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A IMPRENSA CATÓLICA E EDUCAÇÃO EM GOIÁS: A AÇÃO DA
CONGREGAÇÃO REDENTORISTA (1922-1924)
Vanessa Carnielo Ramos Gomes60
Universidade Federal de Uberlândia
Resumo: Esta comunicação visa apresentar as concepções educacionais do jornal Santuárioda Trindade, que circulou no território goiano entre os anos de 1922 e 1924. Este periódicofoi fundado e editado pela Congregação do Santíssimo Senhor Redentor, que chegou a Goiásno ano de 1894, por convite do bispo da época, D. Eduardo Duarte Silva, assumindo a missãode romanizar a população no estado. A sede dos redentoristas, bem como do periódico, foiinstalada na cidade de Campininha das Flores no Estado de Goiás. O jornal Santuário daTrindade foi uma das estratégias catequizadoras adotadas pelos padres redentoristas para adifusão da fé católica e combate a outras manifestações religiosas. Foi neste contexto que operiódico se tornou importante veículo de difusão da visão do catolicismo. Frente ao exposto,objetivamos investigar a difusão das concepções educacionais dos católicos ao propugnarem ainstrução em Goiás calcada nos valores da liberdade de ensino religioso em todas asinstituições escolares (públicas ou não). Pelo estudo realizado foi possível identificar, dentreoutros aspectos, informações sobre as escolas confessionais daquele período e divulgação, pormeio de anúncios, de escolas confessionais ligadas à Igreja Católica. Nos artigos eramfrequentes as discussões acerca da necessidade de instrução e a importância da ação católicaem prol da “construção de uma sociedade devotada em seus princípios”. Nesse sentido,notamos argumentos fervorosos contra a laicidade, bem como a preocupação da CongregaçãoRedentorista em difundir, na escola primária, os princípios de religiosidade católica, trabalho,cidadania, etc. Palavras-chave: Imprensa, catolicismo e educação
1. Introdução
O jornal Santuário da Trindade esteve em circulação durante nove anos – 1922 a 1931 –
sendo edições inicialmente quinzenais e, posteriormente, passou para tiragem semanal, a
partir do ano de 1924. No presente trabalho, entretanto, analisaremos somente os três
primeiros anos de circulação do periódico (1922-1924). Sob a direção dos religiosos da
Congregação do Santíssimo Senhor Redentor – os redentoristas –, o periódico foi responsável
por propagar ideais católicos à população goiana, além de oferecer informações cotidianas dos
acontecimentos de um dos santuários mais importantes em Goiás naquele período, o
60 Doutoranda do Programa de Pós-Gradução em Educação da Universidade Federal deUberlândia (UFU)
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Santuário de Trindade61. O jornal, desde sua primeira edição, admitia suas funções de
combater as religiões contrárias ao catolicismo e ensinar aos fieis católicos os caminhos
corretos da Igreja. Neste sentido, o periódico publicou diversas matérias e anúncios das
escolas católicas, bem como trazia sessão direciona aos pais, ou seja, como deveriam conduzir
o ensinar de seus filhos, tendo em vista uma educação cristã católica. Assim sendo, o presente
trabalho objetiva investigar as concepções educacionais difundidas no Santuário da Trindade
pelos padres redentoristas, identificando os objetivos católicos em difundir sua religião e sua
intrínseca relação com a educação. Ou seja, para compreender as concepções educacionais do
periódico em questão faz-se necessário identificar os editores, qual público o jornal, bem
como as estratégias de abordagem aos leitores, uma vez que no período em tela Goiás possuía
um índice alto de analfabetismo62.
A Congregação do Santíssimo Senhor Redentor veio à Goiás sob o convite do então bispo
Dom Eduardo Duarte Silva (que governou a diocese entre 1891 e 1907), com a missão de
assumir o controle da romaria de Trindade – uma das cidades do Estado que sediavam a festa
do Divino Pai Eterno – no intuito, dentre outras coisas, de combater as religiões contrárias ao
catolicismo, retomar para a diocese o controle das festas e romarias (outrora nas mãos das
irmandades leigas) e expandir a fé católica. Sob este ponto de vista, portanto, o jornal, editado
a partir de 1922, teve importante função no alcance de tais objetivos.
O jornal Santuário da Trindade, por sua vez, foi o primeiro periódico católico lançado em
Goiás após o fechamento do jornal O Lidador, administrado pelo bispo Dom Prudêncio
Gomes da Silva (que governou a diocese entre 1907 e 1921) possuindo funções semelhantes
ao seu predecessor. O periódico gerido por Dom Prudêncio foi trazido por ele de sua terra
natal – freguesia da Conceição da Boa Vista/ MG –, onde havia fundado o jornal no ano de
61 O Santuário de Trindade está sob a administração dos redentoristas desde sua chegada emGoiás em 1894 a convite do bispo da época Dom. Eduardo Duarte Silva.
62 De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a população emGoiás no recenseamento de 1920 era de 511. 919 habitantes. No entanto, segundo os dadosretirados do IPEADATA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) eram alfabetizados, nomesmo ano, apenas 78.530 goianos, sendo que o índice de analfabetismo na faixa etária de atéquinze anos era de 77%. (http://www.ibge.gov.br/home/ Acesso: 07/04/2015 ehttp://www.ipeadata.gov.br/ Acesso: 07/04/2015)
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1901, e deu continuidade aos trabalhos em Goiás até 1916 quando foi obrigado a fechá-lo por
dificuldades financeiras63. Desde então, os católicos goianos ficaram à mercê, na visão da
Igreja Católica, da imprensa “não confiável” e, por sua vez, órfãos de um bom jornal católico
que auxiliasse em sua formação cristã.
