6
A maioria dos edifícios antigos deve sua longevidade ao fato de ter sido continuadamente utilizada. Ao longo de sua história, porém, eles sofreram alterações para atender a novas funções, que, não raras vezes, resultaram na modificação de sua aparência. O que hoje conhecemos é, freqüentemente, o resultado de sucessivas adaptações que possibilitaram sua sobrevivência. Observando a história da arquitetura, percebe- se que, enquanto a noção de valor histórico não se incorporou à construção das nacionalidades, a destruição dos edifícios considerados sem função era uma prática generalizada e se, por acaso viessem a ser reciclados, as modificações eram feitas exclusivamente em nome da reutilização do edifício, acarretando freqüentemente perdas irreversíveis. Na Roma renascentista, por exemplo, era comum a retirada dos materiais nobres dos templos e palácios da Antigüidade para reaproveitamento em novas edificações, pavimentação urbana ou mesmo para transformação em cal. Do Coliseu, o mais imponente dos monumentos romanos, durante séculos, foram extraídas toneladas de mármore travertino, para servir de material de construção para inúmeras outras edificações. Seu desmonte quase foi interrompido no final do século 16, quando o Papa Sisto V propôs a adaptação do monumento a uma tecelagem de lã conjugada com habitações para os operários. 3 O projeto não foi realizado, e a dilapidação continuou, só vindo a cessar dois séculos depois, quando o local foi consagrado à memória dos mártires cristãos, por Bento XIV 4 – só foi salvo, portanto, porque lhe reconheceram um sentido, uma nova função, a de rememoração. 5 Felizmente muitas edificações que perderam sua função original não foram dilapidadas nem demolidas, mas reaproveitadas para novos usos, ou seja, adaptadas para atendimento a novas necessidades. Adquiriram valor ‘de contemporaneidade’ (Gegenwartswerte), ou seja, adquiriram a “capacidade de satisfazer aquelas necessidades que às novas criações modernas poderia satisfazer de maneira similar (quando não melhor)”. 6 Sobreviveram pelo reconhecimento de um “valor terreno de uso, relativo às condições materiais de utilização prática dos monumentos...”. 7 ARTIGO • CYRO CORRÊA LYRA 53 A importância do uso na preservação da obra de arquitetura 1 Cyro Corrêa Lyra A obra arquitetônica, por ser uma arte eminentemente utilitária, necessita ser continuadamente usada para sobreviver. As ruínas, em sua maioria, são testemunhos de edifícios que ficaram ociosos. A readaptação é uma das soluções para preservar a obra de arquitetura de valor cultural, mas ela deve atender à vocação específica da tipologia arquitetônica a que pertence o monumento. Patrimônio, preservação, uso. A gratuidade pura que pode existir na música, na pintura, na literatura e na poesia é totalmente estranha ao campo da arquitetura. Na verdade, a arquitetura também pode ser objeto de pura contemplação gratuita, mas nesse caso particular encontra-se totalmente destituída de um atributo essencial: a sua natureza necessariamente funcional. 2

A importância do uso na preservação da obra de arquitetura€¦ · período colonial, como foi o caso do Palácio das Duas Torres, construído pelo Conde Maurício de Nassau, quando

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A importância do uso na preservação da obra de arquitetura€¦ · período colonial, como foi o caso do Palácio das Duas Torres, construído pelo Conde Maurício de Nassau, quando

A maioria dos edifícios antigos deve sualongevidade ao fato de ter sidocontinuadamente utilizada. Ao longo de suahistória, porém, eles sofreram alterações paraatender a novas funções, que, não raras vezes,resultaram na modificação de sua aparência. Oque hoje conhecemos é, freqüentemente, oresultado de sucessivas adaptações quepossibilitaram sua sobrevivência.

Observando a história da arquitetura, percebe-se que, enquanto a noção de valor histórico nãose incorporou à construção das nacionalidades, adestruição dos edifícios considerados semfunção era uma prática generalizada e se, poracaso viessem a ser reciclados, as modificaçõeseram feitas exclusivamente em nome dareutilização do edifício, acarretandofreqüentemente perdas irreversíveis.

Na Roma renascentista, por exemplo, eracomum a retirada dos materiais nobres dostemplos e palácios da Antigüidade parareaproveitamento em novas edificações,pavimentação urbana ou mesmo paratransformação em cal.

