre esse momento e metodologia da PJ, Boran (1994)

explica que,

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50

Uma metodologia que propõe como ponto de partida a vida do jovem, que exige que o jovem tenha uma atuação concreta no seu meio, pressupõe que ele não seja mais tratado de modo paternalista ou autoritário. É imprescindível que o jovem seja protagonista do seu processo de formação dentro do movimento. Um movimento onde os adultos mandam e os jovens executam não iria mais funcionar dentro desta nova visão. É necessário um novo tipo de assessoria de adultos que não abafasse o protagonismo dos jovens. (BORAN, 1994, p. 25)

Sobre a militância e suas contribuições, Sousa (1999) diz que,

Na militância, o jovem pode expressar seus conflitos, exercitar suas certezas e indecisões e dirigir sua ação marcada pelas exigências concretas da proposta coletiva. A militância transforma a vida do jovem, educa-o e lhe dá um suporte para criar estratégias que fortalecem sua subjetividade em conflito. A militância contribui para o fortalecimento do ego quando se torna a expressão da busca de uma solidariedade autêntica, um equilíbrio na relação eu-mundo-projeto, deslocando o jovem da preocupação consigo mesmo e propondo-lhe a preocupação em relação aos outros indivíduos. (SOUSA, 1999, p. 28)

Diante de tais informações, ou seja, a PJ, colabora, influencia e capacita o

jovem para militância e participação sócio-política, inferem-se aqui neste estudo

algumas atividades, ações e campanhas internas da PJ que proporcionam um

espaço para essa prática protagonista, pois desde a idealização/ organização até a

prática são esses jovens pejoteiros que executam.

Dentre os vários projetos e atividades podemos citar: Dia Nacional da

Juventude22 (DNJ), a Semana da Cidadania23 (SdC), a Semana do Estudante24

(SdE), sendo essas atividades fixas do calendário anual da PJ Nacional. Podem ser

citadas ainda as Romarias da Juventude, que acontecem praticamente em todos os

Estados do país, na maioria caracterizadas pela mística, espiritualidade e

reivindicações, sempre abordando temas sociais.

Em estância nacional também se pode citar a forte participação que a PJ

têm nos “Gritos dos Excluídos” que acontecem todos os anos no dia 07 de setembro,

sendo esse um ato de caráter reivindicatório.

22

Teve inicio no ano de 1985 (por ocasião do Ano Internacional da Juventude, promovido

pela ONU), é realizado oficialmente no último domingo do mês de outubro. 23

Teve início no ano de 1996, é realizada anualmente entre os dias 14 a 21 de abril. 24

Teve início no ano de 2003, e que acontece no mês de agosto, geralmente na semana do

dia 11, quando é comemorado o dia do estudante.

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51

Sobre as atividades, projetos e ações organizadas e executadas pela PJ (e

demais PJ‟s), percebe-se a enorme relação com alguns fatores da sociedade que

estão diretamente (ou indiretamente) ligados com a juventude, como por exemplo,

os mencionados no Primeiro Capítulo deste estudo (educação, trabalho, família e

violências). Tais atividades são elaboradas dentro dessas temáticas especificas,

sempre com bases teóricas, oferecendo materiais e subsídios25 de apoio e estudo

dentro dos temas propostos, para assim poderem desenvolver reuniões, encontros,

celebrações e atividades em comum.

Para demonstrar a indagação de que esses fatores geralmente são

abordados pela PJ (e demais PJ‟s) citamos aqui apenas alguns temas e lemas das

atividades permanentes da PJ Nacional, que abordaram temáticas relacionadas a

esses fatores da vida das juventudes.

Desde o ano de 1985, com o tema “Ano Internacional da Juventude” e o

lema “Construindo uma Nova Sociedade”, o DNJ praticamente abordou em todos os

anos seguintes em seus temas e lemas fatores que são relacionados com a vida das

juventudes, como educação, trabalho, família, violências, preconceitos, saúde,

sexualidade, cultura, espiritualidade, políticas públicas, política, dentre outros. Outro

exemplo a ser incluído é de que no ano de 1987 onde seu tema foi “Juventude e

Participação” e lema “Juventude, Presença e Participação”, citando ainda outros

anos, como exemplo, destacamos os temas e lemas dos anos de 1989 com o tema

“Juventude e Educação” e o lema “Juventude, Cadê a Educação?”, já em 1990 o

seu tema foi “Juventude e Trabalho” e lema “Juventude: Do nosso suor, a riqueza de

quem?”, em 1994 discutiu o tema “Juventude e Cultura” e lema “Nossa Cara, Nossa

Cultura”, em 1999 e 2000 o eixo principal foi “Juventude e Dívidas Sociais”, já de

2001 a 2005 os temas e lemas tinham relação com “Políticas Públicas para a

Juventude”. Em 2009, contra violência abordou como tema “Contra o extermínio da

juventude, na luta pela vida” e lema “Juventude em marcha contra a violência”.

Agora em 2011 a temática se dará em “Juventude e protagonismo feminino”, com o

lema “Jovens mulheres tecendo relações de vida”.

25

Muitos materiais e subsídios dessas Atividades Permanentes (DNJ, SdC e SdE), podem

ser encontrados para downloads na internet. Sugere-se visitar os sites e blogs: www.pj.org.br / www.pjsul1.org / www.pjmaringa.com / www.pejotando.blogspot.com / www.henriquepejoteiro.blogspot.com / Dentre outros, onde se encontram diversos textos e materiais.

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52

O mesmo pode ser considerado com os temas da SdC, geralmente

relacionados com questões políticas, de desemprego e de direitos, como por

exemplo, em 1996 com o tema “Você não vai ficar de fora! Faça seu título e vote

consciente”. Em 1999, “Desemprego: Juventude sem sonho, país sem futuro!”, já em

2007, relacionado com Direitos humanos, teve como tema “Espaço de Vida. Tempo

de Direitos!”; em 2008 sobre o “Empobrecimento Social da Juventude”. Em 2009 seu

tema foi “Juventude e Criminalização” e o lema: “Juventude em Marcha contra a

Violência”.

Nas SdE‟s, os seus temas são relacionados com o fator educação somando

com outras questões da sociedade. Citamos o ano de 2003, abordando o tema e

lema “A beleza de ser um eterno aprendiz" / “Participação estudantil, Cultura e

Lazer”. De 2004 a 2006 as temáticas foram relacionadas com o “Protagonismo

Estudantil”. E agora no ano de 2011 o tema é “Juventude negra e indígena:

comunidades de resistência” e o lema: “Dos tambores e cirandas, à luta pela vida”.

Esses temas são relacionados com a vida das juventudes com o intuito de

se discutir, debater, executar atividades, manifestos e encontros, tornando-se um

fator facilitador e de motivação para que o jovem exerça o seu papel na sociedade,

como protagonista, participando e exigindo seus direitos de forma atuante.

A PJ (junto com as demais PJ‟s) atualmente está promovendo em todo

Brasil a Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens. Essa

campanha vem contando com a participação de muitos jovens e também com

parcerias de outros movimentos e espaços de juventude (dentro e fora da ICAR).

Figura 4 - Símbolo da Campanha. Fonte: www.juventudeemmarcha.org.

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Dentro da temática da Campanha, estão sendo organizadas muitas

atividades, como debates, caminhadas, marchas, atos de protesto nas ruas,

campanhas midiáticas, valendo ressaltar que todas essas atividades, sendo

organizadas pelas juventudes em prática do protagonismo juvenil.

Além dessas atividades desenvolvidas já citadas, ainda existem as que são

planejadas e executadas em menor estância, ou seja, dentro dos arredores dos

grupos de jovens, relacionadas com a realidade e necessidade local, ocorre ainda a

participação desses jovens pejoteiros em outros espaços sócio-políticos, onde

também são lideranças e militantes, como conselhos, movimentos sociais e

estudantis, grêmios, sindicatos, partidos políticos, associações, grupos de estudos e

debates, ONGs, entre outros.

Para retratar melhor a atuação da juventude inserida na PJ, seguem

algumas imagens/ figuras, de alguns dos eventos descritos acima.

Figura 5 - Bandeira da PJ, Grito dos Excluídos, 2009, Praça da Sé - São Paulo/SP.

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54

Figura 6 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 200826.

Figura 7 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 200927.

26 Foto de Thais Desidério, pejoteira na Diocese de Osasco/ SP. 27 Foto de Rogério Alves, pejoteiro na Diocese de Osasco/ SP.

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3 O CAMINHO PERCORRIDO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 O Serviço Social: dialogando com as juventudes.

Na sua origem operacional, o Serviço Social foi implantado no Brasil na

década de 30, dentro de uma conjuntura específica em que instituições ligadas a

ICAR encampam um movimento chamado de reação católica. Pereira (2003) explica

que esse surgimento, no Brasil, está relacionado com as transformações políticas,

sociais, econômicas e culturais, num momento de tensões entre as classes sociais,

decorrentes da exploração capitalista, das precárias condições de trabalho e das

reivindicações de medidas sociais ao Estado. Nesse contexto Iamamoto e Carvalho

(2007) apontam para a mobilização da ICAR no desenvolvimento do Serviço Social,

Após os grandes movimentos sociais do primeiro pós-guerra, tendo por protagonista o proletariado, a “questão social” fica definitivamente colocada para a sociedade. Datam dessa época o que se poderia considerar como sendo as protoformas do Serviço Social no Brasil. No entanto, para o aparecimento do Serviço Social, enquanto conjunto de atividades legitimamente reconhecidas dentro da divisão social do trabalho, se deverá percorrer um itinerário de mais de duas décadas. Esse processo, que durante a década de 1920 se desenvolve apenas moderadamente, se acelerará no inicio da década seguinte, com a mobilização, pela Igreja, do movimento católico leigo. Surgirá o Serviço Social como um departamento especializado da Ação Social, embasado em sua doutrina social. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 140)

Ainda sobre a influência da ICAR no surgimento do Serviço Social no Brasil,

Castro (2007) retrata a inspiração ideológica recebida nos meios acadêmicos e cita

duas Encíclicas Papais, que praticamente tornam-se marcos dessa nova profissão,

No período em que o Serviço Social transita para a sua profissionalização, quando penetra nos centros de ensino superior e se vincula a certas instâncias do Estado – ou ingressa diretamente na Universidade –, duas encíclicas papais tiveram um papel sumamente importante para enformar o seu desenvolvimento (mesmo que se leve em conta que, junto delas, a ação da Igreja e a sua permanente inspiração ideológica responderam pelo perfil e pelo substrato doutrinário da formação dos primeiros centros de formação superior). Referimo-nos às encíclicas Rerum Novarum, divulgada por Leão XIII a 15 de maio de 1891, e Quadragesimo Anno, divulgada por Pio XI a 15 de maio de 1931 [...] (CASTRO, 2007, p. 51)

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56

Todavia, esse contexto da sociedade brasileira vai se modificando, sendo

que, o Serviço Social acompanha tal processo e as necessidades das demandas. As

próximas décadas são marcadas por profundas transformações, onde o profissional

do Serviço Social vai se modernizando na parte teórica e nos métodos e técnicas

utilizadas.

