A Independência Como Revolução

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  • A independncia do Brasil como uma revoluo:histria e atualidade de um tema clssico*

    The independence of Brazil as a revolution: history and presence of aclassical themeJoo Paulo G. PimentaProfessor DoutorUniversidade de So Paulo (USP)[email protected] Santos Torres, 77 - PinheirosSo Paulo - SP05415-090Brasil

    ResumoEste artigo retoma e problematiza o tema clssico da Independncia do Brasil como um movimentorevolucionrio. Primeiramente, discute o conceito revoluo em meio ao prprio processo deruptura entre Brasil e Portugal; em seguida, analisa sinteticamente aspectos da historiografiadesse problema nos sculos XIX e XX; por fim, reorganiza a questo de acordo com contribuieshistoriogrficas que, nas ltimas dcadas, tm avanado no entendimento do processo histricoem si a partir da premissa de seu carter revolucionrio.

    Palavras-chaveRevoluo; Independncia; Ideias polticas.

    AbstractThis article reviews the classical frame of the brazilian independence considered as a revolutionarymovement. First, it discusses revolution as a concept and its meanings among the movementitself; second, it analyzes main points of the XIX and XX centuries historiographies concerningthe theme; at last, it offers a survey of recent historiographical tendencies that recognizesbrazilian independence as a revolution.

    KeywordRevolution; Independence; Political ideas.

    Enviado em: 14/05/2009Aprovado em: 12/06/2009

    histria da historiografia ouro preto nmero 03 setembro 2009 53-82

    * Uma primeira verso deste artigo, abreviada, foi publicada em espanhol como: 'La independencia deBrasil como revolucin: historia y actualidad sobre un tema clsico. Nuevo Topo. Revista de historia ypensamiento crtico., v. 5, Buenos Aires, p. 69-98, 2008. Para a verso ora apresentada, o autor agradeceas crticas e sugestes feitas pelo Professor Fernando A. Novais.

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    Ao longo dos ltimos duzentos anos, no foi difcil que o termo revoluoimplicasse, para efeitos de anlise, um posicionamento poltico do historiadorem relao ao seu objeto de estudo. Um acontecimento do passado, ao serconsiderado revolucionrio, dialogaria com questes do tempo presente namedida em que este fosse marcado, de vrias formas e para bem ou para mal,por experincias revolucionrias abortadas ou em curso, por projetos visandoo seu advento ou por temores de que estes pudessem se tornar reais. O temarevoluo se revestiu, assim, da capacidade de produzir simbioses entre passadoe presente, atribuindo ao respectivo conceito forte carga poltica e um cartertemporalmente transcendente.

    Desde ento, tal tendncia foi verificvel em muitos tempos e espaosespecficos do mundo ocidental,1 onde o interesse historiogrfico por passadosque pudessem ser considerados revolucionrios foi intenso. A despeito deconfigurarem uma tendncia geral, as singularidades de cada demanda, bemcomo as condies intelectuais e materiais de reflexo e produo deconhecimento a partir delas, conduziram a resultados muito diversos de partea parte, conferindo ao tema revoluo e a todos os que pudessem ser associadosao vocbulo, prestgio e interesse sempre renovados.

    No Brasil no foi diferente. Ainda que muitas vezes o tema tenha surgido,principalmente, como o de sua prpria inexistncia, isto , em torno de umaampla aceitao de que a histria brasileira tem como caracterstica marcante,supostamente, a ausncia de bem-sucedidos movimentos sociais quepromovessem alteraes de monta em um status quo conservador, dominantede sua paisagem histrica.2 A hiptese de que, no plano da histria das ideiashistoriogrficas, alguns dos resultados preponderantes dessa tendncia foramcapazes de moldar no apenas uma viso ainda corrente sobre a histria doBrasil, como tambm uma auto imagem da identidade nacional brasileira emseu nascedouro, parece-me plenamente justificvel. Sobretudo, seconsiderarmos o problema da atribuio de um carter (no) revolucionrio aoprocesso de independncia do Brasil a partir do momento fundamental dedefinio na histria dessa identidade.

    Minha proposta reside em retomar o tema clssico da separao polticaentre Brasil e Portugal nas primeiras dcadas do sculo XIX, problematizando-oem torno de seu(s) sentido(s) revolucionrio(s). Primeiramente, pretendo discutiros termos gerais de historicizao do conceito revoluo em meio ao prprioprocesso de independncia, e que disponibilizaram, posteridade, uma interpretao

    1 Convm referendar as palavras de Eric J. Hobsbawm, segundo as quais a revoluo foi a filha daguerra no sculo XX: especificamente a Revoluo Russa de 1917, que criou a Unio Sovitica,transformada em superpotncia pela segunda fase da Guerra dos Trinta e Um Anos, porm maisgeralmente a revoluo como uma constante global na histria do sculo (HOBSBAWM 1995, p.61).2 Uma das mais densas e influentes elaboraes histrico-sociolgicas que corroboraram uma visodesse tipo encontra-se na obra de Raymundo Faoro, Os donos do poder, publicado em 1957 (FAORO1991). Em sentido oposto, posicionando-se contra a ideia de uma histria do Brasil desprovida degrandes convulses, pode-se mencionar a de Jos Honrio Rodrigues, Conciliao e reforma noBrasil (RODRIGUES 1965). A diferena de solidez dos argumentos apresentados, claramente pendentea favor da de Faoro, pode ter contribudo para a prevalncia, ao longo da histria do pensamentobrasileiro, da ideia da conservao por sobre a da transformao.

  • do carter e da medida revolucionria desse processo. Em seguida, retomarei,de modo bastante sinttico, aspectos da historiografia desse problema,devidamente iluminados pela discusso anterior e pontuada por algumas dasgrandes obras que construram, nos sculos XIX e XX, paradigmas preponderantesde interpretao.3 Por fim, reorganizarei o problema de acordo com contribuieshistoriogrficas mais recentes que, nas ltimas duas ou trs dcadas, nospermitem assim creio avanar no entendimento do processo histrico em sia partir de algumas premissas bsicas j bastante slidas, e que passam pelaideia de revoluo.

    Toda histria da historiografia que se preze , necessariamente, umahistria das relaes de determinadas sociedades com o passado, portanto,parte da histria social, simplesmente. A atualidade historiogrfica do temarevoluo, amplamente comprovada, por exemplo, pela vitalidade da produoacadmica mundial centrada nos processos de independncia ibero-americanos(do qual o brasileiro parte), parece desencorajar a ideia de que vivemos, nosprimrdios do sculo XXI, em um tempo no qual o termo encontra-sedefinitivamente golpeado como ferramenta de perquirio e transformao domundo. Se assim fosse, a discusso que se prope a seguir simplesmentecareceria de contedos; e por isso que em sua parte final aponta tambmpara demandas de investigao futura.

    O conceito de revoluo na Independncia

    A concepo de que o processo de independncia e de formao doEstado nacional brasileiro foi marcado por uma mescla positiva e meritria deelementos de ruptura e de continuidade que o faria superior em relao aosdemais semelhantes ocorridos ao seu redor na mesma poca4 tem sua origemem uma imagem coetnea, forjada por alguns de seus prprios protagonistas.Tal construo se deu em meio a um universo poltico e lingstico onde o termorevoluo se encontrava disponvel e em mutao, e no qual sua utilizaocomo ferramenta de transformao da realidade resultaria em uma concepoprpria daquele processo histrico. A ruptura entre Portugal e Brasil implicariauma revoluo necessria, legtima e construtiva, porque natural, histrica eordeira.

    Nas primeiras dcadas do sculo XIX, no universo poltico e lingsticoportugus e luso americano, o vocbulo revoluo ainda no se encontravaplenamente estabelecido em seu sentido moderno, isto , referindo-se a ummovimento de subverso da ordem estabelecida e criador de uma realidade nova,

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    3 Boas avaliaes crticas acerca da historiografia da independncia so: COSTA 2005; MALERBA2006. Um levantamento descritivo encontra-se em PIMENTA 2007b.4 No se trata, evidentemente, de fenmeno restrito ao Brasil. O mundo iberoamericano dasindependncias oferece situaes muito semelhantes, nas quais se observa a criao de uma auto-imagem do processo de ruptura com a metrpole como positiva, em termos de bom-sucesso emevitar grandes convulses sociais (os casos de Peru e Nova Espanha, por exemplo, so notrios). Aquesto aqui identificar alguns dos elementos especificamente luso-americanos/brasileiros dessetipo de ocorrncia, o que pode, alis, contribuir para estudos mais ampliados do fenmeno.

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    inesperada e imprevisvel (KOSELLECK 1993; ARENDT 1988; ZERMEO PADILLA2002; NEVES 2007). medida que a utilizao do termo ia apontando paraessa direo isto , que o presente oferecia acontecimentos que permitiampercepes desse tipo reiterava-se, em muitas ocasies, seu sentido clssico,isto , revoluo como um movimento cclico, reiterativo, portanto previsvel eat mesmo inevitvel.

