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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias.
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A INCLUSÃO DIGITAL DO PROFISSIONAL DE LETRAS
Ana Maria Nápoles VILELA1 RESUMO: A todo momento, temos provas de que os atuais avanços tecnológicos provocam transformações nas formas de comunicação, nos processos produtivos, na organização do trabalho e na consequente formação de recursos humanos. Sendo assim, é importante que sejam elaboradas, desenvolvidas e implementadas propostas para a integração das tecnologias no cotidiano escolar, a partir de conteúdos curriculares específicos. Neste trabalho, proponho-me analisar as matrizes curriculares dos cursos de graduação e de pós-graduação de Letras das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) do Brasil, tendo como pressuposto que, diante da política do governo de inserção digital dos cidadãos, tais instituições estão (ou deveriam estar) formando profissionais reflexivos para atuarem em um ambiente construtivista de aprendizagem mediada pelo computador. Vale lembrar que isso está previsto e assegurado pelos documentos oficiais, considerados prescritivos. Por essa razão, considero importante pesquisar, na perspectiva do interacionismo sociodiscursivo (ISD), o que está sendo ensinado ao futuro profissional de Letras para que se torne um letrado digital capaz de inserir seu aluno no ambiente digital. O corpus foi coletado no site do SESU/MEC, no endereço http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=477&Itemid=300#federais. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão digital, Letramento digital, Currículo, Profissional de Letras, Tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), Interacionismo sociodiscursivo (ISD). INTRODUÇÃO
Este trabalho é o fruto de um estágio de pós-doutorado no Instituto de Estudos
de Linguagem (IEL) da Unicamp, sob a orientação da Profa. Dra. Ingedore Villaça
Koch, para cujo objeto de estudo elegi o hipertexto como instrumento para apresentação
de informações em ambiente digital, na perspectiva do designer (do profissional que
alimenta a máquina). Propus-me a analisar o papel mediador desse profissional, sua
1 Profa. Dra. do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Departamento de Linguagem e Tecnologia. Rua Bambuí, 788 – apto. 302. CEP 30.310.320 – Belo Horizonte (MG) – Brasil; [email protected].
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formação e atuação como organizador da informação e da comunicação nos ambientes
de aprendizagem mediados pela Internet, a partir do resultado de pesquisas sobre a
leitura e a escrita em suporte eletrônico.
Com essa pesquisa, esperava contribuir com um levantamento dos critérios a
serem observados pelo profissional que se propõe a produzir hipertextos digitais com
fins acadêmicos. Infelizmente, encontrei muita literatura teórica, mas pouca literatura
prática para a constituição de meu corpus2. Cheguei à conclusão de que estava
idealizando um profissional que ainda não existe.
Na Unicamp, tive a oportunidade de cursar duas disciplinas sobre letramento
digital (uma delas com a Ilana Snyder) que me fizeram refletir sobre algumas questões,
entre elas a que deu origem ao redirecionamento de minha pesquisa: em que sentido
matrizes curriculares das Instituições Federais de Ensino têm contribuído para
qualificar o profissional de Letras em termos de tecnologia digital? Dito de outro
modo: as matrizes curriculares preveem sua inclusão digital?3
Assim sendo, passei a investigar as tendências das matrizes curriculares da área
de Letras e de Pedagogia das Instituições Federais de Ensino (IFES), observando,
especificamente, a atenção dada ao letramento digital4 na formação profissional do
graduando prevista nos documentos oficiais.
Neste trabalho, proponho-me a analisar as matrizes curriculares dos cursos de
graduação e de pós-graduação das IFES, tendo como pressuposto que, diante da política
2 Apresentei parte desta pesquisa no I SIMELP, em trabalho intitulado “Considerações sobre a escrita acadêmica para a web” (VILLELA, 2009). 3 Para um estudo sobre inclusão e letramento digital, ver Buzato (2007). 4 Termo adotado de acordo com a concepção proposta por Ribeiro (2005, p. 38): “Letramento digital é a porção do letramento que se constitui das habilidades necessárias e desejáveis desenvolvidas em indivíduos ou grupos em direção à ação e à comunicação eficientes em ambientes digitais, sejam eles suportados pelo computador ou por outras tecnologias de mesma natureza”.
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do governo de inserção digital dos cidadãos, as instituições federais estão (ou deveriam
estar) formando profissionais reflexivos para atuarem em um ambiente construtivista de
aprendizagem mediada pelo computador.
A análise será feita com base na concepção de inclusão digital proposta por
Buzato (2007), que supera a noção tradicional de inclusão como acesso puro e simples
às novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), considerando-a
um processo contínuo e conflituoso, marcado pela tensão entre
homogeneização e proliferação da diferença, tradição e modernidade,
necessidade e liberdade, através do qual as TIC penetram contextos
sócioculturais (sempre heterogêneos), transformando-os, ao mesmo
tempo em que são transformadas pelas maneiras como os sujeitos as
praticam nesses contextos (op. cit., p. 75).
