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A IMPORTÂNCIA DO PROGRAMA OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO COMO UMA POLÍTICA PÚBLICA DE FORMAÇÃO DOCENTE Resumo Pensando na importância da formação de professores, como uma política pública, que englobe - formação inicial; formação continuada e extensão e formação em pesquisa e divulgação científica - cria-se o Programa Observatório da Educação (OBEDUC). Esse Programa foi instituído pelo Decreto Presidencial nº 5.803, de 08 de junho de 2006, resultado da parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INEP. O programa tem, como finalidade, fomentar a produção acadêmica e a formação de recursos pós-graduados em educação, em nível de mestrado e doutorado, por meio de financiamento específico. Um ponto importante a ser ressaltado nesse Programa é a união de acadêmicos de graduação e de pós-graduação com os professores da Educação Básica, para, juntos, desenvolverem pesquisas. Diante do exposto, neste painel, apresentaremos três trabalhos que foram produzidos a partir dos dados coletados no projeto de pesquisa em rede vinculado ao Programa. O primeiro trabalho traz as contribuições do grupo de trabalho colaborativo na formação continuada a partir da parceria entre Universidade e Escola, apontando para uma valorização profissional dos professores da Educação Básica e dos alunos de graduação. O segundo trabalho aponta que a ação conjunta entre pesquisadores e professores da Educação Básica no projeto de pesquisa em rede, por meio da pesquisa colaborativa, possibilitou um processo de reflexão sobre aspectos ligados à prática docente, de modo a explorar uma nova situação ou ainda refletir sobre uma situação já vivenciada que desejavam compreender. E, finalizando, o terceiro trabalho traz um recorte de uma dissertação de mestrado desenvolvida no projeto de pesquisa em rede, que proporcionou ao professor refletir sobre a sua prática docente de sala de aula, por meio da espiral reflexiva ampliada e isso contribuiu para a formação continuada do professor de Matemática. Palavras-chave: Observatório da Educação. Políticas Públicas. Formação de Professores XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 5614 ISSN 2177-336X

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A IMPORTÂNCIA DO PROGRAMA OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO

COMO UMA POLÍTICA PÚBLICA DE FORMAÇÃO DOCENTE

Resumo

Pensando na importância da formação de professores, como uma política pública, que

englobe - formação inicial; formação continuada e extensão e formação em pesquisa e

divulgação científica - cria-se o Programa Observatório da Educação (OBEDUC). Esse

Programa foi instituído pelo Decreto Presidencial nº 5.803, de 08 de junho de 2006,

resultado da parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – CAPES e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira – INEP. O programa tem, como finalidade, fomentar a produção acadêmica e a

formação de recursos pós-graduados em educação, em nível de mestrado e doutorado,

por meio de financiamento específico. Um ponto importante a ser ressaltado nesse

Programa é a união de acadêmicos de graduação e de pós-graduação com os professores

da Educação Básica, para, juntos, desenvolverem pesquisas. Diante do exposto, neste

painel, apresentaremos três trabalhos que foram produzidos a partir dos dados coletados

no projeto de pesquisa em rede vinculado ao Programa. O primeiro trabalho traz as

contribuições do grupo de trabalho colaborativo na formação continuada a partir da

parceria entre Universidade e Escola, apontando para uma valorização profissional dos

professores da Educação Básica e dos alunos de graduação. O segundo trabalho aponta

que a ação conjunta entre pesquisadores e professores da Educação Básica no projeto de

pesquisa em rede, por meio da pesquisa colaborativa, possibilitou um processo de

reflexão sobre aspectos ligados à prática docente, de modo a explorar uma nova situação

ou ainda refletir sobre uma situação já vivenciada que desejavam compreender. E,

finalizando, o terceiro trabalho traz um recorte de uma dissertação de mestrado

desenvolvida no projeto de pesquisa em rede, que proporcionou ao professor refletir

sobre a sua prática docente de sala de aula, por meio da espiral reflexiva ampliada e isso

contribuiu para a formação continuada do professor de Matemática.

Palavras-chave: Observatório da Educação. Políticas Públicas. Formação de

Professores

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

5614ISSN 2177-336X

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CAMINHOS DA PESQUISA E DA FORMAÇÃO NO PROJETO

OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO – OBEDUC – NÚCLEO UFMS

Patrícia Sandalo Pereira

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Edinalva da Cruz Teixeira Sakai

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Paulo Sakai de Souza

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Resumo

O presente artigo traz alguns resultados das pesquisas desenvolvidas pelos integrantes

do Núcleo UFMS, no projeto de pesquisa em rede aprovado no Edital nº 049/2012 do

Programa Observatório da Educação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (Capes), intitulado: “Trabalho colaborativo com professores que

ensinam Matemática na Educação Básica em escolas públicas das regiões Nordeste e

Centro-Oeste”. Este projeto de pesquisa envolveu a Universidade Federal de Mato

Grosso do Sul – UFMS (Campo Grande), a Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

(Campina Grande) e a Universidade Federal de Alagoas – UFAL (Maceió), com o

objetivo de propiciar, por meio de práticas colaborativas, a reflexão dos professores

acerca do trabalho didático/pedagógico e desencadear ações educativas voltadas para a

sala de aula. Nas últimas duas décadas, temos visto o despontar do termo colaboração,

seja na pesquisa ou em contextos de formação docente. Diante disso, estudos vêm

apontando para uma nova concepção de pesquisa - a pesquisa colaborativa. Neste

trabalho, com uma abordagem qualitativa, utilizamos como referenciais teóricos e

metodológicos os pressupostos da pesquisa colaborativa fundamentados em Desgagné

(2007), Ibiapina (2008), Liberali (2004), Ibiapina e Magalhães (2012), Ferreira e

Ibiapina (2011) e Ferreira (2012). A pesquisa colaborativa diferencia-se de outras

metodologias pelo seu caráter participativo, colaborativo e reflexivo, ou seja, tem uma

dupla identidade: a pesquisa e a formação. Os resultados evidenciaram que a ação

conjunta entre pesquisadores e professores da Educação Básica possibilitaram a

ampliação e a produção de conhecimentos no campo educacional, que serviram de base

para subsidiar o desenvolvimento de práticas docentes voltadas para a Educação

Matemática, visando às melhorias do ensino e da aprendizagem da Matemática, bem

como para a formação continuada dos partícipes.

Palavras-chave: Formação Continuada de Professores. Observatório da Educação.

Pesquisa Colaborativa.

Introdução

Nos últimos tempos, mais precisamente, nas últimas duas décadas, temos visto o

despontar do termo colaboração, seja na pesquisa ou em contextos de formação

docente. Estudos vêm apontando para uma nova concepção de pesquisa - a pesquisa

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

5615ISSN 2177-336X

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colaborativa - que alia, ao mesmo tempo, a produção de conhecimentos e o

desenvolvimento profissional de pesquisadores e docentes, assinalando para uma

aproximação entre o mundo da pesquisa e o mundo escolar. (IBIAPINA, 2008;

LIBERALI, 2004; FERREIRA, 2012; MAGALHÃES, 2009).

A pesquisa colaborativa diferencia-se de outras metodologias pelo seu caráter

participativo, colaborativo e reflexivo, ou seja, tem uma dupla identidade: pesquisa e

formação.

Ferreira e Ibiapina (2011) deixam claro essas particularidades ao afirmarem

que,

[...] o foco da pesquisa colaborativa é a vida real do professorado, bem

como do processo educativo e as relações estabelecidas pelos

professores e pesquisadores como sujeitos da história que constroem

no desenvolvimento da atividade docente, tornando-os mais

consciente do contexto no qual estão inseridos, alicerçados por visão e

compreensão crítica das suas atuações. Por conseguinte, pesquisar, na

proposta colaborativa, implica refletir sobre o agir e sobre as teorias

que lhe servem de esteio, como também criar formas de interpretá-los

e transformá-los. (FERREIRA; IBIAPINA, 2011, p. 122)

Para além de uma aproximação e mediação entre a comunidade de pesquisa e a

escolar, a abordagem colaborativa requer, nesse processo, partir dos pontos de vista de

seus partícipes e das reflexões críticas sobre a sua prática, ou seja,

[...] mudar o sistema de relações entre pesquisador e pesquisado com

posturas que visam a criar condições para pesquisadores e professores

trabalharem de forma compartilhada e, conjuntamente,

compreenderem e transformarem o agir e a teoria que fundamente a

atividade docente. (FERREIRA; IBIAPINA, 2011, p. 122)

Este artigo traz alguns resultados das pesquisas desenvolvidas pelos integrantes

do Núcleo UFMS, no projeto de pesquisa em rede aprovado no Edital nº 049/2012 do

Programa Observatório da Educação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (Capes), intitulado: “Trabalho colaborativo com professores que

ensinam Matemática na Educação Básica em escolas públicas das regiões Nordeste e

Centro-Oeste”. Este projeto está vinculado ao Grupo de Pesquisa FORMEM -

Formação e Educação Matemática, que tem, como linha de pesquisa, a Formação de

Professores, cujo objetivo é investigar sobre a formação docente em seus diferentes

espaços e níveis educativos.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

5616ISSN 2177-336X

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O projeto OBEDUC no Núcleo UFMS foi constituído a partir da perspectiva

colaborativa, tendo como partícipes mestres, mestrandos, licenciandos de Matemática,

professores da Educação Básica, além da coordenadora institucional.