    No comeo da dcada de 1810, revoluo j h tempos um vocbulodevidamente incorporado na lngua portuguesa culta, agora lexicografado comum duplo sentido de movimento pela rbita, giro; revoluo dos astros,planetas e de Revoluo fsica no mundo, alteraes como terremotos,sumerses de terra [ou] Revoluo de humores no corpo, em cuja acepofigurada concebem-se as Revolues nos Estados, mudanas na forma, epolcia, povoao, etc. (SILVA 1813).5 No entanto, levar algum tempo paraque os dois sentidos figurem em condies de igualdade; mais tempo aindapara que o segundo se imponha plenamente ao primeiro (sempre considerando-se que o registro erudito de significados do termo posterior ao de sua utilizaosocial).6

    A apreciao de uma realidade presente valer-se-ia do termo revoluoa depender de sua associao com outros muito diversificados, comosublevao, insurreio, guerra civil, reforma, regenerao, emancipao,anarquia, comoo, democracia, faco, jacobinismo, independncia,insubordinao, insurgncia, motim, rebelio, repblica ou revolta. Assim, emuma situao bastante tpica dessa poca, uma revoluo poderia ser negativase pensada, por exemplo, como guerra civil (ou como um movimento que aela conduzisse), ou positiva se vista como reforma.7 Conforme sugeri em outraocasio, a realidade hispano-americana a partir de 1810, bem como omovimento contestatrio eclodido na provncia luso-americana de Pernambucoem 1817, parecem ter acelerado o desenvolvimento do conceito no mundoluso americano, permitindo sua associao prioritria com a ideia de supressoradical da ordem vigente; desse modo, aqueles que almejavam a manutenodessa mesma ordem se veriam cada vez mais obrigados a descartar o vocbulocomo indicador de reformas e rearranjos conservadores (PIMENTA 2003a);8

    ou ento, a dotar-lhe de contedos originais, de acordo com seus interessesespecficos.

    Como quer que fosse, antagonizando sentidos ou imbricando-os de modo

    5 Definio idntica encontra-se na edio de 1823 (PIMENTA 2003a).6 J em 1832, o sentido poltico de revoluo encontrado em igualdade de importncia com o fsico-biolgico: Revoluo. Na astronomia, giro dos astros. Fig. mudana poltica. Transtorno (PINTO1832). Esta variedade de significados presente at hoje, mas com nfase no de radical transformaodo mundo.7 Guerra civil a que se faz entre os Cidados do mesmo Estado, a dos cidados uns contra osoutros (Respectivamente, SILVA 1813 e 1823; e PINTO 1832), o que a faz antagnica a revoluo enegadora do prprio Estado que a revoluo deveria reformar (Reforma: O ato de reformar; mudarpara o antigo instituto, ou para melhor o que ia em decadncia, ou mal(...). A mudana em melhorproduzida em alguma coisa. SILVA 1813 e 1823. No distinto o significado encontrado em Pinto:Reformar: dar nova forma. Emendar, corrigir, restituir ao primeiro estado. Confirmar o que estavafeito por outro. Substituir coisa nova outra usada).8 Trata-se de uma tendncia, e no de uma postura definitiva ou absoluta.

  • coerente, o termo emergia dotado de uma forte politizao, consolidando umatendncia esboada no mundo ocidental desde o sculo XVII. Era comoferramenta poltica de compreenso do mundo, bem como de interao comele e seu futuro, que os homens que vivenciavam a crise do Antigo Regime emterras portuguesas pensavam revoluo. E faziam-no em meio a um ambientede profunda instabilidade sentida em todos os nveis da vida social, marcadopela transitoriedade de ideias, projetos, posturas e vocbulos polticos.

    Como produto desse ambiente, a formalizao da ruptura entre algumasprovncias americanas e Portugal, decretada em 1822, no trouxe, de imediato,a garantia de que todas as que at ento compunham o Reino do Brasil aderissemao novo projeto (HOLANDA 1962).9 A criao de um Estado nacional brasileiro- sob a forma de um Imprio do Brasil teria que superar desavenas edissidncias entre provncias e no interior delas, de modo que razovelconsiderar o perodo de governo de Pedro I (1822-1831) como de crise deconsolidao da nova ordem. Nesse contexto, os esforos para sua consecuopassaram pela veiculao pblica de argumentos legitimadores da mesma, dentreos quais o de que o Brasil adentrava ao cenrio mundial das naes livres ecivilizadas pelas mos de sbios condutores que souberam evitar excessos,to tpicos da histria de outros povos. Assim, o peridico oficial do governo dePedro I, bastante otimista quanto s perspectivas que supostamente, j emfevereiro de 1823, se observavam em relao adeso de todas as provnciasamericanas ao Imprio, afirmava que este, em breve, apresentaria ao mundo

    um fato poucas vezes acontecido, uma revoluo desenvolvida, um Povoque reassume os direitos inalienveis da sua independncia, quebra osvergonhosos ferros do seu vituprio, e entra, sem ter passado pelos horroresda guerra civil e da anarquia, no crculo das Naes livres do Universo(Dirio do Governo n.28, 05/02/1823).

    O termo revoluo voltava cena com o peso necessrio para caracterizare legitimar a ruptura entre Brasil e Portugal, mas em um movimentosupostamente muito distinto do que ocorrera, cinco anos antes, em Pernambuco,ou do que ainda ocorria na Amrica espanhola. Na revoluo do Brasil, o vaticniocontra a destruio inerente a tantas outras estaria no seu carter evolucionista,concepo esta de acordo com assertivas de pensadores polticos como Raynale De Pradt, muito influentes poca (MOREL 2005), e segundo as quais um diaas colnias americanas deveriam necessariamente se emancipar das metrpoleseuropias, assim como um filho maduro se emancipa da me que o criou:

    Sendo uma verdade incontestvel, sancionada j pelo tempo, que os Povos,assim como os indivduos, chegando sua virilidade, rejeitam a tutela daMetrpole e se constituem independentes; tendo sido obrigada a Poltica areconhecer a legitimidade deste ato fundado nas leis inalterveis daNatureza; ningum ousar negar que o Brasil estivesse no mesmo caso

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    9 Alguns exemplos de anlises especficas relativas diversificada e conflituosa histria da adeso deprovncias luso-americanas ao Imprio do Brasil em: TAVARES 1982; MACHADO 2006; ASSUNO2005; BERNARDES 2006.

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    daqueles Povos. Escusamos raciocnios: basta olhar para a marcha queele tem adotado no curso da revoluo para provar o seu estado demadureza; estado completamente insocivel com o de colnia, em quejazia (Dirio do Governo n.28, 05/02/1823, grifo no original).

    Tambm conhecendo uma revoluo positiva, mas que se diferenciava deoutras por ter sido conduzida por um descendente da famlia real portuguesa, eresultando em uma ordem monrquica, o Brasil seria um caso nico e superior,sobretudo, quando comparado aos seus vizinhos hispano-americanos que,embora tenham lhe disponibilizado um paradigma encorajador de trajetriaindependentista a ser seguida (Pimenta: 2007a), agora j se encontravam emposio inferior:

    Mais prudente e refletido do que os seus vizinhos Espanhis, o Brasilmediu a grandeza do objeto: derrubar o antigo edifcio e erguer o novo;conheceu-se com foras de o fazer, e assim o tem felizmente executadosem se precipitar na torrente de desgraas que nem os Iturbides, nem osS. Martines, nem os Boivares, com todos os seus talentos, so capazesde suster. Para nos convencermos, pois, desta verdade, acompanhemosas duas Potncias na sua revoluo, e vejamos o futuro que uma e outranos promete. [...] Tal tem sido a marcha do Brasil no curso da suaRegenerao; marcha que tem constitudo das suas diferentes partes umtodo colossal, que o torna respeitvel aos estranhos, formidvel aos inimigos,e afiana para o futuro a perpetuidade do seu sistema (Dirio do Governon.28, 05/02/1823, grifos no original).

    A questo da manuteno, no novo Imprio do Brasil, de laos dinsticoscom o antigo Imprio Portugus, ofereceu historiografia um dos principaissubsdios definidores do processo de independncia como conservador, semsolavancos, pouco significativo e, muitas vezes, no-revolucionro; noentanto, nas primeiras dcadas do sculo XIX, o monarquismo pde serconsiderado como condio prpria da gloriosa revoluo do Brasil (Diriodo Governo n.33, 11/02/1823), isto , seu emblema nobilitador. Revoluo setornava um conceito indicativo de profundas transformaes, mas dentro delimites considerados adequados por alguns grupos polticos.