POR QUE ANALISAR OS CURRÍCULOS?
O currículo – uma das dimensões da política educacional – é, sem dúvida, um
componente de fundamental importância na concretização das ações pedagógicas que se
desenvolvem no contexto da estrutura e funcionamento de um sistema educacional. O
currículo deve refletir os princípios, os objetivos e as intenções de um projeto educativo.
Além do mais, atua, nas instituições escolares, como mediador do ato pedagógico.
Snyder (2008, pp. 183-212) mostra que o currículo envolve ideologias e que a
visão de educação afeta a visão de currículo; que concepções ideológicas afetam os
objetos de ensino a serem abordados; que desenvolver a consciência crítica nos
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currículos passa pela cooperação entre sujeitos e reflexão sobre linguagem e poder; que
as questões de currículo para o ensino virtual impõem-se à medida que essa modalidade
de formação de professor precisa dar conta da área específica, mas também das questões
pedagógicas. Eis aí um grande desafio para esse novo modelo de
ensino/aprendizagem/formação.
Assim, considero importante pesquisar como se dá a inclusão digital do futuro
profissional de Letras para que se torne um letrado digital, capaz de inserir-se e inserir
seu aluno nesse ambiente. Muito se tem falado e investido em formação continuada –
mas, sem uma formação inicial, continuar o quê?
Tais questionamentos podem até parecer inoportunos depois de já se ter falado
tanto da necessidade de inserção digital dos professores para atuarem em um ambiente
construtivista de aprendizagem mediada pelo computador. Qual de nós, contudo, não
tem um colega que desconhece as possibilidades de comunicação via computador: o
e-mail, o fórum, o bate-papo e o Skype. E, principalmente, os recursos da Web 2.0 – o
novo paradigma de produção de conteúdo, que parte dos usuários para os próprios
usuários – sites de compartilhamento de vídeos (como o YouTube), de fotos
(Flickr), bookmarks (Del.icio.us), blogs e redes sociais que fazem parte do dia a dia
das novas gerações de alunos. Por outro lado, todos nós temos casos para contar de
primos, sobrinhos ou netos que já manobram a tecnologia melhor que seus pais.
A minha inquietação é: o professor não quer, não sabe, ou não lhe foi dada a
oportunidade de conviver com essas tecnologias que estão chegando às escolas?
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Trata-se de resistências ou limitações em relação às novas habilidades exigidas pelas
Tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC)5?
Daí surgem outras questões: como formar profissionais na perspectiva da
sociedade do conhecimento? Que habilidades esse profissional deve ter? De acordo com
Snyder (2009, p. 33),
em tempos digitais, em que textos que assumem posições extremas
sobre as novas tecnologias representam um aspecto dominante do
nosso panorama cultural, temos um conjunto de responsabilidades
adicional. Precisamos nos assegurar que nossos alunos adquiram
competência crítica para que compreendam o panorama de letramento
contemporâneo e então possam participar efetivamente na vida após a
escola e no trabalho como cidadãos informados e ativos. Proporcionar
oportunidades cuidadosamente estruturadas para os alunos
desenvolverem as habilidades de letramento e um forte senso de
ceticismo instruído é mais importante do que nunca.
A posição da autora reforça o fato de que a introdução das TDIC na educação
deve ser acompanhada de uma reflexão sobre a necessidade de mudança na concepção
de aprendizagem que atualmente vigora na maioria das escolas brasileiras.
Buzato (2006, p. 3), por sua vez, propõe um rápido brainstorming “para
compreender o que se espera do professor e da escola enquanto atores nesse processo de
transformações”:
5 Seguindo Manovich (2001), considero mais apropriado falar de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação quando se trata das novas formas culturais que dependem dos computadores: CD-ROM, DVD-ROM, sítios Web, jogos de computador, aplicações de hipertexto e hipermídia, uma vez que o termo digital adiciona a possibilidade de formação de redes, que implica “todos por todos”.
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ter autonomia na construção de projetos pedagógicos que utilizem a Internet
de forma significativa;
conhecer maneiras de ensinar o aluno a fazer o mesmo em relação a seus
próprios interesses e necessidades de formação;
saber compatibilizar materiais e recursos da sala de aula e do mundo off-line
com os objetos simbólicos e as formas de interação típicas do mundo on-
line;
negociar e compatibilizar mecanismos institucionais ainda muito necessários
(frequência, avaliação, certificação, etc.) com as possibilidades da
aprendizagem assistida por computador e do ensino a distância;
envolver-se ativa e criticamente na implantação, manutenção e renovação da
infra-estrutura tecnológica da escola.