Nesse momento, a sociedade passa também por uma Ditadura Militar. Sob

influências dessas transformações teóricas e técnicas, surge a necessidade de uma

reconceituação do Serviço Social, principalmente no que se refere a teorização, tida

até então como tradicional, de caráter paternalista, positivista. Sobre esse momento,

Netto (2005) considera o Movimento de Reconceituação, na década de 60, como um

momento rico da história do Serviço Social no Brasil e na América Latina. O referido

autor explica que o Movimento de Reconceituação se dá em critica ao modelo

tradicional, onde os Assistentes Sociais da época analisando as realidades do

momento perceberam que os métodos até então utilizados não estavam atingindo

resultados e que as classes mais baixas eram apenas “apaziguadas”. O Serviço

Social, dentro do modelo capitalista, estava sendo apenas mais uma peça, ou seja,

era utilizado para controlar a população.

Os assistentes sociais desta época, perante tais indignações, começam a

buscar nas pesquisas, métodos para reverter este quadro. Trabalhos, encontros,

seminários e congressos foram organizados, resultando em uma ruptura com os

pensamentos tidos como conservadores, passando a possuir embasamentos

teóricos fundamentados nas teorias marxistas.

[...] a descoberta do marxismo pelo Serviço Social latino-americano contribuiu decisivamente para um processo de ruptura teórica e prática com a tradição profissional [...] Outra característica desse encontro do Serviço Social com a tradição marxista decorre dos condutos teóricos pelos quais se processou tal aproximação. Ela não foi orientada para as fontes clássicas e contemporâneas, abordadas com uma explícita preocupação teórico-crítica. Deu-se predominantemente por manuais de divulgação do “marxismo oficial”. Aliou-se a isso a contribuição de autores “descobertos” pela militância política, como Lênin, Trotsky, Mao, Guevara [...] (IAMAMOTO, 2009, p. 210-211)

Analisando esse breve resgate histórico do Serviço Social, pode-se afirmar

que desde o seu inicio a profissão é definida e comprometida com a garantia dos

direitos sociais, voltando-se para o atendimento da população em maior nível de

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vulnerabilidade social, nesse contexto insere-se também a categoria juventudes,

principal alvo deste trabalho.

Tendo suas vidas afetadas diretamente (ou indiretamente) por diversos

fatores da sociedade, conforme apontados nos itens do primeiro capítulo,

“Juventude e Contemporaneidade: fatores que afetam a vida dos jovens” (p.21),

reiteramos que tal categoria deve ser considerada como uma das principais

expressões da questão social.

Desse modo, sendo o assistente social o profissional capacitado para a

atuação na garantia de direitos, principalmente das pessoas em situação de

exclusão social, afirma-se que a atuação desse profissional requer ações que

possibilitem a criação e desenvolvimento de políticas públicas, buscando então

superar suas condições de vulnerabilidade, no caso então, com Políticas Públicas

para as Juventudes (PPJ). Conforme Pereira (2003), o desenvolvimento da prática

profissional do assistente social deve assumir um posicionamento ético e político

frente à realidade, em todas as suas dimensões, na tentativa de buscar

transformações.

O mesmo autor aborda sobre o entendimento de juventude sendo

relacionado à classe social pertencente,

A idéia de ser jovem tradicionalmente esteve vinculada a classe alta, visto que a perspectiva hegemônica disseminada pela classe dominante era a de que nos bairros populares não existiam movimentos juvenis, e sim a delinqüência. [...] Somente nos anos 70 e 80 que o jovem morador da periferia emerge como novo ator social. Não que se encontrassem dissociado da vida social, mas só então que passaram a obter maior expressão e consolidar a sua identidade. (PEREIRA, 2003)

Nessa mesma linha, Possato Jr. e Lucas (2009) apontam sobre esse mesmo

estereótipo, deixando um questionamento para reflexão,

[...] os jovens, em especial os mais pobres, estão associados à violência, segundo o veredito popular. Hollywood mostra isso muito bem, em seus filmes de gangues. O congresso brasileiro também, na medida em que está prestes a reduzir a maioridade penal, de 18 para 16 anos, no intuito de diminuir a criminalidade no país. Não é isso o mesmo que dizer que a culpa da violência é dos jovens?

(POSSATO JR. e LUCAS, 2009, p. 107)

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Conforme já discutido, é certo que os jovens são os mais afetados

diretamente por diversos fatores resultantes da sociedade contemporânea pautada

por um sistema desigual. Portanto, o assistente social deve desenvolver um papel

importantíssimo no processo de emancipação dos jovens, sendo que sua atuação se

dá na implantação de Políticas Sociais, buscando garantir os direitos dessa

categoria. Tem papel educador, ou mesmo sócio-educativo, visando à inserção

social dos jovens.

A atuação do profissional assistente social voltada para as juventudes,

comprometido com o Projeto Ético Político da Profissão, pode ser desenvolvida em

áreas e setores diferentes, sendo público, privado ou do terceiro setor, abordando

diversas temáticas: educação, violência sexual, prevenção, saúde, esportes,

profissionalização, formação política, etc. Essa prática profissional não deve ser

realizada de forma isolada e tão pouco sem estabelecer redes de contatos.

Ao se falar em “prática profissional” usualmente tem-se em mente “o que o assistente social faz”, ou seja, o conjunto de atividades que são desempenhadas pelo profissional. A leitura hoje predominante da “prática profissional” é de que ela não deve ser considerada “isoladamente”, “em si mesma”, mas em seus “condicionantes” sejam eles “internos” – os que dependem do desempenho do profissional – ou “externos” – determinados pelas circunstâncias sociais nas quais se realiza a prática do assistente social. (IAMAMOTO, 2009, p. 94)

Pereira (2003) diz que este fazer profissional do assistente social junto às

juventudes, abre outro campo no mercado profissional, sendo que requer novas

habilidades e competências, tendo que se apropriar de referenciais teórico-

metodológicos. Sua atuação profissional deve ser baseada na garantia de direitos,

vendo o jovem como sujeito de direitos.

Na atuação com os jovens, outro fator importante a ser considerado é de ter

o jovem como protagonista, ou seja, o assistente social é apenas um assessor,

fazendo com que o jovem desempenhe o seu papel, não apenas como tarefeiro,

mas que eles participem e tenham ações de implementação em PPJ‟s. O

Protagonismo Juvenil deve ser priorizado, focando a fomentação e formação de

lideranças sócio-políticas e militâncias em movimentos sociais.

O Serviço Social é uma profissão cujos seus representantes estão aptos a

trabalharem em diversas áreas. Mesmo havendo assistentes sociais envolvidos em

diversos espaços, trabalhando com jovens, ainda assim ressaltamos a necessidade

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do Serviço Social desenvolver trabalhos diversificados com as juventudes, levando-

os ao envolvimento de discussões que remetam aos direitos dos jovens, as

definições do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Estatuto da Juventude, do

CONJUVE (Conselho Nacional de Juventude), dos Conselhos e Secretarias

Estaduais e Municipais, nos Conselhos Tutelares, etc. Desse modo, lutar e garantir

direitos a esta parcela da sociedade.

3.2 A pesquisa: tipo, instrumentos e métodos para a coleta de dados.

Este estudo foi realizado por meio de estudos e pesquisas bibliográficas

(livros, artigos, textos, revistas, sites e documentários). Como pesquisa de campo,

num primeiro momento visando analisar o despertar do jovem para o Protagonismo,

e de acordo com o pré-projeto que foi construído, tinha-se a pretensão de agendar

visitas às reuniões e atividades de alguns grupos de jovens (grupos de base) ligados

à Pastoral da Juventude, onde seria executado um questionário em formato de

entrevista, sendo quantitativo e qualitativo. Assim, iriam participar da pesquisa:

jovens com idade entre 15 e 29 anos. Todos os grupos seriam da Capital de São

Paulo.

Em um segundo momento seriam agendadas entrevistas com cinco jovens

da Capital de São Paulo, que atualmente participam/ militam em espaços de

atuação, e seriam somadas as observações do pesquisador.

Durante a construção deste trabalho, por meio de pesquisas e vivências, foi

concluído que tal metodologia e instrumentação não seriam as mais adequadas e

nem suficientes para a temática abordada, sendo que outro método poderia

possibilitar melhores resultados, partindo da certeza que os sujeitos que

participariam da pesquisa poderiam se interagir de forma mais dinâmica e direta.

Tendo em vista que a elaboração deste estudo se trata de um processo em

construção e passível de mudanças, foi decidido que a metodologia para a pesquisa

de campo seria alterada.

Desse modo, o método escolhido, por proporcionar melhores resultados

dentro da temática, foi o Grupo Focal, já que todos os sujeitos possuem uma

vivência comum com o tema deste estudo e também por tal método proporcionar a

captação,

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[...] a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças, experiências e reações, de um modo de não seria possível com outros métodos, como, por exemplo, a observação, a entrevista ou questionários. O grupo focal permite fazer emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto da interação criado, permitindo a captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de manifestar. (GATTI, 2005, p. 9)

Para maiores esclarecimentos, tendo em vista que se trata de um método

pouco utilizado por pesquisadores, especialmente do Serviço Social, faz-se

necessário uma contextualização de Grupo Focal, o que será feito no decorrer deste

item, juntamente com a descrição do caminho percorrido da pesquisa de campo.

Por ser tratar de uma pesquisa onde os sujeitos são jovens que

desenvolvem uma participação sócio-política, o método do Grupo Focal foi escolhido

por proporcionar um estreitamento na relação dos sujeitos, um ambiente favorável

para a partilha de idéias, ou seja, uma interação maior, sendo assim,

Essa técnica distingue-se por suas características próprias, principalmente pelo processo de interação grupal, que é uma resultante da procura de dados. Em uma vivência de aproximação, permite que o processo de interação grupal se desenvolva, favorecendo trocas, descobertas e participações comprometidas. Também proporciona descontração para os participantes responderem as questões em grupo, em vez de individualmente. Essa técnica facilita a formação de idéias novas e originais. (RESSEL et al, 2008, p. 780)

Segundo Powel e Single apud Gatti (2005 p. 7), um grupo focal “é um

conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e

comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal”.

Pode-se afirmar que o método do Grupo Focal, trata-se de uma estratégia

para uma pesquisa qualitativa, onde é realizado um grupo de discussão, com

poucas pessoas, de acordo com as literaturas, recomenda-se de seis a 12 pessoas.

O Grupo Focal possibilita obter informações mais detalhadas na temática proposta.

Ao realizar a técnica do Grupo Focal, pode-se destacar como vantagens, a

rapidez na execução da pesquisa, a grande interação entre os integrantes do grupo,

a possibilidade de interagir no campo das idéias, a profundidade de informações

colhidas, proporciona uma ágil transcrição das falas e registros.

Resumindo, dentro de uma discussão dinâmica é possível que os

integrantes do grupo desenvolvam melhor a temática proposta, sendo esses com

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vivências muito próximas, proporcionando então um estreitamento das relações

resultando em uma participação mais efetiva, menos informal, com depoimentos de

sua trajetória histórica, indo de encontro com a História Oral.