Neste sentido, a direção do Santuário da Trindade foi assumida inicialmente pelo padre
redentorista João Batista Kiermeier, editor chefe e redator de vários artigos, que a assumiu
com a missão de auxiliar a Igreja em sua evangelização, assim como é explicitado logo na
apresentação da primeira edição do jornal, a qual indica que o mesmo iria “augmentar nos
catholicos o conhecimento da Religião e o amor à Egreja, a fidelidade no cumprimento dos
deveres religiosos e o interesse pelas cousas da Religião” 64. Aliado a isto o jornal também iria
“repelir as agressões contra a Religião e previnir os catholicos contra os laços que lhes armam
os inimigos da Egreja” 65.
Para além desses objetivos explicitados logo na primeira edição, o jornal assumia a
importante tarefa de divulgar os principais colégios católicos instalados em sua cidade sede –
Campininhas das Flores, atual bairro Campinas da cidade de Goiânia – e, estimular a “boa
educação” católica, sobre a qual os pais também possuíam importante responsabilidade. Tais
afirmações podem ser apreciadas já na primeira edição do jornal quando na coluna
“Reflexões” o contribuinte Sr. Prado escreve uma estória para estimular tanto a matrícula em
colégios católicos quanto a vida religiosa:
Um mocinho comprou um pouco de fumo e quando o tirou do embrulho, pos-se a lero que estava impresso no papel de embrulho. Era uma oração a São José, pedindo aproteção do Santo na vida e na morte. Era uma novidade para o rapaz que não tiveranenhuma instrução religiosa. Elle guardou o papel e em casa tornou a ler muitasvezes a oração. Despertou-se nelle o desejo de conhecer e praticar a Religião, entrounum collegio catholico e tornou-se muito bom e religioso66.
63 Sobre a trajetória de Dom Prudêncio e o jornal O Lidador ver MENEZES (2011) eSANTOS (2007).
64 Pe. João Batista Kiermaier. “O Nosso Programa”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n.1. 01/07/1922, p.1. (Grafia original)
65 Idem.
66 Prado. “Reflexões”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 1. 01/07/1922, p.2
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Estórias com este padrão incentivador são encontradas ao longo de toda a existência
do jornal e, notoriamente faziam parte do projeto evangelizador e de combate às outras
religiões adotado pelos dirigentes do periódico. Além disso, a linguagem lúdica e didática
abordada pelos redatores também pode ser constatada como foco do jornal, haja vista o
público alvo do mesmo e suas implicações, já que a maioria da população goiana não era
alfabetizada, conforme já salientamos. Para o problema do índice de analfabetismo o jornal
adotou a técnica de ler as edições em praças públicas e nas igrejas após as missas, além de
solicitar que os leitores lessem para os analfabetos e também doassem sua versão para aqueles
que não as possuíam, como bem é explicitado na coluna “O Jornal Catholico”: “Como
catholicos devemos estimar o jornal catholico e proferil-o aos outros porque é o nosso jornal
que para nós trabalha. Como catholicos devemos propagar o jornal catholico, mostrando-o aos
outros, pois assim fazemos um benefício aos outros e trabalhamos para a boa causa”.67
1. A Imprensa Católica em Goiás: enfrentamentos e disputas por espaços.
Levando em consideração a importância da imprensa enquanto fonte histórica para as
pesquisas acadêmicas (em nosso caso, especificamente, a imprensa católica), é necessário que
se possua ama criticidade exigida por este tipo documento, uma vez que “os meios informam
sobre aquilo que acontece numa esfera que ultrapassa os limites da experiência vivida.
Formam uma esfera pública global e uma esfera do conhecimento”68. Isso significa que aquilo
que está impresso nas folhas de um periódico de modo algum representa uma realidade
vivida, mas antes, apresenta uma elaboração específica do real, concebido a partir de visões
de mundo, ideologias e necessidades específicas daqueles que editaram o periódico69.
Por outro lado, não obstante as singularidades do periódico, os jornais exprimem uma
dada visão de mundo, de tempo e de espaço, elaboradas a partir das experiências e
expectativas coletivas (ou individuais) da comunidade editora, ou mesmo de um dado grupo
social como um todo. Neste sentido, desde que tratados com o devido respaldo histórico,
67 Autor desconhecido. “O Jornal Catholico”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 1.01/07/1922, p.2
68 SARLO, Beatriz. Tempos Presentes. Notas sobre a mudança de uma cultura. Rio deJaneiro: José Olympio Editora, 2003, p. 60.
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acreditamos serem tais registros escritos e impressos, fontes importantes para (a partir do
próprio trato metodológico e interpretação histórica) identificarmos as concepções de
educação que foram impressas no Santuário da Trindade. Assim, partindo do pressuposto
metodológico acima refletido acerca de fontes jornalísticas, destacamos que os padres editores
do Santuário da Trindade imprimiam naquelas páginas as concepções e visões de mundo
próprias ao seu universo religioso. Além dos editores, entretanto, os próprios leitores também
devem ser considerados, já que a escrita do jornal católico era direcionada propriamente ao
público goiano que, como afirmado anteriormente, era pouco alfabetizado, o que foi
responsável por uma preocupação dos editores em imprimir uma linguagem de fácil acesso.
