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WORLD TENSIONS | 235 Resumo Em 1975, mudanças políticas em Portugal abriram caminho para o desmantelamento do seu império colonial e, em especial, para a independência de Angola. Embora o Brasil ainda vivesse sob um regime ditatorial, tais acontecimentos tiveram ampla cobertura da imprensa. O artigo mostra que isto ocorreu devido aos interesses da política externa brasileira e à menor censura sobre o noticiário internacional. Palavras-chave: Mídia; Política Externa Brasileira; Governo Geisel; Independência de Angola. ADRIANO DE FREIXO Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (PPGEST)/UFF. JACQUELINE VENTAPANE FREITAS Mestra em História Política pela UERJ e doutoranda em Ciência Política na UFF. A imprensa brasileira e o reconhecimento da independência de Angola ADRIANO DE FREIXO JACQUELINE VENTAPANE FREITAS The Brazilian press and the recognition of Angola independence Abstract In 1975, the political changes in Portugal paved the way for the final decommissioning of its colonial empire, and, in particular, the independence of Angola. Although, at the time, Brazil still lived under the aegis of a dictatorial regime, such events had a wide coverage in the press. The article shows that this occurred because of Brazil’s international interests and the lighter censorship applied to foreign news. Keywords: Media; Brazilian Foreign Policy; Geisel Government; Angola independence.

A Imprensa Brasileira e o Reconhecimento Da Independência de Angola

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O artigo trata de como o Brasil - primeiro país a reconhecer a independência de Angola - e sua imprensa, projetaram sua imagem internacionalmente através do exercício do soft power.

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    Resumo

    Em 1975, mudanas polticas em Portugal abriram caminho para o desmantelamento do seu imprio colonial e, em especial, para a independncia de Angola. Embora o Brasil ainda vivesse sob um regime ditatorial, tais acontecimentos tiveram ampla cobertura da imprensa. O artigo mostra que isto ocorreu devido aos interesses da poltica externa brasileira e menor censura sobre o noticirio internacional.

    Palavras-chave: Mdia; Poltica Externa Brasileira; Governo Geisel; Independncia de Angola.

    ADRIANO DE FREIXO Doutor em Histria Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor do Programa de Ps-Graduao em Estudos Estratgicos da Universidade Federal Fluminense (PPGEST)/UFF.

    JACQUELINE VENTAPANE FREITAS Mestra em Histria Poltica pela UERJ e doutoranda em Cincia Poltica na UFF.

    A imprensa brasileira e o reconhecimento da

    independncia de Angola ADRIANO DE FREIXO

    JACQUELINE VENTAPANE FREITAS

    The Brazilian press and the recognition of Angola independence

    Abstract

    In 1975, the political changes in Portugal paved the way for the final decommissioning of its colonial empire, and, in particular, the independence of Angola. Although, at the time, Brazil still lived under the aegis of a dictatorial regime, such events had a wide coverage in the press. The article shows that this occurred because of Brazils international interests and the lighter censorship applied to foreign news.

    Keywords: Media; Brazilian Foreign Policy; Geisel Government; Angola independence.

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    1 INTRODUO

    Entre 1974 e 1976, a mdia brasileira acompanhou com bas-tante interesse os acontecimentos em Portugal aps a Revoluo dos Cravos e a queda da ditadura salazarista-caetanista, bem com seus desdobramentos na frica, com o desmantelamento defini-tivo do imprio colonial portugus. A intensidade dessa cobertura jornalstica justificada no somente pela numerosa e influente colnia portuguesa existente no Brasil, vida por ter uma noo do que estava a acontecer do outro lado do Atlntico, mas tam-bm por conta dos inmeros interesses polticos e econmicos do governo e das elites brasileiras em relao frica. Naquele mo-mento, o continente africano havia se tornado uma rea priorit-ria para a Poltica Externa Brasileira e, na percepo de influentes setores dessas elites, um espao natural de projeo do poder na-cional do Brasil.

    H de se registrar a liberdade com que referidos assuntos foram abordados na imprensa brasileira, mesmo com o pas ainda sob um regime ditatorial, chegando at a haver intensos debates tra-vados em alguns dos mais importantes veculos de comunicao do pas entre diferentes setores que possuam vises distintas sobre qual deveria ser o posicionamento brasileiro diante de tais acontecimentos. Essa cobertura mais livre, em nossa avaliao, no pode ser explicada somente pelo incio da transio democr-tica e pelo abrandamento da censura entre 1975 e 1978 (quando houve o fim da censura prvia) ou pela maior margem de manobra que o noticirio internacional possua o que levou ao aumento do seu espao nos principais jornais e revistas de informao do pas , j que as preocupaes dos censores e das autoridades go-vernamentais estavam mais voltadas para o noticirio interno.

    Neste prisma, pretendemos abordar neste artigo alguns aspec-tos da cobertura da imprensa escrita brasileira sobre a indepen-dncia de Angola, em 1975, dando nfase aos debates nela trava-dos naquele perodo. Em nossa anlise, procuramos entender a imprensa tanto como um ator domstico que desempenha um pa-pel importante no mbito da poltica externa, seja por meio da in-fluncia por ela exercida sobre a opinio pblica, seja procurando realizar presses indiretas via classe poltica sobre o Executivo

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    e os formuladores dessa poltica (HILL, 2002), quanto como um ator instrumental utilizado por agentes do Estado brasileiro para articular acordos e construir suportes e bases de apoio para suas posies (GILBOA, 2002).

    2 TRANSIO DEMOCRTICA, POLTICA EXTERNA E DESENVOLVIMENTO NACIONAL: O PRAGMATISMO ECUMNICO E RESPONSVEL

    Em 15 de maro de 1974, tomava posse o general Ernesto Geisel como presidente da Repblica do Brasil. Pode-se dizer que um dos seus projetos mais importantes era o de conduzir o pro-cesso de transio para a democracia a distenso lenta, gradu-al e segura, idealizada pelo prprio Presidente e por Golbery do Couto e Silva, chefe do Gabinete Civil e um dos mais destacados tericos das propostas de um desenvolvimento global associado segurana nacional. Na realidade, tomava-se o cuidado para evi-tar uma ruptura abrupta ou mesmo a descontinuidade do sistema vigente, havendo tambm a preocupao em preservar as foras armadas como instituio e em eximir os atores ativos do regime da responsabilidade de responder pelos atos de arbtrio.

