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A INDEPENDÊNCIA NO TRABALHO DO AUDITOR E NA GOVERNAÇÃO DAS EMPRESAS 18

A INDEPENDÊNCIA NO TRABALHO DO AUDITOR E NA … · oficiais de contas e das sociedades de revisores oficiais de contas portugueses, alinhado com o modelo adoptado a nível comunitário

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A INDEPENDÊNCIANO TRABALHO DO AUDITORE NA GOVERNAÇÃODAS EMPRESAS

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1.IntroduçãoNa sequência da obrigação de revisão oficial das contas instituída

a nível europeu pelas 4ª e 7ª Directivas, o relatório de revisão/auditoria

tornou-se no instrumento através do qual o revisor oficial de contas

comunica com os accionistas, os credores e os trabalhadores, bem

como com o público em geral. Apesar de se verificar que existe uma

tentativa no sentido de uma harmonização da forma assumida pelos

relatórios de auditoria, a ausência de normas profissionais comuns

não permite assegurar que os sistemas de controlo de qualidade

dos diversos Estados-Membros sejam equivalentes, ou mesmo

adequados. Neste contexto, a independência do revisor/auditor é

fundamental para assegurar a confiança do público na fiabilidade

dos seus relatórios, conferindo maior credibilidade às informações

financeiras publicadas e representando um valor acrescentado para

os investidores, credores, trabalhadores e outros detentores de

interesses nas sociedades da UE, com particular incidência para

sociedades que sejam entidades de interesse público1. A

independência constitui, também a principal forma de o sector

demonstrar ao público e às entidades reguladoras que os revisores

oficiais de contas e as sociedades de revisores oficiais de contas

estão a exercer a sua actividade de acordo com padrões que

satisfazem os princípios deontológicos estabelecidos, em particular

os da integridade e da objectividade.

A independência do auditor é cada vez mais, uma exigência material

face às condições concretas de actuação junto das empresas e outras

entidades e uma dificuldade perante o conjunto de dependências

e pressões a que está sujeito no desempenho das suas funções.

revisores oficiais de contas, se não forem independentes.

Adicionalmente, os Estados-Membros devem assegurar que os

revisores oficiais sejam passíveis de sanções apropriadas sempre

que não efectuem uma revisão de forma independente e que pelo

menos os sócios e accionistas da sociedade de revisores oficiais de

contas, não intervenham na execução de uma revisão de uma

maneira susceptível de comprometer a independência das pessoas

singulares que efectuam a fiscalização em nome da referida sociedade.

Este requisito aplica-se, também, aos membros dos órgãos de

administração, direcção e fiscalização da referida sociedade de

revisores oficiais de contas que não tenham sido pessoalmente

aprovados como revisores oficiais de contas.

O regime de fiscalização societária estabelecido pelo Código das

Sociedades Comerciais (CSC) em 1986, conjugado com as disposições

do Estatuto dos Revisores Oficiais de Contas2, reflectiu as directivas

comunitárias em vigor na altura da sua adopção, incluindo a 4ª

Directiva do Conselho3, que impôs a obrigação de que as contas

anuais das sociedades anónimas e das sociedades de

responsabilidade limitada fossem certificadas por um profissional

qualificado4 para o efeito, e a 8ª Directiva do Conselho, relativa à

aprovação das pessoas responsáveis pela fiscalização legal de

documentos contabilísticos, que definiu as qualificações mínimas

dos auditores5, não só em termos de qualificações profissionais,

como também a nível de idoneidade e independência. No entanto,

nenhuma destas Directivas forneceu qualquer orientação quanto à

independência, nomeação, destituição, remuneração ou

Isabel Barrote REVISOR OFICIAL DE CONTAS

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“ (...) a independência do revisor/auditor é fundamental para assegurar a confiançado público na fiabilidade dos seus relatórios (...)”

responsabilidade civil dos auditores6. Contudo, algumas das suas

disposições constavam já do Regulamento da CMVM n.º 6/2000

sobre auditores, e do Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de

Contas (EOROC). Outras vieram a ser consagradas pelo Regulamento

da CMVM n.º 7/2001, tal como alterado pelo Regulamento da CMVM

n.º 11/2003, sobre o Governo das Sociedades Cotadas.