A necessidade da Igreja Católica, em Goiás, de produzir seus próprios periódicos
advinha, no entanto, da emergência de jornais laicos que propagavam os ideais vinculados aos
novos critérios de laicidade que o Estado havia adotado. Portanto, o posicionamento adotado
por estes periódicos laicos era considerado pelo catolicismo como uma “má imprensa”, já que
divulgavam notícias não religiosas, não raramente vinculadas às tendências do liberalismo, e
se distanciavam do padrão cristão. De acordo com Samuel Klauck70, a Igreja Católica adotou
a imprensa como importante instrumento da ação reorganizadora da Igreja, bem como da
69 De acordo com Júlio Meira, “A utilização de fontes jornalísticas deve ser feita sempre commuito cuidado, uma vez que um periódico ou outro veículo de comunicação não se limita àtarefa de informar sobre determinado assunto ou notícia. De uma forma ou de outra, essesveículos fazem a leitura da realidade a partir da visão de um grupo ou grupos sociais, quederivará em uma análise comprometida com a visão de mundo peculiar e inerente aos seusinteresses. Em outras palavras, um periódico não é isento ou apolítico, mas um instrumento aserviço de uma dada ideologia”. (MEIRA, J. C. ONGs e Reforma do Estado no Brasil:ressignificação da cidadania ou esvaziamanto dos movimentos sociais no Brasil? Dissertaçãode Mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em História da Universidade Federalde Uberlândia, UFU, 2009, p. 21)
70 KLAUCK, Samuel. A imprensa como instrumento de defesa da Igreja Católica e dereordenamento dos católicos no século XIX. MNEME – REVISTA DE HUMANIDADES,11(29), 2011 – JAN / JULHO Publicação do Departamento de História da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte Centro de Ensino Superior do Seridó – Campus de Caicó.Semestral ISSN ‐1518‐3394 Disponível emhttp://www.periodicos.ufrn.br/ojs/index.php/mneme
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manutenção do catolicismo a partir do século XIX, momento em que as resistências à
religiosidade católica se intensificaram.
No Estado de Goiás podemos identificar a preocupação dos padres redentoristas com a
imprensa desde o bispado de Dom Eduardo Duarte Silva, quando em 1902 publicou a Carta
Pastoral intitulada Os abusos e males da imprensa. Neste documento é explicitada a
preocupação que o bispo tinha com os usos indevidos da imprensa laica em se manifestarem
contra a religião, bem como uma suplica à ajuda das dioceses para o combate a esta “má
imprensa”.
A preocupação católica era não somente com as notícias não religiosas, mas também
com relação aos aspectos educacionais que estes jornais laicos proferiam e a crítica que se
fazia aos colégios confessionais. No Santuário da Trindade pode ser percebida a disputa em
relação à boa e má imprensa no decorrer de toda sua existência. Tal disputa fica evidente, por
exemplo, em uma das discussões entre o diretor do jornal, Pe. João Batista Kiermeier, com o
Sr. Carlos Araújo Lins, editor do jornal A Imprensa, em uma coluna intitulada “A Maçonaria”.
Ao longo de sete meses os referidos redatores discutiram sobre a maçonaria e o catolicismo
nas páginas de ambos os jornais71, debatendo, dentre outros assuntos, a educação subsidiada
pelo Estado e computaram esforços no que diz respeito à oferta de escola gratuita e religiosa
[...] Conhecemos as cem escolas gratuitas que a maçonaria mantem em São Paulo,as chamadas "escolas Sete de Setembro", mas também sabemos que a maçonariaconseguiu do governo de São Paulo, todo o mobiliário escolar e uma subvençãoanual de setecentos contos de modo que as taes escolas são gratuitas para amaçonaria, talvez até sobre alguma cousa para ella. - Ao contrário funccionam emSão Paulo, Rio, Minas e por todo o Brazil centenas de escolas parochiaes que são defacto gratuitas e não recebem subvenção alguma. E se nos collegios religiosos, comoem quaesquer outros se paga mensalidades, estes mesmos collegios dão ao mesmotempo instrucção gratuita a milhares de crenças pobres. Aqui, nesta pequenaparochia de Campinas, os padres Rdemptoristas, fizeram em pouco mais de um annoas seguintes despesas pela instrucção: Mandaram vir da Allemanha quatro IrmãsFranciscanas, ficando as despesas da viagem em mais de dez contos de reis;dependeram na adaptação da casa escolar, comprada pelo povo por seis contos, maisde dous contos; pagaram (ilegível) para fazer mobília escolar, compraram por420$000 (Ilegível) e outro material escolar [...] Talvez o Sr. Lins ache que é pouco,mas... paciencia e que não diga mais que os catholicos nada fazem pela instrução.72
71 Ressaltamos que tivemos acesso para pesquisa apenas ao jornal Santuário da Trindade, deforma que infelizmente o periódico A Imprensa e as respostas do Sr. Lins não foramlocalizadas até o presente momento.