Sendo assim, o objetivo deste artigo é apresentar alguns resultados da ação

conjunta, via projeto OBEDUC, entre pesquisadores e professores da Educação Básica.

A pesquisa e a formação no Projeto OBEDUC- Núcleo UFMS

Nas últimas décadas, na perspectiva de melhorar a qualidade da educação,

algumas políticas públicas educacionais foram implementadas pelo governo federal, o

qual lançou várias ações visando atender tanto a demanda de formação inicial, em nível

superior exigida por Lei, quanto a formação continuada. Essas políticas têm objetivado

regular e orientar os sistemas de ensino, contribuindo com o processo formativo e

viabilizando tanto aos futuros professores quanto aos professores em exercício

construir, repensar e aprimorar as suas práticas, de modo que a teoria e a prática

coadunem-se em um processo de transformação levando à práxis.

No rol destas iniciativas governamentais voltadas a formação de professores,

queremos destacar uma das mais recentes, o Programa Observatório da Educação

(OBEDUC), cujo objetivo é fortalecer o diálogo entre as Universidades, as políticas

nacionais de Educação e todos os envolvidos no processo educacional. Logo, nesse

Programa, insere-se o projeto de pesquisa em rede.

No campo de estudos e discussões sobre a formação de professores, Gatti

(2003) aborda esse conceito como um processo histórico e socialmente construído, o

que implica necessariamente considerar o professor como um sujeito imbuído de

realidades instáveis, “em função de complexos processos não apenas cognitivos, mas,

socioafetivo e culturais”. (GATTI, 2003, p. 192).

É preciso ver os professores não como seres abstratos, ou

essencialmente intelectuais, mas, como seres essencialmente sociais,

com suas identidades pessoais e profissionais, imersos numa vida

grupal na qual partilham uma cultura, derivando seus conhecimentos,

valores e atitudes dessas relações, com base nas representações

constituídas nesse processo que é, ao mesmo tempo, social e

intersubjetivo. (GATTI, 2003, p. 196)

.

Ao tratarmos especificamente da formação continuada de professores, cabe

ressaltar que muitas das políticas voltadas a essa formação têm se mostrado ineficazes,

pois, segundo Gatti (2003), as suas ações não têm considerado o fato de que os

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5617ISSN 2177-336X

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professores “são pessoas integradas a grupos sociais de referência nos quais se gestam

concepções de educação, de modos de ser, que se constituem em representações e

valores que filtram os conhecimentos que lhes chegam” (GATTI, 2003, p. 192). Logo,

ao desconsiderar esses fatores, tem-se uma concepção limitada de que:

[...] o aumento e a melhoria do rol de conhecimentos informativos,

adquiridos individualmente, será suficiente para melhorar ou

modificar conceitos e práticas ligados ao trabalho profissional de

professores. (GATTI, 2003, p. 196)

Corroborando com essa discussão, Nóvoa (1995) afirma que,

[...] a formação não se constrói por acumulação (de cursos, de

conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de

reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente

de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa

e dar um estatuto ao saber da experiência (NÓVOA, 1995, p. 25).

Nesta perspectiva, a prática docente cotidiana dos professores ganharia status

de “problema e objeto principal de estudo e reflexão” (FIORENTINI; NACARATO,

2005, p. 8), reconhecendo a escola como espaço privilegiado na formação de seus

profissionais.

Podemos observar, nesse cenário, que muitas pesquisas voltadas para a

formação continuada de professores têm se pautado em programas que privilegiam a

parceria entre escolas e universidades. Essas pesquisas desenvolvem ações conjuntas,

buscando atender as necessidades do docente em seu lócus de atuação profissional: a

sala de aula, viabilizando a constituição de espaços formativos que valorizam a reflexão

desses professores acerca da sua prática. Pesquisadores como Fiorentini (2009), Ferreira

(2003), Nacarato (2005) e Sousa (2013) têm defendido essas parcerias, propondo a

constituição de grupos de trabalho dentro das escolas. Esses pesquisadores veem a

escola e o trabalho colaborativo como instâncias do desenvolvimento dos professores,

por proporcionarem condições de formação permanente, compartilhamento de

experiências e busca de soluções para os problemas que emergem do contexto escolar.

Neste sentido, iniciativas educacionais mais recentes têm aliado em um mesmo

projeto, pesquisa e formação, como é o caso do Projeto em rede OBEDUC que foi

desenvolvido no Núcleo UFMS.

Desgagné (2007) esclarece-nos que um projeto de pesquisa colaborativa não

apenas constrói-se sobre uma dupla identidade, pesquisa e formação, mas também que

essas dimensões podem ser conduzidas em paralelo, como explicita:

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5618ISSN 2177-336X

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Decerto, partindo do pivô central que constitui a démarche de reflexão

conjunta, ou de co-construção, realizada pela interação entre

pesquisador e docentes, o projeto vai se articular de duas formas: a)

como um projeto de aperfeiçoamento para os docentes que desejarem

questionar ou explorar um aspecto de sua prática profissional; b) como

um projeto de pesquisa, cujo objeto se constitui numa preocupação

para o pesquisador. (DESGAGNÉ, 2007, p. 15)

Segundo o autor, essa dupla identidade é exigência do próprio conceito de

colaboração, pois, esse conceito supõe a possibilidade de interação e engajamento de

cada partícipe a partir das suas preocupações, das suas necessidades e dos seus

respectivos interesses. Portanto, no interior desse processo de reflexão e de

compreensão acerca de uma determinada situação prática, a pesquisa colaborativa supõe

a co-construção de um objeto de conhecimento entre pesquisador e docentes.

A pesquisa colaborativa, segundo Ibiapina (2008), é uma abordagem de pesquisa

que alia investigação e formação em processos de compreensão, interpretação e

transformação de realidades sociais. A autora, em concordância com Desgagné (2007),

reafirma que a ideia da colaboração, na construção de conhecimentos entre

pesquisadores e professores ligados às práticas de ensino, surge a partir da constatação

de um distanciamento entre o mundo da pesquisa e o mundo da prática. E isso decorre

devido ao fosso existente entre universidade e escola, entre teoria e prática. Esses

autores enfatizam que

[...] os conhecimentos construídos sobre a prática, sob a

responsabilidade das universidades e de suas faculdades de educação,

não são transpostos para a escola, não ajudando, assim, os professores

a melhor enfrentar a complexidade das situações educativas que eles

se confrontam cotidianamente. (IBIAPINA, 2008, p. 15).

Portanto, dessa constatação, pode–se evocar a importância da abordagem

colaborativa no campo da educação, pois, para que ela efetive-se, o professor da escola

necessita “estar junto”, negociando sentidos e significados. Neste sentido, a pesquisa

colaborativa contribui para o processo de produção de conhecimentos e para a formação

de professores, objetivando a transformação das realidades concretas educacionais.

A consequência de tal perspectiva de pesquisa é que o projeto de colaboração põe o

pesquisador em situação de co-construção com os docentes, podendo ser visto,

simultaneamente, como uma atividade de pesquisa e de formação. Com efeito, aliar-se

aos professores para co-construir um objeto de conhecimento é também fazê-los entrar

em um processo de aperfeiçoamento.

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5619ISSN 2177-336X

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Percursos Metodológicos

Para a realização desta pesquisa de cunho investigativo qualitativo,

primeiramente, estabelecemos uma parceria com os professores da Educação Básica. O

grupo de trabalho colaborativo – núcleo UFMS contou com a participação de 16

integrantes, sendo formado por: um professor universitário (coordenador institucional),

estudantes de pós-graduação (mestrado acadêmico), estudantes de graduação

(Licenciatura em Matemática) e professores da Educação Básica (rede pública). Os

encontros realizaram-se quinzenalmente na sala do Laboratório do Grupo de Pesquisa

FORMEM, na unidade VII da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Os encontros colaborativos dos integrantes do Núcleo UFMS oportunizaram

um espaço formativo, no qual a participação de professores da Educação Básica em

processos de pesquisa possibilitou confronto de concepções teóricas e práticas

educativas. Segundo Ibiapina (2008), a importância de pesquisar-se colaborativamente é

que esta privilegia processos de intervenção que visam transformar determinadas

realidades e emancipar os indivíduos que dela participam, conforme explicita,

[...] colaboração não significa cooperação, tampouco participação,

significa oportunidade igual e negociação de responsabilidades, em

que os partícipes têm voz e vez em todos os momentos da pesquisa.

Esses momentos são gerados por meio da mútua concordância e de

relações mais igualitárias e democráticas voltadas para o

desenvolvimento de novos conhecimentos, novas compreensões e

possibilidades de ação. (IBIAPINA, 2008, p. 18)

Portanto, por meio das interações, realizamos um trabalho colaborativo a partir

do Projeto em rede OBEDUC, estabelecendo uma relação de respeito mútuo, confiança

e diálogo, de modo a conduzir cada participante a conversar, negociar e analisar as

situações envolvidas na comunidade escolar. Segundo as autoras Ferreira e Ibiapina

(2011), essas possibilidades de interações implicam a constituição de parceiros em

atividades, negociando sentidos e produzindo significados, tendo a pesquisa como

mediadora desse processo.

Análise dos dados

Considerando que o objetivo principal é evidenciar como a ação conjunta entre

pesquisadores e professores da Educação Básica possibilitou, durante o

desenvolvimento do projeto, a formação e a ampliação de conhecimentos.

