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Universidade Cândido Mendes
Projeto A Vez do Mestre
Pós-Graduação em Pedagogia Empresarial
“A importância e o processo
da liderança nas empresas”
por
Claudia Lucia de Araújo Torres
Rio de Janeiro
Janeiro / 2005
Universidade Cândido Mendes
Projeto A Vez do Mestre
Pós-Graduação em Pedagogia Empresarial
“A importância e o processo
da liderança nas empresas”
Apresentação da monografia
à Universidade Candido Mendes
como condição prévia a conclusão
do curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Pedagogia Empresarial
Disciplinar.
Professora: Mary Sue
Rio de Janeiro
Janeiro / 2005
AGRADECIMENTOS
Agradeço a realização deste trabalho a todos os amigos da minha
pós-graduação, aos quais pude contar em todos os momentos e em especial
a minha família.
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia exclusivamente a meus pais que sempre
lutaram e se esforçaram para que eu pudesse chegar até aqui!
RESUMO
Nestes dias de mudanças constantes e profundas, faz-se necessário
um novo estilo de liderança. Essa necessidade exige que os atuais
ocupantes de cargos de liderança promovam alterações significativas na sua
atitude e no seu jeito de ser, sob pena de se tornarem parte de uma raça em
extinção. As pessoas antes vistas como subordinadas precisam, por sua
vez, criar uma imagem nova de si mesmas e desenvolver habilidades, de
modo a aceitar uma responsabilidade de liderança maior do que tinham no
passado.
Esses novos líderes serão homens e mulheres que não controlam,
mas inspiram – que não se vêem ameaçados pelas mudanças, mas
instigados por elas. Essa nova liderança precisa surgir em todos os níveis
empresariais para que as nossas empresas possam sobreviver aos desafios
e à transição rumo ao novo século.
A liderança foi redefinida várias vezes na história moderna. Muitas
dessas redefinições, porém, só alcançaram um nível superficial. O Ocidente
tem a tendência de adaptar – tomar a forma, a aparência de mudança – sem
mudar os princípios básicos. Temos o hábito de querer mostrar a todos que
estamos fazendo o que é certo, mas sem nos comprometer com o essencial.
O novo estilo de liderança requer um compromisso profundo – um novo
contexto -, uma mudança na própria essência do conceito de “líder”.
Essa virada contextual exige que um número maior de pessoas
assuma responsabilidades sempre que preciso – sejam líderes sempre que
isso for necessário. O novo contexto baseia-se na liberdade individual, na
confiança e na intenção e requer grande coragem, sabedoria e compaixão
da parte daqueles que se dispõem a ele.
O novo estilo de liderança não chama de “líder” a pessoa que tem um
título ou está numa posição de poder; não exige que uma autoridade externa
legitime um homem ou uma mulher como um líder ‘oficial’. Ele se apóia na
força e no caráter interiores do indivíduo – a fonte do verdadeiro poder da
pessoa. Essa nova liderança exige que os indivíduos tenham um verdadeiro
domínio sobre a sua realidade, e não o domínio tirânico ou manipulativo de
outras pessoas ou circunstâncias exteriores.
O que se poderia citar como por exemplo de mudança contextual, em
contraposição à mudança no conteúdo ou na forma? Tomemos o estilo de
treinamento de Vince Lombardi, lendário técnico de futebol americano das
décadas de 50 e 60, e comparemo-lo com o de Bill Walsh nos anos 80, por
exemplo. Segundo a mai0oria dos apreciadores, o método que Lombardi
usava para motivar seus jogadores a jogar um bom futebol era o melhor da
sua época. Pelas idéias então tacitamente aceitas, ele era excelente. O
estilo que ele representava, entretanto, baseava-se na insegurança e no
medo. Os atletas jogavam bem porque tinham medo de falhar. Já o estilo de
Walsh estava fundado num contexto totalmente diferente – inspirar e
encorajar os jogadores a dar o melhor de si. Trata-se de um estilo mais
positivo tendo em vista a cultura atual, uma geração depois.
Esses dois excelentes treinadores operavam em contextos diferentes.
A forma ou conteúdo da profissão permaneceu igual – planos de jogo,
exercícios, preparação de jogadas, estratégias e registros, todas coisas
muito úteis para quem pretende vencer partidas de futebol. Mas os dois
contextos, as duas maneiras de obter a mais alta motivação e o melhor
desempenho, não poderiam ser mais diferentes um do outro.
Outro exemplo de diferença contextual é conceber a administração
como uma “ciência”, segundo a idéia popularizada por Frederick Taylor no
começo do século, ou como uma “arte”, como qualificou Max De Pree, na
época diretor-executivo da Herman Miller, Inc. O primeiro contexto se
fundamenta no controle absoluto, no pensamento linear e nos processos
mecânicos, ao passo que o outro é mais inovador, intuitivo e espontâneo.
Cada vez mais a sabedoria atual indica que as empresas não
conseguem mudar uma cultura há muito estabelecida se os seus líderes
também não mudam. Os livros modernos de administração estão repletos de
exemplos de empresas que tentaram mudar sem que o diretor executivo e
outros altos membros da administração assumissem a mudança neles
mesmos. Esses relatos quase sempre se concluem com uma tremenda
decepção. Os líderes de amanhã precisam se dispor a passar por
transformações pessoais – ou seja, se dispor a uma mudança
transcendental em sua forma de pensar e sentir, e não apenas a uma
mudança de atitude a respeito de determinada parte da operação.
O termo “transformação” geralmente é usado como sinônimo de
“mudança”. O fato, porém, é que eu entendo “transformação” como uma
virada fundamental no modo pelo qual uma pessoa se coloca diante do
mundo. Os líderes de amanhã precisam se dispor a uma mudança profunda
nos campos pessoal, psicológico, emocional e até mesmo espiritual caso
queiram que os seus seguidores estejam abertos às mudanças. Os líderes
não podem continuar a pedir que todos mudem exceto eles mesmos.
Os homens de negócios, tanto consultores quanto profissionais,
carregam enorme responsabilidade, quer gostem disso, quer não. Os
negócios são a locomotiva que puxa o trem da sociedade no mundo inteiro.
Todos no mundo empresarial – o pequeno empresário, o gerente, os
empregados das 500 Maiores da Fortune – são responsáveis pelo impacto
dos negócios sobre a sociedade. Cada membro da comunidade empresarial
tem a responsabilidade de ser um novo líder.
Cada um de nós tem um líder dentro de si. Será que o seu “líder
interior” está pronto para aceitar responsabilidades?
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi através de pesquisas bibliográficas, com
conteúdo didático baseado nos autores dos livros pesquisados.
SUMÁRIO
.
Introdução
Capítulo 1 O coordenador como líder
Conclusão
Bibliografia
Anexos / Atividades Culturais
INTRODUÇÃO
Em tempo de paz, um
exército desempenha suas
funções de maneira adequada,
com boa administração e bom
gerenciamento, desde que haja
sólida liderança na cúpula. Em
tempo de guerra, um exército
também precisa de administração
e gerenciamento em toda a
extensão da hierarquia gerencial,
mas não pode funcionar sem uma
boa porção de liderança em
praticamente todos os níveis.