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Voltou à carga o muito digno defensor da maçonaria de Goyaz, Sr. Carlos Lins. Emseo artigo repetiu seos ataques contra os collegios religiosos, ataques verdadeimenteridículos e absurdos, tanto que em São Paulo e no Rio os maçons educam seos filhose suas filhas nos collegios religiosos e contribuem com grandes sommas para afundação destes collegios [...]73
A discussão apresentada acima decorre de uma matéria publicada pelo Pe. Kiermeier
sobre a impossibilidade de ser católico e maçom ao mesmo tempo, matéria esta que se
prolongou em longas respostas do Sr. Lins sobre este e outros assuntos, tal como a educação,
como demonstramos acima com alguns trechos da matéria do jornal Santuário da Trindade.
Este debate demonstra claramente a preocupação desempenhada pela Igreja Católica,
especialmente dos redentoristas, em promover a instrução católica no Estado de Goiás. Ou
seja, o jornal Santuário da Trindade foi fonte para esta promoção, vinculando matérias a
respeito das atividades das escolas católicas – principalmente do Colégio Campinense e
Colégio Santa Clara –, incentivos à matrícula nas escolas religiosas, colunas sobre o
relacionamento dos pais/filhos/escola, a importância do Ensino Religioso, divulgação de
livros permitidos, dentre outros aspectos.
2. A missão educacional do jornal Santuário da Trindade.
O jornal Santuário da Trindade assumiu, juntamente com as demais tarefas já
mencionadas no presente artigo, a missão de incentivar e propagar a instrução sob os padrões
católicos. Esta preocupação estava localizada num contexto singular da crescente laicização
da educação desde o rompimento do padroado régio. Dessa forma, a Igreja passou a investir
em incentivos para que os pais matriculassem seus filhos em colégios confessionais católicos
ou então ligados de alguma forma à religião católica, bem como no aumento de escolas
religiosas74.
Portanto, é neste contexto que os padres redentoristas publicavam em seu jornal
constantemente matérias ligadas à educação, sejam elas apenas informativas, como as várias
matérias sobre os acontecimentos nacionais e mundiais, sejam por matérias de incentivo à
72 Pe. João Batista Kiermeier. “A Maçonaria”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 13.16/12/1922, p.2
73 Pe. João Batista Kiermeier. “Em resposta”. Jornal Santuário da Trindade. Ano 1 n. 17.10/02/1922, p.1.
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matrícula, à compra de livros liberados pela Igreja, dados escolares, discussão sobre o ensino
religioso, enfim, matérias sobre a educação. Por meio da imprensa jornalística esperava-se
que os leitores procurassem uma instrução católica e que, consequentemente, a própria Igreja
Católica preservasse seu número de fieis.
Na região de Campininhas das Flores em Goiás, no período de existência do jornal
Santuário da Trindade, existiam duas escolas importantes para o catolicismo, uma delas fruto
de esforço dos próprios redentoristas em trazer da Alemanha as Irmãs Franciscanas de Au
com o expresso objetivo de fundarem em 1922 o Colégio Santa Clara75. A outra instituição
existente não era propriamente confessional, no entanto, o diretor e professor da escola, o Sr.
Abreu, era muito religioso e promovia forte aliança com a Igreja Católica e com os
redentoristas: trata-se, neste caso, do Colégio Campinense. Estas duas escolas estiveram
constantemente anunciadas nas páginas do periódico, fator este que representa a preocupação
dos redentoristas em incentivar a matrícula de meninos e meninas nas escolas “religiosas”.
Com o seguinte anúncio eram repetidamente enunciados os colégios:
Collegio Campinenese: Estabelecimento de instrucção secundaria, genuinamentecatholico. Fundado há 38 anos e transferido ultimamente para esta apreciável cidadede Campinas (Goyaz). Reabrir-se-á no dia 1º de Setembro de cada anno,funccionando em vasto prédio illuminado á luz electrica, e acceitando alumnosinternos e externos, de qualquer idade. Peçam prospectos. O director e professorAbreu.76
Collegio de Santa Clara: Este collegio de meninas acha-se estabelecido emCampinas em um prédio espaçoso e illuminado a luz elétrica. Dirigido por IrmãsFranciscanas administra ensino primário e secundário assim como ensina trabalhosde agulha e bordado, desenho e musica. Internato e Externato. Mais informações eprospecto fornece a quem pedir, a Irmã Superiora.77
74 Especificamente no território goiano ocorreu um surto de escolas confessionais católicasou ligadas à religião católica com o bispado de Dom Emanuel Gomes de Oliveira no períodode 1922 à 1955. Este bispo foi cognominado de “arcebispo da instrução”, haja vista suagrande preocupação com a educação e também pela quantidade de escolas fundadas sob suainfluência. Sobre este assunto ver MENEZES (2001).
75 O referido colégio existe até hoje funcionando na mesma região originária de 1922 e, aindasob gestão das irmãs franciscanas. Sobre a história da ordem e do Colégio Santa Clara verAZZI (2005).