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5620ISSN 2177-336X

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Neste viés, corroboramos com Ibiapina (2008) quando afirma que colaborar

não significa a participação de todos nas mesmas tarefas e nem com a mesma

intensidade, “mas que, sobre a base de um projeto comum, cada partícipe preste sua

contribuição específica, isto é, contribua para beneficiar esse projeto” (IBIAPINA,

2008, p. 32). Assim, faz-se necessário o conhecimento dos participantes do grupo de

trabalho colaborativo. No entanto, neste artigo, destacaremos dois professores que

chamaram a atenção no grupo de trabalho colaborativo.

Um professor enfatizou a sua necessidade em aprender, conforme podemos

observar no fragmento a seguir.

[...] comecei o curso de matemática aos 41 anos com a determinação

de nunca ficar em dependência em nenhuma disciplina para não

acabar desistindo. (PROF A)

Podemos perceber, no fragmento anterior, que existiram dificuldades e

inúmeros desafios. No entanto, não foi empecilho para que o professor se sentisse

motivado a continuar a caminhada acadêmica. Isso fica explicito quando o professor

relata o seu caminho percorrido.

[...] cada um de nós tem nossa trajetória, temos uma maneira de

pensar, ser e agir. Viemos de famílias diferentes, de pais e mães

diferentes, que vieram de uma cultura diferenciada, então cada um tem

sua história, sua trajetória, sua maneira de ver a vida, de levar, mas,

todos nós temos um objetivo. (PROF A)

Esse objetivo é evidenciado e, aqui, denominamos de necessidade formativa,

pelo qual fica explícito o motivo de buscar a formação continuada, visando ao

aprimoramento de suas ações pedagógicas.

[...] a formação continuada, quando foi para eu vir participar da

primeira reunião do grupo de trabalho colaborativo, eu já estava me

vendo nisso [...]. Quando eu li a LDB na Universidade, eu me senti

cobrado. E, esse projeto tem tudo a ver, justamente porque faz o

professor refletir, discutir, trocar experiências. (PROF A)

A partir desse fragmento, podemos dizer que a formação continuada exige um

mergulho tanto no conhecimento teórico quanto no mundo da experiência, visando

desvelar os interesses que servem as ações sociais, oferecendo mais autonomia para os

professores (re) construírem o contexto social em que estão inseridos.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

5621ISSN 2177-336X

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Assim, com a participação desse professor no grupo de trabalho colaborativo

foi possível percebermos o desenvolver docente, mediante o diálogo estabelecido entre

os pares, quando evidencia a sua concepção de formação continuada.

A formação continuada tem entre outros objetivos propor novas

metodologias e colocar os profissionais a par das discussões teóricas

atuais, possibilitando aos professores refletir sobre suas práticas, na

tentativa de mudança, sempre para melhor. (PROF A)

Neste contexto, a formação continuada assume um papel que transcende o

ensino que pretende uma mera atualização científica, pedagógica e didática e

transforma-se na possibilidade de criar espaços de participação, reflexão, formação e

pesquisa para que as pessoas aprendam e adaptem-se para poder conviver com a

mudança e com a incerteza.

Segundo Imbernón (2005), é essencial formar o professor na e para a mudança,

por meio do desenvolvimento de capacidades reflexivas em grupo e abrir caminho para

a verdadeira autonomia profissional, já que a profissão docente precisa partilhar o

conhecimento do contexto real. Nesta perspectiva, outro professor do grupo de trabalho

colaborativo explicita que,

[...] ajudar o outro, saber ouvir o companheiro é fundamental no

processo de uma formação continuada de forma colaborativa. Temos

que nos unir para que se estabeleça a parceria Universidade e a

Escola, pois, todos nós fazemos parte da Educação. (PROF B)

Percebemos que os caminhos para uma formação continuada pautada em

necessidades reais, em motivações concretas, produzem conhecimentos a partir da

relação teoria-prática. Isso porque, como afirma Ibiapina (2011, p. 237), "[...]. A

pesquisa, a colaboração e a reflexão fazem parte de esforços amplos para transformar o

ensino, a aprendizagem, a universidade e a própria sociedade". O que fica evidente nas

falas dos professores, conforme podemos observar nos fragmentos apresentados a

seguir.

[...] acredito que adquirimos isso ao longo da carreira profissional, dos

acertos, dos erros e das trocas de conhecimentos através de pesquisas.

É claro, que para isso acontecer é, sem dúvida alguma, necessário que

nós, professores, tenhamos espírito investigativo. (PROF A)

Desta forma, acredito que a sequência adotada em nosso grupo de

trabalho colaborativo tem sido estudo, pesquisa e reflexão sobre o que

se ensina e como se ensina, sobre os êxitos, os fracassos e há

necessidade de mudanças nos métodos de ensino individuais ou até

mesmo nos métodos adotados pela instituição escolar. E, finalmente, a

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5622ISSN 2177-336X

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prática, onde teremos a oportunidade de ver os resultados, e sendo

estes satisfatórios ou não, começar tudo de novo. (PROF B)

Podemos perceber que os professores compreenderam a importância da

pesquisa colaborativa para os seus processos de formação continuada, os quais ficam

evidentes nos efeitos positivos produzidos que foram desenvolvidos em sua práxis

docente.

[...] formar o professor investigador na escola, quer dizer que ele já

está no ambiente de trabalho. Então, o professor na escola,

trabalhando lá, é o investigador, no sentido de investigar sua própria

prática, refletir sobre aquilo que ele está desenvolvendo, o que ele

trabalha, da forma que ele trabalha, das dificuldades que ele enfrenta.

(PROF A)

[...] investigar a própria prática, refletir sobre a maneira de trabalhar e

as dificuldades que apresentam lá na sala de aula. E, as possibilidades

da pesquisa colaborativa de se trabalhar possibilitam a mudança do

comportamento do professor [...]. (PROF B)

Logo, podemos notar a importância da pesquisa e da formação na metodologia

de pesquisa colaborativa, pois, quando um professor evidencia que “a formação é isso

aí, a melhoria da ação pedagógica”, faz-nos refletir o quanto podemos aprender juntos

nos diferentes espaços formativos e elucidar que o docente, com seu papel de formador

social, pode adequar-se à realidade atual, desde que entenda as mudanças educacionais

e a evolução tecnológica, ou seja, deve ser um constante pesquisador, crítico e reflexivo.

Diante do exposto, foi possível observarmos o engajamento dos professores.

Corroboramos com Ibiapina, Ribeiro e Ferreira (2007), quando nos chamam a atenção

para o fato de que é necessário que o pesquisador compreenda que:

O que será, antes de tudo, solicitado aos docentes é o seu engajamento

no processo de reflexão sobre determinado aspecto da prática,

processo que levará esses profissionais a explorar situação nova

associada à prática docente e a compreender teorias e hábitos não

conscientes, para, com base na reflexividade, construir entendimento

das determinações históricas e dos viéses ideológicos que ancoram a

prática escolar, contribuindo, assim, para concretização dos ideais de

formação e desenvolvimento profissional e de produção de teorias

mais próximas dos anseios sociais de mudança da sala de aula, da

escola e da sociedade. (IBIAPINA; RIBEIRO; FERREIRA, 2007, p.

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Nesta perspectiva, podemos afirmar que o engajamento dos professores, no

grupo de trabalho colaborativo, apresentou-se como um ato volitivo, no qual assumiram

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5623ISSN 2177-336X

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o compromisso de refletir sobre a sua prática, (re) elaborando saberes que modificarão o

seu saber-fazer pedagógico, tornando-se um pesquisador de sua própria prática.

Considerações Finais

Partindo dos pressupostos da pesquisa colaborativa, aqui explicitados e

amplamente estudados em nosso grupo de trabalho colaborativo, por meio dos

encontros realizados, constituímos um espaço formativo. Esse espaço delineou-se a

partir da participação ativa, consciente e deliberada de todos os partícipes, em que as

decisões, as ações, as análises e as reflexões foram construídas coletivamente por meio

das discussões do grupo. Desse modo, ao participarem desse processo, pesquisadores e

professores foram levados a refletir sobre as práticas e sobre as teorias que as sustentam,

além de criar formas de interpretá-las e transformá-las.

Neste sentido, a partir da natureza do projeto em rede OBEDUC, a participação

dos professores junto com os pesquisadores, em um processo de reflexão sobre aspectos

ligados à sua prática docente, possibilitou explorar uma nova situação, ou ainda refletir

sobre uma situação já vivenciada e que desejavam esclarecer, compreender e, até

mesmo, melhorar.

Ao finalizar o projeto em rede OBEDUC, podemos esboçar um caminho que

não é definitivo, pois, a partir das nossas interações no grupo de trabalho colaborativo,

compreendemos que esse caminhar não se findou. Foram muitas as contribuições que se

efetivaram, não apenas em nossa prática docente e pedagógica, mas também podemos

concluir que houve uma transformação, pois rompemos com as posturas profissionais

dos professores, que julgavam já estar consolidadas.

É importante ressaltar que, dos dezesseis participantes do Núcleo UFMS, cinco

professores da Educação Básica ingressaram no Programa de Pós-Graduação em

Educação Matemática da UFMS, sendo quatro no Mestrado e um no Doutorado.

O projeto em rede OBEDUC propiciou aos integrantes do Núcleo UFMS

participar de Encontros, de Seminários e de Congressos, com apresentações de

trabalhos, além de publicações de artigos e capítulos de livros.