Examinando essa lista de produtos, de objetivos a atingir, o próprio autor conclui
que ela “não dá conta dos processos pelos quais poderíamos chegar lá, e das condições
de partida do professor que já estava na escola, ou daquele que foi formado no
paradigma tradicional, para chegar lá”. Ele acrescenta, então, mais dois itens:
valorizar e compatibilizar as práticas, linguagens, conteúdos e ferramentas
que os alunos trazem para a escola quando chegam do seu quotidiano on-line
e off-line, o que, muitas vezes não decorre simplesmente das diferenças de
idade entre professores e alunos, mas do tipo de prática de escrita e leitura
que caracteriza o cotidiano desses dois grupos sociais;
compatibilizar um papel de professor construído historicamente sobre a
premissa de que ele tinha o conhecimento que o aluno vinha buscar, com a
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necessidade de admitir que agora ambos precisam ensinar aprendendo ou
aprender ensinando (op. cit., p. 4).
Dar oportunidade ao aluno de apropriar-se das TDIC demanda um novo
paradigma: mais do que ensinar, o professor tem de fazer aprender. Para tanto, a escola
deixa de centrar-se no ensino (suas finalidades, seus conteúdos, sua avaliação, seu
planejamento, sua operacionalização sob forma de aulas e de exercícios) e passa a
centrar-se nas aprendizagens. Essa mudança só é possível se o professor adotar uma
concepção construtivista sobre aquisição do conhecimento e estiver convicto de que
“conhecer não é assimilar e repetir, mas construir em interlocução ou interação com o
mundo, organizando a experiência de modo a tornar-se compreensível para o ator do
conhecimento” (SILVA, 2003, p. 25). Essa revolução na educação apresenta-se como
uma necessidade de mudanças na atuação profissional dos professores em todos os
níveis de ensino, que começa no momento de sua formação.
POR QUE O ISD?
Em qualquer área de estudo, a perspectiva do interacionismo sociodiscursivo
(ISD) pressupõe que se veja o fenômeno a partir da interação entre as ações (sociais,
culturais, epistemológicas, discursivas, etc.) e o desenvolvimento do individuo a partir
da interação que estabelece com o vivido, com o experienciado (ou seja, as capacidades
também desenvolvidas socialmente). Resumindo, as interações possibilitam a
construção dos conhecimentos. No campo da formação do professor, isso é visível e
precisa ser trabalhado, uma vez que reflete o tipo de profissional privilegiado pela
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instituição. Na visão do ISD, o agir é entendido como a capacidade inerente do
indivíduo de ser actante.
Ao propor a análise do conteúdo temático das ementas que tratam da inclusão
digital do profissional de Letras, procuro estabelecer uma interface entre a ação que se
exige do graduando, no decorrer do estudo da disciplina, e a atividade de interação pela
linguagem que lhe é propiciada. Essa interface demonstra a perspectiva epistemológica
e metodológica que está por trás da concepção de currículo.
Vale ressaltar que, de acordo com Buzato (2006, p. 2) a linguagem deve ser
entendida “não apenas um código ou sistema, mas também os usos desse código/sistema
e os meios/tecnologias que possibilitam esses usos”. Paralelamente, segundo
Motta-Roth, Reis & Marshall (2007, p. 129), “na perspectiva sociointeracionista, é
fundamental a metaconsciência do aluno sobre seu engajamento em eventos
comunicativos e sobre a interação que estabelece com o meio nos processos de ensino e
de aprendizagem.” Ainda segundo as autoras – que baseiam a experiência pedagógica
relatada nesses princípios – “a interação pela linguagem contribui para o refinamento e
a reelaboração do conhecimento do aluno sobre os sistemas gramatical e discursivo da
língua” (id., ibid.). Para desenvolverem a experiência pedagógica relatada, que trata do
ensino mediado pelo computador, as autoras partem de três crenças:
1. o aluno deve ser corresponsável pelo processo de aprendizagem junto com
os colegas e o professor;
2. o conhecimento é construído no engajamento do aluno em atividades que
pressuponham o uso efetivo da linguagem;
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3. a linguagem é vista como parte de uma atividade humana, social,
contextualizada e, portanto, depende da interação entre o aluno e o meio
social (id., ibid.).
Em outras palavras, é a relação do futuro profissional de Letras com os
instrumentos que lhe possibilita o desenvolvimento intelectual a partir da observação
dos usos, do funcionamento e do próprio agir frente às tecnologias.
Seguindo essa linha de análise, parece-me relevante verificar de que modo as
Instituições Superiores de Ensino têm integrado as novas mídias em seus currículos,
com o objetivo de aprimorar as práticas letradas do futuro profissional, tendo em vista
sua responsabilidade no processo de ensino e de aprendizagem da língua materna, nas
mais variadas situações de uso.
ANÁLISE DOS DADOS
Das 53 Instituições Federais de Ensino Superior, 11 não oferecem curso de
Letras. Das 42 instituições que ofertam esse curso, 9 não tinham a grade curricular no
portal do MEC no momento em que foi feita a coleta dos dados (23 e 24 de julho de
2009). Assim sendo, o corpus analisado constituiu-se de 33 matrizes curriculares, em 15
das quais consta alguma disciplina que tem como objeto o uso da informática na
educação. Infelizmente, nem todas apresentaram a ementa da disciplina.