76 Professor Abreu. “Collegio Campinense”. Jornal Santuário da Trindade. Ano 1. N. 1513/01/1923. p. 4
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Por estes anúncios percebe-se a perspectiva dos redatores do jornal, juntamente com
os diretores, tentavam demonstrar as vantagens das instituições, uma vez que é perceptível a
exposição da boa estrutura física que as escolas possuíam, com prédios amplos e bem
iluminados, além de ofertarem duas opções para os estudantes – internato e externato – e, no
caso do colégio feminino, aulas voltadas para o que eram consideradas próprias ao cotidiano
das mulheres. Além disso, apesar do Colégio Campinense não ser confessional católico,
percebe-se a necessidade e importância de se anunciar primeiramente que se tratava de um
estabelecimento “genuinamente católico”. Este enunciado evidencia mais uma vez a
preocupação que o referido jornal tinha de propagandear apenas as escolas que adotavam a
perspectiva católica de instruir, significando, portanto, que nos permite refletir acerca da
laicidade de fato da educação em Goiás nas primeiras décadas do século XX, bem como na
forma como a Igreja Católica (e os próprios católicos em geral) reagiram diante da tendência
de uma educação não religiosa implantada a partir da proclamação da república no Brasil.
A ligação destas escolas com o jornal, porém, parece-nos muito mais significativa que
apenas os vários anúncios colocados em todas as edições do periódico, pois é possível
localizar outras tantas matérias falando sobre a participação das escolas em eventos políticos e
religiosos importantes, como é o caso da comemoração ao centenário da independência do
Brasil. O jornal Santuário da Trindade abordou no decorrer de suas primeiras edições várias
matérias sobre o centenário e também a comemoração ocorrida em Campinas:
Deu-se à festa do Centenário nesta cidade o realce possível. Tendo havido de manhãMissa solemne, reuniram-se ao meio dia no Paço municipal o conselho, os collegios,os padres do convento, a banda de musica e muitas pessoas da cidade. A sessãosolemne obedeceu ao seguinte programa: Ouverture tocado pela banda, cantado peloCollegio Campinense, a poesia Pro Patria pelo alumno Manuel Aranha do CollegioCampinense, a poesia Ypiranga pela alumna Sebastiana Soyer do Collegio SantaClara, o hymno da Independencia cantado pelo Collegio Santa Clara [...]78
Outro aspecto também divulgado pelo periódico se relaciona a subvenção concedida pelo
Estado, para o Colégio Santa Clara, e outra escola em Catalão, Colégio da Nossa Senhora
77 Irmã Superiora. “Collegio Santa Clara”. Jornal Santuário da Trindade. Ano 1. n. 1513/01/1923, p. 4
78 Autor desconhecido. “Campinas”. Jornal Santuário da Trindade. Ano 1, n. 7. 23/09/1922,p.3
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Mãe de Deus79, os quais receberiam subsídio estatal anual no valor de 2:400$000 para
manutenção de ambas as instituições educacionais. A notícia foi apresentada de maneira
destacada no jornal com o título “Subvenção” e, ao que parece, com a satisfação de estarem
reconhecendo o trabalho dos colégios. Segundo o periódico, a subvenção seria "certamente
uma verba bem empregada e que há de dar ao Estado abundantes juros pelos benefícios
inestimáveis de instrução e educação que os collegios vão espalhando” 80.
Além dos colégios acima mencionados, o jornal Santuário da Trindade promovia
constantemente matérias sobre como os pais deveriam lidar com a educação de seus filhos,
uma vez que a preocupação era também, além do estudo em escolas confessionais católicas,
de uma moral religiosa para a vida. Neste sentido, estas reportagens tratavam da
responsabilidade do papel do “pai” na vida moral do filho, bem como o filho deveria respeitar
e obedecê-lo por toda a vida. O pai, portanto, seria o chefe da casa, a figura mais importante
para todos os setores da vida familiar, seria tarefa do pai conduzir seu filho no caminho
“correto” de acordo com os princípios católicos. Nas palavras do Pe. João Batista Kiermeier:
Se o pae educa com cuidado os seos filhos, elles serão bons serão úteis aos outros eao paiz serão religiosos, serão felizes nesta vida e na eternidade. Se o pae descuidada educação dos filhos, se os deixa andar em más companhias, se por suas palavrasou por seos exemplos os leva a não praticarem a Religião, se não os faz ensinar ascousas necessárias para a vida: os filhos se tornarão homens inuteis e até nocivos,talvez scelerados, elles serão uns infelizes nesta vida e ainda na eternidade. Quãogrande é, portanto, a responsabilidade dos paes na educação dos filhos, quão grandesua culpa se por sua negligencia os filhos se estragam e se perdem.81
As concepções católicas apresentadas pelo jornal eram essenciais para que os pais
cuidassem da educação de seus filhos, não somente matriculando-os em escolas confessionais
79 O Colégio de Nossa Senhora Mãe de Deus começou a ser anunciado pelo jornal Santuárioda Trindade na edição do ano 1, nº 25 do dia 02/06/1923, com a seguinte redação: “Collegiode Nossa Senhora Mãe de Deus: Estabelecido em Catalão e dirigido pelas MadresAgostinianas, recebe alumnas internas, semi-internas e externas e tem curso primário e ocomplementar. Tem também um Jardim da Infancia. Mais informações com a MadreSuperiora.”
80 Autor desconhecido. “Subvenção”. Jornal Santuário da Trindade. Ano 1, n. 3. 29/07/1922,p.3
81 Pe. João Batista Kiermaier. “O pae de família”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 11.18/11/1922, p.1
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católicas ou ligas à religião católica, algo que nos parece evidente com os anúncios em todas
as edições dos colégios já mencionados82. O pai deveria cuidar para que seus filhos não se
desviassem do caminho de Deus proposto pelos redentoristas. Dessa forma, por meio de uma
pequena estória do redator Sr. Prado (um dos contribuintes leitos na redação do jornal), é
possível perceber o discurso que representa a responsabilidade do pai em não deixar que seus
filhos andassem com pessoas que não possuíssem religião ou que não fossem católicas.