    A discusso sobre a redemocratizao brasileira, aps o pe-rodo do regime autoritrio constitudo com o golpe civil-militar de 1964, gira em torno de diferentes variveis polticas, econ-micas ou sociais. Alguns autores apontam o projeto poltico do chamado grupo castelista como elemento definidor da transio, enfatizando a atuao dos seus dois principais atores individuais Geisel e Golbery. Ressalta-se tambm a aplicao prtica da te-se de Golbery de que o Brasil estaria entrando, do ponto de vista da evoluo do seu sistema poltico, em um ciclo de descentra-lizao e que, portanto, o regime e suas instituies deveriam buscar mecanismos para tentar manter sua legitimidade.1 Outros

    1 A referncia s centralizaes e descentralizaes buscava fornecer uma justifi-cativa para a estrutura governamental e institucional da ditadura, baseada na cen-tralizao autoritria. Em sua tese, as fases de centralizao e de descentralizao despontariam como uma caracterstica presente em todos os Estados modernos, incluindo-se o Brasil, em que cada poca histrica [...] admitir um mximo e um mnimo de centralizao e descentralizao que lhe sero imanentes e, assim, in-transponveis de fato. COUTO E SILVA, Golbery. Geopoltica e Poder, Rio de Janeiro, UniverCidade, 2003, p. 484. Conforme mostra Rezende (2001), a ideia de legitimidade democrtica perpassou todo o perodo do regime militar.

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    tero como referncia os aspectos econmicos, notadamente o esgotamento do modelo do milagre econmico e os reflexos das crises internacionais na economia nacional. E, finalmente, outra abordagem considera como fatores fundamentais o crescimento da oposio da sociedade civil, identificada ao renascimento do movimento operrio e na atuao de instituies como a OAB, a ABI e a Igreja Catlica, aliado ao crescimento da oposio poltica institucional, principalmente aps as eleies de 1974 e a vitria do MDB, o partido de oposio.

    Os conflitos intragovernamentais levaram necessidade de negociaes, concesses e mudanas de rumo, considerando que as crises polticas e econmicas se intercambiavam, bem como aumentavam as dissenses no meio da corporao militar e as demandas dos setores urbanos por melhorias econmicas e pela restituio das liberdades democrticas. O governo Geisel enfren-tou, tambm, vrias presses que acabaram por interferir no pro-cesso de redemocratizao: a dos setores mais radicais das foras armadas, a chamada linha dura; a da oposio institucional, re-presentada pelo MDB, especialmente, o bloco dos autnticos; a de uma nova classe operria, que voltaria cena poltica em 1978, nos quadros do novo sindicalismo; e a do empresariado nacio-nal, que se lanaria na crtica do modelo econmico e do modelo poltico.2

    Paralelamente constituio dessa nova etapa na poltica do-mstica brasileira, tambm tomava forma uma nova proposta de insero do pas no sistema internacional, com a ampliao do dilogo com novos parceiros estratgicos e da busca de meios para o desenvolvimento nacional. Com o nome de Pragmatismo Ecumnico e Responsvel, a nova linha da Poltica Externa Brasileira surgia como a continuidade e a consolidao do projeto de Brasil Grande que havia se afirmado, sobremodo, durante o governo do

    2 O chamado bloco dos autnticos constitua-se por polticos liberais pertencentes ao quadro MDB que radicalizaram sua oposio ao regime militar. J por novo sindi-calimo, compreende-se o movimento dos trabalhadores em direo construo de um sindicalismo de massa, autnomo, livre, democrtico e de classe. Tal movimento, com carter ideolgico explcito, resultou concretamente na criao, em 1963, da Central nica dos Trabalhadores (CUT). Teve sua origem nas organizaes sindicais dos trabalhadores do ABC paulista, onde se situava o mais moderno parque indus-trial do pas e onde ocorreram as primeiras greves que romperam com as normas vigentes.

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    presidente Mdici (1969-1974). Depois de um breve perodo de ali-nhamento automtico com os Estados Unidos, nos primeiros anos do regime autoritrio ps-1964, a poltica exterior do pas viria a se pautar, novamente, pela autonomia e pela busca do desenvol-vimento. Estes objetivos perseguidos pelo Estado brasileiro e pelos formuladores da poltica externa brasileira, desde, pelo menos, a dcada de 1950, vo estar presentes de forma bastante intensa no governo Geisel.

    A luta pela elevao do prestgio internacional do Brasil foi perse-guida mediante instaurao de uma autonomia do desenvolvimen-to em que as dificuldades criadas, principalmente pelos Estados Unidos, na cesso de material blico mais moderno e sofisticado, levaram o pas a recorrer a outras fontes para seu desenvolvimento tecnolgico. Segundo Garcia (1997), os militares brasileiros tinham conscincia de que a defesa da soberania nacional somente se daria como atividade prpria e que no poderia ser admitida a subordi-nao estratgica ao poder hegemnico por tempo indefinido. O apogeu desse modelo, durante o regime militar, deu-se ao mesmo tempo em que se processava a transio poltica para um regime democrtico, nos governos Geisel e Figueiredo. Em grande medida, a multilateralizao da poltica externa brasileira daquele perodo vai responder s necessidades das foras armadas, no tocante ao desenvolvimento da sua capacidade industrial-tecnolgica.

    No incio do governo Geisel, veio a ocorrer uma grave crise ener-gtica internacional, com visvel impacto no processo decisrio da poltica externa brasileira, embora os efeitos dos benefcios do mi-lagre econmico dos anos anteriores ainda se fizessem sentir no pas. As decises sobre o acordo nuclear com a Repblica Federal Alem, a aproximao com os pases do Oriente Mdio, membros da Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo (OPEP), e com os pases da frica Negra, importantes fornecedores de petrleo, surgiram como a necessidade de busca de novos parceiros que pudessem viabilizar o desenvolvimento do pas, mesmo diante da-quela grave crise, que aumentou enormemente a dvida externa brasileira.