    No de se estranhar. Afinal, a ideia de revoluo positiva, associada atermos como emancipao, reforma ou regenerao, presente no contedoclssico do conceito e tambm no pensamento iluminista em sua vertenteportuguesa, conhecera ambiente fortemente propcio sua difuso com oadvento do movimento constitucionalista iniciado na cidade do Porto, em 1820,e que teve profundo impacto nas provncias americanas de modo a criar ascondies que possibilitaram, entre os anos de 1821 e 1822, a gestao eviabilizao da Independncia (OLIVEIRA 1999). No apenas porque aimplementao da agenda poltica dos constitucionalistas portugueses fezaprofundar contradies e fissuras internas do Reino Unido de modo aenfraquecer a unidade poltica sobre a qual este se assentava (por exemplo,com a volta do rei a Lisboa, e a permanncia no Rio de Janeiro de seu filhoPedro, como prncipe-regente), mas tambm porque impregnou grupos de

  • interesse sediados nas provncias americanas com um iderio liberal herdadodos portugueses peninsulares, e que logo se voltaria contra eles. Muitosignificativamente, o movimento do Porto, pensado por seus artfices comouma regenerao (conceito muito semelhante a reforma), pde ser consideradono Brasil como uma revoluo.

    Um dos principais peridicos que materializaram o desenvolvimento deuma posio inicial de aceitao dos princpios constitucionais e unitrios doPorto rumo defesa da separao entre Brasil e Portugal, escrevia, em janeirode 1822, que

    a Revoluo de Portugal, se que assim se deve chamar a luta da Justiacontra o Despotismo, oferecia duas combinaes diferentes, mas que ambasdavam por mal resultado o estabelecimento do Sistema representativo, dizo Apstolo da Amrica [De Pradt]. Ou o Rei se conservava no Brasil, ouvoltava para Portugal. Se ficava preferindo um Mundo na Amrica a umaProvncia na Europa, era impossvel que o Brasil, situado no centro dasConstituies Americanas, comunicando diariamente com povosconstitudos, e contratando com homens Constitucionais, tendo por estrelapolar os Estados Unidos, que muito alto colocaram o farol para escapar svistas nos Povos vizinhos, se pudesse subtrair a este vrtice de influncias(Revrbero Constitucional Fluminense n.11, 22/01/1822).

    Nesse momento, quando a alternativa de separao entre Brasil e Portugalcomeava a deslanchar, parecia haver, da parte de alguns grupos polticos, umacerta unificao da histria recente do mundo ocidental em torno de umaatribuio positiva ao termo revoluo. O que se tornara possvel vislumbrar noBrasil, a partir do exemplo do prprio Portugal, dizia respeito a todo o continenteamericano, onde os Estados Unidos inspiravam os demais pases (todos bemconsiderados, inclusive os hispnicos), em uma cadeia de acontecimentos naqual at mesmo Revoluo da Frana cabia um lugar de honra, na medidaem que em parte pode ser considerada um efeito da civilizao dos Povos,tendo dado impulso to forte aos espritos na Europa como a dos EstadosUnidos deu tambm na Amrica (Revrbero Constitucional Fluminense n.06,02/07/1822). Pouco depois, menos empolgado e mais cuidadoso, o mesmoperidico j se esforaria por distinguir as revolues de seu tempo, diferenciandoa do Brasil em relao s demais da Amrica; em 1808, por exemplo, enquantoo Imprio Espanhol rua com o cativeiro de seus monarcas,

    viu o Mundo um espetculo novo, isto , a passagem do Rei [de Portugal]para o Brasil, passagem que mudou inteiramente o regime Colonial, quequebrou os ferros da opresso de trs sculos e fez partir do Trono aquelaobra, que sem isso partiria da Revoluo. Mas para evidenciar-se que aIndependncia da Amrica um efeito necessrio da sua atual Civilizao,bem que ainda inferior da Europa, atendam-se s circunstncias doBrasil. O Rei, que saindo de Portugal sustou a Revoluo do Brasil com asua chegada a ele, voltando Portugal apressou a Revoluo do Brasil(Revrbero Constitucional Fluminense n.17, 17/09/1822, grifos nooriginal).10

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    10 Na realidade, em 1808 dom Joo era ainda prncipe-regente; s se tornaria rei em 1818, dois anosaps a morte de sua me, a rainha Maria I.

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    E assim voltamos ao ano de 1823, quando a independncia j estavabem encaminhada, e o problema que se apresentava no era mais o de manterou romper a unidade imperial portuguesa, mas sim o de como viabilizar oEstado nacional brasileiro. Uma das bases desse Estado era, como vimosanteriormente, uma auto-imagem de sua diferena/superioridade no cenrioamericano, fruto de sua revoluo positiva. No entanto, o forte peso dessaideia no deve obliterar o fato de que, mesmo depois de 1822, permaneciauma disputa conceitual em torno do termo revoluo: a histria do passado edo presente oferecia exemplos de revolues boas e ms, sendo que taisqualidades seriam mobilizadas a todo instante que o fluido e delicado jogopoltico assim requeresse (OLIVEIRA 1999; NEVES 2007). Quando, onde, comoe por que usar a palavra revoluo, poderia implicar comprometimentos srios.O termo revolucionar, por exemplo, podia significar, nesse contexto, trabalharna contramo dos princpios sobre os quais assentava o Imprio do Brasil (comoos grupos provinciais resistentes ao governo de D. Pedro). Por isso, mesmopara aqueles que trabalharam pela gloriosa revoluo do Brasil em 1821 e1822, o termo agora poderia soar odioso. Desse modo, na assembliaconstituinte brasileira de 1823, enquanto um deputado considerava que todasas revolues tem por motivos as injustias e violncias dos Governos, poisningum se revolta contra um Governo bom e justo (Dirio da AssembliaGeral Constituinte e Legislativa do Imprio do Brasil, sesso de 21/05/1823, fala de Nicolau Campos Vergueiro) outro afirmava:

    causa-me horror s o ouvir falar em revoluo; exprimo-me francamentecomo um clebre Poltico dos nossos tempos: les revolutions me sontodieuses parce que la libert mest chere. Odeio cordialmente asrevolues, e odeio-as, porque amo em extremo a liberdade; o fruto ordinriodas revolues sempre, ou uma devastadora anarquia, ou um despotismomilitar crudelssimo; a revoluo sempre um mal, e s a desesperaofaz lanar mo dela quando os males so extremos. (IDEM, mesma sesso,fala de Francisco Muniz Tavares (grifos no original)

    Em resumo: no contexto ampliado da independncia, o conceito derevoluo operava de modo muito ativo, dinmico e, de todos os modos,fortemente politizado. A histria de tal conceito possui lastros especificamenteportugueses, bem como outros genericamente ocidentais, sendo que, ao seaproximar do auge da crise do Imprio Portugus da qual resultaria a formaodo Brasil, parece haver, tambm, uma mediao tipicamente americana deseus contedos.11 A revoluo de independncia do Brasil fora positiva,construtiva, ordeira e sem exageros, mas nem todas o eram; caso contrrio,no seria possvel sustentar a contraditria imagem da insero do Imprio nopanorama americano: uma identificao com as demais naes livres, que emcerto momento at serviram de fonte de inspirao ruptura com Portugal,mas tambm uma superioridade pautada na distino presuntivamente essencialdo Brasil em relao a elas. Este seria um dos componentes da identidade nacional

    11 Conforme afirmado anteriormente; tambm por FERNANDES 2008.

  • brasileira no momento em que esta surgia em conseqncia de uma experinciapoltica que apontava para uma separao de destinos portanto tambm depassados entre Brasil e Portugal.

    O processo de Independncia disponibilizava, assim, aos seus estudiososfuturos, um vocbulo revoluo - que carregava consigo uma caracterizaocompleta da marca que alguns de seus prprios protagonistas consideraramessencial: uma revoluo conservadora, ainda que a qualificao posterior destesdois termos associados conhecesse muitas variaes a depender dos contextosespecficos de produo da historiografia, no Brasil e em outras partes.12 Nopretendo afirmar que, no caso brasileiro, a historiografia tenha semprecomprado passivamente, ou reiterado os termos implicados nessa associaolingstica original, inclusive porque, como veremos adiante, os termos jamaisse repetem exatamente do mesmo modo; no entanto, trata-se de diferentesformulaes para um mesmo tema, do que resulta que a compreenso de cadacontexto de enunciado diz respeito a uma unidade de anlise comum. O quenos ajuda a elucidar o problema aqui proposto.

    Revoluo e a historiografia da Independncia

    A histria do sculo XX ofereceu muitos pretextos para a consagrao daideia de que as revolues necessariamente implicam grandes movimentos detransformao geralmente violenta da ordem existente; inclusive porque,nesse sculo, o respectivo conceito operou ativamente em sua acepomoderna. Em muitas situaes, porm, o tema esteve presente antes pela suaausncia/expectativa do que por sua efetiva realizao.