Ninguém ainda descobriu como
administrar ou gerenciar as
pessoas em combate.
De modo muito semelhante, milhares de empresas em todo o mundo
estão descobrindo que precisam de mais gerentes que as ajudem a lidar
com a operação de guerra econômica criada pela crescente intensidade
competitiva.
Hoje precisamos de muito mais e melhores líderes do que então;
gente aberta, com visão e autoconfiança. Sem essas pessoas, não há meios
de continuar a prosperar. Em alguns de nossos negócios, sem elas nem ao
menos sobrevivemos.
Em quase toda a parte encontramos evidências que confirmam essa
afirmação. Basta olhar para as operações de fabricação. Há pouco tempo,
muitos gerentes de fábrica eram instados a colocar um produto no mercado
com uma programação previsível e a um custo histórico razoável. Isso exigia
certo planejamento operacional detalhado, uma organização sensata bem
definida e muito controle (em outras palavras, um bom gerenciamento).
Hoje, esses mesmos executivos têm às vezes que reduzir significativamente
os custos, introduzir tecnologias para aumentar a produtividade,
experimentar técnicas japonesas de relações de trabalho, estabelecer novas
empresas satélites em países com baixo custo de mão-de-obra, diminuir o
prazo necessário para introduzir novos produtos no processo de fabricação,
e muito mais. Isto é, cabe-lhes descobrir novos meios de fazer as coisas, às
vezes até abordagens sem precedentes. Têm também de conseguir que
outros façam os sacrifícios pessoais necessários para implementar esses
novos caminhos, pessoas que não têm mais a mentalidade de imigrantes ou
uma inclinação geral para a obediência diante de figuras autoritárias. Nessas
circunstâncias, o bom gerenciamento e a boa administração não são mais
suficientes. Existe cada vez mais necessidade de liderança nas fábricas.
Nas operações de assessoria vemos a mesma mudança.
“Administradores de pessoal”, que há vinte anos recebiam a incumbência de
administrar o sistema de pessoal e ajudar a solucionar pequenos problemas,
devem agora proporcionar liderança em questões de recursos humanos.
Eles são necessários para auxiliar os executivos da corporação que estão
tentando mudar a cultura empresarial a fim de torná-la mais competitiva.
Precisam encontrar e implantar sistemas totalmente novos de compensação
que encoragem os gerentes a pensar a longo prazo. Eles são solicitados a
colaborar com os gerentes de fábrica para procurar estabelecer um novo
clima nas relações trabalhistas.
Cada vez mais a necessidade de liderança não se esgota ao nível do
executivo. As empresas estão descobrindo que até mesmo os funcionários
de nível mais baixo e os técnicos às vezes necessitam desempenhar um
papel de liderança em sua área. A concorrência, por exemplo, exige que um
número cada vez maiôs de jovens engenheiros de projeto coordenem
grupos de gerentes de fabricação, marketing e vendas (pessoas fora da
hierarquia da engenharia) no desenvolvimento de novos produtos. Isso, em
compensação, sempre exige alguma liderança da parte desses engenheiros
de projeto. De modo semelhante, as pressões competitivas estão forçando
os contramestres mais antigos a ajudar na criação desse novo clima de
relações industriais; pois não se mudam relações antagônicas estabelecidas
durante décadas apenas com administração ou gerenciamento. Essas
mesmas pressões exigem que gerentes de nível médio encontrem e
implantem meios para cortar níveis hierárquicos e gorduras de suas equipes.
Conseguir que as pessoas aceitem sacrifícios raramente é possível sem
alguma liderança desses gerentes.
Essa é quase uma mudança radical em relação à situação de
somente uma década atrás, quanto mais a duas ou três décadas passadas.
Nos anos de relativa estabilidade e prosperidade das décadas de 50 e 60,
raramente havia necessidade de muita liderança nos quadros de pessoal, da
fábrica ou em qualquer outro lugar. Excesso de liderança naquele época
podia, na verdade, criar problemas, rompendo rotinas eficientes.
CAPÍTULO I
O COORDENADOR COMO LÍDER
Coordenar grupos é como
conduzir um trem. Os trilhos
indicam a direção e o destino. O
maquinista coordena um
movimento sobre trilhos e há
momentos em que o grupo
caminha como uma maria
fumaça, e em outros como um
trem bala, Em seu interior,
diferentes pessoas com distintas
expectativas quanto ao destino de
chegada, mas o maquinista sabe
que há um contrato definido, nem
tudo dependerá só dele, mas seu
papel e suas funções são
imprescindíveis.
Quem é o coordenador? É aquele que coordena uma ação que não
lhe pertence, mas dela é guardião. Guardião no sentido de cuidar de um
campo de experiências vividas por pessoas que se associam na aventura
compartilhada de construir juntas uma forma de operar (ou de co-operar) um
processo de pensamento, sentimento e administração dos efeitos
provocados pela concretização de suas expectativas. Guardião de um grupo
em que seus integrantes encontram-se a partir do objetivo-contrato-comum
que juntos assumiram.
Encontram-se e constroem um espaço psicossocial de descobertas,
produções, transformações. Espaço que também podem vir a destruir
quando param de investir e geram situações repetitivas de impasses, de
conflitos não solucionados por falta de flexibilidade para ver, ouvir, falar,
sentir, pensar, agir.
Desencontram-se aos poucos e se assustam, como se houvesse um
impedimento insuperável e insuportável, quando pela comunicação criam
ruídos, pelos vínculos em torno da ação criam ou não afetos construtivos e
vivem a sensação de não poderem produzir juntos o que haviam se
proposto, achando até que, a qualquer momento, o grupo poderá implodir...
O coordenador garante que o grupo conquistará os resultados
esperados ao poder compreender as dificuldades surgidas no caminho como
parte do processo; ao superá-las em conjunto, fortalecendo o grupo,
tornando-o mais competente para tomar decisões, problematizar-se,
encontrar soluções reveladoras da capacidade de protagonismo e de criação
de seus integrantes.
O coordenador é o incentivador do sucesso do grupo e do êxito de
seus integrantes, é quem assegura que as feridas cicatrizarão e evita que
abalos na estrutura do conjunto provoquem desmoronamento do edifício em
construção. De modo ritmado e constante, incentiva todos e cada um a não
pararem de remar, a escalarem a íngreme montanha, a superarem os
próprios recordes.
Como maestro da orquestra, o coordenador prepara a harmonia dos
detalhes e gratifica-se com o êxito de uma performance da qual ele é
também um espectador.
O coordenador de grupo deve se sentir confortável para intervir em
algo que se apresenta a seus olhos como um contínuo movimento.
Movimento que se processa como em um filme visto pela primeira vez, dele
se pode ter algumas referências e uma discreta impressão de seus
protagonistas, mas um total desconhecimento de como será a performance
de cada um e o efeito do conjunto. O coordenador é como o diretor do filme,
irá garantir que a história seja construída como foi prevista, mas o processo
da realização e os resultados dependerão de uma criação coletiva, que pode
incluí-lo, como co-partícipe indireto, embora fuja de seu controle.