    Esse novo quadro internacional, aliado viso de que o modelo ditatorial militar institudo j no se sustentava dentro dos mesmos

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    moldes, levou a que as percepes geopolticas do governo Geisel no tivessem o aspecto ideolgico como parmetro mais forte pa-ra as relaes dentro do sistema internacional. Agora, o econmi-co tornara-se o elemento prioritrio, sendo essencial a busca de novos mercados e de fornecedores de petrleo. Ao mesmo tempo, internamente, avanava o projeto da distenso lenta e gradual, apesar da ocorrncia de inmeras crises polticas. O jornal Folha de S. Paulo, na sua edio de 20 de junho de 1975, ao noticiar o encontro do ento ministro da Justia, Armando Falco, com de-putados da ARENA, deixa bastante claro que os dois projetos se intercambiavam nas aes do governo central:

    O Pas est em clima de absoluta tranquilidade, mas o proces-so de distenso gradual, em curso, no importar, em hipte-se alguma, na supresso dos diplomas legais excepcionais. A bancada arenista da Cmara dos Deputados influir na escolha do prximo presidente da agremiao majoritria. O Congresso deve iniciar, imediatamente, o debate da poltica nuclear bra-sileira.3

    A crise energtica internacional atingiu a aliana entre o em-presariado e a tecnoburocracia que havia sustentado o regime des-de seu incio, fazendo com que a contestao quanto aos rumos da poltica econmica do governo fosse crescente e com que os setores empresariais buscassem maior participao nos processos decisrios governamentais. Para lidar com essas dificuldades, o presidente alterava os rumos da poltica externa, tendo seu olhar voltado, tambm, para a conjuntura internacional adversa. Como assinala Diniz (2002), os empresrios industriais brasileiros, des-de o incio do desenvolvimento do capitalismo industrial nacional, revelaram alta capacidade de mobilizao e de participao po-ltica em defesa dos seus interesses, com uma forma de ao es-sencialmente pragmtica, apoiando governos e regimes distintos, fossem ditaduras ou democracias, adaptando-se assim ao grau de instabilidade poltica do pas. Alm disso, eles representaram um papel de destaque na sustentao poltica do modelo nacional--desenvolvimentista, integrando as diversas coalizes de apoio ordem industrial que se implantava. Um bom exemplo disto foi sua

    3 Banco de Dados Folha. Disponvel em http://almanaque. folha.uol.com.br/Brasil_20jun1975.htm. Acesso em: 20 set. de 2010.

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    aceitao e participao no golpe de 1964 por isto, dito como ci-vil-militar, j que, apesar de conduzido pelas foras militares, teve como base de articulao importantes foras do meio civil, como o prprio empresariado e elites polticas alijadas do governo Goulart e no apoio ao projeto autoritrio do regime durante os dez anos que se seguiram. E foi justamente a partir de 1974 que as fissuras desse pacto comearam a se mostrar evidentes e que o empresa-riado passou a demandar novas posies no centro decisrio.

    3 O BRASIL E O RECONHECIMENTO DA INDEPENDNCIA DE ANGOLA

    nesse quadro que se insere o reconhecimento da independncia de Angola, sob a liderana do Movimento Popular pela Libertao de Angola (MPLA),4 resistindo s inmeras pres-ses internas e externas. Internamente, a comunidade portuguesa no pas, aliada a outros grupos de interesse, tentava influenciar a opinio pblica por meio da grande imprensa. Externamente, mesmo com a nova constituio poltica advinda com a Revoluo dos Cravos, que caminhava para a soluo do problema colonial, presses vinham de Lisboa para que o pas no apoiasse o proces-so de descolonizao no continente africano.

    De todas as colnias portuguesas neste continente, Angola vi-ria a ser aquela de maior interesse para o Brasil, no apenas por conta dos laos culturais e histricos, mas por sua importncia econmica e sua posio geogrfica no Atlntico Sul, rea de es-pecial interesse geopoltico para o pas. Dessa forma, as mudanas que ocorriam na frica portuguesa interessavam sobremaneira o Estado brasileiro e se, at ento, as relaes com essa regio se estabeleciam atravs de Lisboa, com o processo de independn-cia das colnias portuguesas, essas deveriam se dar diretamente com os novos pases que se constituam. Assim, diante do avano das negociaes em torno da independncia de Angola, atravs dos Acordos de Alvor, a primeira providncia do governo Geisel

    4 O governo do MPLA foi qualificado pelas foras conservadoras da poca de mar-xista, mesmo que essa definio s viesse a ser adotada pelo movimento de liberta-o aps o seu primeiro Congresso, realizado em 1977, quando assume a designao MPLA-PT (MPLA Partido do Trabalho) e nos seus estatutos inclui a designao de partido marxista-leninista.

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    foi o estabelecimento da Representao Especial no pas, tendo frente o embaixador Ovdio de Andrade Melo. Com essa atitude, o governo brasileiro rompia com o posicionamento tradicional dos governos militares de aliana com Portugal na questo africana e ampliava o dilogo com as novas naes do continente.

    Cabe ressaltar que a reafirmao de uma poltica africana por parte do Brasil havia se iniciado ainda no governo Garrastazu Mdici, depois do recuo verificado nos primeiros anos aps o gol-pe de 1964. Assim, se os anos da Poltica Externa Independente (1960-1964) representaram uma virada nas relaes Brasil-frica com a diplomacia brasileira assumindo uma postura de conde-nao clara de qualquer tipo de colonialismo e rompendo com a histrica posio de apoio aos interesses portugueses na frica vigente at ento , o novo regime instaurado em 1964 reverteu esta tendncia, porquanto a preocupao estratgica do governo brasileiro com a possibilidade do estabelecimento de governos de esquerda na costa atlntica da frica fazia com que a possvel in-dependncia das colnias portuguesas fosse vista como uma ame-aa segurana no Atlntico Sul:

    Objetivando guarnecer esse flanco defensivo, reverteu-se a orientao poltica desenvolvida pelo governo anterior de afas-tar o pas do regime portugus de Salazar, devido sua obs-tinao em manter o imprio colonial a salvo do processo de descolonizao. Movido pelo interesse geopoltico de assegu-rar o arquiplago de Cabo Verde e Angola adstritos ao bloco ocidental, o governo Castelo Branco buscou a reaproximao com o governo portugus. Aps as visitas mtuas do chance-ler portugus Franco Nogueira e do chanceler brasileiro Juracy Magalhes, foi restabelecido o status quo ante, o que propor-cionou ao Brasil, em troca de seu apoio ao sistema colonial de Portugal, a assinatura de um tratado de comrcio pelo qual se lhe abriram os portos coloniais (GONALVES; MIYAMOTO, 1993, p. 220).

    Tal posio, como j assinalado, s seria modificada a partir de 1969 e a nova poltica brasileira para a frica seria simbolizada pela visita do chanceler Mrio Gibson Barboza a diversos pases da costa ocidental africana. Esta visita fez com que a chancelaria brasileira tivesse uma noo bastante clara de que a manuteno do apoio a Portugal era prejudicial aos interesses polticos e eco-nmicos do Brasil naquele continente:

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    O interessante que desde o final de 1972 j estava definido para o alto escalo do Itamaraty que no havia mais condies de cotejar Portugal e a frica negra simultaneamente. O xito da visita de Gibson Barboza e as perspectivas de cooperao tcnica e expanso comercial do Brasil no continente africa-no pareciam mais promissores que a tradicional amizade com Portugal. Esse foi o ncleo da reformulao poltica empreendi-da na poca (SARAIVA, 1996, p. 170).