Enfim, a partir de nossas análises, os resultados foram bastante expressivos e

evidenciaram que a ação conjunta entre pesquisadores e professores da Educação Básica

possibilitou a ampliação e a produção de conhecimentos no campo educacional, que

serviram de base para subsidiar o desenvolvimento de práticas docentes voltadas para a

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Educação Matemática, visando às melhorias do ensino e da aprendizagem matemática,

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COLABORAÇÃO COM VISTAS À VALORIZAÇÃO DOCENTE POR MEIO DA

PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA

Kely Fabricia Pereira Nogueira

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)

Susimeire Vivien Rosotti de Andrade

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

Resumo

Quando paramos para refletir sobre o processo educacional, precisamos compreender

que esse processo envolve uma variedade de contextos, que devem ser observados à luz

da realidade em que o sujeito está inserido. Logo, discutir sobre o processo formativo

dos profissionais do magistério da educação básica de Matemática é elucidar que a

Universidade e a Escola Básica fazem parte desse contexto, no qual se constituem

parcerias, que possibilitam a reflexão e a interação entre os pares, materializando-se na

valorização desses sujeitos. No âmbito educacional, é notório o esforço do Ministério da

Educação para minimizar o abismo que separa a Universidade da Escola, através das

políticas públicas que fortaleçam a Educação Básica. Neste sentido, este artigo analisa

alguns resultados do projeto de pesquisa em rede, aprovado no Edital 049/2012, do

Programa Observatório da Educação da Capes, intitulado “Trabalho colaborativo com

professores que ensinam Matemática na Educação Básica em escolas públicas das

regiões Nordeste e Centro-Oeste”. Tem como objetivo apontar as contribuições do

grupo de trabalho colaborativo na formação continuada, a partir, da parceria entre

Universidade e Escola. Para isto, nos pautamos na socialização realizada pelos

integrantes do grupo, durante os momentos de formação. Os participantes do grupo de

trabalho colaborativo são professores da Educação Básica, alunos de pós-graduação e

alunos de graduação. Tomamos como base o diálogo dos professores da Educação

Básica e dos licenciandos, estabelecendo uma relação de respeito mútuo, confiança e

diálogo, de modo a conduzir cada participante a conversar, negociar e analisar as

situações envolvidas na comunidade escolar. A investigação teve uma abordagem

qualitativa, na qual as dinâmicas dos encontros basearam-se em textos sobre temas que

surgiram das falas percebidas nas discussões do grupo. Os resultados apontam indícios

de contribuição para a valorização profissional dos professores da Educação Básica e

dos alunos de graduação, estabelecidas pela parceria realizada.

Palavras-chave: Valorização docente; Formação Continuada; Observatório da

Educação.

Introdução

Quando paramos para refletir sobre o processo educacional, precisamos

compreender que esse processo envolve uma variedade de contextos, que devem ser

observados à luz da realidade na qual o sujeito está inserido. Logo, discutir sobre

Educação, mais especificadamente, sobre o processo formativo dos profissionais do

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magistério da educação básica de Matemática é elucidar, que a Universidade e a Escola

Básica fazem parte desse contexto, no qual se constituem parcerias que possibilitam a

reflexão e a interação entre os pares, materializando-se na valorização desses sujeitos.

Os profissionais do magistério da Educação Básica a que estamos nos referindo são os

licenciandos e os professores de Matemática – com base na Resolução Nº 2, de 1 de

julho de 2015 e no Parecer CNE/CP Nº 2/2015.

Tal parceria torna-se explicita em quase todo o Parecer do CNE/CP 2/2015,

quando enfatiza a “articulação entre educação superior e educação básica em regime de

colaboração” (BRASIL, 2015, p. 4), que vem a reafirmar tal importância do Programa

Observatório da Educação, possibilitando a interação entre os pares, diálogo,

cumplicidade e, acima de tudo, comprometimento nos processos formativos.

Este artigo traz resultados finais do projeto de pesquisa em rede, aprovado no

Edital 049/2012, do Programa Observatório da Educação da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), intitulado: “Trabalho

colaborativo com professores que ensinam Matemática na Educação Básica em escolas

públicas das regiões Nordeste e Centro-Oeste”. Este projeto está vinculado ao Grupo de

Pesquisa FORMEM - Formação e Educação Matemática, que tem como linha de

pesquisa a Formação de Professores, cujo objetivo é investigar a formação docente em

seus diferentes espaços e níveis educativos.

O Programa Observatório da Educação (OBEDUC) constitui-se em uma parceria

entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Assim, o projeto em rede, OBEDUC, foi constituído a partir da perspectiva

colaborativa, assumindo, como estratégia metodológica a constituição de um grupo de

trabalho colaborativo. Envolve doutores, mestres, mestrandos e licenciandos de

Matemática, além dos professores de Matemática da Educação Básica.

Os objetivos do grupo de trabalho colaborativo, como lugar de formação e

aprendizagem profissional da docência, são: promover processos de desenvolvimento

profissional docente; possibilitar aos professores explorar e questionar seus próprios

saberes e práticas e avaliar a contribuição do grupo para o enfrentamento e superação de

dificuldades apresentadas no desenvolvimento de suas práticas docentes, levando assim,

à valorização profissional dos sujeitos.

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Neste artigo, temos como objetivo apresentar as contribuições do grupo de

trabalho colaborativo na formação continuada, a partir, da parceria entre a Universidade

e a Escola.

Um olhar para as parcerias estabelecidas

No âmbito educacional, é notório o esforço do Ministério da Educação (MEC),

para minimizar o abismo que separa a Universidade da Escola através das políticas

públicas que fortaleçam a Educação Básica.

No Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2011-2020, em seu Art.

2º estabelece algumas diretrizes, tais como: a superação das desigualdades

educacionais; melhoria da qualidade do ensino; estabelecimento de meta de aplicação

de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto e a

valorização dos profissionais da educação.

Desta forma, quando nos referimos ao quesito de valorização, entendemos que

os profissionais da educação estariam motivados e comprometidos com os estudantes de

uma escola. O PNE evidencia que o estabelecimento de política de valorização dos

profissionais da educação em cada rede ou sistema de ensino é “fundamental para que a

política educacional se fortaleça” (BRASIL, 2010, p. 6).

Neste viés, o Programa Observatório da Educação (OBEDUC), que foi criado

com o propósito de fomentar a produção acadêmica e a formação de profissionais com

Pós-Graduação stricto sensu em Educação, também tem se apresentado como uma

política pública de formação e desenvolvimento profissional de professores da rede

pública.

Assim, percebe-se que as parcerias entre a Universidade e Escola Básica,

somente efetivar-se-ão, como evidencia Clark (1988), se forem criadas e sustentadas por

educadores que estão dispostos e capazes de encontrar recompensas pessoais na

satisfação dos autointeresses dos demais com os quais estão trabalhando - a relação

entre os pares e a interação em forma de diálogos reflexivos.

Corroborando com essa ideia, Maldaner (1997) pontua que existem algumas

condições iniciais que possibilitam essa parceria, na perspectiva de colaboração:

I) que haja professores disponíveis e motivados para iniciar um

trabalho reflexivo conjunto e dispostos a conquistar o tempo e local

adequados para fazê-los; [...] III) que os meios e os fins sejam

definidos e redefinidos constantemente no processo e de dentro do

grupo; IV) que haja compromisso de cada membro com o grupo; V)

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que a pesquisa do professor sobre a sua atividade se torne, com o

tempo, parte integrante de sua atividade profissional e se justifique

primeiro para dentro do contexto da situação e, secundariamente, para

outras esferas; [...] VII) que os professores universitários envolvidos

tenham experiência com os problemas concretos das escolas e

consigam atuar dentro do componente curricular objeto de mudança,

que pode ser interdisciplinar ou de disciplina única (MALDANER,

1997, p.11).

Mediante a todas essas ponderações, o Parecer CNE/CP 2/2015, pontua que a

formação de profissionais do magistério da educação básica tem se constituído em

campo de disputas de concepções, dinâmicas, políticas, currículos, entre outros.

Imbernón (2009) destaca que o empenho em entender como o professor

desenvolve-se profissionalmente tem sido o foco das pesquisas sobre a formação inicial

e continuada, com intuito de entender e mudar concepções de formação que não

favorecem o desenvolvimento, acrescenta, ainda, que “formar professores na mudança e

para a mudança por meio do desenvolvimento de capacidades reflexivas em grupo, é

abrir caminho para uma verdadeira autonomia compartilhada” (IMBERNÓN, 2009,

p.15).

Neste sentido, Zeichner (2010) sugere que esse aperfeiçoamento seja com a

articulação entre Universidade e Escola Básica, enfatizando que a:

[...] criação de espaços híbridos na formação de professores no qual o

conhecimento empírico e acadêmico e o conhecimento que existe nas

comunidades estão juntos de modos menos hierárquicos a serviço da

aprendizagem docente (ZEICHNER, 2010, p. 479).

Esse recorte nos dá indícios que pressupõe um caminho para o rompimento das

clássicas dicotomias presentes na educação, teoria/prática, professor/aluno,

pesquisa/extensão, conteúdo/método, universidade/escola, dentre outras. O que

implicaria a construção de espaços que possam possibilitar o desenvolvimento dos

processos de formação inicial ou continuada, de modo que, os profissionais do

magistério da educação básica de Matemática possam adquirir ou aperfeiçoar seus

conhecimentos, considerando tanto o conhecimento acadêmico, como o conhecimento

prático na promoção da aprendizagem profissional da docência.