Neste contexto, e mediante pressão, a Comissão emitiu a

Comunicação “Reforçar a revisão oficial de contas na UE”, onde

reconheceu que o plano apresentado em 1998, na “Comunicação

relativa ao futuro da revisão oficial de contas na União Europeia”, já

não era suficiente, tendo esta Comunicação representado um ponto

de viragem na história da regulação da fiscalização de sociedades

a nível Europeu, na medida em que representou o abandono pela

Comissão da sua posição segundo a qual cabia aos auditores

assegurar a sua própria independência e da sua preferência por

instrumentos legislativos não vinculativos. Iniciou-se então uma

fase mais intervencionista, baseada nos princípios estabelecidos

nesta última Comunicação, e que viria a culminar na apresentação

2.Enquadramento do NormativoEm território nacional os princípios básicos e os procedimentos

essenciais a cumprir, obrigatoriamente, pelos revisores oficiais de

contas no desenvolvimento dos seus trabalhos, estão consagrados

nas Normas Técnicas de Revisão aprovadas pela Ordem dos Revisores

Oficiais de Contas (OROC). As Normas Técnicas são suplementadas

e desenvolvidas por Directrizes de Revisão/Auditoria (DRA’s).

Supletivamente, são aplicáveis as normas (ISA’s) e recomendações

de auditoria (IAPS’s), emitidas pela IFAC.

Não existe qualquer norma deontológica, internacionalmente aceite,

em matéria de independência de revisores, que possa ser utilizada

em toda a UE como base de referência para as normas nacionais de

independência. Os Estados-Membros da UE devem determinar que

os revisores não podem efectuar a revisão legal de contas, seja na

qualidade de pessoas singulares ou em nome de uma sociedade de

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da Proposta de Directiva relativa à revisão legal das contas individuais

e consolidadas, em Março de 2004, entretanto aprovada e publicada,

a qual altera as 4ª e 7ª Directivas do Conselho e revoga a Directiva

84/253/CEE do Conselho, com o objectivo de modernizar a 8ª

Directiva. Muitas das suas disposições constavam já das

Recomendações da Comissão antes referidas, mas considerando a

necessidade de reforçar a confiança dos investidores nos auditores

e no mercado, foram incluídas num instrumento legislativo de

carácter vinculativo que garante uma maior rigidez e harmonização.

Também o regime previsto no Código das Sociedades Comerciais

(CSC) exige a autonomização do revisor oficial de contas e a existência

de uma estrutura orgânica separada, encarregada de fiscalizar a

independência daquele, consoante os tipos de sociedades. A

autonomização da função de revisão de contas em relação à

fiscalização societária está, desde logo, acautelada nos modelos de

organização constantes das alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 278.º

do CSC7. Qualquer dos modelos de organização facultados pelo CSC,

inclui, para as referidas sociedades, uma estrutura com as funções

de (i) fiscalizar o processo de preparação e de divulgação de

informação financeira; (ii) propor à assembleia geral a nomeação

do revisor oficial de contas; (iii) fiscalizar a revisão das contas da

sociedade; e (iv) fiscalizar a independência do revisor oficial de

contas, designadamente no tocante à prestação de serviços

adicionais.

no Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (EOROC) asalterações que decorrem da transposição parcial para a ordem jurídicainterna da Directiva n.º 2006/43/CE22, relativa à revisão legal dascontas anuais e consolidadas.

3.O dever da independênciaA alteração do regime do dever de independência dos revisoresoficiais de contas, à luz do disposto na Directiva n.º 2006/43/CE, doParlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Maio, estabeleceu,como critérios fundamentais, que o revisor oficial de contas deveactuar livre de qualquer pressão, influência ou interesse e deve evitarfactos ou circunstâncias que sejam susceptíveis de comprometera sua independência, integridade e objectividade e, bem assim,definindo os serviços que não podem ser prestados simultaneamentecom a revisão legal de contas, nos casos dos revisores oficiais decontas das entidades de interesse público. O dever de independência,integridade e objectividade dos revisores oficiais de contas éparticularmente densificado neste novo regime, impondo-se o deverde recusa de qualquer trabalho quando as circunstâncias concretassejam susceptíveis de prejudicar a observância daqueles princípios.Nos casos específicos de auto-revisão, interesse pessoal,representação, familiaridade, confiança ou intimidação, o revisor oua sociedade só podem realizar a auditoria de contas se for possíveladoptar as medidas necessárias para assegurar a respectivaindependência.