    A reformulao da nossa poltica externa acabou propiciando ao Brasil exercer expressivo papel na consolidao do processo de descolonizao da frica-Portuguesa, ao ser o primeiro Estado es-trangeiro a reconhecer a independncia de Angola e a estabelecer rapidamente relaes diplomticas e comerciais com os novos pa-ses africanos de lngua portuguesa. Era um novo momento da di-plomacia brasileira: o do Pragmatismo Responsvel, do chance-ler Azeredo da Silveira, durante a presidncia do general Ernesto Geisel (1974-1979). Nesse perodo em que os postulados da Poltica Externa Independente so retomados e aplicados em sua plenitu-de, a poltica africana de vis terceiro-mundista do Brasil chegou ao seu auge, abrindo naquele continente inmeras possibilidades para a atuao do Estado e do setor privado brasileiros.

    No caso de Angola, a aproximao era um processo delicado internamente, tornando-se alvo de discusso dentro do Itamaraty e entre as foras da chamada linha-dura, que viam a aproxima-o como um ataque frontal ao iderio anticomunista do regime instalado em 1964. Alm disto, as crticas posio brasileira so-bre Angola reuniam tambm outras foras que tinham interesses prximos aos norte-americanos, para quem a postura da diploma-cia brasileira com o ato do reconhecimento poderia criar outros tipos de problemas.

    Como afirma Sombra Saraiva, fica claro que o reconhecimento da independncia de Angola foi muito significativa para o forta-lecimento da posio brasileira no sistema internacional, parti-cularmente entre os pases do ento chamado Terceiro Mundo, com o crescimento no apenas das transaes mercantis com os pases africanos, mas tambm todo comrcio com os pases ra-bes. Conforme o autor, o primeiro aspecto a ser considerado na deciso brasileira o fato de que, em 24 de novembro de 1973, o Brasil foi ameaado com o embargo do petrleo, por conta das

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    suas posies na frica Austral. O segundo ponto tem relao com a votao nas Naes Unidas na questo ao projeto da constru-o de Itaipu e Corpus, na qual se desejava contar com o apoio da frica Negra. Finalmente, alm da necessidade de contar com a diversidade de parcerias, deve se considerar o momento difcil das relaes com os Estados Unidos naquele perodo, inclusive por conta do projeto de Acordo Nuclear do Brasil com a Alemanha Federal, em junho de 1975 (SARAIVA, 1996).

    Como assinala Visentini,

    Angola era um dos pases mais interessantes para o tipo de re-lacionamento que o Brasil buscava. Sua riqueza em petrleo, minrio de ferro e diamantes, e a lngua comum, permitiria e facilitaria o intercmbio comercial, tcnico e de know how. O Brasil, a partir dos estudos de Zappa, conclura que o governo do MPLA tinha mais chance de vencer a disputa. Ora, o clculo brasileiro foi no sentido de ganhar a confiana do MPLA o mais cedo possvel, at para contrabalanar uma influncia excessi-va dos soviticos (VISENTINI, 1998, p. 243).

    No campo internacional, o reconhecimento do governo do MPLA foi um desafio poltica norte-americana, embora tives-se havido contatos anteriores entre Azeredo da Silveira e Henry Kissinger, com vistas a se saber a posio clara do governo dos Estados Unidos. A nica questo a ficar fora desses contatos foi a presena das foras cubanas logo aps a declarao de 11 de novembro, como exposto:

    E a questo dos cubanos? Foram eles quem garantiram a vi-tria do MPLA. O senhor foi acusado de no ter informado ao Itamaraty que havia cubanos em Angola.

    Mello - Eu no concordo com a primeira parte de sua pergunta. O MPLA era a mais forte das trs faces. O tempo mostrou isso. Uma das coisas que me deu mais alegria nas memrias do Kissinger foi verificar que em nenhum momento ele docu-menta a afirmao de que havia tropas cubanas combatendo em Angola antes do dia 11 de novembro, quando foi proclama-da a independncia. Ele diz que havia 230 cubanos no fim da primavera. Se Kissinger tivesse um nico documento capaz de provar que havia cubanos combatendo em Angola, teria mos-trado. Estou me referindo a combatentes. Os expedicionrios cubanos chegaram no dia 11, quando Angola era uma nao independente. Combateram uma invaso sul-africana iniciada um ms antes. Agora, Kissinger diz que no soube da invaso

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    sul-africana, que foi desinformado pela CIA. Eu acho que ele sabia.5

    Conforme assinala Jos Flvio Sombra Saraiva, a posio brasi-leira de reconhecer a independncia decretada unilateralmente pe-lo MPLA acabou sendo seguida pela maioria dos pases africanos, que at ento defendiam da mesma forma que a Organizao da Unidade Africana (OUA) o modelo de governo de triunvira-to, com as trs organizaes que participaram da luta anticolonial (alm do MPLA, a Frente Nacional de Libertao de Angola (FNLA) e a Unio Nacional para a Independncia Total de Angola (UNITA). Assim, os desdobramentos polticos internacionais da posio adotada pelo governo Geisel teriam representado uma vitria da diplomacia brasileira que, desta forma, adquiriu ainda maior con-sistncia e respaldo para a cooperao econmica com o resto da frica Negra (SARAIVA, 1998, p. 167).

    4 OS REFLEXOS DO RECONHECIMENTO DA INDEPENDNCIA ANGOLANA DENTRO DO ITAMARATY

    Mas as consequncias foram muitas, sobremodo para um dos principais atores individuais envolvidos, no mbito interno do Itamaraty, o embaixador Ovdio de Andrade Melo. O ento re-presentante do Brasil em Luanda foi proibido de dar entrevistas, transferido para outras embaixadas de menor estatura e teve sua promoo adiada at 1986. Segundo ele, setores conservadores da sociedade brasileira, que se manifestaram atravs da imprensa, foram contrrios ao reconhecimento da independncia e, at certo ponto, responsveis por sua sada de Angola e por seu ostracismo nos anos seguintes.