O coordenador precisa ter firmeza e segurança, adquiridos em parte
na vida e muito em uma formação específica; uma flexibilidade interna para
envolver-se e distanciar-se de situações que mobilizam os integrantes do
grupo e a si mesmo; intervir focando fragmentos de um conjunto, fazendo
cortes transversais em uma seqüência de acontecimentos. Cortes que
significam congelar partes do movimento, introduzir novos elementos, em
seguida procurar compreender como os integrantes os absorvem e ir
percebendo se as hipóteses que propôs foram ou não incorporadas pelo
grupo.
O coordenador transita por conteúdos implícitos ou segredos grupais,
os quais permanecem nas entrelinhas das comunicações e se movimentam
paralelamente, em relativa harmonia, em relação aos conteúdos explicitados
no pequeno universo grupal. Nessa construção social em que circula o que
pode e o que não pode ser dito, a arte do coordenador é explorar o que não
pode ser dito a partir do que é falado, podendo, assim, desvendar as
resistências às mudanças.
A intervenção do coordenador é como a análise de uma obra de arte.
À primeira vista, evidencia-se a representação de uma realidade, mas, aos
poucos, percebem-se conteúdos mais profundos dos personagens pelos
gestos, expressões, olhares e situações compartilhadas que evidenciam
emoções, vínculos e ações.
1.1. Papel do coordenador
O papel do coordenador de
grupo é o de ordenar com alguém
o pensar, o sentir e o agir de um
conjunto articulado. Integra-se ao
grupo com um papel diferenciado,
não está compreendido
emocionalmente com a situação
grupal, mas não é neutro. Pelo
contrário, oferece sua
subjetividade como suporte. Vive
e sente com o grupo, mas os
integrantes sabem que receberão
dele um apoio psicológico de
acolhimento a suas
necessidades, diferente daquele
que podem esperar dos demais.
O papel do coordenador de grupo – que pode ser desenvolvido por
um professor com seus alunos, por um chefe com seus subordinados ou por
qualquer profissional com sua equipe – supõe o desenvolvimento de uma
capacidade para intervir no conjunto articulado das relações de um grupo,
com destino a uma finalidade comum.
O conjunto de relações estrutura-se em uma articulação de processos
psíquicos vividos pela comunicação e pelos vínculos de seus integrantes. Na
comunicação de mensagens, percebemos os processos psíquicos, por
exemplo, pela empatia com a qual as pessoas codificam e decodificam
informações, ou pelos ruídos das mensagens, os quais envolvem
sentimentos que podem ou não facilitar sua superação a curto prazo. O
coordenador cria estratégias que facilitam a articulação desses processos
psíquicos, com os quais o grupo constrói a maneira eficiente e participava de
produzir. Os integrantes do grupo podem e devem entender o processo, ter
insights, mas cabe ao coordenador facilitar aos integrantes uma tomada de
consciência crítica de suas dificuldades, para que, a partir delas, possam
agir. Portanto, o coordenador precisa facilitar o aparecimento de líderes de
mudança.
1.2. Papel do integrante como líder de mudança ou líder de
tarefa
O integrante de um grupo
que desempenha uma liderança
direcionada aos objetivos comuns
desenvolve o papel de líder de
mudança ou líder de tarefa.
Vivencia a produção grupal
intercalada por dificuldades
(decorrentes das relações e do
aprender) expressas em
ambigüidades e contradições,
mas tem uma flexibilidade interna
(ou consegue conquistá-la,
superando a própria rigidez diante
da administração do novo) para
facilitar a elaboração dos conflitos
do grupo; apresenta soluções,
sugere saídas que não desviam o
grupo da tarefa e apaziguam as
ansiedades da pré-tarefa.
O coordenador inclui-se no grupo com atitudes empáticas e
participativas, expressões de sua predisposição interna para se relacionar
com os demais em um aprender grupal. Isso decorre do êxito no esforço de
revisitar suas matrizes de aprendizagem e, a partir delas, de inovar estilos
de uma apropriação da realidade. O coordenador possui habilidade em
valorizar a contribuição dos outros, demonstrando sua capacidade para
investir em vínculos, desempenhar novos papéis e explorar ruídos da
comunicação, de estimular uma interdependência geradora de múltiplos
protagonismos (ativos e criativos) entre os integrantes.
1.3. O ato de intervir
A apropriação de uma
realidade ocorre a partir da
maneira de ser e de estar em um
grupo por meio de processos
psíquicos, construídos em
múltiplos vínculos. O ato de
intervir ocorre, portanto, no
campo vincular. O coordenador
está atento a como o grupo se
apropria de seu objetivo-contrato
pela articulação vincular de seus
integrantes, sabendo que cada
um atualizará processos
psíquicos de seu mundo interno,
sabendo também discriminá-los
de seus conteúdos internos.
A intervenção do coordenador deve favorecer o aprender grupal, o
que significa conviver com os desafios do novo, da mudança, da
desestruturação de certos modelos internos, da flexibilidade para superar o
que já não serve e renovar maneiras de ser, de estar e de se vincular ao
grupo, para produzir com outras pessoas uma construção inovadora e, como
tal, inédita, desconhecida.
Ao fazer esse investimento a partir de suas referências internas, os
integrantes vivem processos psíquicos já estruturados em outros vínculos, o
que ocorre em três situações:
1. Confusão que desestrutura – o desconhecido da inovação gera
momentos confusionais nas pessoas. A partir deles, o grupo vive
situações de impasse, acompanhadas de ansiedade. O impasse é ser
ou não ser grupo, desejar ou não superar o individualismo para
construir algo em conjunto.
O coordenador ajuda a sair da confusão reafirmando a finalidade
grupal conhecida e ao estimular iniciativas entre os integrantes a partir
do objetivo-contrato-comum, abrindo espaços para que o mesmo se
torne a meta de todos. Percebendo o movimento dos integrantes de
centrarem-se nos próprios interesses, independente de como façam os
outros; desvendando o contrato narcisista aglutinador das pessoas, em
torno de saídas que não perdem de vista a maneira própria, única, não
socializada de buscar gratificação em um aprender individual baseado
em experiências extragrupo, não necessariamente nas que estão
ocorrendo no espaço intragrupo (para evitar as incertezas que ameçam
o chão firme, no qual os integrantes estão in(s)talados...);
2. Dissociação instrumental – visão fragmentada do aprender e
identificação dilematizada do grupo, ora percebido e vivido como
produtivo e gratificante, ora como improdutivo e frustrante, gerando
sofrimento psíquico. É o contraponto entre produzir e não produzir em
conjunto, entre assumir atitudes de mudança e de resistência às
mudanças provocadas pelo novo/desconhecido.
Os integrantes se fragilizam com os dilemas, e a função egóica é
defensiva, não voltada a negociar, a intermediar as demandas de uma
realidade que ameaça e nem a manter uma maneira conhecida de ser
e de estar em grupo.
Surge um pacto grupal de resistência à mudança.