Com tal método de pesquisa pode-se ainda usufruir de outros recursos,

instrumentos e métodos para um melhor resultado, sendo assim no decorrer do

Grupo Focal, a metodologia da História Oral faz-se de grande importância ser

composta à reunião, onde cada um expõe sua trajetória de vida (dentro do tema

proposto), realizando então um regaste de sua história. Por meio desta é possível

expressar “a consciência da historicidade da experiência pessoal e do papel do

individuo na história da sociedade em eventos públicos” (PORTELLI, 2001, p. 14);

neste caso especificamente na PJ.

O método da História Oral neste estudo se fez num olhar sociológico, dando

destaque ao relato da vida e experiências na busca e apreensão do objeto de

estudo, conforme explica Ataíde (2008, p. 36), para assim poder conhecer melhor

seus significados então atribuídos com relação à sua participação na PJ, em outros

espaços sócio-políticos e de sua formação como liderança.

Após decidir pelo método, optou-se pelo Grupo Focal, enquanto suporte

qualitativo da pesquisa e se deu no momento da escolha dos sujeitos participantes

mediante um convite aos mesmos.

Num primeiro momento para escolher os sujeitos para a pesquisa foi

utilizado como primeiro recurso a rede social do Orkut28, realizando uma pré-

seleção, um pré-convite.

Foi decidido que o número de jovens para participarem da pesquisa, seria de

seis jovens, com idade entre 15 e 29 anos, de ambos os gêneros, inseridos na PJ e

em espaços sócio-políticos (movimentos sociais e estudantis, associações, partidos,

sindicatos, ONGs, etc.), localizados na Capital do Estado de São Paulo.

Nesse pré-convite, onde o número de pessoas era superior ao número

pretendido de participantes no grupo, foi perguntado sobre a sua participação nos

espaços sócio-políticos (movimentos sociais e estudantis, associações, partidos,

sindicatos, ONGs, etc.), na PJ e disponibilidades de tempo para participação;

mediante os retornos e respostas foram selecionadas algumas pessoas para

28

O Orkut é uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de Janeiro de 2004 com o

objetivo de ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orkut, acessado em 15/03/2011.

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comporem o Grupo Focal, dentro das características do objeto de estudo deste

trabalho.

Realizado este primeiro contato e pré-seleção, foi elaborado um convite

oficial para a participação do Grupo Focal (APÊNDICE D) e enviado para o e-mail

particular destes sujeitos. No corpo deste e-mail foram solicitados dados, tais como,

nome completo, documentação e contatos (número do telefone fixo e celular).

No intuito de enriquecer a pesquisa e melhor executar a reunião, foi

elaborado um planejamento, ou seja, um roteiro/ cronograma para a execução do

Grupo Focal (APÊNDICE A), pois desse modo facilitaria a organização e o

desenvolvimento do mesmo, antes e durante a reunião. Tal concepção de planejar

pode-se afirmar que se dá, não só por compor a metodologia, mas também pelos

conhecimentos adquiridos durante a formação acadêmica, em especial nas aulas de

“Planejamento Social” e “Avaliação de Projetos”.

Em formato de organização, seguindo o roteiro/ cronograma elaborado, foi

realizado um roteiro de questões semi-estruturado (APÊNDICE B), visando conhecer

a participação e experiências dos sujeitos e seu protagonismo na PJ, ou seja, dentro

dos objetivos da temática deste estudo. Gatti (2005), sobre a construção do roteiro,

explica que o mesmo deve ser,

[...] elaborado como forma de orientar e estimular a discussão deve ser utilizado como flexibilidade, de modo que ajustes durante o decorrer do trabalho podem ser feitos, com abordagem de tópicos não previstos, ou deixando-se de lado esta ou aquela questão do roteiro, em função do processo interativo concretizado. (GATTI, 2005, p. 17)

Ainda sobre a elaboração de um roteiro para o Grupo Focal, a referida

autora diz que,

Cabe considerar que a elaboração do roteiro para o trabalho com o grupo focal tem que ser muito cuidadosa, dentro dos propósitos da pesquisa. No entanto, pode ocorrer que, durante o processo de discussão, um ou outro tópico previsto para um momento posterior venha a ser tratado de modo suficiente antecipadamente (GATTI, 2005, p. 17)

Desse modo a utilização desse instrumental se fez de suma importância

para o desenvolvimento da pesquisa. Sendo que, conforme explicado acima, o

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mesmo não foi executado de forma engessada, onde muitas falas dos sujeitos já

supriam um ponto ou outro contido no roteiro semi-estruturado.

Como já mencionado, sendo o Grupo Focal cabível de utilizar outros

instrumentos e no sentido de obter informações mais detalhadas, como contatos

pessoais (telefones, endereço, e-mails, etc.), detalhes sobre a participação dos

sujeitos na PJ e em outros espaços sócio-políticos e complementando as

informações colhidas durante o debate na reunião, foi elaborado e aplicado um

questionário complementar para a pesquisa (APÊNDICE C), o que também facilitaria

na descrição dos sujeitos.

O emprego deste questionário se deu no momento inicial, junto com o

preenchimento dos termos de consentimento livre e esclarecido e de concessão de

uso de imagem (ANEXOS A1 e A2), antecedidos de explicações sobre o

desenvolver do grupo, ou seja, que iríamos realizar uma reunião, onde o

pesquisador teria como papel ser um moderador e que apenas direcionaria alguns

pontos para discussão (conforme roteiro de questões semi-estruturado), sendo eles

livres para discutirem.

Foram expostos os objetivos da pesquisa e as cláusulas contidas nos termos

de consentimento, juntamente com uma auto-apresentação e também dos

assistentes.

Foi explicado também sobre os recursos ali dispostos e que, com o único

objetivo de transcrição da pesquisa, toda a reunião seria filmada.

Para a realização do Grupo Focal há a necessidade de se proporcionar um

espaço para que possa ocorrer o encontro.

Após levantar alguns possíveis lugares, foi decidido que a Universidade de

Santo Amaro (UNISA) seria a ambiência, por já dispor de infra-estrutura (sala com

mesas e cadeiras, tomadas elétricas, banheiros, etc.) e recursos básicos (lousa, giz,

etc.).

Sendo assim seria disposto um maior conforto aos integrantes do grupo.

Sobre isso Gatti (2005) descreve,

O local dos encontros deve favorecer a interação entre os participantes. Pode-se trabalhar em cadeiras avulsas, em circulo, ou em volta de uma mesa. Os participantes devem se encontrar face a face para que sua interlocução seja direta. Como os participantes permanecerão um tempo razoável em reunião, certo conforto é necessário. (GATTI, 2005, p. 24)

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A solicitação do espaço na UNISA foi realizada junto a Coordenação do

curso de Serviço Social, obtendo então a devida autorização para que fosse utilizada

uma sala durante o sábado no período da manhã.

Pensando na disposição do ambiente e no conforto dos integrantes, a sala

foi arrumada com as cadeiras formando circulo, pois desse modo os integrantes do

grupo poderiam conversar face a face, conforme pode ser visto na imagem a seguir.

Figura 8 - Organização da sala em círculo e café da manhã (ao fundo) - Grupo Focal.

Levando em consideração que para uma pesquisa efetiva, com registros de

todas as falas, gestos, emoções e observações há a necessidade de se ter pelo

menos um relator/a, conforme explica Gatti (2005),

Há várias maneiras de se registrar as interações. Uma delas é o

emprego de um ou dois relatores, que não interferem no grupo e fazem anotação cursiva do que se passa e do que se fala. Uma checagem depois da sessão deve ser feita de imediato entre relator (es) e moderador. [...] recomenda-se que se façam anotações escritas, que se mostram essenciais para auxiliar as análises. Essas anotações podem ser feitas pelo moderador, mas é preferível que seja realizada por um assistente, ou por ambos. Elas serão úteis para sinalizar aspectos ou momentos importantes, falas significativas detectadas no instante mesmo, na vivência do momento [...] (GATTI, 2005, p. 24-27)

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E tendo em vista que o pesquisador está construindo este estudo em caráter

individual; para um melhor rendimento e aproveitamento do método do Grupo Focal,

foi necessário fazer um convite para outro acadêmico/a e pesquisador/a para

colaborar como relator/a no desenvolver da pesquisa. Para tal foi realizado um

convite oficial (APÊNDICE D) para Valéria C. Landi29, que logo se dispôs, aceitando

o convite.

Gatti (2005, p.24-25) explica que o “meio mais usado para se registrar o

trabalho com um grupo focal é a gravação em áudio” e outro possível seria o

videoteipe. Para a realização desta pesquisa foi escolhido como meio para registro o

videoteipe, ou seja, registrar por meio de gravação Áudio/Visual, filmando a reunião;

o que possibilitou registrar todos os momentos, falas e expressões, e que facilitou no

momento da transcrição da mesma, pois no grupo estariam no mínimo seis pessoas

conversando/ debatendo num mesmo momento. Foi constatado que apenas a

gravação em áudio poderia resultar numa possível confusão das vozes na hora de

transcrever os registros.

Desse modo foram solicitados alguns materiais de Áudio e Vídeo que a

UNISA dispõem junto ao laboratório de Rádio e TV, sendo que foi necessário para a

realização da gravação da pesquisa: uma filmadora com microfone, tripé, cabos de

eletricidade e bateria e duas fitas VHS. Para oficializar o empréstimo desses

materiais foi necessário assinar um Termo de Responsabilidade (ANEXO B).

Cuidados para que uma boa gravação seja garantida são essenciais. Por isso, a forma de gravação deve ser cuidadosamente testada, e todos os aspectos técnicos devem ser previstos e assegurados para obter-se um bom registro. Deve-se cuidar da qualidade dos microfones e dos aparelhos de gravação [...] (GATTI, 2005, p. 25)

Nesse sentido, visando uma melhor qualidade da gravação do videoteipe e

manuseio correto dos recursos, foi realizado convite (do mesmo modo que feito para

a relatora) ao Rafael O. Pereira30, pois o mesmo possui conhecimentos específicos

na área.

29 Discente no curso de Serviço Social pela Universidade de Santo Amaro – UNISA,

atualmente no 8º semestre. Pertencente à mesma turma do pesquisador deste estudo. Participante também da PJ. 30

Discente no curso de Serviço Social pela Universidade de Santo Amaro – UNISA,

atualmente no 5º semestre. Participa junto ao pesquisador deste estudo, no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Juventudes na UNISA.

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Vale expor ainda, que ao final da reunião do Grupo Focal, que teve uma

duração média de 2 horas, foram realizados os devidos agradecimentos,

oficializando o comprometimento em divulgar os resultados da pesquisa e também

foram entregues alguns souvenires31 aos jovens participantes e aos assistentes

convidados, como forma de reconhecimento e agradecimento pela participação.

O tipo de pesquisa, os instrumentos e métodos para a coleta de dados,

foram todos escolhidos visando um melhor aproveitamento e conceitualização deste

estudo, indo de encontro com toda a parte teórica descrita nos capítulos 1 e 2, com

a temática, os problemas e hipótese levantados. Para a realização de uma análise

efetiva e que proporcione um melhor rendimento ao trabalho.