3.1 O PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA

No normativo nacional o Código de Ética e Deontologia Profissionaldos Revisores Oficiais de Contas define os princípios fundamentaisda profissão, os quais deverão em todas as circunstâncias pautar aconduta pessoal e profissional do revisor oficial de contas, tendo emconsideração os restantes normativos aplicáveis, adoptando umaconduta responsável que prestigie a profissão e a si próprio. Destaforma, estabelece-se que o revisor oficial de contas deve exercer asua actividade profissional com independência, responsabilidade,competência e urbanidade, respeitando a legalidade, o sigiloprofissional, as regras sobre publicidade pessoal e profissional e osseus deveres para com os colegas, os clientes, a Ordem e outrasentidades, acautelando legitimamente os seus direitos.

3.1.1 DEFINIÇÕES

Conforme apresentada no Código de Ética para osContabilistas/Revisores Profissionais da IFAC a definição deindependência compreende dois tipos de independência: aindependência mental e a independência na aparência.

No que se refere ao princípio da independência o revisor oficial decontas deve exercer a sua actividade com absoluta independênciaprofissional, à margem de qualquer pressão, especialmente, aresultante dos seus próprios interesses ou de influências exteriores,por forma a não se ver colocado numa posição que, objectiva ousubjectivamente, possa diminuir a liberdade e a capacidade deformular uma opinião justa e isenta.

Em termos de riscos sobre a independência, é relevante a distinçãoentre os riscos de auto-revisão, interesse pessoal, representação,familiaridade ou confiança e intimidação. Alguns destes riscos podemsobrepor-se, e também poderão envolver actos conscientes em seupróprio auto interesse, e outros ainda podem resultar de propensõessubconscientes.

AUDITORIA

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“ (...) Também o regime (...) exige aautonomização do revisor oficial decontas e a existência de uma estruturaorgânica separada, encarregada defiscalizar a independência daquele,consoante os tipos de sociedades. (...)”

O Decreto-Lei nº225/08 de 20 de Novembro, no seu art. 3º indicaque para as entidades de interesse público que adoptem um dosmodelos de administração e fiscalização definidos no CSC, o revisor,ou sociedade de revisores, não pode integrar o respectivo órgão defiscalização. O órgão de fiscalização das entidades de interessepúblico deve incluir pelo menos um membro que tenha um cursosuperior adequado ao exercício das suas funções e conhecimentosem auditoria ou contabilidade e que seja independente8 e nos casosem que a modalidade de administração e fiscalização adoptadainclua um Conselho Geral e de Supervisão, este deve constituir umaComissão para as matérias financeiras, nos termos previstos no art.444º do CSC.

O mesmo diploma criou também o Conselho Nacional de Supervisãode Auditoria (CNSA), ao qual é atribuída a responsabilidade pelaorganização de um sistema de supervisão pública dos revisoresoficiais de contas e das sociedades de revisores oficiais de contasportugueses, alinhado com o modelo adoptado a nível comunitárioneste domínio e marcado por características de independência. Umaspecto importante do regime introduzido pela Directiva e transpostopor este Decreto-Lei é a organização de um registo público, cujoconteúdo e termos da respectiva inscrição e actualização seencontram previstos na referida alteração ao Estatuto da Ordemdos Revisores Oficiais de Contas.

Por outro lado, o Decreto-Lei nº224/08 de 20 de Novembro introduz

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3.1.2 RECUSA DE TRABALHOS

O revisor oficial de contas deverá, nomeadamente recusar algum

trabalho que, por quaisquer motivos ou circunstâncias, possa (i)

diminuir a sua liberdade de julgamento ou suscitar dúvidas a terceiros

sobre a sua independência profissional; (ii) rejeitar indicações de

terceiros sobre o trabalho a desenvolver ou o tipo de conclusões a

que deve chegar; (iii) adoptar, no seu relacionamento com os

membros dos órgãos de gestão e de fiscalização, bem como com os

seus colaboradores e outros com quem tem de manter relações

profissionais, uma conduta que não comprometa a sua independência

funcional e hierárquica; (iv) ser justo, intelectualmente honesto e

imparcial no seu comportamento profissional e; (v) não receber da

parte de cada cliente honorários que representem um montante

superior a 15% do volume de negócios anual da sociedade de revisores

ou do total de honorários anual do revisor individual, salvo se essa

situação não colocar em causa a sua independência profissional ou

se estiver em início de actividade.