Cabe ao coordenador dar suporte egóico por distintas tentativas,
quando são oferecidas perspectivas de negociação ao dilema, ser ou
não ser grupo; problematizar o ser e não ser grupo, ou seja, ajudar os
integrantes a compreenderem que não perdem a própria
individualidade, mas reafirmam-na, fortalecendo a própria identidade na
pertença e inserindo-se no grupo com as próprias possibilidades,
potencialidades, descobrindo novas maneiras de se vincular para
produzir.
Com essa organização grupal transitória, da individualidade à
grupalidade, o coordenador acolhe as necessidades de cada integrante e
cria estratégias para o grupo se constituir como um espaço gratificante.
Acolhe e dá suporte para que os integrantes arrisquem ensaios de
integração, reafirmem suas necessidades e obtenham satisfação na
articulação grupal; sem perder a identidade, mas fortalecendo-a, tomam
consciência de si mesmos em uma experiência nova, na qual se
reorganizam de modo criador e aprendem uma maneira inédita de ser e de
estar em grupo;
3. Salto de qualidade que integra – o coordenador compreende as
referências internas pelas quais os integrantes se reafirmam pela
dissociação. Compreende com que defesas o fazem e a partir de que
matrizes vinculares; como, sem plasticidade, os integrantes inviabilizam
negociações diante de novas demandas grupais e impedem vínculos
de mútua e construtiva empatia, voltados à criação construtiva; motiva
uma visão totalizadora da realidade, superando dissociações e
permitindo uma qualidade nova de intermediação entre o mundo
interno e o mundo externo.
1.4. A função do coordenador
O coordenador, em sua
função, desenvolve um processo
de comunicação que
denominamos intervenção. O
coordenador intervém na maneira
como o grupo conduz sua
cooperatividade. A intervenção se
expressa pela linguagem,
produzida no aqui e agora, sem
ignorar um passado e um futuro,
expressos respectativamente na
contradição entre resistir e
realizar um projeto conjunto e
inovador. Expressa percepções,
sentimentos, pensamentos,
representações e fantasias
presentes nas interações dos
integrantes ao se vincularem em
torno da tarefa que concretiza, no
cotidiano, os objetivos comuns do
grupo.
A função do coordenador supõe:
1. Aprofundar a compreensão de como as pessoas se integram ou não
para realizarem a tarefa grupal;
2. Desvendar as mensagens bem ou mal codificadas/decodificadas pelos
integrantes, favorecendo ou não uma percepção de si e dos outros;
3. Operar os núcleos de resistência que dificultam a elaboração das
contradições presentes na dilematização do novo e impedindo atitudes
de mudança;
4. Explorar os medos básicos de perda e ataque diante do
novo/desconhecido, os quais incrementam reações defensivas do eu,
quando os integrantes rejeitam a realização conjunta da tarefa;
5. Facilitar o manejo das dissociações, com que os integrantes
fragmentam o novo, para compreendê-lo, ainda que de forma
parcializada. A partir disso, torna-se possível problematizar
alternativas, encontrar soluções para a realização da tarefa conjunta e
viabilizar, nas pessoas, atitudes de mudança, que serão expressas na
operatividade grupal. Operatividade que permitirá uma transformação
das pessoas e do grupo, pela tomada de consciência de quem cada
um é como ser humano, como integrante do grupo e parte de um
complexo social que se desenvolve pelo co-respeito e pela co-
responsabilidade nas ações;
6. Propiciar mútuos e construtivos vínculos dele com os integrantes e, a
partir disso, dos integrantes entre si, por meio de sua habilidade de
acolher e dar limites às necessidades destes, em relação aos objetivos
comuns a alcançar;
7. Intervir cuidadosamente, como se estivesse ajudando a montar um
quebra-cabeças, sem pressa, formado pelo que as pessoas
manifestam nos olhares, nos gestos (excessiva movimentação dos pés,
aprovação com a cabeça, suspiros, consultas ao relógio), no que dizem
(ouvindo ou não as pessoas, cortando a fala dos outros, não
completando o pensamento) ou fazem (chegando atrasado, faltando,
saindo do grupo sem motivo, respeitando ou atropelando o que está
sendo feito); procurando contribuir para os integrantes se
conscientizarem de que são autores de uma produção pessoal e grupal
que os torna responsáveis por atitudes e comportamentos direcionados
ao bem comum; trazendo novas perspectivas para uma melhor
compreensão dos desafios a serem enfrentados, procurando gerar no
grupo uma interdependência saudável, concentrada no
desenvolvimento psicossocial dos integrantes, com vistas a possibilitar
mudança de atitudes voltadas à transformação de si mesmo e do
grupo;
8. Facilitar feedbacks e interligações entre os acontecimentos, ajudando o
grupo a tomar consciência da articulação que une os integrantes e que,
aos poucos, vai sendo construída em torno da tarefa, como a força que
os ajudará a tomar decisões e a torná-los co-responsáveis pelo
processo criador de conjunta produção;
9. Compreender como as pessoas estão se relacionando para realizarem
as tarefas grupais: se há vínculos construtivos de mútua empatia,
protagonismos expressos em uma liderança grupal calcada no co-
respeito, com mudança de atitudes decorrentes de um descentramento
responsável direcionado à finalidade comum (e não de um centramento
no indivíduo, próprio de um aglomerado de pesoas).
1.5. Em que e para que intervém o coordenador?
A partir de um papel único e assimétrico (coordenador, e não
integrante), sua intervenção deve propiciar algo novo, permitir a descoberta
de melhores caminhos em direção ao objetivo-contrato comum. Para isso, o
coordenador precisará:
1. Desenvolver uma capacidade internacional própria para propiciar
vínculos dele com os integrantes e destes entre si, condição inicial de
trocas construtivas (e não destrutivas);
2. Intervir no campo vincular, a partir de atitudes que discriminam papéis.
O coordenador não é integrante do grupo e menos ainda pai, mãe,
irmão, etc.;
3. Acolher as necessidades dos integrantes. Não é para a própria
satisfação que ele tornou-se coordenador, não são suas necessidades
que estão em jogo. Sua gratificação é posterior, decorre da
operatividade conquistada pelo grupo. Sua intervenção não pode ser
resposta a suas demandas internas de sucesso;
4. Perceber se os integrantes, centrados em seus afazeres cotidianos,
realizam as finalidades propostas, considerando as possibilidades e as
potencialidades de cada um e do conjunto;
5. Facilitar ao grupo a elaboração de ansiedades inibidoras de uma
unidade real, objetiva, subjetiva e intersubjetiva, a qual expressa-se em
uma co-operatividade;
6. Compreender as dinâmicas grupais que expressam os processos
psíquicos vividos pelos integrantes do grupo.
1.6. Como e quando intervir?
O coordenador deve aprender a:
• Intervir quando o grupo precisa dele e não quando ele precisa do
grupo;
• Aprender a escutar o grupo: se pensa que entendeu o que estão
falando e como estão agindo, pare... ouça mais uma vez... outra vez!