3.3 Os jovens/ sujeitos participantes do Grupo Focal.

A pesquisa foi realizada junto a cinco jovens inseridos na PJ e em espaços

sócio-políticos (movimentos sociais e estudantis, associações, partidos, sindicatos,

ONGs, etc.), localizados na Capital do Estado de São Paulo.

Os sujeitos entrevistados são jovens de ambos os sexos, na faixa etária de

21 a 28 anos, dentro da faixa proposta de 15 a 29 anos.

Em concordância ao Pré-Projeto, foram realizados convites a jovens

residentes na Capital de São Paulo, sendo que foram convidados, dois jovens da

Zona Leste, um da Zona Oeste e três da Zona Sul; porém, num ultimo instante um

dos convidados residente na Zona Leste informou que não poderia ir, sendo assim

foi estendido um convite para outra pessoa, que demonstrou interesse em participar,

porém reside na Zona Sul.

No dia do Grupo Focal estiveram presentes: quatro jovens da Zona Sul e um

da Zona Oeste, sendo que o outro jovem da Zona Leste não pode comparecer

devido problemas de saúde, que segundo Gatti (2005, acaba por ser um risco a ser

considerado quando se escolhe o Grupo Focal como metodologia.

Os cinco jovens presentes possuem as seguintes idades: 21, 22, 24 e dois

com 28 anos.

31

No embrulho continha: uma caneca, um chaveiro e um cordão de pescoço, todos com o

símbolo e dizeres da Pastoral da Juventude. Os mesmos foram adquiridos na “Cooperativa A Cor da Juventude” (www.cooperativapj.hdfree.com.br), onde os membros dessa cooperativa são integrantes e militantes da PJ, nela são comercializados souvenires e camisetas relacionados à PJ.

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Todos estão cursando ou já cursaram nível superior. Os cursos estão

relacionados com as áreas das ciências humanas e biológicas, sendo que um cursa

faculdade em Geografia na Universidade de São Paulo (USP), outro Turismo e

Lazer, também na USP, outro Educação Física na UNISA, já concluído; e os demais,

Serviço Social, sendo que um já concluiu o curso, ambos também na UNISA. Todos

trabalham ou estagiam, com exceção de um jovem que apenas estuda.

Todos participam e exercem funções na PJ, sendo que um tem como função

a coordenação diocesana, três exercem o papel de assessores do grupo de base,

um é coordenador de grupo de base e outro no momento apenas participa do grupo

de base, porém saiu recentemente da coordenação paroquial da PJ.

Todos os jovens possuem participação e militância em outros espaços, fora

a PJ; sendo que em alguns dos casos possuindo certa ligação também com a ICAR,

ou de origem da PJ. Os espaços são caracterizados como movimentos de cultura,

arte e educação; também de manifesto e organização juvenil.

Todos possuem participação na PJ superior a dois anos; Mesmo

participando de outros espaços os mesmos continuam exercendo militância na PJ,

conforme já dito, em formato de lideranças e coordenações.

Vale ressaltar que praticamente todos já tiveram algum tipo de contato, ou

mesmo já se conheciam, não só pelo fato de estarem na mesma região, mas pela

oportunidade de participarem de encontros e formações dentro da PJ.

3.4 Objeto e objetivos da pesquisa: geral e específicos.

Este trabalho tem como objeto a participação/ militância de jovens nas

idades entre 15 e 29 anos, de ambos os gêneros, nos espaços sócio-políticos e em

movimentos sociais, localizados na Capital do Estado de São Paulo que estão

inseridos (ou já estiveram) na Pastoral da Juventude. Enquanto objetivo geral desta

pesquisa teve como premissa entrevistar jovens nas idades entre 15 e 29 anos, de

ambos os gêneros, que participam (ou já participaram) da Pastoral da Juventude,

para compreender como o Protagonismo Juvenil foi se construindo. Para os

objetivos específicos foram eleitos os seguintes, ou seja, compreender se a

participação dos jovens na Pastoral da Juventude foi determinante para despertar os

interesses pela atuação nos espaços sócio-políticos, bem como analisar a visão que

os jovens detêm enquanto protagonistas das suas histórias.

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3.5 O problema e a hipótese.

O presente estudo teve como indagação o que significa a PJ na vida dos

sujeitos que dela participam, bem como se essa participação os conduz ao

Protagonismo Juvenil. Nesta direção a questão norteadora nos indica que a Pastoral

da Juventude colabora no despertar das Juventudes ao Protagonismo Juvenil,

formando lideranças sócio-políticas.

3.6 Análises dos resultados.

A partir dos resultados obtidos na pesquisa por intermédio da técnica de

Grupo Focal passa-se à análise propriamente dita. Esclarece-se que os sujeitos

entrevistados foram unanimes em autorizar a publicação por inteiro dos seus nomes,

no entanto, objetivando preservar as suas identidades utilizar-se-á a identificação de

PEJOTEIRO ou PEJOTEIRA, seguido de uma numeração, exemplo: PEJOTEIRA 1,

PEJOTEIRO 2 e assim sucessivamente.

Diante das narrativas dos sujeitos, elegeu-se enquanto categorias de análise

aquelas que são significativas e demonstram a visão que os sujeitos manifestaram

durante a realização do Grupo Focal.

Assim passa-se a apresentar as referidas categorias, a saber:

3.6.1 O inicio de tudo...

Pejoteiro é para a vida toda [...] PJ é para a sua vida!

(PEJOTEIRO 5)

De acordo com os fragmentos das narrativas a seguir, pode-se perceber que

o inicio desses jovens junto à PJ se deu ainda na fase da adolescência, com uma

idade média de 15 anos, fase essa em que os jovens possuem forte necessidade de

autoconhecimento e de participação em algum grupo social.

Um fator importante a ser referido é a via da curiosidade e geralmente os

jovens que se inserem na PJ já tinham um prévio contato com a mesma, sendo

então despertadas as vontades de conhecer com maior profundidade o referido

grupo.

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Eis as narrativas:

[...] eu entrei na Pastoral com 14 anos no grupo de base, na paróquia São Francisco de Assis, no Valo Velho [...] 14 anos era a idade para entrar lá [...] eu entrei na Pastoral para conhecer, eu não conhecia, os jovens tinham um grupo enorme que chamavam atenção pelas músicas diferentes [...] eu gostei e não sai mais. Estou desde os 14 anos [...] (PEJOTEIRA 1)

[...] tenho 28 anos, [...] também comecei minha caminhada de Pastoral da Juventude junto com a “Pejoteira 2”, mesmo processo, o do seminarista [...] do “Verbo Divino”32, que tem todo esse olhar social, trabalham mesmo com o povo, com as CEB‟s33, foi o primeiro contato que tive [...] (PEJOTEIRA 4).

Confirmando ainda a questão da idade uma das entrevistadas, se

expressou-se da seguinte forma:

[...] participo então do grupo de jovens da minha paróquia desde os meus 15 anos [...] E é engraçado também fazendo essa retrospectiva e entender que mesmo que sem ter clareza de qual era o carisma e sem entender o momento que a PJ estava passando [...] mesmo sem clareza do que estava acontecendo naquele momento às pessoas abraçaram aquilo, independente da bandeira que estava sendo levantada [...] (PEJOTEIRA 3).

Pode-se inferir ainda que esse contato inicial é uma maneira de

posteriormente dar inicio à participação no grupo de base da PJ onde há motivações

para que permaneçam no grupo em questão. Essa permanência pode ser

interpretada como algo importante na vida desses jovens, levando-se em conta as

propostas e métodos que a PJ utiliza nas reuniões dos grupos de base somando-se

à necessidade que os jovens possuem de estarem inseridos em grupos,

estabelecendo relações.

A análise das narrativas, especialmente quando expõem que pertencem à

PJ há um tempo considerável e continuam até este momento, leva-nos a crer que

além do espaço ser de pertencimento, significa ainda que faz parte de um processo

de formação34 e compromissos assumidos dentro do grupo e junto à comunidade em

32 Verbo Divino: Congregação do Verbo Divino, é uma congregação missionária ligada a

ICAR. Fundada em 1875. Disponível em: www.verbodivino.org.br, acesso em: 21/04/2011. 33

Comunidades Eclesiais de Base. 34 Conforme explicado no item 2.1, p.42 deste trabalho.

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que estão inseridos, como a coordenação do próprio grupo ou em outras instâncias

da PJ ou até mesmo em outras Pastorais e espaços externos.

A PEJOTEIRA 3, que entrou no grupo de base aos 15 anos, permanece no

grupo até os dias atuais, ou seja, nove anos depois atuando como representante de

Setor dentro da Diocese de Santo Amaro.

[...] tenho 24 anos, moro também na região da Zona Sul, [...] eu acabei de me formar em Serviço Social [...] estou como representante do Setor Pedreira ainda, lá pela Pastoral na minha região (PEJOTEIRA 3)

Já a PEJOTEIRA 1 entrou na PJ aos 14 anos e atualmente, com 22 anos,

vem passando por um processo de formação e motivação desenvolvendo funções

de coordenadoria dentro do seu grupo,

[...] depois assumi a coordenação [...] agora para esse ano a gente formou uma nova equipe de coordenação para tentar fazer novamente o grupo de base e formar mais as pessoas, para elas não saírem de lá com uma idéia que não é realmente da PJ. (PEJOTEIRA 1)

É importante ressaltar que, há ainda os jovens que já participavam de algum

tipo de grupo de jovens, porém sem ligação à PJ ou mesmo à ICAR.

[...] Tenho 28 anos, moro no Jardim Miriam [...] o meu começo na pastoral, na verdade nós tínhamos um grupo de jovens, mas não tínhamos muito contato com a Pastoral da Juventude ainda, aí entrou um seminarista que fez essa ligação do grupo com a Diocese, onde a gente conheceu a Pastoral da Juventude [...] A gente era Pastoral da Juventude, mas não sabia! [...] a gente começou a participar da pastoral, daí a partir disso, tentando arrumar o setor, depois a gente resolveu participar da equipe de animação da Diocese, tentando animar um pouquinho e hoje estou na coordenação diocesana junto com outros dois jovens [...] (PEJOTEIRA 2)

[...] minha caminhada de Pastoral da Juventude na verdade vem um pouquinho antes, sem conhecer a Pastoral da Juventude. Eu participava do grêmio estudantil da escola, participava da rádio dentro da escola, comunicação, e depois eu parei e aí sim conheci a Pastoral da Juventude, na via sacra, em uma encenação dos jovens na praça e onde foi o meu primeiro contato com a Pastoral da Juventude [...] e aí começou minha caminhada mesmo, nesse mesmo instante já me chamaram – até pulei etapa – me chamaram para a coordenação, por já ter esse caminho de coordenador do grêmio, de ação política dentro da escola e aí já fui coordenando um grupo de jovens, no qual fiquei dois anos como coordenador e depois

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fui para a coordenação paroquial, onde fiquei um ano [...] (PEJOTEIRO 5)

Desse modo, pode-se confirmar que “o inicio de tudo...”, para esses jovens,

ocorre por intermédio de uma busca constante onde são movidos por estímulos que

incitam a se engajarem num processo de sólida formação, garantindo suas

permanências dentro dos grupos de base. São narrativas que nos remetem a uma

compreensão além do simplismo, pois não basta o desejo individual de permanência

no grupo; há a necessidade de um bom acolhimento e de esclarecimentos sobre as

diretrizes daquele grupo, além de meios e formas para cativá-los e fazê-los

pertencentes.