No entanto, no caminhar para o desenvolvimento destes conhecimentos, o

processo da ação colaborativa, na qual todos os envolvidos têm vez e voz, abre um

leque de possibilidades:

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[...] de tomada de riscos para a visão negociada, motivada pelo desejo

de transformação, de produção de novas visões, crenças teóricas e

práticas. [...] também, questionamentos relacionando dialeticamente

práticas a teorias e a interesses a que servem [...] (MAGALHÃES;

LIBERALI, 2011, p. 301).

Com essa compreensão, desenvolver uma pesquisa colaborativa significa agir no

sentido de possibilitar que “os agentes partícipes tornem seus processos mentais claros,

expliquem, demonstrem, com objetivo de criar, para os outros partícipes, possibilidade

de questionar, expandir, recolocar o que foi posto em negociação” (MAGALHÃES,

2002, p. 28).

Assim, com essa cumplicidade e interação, Scheid; Soares e Flores (2009),

apresentam resultados positivos dessa parceria e evidenciam os seguintes aspectos:

[...] Inicialmente, a inserção de acadêmicos na escola de educação

básica é de grande valia para os mesmos, considerando que lhes

possibilita entrar em contato com a realidade escolar, dinamizando sua

formação profissionalizante inicial, construindo uma postura docente

crítica em constante transformação para os professores já em

exercício, oportuniza a formação continuada, pois ao interagir com o

mundo acadêmico, aperfeiçoam sua atuação no ensino; e para a escola

e a sociedade, representa uma alternativa de melhoria da educação que

poderá garantir a formação de cidadãos com uma educação científica

adequada aos desafios atuais (SCHEID; SOARES; FLORES, 2009,

p.72).

Percebemos então, que tais espaços podem permitir a construção e partilha de

conhecimentos que sejam de interesse tanto da universidade, quanto da escola básica.

Neste sentido, faz-se necessário compreender a formação dos profissionais do

magistério da educação, “na perspectiva social e alçada ao nível da política pública,

tratada como direito, superando o estágio das iniciativas individuais para

aperfeiçoamento próprio, por meio da articulação entre formação inicial e continuada

[...]” (BRASIL, 2015, p.8).

Tal documento, ainda, reafirma como princípios da formação inicial e

continuada, dentre eles iremos citar alguns:

[...] V - a articulação entre a teoria e a prática no processo de

formação docente, fundada no domínio de conhecimentos científicos e

didáticos, contemplando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e

extensão; VI - o reconhecimento das instituições de educação básica

como espaços necessários à formação inicial dos profissionais do

magistério; [...] IX - a articulação entre formação inicial e formação

continuada, bem como entre os diferentes níveis e modalidades de

educação básica; [...] (BRASIL, 2015, p.23).

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Com este olhar, autores como Contreras (2002), Imbernón (2009) e Libâneo

(2010) argumentam que a formação inicial e continuada dos professores deve

possibilitar aproximação dos diferentes conhecimentos necessários para sua atuação

profissional.

Procedimentos Metodológicos

Para a realização desta pesquisa de cunho investigativo qualitativo,

primeiramente, estabeleceu-se uma parceria com os professores da Educação Básica. O

grupo de trabalho colaborativo – Núcleo UFMS - contou com a participação de

dezesseis integrantes, sendo formado por: um professor universitário (coordenador

institucional), estudantes de pós-graduação (mestrado acadêmico), estudantes de

graduação (Licenciatura em Matemática) e professores da Educação Básica (rede

pública). Os encontros foram realizados quinzenalmente na sala do Laboratório do

Grupo de Pesquisa FORMEM – Formação e Educação Matemática -, na unidade VII da

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Esses encontros colaborativos

oportunizaram aos integrantes do grupo compartilhar um pouco de si, acreditar em si e

perceberem que a interação possibilita discutir nossas inquietações.

Segundo Ibiapina (2008):

[...] investigadores e professores tanto em processos de produção de

conhecimentos, quanto de desenvolvimento interativo da própria

pesquisa, haja vista que o trabalho colaborativo faz com que professores e

pesquisadores produzam saberes, compartilhando estratégias que

promovem desenvolvimento profissional. Nessa perspectiva, é atividade

de coprodução de conhecimentos e de formação em que os pares

colaboram entre si com o objetivo de resolver conjuntamente problemas

que afligem a educação (IBIAPINA, 2008, p. 25).

Neste viés, tem se realizado um trabalho colaborativo no grupo, possibilitando

aos integrantes uma formação continuada para a melhoria das suas práticas pedagógicas

e profissionais. Espaços de formação de trabalho conjunto, entre professores da

Educação Básica, mestrandos e licenciandos proporcionam aos futuros professores

socializações com os alunos da Educação Básica e, com professores mais bem

preparados e motivados. Tudo isso contribui para o início de seu percurso profissional,

pois, já vivenciou o convívio da comunidade escolar. Também, nesse contexto, as

angústias e as incertezas são partilhadas e discutidas, buscando-se ajuda e apoio mútuo,

de modo que esse empenho conjunto possa levar os alunos ao sucesso no seu

aprendizado.

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Para desenvolver este trabalho, foi estabelecida uma relação de respeito,

confiança e diálogo, com o intuito de conduzir cada participante a conversar, negociar e

analisar as situações envolvidas na comunidade escolar.

Ibiapina (2008) evidencia a virtude do pesquisador ao atuar em dois campos, o

da pesquisa e o da formação. A autora esclarece que é o processo de investigação na

ação, que possibilita a reflexão e a colaboração entre as participantes e a pesquisadora.

Logo, com essa ênfase, as possibilidades de reflexão de cada integrante são de grande

importância para análise do grupo, pois demonstram as diversas formas da postura

reflexiva profissional, compreendendo as ideias e as atitudes adquiridas no decorrer da

formação do grupo, visando à emancipação, possibilitando, assim, uma valorização

intelectual.

Análise dos dados

Considerando que o objetivo principal é apontar as contribuições do grupo de

trabalho colaborativo na formação continuada, a partir, da parceria entre Universidade e

Escola, é mister corroborar com Desgagné (1998), quando afirma que:

[...] pesquisa colaborativa se articula em volta de projetos onde o

interesse de investigação se baseia na compreensão que os práticos,

em interação com o pesquisador, constroem a partir da exploração, em

contexto real, de um aspecto que se refere às suas práticas

profissionais (DESGAGNÉ, 1998, p. 2).

Cabe aqui destacar a tripla dimensão que tem caracterizado a pesquisa

colaborativa:

1 – Supõe a construção de um objeto do conhecimento entre

pesquisador e práticos [...], 2 – Associa ao mesmo tempo atividades de

produção do conhecimento e de desenvolvimento profissional [...], 3 –

Visa uma mediação entre comunidade de pesquisa e comunidade de

prática [...] (DESGAGNÉ 1998, p. 7-8).

Logo, baseada nesta definição, analisamos os dados com maior propriedade,

tendo em vista, a socialização entre os integrantes do grupo, durante os momentos de

formação. Percebemos, nas falas dos professores da Educação Básica e dos

licenciandos, que foram gravadas e, posteriormente, transcritas a importância da

participação no projeto, em rede OBEDUC, para sua formação e valorização.

Concordamos com Sousa (2013), quando diz que este projeto proporciona aos

seus parceiros um desenvolvimento profissional, por investir na formação inicial e

continuada deles.

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No entanto, é interessante observarmos que, no início do projeto, em um dos

primeiros encontros, um dos professores da Educação Básica pontuava fielmente o

entendimento em relação à formação inicial, quando o Professor “A” afirma que: “[...]

quatro anos de Matemática e achamos que saímos sabendo tudo (sic)”.

Podemos perceber na descrição, que no decorrer da formação, a realidade é bem

diferente, quando você faz parte da realidade, quando você se insere no contexto

educacional percebendo os contextos que o compõe:

[...] quando você chega à sala de aula é outra realidade. Você domina

o conteúdo, mas tem que ter a didática e saber como aplicar. A

realidade das escolas do Estado é uma, e a do Município é outra (sic).

Quando comecei a dar aulas no Município, observei que era outra

realidade. Isso me fez ver que eu não sei nada e, que tenho que

continuar caminhando (sic). (Professor A)

Após as colocações do Professor A, houve um momento que podemos chamar

de interação, pois, uma professora integrante do grupo, que atua na Educação Básica há

mais de 15 anos, concluiu que participar do projeto, em rede OBEDUC, contribuiu para

compreender um pouquinho mais a realidade, a partir, das reflexões coletivas que a

pesquisa colaborativa possibilita.

[...] vai ajudar, pois, quando discutimos com os pares, quando

pensamos juntos, é fato que crescemos. E, as pesquisas comprovam

que o coletivo flui, possibilita crescimento, pois, sozinhos não

conseguimos (sic). (Professor B)

Dessa forma, podemos enfatizar, que em ambientes formativos e colaborativos

deve ser dado ênfase ao papel da mediação linguística, por meio da linguagem. Nesse

sentido, tanto o pesquisador, quanto o professor partícipe da pesquisa, tem igual

oportunidade de explorar suas experiências ao analisar, refletir, criar e recriar novas

possibilidades de fazer melhor aquilo que já fazem (MEDEIROS, 2007). Cada um tem

vez e voz, o que contribui para enriquecer seus conhecimentos e dar novos significados

aos conhecimentos já adquiridos.