Ao velho professor Tholuk apresentou-se sua filha, vestida de branco e prestes a sairpara divertir-se com algumas conhecidas. – Não acho boas aquellas pessoas,observou o pae, - Mas não me há de fazer mal, andar com ellas, respondeu a filha,não seguirei suas opiniões erradas. O pae apresentou-lhe um carvão e disse: Pegaisto, minha filha, não te queimará. – não me queima, mas suja as minhas luvasbrancas, replicou a filha. – Pois assim, observou então pae, aquellas companhias nãote perderão de uma vez, mas deixarão manchada a tua alma. Andar com pessoasespíritas ou protestantes ou atheus nem sempre nos faz perder logo a nossa fécathólica; entretanto o trato desnecessário e a amisade com ellas sempre mancha aalma e deixa nella vestígios de indiferença ou de duvidas.83
Estas matérias nos possibilitam refletir, dentre outras coisas, sobre a responsabilidade
educacional atribuída aos pais para com seus filhos e a preocupação que a Igreja Católica
imprimiu no combate às outras religiões, um dos principais objetivos e missão do jornal
redentorista. Assim, andar com pessoas que não fossem católicas significava um risco para a
educação moral dos filhos e, por isso, cabia ao pai o cuidado e acompanhamento integral de
seus filhos, guiando-os para o caminho obediente aos dogmas da Igreja.
Portanto, os fatores de desrespeito, desvio de conduta, amizades indevidas com
pessoas de outras religiões, e mesmo o mau exemplo para as crianças, era, de acordo com os
redentoristas, fruto do descuido dos pais para com a educação dos filhos. Portanto, o
problema somente poderia ser resolvido com o auxílio da religião, pois com a educação sob
os moldes católicos a probabilidade dos jovens não obedecerem mais os pais, ou mesmo de
aprender “coisas más” seria menor.Quantos paes queixam-se de que em nosso tempo os filhos não querem maisobedecer e que aprendem cedo as cousas más, que elles eduquem os filhos naReligião, que vigiem sobre elles, que os reprehendam e castiguem, que lhes dêm o
82 Analisaremos mais a frente a importância que o jornal oferecia às matrículas nos colégiosreligiosos católicos.
83 Sr. Prado. “Reflexões”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 16. 27/01/1923, p.1
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bom exemplo: a elles verão que não é o tempo que perde a mocidade, mas sim odescuido dos paes84
Não obstante, o jornal Santuário da Trindade também registrou seus princípios em
relação ao ensino leigo que estava se alastrando no país desde o início da laicização do
Estado. Adotando uma posição contrária às escolas não católicas, o periódico se manifestou
em várias matérias, inclusive afirmando que nas escolas leigas não era possível que o aluno
conseguisse absorver a verdade sobre a vida. Numa matéria intitulada “Ensino Leigo” um
redator não nominado explica ao leitor:Quando um menino aprendeu tudo quanto o ensino leigo pode offerecer, poderádizer-nos em que anno morreu Alexandre Magno; poderá contar todos as cellas deinsecto; saber tambem as mais difficeis lições sobre linhas e espheras; nos dirá,quanto as aldeias de Afganistan foram construídas, e quando a cidade de Carthagofoi destruida; nos traçará no quadro negro a digestão d'um verme. Mas não aprendeuo que é a alma humana; não aprendeu o que é a eternidade; não aprendeu se hainferno; aprendeu tudo ... mas não aprendeu a sua origem, o seu fim, e portanto nãoaprendeu a unica verdadeira sciencia, a mais necessaria de todas as sciencias85
Neste sentido, o fiel católico deveria garantir que seu filho estudasse numa escola que
promulgasse o ensino sob os preceitos religiosos católicos, pois, somente desta forma seria
possível garantir que o mesmo conhecesse a verdadeira ciência que estava totalmente ligada a
verdade divina. Os pais, por sua vez, tinham também a obrigação de matricular seus filhos em
escolas católicas para não incorrerem no erro de que seu filho (além dos outros fatores de
“desvio de conduta” assinalado anteriormente) não ficasse alheio à suposta verdade de Deus.