• Intervir de modo breve, sem fazer discurso ou descontar o tempo em
que ficou calado (afinal, é preciso mostrar serviço!);
• Falar naturalmente, em tom de conversa, não como professor em sua
aula magistral, mas como quem cuida do outro;
• Basear-se nas experiências disponíveis e próximas ao que estão
sentindo no momento. Por exemplo, não explique o que está ocorrendo
hoje nas relações dos integrantes por dificuldades pessoais vividas em
anos passados;
• Estar atento à comunicação verbal e à não verbal, mas sobretudo às
comunicações verbais mais significativas e relacionadas à situação
grupal.
Complementando, é bom lembrar que a comunicação se expressa em
diversos níveis:
1. Consciente: o que foi dito, ouvido e compreendido por todos, podendo
haver conexão entre consciência e representação interna da palavra;
2. Pré-consciente: o que poderia ser expresso e compreendido por todos,
mas não foi. Fica à disposição da consciência, mas algo impede;
3. Inconsciente: conteúdos que saíram completamente da consciência.
Os pensamentos existem, afetam a consciência, mas não se tem
conhecimento deles. Pertencem a uma área inacessível ao controle da
mente e à expressão em palavras. Há mecanismos de defesa
presentes. O grupo só poderá lidar com este nível de comunicação
pela interpretação, a partir de falas fragmentadas e aparentemente sem
muito significado. As interpretações serão formuladas considerando os
conteúdos da comunicação, as relações e os comportamentos dos
integrantes. As interpretações não são feitas só pelo coordenador,
embora seja dele o privilégio. Todos os integrantes podem interpretar
uma determinada situação, isso ocorre como se fosse uma reação em
cadeia. As interpretações ou hipóteses sobre o acontecer grupal vão
sendo montadas aos poucos, inicialmente com comunicações
desconexas que expressam diferentes níveis de linguagem,
comunicações separadas no tempo e no espaço, dispersas em
diferentes encontros. Mesmo que inconscientes, essas comunicações
expressam uma certa lógica e significam que o material conflitivo está
se tornando disponível à consciência.
Tendo compreendido um pouco mais de como ocorre a comunicação
dos integrantes e, a partir dela, as interpretações, apresentaremos a seguir
alguns lembretes como interpretar e como não interpretar.
1.6.1. Como interpretar
1. Desenvolver lentamente temas a serem incorporadas na
interpretação, a partir dos quais os integrantes dizem ou fazem e que
expressam os ruídos da comunicação;
2. Guiar-se pelo que o coordenador percebe, evitando opiniões pré-
formadas ou posições ideológicas, colocando-as em um tom emocional que
facilite a compreensão;
3. No aqui e agora da experiência atual, na rede de comunicação que
provoca e mantém a realidade do grupo no momento, embora saiba que
psicodinamicamente o passado e o futuro estão presentes nos projetos e
nas resistências trabalhados;
4. Ajudar o grupo a tomar consciência de que os integrantes formam
um todo, que decidirão o que podem dizer e serão responsáveis pelas
decisões.
1.6.2. Como não interpretar
1. Acrescentar elementos novos e insuficientemente evidentes;
2. Contribuições prematuras, fora do ritmo grupal, ou profundas
produzindo choques;
3. Contradizer o integrante, ao invés de mostrar a contradição e
explorar a ambivalência;
4. Estabelecer laços entre acontecimentos que os integrantes não
podem compreender (fazendo-o para mostrar competência);
5. Pesquisar o passado dos integrantes e do grupo;
6. Fomentar dependência a si mesmo, a sua interpretação, a seu
poder.
O lembrete sempre presente é que a interpretação é feita sobre o
cotidiano do grupo (dinâmica visível). Este revela-se nos fatos e oculta-se
nas representações. O grupo mistifica o cotidiano, uma vez que o essencial
se oculta, a partir de determinados interesses. As representações nos
mostram um cotidiano imodificável e o grupo passa a viver com uma
familiaridade acrítica, seus estilos e suas regas a serviço da passividade, da
letargia (dinâmica invisível). A interpretação deve sacudir o grupo,
desacomodando os integrantes e estimulando-os a envolverem-se em novas
aprendizagens, centrando-os na tarefa e, nessa ação, desvendar os
obstáculos cristalizados em uma resistência que corrói a possibilidade dos
protagonismos.
1.7. O campo de intervenção do coordenador
O campo de intervenção do coordenador é o cotidiano do grupo, que
se apresenta nos fatos e se oculta nas representações (internas) que as
pessoas fazem juntas sobre o acontecer grupal. Pichon-Rivère definiu uma
equação para essa análise e a denominou unidade de trabalho.
Gráfico 1:
Unidade de trabalho
Existente – Interpretação – Emergente
A unidade de trabalho é dinâmica, movimento constante, e implica
estruturação / desestruturação / reestruturação, como um desafio aos
integrantes para um aprender ou apre / e / nder uma nova realidade que se
apresenta como um desconhecido, um vir a ser. Devem enfrentar os três
tipos de situações abordadas no ato de intervir: a confusão, a fragmentação
e a integração.
A realidade, o cotidiano de qualquer grupo, possui uma maneira
própria de existir e se construir a cada dia (estruturação). Essa construção
diária às vezes exige uma desarrumação da casa. Acontecimentos
esperados ou não exigem uma nova ordem de relações entre as pessoas
envolvidas, trazendo um novo movimento, entre cada um e seu mundo
interno (desestruturação). O esforço de leitura do acontecer cotidiano
permitirá o surgimento de maneiras inéditas de apropriação dessas
vivências, exigindo ajustes entre as pessoas e destas consigo mesmas
(desestruturação e reestruturação).
A unidade de trabalho é composta por conteúdos expressos como
existentes (no cotidiano), interpretantes (análise do cotidiano) e emergentes
(incorporação da análise para uma nova qualidade de cotidiano).
O existente refere-se a uma situação dada no grupo que abarca a
tarefa explícita e os indícios da implícita. No grupo ocorrem os aspectos
significantes de uma produção. É uma situação grupal que podemos
constatar pela observação de condutas que mostram o que está ocorrendo.
A interpretação faz com que esse leque de significantes adquira
significados próprios, a partir do que é pertinente ao objetivo-contato comum
do grupo, compondo uma situação nova decorrente da produção grupal.
A situação emergente expressará os sinais de um tipo de produção,
um fato sintético que inclui as contradições e se apresenta como um quebra-
cabeças.
A interpretação do coordenador baseia-se:
1. Na horizontalidade do grupo, ao explorar os níveis explícitos e
implícitos da tarefa. Expressa os múltiplos significantes (explícitos) e
significados (explícitos/implícitos) da produção grupal;
2. Na verticalidade do integrante que assume o papel de porta-voz do
acontecer grupal.
As interpretações, ao longo de diferentes reuniões, vão modificando a
dinâmica do grupo. Os integrantes vão se dando conta de que surgem
situações novas, inéditas, propiciando mudanças, fazendo surgir conteúdos
novos, emergentes da produção conjunta. É como se a equação básica da
unidade de trabalho se ampliasse (gráfico 2) e pudesse ser lida pelos seus
efeitos (gráfico 3).