EXEMPLO:

O revisor oficial de contas encontra-se em condições para recusarum trabalho sempre que:

- desempenhe funções de revisão legal de contas, auditoria às contase serviços relacionados numa entidade, e simultaneamente lhe sejasolicitado também o trabalho de organizar ou executar a contabilidadeou de assumir a responsabilidade legal ou contratual desta, nessaempresa ou outra entidade;

- tenha de fiscalizar, inspeccionar ou julgar contas, ao serviço deorganismos com atribuições legais para o efeito, nessa empresa ou

outra entidade.

Considera-se que, nestas situações quer o trabalho seja realizado a

título individual, quer por cônjuge, parente ou afim na linha recta ou

até ao terceiro grau na linha colateral, quer ainda através de sociedade

de que o revisor oficial de contas seja sócio ou na qual tenha como

sócio, administrador, director ou gerente, o cônjuge, parente ou afim

na linha recta ou até ao terceiro grau da linha colateral, o revisor

oficial de contas está abrangido. Também o revisor oficial de contas

suplente que tenha de desempenhar as suas funções deverá aplicar

o princípio da independência plenamente, não se considerando

hierarquicamente dependente do revisor oficial de contas efectivo

que for substituir.

3.2 O DEVER DA INDEPENDÊNCIA NO NORMATIVONACIONAL

O art. 68º-A do Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas,

refere-se especificamente ao dever de independência. Assim, na sua

actividade profissional o revisor oficial de contas deve actuar livre

de qualquer pressão, influência ou interesse e deve evitar factos ou

circunstâncias que sejam susceptíveis de comprometer a sua

independência, integridade ou objectividade. Nas situações em que

a independência do revisor oficial de contas ou da sociedade de

revisores oficiais de contas for afectada por ameaças, tais como

auto-revisão, interesse pessoal, representação, familiaridade ou

confiança ou intimidação, deve o revisor ou a sociedade adoptar as

medidas necessárias para assegurar a respectiva independência,

caso contrário não deve realizar a auditoria.

Os sócios ou os accionistas de uma sociedade de revisores oficiais

de contas, bem como os membros dos órgãos de administração e

de fiscalização dessa sociedade, ou de uma sociedade afiliada, devem

abster-se de ter qualquer intervenção na execução de uma auditoria,

AUDITORIA

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Isabel Barrote / REVISOR OFICIAL DE CONTAS

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susceptível de comprometer a independência e a objectividade do

revisor oficial de contas que realiza a auditoria em nome da sociedade

de revisores oficiais de contas. É mesmo proibida a realização de

auditoria a entidades de interesse público em caso de auto-revisão

ou de interesse pessoal.

3.2.1 ENTIDADES DE INTERESSE PÚBLICO

O Decreto-Lei nº225/08 de 20 de Novembro vem proceder à

designação das entidades de interesse público. Com efeito, essa

qualificação já decorre da Directiva para entidades cujos valores

mobiliários se encontrem admitidos à negociação num mercado

regulamentado, para as instituições de crédito e para as empresas

de seguros. No entanto, o legislador comunitário admite a

possibilidade de cada Estado membro qualificar do mesmo modo

outras quaisquer entidades que «sejam de relevância pública

significativa em razão do seu tipo de actividade, da sua dimensão

ou do seu número de trabalhadores», tendo em conta um regime

de exigência acrescida em matéria de transparência, de fiscalização,

de independência e de controlo de qualidade, contemplando-se

assim nessa qualificação entidades que desempenhem um papel

importante na estabilidade financeira e na regularidade dos mercados,

para as quais o rigor, a correcção e a fiabilidade dos documentos de

prestação de contas se revela fulcral.

De acordo com a 8ª Directiva estabeleceram-se aspectos relevantes

com aplicação à auditoria a entidades de interesse público,

nomeadamente, o facto de os revisores ou sociedade de revisores

oficiais de contas deverem publicar informação sobre a sua

organização interna; as entidades de interesse público deverem ter

um Comité de Auditoria composto por administradores não

executivos ou membros do Conselho Geral ou Conselho Fiscal9 e

pelo menos um dos membros do Comité de Auditoria dever ter

experiência relevante em matéria de contabilidade e auditoria.