Do Coliseu, o mais imponente dosmonumentos romanos, durante séculos, foram

extraídas toneladas de mármore travertino, paraservir de material de construção para inúmerasoutras edificações. Seu desmonte quase foiinterrompido no final do século 16, quando oPapa Sisto V propôs a adaptação domonumento a uma tecelagem de lã conjugadacom habitações para os operários.3 O projetonão foi realizado, e a dilapidação continuou, sóvindo a cessar dois séculos depois, quando olocal foi consagrado à memória dos mártirescristãos, por Bento XIV4 – só foi salvo, portanto,porque lhe reconheceram um sentido, umanova função, a de rememoração.5

Felizmente muitas edificações que perderam suafunção original não foram dilapidadas nemdemolidas, mas reaproveitadas para novos usos,ou seja, adaptadas para atendimento a novasnecessidades. Adquiriram valor ‘decontemporaneidade’ (Gegenwartswerte), ou seja,adquiriram a “capacidade de satisfazer aquelasnecessidades que às novas criações modernaspoderia satisfazer de maneira similar (quandonão melhor)”.6 Sobreviveram peloreconhecimento de um “valor terreno de uso,relativo às condições materiais de utilizaçãoprática dos monumentos...”.7

A R T I G O • C Y R O C O R R Ê A L Y R A 53

A importância do uso na preservação da

obra de arquitetura1

C y r o C o r r ê a Ly r a

A obra arquitetônica, por ser uma arte eminentemente utilitária, necessita ser

continuadamente usada para sobreviver. As ruínas, em sua maioria, são testemunhos

de edifícios que ficaram ociosos. A readaptação é uma das soluções para preservar a

obra de arquitetura de valor cultural, mas ela deve atender à vocação específica da

tipologia arquitetônica a que pertence o monumento.

Patr imôn io , p reservação, uso .

AA ggrraattuuiiddaaddee ppuurraa qquuee ppooddee eexxiissttiirr nnaa mmúússiiccaa,, nnaa ppiinnttuurraa,, nnaa lliitteerraattuurraa ee nnaa ppooeessiiaa

éé ttoottaallmmeennttee eessttrraannhhaa aaoo ccaammppoo ddaa aarrqquuiitteettuurraa.. NNaa vveerrddaaddee,, aa aarrqquuiitteettuurraa

ttaammbbéémm ppooddee sseerr oobbjjeettoo ddee ppuurraa ccoonntteemmppllaaççããoo ggrraattuuiittaa,, mmaass nneessssee ccaassoo ppaarrttiiccuullaarr

eennccoonnttrraa--ssee ttoottaallmmeennttee ddeessttiittuuííddaa ddee uumm aattrriibbuuttoo eesssseenncciiaall:: aa ssuuaa nnaattuurreezzaa

nneecceessssaarriiaammeennttee ffuunncciioonnaall..2

Page 2: A importância do uso na preservação da obra de arquitetura€¦ · período colonial, como foi o caso do Palácio das Duas Torres, construído pelo Conde Maurício de Nassau, quando

Por outro lado, a incapacidade de responder anovas necessidades condenou magníficasedificações ao desaparecimento. As ruínas cujaimportância como testemunho só veio a ocorrerno final do século 19, têm ‘histórias de vida’semelhantes: foram edifícios que, em certomomento, ficaram ociosos. Perdendo suafunção, entraram em processo dedecadência física, reduzindo-se a ruínas,testemunhos materiais de arquiteturasmortas e não mais restauráveis.

Em Roma, poucas edificações da Antigüidadenão se arruinaram, mantendo-se razoavelmenteíntegras, ao menos em seu exterior. A razãodessa sobrevivência reside no fato de terem sidoadaptadas, ao longo de sua história, a usosdiversos daqueles para os quais foramconcebidas. São exemplos notáveis a igrejacatólica que foi, originalmente, o tepidarium dasTermas de Diocleciano,8 a conversão em

habitação coletiva do teatro de Marcelo e aadaptação em torre de defesa do mausoléu deCecília Metela, na Via Ápia.