Gráfico 2
Unidade de trabalho
Existente – interpretação – emergente – novo existente
Gráfico 3
Unidade de trabalho
O que se te – é possível ter mais – onde chegamos – queremos mais
A interpretação do coordenador deve diminuir a ansiedade presente
na pré-tarefa. O indício de que isso ocorreu é o despertar de uma nova
situação, de um novo emergente. Por exemplo, no grupo, o simples contato
com o outro provoca ansiedade pela sensação de ter ameaçada a própria
identidade. Os integrantes ficam em silêncio e há uma certa retração
narcísica (cada um “na sua”). Isso expressa o retraimento no individualismo
(eu comigo) e a negação da grupalidade (eu com você). Os integrantes não
interagem, surgem múltiplos monólogos, postergam-se os feedbacks na
comunicação e há falta de vínculos de diferenciação (eu com você)
[existente – o que se tem].
A intervenção do coordenador deve ter uma atenção flutuante que lhe
permita levar em conta o que esse existente lhe provoca. Poder sentir nele
mesmo a sensação de estar calado por estar perdido (ele também nãosabe
ainda o que está provocando o silêncio...), por sentir-se um “peixe fora
d’água”; poder olhar para dentro de si e para fora, desprender-se de sua
dificuldade e lançar hipóteses sobre esse acontecer grupal. O integrante, ao
ouvi-la, pela força de sua interpretação eficiente, fica primeiro dividido entre
sua necessidade (desejo, expectativa) de integrar-se ao grupo e sua
resistência (de permanecer centrado em si mesmo) [interpretação – é
possível].
Em seguida, consegue explorar conteúdos inconscientes negados por
ele e renegados pelo grupo (relativos a não se expor), consegue se
comunicar, vincular-se um pouco mais [emergente – onde chegamos].
O alívio pela diminuição da ansiedade provocada pelo silêncio torna a
relação mais aconchegante, há confiabilidade para se expor, surge uma
nova maneira de se comunicar e de se vincular com os outros [novo
existente – queremos mais].
Com a unidade de trabalho, o coordenador vai compreendendo o
processo gerador de mudanças grupais. A unidade de trabalho é unidade
operativa do grupo, ao constituir-se em campo:
1. de questionamentos, para a elaboração do aprender conjunto; de um
aprender com o outro e com o próprio grupo em construção, em
momentos que implicam situar-se na tarefa.
Os integrantes envolvem-se no grupo com uma certa consciência de
seus objetivos e de como se apropriar deles para satisfazer as
expectativas prévias. Esse processo incluirá a pré-tarefa que se refere
às ansiedades decorrentes das dificuldades surgidas na produção
compartilhada dos sujeitos.
A técnica de grupo operativo centrada na tarefa explícita / implícita abre
espaço para os integrantes explorarem essas dificuldades; cria
condições de o sujeito problematizar-se, o que significa poder
suspender certas afirmações categóricas por outras hipotéticas.
Permite que os integrantes se interroguem, buscando novas respostas;
vivam situações confusionais, diletimatizantes; enfrentem divergências;
conquistem uma integração decorrente da criação (de insights) e
formulem respostas novas que, ao mesmo tempo, fazem surgir novas
perguntas;
2. psicológico, pela construção do grupo em si e pela representação
dessa construção pelos integrantes que produzem processos psíquicos
para se comunicarem e se vincularem em torno da tarefa (ação, fazer
conjunto) explícita: o aprender a olhar e a viver a realidade, as
condições concretas de existência do integrante no cotidiano
compartilhado; marcha do grupo para o objetivo; práxis ou trajetória;
um fazer dialético em espiral ascendente, com avanços e recuos em
relação à finalidade do grupo. Tarefa implícita: o organizador psíquico
caracterizável como formação inconsciente cenificada (como desejos,
incluindo os papéis pelos quais ocorre a comunicação e o vínculo).
Reproduz as vicissitudes do desenvolvimento vincular (presente em
todas as relações humanas, em todos os grupos, desde a infância).
A técnica de grupo operativo está centrada na tarefa e não nos
emergentes. Isso facilita a compreensão de que a tarefa ocorre em torno do
fazer coletivo, da ação externa e de que, para isso, iremos procurar entender
a produção psíquica dos conteúdos inconscientes grupais, os quais se
atualizam por meio dos emergentes. A tarefa permite ao integrante, a partir
de sua necessidade, chegar ao objetivo, passando pela socialização das
expectativas por meio de interações que permitirão a comunicação, o
desempenho de papéis e o vínculo.
A unidade de trabalho é rica, dinâmica, complexa, é o campo da
intervenção do coordenador.
Para que isso não se transforme em um monstro perseguidor de suas
coordenações, vamos abrir um pouco mais o campo de conhecimento.
Vamos compreender, em maior profundidade, os conceitos que justificam a
intervenção do coordenador.
1.8. A crescente dificuldade em proporcionar liderança
eficaz
Ao mesmo tempo que a
crescente intensidade competitiva
tem produzido a necessidade de
mais liderança em quase todos os
níveis de muitas organizações,
um segundo conjunto de forças
menos dramáticas tem
aumentado de modo constante a
dificuldade de proporcionar
liderança eficaz. São as forças de
crescimento, diversificação,
globalização e desenvolvimento
tecnológico que tornam os
negócios cada vez mais
complexos.
O que aconteceu a esse respeito com a Pepsi Cola não é incomum.
E, 1955, a Pepsi Cola Company era uma empresa de refrigerantes com
faturamento de US$ 60 milhões por ano que vendia seu produto quase que
totalmente em EUA e empregava cerca de 1.900 pessoas. Vinte e cinco
anos, mais tarde, ela era uma empresa de US$ 6 bilhões de faturamento por
ano, com mais de 100 mil empregados, que venda refrigerantes, salgadinhos
(Frito-Lay), lanches rápidos (Pizza Hut e Taco Bell), serviços de transporte
(North American Van Lines e Lee Way Motor Freight) e materiais esportivos
(Wilson) e que obtinha significativa quantia de dinheiro em mais de cem
mercados fora dos EUA. Com toda a probabilidade, não era fácil
proporcionar liderança eficaz para o negócio em 1955, em nenhuma medida
razoável. Porém, proporcionar liderança eficaz em 1980 era, com certeza,
mais complexo, devido à magnitude dos negócios.
Em 1955, a Digital Equipment Corporation nem ao menos existia. Em
1985, vendeu produtos e serviços no valor de mais de US$ 6 bilhões a
milhares de clientes em dezenas de setores diferentes. Tinha 45 mil
acionistas, 100 mil empregados e operações em todo o mundo. A National
Cash Register Company, hoje conhecida com NCR, era uma fabricante de
caixas registradoras e equipamentos relacionados, com baixa tecnologia.
Por volta de 1985, seu negócio não só era maior como também empregava
a mesma alta tecnologia que a Digital, a IBM e outras. A American Express
está há muitos anos presente no exterior; em 1950, tinha 186 escritórios em
31 países. Mas cresceu a ponto de, em 1985, ter mais de mil escritórios em
130 países. De muitas maneiras, os diferentes serviços que a empresa
oferece cresceram ainda mais depressa (por exemplo, banco de
investimentos, seguros).