3.6.2 A construção do protagonismo.

[...] a questão do protagonismo mesmo é importantíssima, por que na Pastoral da Juventude o jovem atua mesmo.

É ele quem faz as coisas. (PEJOTEIRA 2)

De acordo com Boran (2003), a PJ desperta no jovem o seu protagonismo,

capacitando-os como jovens conscientes e críticos. Esses se inserem em outros

espaços, pois, ao terem essa formação e esse contato com a PJ, sentem a

necessidade de fazer algo a mais e de ocupar outros espaços, pois em muitos casos

o grupo e a comunidade já não são mais suficientes para que o mesmo possa expor

suas idéias ou mesmo agir e assim buscar as mudanças que julgam serem

importantes e necessárias. Para tal, a PEJOTEIRA 2, faz o seu comentário,

[...] A partir do contato com a Pastoral da Juventude eu acho que abriu meus horizontes, aí você começa a buscar outras coisas a mais. A comunidade já não é tão mais suficiente, a gente trabalhava com a comunidade, mas já não bastava mais, daí quando você entra em contato com outros jovens, aí que muda mesmo! [...] (PEJOTEIRA 2)

Ainda nesta direção a PEJOTEIRA 3, expõe sobre a questão da formação e

do preparo para essa ação protagonista que, após o amadurecimento e despertar,

ainda entende que é necessário a preparação para suas ações, ou seja, também um

embasamento teórico, por meio de estudos e formações.

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[...] as pessoas amadurecem ao ponto de perceberem que, está dentro da paróquia já não é o que é mais certo, quer dizer, ir além dos muros; e a preocupação com a questão social, com as expressões [...] de repente a necessidade da gente se sentar e estudar um pouco mais sobre a igreja, no que a gente comunga [...] tentando entender um pouco disso, vejo a necessidade que a gente tem de voltar para a base, voltar para a comunidade e dizer: “e aí, o que a gente vai fazer? [...] agora é hora de aplicar!”. [...] (PEJOTEIRA 3)

Em outro momento a mesma comenta sobre a necessidade do estudo e o

quanto essa formação e embasamento teórico são necessários para uma ação mais

efetiva, para a construção do seu protagonismo e fomentação para militância e

inserção em espaços sócio-políticos.

[...] Então a necessidade do estudo é uma coisa que eu vejo muito forte exatamente falando da Pastoral da Juventude que é uma coisa que a gente se cobra muito e aí enfim... a gente consegue ter uma ação mais efetiva, exatamente por isso, por causa desse embasamento e tudo mais que a gente vai se aprofundando aí e tudo mais. E aí uma coisa super interessante, quando a gente pensa também pelo viés político-religioso, assim não dá para descartar a Pastoral da Juventude, faz parte de um contexto religioso e tudo mais, só que o engajamento ele é tenso muitas vezes, se eu estou na PJ, espera-se que se faça algo, espera-se que não seja uma pessoa parada, espera-se que tenha gás e tudo mais. Daí eu lembro do Frei Betto dizendo, quando ele é questionado sobre a questão da política dentro da igreja: “O que tem a ver política?”, quando ele era questionado sobre isso, daí ele respondia do jeito simples dele, e direto de ser, falando que, “não poderíamos esperar outra coisa, já que nós somos discípulos de um preso político”. [...] (PEJOTEIRA 3)

Dick (1999) traz alguns pontos com relação à formação e métodos utilizados

na PJ, fornecendo indicações importantes sobre a linha social e política da Pastoral

e a capacitação do jovem, a saber:

[...] formação de assistentes e lideranças; a busca de uma prática a partir da realidade, considerando questões sociais e políticas; a formação na ação; a descoberta da necessidade de se lutar pela transformação das estruturas sociais, com a ajuda das análises de conjuntura e das Semanas de Estudo; a necessidade e o uso de espaços de revisão de vida e de prática; a compreensão da fé vivida no engajamento social; o uso de uma pedagogia para despertar o espírito crítico; (DICK, 1999, p.10)

Outro fator importante é a relação que os jovens participantes dos grupos de

base adquirem a partir do contato com outros jovens, de outros lugares e realidades

que, somando com as formações recebidas, os capacita para a prática protagonista.

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[...] objetivo que é atender os socorros, ouvir os gritos de socorro das juventudes. Mas é a partir desse olhar de caminhada, participando da pastoral, conhecendo outros jovens [...] de outros estados, com as reuniões, com os encontros nacionais, participando de CDL35, enfim, esses cursos que a Pastoral oferece [...] A partir de tudo isso, conhecendo essa realidade e conforme crescendo, participando de outras coisas [...] a gente vê que o espaço da comunidade é pouco, a gente começa a se incomodar com tudo que acontece ao nosso redor [...] A gente se junta, começa a pensar junto o que a gente pode fazer de diferente. Com todo esse conteúdo, com toda formação que a Pastoral traz para a gente, para essa visão, para esse olhar social [...] do que está acontecendo na nossa volta, o que a gente pode fazer, não só enquanto “grupinho” que se reúne para discutir sexualidade, afetividade, enfim. Mas discutir questões que estão nos incomodando [...] com um olhar assim, de solidariedade, de protagonismo, até a gente atuar olhando a questão dos direitos mesmo, de políticas públicas [...] muitas coisas são quebradas, por conta dessa formação que a gente tem e que é bem rica, como a “PEJOTEIRA 2” trouxe, não é aquela coisa da gente se reunir, rezar e formação. Não, a gente tem, tem leituras, a gente estuda, a gente traz coisas [...] e leva para a sua formação independente do que você vai fazer, onde você vai atuar. (PEJOTEIRA 4)

“Eu entendo que a gente tem que sair também para dar espaço para os

outros jovens terem esse contato de comunidade” (PEJOTEIRA 4). Dentro do

processo de construção e formação, os jovens, principalmente quando assumem

algum tipo de coordenação, entendem que faz-se necessário a capacitação de

outros jovens como meio de abrir espaços para futuras atuações, ou seja, ocorre, na

PJ, o discernimento de que todos possam ter a mesma oportunidade. Desse modo e

dentro das diretrizes é importante abrir espaços de oportunidade para que o outro

receba igualmente uma formação e motivação, favorecendo para que o

protagonismo e senso-crítico sejam despertados. Para complementar esse ponto, a

PEJOTEIRA 3 explica que,

[...] dando a oportunidade mesmo para o outro; é assim que eu vejo isso hoje, e graças a isso eu tive então um contato maior com a pastoral, me envolvendo além da paróquia, em outros grupos e hoje esse caminho, esses institutos todos que a gente acaba fazendo parte ou estando por lá, são frutos dessa caminhada inicial desde os 15 anos [...] (PEJOTEIRA 3)

Portanto, sendo a Pastoral da Juventude importante nesse processo de

fomentação do protagonismo juvenil, formando os jovens para serem lideranças

35 Curso de Dinâmicas para Líderes, oferecido pelo CCJ - Centro de Capacitação da

Juventude.

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sócio-políticas, é certo dizer que “o jovem acaba abrindo os seus horizontes, não

ficam focados somente no „eu acho isso‟ [...] ele começa a ser protagonista do seu

conhecimento” (PEJOTEIRO 5). Essa narrativa vem balizar todo o referencial teórico

abordado na construção deste trabalho, bem como a hipótese que foi levantada,

sobre como o protagonismo juvenil foi se construindo e como a Pastoral da

Juventude entra como um instrumento facilitador. Havendo uma chance deste

protagonismo se concretizar, pois “é nessa questão do autoconhecimento, para aí

você poder questionar a estrutura e tornar-se protagonista” (PEJOTEIRA 1)

Complementando, o Marco Referencial da PJ, nº 76, ressalta que,

O jovem que percorreu todas as dimensões do processo de formação integral na fé sente-se capacitado de assumir o compromisso para testemunhar sua fé no seguimento de Jesus Cristo, como também de anunciar a Boa Notícia de Jesus na militância na comunidade eclesial e na militância política e social36. (MARCO REFERENCIAL DA PJ, nº 76)

Neste sentido, a PJ vai além das paredes das igrejas, suas ações se dão na

sociedade e com isso resulta na formação critica e sócio-política dos jovens que nela

participam, conforme já exposto. Na PJ os jovens são despertados a olharem o

mundo com uma visão mais aguçada e para não simplesmente aceitarem as

realidades impostas pelo sistema no qual estamos inseridos.

3.6.3 A participação nos espaços sócio-políticos e movimentos sociais.

[...] Eu estou aqui me perguntando:

“Quais são os lugares que nós ainda não estamos?” [...]

(PEJOTEIRA 3)

A epígrafe acima nos remete à reflexão de que o jovem participante, ou

mesmo que já participou da PJ, se insere em outros espaços de participação e

militância, sendo que a PJ colabora no despertar das Juventudes ao Protagonismo

Juvenil, formando lideranças sócio-políticas.

36 Grifo do autor.

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Durante sua participação e formação nos grupos de base os jovens são

motivados a despertarem seu senso-crítico o que os leva a visualizarem a sociedade

de outro modo,

[...] enquanto participantes da Pastoral da Juventude nos reunimos para discutir, por exemplo, a realidade dos nossos jovens no bairro do Jardim Miriam, e é aí que entra a questão do Movimento Queremos Cultura que a “Pejoteira 2” colocou, e que eu também faço parte. A gente começou a se incomodar com os espaços que a gente tinha no bairro, que de repente estava sendo tomado sem ninguém pedir a nossa permissão [...] quando a gente começou com o “Fé e Política”, depois que a gente saiu, com a questão chega só de grupo de jovens, hoje a gente tem que atuar em outras instâncias a gente foi para o “Fé e Política” [...] (PEJOTEIRA 4)

O presente estudo teve como indagação o que significa a PJ na vida dos

sujeitos que dela participam, bem como se essa participação os conduz ao

Protagonismo Juvenil.