    Como muito bem concebe Wilma Peres Costa, o amlgama peculiar entrecontinuidades e descontinuidades tornou-se um componente incontornvel dodebate sobre a Independncia na historiografia brasileira (Costa, Wilma: 2005).13

    compreensvel que tal debate tenha recorrido, tantas vezes, ao vocbulorevoluo: no apenas por se tratar, tradicionalmente, de um conceito que aolongo de sua histria reunira tanto elementos de continuidade como dedescontinuidade, mas tambm pelo fato de que o prprio fenmeno a serestudado formulara, sua poca, uma representao a respeito; igualmentecompreensvel que a historiografia buscasse evitar o termo.

    Em meados do sculo XIX, a produo escrita de uma Histria nacionalbrasileira baseada em mtodos pseudo-cientficos e de forte utilidade poltica eideolgica, valeu-se amplamente da perspectiva de que a Independncia forapositiva porque assentada na continuidade da dinastia de Bragana e na lideranapessoal de Pedro I. O maior representante dessa produo, Francisco Adolfo deVarnhagen alocou perfeitamente a ideia em sua Histria da independncia do

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    12 Exemplares so as apreciaes de Tocqueville acerca da revoluo norte-americana que, contraposta francesa, ofereceria um caso supostamente superior em termos de benignidade, dado seu cartermais moderado e equilibrado (TOCQUEVILLE 1982 [1.ed. 1856] e 1987 [1.ed. 1835- 1840]).13 Toda a discusso historiogrfica que se segue est fortemente amparada nesse magnfico ensaio.

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    Brasil, escrita em 187514 e pensada como o desfecho natural daquela queficaria posteridade como sua mxima realizao intelectual, a Histria geraldo Brasil (publicada a partir de 1854). Ambas correspondiam bastante bemaos intentos de escrita de uma histria nacional arvorada pelo Instituto Histricoe Geogrfico Brasileiro, fundado em 1838.15

    Para Varnhagen, toda a colonizao portuguesa da Amrica seria umcaminho pr-determinado rumo ao grande momento do seu desfecho, resultadode uma longa e necessria evoluo. Portugal teria preparado a criao eamadurecimento do Brasil, que no sculo XIX surgiria legitimado, civilizado epromissor porque estreitamente ligado a uma ascendncia europia. Sendo aIndependncia, ento, um processo basicamente de continuao, veiculado aosentido tradicional de emancipao, na tica de Varnhagen ela no se coadunariacom o termo revoluo. As revolues da Frana, (1789), de Pernambuco(1817) e de Portugal (1820) so assim tratadas em termos protocolares, mastambm carregam consigo o estigma de movimentos negativos. Ao referir-seao episdio de deposio do ministrio dos Andradas, em julho 1823, porexemplo, o autor caracteriza-os, at aquele momento, como sustentadoresda monarquia, depois como democratas, facciosos, demagogos erevolucionrios (VARNHAGEN 1981, 3, p.195).

    poca, o termo revoluo vinha associado a princpios abominveispara uma mente conservadora e aristocrtica como a de Varnhagen que, tendovivido as comoes populares do Perodo Regencial brasileiro, aprendera a odiartoda e qualquer ameaa de subverso da ordem vigente (MATTOS 1987),valorizando, em contrapartida, ideias ligadas tradio e ao aperfeioamentode estruturas polticas e sociais a serem mantidas. Tal postura, que como vimosacima herdava do prprio processo de Independncia sua auto-imagem bsica,omitia, porm, de sua expresso vocabular, a palavra revoluo; e desse modo,teria grande impacto nas formas posteriores de escrita da histria do Brasil,evocada e reforada de quando em quando por argumentos tpicos de formasclssicas de pensamento conservador.16

    O termo revoluo viria a ser recuperado positivamente nos estudossobre a Independncia com a grande renovao intelectual brasileira dos anosde 1930. Um de seus mais dignos representantes Caio Prado Jnior, autor deEvoluo poltica do Brasil (1933) e Formao do Brasil contemporneo(1942), dentre outras importantes obras. Na primeira delas, a Independncia vista como uma revoluo isto , um movimento profundamente renovador- ainda que muitas vezes referida pela palavra emancipao. Tomada sob atica marxista da luta de classes, a Independncia teria oposto interessesportugueses e brasileiros, desdobrando-se at aproximadamente 1850,

    14 Seria publicada apenas em 1916, aps a morte de seu autor (VARNHAGEN 1981).15 Embora Varnhagen no tenha sido um historiador oficial do Instituto (WEHLING 1989; GUIMARES1994).16 Como aqueles desenvolvidos em 1790 por Edmund Burke e seu horror Revoluo Francesa (BURKE1982). Burke era um autor muito conhecido nos crculos letrados brasileiros do sculo XIX, tendo sidotraduzido parcialmente para o portugus por Jos da Silva Lisboa, figura destacada da conjuntura daIndependncia.

  • quanto s ento estes ltimos teriam se consolidado, com a rejeio partilhadapelas classes dominantes das foras populares que durante o Perodo Regencialteriam ameaado a ordem e estabilidade interna. Para Caio Prado Jnior, aIndependncia seria, ento, no seu conjunto, uma revoluo conservadora(PRADO JR: 1933, cap.III).

    A despeito da coincidncia dos termos, esta uma interpretaototalmente distinta daquela elaborada em meio ao prprio processo deIndependncia. Em Formao do Brasil contemporneo, um livro mais diretamentevoltado colonizao portuguesa da Amrica cuja anlise possibilitaria, segundoCaio Prado Jnior, uma devida compreenso das razes do presente atrasobrasileiro o carter da Independncia no explicitado; porm, sua visoacentuadamente negativa das estruturas sociais, econmicas, polticas e culturaisengendradas pelos portugueses na Amrica, implica um distanciamento emrelao quelas anteriormente mencionadas: agora, a herana colonial legadaao Brasil nacional nefasta, desagregadora, um empecilho ao plenodesenvolvimento nacional e que, no removido no processo de Independncia,deveria s-lo em algum momento do futuro (PRADO JR. 1942).17 Oconservadorismo da Independncia um mal.

    Devido ao impacto dessa interpretao no pensamento brasileiro, queoferecia uma explicao convincente para os entraves ao pleno desenvolvimentodo Brasil, doravante e definitivamente o passado se revestiria da capacidade deiluminar o presente, o que por seu turno atribuiria ao termo revoluo pulsantesexpectativas de modificao dessa situao.18

    Revoluo, no-revoluo, em que medida? Eis alguns dos dilemas queos historiadores da Independncia tiveram que enfrentar nas dcadas de 1960e 1970, quando voltar-se para o passado brasileiro com os olhos no presenteimpunha-lhes o desafio de compreender e transformar uma realidade tenebrosa,marcada pela ditadura militar iniciada em 1964 e assolada pela contrao dasforas progressistas em geral. Nela, o termo revoluo adquiria vrios sentidos:de direita, de esquerda; de projeto a ser negado ou encampado; portador deuma utopia de futuro ou de uma frustrao histrica; de legitimao do governomilitar (que, segundo seus prprios realizadores, teria sido institudo por umarevoluo) ou de oposio a ele. De todos os modos, o termo pareceria portador

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    17 Nesse ponto, a leitura de Caio Prado est prxima da de Manuel Bonfim (por exemplo, em Amricalatina, males de origem, de 1906).18 Em 1966, no incio da ditadura militar brasileira, Caio Prado escreveu um ensaio muito sugestivamentechamado A revoluo brasileira, onde afirmava, logo em sua abertura: o Brasil se encontra numdestes instantes decisivos da evoluo das sociedades humanas em que se faz patente, e sobretudosensvel e suficientemente consciente a todos, o desajustamento de suas instituies bsicas. Dondeas tenses que se observam, to vivamente manifestadas em descontentamento e insatisfaesgeneralizados e profundos; em atritos e conflitos, tanto efetivos e muitos outros potenciais, quedilaceram a vida brasileira e sobre ela pesam em permanncia e sem perspectivas apreciveis desoluo efetiva e permanente. Situao essa que efeito e causa ao mesmo tempo, da inconsistnciapoltica, da ineficincia, em todos os setores e escales, da administrao pblica; dos desequilbriossociais, da crise econmica e financeira, que vinda de longa data e mal encoberta durante curto-prazo de um a dois decnios por um crescimento material especulativo e catico, comea agora amostrar sua verdadeira face; da insuficincia e precariedade das prprias bases estruturais em queassenta a vida do pas (PRADO JR. 1987, p.12-13).

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    de um contedo histrico cuja devida avaliao poderia apontar caminhos deinterao com a realidade brasileira do momento (Costa, Wilma: 2005, p.85).