    Em 1978, John Stockwell, chefe da CIA durante o processo de independncia em Angola, publicou um livro que, alm de mostrar as aes norte-americanas para fortalecer o FNLA, reconhece que a posio brasileira estava coerente com a realidade dos fatos e que, por ele confrontar os interesses norte-americanos naque-la ex-colnia portuguesa, admite que a CIA teria pressionado o governo brasileiro a afastar Ovdio Melo de Luanda. O Itamaraty

    5 MELO, Ovdio de Andrade. O reconhecimento de Angola pelo Brasil em 1975. In: Comunicao & Poltica, v. VII, n. 2, p. 75-165.

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    retrucou, por meio do seu porta-voz, que jamais teria acatado presses de governos estrangeiros e que Ovdio agiu seguindo or-dens expressas do governo brasileiro. Ovdio, entretanto, foi efeti-vamente substitudo, em um processo no muito bem esclarecido:

    [...] porque o reconhecimento de Angola em boa hora feito e com dificuldades mantido pelo governo brasileiro continuava a sofrer persistentes presses internacionais e a ser motivo de acalorada discusso na imprensa brasileira, com reflexos muito graves at na composio de nosso governo. Devemos lembrar que, em 1978, o Ministro do Exrcito, Silvio Coelho Frota, ao ser demitido inopinadamente, lanou uma proclamao. E nesta, em primeiro lugar, citava o reconhecimento de Angola como um indcio da crescente comunizao que via na poltica bra-sileira. [...]

    Frente s acirradas e passionais discusses que essa poltica suscitou de incio e, vez por outra, ainda suscita, o Itamaraty se omitiu na minha defesa, embora haja mantido as relaes com Angola que me pareciam essenciais. A bem destas relaes, que de incio eram tnues e estavam ameaadas por presses inter-nas e externas de todo tipo, calei-me. Nem teria meios eficazes para defender-me, nas condies de censura e intimidao do regime poltico em que vivamos.6

    Em outro depoimento, Ovdio Melo assim se pronuncia:

    Tambm tive minha carreira truncada pelos brasileiros. Eu, que at ento tinha estado na Secretaria-Geral, tive postos impor-tantes, chefias de diviso, postos agradveis na Argentina e em Washington, passei a ter postos extremamente tursticos, bas-tante agradveis, mas sem grande peso no contexto da poltica brasileira. E passei a prezar imediatamente o Congresso, porque fui Embaixador na Tailndia e cumulativamente fui Embaixador na Malsia e em Cingapura, depois de Angola. E nunca passei pelo Senado. O Itamaraty tirou-me do Senado, alegando que eu era um mero cnsul eu era Cnsul Geral em Londres , sem importncia, e que ia para um pas sem importncia. Ento, dos pases com os quais tnhamos relaes, a Tailndia passava a ser sem importncia, Cingapura e a Malsia igualmente. E o Senado me dispensou.

    Cinco anos depois, fui para a Jamaica, e o mesmo truque foi aplicado. O Vasco Marins, encarregado de relaes pelo Congresso, declarou no Jornal do Brasil que foi encarregado pe-lo Silveirinha, pelo Guerreiro, de explicar ao Senado que eu era

    6 MELO, Ovdio de Andrade. O reconhecimento de Angola pelo Brasil em 1975. Op. cit.

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    um mero cnsul ou um embaixador que vinha da Tailndia, sem nenhuma importncia; ia para a Jamaica, outro pas sem impor-tncia, e no precisava ser sabatinado. Com o maior cinismo, ele disse que eu no podia ser sabatinado, porque, se o fosse, a sabatina comearia na Tailndia e terminaria em Angola, ou comearia na Jamaica e terminaria em Angola. E assim seria forosamente. Devo dizer com franqueza que vivi 76 anos at hoje, dos quais 50 anos trabalhando no Itamaraty. Mas se hou-ve um ano em que aprendi, em que vivi intensamente, foi o de 1975, que passei em Angola. Aprendi sobre a vida, sobre o Itamaraty, sobre poltica, dez vezes mais do que tudo o que fiz no Itamaraty nesses anos todos de vida.7

    Ovdio Melo mantinha interlocuo com as trs foras que dis-putavam a hegemonia poltica no perodo anterior declarao de independncia e que permaneceram em luta depois. A deciso do governo brasileiro em manter diplomatas na capital foi ousada e diferenciada em relao s outras reparties estrangeiras, que fecharam suas portas. Depois de meses de observao da evolu-o do jogo poltico e considerando ter elementos suficientes pa-ra perceber a hegemonia do MPLA em Luanda diante dos outros dois movimentos, o embaixador sugeriu ao chanceler Azeredo da Silveira que o Brasil deveria estar preparado para reconhecer o governo de fato do MPLA, tendo em vista que a fora comandada por Agostinho Neto j governava Angola em meio guerra civil, expulsando os outros dois movimentos e executando funes ad-ministrativas, como ele mesmo assinala:

    Fui ento para Angola com instrues para ficar neutro, sem fa-vorecer qualquer partido, em eleies ou lutas que ocorressem, como executor de uma poltica que era bem nacional apenas porque parecia inspirada em Machado de Assis: Ao vencedor, as batatas (MELO, 2000, p. 365).

    As discusses em torno da deciso a ser tomada pelo governo brasileiro nesse processo j se davam desde 1974, mas o reforo da posio que acabou prevalecendo se deu em janeiro de 1975, quando o embaixador Ovdio desembarcou em Luanda, vindo de Londres. Antes de se fixar no pas, ele encontrou os trs lderes

    7 Ex-embaixador Ovdio Melo critica a atuao da diplomacia brasileira e comenta seu papel na crise angolana, op. cit. Ver tambm revista Veja, n. 382, 31 de dezembro de 1975, seo Diplomacia. Sade e Poltica, p. 23, sobre a sada do embaixador Ovdio Melo de Angola.

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    das faces que lutavam pelo poder em Angola: Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi, esperando contar com a concor-dncia dos trs para a abertura do Escritrio de Representao brasileiro. Em agosto, o embaixador expediu o telegrama no qual apontava a necessidade de reconhecer o MPLA quando chegasse a data prevista para a independncia, conforme o Acordo de Alvor. O despacho do Itamaraty que informava que o reconhecimento pelo governo brasileiro deveria se dar em 10 de novembro, s 20 horas de Braslia, portanto, exatamente, meia noite em Luanda, somente chegou a Ovdio na vspera. Na mesma data do reco-nhecimento, seria levado para assinatura de Geisel o decreto que determinava a abertura da embaixada do Brasil em Luanda.