Para melhor retratar este importante aspecto na vida dos jovens seguem

algumas narrativas apresentadas pelos sujeitos da pesquisa quando descrevem

sobre sua participação nos movimentos e espaços sócio-políticos, vejamos:

[...] sou voluntária na nossa biblioteca também, que a pastoral que começou que é o EJAAC, Espaço Jovem Alexandre Araujo Chaves, que o idealizador bem, bem antes de eu entrar na PJ, em noventa e “trá-lá-lá-lá” e aí ele acabou falecendo [...] a gente da Pastoral da Juventude reabriu a biblioteca e a gente trabalha como voluntário [...] Eu danço em uma companhia amadora de dança, lá de Itapecerica, a gente está com um projeto que fala da trajetória do negro no Brasil. A gente está tentando o programa do VAI37 e outros projetos de fomento à dança, por que lá o nosso foco é ir aos CEU‟s38, a gente promove debates depois da apresentação, porque é contemporâneo [...] a gente promove debates para também discutir isso e fomentar tanto a dança, a arte da dança e a arte de expressar, de levar as idéias e tudo mais. (PEJOTEIRA 1)

[...] Hoje a gente trabalha com o “Movimento Queremos Cultura no Bairro” [...] a partir do grupo “Fé e Política” que a gente resolveu montar na comunidade, a gente pensou, começou a se envolver um pouquinho nessa luta do bairro, de cultural mesmo! A gente te um

37 Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais - foi criado pela lei 13.540 (de autoria

do vereador Nabil Bonduki) e regulamentado pelo decreto 43.823/2003, com a finalidade de apoiar financeiramente, por meio de subsídio, atividades artístico-culturais, principalmente de jovens de baixa renda e de regiões do Município desprovidas de recursos e equipamentos culturais. Disponível em: www.sobreovai.blogspot.com, acesso em: 21/04/2011. 38

Centro Educacional Unificado.

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espaço lá que era um sacolão da prefeitura, que já foi desativado e o município doou o lugar, o terreno para o Estado construir um Poupa-Tempo, só que a comunidade sempre vem lutando por um Centro Cultural e já estava no projeto diretor no governo da Marta39, tinha tudo para ser um Centro Cultural e quando a gente soube disso a gente falou: “Vamos para cima é a nossa chance de se envolver com as questões do bairro” [...] eu também participo de um grupo de discussão que também é da Pastoral da Juventude. É um grupo de estudos sobre juventude e direitos humanos. [...] a gente tenta se aproximar da Pastoral Carcerária por conta do extermínio de jovens, por conta da Campanha [...] A gente tenta está sempre em discussão, entender um pouquinho essa coisa do extermínio de jovens, dos presídios, por que a maioria são juventudes, tentando se aproximar um pouquinho da Pastoral Carcerária. (PEJOTEIRA 2)

[...] tentando entender os grupos que hoje eu estou participando é engraçado por que eu percebi que todos os grupos têm identificação com a questão da religião. Participando do Anchietanum40, que é um instituto de juventude, trabalhando com jovens e tal. O IPJ41, o grupo de jovens, que depois do término da faculdade eu consegui retornar [...] (PEJOTEIRA 3)

[...] na questão Pastoral eu sempre me dediquei muito à questão dos estudos, por que sai justamente da escola, já militante dentro da escola [...] saindo da comunidade, conhecendo mais outras regiões, ou mesmo outras realidades e outras lutas que existem dentro da cidade de São Paulo e aí foi que conheci um pouquinho mais o movimento “Passe-Livre”, com o pessoal hoje lutando para abaixar a tarifa de ônibus de São Paulo, que hoje está R$3,00 [...] a gente acaba levando isso com a gente [...] não só lutar pela minha comunidade agora, mas lutar por todas as lutas que se envolvem [...] (PEJOTEIRO 5)

Sendo a PJ uma pastoral tida como social e que recebe forte influência da

TdL., observa-se que muitos dos jovens que dela participam possuem uma visão

política de esquerda, ou seja, baseada no socialismo/comunismo. Desse modo

explica-se a inserção dos mesmos em Movimentos Sociais de lutas coletivas.

Outro aspecto a ser observado nas narrativas acima é que a maioria dos

jovens possui diversos questionamentos, sonhos e anseios e buscam respostas com

vistas às transformações. Os mesmos se inserem em espaços de participação e

atuação cidadã, visando lutar por seus valores e ideais no anseio de serem tratados

39

Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy, ex-prefeita da cidade de São Paulo (2000-

2004). 40 Anchietanum é um Instituto de Juventude ligado à da Companhia de Jesus no Brasil. Faz

parte da Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude. 41 Instituto Paulista de Juventude. Faz parte da Rede Brasileira de Centros e Institutos de

Juventude.

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como sujeitos de direitos, buscando assim formas de reparar algumas injustiças

sociais ainda existentes na perspectiva de que haja mudanças não apenas no grupo

de pertencimento, mas também societárias.

Sendo assim, se inserem nesses espaços de ação, pois dentro de um

contexto social buscam respostas e resoluções de problemas reais. Essa busca

torna o jovem protagonista, líder transformador da realidade na qual está inserido,

tendo então, sua participação ativa na sociedade.

3.6.4 Os acontecimentos importantes na Pastoral da Juventude.

Quando falamos da Pastoral da Juventude e do seu protagonismo na

sociedade contemporânea, no subitem 2.3, foi exposto sobre as atividades, eventos

e campanhas realizadas pela PJ, nas quais os jovens atuam na participação e

organização. Faz-se necessário elencar nessa análise às narrativas dos jovens que

remetem a essas atividades. Neste contexto, os cinco participantes do Grupo Focal

mencionam sobre os marcos que foram significativos nas suas trajetórias na PJ; e

para ressaltar essa representação nas suas vidas, vejamos a seguir as narrativas de

cada um,

[...] São vários os momentos assim, mas os que mais marcaram pessoalmente foram os retiros. A forma com que se dão os retiros da Pastoral da Juventude, por que é um autoconhecimento impressionante [...] não é uma coisa manipulada, tudo depende de você, depende da sua resposta, tudo depende de você e da sua pré-disposição. Então todos os retiros, assembléias, todos os momentos em que se reúnem 50, 60 jovens e ficam três dias ali, discutindo e tudo mais, fazendo deserto [...] no Êxodos42, que me deu também muita força. [...] os retiros, que me tocam bastante, me ensinam muito e as missões, [...] essa questão de você conhecer outro jovem, de outros lugares [...] você sabe que lá longe eles estarão fazendo a mesma coisa e isso te renova; Eu não estou sozinha, estamos juntos. (PEJOTEIRA 1)

[...] é um pouquinho de cada coisa que já falaram, mas eu acho que se pode dizer que é a questão de possibilidades de partilha, por que quando você está junto; A pastoral te dá essa oportunidade de estar junto, de partilhar angústias e alegrias [...] Eu estava pensando

42 Faz parte do Projeto "Eu Sou + 7 x7". É um curso de formação de lideranças da Pastoral

da Juventude. Este curso é oferecido pelo IPJ às coordenadoras/es e animadores/as do trabalho pastoral. O número é 50 (cinqüenta jovens lideranças) e o tempo é 7 (sete encontros bimestrais) num ciclo de um ano que abordam temas ligados à Formação Integral. Disponível em: www.ipejota.org.br, Acesso em: 21/04/2011.

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enquanto vocês estavam falando, “é isso também”, “é isso também” [...] eu não sei em que outro momento da sociedade a gente pode se encontrar junto e cada um se motivar sabe, então é assim, não tem um momento especifico, mas é esse estar juntos, partilhar as angústias [...] momentos de Romarias, de marchas, de caminhadas, de estar juntos ali naquela coisa, gritando, cantando juntos. Nossa, para mim são os momentos maravilhosos que tem, de você ver jovens de todo lugar, de todo canto, de você vê e pensar “cara, eu pensei que não tivesse mais ninguém” [...] As musicas que são cantadas, cantar juntos e fazer canções, eu acho que esses momentos são fortalecedores e que afirmam mesmo essa nossa vontade de continuar. (PEJOTEIRA 2)

[...] eu também fiz parte do Ruáh e é interessante perceber como que a gente consegue misturar tudo mesmo; E fica tudo muito bom, quando a gente mistura tudo; por que a gente não é feito de uma coisa só. No Ruáh a gente teve a possibilidade de fazer uma experiência no acampamento do MST43 irmã Alberta, que para mim foi o máximo [...] naquele momento para mim foi maravilhoso, vivenciar, capinar o chão junto com a galera, fazer algumas coisas que eles fazem, mesmo que num período breve, para mim foi o máximo. E aí quando eu achei que estava ótimo, a gente teve a possibilidade de voltar, se não me engano, uma ou duas semanas depois, por que era a Romaria44 [...] eu lembro perfeitamente do clima que estava no local, questão climática mesmo, estava chovendo muito [...] Tinha tudo para não ter ninguém naquele lugar, mas tinha e como tinha [...] (PEJOTEIRA 3)

[...] falando de tudo isso, essa questão mesmo do olhar que a gente tem enquanto Pastoral, de se preocupar com políticas públicas, que é um direito dos jovens e aí fazendo as Campanhas Contra o Extermínio da Juventude, Contra a Redução da Maioridade Penal [...] reivindicar pelos seus direitos enquanto juventude [...] (PEJOTEIRA 4)

[...] o momento que me faz lembrar, que me faz ter gás na Pastoral da Juventude é o momento que eu passei com o grupo Ruáh45 [...] cada momento que eu lembro dá aquele gás para eu falar: opa, eu acho que a gente não pode desistir dos nossos ideais, a gente tem que passar tudo o que as outras pessoas contribuíram, passaram para outros e isso foi um passando para o outro [...] para assim, não ficar aquela chama só para você, então eu acho que em todos os momentos que eu vejo que a Pastoral da Juventude não está dando certo, que alguma coisa está dando errado, por mais dificuldades que

43

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. 44

XIV Romaria da Juventude do Regional Sul-1 (Estado de São Paulo), 2008. Organizada

em conjunto com a Comissão Pastoral da Terra. 45

Faz parte do Projeto "Eu Sou + 7 x7". É um curso de formação de lideranças da Pastoral

da Juventude. Este curso é oferecido pelo IPJ às coordenadoras/es e animadores/as do trabalho pastoral. O número é 50 (cinqüenta jovens lideranças) e o tempo é 7 (sete encontros bimestrais) num ciclo de um ano que abordam temas ligados à Formação Integral. Disponível em: www.ipejota.org.br, Acesso em: 21/04/2011.

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a gente encontre, eu acabo pensando no Ruáh, pensando em todas as formações que eu tive [...] (PEJOTEIRO 5)

É interessante destacar que na exposição sobre esse assunto

demonstraram forte emoção e satisfação em seus relatos, o que nos leva a perceber

a dedicação e prazer nessas participações. Além do mais é nítido como estes

momentos foram (e são) importantes nas vidas de cada um deles, pois, além de

efetivarem uma participação ativa expondo seus ideais e reivindicações, os mesmos

ainda consideram o envolvimento nessas atividades como uma formação, sendo

assim capacitando-os para outros envolvimentos na PJ e em outros espaços.

Outro aspecto a ser descrito é que, tomando por base as narrativas dos

sujeitos da pesquisa e das referências estudadas, praticamente todos os jovens

inseridos na PJ ou mesmo que já foram, em algum momento tiveram participação ou

envolvimento em algumas dessas atividades, campanhas, formações e eventos

reconhecidos como da Pastoral da Juventude.

Ainda sobre esses acontecimentos que, para esses jovens foram (e são)

marcos, percebe-se a importância dos Centros e Institutos de Juventude, pois

praticamente todos os jovens participantes da pesquisa tiveram ou ainda têm

contatos e vínculos com estas instituições, como pode ser visto nas falas acima

descritas. Os Centros e Institutos de Juventude são espaços de formação e ação

social e espiritual para as juventudes; esses, além de produção teórica e de

pesquisas, proporcionam ainda em parceria com Instituições de Ensino o Curso de

pós-graduação em adolescência e juventude no mundo contemporâneo.