Dessa forma, "[...] Um catholico não pode collocar seos filhos em escolas ou collegios
protestantes ou em quaesquer outros em que se ataca a Religião e se procura tirar a fé dos
corações juvenis. Os paes tem de dar a Deus regorosas contas de seos filhos"86.Adotando constantemente estórias do cotidiano para que os leitores goianos da época
compreendessem com facilidade a mensagem dos redentoristas, outro redator leigo
contribuinte do jornal chamado Sr. Bisael escreveu uma matéria intitulada “Onde estão os
meus filhos? ... No abysmo!...” recontanto a estória contada pelo “ilustre sábio francez que foi
84 Sr. Prado. “Reflexões”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 3. 29/07/1922, p.1
85 Autor desconhecido. “Ensino Leigo”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 21.07/04/1923, p.3
86 Sr. Prado. “Reflexões”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 14. 30/12/1922, p.1
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Sr. De Mairan”87. Segundo Sr. Bisael a estória seria um “exemplo aterrador das funestas
consequências da educação livre e athéa, da educação que não vae pautada pelos salustres
princípios da Religião”88. O redator contou que um pai de família com três filhos ofereceu-
lhes educação ateia, de forma que os filhos não precisavam se preocupar com nenhuma norma
ou dogma da Igreja e que poderiam utilizar somente a razão para guiar seus respectivos
caminhos. No entanto, de acordo com Bisael, com o passar do tempo e “educados naquelle
ambiente mephitico, fora do conhecimento de Deus e da sua Lei” 89, os filhos foram perdendo
o sentimento e respeito aos pais, se envolvendo com jogos e se debruçando na vida da
mocidade.Com o infortúnio da morte da mãe dos três filhos, os mesmos somente se interessaram
na divisão rápida da herança e “deixando o velho pae no mais criminoso desamparo, a braços
com a miséria” 90 acharam-se cada um para seu caminho. Sr. Bisael relatou que nenhum dos
filhos obteve sucesso em sua empreitada e que somente ao ver sua família desprestigiada e
desonrada reconheceu seu erro: “Onde estão os meus filhos? .... A ... Meus Filhos! ... Onde
estão os meus filhos? ... Ai de mim! ... estão no fundo do abysmo! ... Quem os atirou ao
abysmo fui eu, fui eu! ... Ai! Desgraçado de mim, está tudo perdido!...”91.A estória demonstra mais uma vez a necessidade dos pais educarem seus filhos
inseridos na perspectiva religiosa católica, já que os perigos e desvios de moral aconteceriam
com aqueles que não seguissem os princípios da Igreja Católica. Nestas estratégias
jornalísticas ficam evidenciadas as propagandas dos redentoristas contra as religiões não
católicas, ou mesmo não religiosas em seus métodos educacionais, já que somente a uma
educação aos moldes católicos poderiam oferecer uma vida sem desvios de conduta e com o
conhecimento da verdade.
87 Sr. Bisael. “Onde estão os meus filhos?... No abysmo!...”. Jornal Santuário da Trindade,Ano 2, n. 41. 05/01/1924, p.2
88 Idem.
89 Idem.
90 Idem.
91 Idem.
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No jornal Santuário da Trindade foi contemplada também a discussão acerca do
Ensino Religioso que, no contexto político em questão, estava bastante em voga. Com a
crescente laicização do ensino educacional o Ensino Religioso foi retirado das escolas, no
entanto, para a Igreja Católica a disciplina em questão era de fundamental importância para a
construção de um bom fiel. Sempre que possível como já mencionado anteriormente, o jornal trazia notícias de
outros países, destacando sempre amplos acontecimentos na vida política de países como a
Rússia, Itália, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Porém, algumas notícias, ao que nos
parece, se mostram como incentivos ou mesmo “indiretas” para os políticos brasileiros92. Um
exemplo desta afirmação foi a notícia sobre uma petição assinada por milhões de alemães
solicitando a permanência do Ensino Religioso nas escolas da Alemanha. No jornal Santuário
da Trindade a questão foi anunciada na coluna “Notícias Religiosas” com o seguinte texto:
“Na Allemanha foi apresentada ao Congresso uma petição assignada por seis milhões de
pessoas, pedindo a conservação do ensino religioso nas escolas” 93.Outro incentivo sobre o Ensino Religioso foi enunciado na coluna “Reflexões” na
edição de número quatorze do ano 1922. Este, ao que nos parece, é ainda mais significativo,
pois o exemplo viria de um ateu. No referido texto é retratado como o escritor renomado
Victor Hugo, ao que se enuncia, sem religião, apoiava o Ensino Religioso nas escolas. De
acordo com a visão do jornalVictor Hugo, celebre escriptor, aliás nada religioso, escreveu: “Longe de quererbannir o ensino religioso, creio, notae bem, que é hoje mais necessário do que
92 Interessante ressaltarmos a reportagem do Padre José Lopes Ferreira sobre o ditadoritaliano Benito Mussolini “Diga-se o que quizer; uma cousa não se pode negar quanto aMussolini: é um homem extraordinário, um político de vistas largas, com visão estupenda dasnecessidades do momento de energia e atuação inegualável. Agora que a Itália vai celebrar osétimo centenário da morte de São Francisco de Assis enviou ele uma mensagem grandiosa atodos os italianos do mundo inteiro concitando-os a festejarem este grande santo como typodo verdadeiro patriota, glória de sua nação e benemérito da humanidade. Assim esse homemextraordinário de tudo se occupa, cultuando sempre a religião como o princípio e base de todafelicidade e grandeza de sua pátria. Belo exemplo para esses político pygmeos de nossoparlamento que com suas curtas intelligencias tanto se oppuzeram às emendas religiosas.”(Padre José Lopes Ferreira. Santuário da Trindade. Ano 4, n. 137. 19/12/1925, p. 3).
93 Autor desconhecido. “Notícias Religiosas”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 2.15/07/1922, p.2
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nunca. Quanto mais o homem se engrandece, tanto mais deve crer, quanto mais seaproxima de Deus, mais deve conhecer a Deus. Eu quero portanto, sincera, firme eardentemente o encino das verdades eternas”94
Para além destas notícias que em muito se dedicam à necessidade de demonstrar os
benefícios e importâncias do Ensino Religioso nas escolas, o Santuário da Trindade também
foi palco para debate do assunto em pauta entre o Pe. João Batista Kiermeier e o Sr. Lins –
discussão anteriormente mencionada. Já nas edições de 1923 a discussão entre ambos
continuava e o assunto da vez era o Ensino Religioso nas escolas. Neste assunto em específico
o Sr. Lins teria escrito em conjunto com Sr. Carlos Herndl que, de acordo com o Pe.