No Brasil verifica-se também o desaparecimentoou o arruinamento de importantes edifíciosdevido à perda de sua função original. Sãoexemplos significativos as fortificações de defesado território e os conventos construídos noperíodo colonial. A arquitetura militar teve umciclo de existência finito: iniciou-se em 1549,com a construção da primeira obra fortificada dedefesa de Salvador, conhecida como Trincheirado Mar, e chegou ao fim com a edificação, em1914, do Forte de Copacabana.9

O número de fortificações construídasnaquele período não foi ainda precisado,sendo estimado em mais de 400. Dessepatrimônio, um pouco mais de uma centenasubsistiu, 44 reconhecidas como bensculturais de valor para a história nacional.10

54

R E V I S T A D O P R O G R A M A D E P Ó S - G R A D U A Ç Ã O E M A R T E S V I S U A I S E B A • U F R J • 2 0 0 6

Page 3: A importância do uso na preservação da obra de arquitetura€¦ · período colonial, como foi o caso do Palácio das Duas Torres, construído pelo Conde Maurício de Nassau, quando

Quando o Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional procedeu ao tombamento dearquitetura militar verificou que as obras que seencontravam em uso apresentavam bom estadode conservação. Por outro lado, a desativaçãode outras tinha provocado seu arruinamento,perdendo suas condições de ser restauradas oureutilizadas. Somente algumas fortificações,apesar de abandonadas por falta de função,puderam ser restauradas e reutilizadas, como asfortalezas do litoral catarinense.

Diferentemente do que ocorreu com aarquitetura militar, os antigos conventos nãotiveram sua obsolescência decretada pelodesaparecimento das razões de sua existência.O que aconteceu com a maioria deles foi umesvaziamento progressivo. Essas construções,feitas para abrigar congregações numerosas, apartir do final do século 19, foram-seesvaziando, tornando-se sua manutençãoexcessivamente onerosa para as ordens

religiosas. Tal como as fortificações, algunsconventos foram abandonados e arruinaram-se,como o de Santo Antonio de Paraguaçu, naBahia, e o de São Boaventura, em Itaboraí,Estado do Rio de Janeiro. Outros, porém, foramreciclados para a função hoteleira, comoocorreu com os antigos conventos carmelitas deSalvador e Cachoeira. (imagem de abertura)

Um dos fatores que contribuíram para apreservação de edifícios antigos foi acontinuidade de uso. Exemplo extraordinário é ahistória de antiga chácara situada em Niterói,tombada pelo Iphan em 1974, atendendo àsolicitação de sua proprietária.11 Concluída suaconstrução em 1872, a casa, conhecida comoSolar do Jambeiro, manteve seu uso residencialpor 125 anos. Só após o falecimento de LúciaFalkenberg, a antiga chácara passou a domíniopúblico mediante desapropriação realizada pelaPrefeitura Municipal de Niterói com o objetivode preservação do imóvel.12

A R T I G O • C Y R O C O R R Ê A L Y R A 55

Page 4: A importância do uso na preservação da obra de arquitetura€¦ · período colonial, como foi o caso do Palácio das Duas Torres, construído pelo Conde Maurício de Nassau, quando

Observe-se, contudo, que, se a adaptação podedar nova vida ao edifício, pode tambémcontribuir para sua ruína. Exemplo clássico é oque sucedeu no século 16 com o Partenon, omais extraordinário dos monumentos helênicos,durante a dominação turca, quando a Acrópolefoi convertida em cidadela, e o Partenon, empaiol de pólvora. Atingido durante uma batalhapelos canhões dos navios venezianos quesitiavam Atenas, o paiol explode e o antigotemplo se arruína.13 O pragmatismo dosgovernantes que levou o Partenon à ruína nãotem sido, porém, o único fator determinante do‘abuso’ dos edifícios. Há causas mais complexas,como motivos de ordem ideológica. Foi o queocorreu na França, em finais do século 18, nosprimeiros anos pós-revolucionários, quandocatedrais e igrejas foram convertidas para asmais inusitadas funções, como paióis demunição, depósitos de salitre ou de sal,mercados, prisões e quartéis.14

No Brasil, os exemplos de destinaçãoinadequada não são poucos e remontam aoperíodo colonial, como foi o caso do Palácio dasDuas Torres, construído pelo Conde Mauríciode Nassau, quando do domínio holandês (1630-1654), que o então governador de Pernambucopretendia converter em quartel. Iniciativa quegerou uma carta indignada do Vice-Rei, D.André de Melo e Castro, Conde das Galveias,lastimando a entrega do palácio “... ao usoviolento e pouco cuidadoso dos soldados, queem pouco tempo reduzirão aquela fábrica a umatotal dissolução, mas ainda me lastima mais que,com ela, se arruinará também uma memória...”.15

A readaptação, na maioria dos casos, porém, é acondição para sobrevivência do edifício quandosua função original desaparece ou quando ascaracterísticas de sua arquitetura já não maissatisfazem às necessidades e exigências dasociedade. A história da arquitetura é umahistória de substituições e a maioria dos edifíciosque sobreviveram às mudanças sociaiscorresponde àqueles que passaram poradaptações. Os demais foram substituídos ouabandonados. Com a expulsão dos jesuítas em1769, uma parte de seu acervo foi destruída oudescaracterizada, restando porém algunsexemplares significativos dos antigos colégios,salvos por terem sido reutilizados de formapouco danosa. Isso ocorreu com o deParanaguá, Paraná, transformado em quartel e,depois, em alfândega; o de Anchieta, Espírito

Santo, convertido em Câmara e Cadeia, e os deVitória, Espírito Santo, e de João Pessoa, Paraíba,adaptados como palácios governamentais.