Desse modo, podemos interpretar que tais momentos, ou seja, essas

participações em atividades organizadas pelos jovens da PJ lhes proporcionaram

embasamento para uma participação e inserção em outros espaços sócio-políticos,

ou seja, houve um despertar e formação para isso, pois os mesmos chegam a uma

fase em que há a necessidade de se buscar também outros espaços e de

assumirem maiores responsabilidades, como coordenações e lideranças sócio-

políticas, conforme já explicitado.

3.6.5 A visão que têm sobre o protagonismo das suas histórias.

Indagados sobre o significado da PJ em suas vidas, bem como se essa

participação os conduz ao protagonismo juvenil; é percebido seus envolvimentos em

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outros espaços com características sócio-políticas bem como demonstram

claramente a sua importância a partir de suas trajetórias ao fazer parte da Pastoral.

Faz-se necessário ainda mencionar os seus conceitos com relação à formação e

métodos vivenciados na PJ, além do autoconhecimento que possuem quando se

referem ao reconhecimento obtido dento da referida instituição, pois consideram

esse processo, ou seja, as suas vivências e experiências, como fatores

determinantes para uma militância posterior, para a prática do protagonismo.

As narrativas exposta por dois pejoteiros entrevistados ilustram a análise

acima, a saber:

Mas eu falo que tem uma importância muito grande mesmo sabe! Por que foi a partir dela que conheci outras coisas [...] foi preponderante nas coisas que hoje eu faço, pelas minhas opções, pelo meu curso [...] quando você participa da Pastoral da Juventude [...] você já não consegue mais sair [...] você já não consegue olhar o mundo e fingir que nada está acontecendo [...] quando você vive mesmo a Pastoral da Juventude você já não é mais o mesmo. (PEJOTEIRA 2)

[...] toda a minha caminhada hoje, todo meu olhar em relação a todas as questões que são apresentadas [...] esse meu olhar é mais aguçado devido a Pastoral da Juventude. Essa questão de ver o outro, de entender a realidade, de compreender certas coisas que outras pessoas não compreendem, por exemplo, a questão da maioridade penal [...] esse olhar a gente enquanto juventude, enquanto atuante, a gente tem. [...] a partir de tudo isso que eu aprendi enquanto Pastoral nessa caminhada foi que me motivou também a fazer serviço social, a entender um pouco mais dessas realidades, de como atuar [...] efetivamente dentro dessas questões. (PEJOTEIRA 4)

Sobre o tempo em que participa da PJ e expondo o seu envolvimento em

outros espaços a PEJOTEIRA 4 diz que “a nossa situação agora era maior, o nosso

espaço era limitado e não dava mais para a gente ficar só ali, a gente tinha que ir

além...”. Tal indagação se dá pela necessidade de preencher outros espaços de

participação, pois a PJ a motivou a se envolver em outras lutas, a ser comprometida

com causas sociais, a ter um olhar diferenciando com as questões que envolvem a

sociedade. Completando, a PEJOTEIRA 1 diz que a PJ contribui nesse processo,

“eu vejo muito a contribuição da Pastoral da Juventude nisso de você começar ali, se

preocupar com o outro que está ali pertinho e aí depois você consegue transmitir

isso para fora, para o bairro”. Sobre o reconhecimento do papel da PJ nas suas

trajetórias de vida, em especial sobre suas participações em espaços sócio-políticos

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e em movimentos sociais, a PEJOTEIRA 2 comenta sobre a importância da

formação recebida na PJ,

[...] Eu acho essa questão da formação muito forte, pelo menos eu acho que ela me fez buscar muitas coisas [...] Seu não tivesse participado da Pastoral da Juventude eu não sei, realmente eu não sei [...] (PEJOTEIRA 2)

Complementando,

[...] depois no final você tem consciência de que você tem que passar pelo processo, por que você vai ali trabalhar na comunidade e tudo, depois você começa a crescer mesmo como pessoa e compreender que você tem que ter uma atuação no meio da sociedade [...] (PEJOTEIRA 2)

[...] estava pensando na forma como a gente trabalha mesmo as relações no grupo, a questão de ter espaço, de ter voz [...] Para mim, então, vendo como foi o meu caminho e o caminho que as pessoas acabam fazendo nos grupos, daí eu percebo o seguinte: [...] no tempo em que nós estamos vivendo, são poucos os espaços em que você realmente pode falar o que você pensa [...] o grupo traz essa possibilidade de ter voz, de ser ouvido [...] é muito interessante perceber as relações que a gente vai estabelecendo ali, que a gente vai levar mesmo para a vida, no trabalho. Quantos lugares a gente não está vivendo situações muito similares, que aí de repente aquela bagagem trouxe um diferencial para a atuação. [...] todo esse processo contribui de fato para a nossa ação, então, os reflexos acima de tudo são vistos nas nossas ações [...] no dia-a-dia, no trabalho, nas escolhas que a gente faz a gente percebe o quanto isso foi importante. (PEJOTEIRA 3)

É interessante ressaltar sobre a compreensão e o reconhecimento que

esses jovens possuem ao falar dessa questão. De fato, entendem que a PJ é um

fator determinante nesse processo de formação e construção. Além do mais,

consideram que essa experiência e vivência na PJ é algo que levarão para toda a

sua trajetória de vida, mesmo que futuramente não mais participem dela, pois seus

ensinamentos e ideologias são referências para outros espaços, como por exemplo,

no emprego e na carreira acadêmica escolhida.

[...] A PJ, ela não tem só um período da vida do jovem [...] O que você vai determinar depois da PJ é fruto dessa passagem, muita gente escolhe a faculdade por causa que a PJ levou a você ter essa conscientização e escolher aquela faculdade [...] a colaboração da PJ, ela vem para fora. [...] a gente vive muito em grupo, principalmente quando a gente trabalha dentro da sociedade e toda

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hora está cruzando com o grupo (de jovens)46 [...] a gente aprende onde a viver em grupo? Na Pastoral da Juventude. O contato com o outro a gente aprende muitas vezes onde? Na Pastoral da Juventude. O respeito com o outro? Pastoral da Juventude. Então é uma soma da colaboração que a PJ tem, é assim que eu coloco que é a PJ, ela vai além do grupo e se reflete na sociedade [...] (PEJOTEIRO 5)

Há esse reconhecimento de que a PJ lhes proporciona fundamentos teóricos

e práticos, onde esses são expostos em suas ações e escolhas.

[...] são realmente pessoas que tem o que dizer. Não é a toa que vão duas ou três fitas, né Henrique? (risos – grupo). A gente tem mesmo o que falar, na dá para você puxar um assunto e achar que vai ser cinco minutos, por que a conversa realmente rende, por que são pessoas que de fato, tem muito conteúdo, tem uma bagagem muito interessante. (PEJOTEIRA 3)

Por meio da PJ muitos jovens são motivados a desenvolver um projeto de

vida, o que lhes capacitam a terem um melhor autoconhecimento e os impulsionam

a criar e manter contatos, ou seja, conhecer outras pessoas e idéias, por meio das

relações estabelecidas.

A PEJOTEIRA 1 comenta sobre essa temática e afirma que a PJ é (faz)

parte da construção do projeto de vida e que por meio dela obteve embasamentos

para efetivar sua participação na sociedade,

[...] É um projeto de vida mesmo; é uma causa que você abraça para todo o ser humano. [...] eu vejo assim, uma pastoral que forma pessoas humanas, verdadeiramente humanas. Eu vejo que é também o que falta na educação formal, essa educação mais humana, de “eu e sociedade”, “eu com outro” [...] eu acho que a Pastoral complementa essa falta que tem na educação formal, que é essa educação política mesmo, de você se ver na sociedade e você saber que tem que correr atrás. De que você não pode só reclamar e deixar como está, de você se vê como um ator social realmente. (PEJOTEIRA 1)

Outro ponto que demonstra a prática protagonista destes jovens está no

desejo e na consciência de que outros jovens recebam uma formação que lhes

proporcione este despertar para a participação em espaços sócio-políticos e também

para que seja dada continuidade nos trabalhos e atividades da PJ, como destaca a

PEJOTEIRA 4 ao reafirmar que “vamos continuar, por que essa mesma formação

46

Entre parênteses, pelo autor.

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que a gente teve de pastoral a gente quer que outros jovens tenham, por que tudo

que a gente aprendeu lá, a gente carrega para a nossa vida.”

Para tanto, ao concluir a análise da pesquisa realizada, pode-se

compreender que a participação dos jovens na PJ foi um fator determinante para

que os mesmos desenvolvessem seu protagonismo juvenil. Sendo assim, a PJ teve

(têm) importante significado em suas vidas, colaborando para o seu despertar e

formação no seu papel de lideranças sócio-políticas e de movimentos sociais, ou

seja, de jovem atuante na sociedade.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes de expor as considerações finais deste estudo, faz-se necessário

esclarecer que, apesar do envolvimento com a PJ, procurei manter uma distância,

principalmente na organização de certas atividades, para assim poder refletir a partir

de um ponto de vista isento da minha participação enquanto membro. Porém, as

experiências e conhecimentos adquiridos durante toda minha trajetória permitiram-

me colaborar para o desenvolvimento da pesquisa no que se refere à parte teórica e

a escolha do método da pesquisa.

Outro aspecto a ser esclarecido devido à possibilidade de eventual

indagação por algum leitor, como exemplo: “o que um trabalho onde a temática

aborda sobre a Pastoral da Juventude, Protagonismo Juvenil e lideranças sócio-

políticas têm a ver com o curso de Serviço Social?”. Na verdade, houve um cuidado

tanto na redação concernente à fundamentação teórica quanto na pesquisa de

campo e análise, pois toda a menção no que se refere à PJ, nos eixos delimitados

se voltava para a linha política e social, ou seja, os legados deixados pela ACE

conforme já explicitados.

Neste fazer e, a partir das narrativas dos jovens partícipes do Grupo Focal

foi possível perceber a forma como cada um conheceu a PJ, despertando-os para

as suas iniciações e participações junto à mesma.

Por outro lado, as suas narrativas nos remetem à compreensão do processo

de construção do protagonismo juvenil; protagonismo esse vivenciado por etapas

tanto dentro quanto fora dos grupos de jovens, onde os mesmos passam a assumir

responsabilidades, bem como coordenações e participação mais efetiva, resultando

na fomentação e formação para se inserirem em outros espaços sócio-políticos e

movimentos sociais.

Foi de extrema importância a escuta dos seus relatos sobre acontecimentos

importantes na PJ no qual participaram, passando a compreender a necessidade da

motivação e da formação nas suas vidas para as suas inserções em outros espaços

da sociedade. O fato de se organizarem enquanto membros participativos nas

atividades que são peculiares à PJ lhes proporcionam satisfação e prazer, pois se

julgam valorizados e como membros que pertencem à referida Pastoral.