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFRP) oferece 3 disciplinas:
1) Educação e Tecnologia (30h, campus Curitiba);
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2) Estudos de Informática. Ementa: Sistemas Operacionais. Editores de Textos.
Programas de Apresentação. Internet (60h, campus Pato Branco);
3) Educação Tecnologia e Sociedade. Ementa: Tecnologias da informação e
comunicação. Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de
aprendizagem baseados nas TICs. Impacto das TICs em diferentes contextos
educacionais. Educação à distância mediada pelas TICs (60h, campus Pato
Branco).
Não é possível fazer uma leitura da relação entre os conteúdos propostos. Na
verdade, o título dessas disciplinas sugere que há uma soma de conteúdos. A formação
em Tecnologia na Educação apresenta certas peculiaridades. É preciso considerar que o
uso da tecnologia na educação não significa a soma de informática e educação, mas a
integração dessas duas áreas. Para haver integração, é necessário haver domínio dos
assuntos que estão sendo integrados e apreensão dos conteúdos de informática. Para
muitos educadores que têm formação em ciências humanas, tal exigência pode se tornar
problemática. Além disso, o domínio da tecnologia implica, entre outras coisas, o
domínio do funcionamento do computador. Por outro lado, os aspectos educacionais,
psicológicos e sociais para o profissional que conhece somente informática também
podem ser muito problemáticos. Pelo título, as duas primeiras disciplinas não
privilegiam uma abordagem pedagógica em relação à sua aplicação; apenas contemplam
o aspecto instrumental.
Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ministra-se a disciplina
eletiva Uso de Softwares Educativos em Sala de Aula (60h), cuja ementa é:
Fundamentos linguísticos na avaliação e uso do software educativo no ensino de língua
portuguesa.
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Da grade da Universidade Federal Fluminense (UFF), consta a disciplina
denominada Ementa Variável, cuja ementa é a seguinte: Vivência profissional em área
compatível ao curso de Letras. Organização de sistemas. Conceito de informação e de
dados. Conceito de processamentos de dados. Conceito de software: linguagens e
aplicações. Conceito de sistema operacional.
A formação e a atuação de professores para o uso da informática em educação
são processos que interrelacionam o domínio dos recursos tecnológicos com a ação
pedagógica e com os conhecimentos teóricos necessários para refletir, compreender e
transformar essa ação. Quando se fala em “inserção da informática na educação”,
nota-se uma preocupação excessiva com a aquisição de equipamentos, além da
proliferação de programas de computadores para a educação (os chamados softwares
educativos), como se isso pudesse garantir uma utilização eficaz do computador nos
diferentes níveis e modalidades de ensino.
A preparação dos professores para tais utilizações não tem feito parte das
prioridades educacionais na mesma proporção, deixando transparecer a ideia
equivocada de que o computador e o software resolverão os problemas educativos. Mas,
pelas ementas propostas, essas duas disciplinas exigem uma postura crítica sobre essa
questão.
A Universidade Federal Maranhão (UFM) oferece Informática Aplicada à
Educação (30h) como disciplina optativa. Por sua vez, a Universidade Federal da Bahia
(UFBA) propõe Introdução à Informática na Educação com a mesma configuração.
Ambas não apresentam ementa, mas, pelos seus títulos, pode-se inferir que seja dado
um tratamento prático ao tema, na medida em que esses títulos sugerem que o objetivo
dessas disciplinas é analisar o uso do computador na educação e desenvolver uma visão
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crítica sobre a utilização da informática, a fim de favorecer o uso adequado dos recursos
e das facilidades oferecidas pelo computador para organizar e elaborar material
pedagógico.
De acordo com Altoé (2001), o ideal é que o graduando vivencie situações que
usem a informática como recurso educacional, a fim de entender o que significa o
aprendizado através da informática, o seu papel como educador nessa situação e que
metodologia é mais adequada a seu estilo de trabalho. Somente com essa experiência o
profissional terá condições de assumir uma nova postura como educador que utiliza a
informática em educação. É interessante observar que essa disciplina é dada no 1º
período do curso, o que possibilita aos alunos envolverem-se mais com as atividades
pedagógicas sobre o uso do computador na sala de aula.
Do currículo das quatro instituições seguintes, constam disciplinas bastante
voltadas para a prática:
1) Publicadores de Texto na Internet – Curso de Bacharelado em Redação e
Revisão de Textos da Universidade Federal de Pelotas (UFP);
2) Recursos Tecnológicos no Ensino de Português – Universidade Federal do
Pará (UFPA);
3) Introdução aos Multimeios. Ementa: O papel da tecnologia no ensino de
línguas. Visão crítica do uso de multimeios no ensino do português como
segunda língua. Preparação de material didático-pedagógico – Universidade de
Brasília (UnB);
4) Laboratório 8 – ênfase III – Texto e Discurso: “as atividades laboratoriais
objetivam a análise e produção de materiais do ponto de vista de sua
constituição, formulação e circulação. Privilegiar-se-á a análise de coerções de
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gênero em diferentes tecnologias de comunicação” – Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar).