    Apesar de o Brasil ter se comprometido com a neutralidade entre as trs foras, a realidade dos fatos teria levado o pas a reconhecer o governo do MPLA. Mas a presena brasileira seria repleta de movimentos contraditrios anteriores: talo Zappa, chefe da Diviso de frica do Itamaraty, sugeriu o fechamento do Escritrio de Representao em Luanda, porm teve manifesta-o contrria de Ovdio Melo. Diante dos argumentos de Ovdio, Geisel e Azeredo da Silveira mantiveram a deciso de reconhecer o governo instalado em Luanda, diminuindo, no entanto, o nvel das relaes com as autoridades do governo angolano. Para is-to, optou por retirar Ovdio de Angola, designando, por telegrama ao ministro das Relaes Exteriores de Angola, Jos Eduardo dos Santos, o ento conselheiro Affonso Celso de Ouro Preto como novo Encarregado de Negcios.8

    Dentro da lgica do Pragmatismo Responsvel, a relao mais efetiva com o continente africano, para que o pas alcanasse uma posio de maior destaque dentro do sistema internacional, desconsiderava as implicaes ideolgicas. No entanto, setores da base de apoio ou mesmo setores de dentro do governo tinham posies contrrias e utilizaram o espao da imprensa para deba-ter suas ideias, mesmo que ainda estivessem vigorando os instru-mentos de exceo, como o Ato Institucional no. 5, de 1968, e a

    8 Segundo o embaixador Ovdio, a nomeao de Affonso de Ouro Preto fora recu-sada, inicialmente, pois os dirigentes do MPLA o confundiram com seu irmo, que sempre apoiara o governo colonialista de Portugal. Entrevista autora, julho de 2011.

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    Lei no. 1.077 de 1970, a Lei de Imprensa. Mais que espao possvel para um debate relativamente democrtico, as discusses sobre questes internacionais na imprensa representavam a face pbli-ca dos conflitos entre esses grupos. Analisar os debates ocorridos atravs da imprensa e que, em grande maioria, refletiam os in-teresses contrrios ao reconhecimento do governo marxista de Angola e sua influncia no processo de tomada de deciso por parte de Geisel, amparado por seu chanceler, permite se perceber o grau de influncia dos fatores domsticos em assuntos de po-ltica externa, bem como os movimentos das coalizes polticas favorveis e desfavorveis ao governo naquele momento.

    Nesse contexto, Geisel utilizou o processo decisrio de pol-tica externa como instrumento de fortalecimento do seu projeto poltico de controle das foras que se opunham a ele, inclusive dentro das prprias foras armadas. Em junho de 1975, os milita-res da linha-dura elaboraram um relatrio, sob a gide do Centro de Informaes do Exrcito, intitulado Estudo e apreciao sobre a Revoluo de 1964, com uma minuciosa anlise destinada a deter-minar os caminhos para controlar o processo de abertura poltica, fazendo duras crticas ao Presidente da Repblica, nos campos in-terno e externo, e apontando como uma falha do governo Geisel o fato deste no ter estabelecido um efetivo plano de ao e, em seu lugar, ter optado pelo velho e conhecido pragmatismo no baseado em princpios morais e despido de princpios, que terminaria destruindo a si prprio. A abertura a permisso para o inimigo entrar, em cunhas profundas e talvez definitivas, dentro do campo da Revoluo de 64. Por isso est inquietando e pode dividir as FFAA (BAFFA, 1998).

    O Presidente e seus colaboradores mais prximos entre estes o general Golbery e o chanceler Azeredo da Silveira enfrenta-ram os setores insatisfeitos das foras armadas com o processo de distenso que empreendiam e utilizaram a poltica externa dian-te das ameaas que esses e outros setores representavam. Nesta perspectiva, Vizentini aponta para os aspectos nos quais as de-cises da poltica externa so defendidas por alguns setores he-gemnicos do bloco de poder que d suporte ao governo e no o seu conjunto, e que grupos de interesses conseguem influir em

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    determinadas reas da poltica externa, o que leva percepo da articulao entre as polticas externa e interna como uma relao dialtica, onde nem sempre existe uma afinidade formal absolu-ta (VISENTINI, 1998, p. 15).

    Grupos de interesses diversos, no mbito das elites polticas e econmicas, posicionaram-se contra algumas das principais decises de poltica externa do governo Geisel, assumindo uma posio de questionamento s bases econmicas e polticas do regime, com o discurso de necessidade de recuperao dos prin-cpios democrticos e de uma menor participao do Estado nos rumos da economia do pas. A liberalizao da imprensa, um dos primeiros movimentos do processo de transio do regime para a democracia, permitiu que essas foras de oposio dentro das elites usassem os veculos de comunicao de massa no apenas para formar uma opinio pblica, ainda definida nos limites de um regime autoritrio, mas como instrumento de presso para a consecuo dos seus interesses.

    5 A INDEPENDNCIA DE ANGOLA NA IMPRENSA BRASILEIRA

    Os diversos estudos sobre a imprensa nos anos da transio democrtica tm apontado para o papel da liberalizao da im-prensa e do fim da censura, fatores importantes para a transfor-mao poltica do pas. Junto com outros dispositivos do governo militar represso poltica, represso policial e controle social , a censura era indispensvel utopia autoritria dos radicais vi-toriosos em 1964 (FICO, 2004). Para Abreu (2005), os jornalistas teriam se valido de estratgias diversas para acelerar o processo de democratizao brasileira iniciado com Geisel, depois de um longo perodo de interveno dos militares no prprio sistema de comunicao do pas. Se os empresrios de mdia foram benefi-ciados pelos financiamentos e pelas cotas de publicidade obtidos do Estado por um lado, por outro, teriam tido como contrapartida o nus da censura e da represso, o que teria levado retirada do apoio inicial dado pelo segmento ao regime militar e a uma atuao autnoma diante dos interesses do governo. No entanto, em nossa perspectiva, apesar da utilizao do espao da imprensa

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    para canalizao das suas demandas, a relao de interdepen-dncia entre o empresariado inclusive os grupos de mdia e o Estado descaracterizava essa autonomia.