Kiermeier era filho de um bom católico, “contudo elle passou pelo desgosto supremo, que um
de seos filhos degenerou e apostatou da Religião catholica, tornando-se homem sem Religião”95, este, portanto, seria o Sr. Herndl.
De acordo com o Pe. Kiermeier houve uma votação no Congresso Nacional para
deliberar sobre a conservação do Ensino Religioso nas escolas e todos os religiosos, católicos
ou não, votaram a favor da conservação. No entanto, ao que se percebe na reportagem em
questão, o Sr. Herndl juntamente com Sr. Lins afirmavam que os católicos não haviam votado
com os protestantes a favor do Ensino Religioso. Esta afirmação é contestada pelo padre:O que eu disse é que o povo de Basilea com grande maioria exigiu a conservação doensino da Religião nas escolas e repeliu a instrução sem Religião que a maçonariaaspira e que o Sr. Lins tanto recommenda. [...] Quanto a cooperação dos catholicosnesta votação, é referida nos jornaes europeos e está de accordo com o que oscatholicos e protestantes praticam em toda a Europa, unindo suas forças sempre quese trata de combater o atheismo. Todos elles estão convencidos que ainda é melhor,ter uma Religião falsa, do que não ter Religião nenhuma. Embora seja um grandemal, não pertencer à verdadeira Religião [...]96
A questão que estava em voga eram os benefícios que o Ensino Religioso representava
tanto para os católicos quanto para os protestantes, fato que para os representantes da
maçonaria, do liberalismo, da educação e Estado Laico deveria ser extinto das escolas. O
Ensino Religioso era uma ferramenta importante para a Igreja Católica realizar seus
94 Sr. Prado. “Reflexões”. Jornal Santuário da Trindade, Ano 1, n. 14. 30/12/1922, p.1
95 Pe. João Batista Kiermeier. “Com o Sr. Carlos Herndl”. Jornal Santuário da Trindade, Ano1, n. 20. 24/03/1923, p.2
96 Idem.
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ensinamentos mesmo para aqueles que não estavam frequentando os colégios religiosos ou
confessionais católicos.Todas estas notícias exprimiam uma concepção educacional que os redentoristas
buscavam consolidar no Estado de Goiás. Localizados no contexto da crescente laicização dos
setores ligados ao Estado, era importante existir uma ferramenta que auxiliassem os católicos
a influenciar o Estado sob princípios religiosos. Este, portanto, foi um dos papeis principais
desempenhados pelo jornal Santuário da Trindade.
3. Considerações FinaisÀ guisa de considerações finais, destacamos a importância que teve para a Igreja Católica
a construção de uma sociedade que seguissem seus princípios religiosos e, para tanto, a
instrução era uma dos caminhos necessários a serem seguidos para que este objetivo se
concretizasse. Portanto, o jornal Santuário da Trindade foi uma das ferramentas encontradas
por uma das congregações de mais predominância em Goiás, os redentoristas, em busca da
emanação das concepções educacionais que um “bom católico” deveria seguir.Para tanto, o que podemos constatar por meio deste trabalho de pesquisa a respeito deste
periódico, é que o jornal investiu em diversas matérias direta ou indiretamente ligadas à
educação. Seja por meio de anúncios em todas as edições de colégios religiosos ou
confessionais católicos, por matérias sobre os eventos destas instituições educacionais,
reportagens sobre como os pais devem se responsabilizar pela conduta religiosa e moral de
seus filhos, por estórias que visavam demonstrar as moléstias que poderiam ser causadas por
se frequentar ou ser amigo de pessoas sem religião ou que não fossem católicos, ou mesmo
por matérias discutindo a conservação do Ensino Religioso nas escolas, os redentoristas
almejavam a consolidação de uma educação pautada no catolicismo em Goiás.
4. Referências Bibliográficas
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KLAUCK, Samuel. A imprensa como instrumento de defesa da Igreja Católica e dereordenamento dos católicos no século XIX. MNEME – REVISTA DE HUMANIDADES,11(29), 2011 – JAN / JULHO Publicação do Departamento de História da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte Centro de Ensino Superior do Seridó – Campus de Caicó.
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Semestral ISSN ‐1518‐3394 Disponível emhttp://www.periodicos.ufrn.br/ojs/index.php/mneme
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MENEZES, Áurea Cordeiro. História Eclesiástica de Goiás. Volume 2. Goiânia: Ed. Da PUCGoiás, 2011.
SANTOS, Leila Borges Dias. Ética da Súplica: catolicismo em Goiás no final do século XIX.Goiânia: Ed. da UCG, 2008.
SARLO, Beatriz. Tempos Presentes. Notas sobre a mudança de uma cultura. Rio de Janeiro:José Olympio Editora, 2003.
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SÍTIOS ELETRÔNICOS CONSULTADOS:
http://www.ibge.gov.br/home/ Acesso: 07/04/2015
http://www.ipeadata.gov.br/ Acesso: 07/04/2015
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