Quando enfatizamos que esses ambientes formativos e colaborativos cooperam

entre os dois mundos, tanto escola quanto universidade, uma das professoras enfatizou:

[...] esses momentos contribuem com a escola e com os professores.

Mas, por outro lado, contribuem especialmente para nós, pois,

aprendemos, discutimos e vemos outras coisas, saindo daquela rotina

da sala de aula, o que eu acho que é muito bom, nós crescemos (sic).

(Professor C)

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Sabemos que não é uma questão fácil estabelecer uma parceria, que

verdadeiramente se efetive de forma plausível, não é simples, pois há vários entraves

que a impedem. Mas é importante deixar claro que, a força de vontade e a decisão de

querer mudar tem que ser o carro chefe dessa estrada, como explicita o professor neste

fragmento:

[...] na verdade, o que nós estamos fazendo enquanto professores é um

sacrifício além, porque olhamos nós aqui, num sábado de manhã,

tentando discutir a aprendizagem das crianças, mas, acreditamos e

queremos mudança, ou seja, fazer a diferença (sic). (Professor B)

Sabemos que, efetivamente, na caminhada temos diversas dificuldades, mas o

importante é evidenciar as necessidades, que nos motivam a buscar algo melhor: o

aperfeiçoamento, a transformação.

Nas falas dos professores, fica explícita a parceria estabelecida no OBEDUC:

[...] assim, o objetivo maior da parceria aqui estabelecida é a questão

do crescimento profissional de cada um e, a questão emancipatória.

Você emancipar bem as ideias, palavras, ter autonomia de falar e de

pensar, [...] tem reflexão, para ter reflexão entre nós temos que ter a

colaboração (sic). (Professor C)

[...] reunindo com as acadêmicas da graduação para preparar material,

trazer ideias, discutir, ou seja, preparar uma aula, aplicar e verificar o

que deu certo, o que poderia melhorar, qual é a dificuldade, se é

problema de organização na sala de aula e relatar os problemas que

surgiram. Eu acredito que essa união dá certo [...] (sic). (Professor D)

Assim, podemos perceber conforme expõe Ibiapina (2008), que este momento

de compartilhamento de ideias, colabora tanto para os licenciandos, como para os

professores, de modo a repensar tanto a teoria, como refletir em suas práticas, ter

autonomia. Também, tivemos indícios, de que os professores traziam suas angústias,

para a troca de experiências entre os pares. Isso proporcionou o evoluir, uns com outros,

como podemos observar nos recortes dos relatos:

[...] até mesmo eu, como professor em uma sala de aula, buscar

soluções para os problemas cotidianos na ação, aplicar e desenvolver,

ver se deu certo, reformular e aplicar novamente. Assim, quando

trazemos para o grupo, podemos ver se estamos certos ou o que

podemos melhorar com a ajuda do outro [...] (sic). (Professor C)

Colaboração implica negociação dos conflitos e são inerentes ao

processo de ensino e aprendizagem (sic). (Licencianda A)

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5635ISSN 2177-336X

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Os fragmentos apresentados apontam o quanto é importante para os integrantes

do grupo, o trabalho proposto no projeto em rede OBEDUC, proporcionando a cada

participante refletir sobre as suas práticas docentes. O trabalho colaborativo deve ser

desenvolvido visando às parcerias e troca de experiências, a favor do desenvolvimento

da aprendizagem.

Os alunos da graduação têm que estar dispostos a auxiliar o professor na

aplicação das ações desenvolvidas pelo grupo, pois, quando observam a teoria na

prática, conseguem perceber quão importante é a investigação e quanto pode contribuir

para a reflexão no processo formativo. Assim, no auxilio mútuo entre integrantes do

grupo e, após algumas reuniões, percebemos, nas falas dos professores da Educação

Básica e dos licenciandos, a importância da parceria estabelecida no projeto em rede

OBEDUC.

[...] a parceria estabelecida através do projeto possibilita, na minha

formação profissional, reconhecer as questões enfrentadas pelos

professores, atualmente, nas escolas públicas, os problemas que

envolvem tanto o ensino, quanto as ferramentas utilizadas para

ensinar. Dessa forma, este projeto está contribuindo no fato de

possibilitar a troca de experiências, tornando o curso de Licenciatura

em Matemática mais próximo da realidade enfrentada pelo professor

(sic). (Licencianda B)

[...] o grupo é formado por graduandos, mestrandos e professores da

Educação Básica, o que me traz possibilidades de crescer no

conhecimento, para que no futuro eu seja uma boa professora de

Matemática no ensino regular. Além disso, esse contato com outros

integrantes me deixa mais próxima da realidade da educação das

escolas (sic). (Licencianda A)

Percebemos, então, a importância da parceria estabelecida no projeto, onde é

propiciada aos integrantes uma reflexão das práticas docentes, contribuindo para a

valorização profissional dos professores da Educação Básica e dos alunos de graduação,

pois, acreditamos que a inserção de acadêmicos na escola de Educação Básica é de

grande valia na sua formação inicial. Ao entrarem em contato com a realidade escolar,

estão dinamizando sua formação profissional, construindo uma postura docente crítica

e, em constante transformação.

Considerações Finais

Neste artigo apresentamos alguns resultados da parceria estabelecida no projeto

em rede OBEDUC, onde pudemos observar o potencial formativo propiciado pelo

grupo de trabalho colaborativo, vislumbrando à valorização profissional.

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5636ISSN 2177-336X

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No entanto, entendemos que a parceria estabelecida entre a universidade e a

escola, contudo, não poderá se resumir, apenas, na inserção dos acadêmicos nesse

ambiente propício à melhoria da formação de professores. É preciso, também,

aproximar a escola da universidade, pois, é nessa instância que se produz o

conhecimento científico, em relação à prática pedagógica. É também, a partir, da

universidade, que se irradia o conhecimento construído nas áreas do conhecimento.

Posto isto, percebemos a relevância do projeto em rede OBEDUC, o qual

possibilitou a real aproximação da escola ao ambiente de excelência na produção de

saberes. Sendo assim, a inserção dos licenciandos na escola de educação básica é de

grande relevância, considerando que lhes possibilita entrar em contato com a realidade

escolar, dinamizando sua formação inicial, construindo uma postura docente crítica, em

constante transformação. Para os professores já em exercício, oportuniza a formação

continuada, pois ao interagir com o mundo acadêmico, aperfeiçoam sua atuação no

ensino e, para a escola e a sociedade, representa uma alternativa de melhoria na

educação, que poderá garantir a formação de cidadãos com uma educação científica

adequada aos desafios da atualidade.

Referências

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Profissionais do Magistério da Educação Básica. Diário Oficial da União, Brasília, de

25 de junho de 2015 - Seção 1, p. 13.

BRASIL. Resolução CNE/CP 2, de 2, de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura,

cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para

a formação continuada. Diário Oficial da União, Brasília, 2 de julho de 2015 – Seção 1

– p. 8-12.

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5637ISSN 2177-336X

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Conhecimentos. Brasília: Líber Livro Editora, 2008, p.136.

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5638ISSN 2177-336X

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REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE

MATEMÁTICA EM UMA PESQUISA COLABORATIVA

Nickson Moretti Jorge

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Resumo

Com vistas à formação continuada de professores de Matemática para a Educação

Básica, temos como objetivo, neste artigo, apresentar as contribuições da pesquisa

colaborativa para a formação continuada de um professor de Matemática da Educação

Básica. Em busca da criação de novos saberes para o desenvolvimento profissional, a

formação continuada pode contribuir para os professores refletirem a partir de suas

próprias ações desenvolvidas ou nas observações das ações de outros professores,

possibilitando a mudança da prática docente desses professores. Este artigo apresenta

um recorte da dissertação de mestrado intitulada "Reflexões sobre a prática docente de

um professor de Matemática a partir da pesquisa colaborativa", que foi desenvolvida no

Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul (UFMS). Esta pesquisa foi atrelada ao projeto em rede intitulado

“Trabalho colaborativo com professores que ensinam Matemática na Educação Básica

em escolas públicas das regiões Nordeste e Centro-Oeste”, no Programa Observatório

da Educação - OBEDUC, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (CAPES), cujo objetivo era propiciar, por meio de práticas

colaborativas, a reflexão dos professores sobre o trabalho didático/pedagógico e

desencadear ações educativas voltadas para a sala de aula. O projeto em rede teve a

participação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, da Universidade Estadual

da Paraíba e da Universidade Federal de Alagoas. A pesquisa foi desenvolvida a partir

da constituição de um subgrupo, que foi composto pela orientadora, por um professor da

Educação Básica, por uma aluna da graduação e pelo pesquisador. Os processos de

reflexões foram compreendidos pelas ações que foram desenvolvidas no subgrupo, por

meio da espiral reflexiva ampliada. Podemos concluir que a pesquisa colaborativa

proporcionou ao professor refletir sobre a sua prática docente de sala de aula e isso

contribuiu para a formação continuada do professor de Matemática.

Palavras-chave: Formação Continuada; Espiral Reflexiva Ampliada; Observatório da

Educação.