    Tendo como referncia Marcel Merle (1981), pode-se classifi-car a imprensa como um dos fatores extrainstitucionais que inter-ferem na elaborao da poltica exterior, no relacionado tanto questo da opinio pblica como atuao dos grupos de presso. Segundo o autor, h uma confuso entre a noo de ator e a noo de papel cumprido, porquanto as diferenas entre os que seriam atores reais e os papis que representam devem levar ao cuidado de no se fazer um julgamento de valor quanto ao papel efetivo desses atores. Ainda que os Estados sejam os atores privilegiados os protagonistas do sistema internacional, no se pode negli-genciar as diversas modulaes do exerccio das suas funes in-ternacionais, bem como a realidade do fenmeno estatal. Como a poltica externa de um Estado representa a poltica daqueles que o dirigem em dado momento, preciso procurar quais os mecanis-mos e as foras que comandam a elaborao da poltica exterior, pelos mecanismos institucionais e a avaliao das presses que se exercem sobre os rgos decisrios.

    Sem sombra de dvida, o incio da distenso promovida pe-lo governo Ernesto Geisel ajuda a explicar certo afrouxamento da censura sobre os meios de comunicao inclusive com o fim da censura prvia principalmente a partir de 1975. No entanto h de se notar que mesmo no perodo de maior controle sobre a mdia, a censura se aplicava mais ao noticirio interno, enquanto o internacional era menos sujeito ao dos censores. Tal fato le-vou os principais grupos de comunicao brasileiros a investirem bastante neste segmento, deixando de ser meros repetidores das notcias transmitidas pelas agncias internacionais e passando a ter um corpo de correspondentes no exterior:

    Uma outra estratgia de sobrevivncia diante da censura aos assuntos polticos nacionais foi dar nfase ao jornalismo inter-nacional. A Rede Globo, no seu Jornal Nacional, jornal dirio e o de maior audincia da televiso brasileira, investiu na forma-o de correspondentes no exterior e deu maior espao ao no-ticirio internacional. A Revoluo dos Cravos teve grande co-bertura, assim como todas as notcias sobre a queda de velhas ditaduras, como a da Espanha. Era uma maneira de mostrar ao

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    pblico brasileiro os passos dados por outros pases em direo democracia (ABREU, 2005, p. 57).

    Contudo, tal explicao parece ser insuficiente para o enten-dimento da grande liberdade com que alguns temas da pauta do noticirio internacional foram debatidos pelos principais veculos da grande imprensa no Brasil. Neste sentido, podemos pressupor que a maior flexibilidade do regime para com o noticirio interna-cional e sobretudo em relao a alguns eventos bastante defini-dos pode ser entendida no mbito das diretrizes da poltica ex-terna brasileira daquele momento, no qual esse noticirio tambm se tornava um espao de debates, cuidadosamente articulado por Geisel, Golbery e Azeredo da Silveira e reconhecido pelos grupos que sustentavam a prpria base do governo, bem como por seus opositores. Portanto, a atuao da imprensa nesse perodo pode ser entendida dentro da perspectiva proposta por Eytan Gilboa que, em seus estudos sobre os meios de comunicao de massa e as relaes internacionais, define como um dos papeis da m-dia o de ser um ator instrumental utilizado pela diplomacia como uma ferramenta para mobilizar suporte e lograr acordos (GILBOA, 2002).

    Dois episdios suscitaram grandes debates na imprensa na-quele perodo (1974/1975): o voto brasileiro na ONU condenando o sionismo como uma forma de racismo e o reconhecimento da independncia de Angola sob o governo marxista do MPLA. Alm disto, surgiam com destaque as discusses sobre a crise energti-ca; a crise poltica que se sucedeu s eleies de 1974 com a vi-tria do MDB e o prognstico de uma vitria futura desse partido de oposio; o agravamento dos problemas econmicos do pas; e de forma quase indita, a represso poltica, por conta da morte de Wladimir Herzog. Todos estes acontecimentos eram relacionados direta ou indiretamente a esses dois atos da poltica externa do Itamaraty, vistos como elementos de agravamento dessas crises que afetavam as bases de sustentao do governo:

    Quando o Brasil votou a favor da moo contra o sionismo, apresentada pelos pases rabes na ONU, estava acompanhado apenas das naes comunistas lideradas pela Unio Sovitica, onde a liberdade dos judeus trocada por dlares [...]. As rea-es nacionais que se seguiram ao nosso voto essencialmente

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    racista no mbito da ONU eram compreensveis, porque de fato o governo no teria dado, quela altura, explicaes razoveis que pudessem justificar a posio assumida internacionalmente e que repercutira de modo desfavorvel junto opinio pblica brasileira.

    O prprio pragmatismo responsvel, que vem sendo adotado pelo Itamarati, no abrangeria, segundo se informava no m-bito do governo, posies polticas como a que adotamos no caso do voto contra o sionismo, que na verdade, comprometem nossas tradies polticas de solidariedade ao mundo ocidental e cristo da nao que se orgulha de ser um modelo de demo-cracia racial.9

    O voto contra o sionismo levou s revistas do grupo Adolpho Bloch Manchete e Fatos & Fotos a assumirem uma espcie de voto de silncio adotando depois uma postura crtica , onde antes havia manifestaes de apoio ao governo. J a revista paulista Viso dirigida por Henry Maksoud publicou em 8 de dezembro de 1975 uma anlise mais aprofundada sobre as duas aes e seus reflexos no debate poltico interno, onde se manifestam tambm preocupaes com as consequncias externas do ato:

    Resistncia poltica externa supera previso

    difcil para o governo conseguir apoio ao seu programa externo, depois do reconhecimento de Angola e do voto anti-sionista.

    A repercusso de recentes decises do governo no campo da poltica externa ressaltou as dificuldades que o prprio governo encontra para mobilizar apoio e agir com desembarao, mes-mo no setor em que sua ao se reveste de maior coerncia e dinamismo [...].

    A comparao entre o que se passa na poltica interna e na po-ltica externa no s pertinente, mas natural e at necessria, uma vez que tambm a segunda no se faz no vcuo, seno com base na mesma realidade nacional.