Até que ponto um edifício de valor cultural podeser adaptado sem se descaracterizarirremediavelmente? De início, é necessárioobservar que os monumentos diferenciam-sepelo que se pode chamar de ‘caráter’,, ou seja, oconjunto de aspectos definidores da famíliaarquitetônica a que pertence.

Reconhece-se que há famílias de grandedensidade simbólica e de explícita intençãoplástica, como a arquitetura dos palácios e dasigrejas. São exemplares arquitetônicos que jánasceram “monumentos”, predestinados aperpetuar de forma explícita a singularidade desua expressão plástica, independentemente doscomponentes documentais que sua história lhestenha agregado. Neles a finalidade original estásolidamente impressa, dificultandoatualizações na relação com o usuário, sendo,portanto, mais resistente a toda forma derenovação e adaptação.

Basta lembrar que a presença de elementosartísticos integrados – um dos traços comuns aesses edifícios –, como as pinturas ou as talhasque revestem paredes e tetos, constitui por si sóempecilho a mudanças de uso para funçõesdiversas da primitiva.

No outro extremo estão as famíliasarquitetônicas dos edifícios concebidos semmaiores intenções plásticas, destinados a atenderapenas às necessidades práticas, ou seja,utilitários por natureza. Seu valor comoarquitetura foi um reconhecimento a posteriori,não nasceram “monumentos”. São exemplos osantigos fortes, fábricas, estações ferroviárias,armazéns, etc, mais acolhedores a adaptações,reciclagens de uso, modernizações,principalmente se pertencerem a programasarquitetônicos que se tornaram obsoletos.

Entretanto, a maioria dos edifícios não é obra designificativa expressão artística nem espaçomeramente utilitário. Constitui, porém, a maiorparte das edificações que integram os sítioshistóricos de nossas cidades. São as casas demoradia ou mistas – moradia e comércio,térreas ou assobradadas que compõem osexemplos urbanos da arquitetura vernacularbrasileira, dotados de valores específicos, seja naforma de organização espacial (documentosmateriais da história do cotidiano), seja naexpressão plástica (documentos materiais da

56

R E V I S T A D O P R O G R A M A D E P Ó S - G R A D U A Ç Ã O E M A R T E S V I S U A I S E B A • U F R J • 2 0 0 6

Page 5: A importância do uso na preservação da obra de arquitetura€¦ · período colonial, como foi o caso do Palácio das Duas Torres, construído pelo Conde Maurício de Nassau, quando

história da “arquitetura sem arquiteto”), valores aserem resgatados e protegidos.

Se para a proteção de um edifício de valorcultural não houver outra solução senão suadestinação para uma função diversa da original,impõe-se como primeira questão a avaliação dapertinência do uso pretendido em face dapreservação do monumento. Em outraspalavras, deve-se verificar se a nova função écondizente com as vocações daquela tipologiaarquitetônica e, o mais importante, com avocação daquele monumento. Emborareutilizações completamente diversas dasfunções originais tenham salvado dodesaparecimento muitos monumentos, pode-seconsiderar que tais fatos foram excepcionais,possuindo cada tipo arquitetônico um lequefinito de vocações de uso.

Assim como a tipologia arquitetônica resulta dafunção que a motivou, o que explica o fato dese diferenciarem externamente casas, igrejas,mercados e indústrias, por sua expressãoformal, é de concluir que a função original marcadefinitivamente o edifício, conferindo-lhe umcaráter. E, nesse sentido, não seria razoávelfazer de uma moradia uma fábrica, de ummercado um templo, porque as característicasde cada tipologia arquitetônica impregnamdefinitivamente seus exemplares.

Cada obra arquitetônica pertence, portanto, auma determinada família em que cada membrotem traços comuns que identificam uma linhavocacional. Além disso, cada edificação tem umahistória própria e uma relação específica com acomunidade a que pertence, fatores que devemcondicionar a escolha de uma nova função.