    No plano do pensamento crtico, mais especificamente no da historiografiada Independncia, uma importante manifestao contrria ao regime veio coma obra de Jos Honrio Rodrigues, Independncia: revoluo e contra-revoluo (1975), uma extensa, detalhada e bem-documentada anlise daruptura poltica entre Brasil e Portugal. Nela, como o prprio ttulo indica, aIndependncia vista como uma revoluo, mas dessa vez cheia de novidadesinterpretativas: uma revoluo de forte conotao nacionalista e popular, umaverdadeira guerra de libertao nacional comparvel ao que ocorrera na Amricahispnica, longe de quaisquer feies conservadoras, e na qual dom Pedro e amonarquia teriam desempenhado papel secundrio, meros coadjuvantes deinstituies supostamente representativas e democrticas como o parlamentoe as foras armadas (RODRIGUES 1975).

    Em sua concepo geral, a Independncia que nos oferece Rodrigues anacrnica, distorcida por ideias pr-concebidas e descabidas; contudo, carregadade expectativas esperanosas em relao superao de um incmodo presentenacional vivido pelo autor, seu resultado tambm um documento historiogrficode como independncia e revoluo puderam caminhar de mos dadas nahistria da historiografia brasileira. E justamente por corresponder a anseioscoletivos da poca em que foi publicado, o livro de Rodrigues encontraria umrespaldo no-desprezvel, mais fora do que dentro de crculos especializados.

    As dcadas de 1960 e 1970 conheceram, no Brasil, uma grandeprofissionalizao da pesquisa histrica, que ia se consolidando dentro dasuniversidades com um aumento de programas de ps-graduao e definanciamentos pblicos, e a formao de grupos de investigao compartilhada.Nesse momento, em linhas gerais, parece ter havido um crescente desprestgioda Independncia como tema de estudos. Com a fora da ideia de revoluoconservadora, e a despeito de tentativas contrrias como a de Jos HonrioRodrigues, a ruptura entre Brasil e Portugal no encorajava enfoques voltados atuao poltica de grupos sociais excludos ou mal-colocados em seusdiferentes contextos histricos, e que vinham concentrando cada vez mais aateno de novos historiadores, compreensivelmente refratrios a temassaturados da oficialidade a eles conferida pelo regime militar brasileiro.19 Mesmoassim, alguns importantes historiadores mantiveram o tema de p, renovando-o por meio de elaboraes cada vez mais complexas, sofisticadas e matizadasonde o termo revoluo encontraria seu lugar.

    Talvez a principal novidade nesse contexto tenha sido a construo de umamplo consenso de que a Independncia se inseriu em um panorama mundialde variadas e assimtricas transformaes polticas que, juntas, formam umaunidade histrica. No que anteriormente se ignorasse as relaes entre o que

    19 Alm, claro, de serem bastante permeveis a renovaes e modismos vindos de centros deproduo de conhecimento estrangeiros; no caso do Brasil, principalmente a Frana e a Inglaterra.

  • se passava no Brasil e no resto do Mundo j desde meados do sculo XVIII;mas agora, tais relaes tinham implicaes analticas profundas. Seacontecimentos como os da Amrica do Norte (1776), da Frana (1789) ou daAmrica espanhola (1810) eram considerados como revolues, o que sepassaria com o Brasil? Qual sua posio nesse contexto?

    A questo muito bem sintetizada por Emlia Viotti da Costa em 1968:

    os estudos at agora publicados permitem estabelecer as linhas bsicasque devem nortear a anlise do movimento da Independncia; fenmenoque se insere dentro de um processo amplo, relacionado, de um lado, coma crise do sistema colonial tradicional e com a crise das formas absolutistasde governo e, de outro lado, com as lutas liberais e nacionalistas que sesucedem na Europa e na Amrica desde os fins do sculo XVIII (COSTA1990, p.66-67)

    como boa autora marxista, conclua: preciso observar as contradies internasque explicam a marcha do processo (idem).

    A perspectiva de Viotti da Costa, fortemente influenciada pela de CaioPrado Jnior, reitera a Independncia como uma luta da colnia contra ametrpole, mas desenvolvida a partir de uma luta de vassalos contra o rei. Otermo mais usado emancipao, e embora revoluo seja apenasprotocolarmente utilizado para a designao de vrios outros movimentos damesma poca, inclusive para os de contestao luso-americana de fins do sculoXVIII, ele que pauta o debate. Em uma afirmao que seria amplamentereferendada por investigaes ulteriores, Viotti da Costa diagnostica que, duranteo processo de Independncia, a Revoluo apresentava-se sob formas diversas,quando no contraditrias (COSTA 1990, p.99), no entanto, sem que ela serealizasse de fato. A revoluo estaria em muitas partes, mas no no Brasil.

    Nesse mesmo ambiente, e pautando inclusive a obra de Viotti da Costa,as teses elaboradas por Fernando Novais apresentaram importante renovaonos estudos da Independncia. Foi ele quem levou adiante a sistematizao doposicionamento do processo poltico portugus e luso-americano no quadromundial, seguindo premissas poca bem estabelecidas e aceitas de autorescomo Robert Palmer, Jacques Godechot e Eric Hobsbawm. Embora o principallivro de Novais, Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), publicado originalmente em 1979, encerre a anlise justamente svsperas da Independncia, seu aprimoramento da caracterizao da colonizaoportuguesa realizada anteriormente por Caio Prado Jnior estabeleceuparmetros de interpretao para o fim dessa colonizao (NOVAIS 1986). Emduas outras ocasies, porm, Novais voltar-se-ia mais especificamente parauma anlise da Independncia, tida como um processo revolucionrio em vriossentidos: primeiro, como desdobramento do processo geral (revolucionrio)de crise do Antigo Regime europeu em terras coloniais (o Antigo SistemaColonial como uma das dimenses do Antigo Regime); segundo, pela concepode crise, que diria respeito a toda a colonizao europia da Idade Moderna,desencadeada pela ativao de contradies inerentes ao sistema dessacolonizao (premissas marxistas), em articulao com presses internacionais,

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  • A independncia do Brasil como uma revoluo

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    e materializadas por um antagonismo de interesses entre colnia e metrpole;finalmente, como um movimento que resultou na afirmao de uma nova classedirigente no Brasil, a dos grandes proprietrios escravistas (Novais: 1972).

    Fortemente influenciado por Caio Prado Jnior, Emlia Viotti da Costa eFernando Novais com o qual, alis, escreveu um ensaio interpretativo sobreo tema (NOVAIS & MOTA 1987) e diretamente tributrio das obras de Palmere Godechot, Carlos Guilherme Mota tambm contribuiu para a discusso. Seuprimeiro livro, Atitudes de inovao no Brasil, 1789-1801 (MOTA 1970),era um estudo sobre os movimentos polticos coloniais de fins do sculo XVIII,e inclua um captulo sobre ideia de revoluo e formas de pensamentorevolucionrias, estas devidamente contrapostas a outras, tidas porintermedirias e ajustadas. O esforo de integrao de tais movimentos conjuntura (revolucionria) mundial prosseguiria mais adiante e com um avanocronolgico, em Nordeste 1817, uma anlise voltada ao movimento dePernambuco; e na organizao de uma obra coletiva inteiramente dedicada Independncia, 1822: dimenses (MOTA 1970, 1972a e 1972b). No conjunto,os trs livros reiteram a viso processual da Independncia como parte crucialde uma crise mundial de desdobramentos especficos no mundo colonial,compreendida pelo crivo do carter revolucionrio daquela crise. Se desseenquadramento surgiam modalidades prprias de conformao da vida polticana Amrica portuguesa, longe estava a possibilidade de se referendar umaatribuio passiva de carter revolucionrio Independncia, com o qu essaproduo oferecia alternativa de interpretao oficialidade das comemoraesdos 150 anos de Independncia, amplamente disseminadas pela ditadura militarbrasileira em 1972 e que, como vimos acima, estimulavam a simbiose entreambas.

    Embora o livro 1822: dimenses trouxesse estudos variados quetendiam a compartilhar de uma mesma perspectiva geral significativo que ovolume abrisse justamente com contribuies de Novais e Godechot (NOVAIS1972; GODECHOT 1972) - um deles parecia destoar do conjunto, apresentandouma proposta de anlise alternativa e que tambm teria grande impacto nahistoriografia brasileira. Pautada pela ideia de Srgio Buarque de Holanda, segundoa qual a Independncia em si representaria um episdio menor em meio a umprocesso mais amplo de desagregao da herana colonial, em curso atmeados de 1848 (HOLANDA 1962),20 Maria Odila Dias j criticava, em 1972, odestaque conferido s presses externas e [a]o quadro internacional de queprovm as grandes foras de transformaes, bem como a concepo deuma luta da colnia contra a metrpole; propunha, ento, o estudo doenraizamento de interesses portugueses e tambm daquilo que chamou deprocesso de interiorizao da metrpole no Centro-Sul da Colnia. Pensandomenos em 1822 do que em 1808, segundo ela os historiadores poderiam constatar

    20 Para ele, o processo de emancipao no teria sido caracterizado por prticas vigorosamenterevolucionrias (HOLANDA 1962, p.39n), enquanto que o movimento portugus de 1820 referido,sem polmica, como revoluo.