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Dentro do contexto narrado pelos sujeitos da pesquisa percebe-se ainda a

visão que detêm sobre o protagonismo juvenil nas suas trajetórias e história de vida

enquanto sujeitos políticos dos movimentos que participam.

Foi possível detectar também que a PJ tem um grande significado na vida

daqueles sujeitos sociais que são construídos historicamente e que dela fazem

parte. É por tudo isso, que essa motivação/ participação os conduz à prática do

Protagonismo Juvenil, pois a PJ colabora nesse despertar, formando então

lideranças sócio-políticas inseridas em espaços coletivos junto à sociedade, na

busca de respostas e transformações.

Desse modo considera-se que os objetivos delimitados no presente estudo

tiveram o seu alcance assim como a questão norteadora confirmada, pois a PJ se

coloca como instrumento de transformações na vida dos jovens que buscam nela o

despertar para seu protagonismo.

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NETTO, K. Uma nova geração política reafirma-se no Acampamento Intercontinental da Juventude. Revista Democracia Viva, Rio de Janeiro, nº 30, jan./mar. 2006. p. 40-47. NOVAES, R. R. Juventude e Participação Social: Apontamentos sobre a reinvenção da política. In: ABRAMO, H. W.; FREITAS, M. V.; SPOSITO, M. P. (orgs.); Juventude em Debate; São Paulo-SP. Cortez, 2000, p. 46-54. OLIVEIRA, R. Pastoral da Juventude: e a igreja se fez jovem. 1ª Edição. Paulinas. São Paulo-SP, 2002. PAIS, J. M. As correntes teóricas da Sociologia da Juventude. In. Culturas Juvenis. Lisboa, Imprensa Nacional, 1996. PAIVA, M. R. Cultura e Participação: Juventude e Mobilização. In: ABRAMO, H. W.; FREITAS, M. V.; SPOSITO, M. P. (orgs.); Juventude em Debate; São Paulo-SP. Cortez, 2000, p. 41-46. PEREIRA, J. D.; Juventude e Serviço Social: algumas reflexões para a prática profissional na contemporaneidade, IX Semana de Pesquisa do CCSA, Resumo, 2003. PJ NACIONAL. Dimensões da formação integral. Cadernos de Estudo da Pastoral da Juventude – número 2, São Paulo-SP, CCJ, 1988. PORTELLI, A. História oral como gênero. In: Projeto História 22, São Paulo: PUC-Educ, 2001, p. 9-19. POSSATO JR., J. L.; LUCAS B. V.: Juventudes e Meio Urbano. Em: Estudos Bíblicos nº 103 - 2009/3, pág. 104-115, Petrópolis, Editora Vozes, 2009. RABAT, M. N. A Participação da Juventude em Movimentos Sociais no Brasil. Brasília, Biblioteca digital da Câmara dos Deputados, 2002. RESSEL, L.B, et al. O uso do grupo focal em pesquisa qualitativa, Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, Out./Dez. 2008; 17(4): pág. 779-786. SOUSA, J. T. P. Reinvenções da Utopia: a militância política de jovens nos anos 90. São Paulo-SP, Hacker Editores, 1999.

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SOUZA, R. M. O discurso do protagonismo juvenil. Tese de Doutorado para a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP-SP, 2007. UNE. Conheça a história da UNE. Disponível em: www.une.org.br, Acessado em: 01 de Novembro de 2010, às 19h55min. UNICEF. Relatório da sobre Violência Institucional, 2011. WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência - 2010 - Anatomia dos Homicídios no Brasil. São Paulo-SP, Instituto Sangari, 2010.

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ANEXO A1 – Termo de consentimento livre e esclarecido e de concessão de

uso de imagem.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO E DE

CONCESSÃO DE USO DE IMAGEM

Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), da

pesquisa: “A importância da pastoral da juventude na fomentação do

protagonismo juvenil e formação de lideranças sócio-políticas”, no caso de

você concordar em participar, favor assinar ao final do documento. Sua participação

não é obrigatória, e, a qualquer momento, você poderá desistir de participar e retirar

seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o

pesquisador (a) ou com a instituição.

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e endereço do

pesquisador (a) principal, podendo tirar dúvidas do projeto e de sua participação.

Nome da pesquisa: “A importância da pastoral da juventude na fomentação do

protagonismo juvenil e formação de lideranças sócio-políticas”.

Pesquisador responsável: Henrique Manoel Carvalho Silva, RG: 40.191.109-3, RA:

1.624.903, residente à Rua Dr. Erício Álvares de Azevedo Gonzaga, 27 - Jardim

Cambará - São Paulo/SP, Celular (11) 8349-0010.

Patrocinador: Não tem.

Objetivos: Entrevistar jovens nas idades entre 15 e 29 anos, de ambos os gêneros,

que participam (ou já participaram) da Pastoral da Juventude (PJ), para

compreender como o Protagonismo Juvenil foi sendo despertado e construído e sua

participação em outros espaços de lideranças sócio-políticas.

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Procedimentos do estudo: Se concordar em participar da pesquisa: “A importância

da pastoral da juventude na fomentação do protagonismo juvenil e formação de

lideranças sócio-políticas”, você terá que participar de um Grupo Focal (filmado)

expondo sobre a sua participação na PJ e nos espaços de lideranças sócio-políticas

ao qual faz parte. Os dados coletados poderão fazer parte da monografia e ainda ser

divulgados e apresentados.

Riscos e desconfortos: Informamos que a participação nesta pesquisa não traz

complicações legais e nem oferece riscos e nem desconfortos, ou mesmo

constrangimentos. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos

Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução número

196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados

oferece riscos à sua dignidade.

Benefícios: Ao participar desta pesquisa o senhor (a) não terá nenhum benefício

direto. Entretanto, esperamos que este estudo possa proporcionar informações

importantes sobre o papel e importância da PJ na fomentação do protagonismo

juvenil e na formação de lideranças sócio-políticas, de forma que o conhecimento

que será construído a partir desta pesquisa possa trazer esclarecimentos e um

melhor conhecimento da realidade desta categoria.

Custo/Reembolso para o participante: Participar desta pesquisa não acarretará

custos ao entrevistado e nem rendas, ou seja, os participantes da pesquisa não

receberão qualquer espécie de reembolso, pagamento ou gratificação devido à

participação na pesquisa.

Confidencialidade da pesquisa: Garantimos o total sigilo que assegure a

privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa,

informando que somente serão divulgados dados diretamente relacionados aos

objetivos da pesquisa.

Assinatura do pesquisador responsável: ________________________________

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ANEXO A2 – Termo de consentimento livre e esclarecido e de concessão de

uso de imagem.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO E DE

CONCESSÃO DE USO DE IMAGEM

Eu, _________________________________________________________,

RG, ______________________, declaro que li as informações contidas nesse

documento e fui devidamente informado (a) pelo pesquisador Henrique Manoel

Carvalho Silva, RG: 40.191.109-3 e RA: 1.624.903, dos procedimentos que serão

utilizados, riscos e desconfortos, benefícios, custo/reembolso dos participantes,

confidencialidade da pesquisa, concordando ainda em participar da pesquisa.

Declaro anda cedente para os devidos fins de direito, que autorizo utilizar-se, a título

gratuito, da minha imagem, para desenvolvimento da pesquisa.

Foi-me garantido que posso retirar o consentimento a qualquer momento,

sem que isso leve a qualquer penalidade. Declaro ainda que recebi uma cópia desse

Termo de Consentimento livre e esclarecido e de concessão de uso de imagem..

Local e Data: ________________________________________________________

Nome por extenso: ___________________________________________________

Assinatura: _________________________________________________________

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ANEXO B – Termo de responsabilidade – Regulamento para empréstimo de

equipamentos e/ou acessórios – Laboratório de Rádio & TV – UNISA.

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APÊNDICE A – Roteiro (cronograma) para a realização da pesquisa de campo – Grupo Focal.

Roteiro (cronograma) para a realização da pesquisa de campo – Grupo Focal.

1) Apresentação do trabalho, proposta e objetivos da pesquisa.

2) Distribuição dos termos e formulários de concordância.

3) Realização de apresentação pessoal no grupo.

4) Roteiro de questões que visam conhecer a participação/experiências dos

sujeitos e seu protagonismo na Pastoral da Juventude. Início da conversa/debate.

(Apêndice B)

5) Agradecimentos e distribuição de “lembrancinhas” (“kit pejoteiro”).

6) Encerramento com um lanche.

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APÊNDICE B – Roteiro de questões que visam conhecer a participação e

experiências dos sujeitos e seu protagonismo na Pastoral da Juventude.

Roteiro de questões que visam conhecer a participação e experiências dos

sujeitos e seu protagonismo na Pastoral da Juventude.

1) Comentem sobre o significado da PJ, quando iniciou a participação, o que os

levou a essa participação e quais experiências/vivências foram ou são importantes

nas vidas de cada um de vocês.

2) Façam um resumo sobre as funções que exercem na PJ, em qual instância, se

ainda participa, se não, quais os motivos e porque começou a participar da PJ?

3) Façam uma análise crítica em qual sentido a PJ tem colaborado para a militância

atual ou posterior.

4) De que forma as experiências acumuladas na PJ são compartilhadas com outros

espaços sócio-políticos (ex.: movimentos sociais) de jovens do ponto de vista das

suas experiências.

5) Vocês avaliam que a PJ vem colaborando para o protagonismo juvenil, façam

uma análise crítica dessa questão e como você se sente atualmente.

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APÊNDICE C – Questionário complementar para pesquisa de campo (Coleta de

informações e dados).

Questionário complementar para pesquisa de campo - Coleta de informações e

dados com os sujeitos da pesquisa.

1 Identificação

1.1 Nome: __________________________________________________________

1.2 Origem (Município e Estado): ________________________________________

1.3 Data de Nascimento: _______/_________/_________ Idade: ______________

1.4 Sexo: Feminino (__) Masculino (__)

1.5 Estado Civil: ______________________________________________________

1.6 Escolaridade: _____________________________________________________

1.7 Trabalha: Sim (__) Não (__) Profissão/Área: _______________________

2 Contatos

2.1 Endereço (completo): _______________________________________________

___________________________________________________________________

2.2 Telefone / Celular: _________________________________________________

2.3 E-mail: __________________________________________________________

3 Dentro da temática da pesquisa

3.1 Participa de Grupo de Jovens? Sim (__) Não (__) Há quanto tempo? ________

3.2 Qual o grupo? (sigla / nome) ________________________________________

___________________________________________________________________

3.3 Onde fica? (bairro, comunidade, paróquia, diocese): _____________________

___________________________________________________________________

3.4 Qual a sua função no grupo? ________________________________________

3.5 Participa de algum outro espaço / movimento? Qual? _____________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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3.6 O que você entende por Pastoral da Juventude (PJ)? ____________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3.7 O que a PJ significa para você? Quais as principais influências recebeu? ____

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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___________________________________________________________________

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APÊNDICE D – Convite oficial para a participação dos sujeitos no Grupo Focal.

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APÊNDICE E – Convite oficial para assistir à apresentação da banca.