Pelas nomenclaturas, é possível imaginar disciplinas de familiarização dos
alunos com a tecnologia, para que aprendam a usar as ferramentas do computador. Mas
o que se espera é que os cursos de formação de professores dêem oportunidades aos
alunos de incorporarem o uso do computador em sua disciplina como uma ferramenta
educacional, possibilitando que os aprendizes utilizem e promovam discussões sobre o
uso do computador em todas as disciplinas do curso. E isso só ocorre na medida em que
os futuros docentes se apropriarem do computador e o incorporarem em suas atividades
pedagógicas.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por seu turno, oferece
duas disciplinas no curso de licenciatura e uma no bacharelado, respectivamente:
1) Projetos de Aprendizagem em Ambientes Digitais. Ementa: Nesta disciplina
serão estudadas situações experimentais desenvolvidas na modalidade de
Projetos de Aprendizagem, enfocando a construção de conhecimento nas
diferentes áreas do currículo, os usos dos recursos tecnológicos para atividades
colaborativas, a introdução de metodologias interdisciplinares e formas
alternativas de avaliação da aprendizagem (30 h, alternativa);
2) Mídia e Tecnologias Digitais em Espaços Escolares. Ementa: Disciplina de
caráter teórico-prático que visa estudar os processos pedagógicos da mídia e
das tecnologias digitais e suas implicações/relações no que diz respeito ao
ensino e aprendizagem escolar (30h, eletiva);
3) Introdução á informática. Ementa: Arquitetura e organização de
computadores. Sistemas operacionais. Arquivos e banco de dados. Linguagens
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de programação. Comunicação de dados, redes e internet. Aplicativos:
processadores de textos, gerenciadores de banco de dados, planilha eletrônica,
softwares de apresentação (60h, eletiva).
O título e a ementa desta última disciplina sugerem que seu objetivo seja
familiarizar os alunos com a tecnologia, para que eles aprendam a usar efetivamente as
ferramentas do computador.
Em 2009, duas disciplinas constam da grade da graduação da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG):
1) Tecnologia para Produção Coletiva de Textos. Ementa: Produção Textual em
equipes: técnicas e tecnologias. Conteúdo Programático (unidades e
subunidades): 1. Dinâmica de grupo: hierarquia vs. Meritocracia; 2. O tema:
como organizar a proposta inicial [a) Esquemas; b) Resumo]; 3. Ferramentas
[a) Editores de Texto: vantagens e desvantagens da correção automática;
b) Usando um gerenciador de projetos: WebCollab; c) Trabalhando no Wiki];
4. Apresentação: texto multimidia na web; 5. Artigo a várias mãos: da teoria à
prática (obs: disciplina semi-presencial);
2) Linguística Aplicada ao Ensino: Letramento Digital. Ementa: Introdução ao
letramento digital através do uso de ferramentas computadorizadas e de
produção de gêneros digitais. Reflexão sobre a utilização de ferramentas
disponibilizadas pelo computador e pela Internet no processo de ensino e
aprendizagem de língua materna e línguas estrangeiras. Conteúdo
Programático (unidades e subunidades): 1. Colaboração na rede: listas de
discussão, fórum, chats; 2. Mecanismos de busca: estratégias de busca; busca
de textos, sons e imagens; 3. Produção de textos multimídia: processador de
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texto, hipertextos, inserção de imagens e sons, formatação, narrativas
multimidiáticas; 4. Publicação na rede: homepage, wikis, blogs;
5. Desenvolvimento de material: ferramentas de editor de textos, ferramentas
de editor de apresentações, quebra-cabeças, webquests; 6. Recursos da
Internet: dicionários e enciclopédias, corpora – concordanciadores, boots;
7. Reflexões sobre a inserção do computador e da Internet na sala de aula.
Considero oportuno trazer para esta discussão o conteúdo programático dessas
disciplinas, pois ambas possibilitam ao graduando a aquisição de conhecimento para:
(i) usar a informática em suas atividades e com seus alunos; (ii) observar as dificuldades
do aluno frente à máquina; (iii) intervir e auxiliar o aluno a superar suas dificuldades; e
(iv) diagnosticar os potenciais e as deficiências do aluno. Trata-se de disciplinas
essencialmente práticas, pois, antes de tudo, o aluno aprende a fazer. Elas atendem o
perfil do profissional exigido pelo mercado de trabalho, uma vez que o aluno é levado a
discutir, manusear e implementar suas atividades profissionais com o auxílio das novas
tecnologias. Há um espaço de reflexão e discussão sobre o avanço da tecnologia da
informação e comunicação e da tecnologia da imagem e seu impacto no cenário
educacional.