  • a consumao formal da separao poltica foi provocada pelas dissidnciasinternas de Portugal, expressas no programa dos revolucionrios liberais doPorto e no afetaria o processo brasileiro j desencadeado com a vinda daCorte em 1808 (DIAS 1972, p.164-165).

    Minimizada como desdobramento de uma crise mundial, a Independncia,em si, seria, para Dias, fato menor; revoluo era apenas a portuguesa; e amarca da unidade histrica a ser considerada, a manuteno ampliada deinteresses poltico-econmicos incrementados com a transferncia da Corteportuguesa para o Brasil em 1808. Rejeita, ento, a existncia de transformaesrevolucionrias em um movimento que seria, essencialmente, conservador;inclusive por conta do peso da colonizao. Em suas palavras,

    a sociedade que se formara no correr de trs sculos de colonizao notinha outra alternativa ao findar do sculo XVIII seno a de transformar-seem metrpole a fim de manter a continuidade de sua estrutura poltica,administrativa, econmica e social. Foi o que os acontecimentos europeus,a presso inglesa e a vinda da Corte tornaram possvel (DIAS 1972, p.170).

    Um ltimo caso a ser observado de preocupao historiogrfica com aIndependncia, em estreita relao com aquele contexto intelectual brasileirono qual a revoluo estava na ordem do dia, a obra de Florestan Fernandes, Arevoluo burguesa no Brasil (1974). De modo bastante incisivo, o livro, naspalavras de Wilma Costa, continuava a ecoar

    a polmica que empolgava os historiadores na forma de um esforo hercleopara dar conta, de forma dialtica, dos fermentos de mudana presentesna conjuntura poltica da Independncia e dos movimentos empreendidospelas foras conservadoras para reinventar as ideias e as prticas em quese expressava a dominao poltica, impedindo que a Revoluo se realizasseem sua plenitude transformadora (COSTA 2005, p.99-100).

    De acordo com premissas marxistas, a Independncia, para Fernandes,era uma etapa necessria da revoluo burguesa no Brasil, isto , da passagemde uma ordem colonial escravocrata a uma sociedade de classes (o que s secompletaria na segunda metade do sculo XIX); em termos estruturais, portanto,aquela etapa assinalava uma revoluo:

    a Independncia, no obstante a forma em que se desenrolou, constitui aprimeira grande revoluo social que se operou no Brasil. Ela aparece comouma revoluo social sob dois aspectos correlatos: como marco histricodefinitivo do fim da era colonial; como ponto de referncia para a pocada sociedade nacional, que com ela se inaugura (FERNANDES 2006, p.49).

    Nesse aspecto, e guardando a especificidade de uma anlise histricaelaborada de um ponto de vista sociolgico, a obra de Fernandes dialogafortemente com parte da produo intelectual acima mencionada, valorizandosobremaneira a Independncia como um tema de estudos. Como poderia serdiferente, sendo ela um momento crucial de definies do que o Brasil se tornou(e tambm do que no se tornou) posteriormente?

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    Essa amostragem de autores e ideias poderia ser muito matizada ecompletada se fizesse parte de minha proposta uma avaliao crtica daproduo intelectual brasileira acerca da Independncia. No entanto, repito, aproposta outra: apenas empreender um recorte historiogrfico de modo aexplicitar variaes em torno de um problema comum, cuja discusso , por sis, o objetivo. Tendo isso em mente, parece ter ficado claro ao longo dosculo XX, a Independncia do Brasil se afastou da revoluo conservadoratal qual pensada pelos seus prprios artfices em comeos do sculo XIX.Valendo-se, porm, de termos semelhantes, a intelectualidade brasileira acoplounovos contedos expresso, e se apropriou de significados de revoluo deacordo com um intenso dilogo entre realidade histrica e realidadecontempornea, convergentes na Independncia. Um dilogo ainda atual, masque se apresenta j em outros termos.

    A independncia como revoluo

    Hoje em dia, a Independncia se apresenta revigorada, desprovida docarter ranoso de tema oficial de uma ditadura militar que no existe mais,inserida em um panorama de investigao altamente especializado,profissionalizado e muito ampliado em relao a trs ou quatro dcadas atrs;alm disso, se apresenta fortemente prestigiada, despertando o interesse denovos historiadores. Creio que isso se explica, ao menos em parte, devido renovao dos atributos conferidos ao termo revoluo por um novo contextomundial, e por uma reinsero, nele, do contexto nacional brasileiro. No sendominha inteno empreender a uma caracterizao dessa situao de conjunto,parto do pressuposto que, no presente momento, a historiografia sobre aIndependncia vem estabelecendo um novo consenso historiogrfico, em dilogocom linhagens e propostas anteriores, e que encontra no termo revoluo noapenas uma ideia formativa, mas tambm uma categoria analtica poderosa.Vejamos, ento, alguns pontos de anlise nessa direo.

    O contexto revolucionrio mundial. De modo seguro, a Independnciado Brasil se apresenta contextualizada nos quadros da histria ocidental entreas ltimas dcadas do sculo XVIII e as primeiras do XIX, emparelhada comacontecimentos que, na historiografia brasileira, poucos desconsiderariam comorevolucionrios (no sentido moderno do termo).21 Nesse ponto, a produosobre a Independncia parece, de modo evidente, dever algo a obras como asde Fernando Novais, Emlia Viotti da Costa e Carlos Guilherme Mota, embora adimenso processual do acontecimento em si, bem como seus limites ampliadospara alm do ano de 1822, fossem assertivas mais ou menos constantes nahistoriografia desde, pelo menos, Caio Prado Jnior. Na mesma direo, asobras de Palmer, Godechot e Hobsbawm, para referir-me apenas a autoresmencionados anteriormente, ainda gozam de prestgio, sendo referncias frequentes

    21 A despeito de variaes sobre o tema, como as trazidas por influentes obras como as de FranoisFuret.

  • de contextualizao. Todos estes autores, brasileiros e estrangeiros, continuama ser revistos e criticados em vrios pontos de suas anlises, mas a pertinnciaatual de seus enquadramentos geogrficos e cronolgicos parece incontestvel.

    Os limites desses enquadramentos, no entanto, conhecem variaes, eo reconhecimento a priori de sua funcionalidade no garantia de um consistentedesenvolvimento do pressuposto.22 A Independncia costuma ser aproximada,eventualmente comparada ou genericamente associada a revolues como adas Treze Colnias Britnicas, a Francesa, a do Haiti e as da Amrica espanhola(CARVALHO 1980; HALPERIN 1985; JANCS 1996a; CHIAROMONTE 1997;BRANCATO 1999; PROENA 1999; MAXWELL 2000; ARAJO 2005; SCHULTZ2006; McFARLANE: 2006; PIMENTA 2007a; PAMPLONA & MDER 2007, 2008e 2009), mas o estudo sistemtico e aprofundado sobre as vrias formas deimpacto das mesmas sobre a Independncia ainda escasso. Igualmente,estudiosos continuam a estabelecer relaes entre os movimentos decontestao luso-americanos de fins do sculo XVIII e o contexto mundial, edaqueles com a Independncia (MATTOSO 1969; MAXWELL 1978; SANTOS1992; ALEXANDRE 1993; JANCS 1996a; VILLALTA 2000; NEVES: 2003;MOREL 2005; FURTADO 2006). Se os tempos eram de grandes e profundastransformaes polticas, restaria saber qual o peso das mesmas em um espaoespecfico do contexto mundial.

    Preocupaes dessa ordem levam forosamente considerao em tornoda devida periodizao da Independncia, isto , reconhecendo-a definitivamenteantes como um processo do que como um fato. Seu enquadramento poderemontar s ltimas dcadas do sculo XVIII, se consideradas as contestaescoloniais como sintomas de uma mesma crise geral que, de outras formas eem outro estgio de desenvolvimento, levariam ruptura entre Brasil e Portugalquatro dcadas depois. Mas tambm possvel tomar como ponto de partida ametade daquele sculo, quando o Imprio Portugus comearia a apresentarsintomas publicamente reconhecidos de perda da competio colonial,mobilizando-se na tarefa de uma recuperao que, a mdio e longo-prazo, fariaagravar ainda mais essa posio (LYRA 1994; JANCS 2003; SILVA 2006). Ouainda, em uma durao menor, ao pice da crise poltica portuguesa, na primeiradcada do sculo XIX, quando a Corte abandonou Lisboa para salvar a monarquiaameaada pelo Imprio Francs e refundou o Imprio Portugus em terrasamericanas, criando as condies para que, a curto prazo, essa mesma unidadepoltica, preservada de imediato, russe.