    E no haver erro em dizer que o Pragmatismo Ecumnico e Responsvel, voltado para a ampliao dos contatos e a busca de oportunidades para o pas no mundo, a face externa da lenta, gradual e segura distenso que abria o dilogo e bus-cava alternativas para a conciliao democrtica da sociedade brasileira.10

    9 Revista Fatos & Fatos Gente, n. 745, p. 59, 1o de dezembro de 1975.

    10 Revista Viso, v. 47, n. 12, p. 28-30, 8 de dezembro de 1975.

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    Outro importante veculo de informao a abordar o tema foi a revista Veja, ainda dirigida pelo jornalista Mino Carta. Logo aps a divulgao do reconhecimento brasileiro da independncia de Angola, na edio de 19 de novembro de 1975, em mais de um espao da revista, o espanto e as crticas se fizeram presentes:

    A segunda-feira da semana passada, 10 de novembro, bem que poderia ser comemorada no futuro como o Dia do Pragmatismo Responsvel, se a histria ainda por ser escrita das relaes in-ternacionais der razo ao patrono da nova poltica externa bra-sileira, chanceler Antnio Azeredo da Silveira. Pois, nesse dia e antes mesmo que os pases do bloco socialista o fizessem , o Brasil reconhecia a independncia angolana e, implicitamente, a hegemonia poltica do Movimento Popular para a Libertao de Angola [...]. E confirmou no plenrio das Naes Unidas - na solitria companhia de Cuba e do Mxico, entre todos os vizi-nhos latino-americanos, o voto que j havia dado na Comisso de Assuntos Sociais, Humanitrios e Culturais da ONU a favor da resoluo que considera o sionismo como uma forma de racismo e discriminao racial.

    [...] Em sucessivos editoriais, O Estado de S. Paulo classificou como irresponsvel o pragmatismo de Azeredo da Silveira [...].11

    Em outra entrevista dada pelo embaixador Ovdio Melo, desta vez ao jornalista Elio Gaspari, em 1999, ele criticou a parcialidade da imprensa brasileira, bem como a forma como as notcias sobre a questo eram tratadas nos jornais brasileiros:

    A poltica externa uma preocupao de muito pouca gente. A nossa imprensa no produz uma viso brasileira das questes internacionais. A maior parte do material publicado a tradu-o do pensamento dos outros. Utiliza-se o noticirio de agn-cias e jornais estrangeiros. Em certos casos, nossa imprensa manda enviados especiais. Eles olham o problema com uma vi-so brasileira. Frequentemente fazem isso com competncia. Em Angola, por exemplo, os reprteres Lutero Mota Soares e Eduardo Pinto, mandados pelo Jornal do Brasil, perceberam o que estava acontecendo. O jornal publicava nas pginas in-ternas o que eles escreviam e, nas manchetes, o que diziam as agncias. Terceirizavam as manchetes. Daqui a pouco, quando os enviados especiais a Kosovo tiverem sado de l, voltaremos a traduzir as notcias feitas com o olhar alheio.

    11 Diplomacia. Revista Veja, n. 376, p. 24, 19 de novembro de 1975.

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    A que o senhor atribui os ataques que recebeu? Acusaram-no de ter reconhecido o governo de Agostinho Neto sem autori-zao, de ter omitido a presena de tropas cubanas e de ter favorecido o MPLA.

    Melo - Era mais fcil atacar a mim do que ao presidente Ernesto Geisel, que tinha tomado as decises essenciais. Havia no Brasil um grupo de portugueses fascistas, alguns policiais expatria-dos e tambm brasileiros que gostariam de reverter as relaes com Angola ao tempo em que ela foi o maior fornecedor de escravos para o Brasil. Em alguns casos, a hostilidade tinha motivos mesquinhos. A histria de que eu reconheci o governo sem instrues uma tolice. Eu no seria maluco de fazer uma coisa dessas. Isso foi inventado por um diplomata que traba-lhava no Departamento de frica do Itamaraty. Foi ele quem passou a mentira ao SNI e a um jornalista. Enquanto isso, o cnsul americano em Luanda, antes de voltar para Washington, me disse que, se o Brasil reconhecesse o MPLA, estaria certo. Ele conhecia a situao de Angola e agora o Kissinger admitiu que os diplomatas americanos que discordavam dele sabiam o que estavam dizendo.12

    6 CONSIDERAES FINAIS

    No processo de formulao da ao poltica externa, a impren-sa figura como um importante segmento, e durante a abertura po-ltica, ela foi um espao no qual se tornaram visveis os conflitos em curso no interior do grupo hegemnico. No contexto autorit-rio do regime que se seguiu ao golpe civil-militar de 1964, os ve-culos de informao tiveram atuao extremamente significativa para a legitimao da nova ordem poltica e para a construo de maior coeso interna da sociedade brasileira. E entre 1974 e 1979, momento de maior protagonismo da poltica externa brasileira, o noticirio internacional tambm se tornaria um espao de de-bates, cuidadosamente articulado por Geisel e Golbery. Desde o incio, o Pragmatismo Responsvel teve de ser legitimado inter-namente diante de diversos grupos de interesse e de segmentos polticos e sociais que davam sustentao ao regime.

    12 Ex-embaixador Ovdio Melo critica a atuao da diplomacia brasileira e comenta seu papel na crise angolana, op. cit. Ver tambm revista Veja, n. 382, 31 de dezembro de 1975, seo Diplomacia. Sade e Poltica, p. 23, sobre a sada do embaixador Ovdio Melo de Angola.

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    Cabe destacar, ainda, que o reconhecimento do governo portugus aps a Revoluo dos Cravos (1974) e da indepen-dncia de Angola sob o governo de Agostinho Neto no teve a unanimidade do Conselho de Segurana Nacional. Este rgo ado-tava uma linha poltica muito prxima ao pensamento da chama-da linha-dura, refratria a qualquer aproximao com pases que manifestassem um iderio esquerdista, mesmo que isto fosse a ex-presso dos objetivos estratgicos e econmicos do pas. No caso de Angola, isto foi mais evidente, porquanto membros do prprio partido do governo se posicionaram contrariamente ao reconheci-mento precoce de um governo marxista.

    A imprensa publicou inmeros artigos criticando o Itamaraty, na figura do seu chefe, o chanceler Azeredo da Silveira, e conse-guiu, efetivamente, interferir na instituio mesmo que poste-riormente ao fato consumado do reconhecimento tanto com o afastamento de Ovdio de Andrade Melo da representao brasi-leira em Angola, quanto com o estabelecimento de um certo freio nas relaes com o novo pas. A embaixada brasileira, apesar de todos os esforos do embaixador, somente seria constituda em janeiro de 1976, mas j sem a presena do principal articulador brasileiro em todo aquele processo. Este talvez seja o aspecto em que fica mais clara a divergncia entre os que colocam a imprensa como um ator importante na luta contra o regime militar ao lado de foras progressistas no perodo da transio democrtica, e os que ressaltam seu papel de porta-voz de interesses de grupos po-lticos diversos, inclusive, de foras retrgradas, demonstrando a ntima relao entre aqueles que se apresentam como portado-res da modernidade e do desenvolvimento e os setores mais atra-sados, arcaicos e/ou truculentos de nossa sociedade (FONTES, 2009, s/p).

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