A formação e a atuação de professores para o uso da informática em educação é
um processo que interrelaciona o domínio dos recursos tecnológicos com a ação
pedagógica e com os conhecimentos teóricos necessários para refletir, compreender e
transformar essa ação. Tal como exposto no plano de curso, essas duas disciplinas
atendem a todas essas exigências e às proposições de Xavier (2007, p. 8):
Neste momento, os profissionais de educação e linguagem precisam
desenvolver estratégias pedagógicas eficazes em seus mais variados
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espaços educacionais (salas de aula e laboratório de informática, por
exemplo) para enfrentar os desafios que estão sendo colocados:
alfabetizar, letrar e letrar digitalmente o maior número de sujeitos,
preparando-os para atuar adequadamente no Século do Conhecimento.
As disciplinas apresentadas acima são aquelas a que eu tive acesso pelo Portal
do Ministério da Educação (MEC). Pode ser que outras IFES que não disponibilizaram
informações na web ofereçam disciplinas dessa natureza, mas só é possível analisar os
dados a que consigo ter acesso. Acredito que possam ser ministradas sob outros títulos,
como, por exemplo, Tópicos Variáveis; Seminário; Produção de Texto; Oficina ou
Laboratório, Atividades Complementares ou Disciplinas Eletivas. Mas é interessante
observar que, mesmo nas instituições que oferecem Educação à Distância (EaD), as
demais disciplinas do currículo continuam sua trajetória metodológica na forma
tradicional, sem desenvolver, destacar ou implementar metodologias que possibilitem
aos alunos vivenciar experiências que possam oferecer oportunidade de realização de
uma docência mais rica sobre o uso de computador na educação.
O ideal é que o futuro profissional vivencie situações em que use a informática
como recurso educacional, a fim de poder entender o que significa o aprendizado
através da informática, seu papel como educador nessa situação e que metodologia é
mais adequada a seu estilo de trabalho. Somente com essa experiência o profissional
terá condições de assumir uma nova postura como educador que utiliza a informática
em educação.
Outro ponto que merece destaque é o fato de muitas universidades mencionarem
a importância da inserção tecnológica de seus alunos e não oferecerem disciplinas que
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possibilitem essa inserção. Como exemplo, podemos citar a Universidade Federal de
Alagoas (UFAL) que, ao tratar do perfil do egresso afirma que
considerando as habilidades e competências a serem desenvolvidas
durante a formação do professor de Língua e suas literaturas, em
conformidade com as contingências sociais e acadêmico-científicas da
área, espera-se desse profissional o seguinte perfil: (...) assimilação
crítica de novas tecnologias e conceitos científicos.
Entre as habilidades gerais a serem desenvolvidas, consta a “utilização de
recursos de informática necessários ao exercício da profissão”.
Vale lembrar que pode ocorrer oferta de uma disciplina em um semestre e não
no seguinte, como é o caso da disciplina Linguística Aplicada ao Ensino: Letramento
Digital, oferecida pela UFMG no 2º semestre de 2008, mas que não consta da grade do
1º semestre de 2009, o que significa que nem todos dos alunos terão oportunidade de
frequentá-la – o que não aconteceria se ela tivesse caráter obrigatório.
Nota-se que a preocupação com o estudo dos gêneros digitais e das
interferências das novas tecnologias no processo de ensino e de aprendizagem que se
observa na matriz curricular da UFMG está presente também na pós-graduação. Uma
das três linhas de pesquisa de Linguística Aplicada denomina-se Linguagem e
Tecnologia; ela contempla cinco projetos:
1) Práticas sociais da linguagem mediadas pela tecnologia;
2) Da reflexão à prática: Recursos de colaboração on-line no desenvolvimento
da competência comunicativa do aluno no processo de compreensão e
produção de textos escritos de diferentes gêneros textuais em L2 em diferentes
contextos de ensino;
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3) Texto Livre: suporte à documentação em software livre em aulas de oficina de
texto;
4) SetFon – algoritmo para produção e organização de semioetiquetas
fonológicas;
5) Tecnologia da informação e da comunicação na sala de aula de línguas.
É interessante observar que algumas IFES não oferecem disciplinas visando à
inclusão digital na graduação, mas as oferecem na pós-graduação ou mantêm linhas de
pesquisas voltadas para esse tema. É o caso, por exemplo, da UFGD (Grande
Dourados), em cujo Mestrado em Estudo de Linguagem constam estas duas disciplinas:
1) Novas Tecnologias no Ensino-aprendizagem de Línguas. Ementa: Limites e
possibilidades pedagógicas atuais das novas tecnologias para o
ensino/aprendizagem de línguas; questões emergentes na relação entre as
novas tecnologias digitais, teorias de aprendizagem de línguas, e formação de
professores de língua materna e estrangeira; prática de elaboração e avaliação
de materiais didáticos, atividades e projetos de colaborativos de cunho
intercultural mediados pela Internet;
2) Novos Letramentos e os Processos Contemporâneos de Inclusão. Ementa: A
relação sociedade-tecnologia e os processos de inclusão e exclusão social via
linguagem no contexto sócio-histórico da globalização cultural. Repercussões
das novas tecnologias na natureza da linguagem e das práticas letradas
escolares e não-escolares. Os conceitos de novos letramentos e letramento
digital e suas formas de aquisição, legitimação e evolução.