    Creio poder afirmar que, atualmente, nenhum estudioso da Independnciaseria capaz de ignorar a necessidade de inserir seu objeto de estudo em umatemporalidade que confira centralidade, pelo menos, aos acontecimentos de1808; j a possibilidade de se ir alm, para trs ou para frente, uma questoem aberto. A outorga da Carta constitucional de 1824, o reconhecimento luso-

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    22 Refiro-me ao desafio de contextualizar, isto , de conferir significado a uma parcela da realidadea ser analisada a partir das implicaes a ela impostas pelo fato daquela parcela ser parte de outra(s)maior(es).

  • A independncia do Brasil como uma revoluo

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    britnico da Independncia (1825), a crise e o fim do Primeiro Reinado (1831)com a nacionalizao da monarquia, o perodo das Regncias (1831-1840),todos oferecem marcos temporais pertinentes, no-excludentes, e queapontam, inclusive, para a complexidade e dinmica da Independncia comoum processo.

    Portanto, se a Independncia deve ser vista em um recorte temporal eespacial amplo, relacionada ao contexto ocidental, a rejeio do seu carterrevolucionrio implicaria, forosamente, na negao de tal carter tambmpara os acontecimentos e processos a ela correlatos e a ela coevos; ou ento,em uma crena ingnua de que alguns dos artfices da prpria Independnciaestavam corretos ao pretenderem que seu movimento teria sido o nico aprevenir os males advindos dos demais a seu redor; ou, ainda, na reedio dapostura historiogrfica, anteriormente assinalada, de que tudo pode serrevolucionrio, menos aquilo que estudamos de perto. Nesse caso, o termorevoluo se veria confinado a juzos preliminares, gerais e imprecisos, no seconstituindo em uma categoria analtica vlida.23

    O contexto revolucionrio portugus. A questo da amplitude espacial etemporal do processo de Independncia, porm, no se confunde com a desua insero orgnica no contexto mundial. De que modo uma situaorevolucionria engendra outra? No caso que nos interessa mais de perto, deve-se destacar que, para alm do fato de que, desde sempre, a Independncia doBrasil foi relacionada com a revoluo portuguesa de 1820, aparentementenenhum de seus historiadores atuais pretende negar o carter revolucionriodos acontecimentos que resultaram no deslocamento do espao de soberaniada nao portuguesa, na limitao e sujeio dos poderes do monarca, napromulgao de uma Constituio, na formao de juntas de governoautnomas no Brasil, na antagonizao de interesses que resultou naconcretizao de um projeto de ruptura e na formao de um Brasilindependente... Se o problema em si complexo, cumpre reconhecer o empenhocom que, nas ltimas dcadas, historiadores vem se dedicando a elucid-lo(dentre muitos, PEREIRA 1982; ALEXANDRE 1993; TENGARRINHA 1993;VARGUES 1997; BERBEL 1999; SOUZA 1999), sem que, repito, surja qualqueralegao de que a Independncia no se relaciona profunda e diretamente como movimento portugus, ou de que este no foi uma revoluo e portanto odo Brasil tambm no ou vice-versa. Se a historiografia sempre trabalhoucom essa relao, cumpre agora reconhecer, de modo explcito, suas implicaesanalticas.24

    O contexto revolucionrio hispnico. Embora a Independncia do Brasiljamais tenha deixado de ser considerada em sua proximidade com os movimentos

    23 Tal provincianismo historiogrfico no deixa de ser um risco em tempos de hiper-especializao dapesquisa; isto , como resultado de uma iluso de que, aquilo que observamos e analisamos, empormenores, se descola de seu contexto histrico, simplesmente por que... o que estudamos!24 O mesmo valeria para Pernambuco, cujo movimento de 1817 sempre foi tratado, na historiografia,como revoluo. Algumas obras o relacionaram com a Independncia (MELLO 2004; BERNARDES2006; SILVA 2006).

  • de independncia da Amrica espanhola, a historiografia em geral pouco sepreocupou em estabelecer suas determinaes recprocas.25 Minhas prpriascontribuies historiogrficas tem procurado se concentrar nessa demanda que,entendo, encontra-se ainda longe de satisfatoriamente atendida. Por ora, combase em algumas dessas contribuies, concebo como plenamente sustentvela ideia tradicional, afirmada ou sugerida pela historiografia nos muitos momentosem que se referiu questo desde o sculo XIX, de que o que ocorre na Amricaespanhola de fundamental importncia para o processo de Independncia doBrasil, qualquer que seja a sua periodizao.

    Eu diria: sobretudo a partir de 1808, quando o colapso da monarquiaespanhola resultou da ao das mesmas foras que levaram a Corte portuguesaa reorganizar o Imprio em sua nova sede. Desde ento, tudo o que se passavana Amrica espanhola era atenta e detalhadamente acompanhado por estadistase homens da poltica em geral que, no Brasil, buscavam a manuteno da unidademonrquica e dinstica portuguesa, bem como projetavam um futuro cada vezmais incerto com base na informao e compreenso do que o passado e opresente podiam ensinar. E se certo que havia um generalizado receio de queos domnios lusos seguissem o mesmo curso traumtico que vinha sendopercorrido pela vizinhana hispnica, houve variaes importantes na formaodesse paradigma: os pernambucanos de 1817, por exemplo, tinham em altaconta as atitudes independentistas dos hispano-americanos (Silva, Luiz: 2006),e mesmo alguns dos agentes da separao entre Brasil e Portugal, entre 1821e 1822, nos legaram numerosas manifestaes de apoio e admirao aos maisrecentes exemplos que o continente americano lhes oferecia de rompimentocom uma metrpole europia (Pimenta: 2004 e 2007a). Foram os mesmosagentes que, como vimos no comeo, conceberam as revolues comomovimentos potencialmente inovadores, criativos e positivos, desde queobservados certos limites de conservao recomendados por suas respectivase confortveis posies sociais.

    A Independncia do Brasil, portanto, deve ser considerada como umsubproduto no apenas da revoluo portuguesa de 1820, mas tambm dasrevolues da Amrica espanhola. Seus resultados foram, em ltima instncia,respostas a desafios comuns impostos por uma mesma conjuntura mundial,que se reproduzia de modo dinmico a partir de elaboraes sempre especficase pautadas pela possibilidade que seus protagonistas tinham, ento, de aprendercom o passado e o presente. Nessa perspectiva, o conservadorismo daIndependncia isto , suas feies eventualmente menos transformadorasem relao aos movimentos mundiais a ela correlatos - nada mais seria do queconseqncia lgica do fato de que as lies da histria so sempre diacrnicas,e seus resultados sempre dessemelhantes. Nada teria a ver com um processomenos ou mais revolucionrio do que outro.

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    25 Aps Manuel Bonfim e Oliveira Lima, alguns esforos inovadores foram empreendidos porSODR1965; RIBEIRO JR.: 1990 (1.ed. 1968); GRAHAM 1994 (1.ed. 1972); e MILLINGTON 1996.

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    A Independncia e a percepo de um tempo novo. A construo de umaalternativa vivel de separao poltica entre Brasil e Portugal valeu-se de umasensvel mudana, perceptvel j desde fins do sculo XVIII e fortementegeneralizada a partir de 1808: a de que o tempo presente era prenhe deinovaes, tudo podia mudar de lugar, e as formas tradicionais de reproduoda vida social pareciam esgotar-se progressivamente (NOVAIS 1979, p.3;JANCS 1997).26 Embora a transferncia da Corte para o Brasil tenha renovado,dentre os sditos portugueses, as condies para a afirmao de suastradicionais lealdades postas em xeque pela crise poltica europia, oacontecimento em si representava uma novidade suficiente para comear ainovar a viso de histria portanto de mundo - prevalecente. A prpria defesada tradio implicava o reconhecimento de suas fissuras, e embora isso rarasvezes fosse elaborado como um diagnstico de conjuntura pelos homens emulheres que viviam esses tempos, a tendncia apontava, claramente, para aideia de uma ruptura com o passado e de inaugurao de um tempo novo. Em1811, por exemplo, o Correio Brasiliense, importante peridico publicado emLondres e voltado preferencialmente aos assuntos do Imprio Portugus,demonstrava preocupao com o registro do passado como meio de construiro futuro:

    sem dvida crueldade mostrar a um homem que tem sofrido muito,quanto a improvidncia tem sido causa de seus males, e opor ao sonho desuas agradveis esperanas, realidades tristes e desoladoras; mas quandose trata de uma nao, posto que seja esta uma penosa tarefa, contudono somente til, mas at necessria a um povo inteiro, o qual no poderemediar nem impedir os males futuros, seno conhecendo a causa dospassados (Correio Brasiliense, 1811).

    Poucos anos depois, e algumas semanas antes da formalizao daseparao poltica entre Brasil e Portugal, outro importante jornal publicariaumas Consideraes poltico-mercantis sobre a incorporao deMontevidu, escritas, por J.S.V., natural de Minas Gerais, nas quais se lia que

    as relaes, fundadas no interesse recproco das partes, so to durveisquanto so efmeras as que s nascem de um capricho. Em poltica, cadasculo tem suas ideias, e cada poca seus princpios; os que hoje parecemmais bem estabelecidos, no o sero depois, quando de tudo o que foiEspanha e Portugal nas duas Amricas, s tenha restado o idioma e algunsusos. Este momento no est distante (Revrbero ConstitucionalFluminense n.14, 27/08/1822.)