A comparação entre a situação em 1950 e em 1980 na maioria das
empresas, mesmo nas relativamente pequenas, revelaria um quadro
semelhante.
Não é fácil lidar com os desafios típicos da liderança criados pela
intensidade competitiva – diminuir custos, aumentar a produtividade,
aperfeiçoar o serviço ao cliente, manter alta qualidade, desenvolver novos
produtos mais rapidamente. Lidar com essas questões sempre significa
produzir mudanças. E mudanças criam incertezas e ansiedades a
vencedores e perdedores. A resistência gerada por pessoas ansiosas ou
funcionários que enfrentam perdas reais não é fácil de superar mesmo em
situações simples. Porém “simples” não faz parte mais da ordem do dia. E
lidar com esses desafios em estruturas complexas pode se tornar bastante
difícil.
Uma coisa é aperfeiçoar os serviços aos clientes em uma equipe de
vendas que emprega vinte pessoas, todas baseadas no mesmo escritório. O
desafio é muito diferente se a força de vendas tem 2 mil (ou 20 mil) pessoas
e elas trabalham em cem (ou mil) escritórios espalhados pelo mundo. Uma
coisa é melhorar a produtividade de modo significativo quando uma única
tecnologia fundamental é usada na operação de fabricação ou serviço. É
outra jogada muito mais difícil quando os esforços precisam englobar
dezenas ou centenas de diferentes tecnologias. Desenvolver novos produtos
e comercializá-los apresenta m conjunto de problemas quando o mercado é
relativamente homogêneo (por exemplo, pessoas que habitam o meio-oeste
dos EUA). Um conjunto de problemas muito diferentes e bem mais
complicados se apresenta quando existem dezenas (ou centenas) de
mercados que são diferentes em algumas características importantes (por
exemplo, Brasil versus Suécia). Fazer com que algo mude é bem mais fácil
se o conjunto dos funcionários é mais ou menos homogêneo. Tentar se
comunicar bem com pessoas de muitas nacionalidades, com velhos e
jovens, com pós-graduados em administração de empresas e engenheiros, é
muito mais difícil.
O desafio da liderança na cúpula de organizações complexas parece
às vezes ser quase insuperável. Nunca é fácil estabelecer e implementar
estratégias sensatas para os negócios. Porém, em muitas situações atuais,
as incertezas tecnológicas, competitivas, mercadológicas, econômicas e
políticas fazem com que a tomada de decisões estratégicas fique
tremendamente complicada. Conflitos de interesse dentro da empresa, entre
o que é bom para a divisão norte-americana e o que é bom para o grupo
europeu, ou os banqueiros tradicionais versus o novo departamento de
investimentos dos bancos, podem tornar a implantação de qualquer
estratégia a mais perigosa das aventuras. Contudo, ao contrário de 1955,
milhares de executivos no mundo todo enfrentam hoje esse tipo de desafio.
1.9. Perfil do líder
Não é fácil proporcionar
liderança eficaz, pelo menos em
altos cargos. Se assim fosse,
conheceríamos muitas lideranças
boas através da história. Na
verdade, até nas situações mais
simples várias condições são
necessárias para criar a visão e a
estratégia e conseguir trabalho de
equipe e a motivação. Porém
condições simples já não são
mais a norma. A regra é a
complexidade.
Uma coisa é um executivo
proporcionar liderança sobre
alguma questão gerada pela
intensidade competitiva se o
grupo for pequeno e não
diversificado, a tecnologia
simples, a linha de produtos
limitada e o mercado homogêneo.
É uma coisa completamente
diferente quando grandes grupos,
com vários tipos de pessoas,
estão envolvidos e quando as
tecnologias e os produtos são
numerosos e complexos.
Em condições de larga escala e complexidade, a melhor evidência
empírica disponível sugere que criar um programa inteligente exige o
conhecimento de uma vasta quantidade de informações – sobre produtos
específicos, tecnologias, mercados e pessoas. Sem esse conhecimento,
simplesmente não é possível produzir boas visões e estruturas inteligentes,
ou julgar se as visões e estratégias sugeridas fazem sentido. Também exige
uma mente alerta, uma suficientemente forte capacidade analítica, uma
aptidão para pensar de modo estratégico e multimensional, e bom
discernimento de negócios para sintetizar todas essas informações em um
programa sólido. Receio que com demasiada freqüência caímos na
armadilha romântica de acreditar que a grande visão surge por mágica ou
traça divina. No mundo dos negócios isso raramente (ou nunca) acontece. A
grande visão surge quando uma mente poderosa, trabalhando um longo
tempo e com afinco sobre grandes quantidades de informações, é capaz de
ver (ou reconhecer nas sugestões de outros) padrões interessantes e novas
possibilidades.
Sob essas condições de larga escala e complexidade, a melhor evidência
sugere que atrair e manter uma grande rede de recursos necessários para
realizar um sólido programa requer grande credibilidade, que por sua vez
exige: (1) ficha de realizações muito significativa e boa reputação; (2)
relações de trabalho sólidas e cooperativas com muitos dos representantes
do setor da empresa ou de ambas; e (3) capacidade e integridade
interpessoais necessárias para desenvolver relações de credibilidade com
um amplo conjunto de pessoas com facilidade e rapidez. Um rosto
simpático, perspicácia e um pouco de carisma ajudam com certeza, mas
essas características de pessoas líderes em atividades sociais não são
suficientes nos negócios. Motivar pessoas-chaves na rede para trabalharem
com afinco no programa exige uma considerável capacidade de
comunicação e uma sutil compreensão de todos os diferentes tipos de
pessoas envolvidas.
Devido à dificuldade inerente de fazer tudo isso, a liderança eficaz em
altos cargos administrativos também parece exigir um grande nível de
energia e um profundo desejo de usar essa energia para suprir a liderança
(em oposição às dezenas de outras formas em que poderíamos usar tal
energia). Isso subentende uma pessoa altamente motivada e autoconfiante,
cuja garra o empurra na direção de utilizar o poder de realizar coisas através
de outros (o que em psicologia se costuma chamar de motivação de poder e
realização).
1.10. Liderança pela motivação: a ética e a praticidade dos
incentivos
Uma das noções mais
equivocadas que fazem parte do
pensamento atual dos líderes
empresariais norte-americanos é
a de que os incentivos
representam a melhor maneira de
combater a baixa produtividade e
aumentar os lucros. Os incentivos
são, na prática, aquelas coisas
que geram em nós o medo do
castigo ou a expectativa de uma
recompensa, incitando-nos assim
à ação ou ao esforço. Ao longo
dos últimos quarenta anos, os
programas de incentivos foram se
tornando cada vez maiores e
mais complexos, em decorrência
da crença de que os incentivos
são o fundamento da motivação.
De fato, essa crença é tão
difundida que os incentivos se
tornaram a pedra fundamental de
toda uma cultura – uma “cultura
dos incentivos”, por assim dizer.