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O mesmo ocorre na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que oferece
disciplinas que visam ao letramento digital no Programa de Pós-Graduação em Estudos
Literários tanto quanto no de Linguística:
1) Literatura e Tecnologias do Texto. Ementa: Questões da representação e da
recepção literárias em ambientes regidos pela técnica. Literatura eletrônica na
esfera dos estudos culturais. A técnica na composição literária. Teorias do
Hipertexto;
2) Linha de Pesquisa Linguística e Ensino: Letramento e Alfabetização;
Letramento Digital; Teorias de Gênero.
De modo similar, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mantém o
Programa Interdisciplinar de Linguística Aplicada, na Linha de Pesquisa 1: Discurso e
Práticas Sociais, em que se estudam os diferentes processos de interação e de produção
de significado (por meio da oralidade, escrita, imagem, música etc.) em contextos
culturais (tais como sala de aula, família, trabalho, mídia, clínica, conversas e situações
sociais informais e toda sorte de ambientes digitais e multimidiáticos) atravessados,
cada vez mais, por uma variedade de sistemas semióticos.
Por sua vez, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) oferece, no
doutorado, a Linha de pesquisa Corpora e Gênero: Análise e Aplicações, que acolhe
projetos que investiguem questões tais como o contraste entre língua falada e língua
escrita, análise de gêneros e uso de novas tecnologias.
No Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) foi
implantado, no 2° semestre de 2009, o Mestrado em Estudos de Linguagens. Tendo em
vista a área de concentração em Processos Discursivos e Tecnologias, o curso já conta
com três linhas de pesquisa:
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Linha 1: Discurso, Cultura e Tecnologia. Ementa: (...) Discussão do papel da
tecnologia na dimensão da cultura;
Linha II: Escrita, Leitura e Processos Interdiscursivos. Ementa: Estudo das
estratégias de construção de sentido em diferentes suportes. (...) Análise da
interferência de novas tecnologias nos processos de produção de escrita e
leitura;
Linha III: Linguagens, Ensino e Mediações Tecnológicas. Ementa: Reflexão
sobre o lugar das tecnologias nos âmbitos do ensino e da aprendizagem de
Língua e Literatura.
Como se pode observar, nesse novo mestrado vinculado à área de Letras,
enfatiza-se a formação de profissionais com perfil mais afinado com a atual conjuntura
dos estudos de linguagem, pela relevância dada ao papel da tecnologia no contexto
social contemporâneo, sua utilidade no âmbito dos processos discursivos, suas
potencialidades para o ensino e outros usos sociais.
Segundo Snyder (2009, p. 43), “por ora, como professores, ainda estamos
encarregados com a responsabilidade de encontrar maneiras inovadoras para incorporar
os novos letramentos na prática da sala de aula”. Para a autora, as habilidades e os
conhecimentos de letramento impresso são essenciais, mas não são suficientes para dar
assistência aos alunos de hoje, pertencentes a uma sociedade de informação e de rede.
Ela considera também que noções de letramento – como um conjunto de habilidades
básicas prescritas por um mundo baseado no impresso – parecem cada vez mais
limitadas, “quando o letramento é visto como um repertório de habilidades linguísticas e
intelectuais que os alunos necessitam para atuar nos níveis mais elevados em um mundo
multimídia” (id., ibid.).
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As ementas das disciplinas ministradas na pós-graduação revelam a
possibilidade de os já profissionais de Letras assumirem o papel de multiplicadores do
letramento digital. Os dados levantados até o momento mostram que há uma distância
muito grande entre o que apregoam os documentos oficiais e o que é proporcionado ao
aluno, durante o período de formação profissional, para sua inclusão digital. Mesmo nas
instituições que oferecem EaD, as demais disciplinas continuam sua trajetória
metodológica na forma tradicional, sem condições para desenvolver, destacar ou
implementar metodologias que possibilitem aos alunos vivenciar experiências que
possam oferecer oportunidade de realização de uma docência mais rica sobre o uso de
computador na educação.
De acordo com Coscarelli (2005, p. 31), os professores precisam encarar o
desafio de se preparar para essa nova realidade, aprendendo a lidar com os recursos
básicos e planejando formas de usá-los em suas salas de aula. Além disso, essa autora
questiona as instituições de ensino: “aproveito para alfinetar a universidade e os centros
de formação de professores: o que têm feito para preparar os professores para essa
realidade?”.