Introdução

Este artigo nasce da dissertação de mestrado intitulada "Reflexões sobre a

prática docente de um professor de Matemática a partir da pesquisa colaborativa", que

foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

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5639ISSN 2177-336X

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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Esta dissertação foi atrelada ao

projeto de pesquisa em rede intitulado “Trabalho colaborativo com professores que

ensinam Matemática na Educação Básica em escolas públicas das regiões Nordeste e

Centro-Oeste”, no Programa Observatório da Educação - OBEDUC, financiado pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), cujo objetivo

era propiciar, por meio de práticas colaborativas, a reflexão dos professores sobre o

trabalho didático/pedagógico e desencadear ações educativas voltadas para a sala de

aula. O projeto em rede teve a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como

instituição sede e contou com a participação da Universidade Estadual da Paraíba

(UEPB) e a Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Os integrantes do Núcleo UFMS foram professores da Educação Básica da rede

pública de ensino, acadêmicos do curso de Licenciatura em Matemática, acadêmicos de

pós-graduação (Mestrado e Doutorado em Educação Matemática), além da

coordenadora institucional. Esses integrantes foram divididos em subgrupos. Cada

subgrupo foi composto pelo pesquisador, pela orientadora, pelo professor da rede

estadual de ensino e pelos alunos de graduação em Matemática, de modo a potencializar

as ações de trabalho, pois, assim, cada mestrando poderia desenvolver as suas atividades

de pesquisa.

Ressaltamos que a formação dos subgrupos não foi para romper com o grupo

geral, haja vista que os subgrupos reuniam-se uma vez por mês para dialogarem sobre

as ações e compartilharem as suas experiências.

Após situarmos de onde estamos falando, temos como objetivo, neste artigo,

apresentar as contribuições da pesquisa colaborativa para a formação continuada de um

professor de Matemática da Educação Básica.

Formação Continuada

Pesquisas referentes à formação de professores vêm sendo desenvolvidos em

seus diferentes aspectos, concepções, ideais e crenças pelo mundo inteiro em busca de

mudanças tanto na formação inicial quanto na formação continuada.

Compreendemos que a formação continuada acontece após a graduação, de

modo a buscar um aprofundamento dos conhecimentos adquiridos, criando novos

saberes.

Em busca da criação de novos saberes para o desenvolvimento profissional, a

formação continuada pode contribuir para os professores refletirem a partir de suas

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5640ISSN 2177-336X

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próprias ações desenvolvidas ou nas observações das ações de outros professores,

possibilitando a mudança da prática docente desses professores, conforme nos apontam

Imbernón e Cauduro (2013):

A formação para esse desenvolvimento profissional dos professores se

apoiará em uma reflexão dos professores sobre sua prática docente, de

maneira que lhes permita examinar suas teorias implícitas, seus

esquemas de funcionamento, suas atitudes, realizando um processo

constante de autoavaliação que os oriente ao desenvolvimento

profissional. (IMBERNÓN; CAUDURO, 2013, p. 21).

Essa reflexão deve ser desenvolvida por meio de oportunidades, criadas para os

professores refletirem sobre as suas práticas e desenvolverem-se profissionalmente.

Sendo que para oportunizar essa reflexão, temos de levar em consideração os saberes

que os professores já possuem, para que haja uma interação com os novos saberes pelas

reflexões que desenvolvem, de modo que não seja uma formação imposta, mas propicie

a busca em conjunto (acadêmicos, formadores) com os professores para encarar a

realidade e superarem as dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar.

Desse modo, os formadores devem buscar uma aproximação com a escola e

conhecer as diferentes realidades nas quais os professores vivem, para que, a partir

desses fatos e das necessidades observadas, possam realizar uma atividade de formação

continuada, que possibilite reflexão do docente sobre a sua prática e, então, o

desenvolvimento profissional dos professores, como nos indica Ponte (2012),

A noção de que o professor é o principal agente da sua formação não

implica que os educadores matemáticos deixem de ter

responsabilidades como formadores de professores. Pelo contrário,

cabe-lhes encontrar formas apropriadas para favorecer os processos

naturais de desenvolvimento profissional do professor. (PONTE,

2012, p. 8)

Nesse âmbito, o projeto de pesquisa em rede OBEDUC proporciona aos

membros uma formação continuada, que permite o desenvolvimento profissional, assim

como ocorreu no subgrupo em que esta pesquisa foi desenvolvida. Pelas ações,

buscamos um constante movimento formativo de modo a possibilitar as reflexões da

prática docente dos professores, pelo diálogo em grupo e pelas atividades desenvolvidas

na escola, propiciando a construção de novos saberes aos professores e aos demais

membros do subgrupo.

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5641ISSN 2177-336X

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Compreendemos que a formação continuada, quando considera as experiências

dos professores e o meio em que trabalham, partindo dos momentos que vivenciam

diariamente, criando meios que os levem a refletirem sobre esses momentos de práticas,

possibilita-lhes apropriarem-se de suas práticas e desenvolverem-se profissionalmente.

Faz-se necessário apresentarmos nossa compreensão referente à reflexão. No

contexto educacional, a reflexão é mobilizada com a conscientização dos próprios atos

do professor, isto é, sobre o próprio professor, exercendo o pensamento sobre as suas

ideias, as suas ações, examinando, modificando e levando o professor a formar uma

teoria sobre a sua prática (ZEICHNER, 1993).

Sendo que a reflexão pode ser uma apropriação sobre determinado contexto,

questionando concepções e, no processo reflexivo, as indagações sobre práticas

docentes, possibilitam a transformação dessas práticas.

A reflexão envolve mais do que resolver problemas e dilemas, mais que apenas

pensar sobre determinado assunto, pois, temos que considerar o professor como um ser

histórico (IBIAPINA, 2008), que possui objetivos e limites, que desenvolve ações pela

sua constituição como pessoa, como docente, e, por esse motivo, não podemos

compreender a reflexão como passos a serem realizados que levam à reflexão.

Caminhar Metodológico

Esta pesquisa foi desenvolvida no Núcleo UFMS, a partir da constituição de um

subgrupo, que foi composto pela orientadora, por um professor da Educação Básica (P),

por uma aluna da graduação (J) e pelo pesquisador (N), as siglas foram denotadas pelas

iniciais dos nomes.

Os sujeitos das ações foram: a aluna da graduação (J), o professor (P), o

pesquisador (N), a orientadora, tendo em vista que estamos trabalhando em um grupo

com foco no trabalho colaborativo. O sujeito da pesquisa é o professor (P). Os

encontros foram semanais e realizados na Escola Estadual Professora Thereza Noronha

de Carvalho, com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio, local onde o professor

está lotado.

Como caminhar metodológico, guiados pela espiral reflexiva proposta por

Ibiapina (2008), iniciamos o desenvolvimento da pesquisa. A espiral reflexiva perpassa

as seguintes etapas: Planejamento, Aplicação da Aula, Entrevista e Sessão Reflexiva.

Em nossa pesquisa, olhamos para o planejamento como um conjunto de

movimentos que é estudado em união com outro, de tal forma a encaminhar as ações.

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5642ISSN 2177-336X

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A aplicação da aula foi planejada pelo subgrupo a partir das necessidades do

professor.

Tivemos o cuidado de realizar a entrevista no máximo um dia após a aplicação

da aula, ou seja, após a prática desenvolvida em sala de aula, para que não perdêssemos

os fatos que ocorreram na aula, de modo que a narrativa do professor fosse a mais fiel

aos acontecimentos.

A sessão reflexiva foi o momento no qual, em conjunto, dialogamos pontos que

consideramos relevantes na aplicação da aula. Durante essas reuniões, o subgrupo

trabalhava intervindo e trazendo apontamentos que pensavam ser pertinentes ao tema.

Nesse momento, houve a possibilidade da reflexão do professor, visto que ele observa a

sua ação quando assisti à sua própria aula, pois também realizamos a videoformação.

Porém, no decorrer desse caminho, necessitamos de algo que nos permitisse

compreender os indícios de reflexão do professor P com mais aprofundamento, por esse

motivo ampliamos a espiral reflexiva, criando a espiral reflexiva ampliada (JORGE,

2015). Essa nova espiral, agora ampliada, passa a ter as seguintes etapas: Planejamento,

Aplicação da Aula, Entrevista, Sessão Reflexiva, Novo Planejamento, Nova Aplicação,

Nova Entrevista e Nova Sessão Reflexiva (Figura 1).

Após a sessão reflexiva, sobre o mesmo assunto que já aplicamos a aula, porém,

agora, com outra visão e novas necessidades que os alunos apresentaram, realizamos um

novo planejamento de aula.

As novas aplicações aconteceram após os novos planejamentos que o subgrupo

desenvolveu. A partir daí, aplicamos novamente a aula, sendo que essa aula realizou-se

com ações práticas do professor.

Após a nova aplicação, desenvolvemos uma nova entrevista, da mesma forma

que foi realizada a entrevista anterior, porém sobre uma nova aplicação e em um novo

olhar sobre a aula desenvolvida, haja vista que compreendemos que, a partir da sessão

reflexiva pelo diálogo que desenvolvemos, novos olhares sobre a prática docente do

professor P construíram-se ou confirmaram-se.

Figura 1- Espiral Reflexiva Ampliada

Nova Sessão Reflexiva

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Fonte: Jorge (2015)

Finalizando, temos a nova sessão reflexiva, que possibilita ao professor ver-se

durante a sua atuação em sala de aula, a partir do novo planejamento e da nova

aplicação e refletir novamente sobre essa nova ação.