1.11. A diversidade e o desenvolvimento da liderança
Um dos principais objetivos
de muitas empresas é o de
encontrar e formar futuros líderes,
administradores talentosos que
ajudem a empresa a prosperar. À
medida que cresce a diversidade
dentro da nossa sociedade, esse
objetivo passa a incluir também a
inserção, no grupo dos líderes em
potencial, de administradores que
fogem aos padrões tradicionais.
Passa a incluir, além disso, um
aprimoramento dos métodos
tradicionais de preparar as
pessoas para a liderança. A idéia
é a de que métodos tradicionais
de preparar as pessoas para a
liderança aplicados a um espectro
mais amplo de candidatos vão
fazer aumentar a produtividade e
a rentabilidade da empresa e a
sua capacidade de reagir
adequadamente às condições
mutáveis mutáveis do mundo dos
negócios.
As perspectivas de um desenvolvimento eficaz são, com freqüência,
prejudicada pelas características étnicas e pelo sexo do administrador. Os
pressupostos e técnicas utilizados há anos como estratégia de
desenvolvimento nas empresas talvez não sirvam bem para os
administradores não-tradicionais (tais como pessoas de cor ou mulheres
brancas). A pesquisa que fizemos para The New Leaders revelou um
modelo de desenvolvimento de liderança que se baseia no equilíbrio de três
componentes – desafio, reconhecimento e apoio – que cooperam ao longo
do tempo para desencadear e alimentar o crescimento. O modelo postula
que, para que o desenvolvimento se sustente ao longo de tempo, os três
elementos precisam ser fornecidos aproximadamente na mesma proporção.
O desafio das situações novas e das metas difíceis predispõe os líderes a
aprender as lições que os ajudarão a ter um desempenho melhor nos níveis
mais elevados. O reconhecimento ocorre quando o líder é elogiado e
premiado pelas conquistas, e fornece as condições para que as realizações
continuem, na forma de promoções, remuneração e prêmios. O apoio
garante a aceitação e a compreensão, junto com os benefícios que ajudam o
administrador a incorporar a carreira ao conjunto de uma vida plena e
satisfatória.
Na maioria dos casos, o componente “desafio” é muito maior que os
outros dois elementos. Nossa pesquisa mostrou que alguns aspectos do
desafio são relegados a segundo plano, que o reconhecimento em geral é
lento e que os sistemas tradicionais de apoio podem ser inadequados. As
barreiras com as quais defrontam muitos administradores não-tradicionais,
identificadas em nosso estudo, contribuem significativamente para esse
desequilíbrio. Isso tudo pode fazer com que negros e mulheres de enorme
potencial – e às vezes também homens brancos – sejam levados à
exaustão, ao hábito de fracassar ou a desistir de uma condição de trabalho
debilitante. Para impedir essa fuga de talentos, algumas das empresas mais
progressistas do país estão estudando formas de restabelecer o equilíbrio
em seus esforços de formar novos lideres.
CONCLUSÃO
A liderança é um assunto obscuro onde sobejam as opiniões.
Podemos fazer algumas afirmações sobre o que ela é dentro do contexto da
complexa organização moderna.
A liderança eficaz par qualquer atividade em organizações complexas
é o processo de criar uma visão do futuro que leve em consideração os
legítimos interesses a longo prazo das partes envolvidas nessa atividade; de
desenvolver uma estratégia racional para se mover em direção a essa visão;
de conquistar o apoio dos principais centros de poder cuja cooperação,
anuência ou trabalho de equipe sejam necessários para produzir esse
movimento; e de motivar em alto grau esse grupo central de pessoas cujas
ações são fundamentais para implantar a estratégia.
Neste sentido, liderança em geral não é a mesma coisa que aquilo
que chamamos “administração”, embora, com certeza, os dois não sejam
incompatíveis (na verdade, nos dias de hoje, ambos são cada vez mais
necessários em cargos gerenciais). No fundo, administração é o processo de
planejar, orçar, organizar e controlar alguma atividade através do emprego
de técnicas (mais ou menos) científicas e de autoridade formal.
O tipo de liderança aqui discutido não é do domínio exclusivo do
diretor-presidente ou da alta administração. É encontrada, e cada vez mais
necessária, em praticamente todos os níveis da hierarquia das
organizações. Sem ela, as empresas parecem ter dificuldade das
organizações. Sem ela, as empresas parecem ter dificuldade para lidar com
o ambiente de negócios complexo e de grande intensidade competitiva de
hoje.
Com certeza a liderança necessária nas empresas de hoje é
complexa, mas não está acima das nossas capacidades analíticas.
BIBLIOGRAFIA
BADARACCO, Joseph. O sucesso dos líderes: um guia não ortodoxo
para fazer a coisa certa. Editora Campus, 2002
BIRCH, Paul. Liderança – Alcance seu potencial absoluto já! Editora
Quality Mark, 2002.
COVEY, Stepehn R. Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes. Ed.
Best Seller.
GAYOTTO, Maria Leonor Cunha (org.). Liderança II. Aprenda a coordenar
grupos. Petrópolis: Ed. Vozes Ltda, 2003.
KOTTER, John P. O fator liderança. São Paulo: Makron, McGraw-Hill,
1992.
RENESCH, John. Liderança para uma nova era. São Paulo: Editora
Cultrix, 1994.
RIBEIRO, Amélia Escotto do Amaral. Pedagogia Empresarial – Atuação
do pedagogo na empresa. Rio de Janeiro: Editor Wak, 2003.
SERRA, Afonso Celso da Cunha (tradução). Liderança e motivação. Rio
de Janeiro: Elsevier, (Harvard Bussiness Revew), 2005.
ANEXOS / ATIVIDADES CULTURAIS
ÍNDICE
Pág.
INTRODUÇÃO ............................................................................. 01
CAPÍTULO I O coordenador como líder ................................ 04
1.1 Papel do coordenador .................................. 06
1.2 Papel do integrante como líder de mudança ou
líder de tarefa .................................................... 07
1.3 O ato de intervir ................................................ 08
1.4 A função do coordenador ................................. 10
1.5 Em que e para que intervém o coordenador? ... 12
1.6 Como e quando intervir? .................................. 13
1.6.1 Como interpretar ................................................ 14
1.6.2 Como não interpretar ........................................ 15
1.7 O campo de intervenção do coordenador ......... 16
1.8 A crescente dificuldade em proporcionar liderança
eficaz ................................................................. 20
1.9 Perfil do líder ..................................................... 23
1.10 Liderança pela motivação: a ética e a praticidade
dos incentivos .................................................... 24
1.11 A diversidade e o desenvolvimento da liderança 25
CONCLUSÃO ............................................................................. 27
ANEXOS / ATIVIDADES CULTURAIS ..............................................
ÍNDICE .............................................................................
FOLHA DE AVALIAÇÃO ..................................................................
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA EMPRESARIAL
“A IMPORTÂNCIA E O PROCESSO
DA LIDERANÇA NAS EMPRESAS”
AUTORA: CLAUDIA LUCIA DE A. TORRES
DATA DE ENTREGA: JANEIRO DE 2005
AVALIADO POR: ________________________________
CONCEITO: ________________________________