Para Altoé (2001, p. 41), “a chegada da tecnologia da informática na escola
favorece a possibilidade de fazer com que os educadores possam vivenciar práticas
inovadoras que atualmente estão restritas a um grupo pequeno de professores”. É de se
esperar que a formação dos futuros professores seja também afetada pela mudança de
postura teórico-metodológica dos pós-graduandos/graduados, possibilitando, assim,
uma melhor formação dos futuros profissionais de Letras para a realidade social ora
vivida.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reconhecendo que muitos docentes não têm, ainda, uma formação que lhes
permita absorver a complexidade das TDIC, em virtude de sua implantação
relativamente recente, o governo tem multiplicado oportunidades de atualização nessa
área. As pesquisas têm mostrado, contudo, que a maioria dos professores ainda não é
capaz de fazer delas um uso pedagógico e muitos resistem até em usá-las no seu dia a
dia. Acredito que esse quadro pode ser revertido à medida que os jovens profissionais,
oriundos de uma geração informatizada, já familiarizados com as especificidades das
TDIC, forem assumindo as salas de aula. Para tanto, o currículo dos cursos de formação
de professores têm que oferecer disciplinas que preparem os docentes a levar seus
alunos a usar efetivamente as potencialidades dos recursos tecnológicos em suas aulas, a
fim de buscar informações e produzir conhecimentos.
Não basta, contudo, conhecer os recursos computacionais. Outro fator
importante na formação do profissional é a aquisição de conhecimento sobre como estar
preparado para: (i) usar a informática com seus alunos, (ii) observar as dificuldades do
aluno frente à máquina, (iii) intervir e auxiliar o aluno a superar suas dificuldades e
(iv) diagnosticar os potenciais e as deficiências do aluno, a fim de promover os
potenciais e superar as deficiências.
Por maior que seja o grau de letramento de digital do graduando, um trabalho
sistemático, seguido de uma análise crítica é fundamental. Assim, corroboro as palavras
de Buzato (2006, p. 9):
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o que torna a formação do professor um desafio fantástico não é a
idéia ingênua de que podemos/devemos recomeçar do zero, mas
justamente a necessidade de integrar o novo com o que já
temos/sabemos, a partir do que já temos/sabemos, transformando esse
conjunto de práticas, habilidades e significados da mesma forma como
novos letramentos transformam os seus precursores.
Segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância
(ABRAEAD) de 2006, um em cada 86 brasileiros fez um curso à distancia. Em 2007,
essa taxa aumentou para um em cada 73 brasileiros. Essa eclosão da EaD faz surgir um
impasse: muitos professores não tiveram a oportunidade de assimilar as TDIC ou não
foram preparados para usá-las como instrumento pedagógico; eles se veem, então,
diante de um novo desafio: ser um professor virtual. Esses dados nos fazem afirmar que
os cursos de graduação não podem mais ignorar a importância e a relevância da
informática – como conteúdo e como forma – na prática docente e profissional.
A tecnologia pode ser de grande valia para a escola, mas, para que o profissional
de Letras comece a mudar suas práticas, é preciso, primeiramente, que saiba utilizar
essa ferramenta para não se tornar, ele também, um excluído do mundo digital
(BUZATO, 2006). Assim, de nada adianta propor projetos de inclusão digital, se não
houver, primeiro, educação digital.
Faço minhas as palavras de Valente (1993), membro do Núcleo de Informática
Aplicada à Educação (NIED) da Unicamp e conhecido de todos aqueles que se
preocupam com o uso inteligente do computador na sala de aula. Segundo esse
pesquisador, está ficando cada vez mais claro que, sem um profissional devidamente
capacitado, o potencial – tanto do aluno quanto do computador – certamente será
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subutilizado. A verdade é que a informática não se disseminará na educação se não
houver profissionais formados e capazes de explorar o potencial educacional do
computador. Ainda segundo Valente (op. cit.), sem saber trabalhar em rede não se
sobrevive, hoje, no mundo da empresa e da informação – e sem a presença do educador
letrado digitalmente não será possível pensar em TIC na educação.
Snyder (2009, p. 39) pergunta “como os professores do letramento, bem como os
professores de maneira geral, têm respondido ao uso das tecnologias computacionais na
educação?”. Ela responde logo após: “Em geral os professores de letramentos de todos
os níveis de escolarização têm usado as novas tecnologias para continuar fazendo o que
eles têm sempre feito” (p. 40). Segundo a autora, o processo de ensino e de
aprendizagem nas escolas australianas e brasileiras não tem se transformado, apesar do
imenso investimento dos dois governos nos sistemas elétricos das escolas para
reduzirem a proporção de alunos por computador, além de assegurarem que os
documentos curriculares considerem as novas tecnologias em todos os níveis da
educação. Contudo, esperamos que essas medidas, em um futuro muito próximo,
tenham reflexos positivos na formação do profissional de Letras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
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