    So testemunhos eloqentes de uma elaborao de ruptura com opassado e de projees de um futuro novo e incerto; igualmente, das condieshistricas de atribuio, ao processo em curso, de um sentido de revoluo

    26 Nas lapidares palavras deste ltimo autor, a crise no aparece conscincia dos homens comomodelo em vias de esgotamento, mas como percepo da perda de operacionalidade de formasconsagradas de reiterao da vida social. Em outras palavras, na busca de alternativas que a crisese manifesta, nela que adquire efetiva vigncia (1996a, p.203).

  • perfeitamente sintonizado com sua carga conceitual moderna, e que aindaprecisa ser devidamente considerado pelos historiadores da Independncia.27

    A Independncia e a criao do Estado e da nao. Se nossa ateno sevoltar, por fim, para resultados bastante concretos da Independncia, aprofundidade de suas inovaes pode ser resumida em dois pontos principais:ela possibilitou diretamente a criao tanto de um Estado como de uma naobrasileiros, e que antes dela simplesmente no existiam. O que j seria suficientepara, a despeito de tudo o que ela no implicou de mudana em relao ordem vigente, caracteriz-la como uma revoluo.

    No que as bases sobre as quais o Estado e a nao brasileiros puderamse assentar tenham sido inteiramente criadas pela Independncia; no entanto,elementos polticos, culturais, institucionais, econmicos e simblicos que,inseridos nas estruturas da sociedade colonial luso-americana, exerceramdeterminaes sobre a formao da ordem nacional brasileira no seu nascedouro,viram-se de alguma maneira transfigurados pelo processo de Independncia.Na esfera do Estado, isto , da construo de suas bases materiais, vriosdesses elementos tm sido devidamente esquadrinhados pela historiografiarecente, em uma produo vigorosa e bastante inovadora que, necessariamente,precisa equacionar aquilo que criado e aquilo que modificado pelaIndependncia: um aparato poltico-administrativo, parlamentos, polcia e forasarmadas, sistemas eleitorais, imprensa, cdigos legais, constituies, fiscalidadee instituies financeiras, etc. (CARVALHO 1980; MATTOS 1987; DOIN 1998;DINIZ 2002; COSTA 2003; PIEIRO 2003; GOUVA 2005; DOLHINIKOFF 2005;MIRANDA 2006). Da mesma forma, a criao de uma esfera de direitos ligada anovos conceitos de cidadania e representao poltica, tipicamente modernos;um novo locus de exerccio da soberania nacional (organizado por uma monarquiaconstitucional); e novas formas de expresso e associao coletivas e pblicas,que reorganizariam as hierarquias coloniais e possibilitariam essa criao bastanteoriginal da realidade nacional brasileira: uma sociedade ao mesmo tempo liberale escravista (BARBOSA 2001; LOPES 2003; MOREL 2005; MARQUESE 2005;BARATA 2006; SLEMIAN 2006).

    Nesse ponto, a historiografia atual novamente parece dever algo a autoresde dcadas atrs, como Caio Prado Jnior, Fernando Novais e FlorestanFernandes e suas periodizaes ampliadas do processo de Independncia, quebuscavam justamente abarcar o momento final de estabilizao da novasociedade a metade do sculo XIX - cuja criao seria, em ltima instncia,sua marca revolucionria definitiva. No entanto, dispondo de resultadosdetalhados de pesquisas especficas, e juntando as peas de um quadro histricocuja complexidade tais autores certamente vislumbravam, a atual historiografiada Independncia tem plenas condies de superar, em definitivo, a perspectivada no-revoluo brasileira e seu argumento preferencial: o de que aIndependncia no teria resultado em um novo tipo de sociedade. O queimplicaria em pretender: 1) que o Estado brasileiro nada mais seria do que uma

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    27 Raras excees so os estudos de NEVES 2007 e ARAUJO 2008.

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    estrutura continuada do Estado colonial; ou 2) que na formao do Brasil,Estado e sociedade teriam surgido separados um do outro.

    Na esfera da nao, isto , das condies histricas de imaginao eidentificao coletivas, formalizadas politicamente em termos de umacomunidade especfica a nao brasileira que adquiriu sustentao real, adespeito de alguns esforos recentes, muita coisa resta a ser feita (OLIVEIRA1995; LYRA 1995; SOUZA 1999; SILVA 1999; RIBEIRO 2002; PIMENTA 2002;LOPEZA 2004; SILVA 2005; BERNARDES 2007). O reconhecimento de suadistino e, ao mesmo tempo, de sua comunho com a esfera do Estado, temconhecido boa aceitao na historiografia,28 mas seu tratamento articulado eequilibrado no tarefa fcil. O empenho dos prprios protagonistas em conferirum carter de ruptura moderada Independncia, por meio da criao de umasimbologia nacional, bem como de narrativas histricas que legitimassem oprocesso em curso, pode confundir o estudioso, sobretudo levando-se emconta o peso ainda forte, na historiografia brasileira, do paradigmahobsbawmniano de tratamento da questo nacional, segundo o qual para ospropsitos da anlise, o nacionalismo vem antes das naes. As naes noformam os Estados e os nacionalismos, mas sim o oposto (HOBSBAWM 1990,p.19; para uma crtica, CHIAROMONTE 2003). No caso do Brasil, exemplo doque igualmente ocorre em quase todo o mundo hispnico, sedutor atribuir questo nacional, no contexto da Independncia, a condio de artificialidade,de mera ferramenta simblico-discursiva a ser utilizada para a imposio deum projeto destitudo de apoio e legitimidade; mas as coisas parecem terfuncionado de modo mais complicado.29

    possvel entender o surgimento da nao brasileira ignorando-se a naoportuguesa que, at meados da dcada de 1822, operava como refernciamxima de pertencimento, em larga escala aceita e compartilhada por todosos sditos de D. Joo VI? Como entender a criao de um aparato poltico-administrativo novo e altamente complexo sem considerar os esforos coevosde ampar-lo em um discurso que combinava elementos identitrios tanto deruptura como de continuidade, e que portanto j existiam antes do Estado? Osresultados desses esforos, no resultam na existncia plena de uma comunidadede tipo nacional imprescindvel para a prpria existncia do Estado? Nesse ponto,o estudo da nao continua vinculado ao estudo de seus smbolos e imaginrios,mas tambm, e cada vez mais, ao estudo dos discursos e das linguagenspolticas que desencorajam o estabelecimento de qualquer relao deanterioridade ou posteridade entre Estado, nao e nacionalismo; preferveltom-los como fenmenos correlatos e, eventualmente, simultneos.

    Novamente, a historiografia atual parece tributria de autores como CaioPrado Jnior, Srgio Buarque de Holanda e Maria Odila Dias, que tiveram muitaclareza da inexistncia de sentimentos nacionais brasileiros que fornecessem osubsdio essencial do processo de Independncia. Contudo, hoje somos capazes

    28 Sobretudo a partir das assertivas de JANCS & PIMENTA 2000.29 Para o mundo hispnico, a bibliografia cada vez mais extensa. Restrinjo-me a apontar um trabalhomodelar: GUERRA 1999/2000.

  • de recolocar a questo em outro patamar: se a ruptura entre Portugal e Brasilno foi uma luta entre metrpole e colnia, entre brasileiros e portugueses de fato, no foi - como apreender as transformaes em curso sem retroced-las ao carter de meras aparncias de ruptura? Creio que a historiografiaprecisa considerar que a profundidade e a amplitude da ruptura promovida pelaIndependncia s podem ser explicadas a partir tambm de uma lenta, massegura, alterao, verdadeiramente revolucionria, nas formas de pensar,representar e transformar o mundo; dentre elas, a possibilidade de mudanassubstantivas em referenciais identitrios e em projetos nacionais que, ao seremcriaes de uma nova ordem poltica, so parcialmente responsveis tambmpelo advento destas. A Independncia no foi resultado de um nacionalismobrasileiro; o Estado e a nao tambm no; mas para que eles pudessemexistir, foi necessrio que certos portugueses, por vrios motivos que convmanalisar melhor, concebessem a possibilidade de deixar de s-lo. Por isso, acompleta inexistncia de um sentimento nacional brasileiro ou de sentimentoscongneres - em meio Independncia merece ser revista.

    Assim como foi revista a prpria ideia de que a histria do Brasil possui,como marca de nascimento, a ausncia de transformaes coletivas de monta.E se, com base no reconhecimento do carter revolucionrio da Independncia,a historiografia aponta para outros caminhos a serem trilhados no sculo XXI,resta endossar a reviso de que o mundo em que essa historiografia se inseretampouco afeito a tais transformaes.

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