A nova sessão reflexiva não foi desenvolvida como procedimento metodológico,

pois, como os procedimentos - novo planejamento, nova aplicação e nova entrevista, já

possibilitaram compreender as ressignificações e os movimentos de mudanças da

prática docente do professor, não demos continuidade à nova sessão reflexiva.

Outro motivo pelo qual não realizamos a nova sessão reflexiva foi devido à falta

de disponibilidade de tempo do professor P, uma vez que era final de ano e, com isso,

ele necessitava fechar as notas dos alunos, o que impossibilitou um novo encontro.

Discussão e Análise

Os processos de reflexões foram compreendidos por meio das ações que

desenvolvemos no subgrupo, conforme apresentamos anteriormente no caminhar

metodológico, em uma espiral sistemática de reflexão.

Nova Entrevista

Nova Aplicação da aula

Novo Planejamento

Sessão Reflexiva

Entrevista

Aplicação da aula

Planejamento

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5644ISSN 2177-336X

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Como atividade final, durante a coleta de dados para a pesquisa, realizamos uma

última entrevista, para compreendermos os significados que o professor P atribuiu às

ações, as quais o subgrupo desenvolveu, ou seja, como deu-se a formação do professor.

Apresentamos, a seguir, os fragmentos da última entrevista com o professor P.

N: Gostaria que você falasse um pouco sobre como ocorreu o seu

processo no subgrupo. Como você avalia o nosso subgrupo?

P: Foi fundamental para que eu pudesse ter mais estudo, ver mais a

minha prática, consegui refletir o que, como é o processo de

"aprendizagem" dos alunos. Então, foi um subgrupo que me

fundamentou e me deu uma base muito importante.

N: Pontos positivos e pontos negativos?

P: Como ponto negativo, a minha falta de tempo.

N: E quanto às reuniões?

P: Acho que faltaram mais reuniões. Se nós tivéssemos duas vezes por

semana - terça e quinta -, acho que o avanço seria bem maior, pois,

você evolui mais e mais rápido.

N: Falta de planejamento, falta de estudo. O que você acha que faltou

no nosso subgrupo?

P: Acho que, em termos de planejamento e estudo, foi bem

satisfatório.

N: O que você tem a falar sobre o nosso trabalho, referente ao que nós

desenvolvemos?

P: Bom! Eu acho que o nosso trabalho, como um grupo, foi unido.

Havia uma sintonia bacana entre eu, você e a J. Os três sempre

focando no planejamento, buscando a reflexão, estudando, então, um

grupo que é um grupo que pode ser chamado de colaborativo,

conforme Ibiapina (2008).

[...]

P: Sempre houve um acordo, após o diálogo. Eu tive dificuldades de

horário, de locomoção, de chegar atrasado. Mas, sempre houve

compreensão entre os membros do subgrupo. Isso é fundamental,

onde há desarmonia, não há colaboração.

[...]

N: Como você vê o seu crescimento profissional?

P: O crescimento foi devido ao subgrupo, pois tudo que era feito, era

decidido no subgrupo. Então, o crescimento não foi só meu e sim do

subgrupo.

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N: Você vê o subgrupo como formação continuada?

P: Sim, o subgrupo é uma formação continuada. Muito mais

interessante do que as formações que são oferecidas pela rede. Porque,

aqui, nós buscamos uma formação que atenda as nossas necessidades

e não a necessidade do estado inteiro, que é uma coisa imposta e que

não vive a realidade. Nós vivemos a realidade e tentamos

transformação tanto nossa como de nossos alunos.

[...]

N: Como você avalia a prática docente antes do subgrupo, durante e

atualmente?

P: Com o subgrupo, eu obtive estudo do processo, ou seja, como se dá

o processo com os alunos. Com isso, consegui mudar, tentar atingir os

alunos de várias formas. Hoje, eu consigo tentar refletir sobre as aulas,

então, eu já consigo buscar meios para refletir sobre minha prática e

pensar em melhorias das minhas aulas.

[...]

N: Algum ponto que você gostaria de colocar, algo que você faria ou

não diferente, algo que nós deveríamos ter feito diferente?

P: Eu acho que o crescimento foi dado aos poucos. Por exemplo, hoje,

eu iniciaria aquela primeira aplicação diferente. Mas, não tínhamos

aquela visão naquele momento. Acho que o crescimento foi

proporcionado a todos, é um processo. Não é uma coisa que você

começa lá no alto e mantém o alto padrão, senão não teria graça. Tem

alguém que pode pensar assim: eu mudaria isso hoje, eu continuaria

do mesmo jeito e tendo a mesma aprendizagem que nós tivemos

linearmente. Pode ter sido uma aprendizagem linear, que não é fácil,

ou até mesmo quem sabe um crescimento exponencial em breve.

O professor P atribuiu às ações do subgrupo as mudanças quanto a sua prática

docente em compreender algumas questões "pedagógicas", ao olhar para os alunos

como seres sociais, em que o professor é um agente dessa comunidade, que a escola

pertence, permitindo, nessa entrevista, compreendermos algumas ações do nosso

trabalho e ao professor realizar uma autocrítica em relação as nossas ações.

A fala do professor fez-se pelo sentimento em que os membros do subgrupo

tiveram, pelo convívio, pelas ações que realizamos, com o objetivo de subsidiar a

reflexão do professor sobre a sua prática docente, permitindo que as ações formativas

contribuíssem para solucionar os problemas diários, partindo tanto da necessidade do

professor e dos alunos quanto do conhecimento matemático como para a realidade da

comunidade.

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5646ISSN 2177-336X

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Além de buscarmos desenvolver a reflexão do professor P com foco na reflexão

crítica sobre a sua prática docente, desenvolvemos a reflexão colaborativa, em que, no

subgrupo, com trabalho colaborativo, todos tinham voz e vez. As atividades que

levamos aos alunos do primeiro ano do ensino médio foram negociadas pelo movimento

dialógico do subgrupo. O subgrupo tinha um objetivo em comum, que era possibilitar o

professor a refletir sobre a sua prática docente. Dessa forma, realizamos além da

reflexão técnica, prática e crítica, a reflexão colaborativa, no âmbito da formação

continuada como nos apresentou o professor P de acordo com a sua necessidade e sendo

"real".

Considerações Finais

Consideramos que a possibilidade que o trabalho que desenvolvemos no

subgrupo, por meio da espiral reflexiva ampliada nesta pesquisa colaborativa,

proporcionou ao professor refletir sobre a sua prática docente de sala de aula e

contribuiu para a formação continuada desse professor. Além disso, contribuiu com a

produção de conhecimentos no campo educacional e com a formação continuada de

professores que ensinam Matemática na Educação Básica, podendo auxiliar o

desenvolvimento de ações escolares voltadas à Educação e à Educação Matemática, por

meio das transformações que foram proporcionadas e efetivadas durante a pesquisa.

Quanto à formação continuada, compreendemos que as ações, que foram

desenvolvidas por meio dos movimentos reflexivos, propiciados pela espiral reflexiva

ampliada, permitiram ao professor P construir e reconstruir significados e

ressignificações referentes às suas práticas docentes.

O movimento reflexivo que foi mobilizado nesse subgrupo por meio da espiral

reflexiva ampliada permitiu que o professor, no processo formativo de resistência,

experimentação, estudos, videoformação, novas experimentações, aprendizagem, entre

outros, se apropriasse das suas ações, refletindo sobre quais foram os motivos que o

levaram a realizar tal aula pelas perspectivas de ressignificação, mudando o seu fazer.

Compreendemos que algumas mudanças no pensamento do professor P

ocorreram, pois, antes, as suas ações eram feitas por meio de exercícios sem contexto,

porém, no decorrer das reuniões, ele declarou que os alunos necessitavam de exercícios

contextualizados, devido aos sistemas de avaliação (ENEM, Olimpíadas de

Matemática). O professor P também reconheceu que trabalhar com atividades que

motivam os alunos levam-nos a aprender.

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Entendemos que, pelo processo da pesquisa colaborativa por meio da espiral

reflexiva ampliada, essa metodologia é um caminho para desenvolvermos reflexões,

que, na formação continuada de professores, são desenvolvidas pelos significados e

ressignificações sobre a prática docente de professores, possibilitando mudanças dessas

práticas.

No aspecto da formação continuada, esse processo reflexivo demanda tempo.

Mas, mais que tempo, no âmbito das políticas publicas, necessita de investimentos,

podendo não ter respostas imediatas. Porém, perpassa por diferentes

temas/conhecimentos, que, por vezes, seriam necessários haver vários cursos

formativos.

Dessa forma, os procedimentos da espiral reflexiva ampliada são uma

possibilidade de formação continuada para professores que poderíamos ousar em

chamar de "formação continuada reflexiva" e o viés da colaboração deve ser um dos

caminhos para que possamos desenvolver tanto a formação inicial como a formação

continuada de forma significativa.

Referências

IBIAPINA, I. M. L. M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de

conhecimentos. Brasília DF: Líber Livro Editora, 2008.

IMBERNÓN. F; CAUDURO. M. A formação como desenvolvimento profissional dos

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v.14, n. 23, 2013, p. 17 – 30.

JORGE. N. M. Reflexões sobre a prática docente de um professor de Matemática a

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PONTE, J. P. Estudando o conhecimento e o desenvolvimento profissional do professor

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Barcelona: Graó. 2012.

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XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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