Cyro Corrêa Lyra é arquiteto, doutor pela Escola de Belas Artes daUFRJ, com especialização em Conservação e Restauração deMonumentos e Sítios pelo International Center for Conservationand Preservation of monuments and sites – ICCROM, Roma, Itália,e professor titular aposentado das Universidades FederaisFluminense e do Paraná.

NNoottaass

1 O artigo é parte integrante da tese de doutorado emHistória da Arte intitulada Casa vazia ruína anuncia. Aquestão do uso na preservação de monumentos., apresen-tada pelo autor, em agosto de 2005, na Escola de BelasArtes da UFRJ.

2 Saia, Luiz. Da Arquitetura. Tese de concurso para provimentoda cadeira de Teoria da Arquitetura da Faculdade deArquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.São Paulo, 1957: 5.

3 Giedion, Sigfried. Espacio, tiempo e arquitectura. Barcelona:Ulrico Hoepli, Editor, 1955:106.

4 Ceschi, Carlo. Teoria e Storia del Restauro. Roma: BulzoniEditore,1970: 40.

5 Pela conceituação desenvolvida por Aloïs Riegl, o Coliseutorna-se um monumento ‘de rememoração’(Erinnerungswerte) em seu reconhecimento comomonumento histórico. Não o era de origem, pois aintenção que motivou sua edificação não era essa. VerRiegl, Aloïs. El culto moderno a los monumentos.. Madrid:Visor Distribuciones. S. A., 1979: 30.

6 Riegl, op. cit.: 69.

7 “Esse valor de uso, segundo Riegl, é igualmente inerente atodos os monumentos históricos, quer tenhamconservado seu papel memorial original e suas funçõesantigas, quer tenham recebido novos usos, mesmomuseográficos. A ausência de valor de uso é o critérioque distingue do monumento histórico tanto as ruínasarqueológicas, cujo valor é essencialmente histórico,quanto a ruína, cujo interesse reside fundamentalmentena ancianidade”. Choay, Françoise. A Alegoria doPatrimônio. São Paulo: Estação Liberdade, 2001: 169.

8 Igreja romana dedicada a S. Francisco.

9 Depois do Forte de Copacabana não se construiu maisnenhuma fortificação, felizmente, porque a falta deserventia militar das praças fortificadas seria comprovadatrês décadas mais tarde, durante a Segunda GuerraMundial.

10 Sobre as fortificações construídas e as que chegaram aoséculo 20 há quatro trabalhos que merecem referência:Garrido, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil.. Rio deJaneiro: Imprensa Naval, 1940; Barreto, Annibal.Fortificações do Brasil; resumo histórico. Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército, 1958; Azambuja, Diocleciano.Evolução das fortificações brasileiras. Brasília: Ministério daCultura, Fundação Nacional Pró-Memória, 1984; e oCD-ROM Fortalezas Multimídia, produzido pelo ProjetoFortalezas Multimídia da Universidade Federal de SantaCatarina, 2003.

11 A proprietária, Lucia Falkenberg, falecida em 1997, solicitouo tombamento em 1973, com receio de que os planosurbanísticos que estavam sendo estudados para Niteróiviessem a mutilar a chácara pelo alargamento da viapública. O Iphan acatou o pedido, tendo em vista asqualidades arquitetônicas e paisagísticas do imóvel,inscrevendo o bem nos Livros de Tombo das BelasArtes.

12 Sobre a historia da casa e de sua restauração, ver: Ribeiro,Paulo Eduardo Vidal Leite. A vida de uma chácararomântica, de Palacete Bartholdy a Solar do Jambeiro.Dissertação.(Mestrado em Conservação e Restauraçãodo Patrimônio Cultural). Rio de Janeiro: Faculdade deArquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Riode Janeiro,1998.

13 Ceschi, op. cit.: 45.

14 Choay, op. cit.: 105.

15 Trecho da carta enviada em 5 de abril de 1742 peloConde de Galveias ao governador de Pernambuco, LuísPereira Freire de Andrade. In.: Restauração erevitalização de núcleos históricos. Análise face àexperiência francesa. Brasília: SPHAN, 1980: 61. Veranexo 04.

A R T I G O • C Y R O C O R R Ê A L Y R A 57

Page 6: A importância do uso na preservação da obra de arquitetura€¦ · período colonial, como foi o caso do Palácio das Duas Torres, construído pelo Conde Maurício de Nassau, quando