A atribuição da qualidade de entidade de interesse público exige a

aplicabilidade às entidades assim qualificadas dos modelos de

administração e fiscalização previstos no Código das Sociedades

Comerciais, em que o revisor oficial de contas ou a sociedade de

revisores oficiais de contas a quem compete emitir a certificação

legal de contas não integra o respectivo órgão de fiscalização. Porém,

em razão do seu tipo de actividade e atento o princípio da

proporcionalidade, excepcionam-se desta exigibilidade as instituições

de crédito que não estejam autorizadas a desenvolver a actividade

de recepção de depósitos e as sociedades de capital de risco e de

titularização de créditos, é também vedado ao revisor a prestação

simultânea, a essas entidades, de auditoria e de uma série de

serviços10. Consagra-se também o dever de comunicação ao órgão

de fiscalização das entidades examinadas por parte dos revisores

oficiais de contas ou das sociedades de revisores oficiais de contas

que realizem auditoria às contas de entidades de interesse público,

incluindo a confirmação anual da independência e a comunicação

anual de todos os serviços adicionais prestados à entidade examinada

AUDITORIA

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“ (...) o legislador comunitário admite a possibilidade de cada Estado membroqualificar do mesmo modo outras quaisquer entidades que «sejam de relevânciapública significativa em razão do seu tipo de actividade, da sua dimensão ou doseu número de trabalhadores» (...)”

e, bem assim, a análise das ameaças à independência e dassalvaguardas aplicadas para atenuar essas ameaças.

Conforme já preconizado na ISA 260 (Clarificada) - Comunicaçõescom os Encarregados da Governação, no que se refere à independênciado auditor para o caso de entidades cotadas, o auditor deve comunicaraos encarregados da governação:a) Uma confirmação de que a equipa de trabalho, e outroscolaboradores e sócios da firma, como apropriado, a própria firma e,quando aplicável, as firmas de rede cumpriram os requisitos éticosrelevantes relativos a independência;b) Todos os relacionamentos e outras matérias entre a firma, firmasde rede, e a entidade que, no julgamento profissional do auditor, sepossa razoavelmente pensar que afectem a independência. Oshonorários totais debitados durante o período devem ser imputadosa categorias que sejam apropriadas para ajudar os encarregados dagovernação a avaliar o efeito de serviços na independência do auditor;ec) As respectivas salvaguardas que foram aplicadas para eliminarameaças à independência ou para as reduzir a um nível aceitável.

Os requisitos de comunicação relativos à independência do auditorque se apliquem no caso de entidades cotadas podem também serrelevantes no caso de algumas outras entidades, particularmenteas que possam ser de significativo interesse público porque, emconsequência dos seus negócios, da sua dimensão ou do seu estatutosocial, têm uma vasta gama de interessados.

EXEMPLO:

As entidades que não são entidades cotadas, mas em que as comunicações deindependência do auditor podem ser apropriadas incluem:

- Entidades do sector público;- Instituições de crédito;- Companhias de seguros; e- Fundos de benefícios de reforma.

Por outro lado, podem existir situações em que as comunicações

respeitantes à independência podem não ser relevantes. Por exemplo,

quando todos os encarregados da governação foram informados de

factos relevantes por meio das suas actividades de gestão. Tal é

particularmente provável quando a entidade é gerida pelo proprietário,

e o auditor ou sociedade e as sociedades pertencentes à rede têm

pouco envolvimento com a entidade para além de uma auditoria

anual às demonstrações financeiras.

3.2.2 O DEVER DE INDEPENDÊNCIA NO CONCEITODE REDE

O conceito de rede designa a estrutura mais vasta destinada à

cooperação, a que pertence um revisor oficial de contas ou uma

sociedade de revisores oficiais de contas, e que tem como objectivo

a partilha de lucros ou de custos ou a partilha em comum da

propriedade, controlo ou gestão, das políticas e procedimentos

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comuns de controlo de qualidade, da estratégia comum, da utilização

de uma denominação comum ou de uma parte significativa de

recursos profissionais.

DADOS ESTATÍSTICOS

O ROC/SROC pertence, está associado ou tem algum tipo de acordo comalguma rede internacional de auditoria

No que concerne a acordos ou associações a redes internacionais, 55% dosauditores indica pertencer a uma rede internacional de auditoria. Dos 26auditores com relações com redes internacionais, 10 indicam não existir qualquertipo de controlo cruzado entre os membros da rede. Em três dos referidos 26auditores, a aceitação de novos trabalhos de auditoria não é precedida dequalquer procedimento que permita identificar eventuais incompatibilidadescom algum dos elementos da rede, pelo que poderão estar a realizar trabalhosde auditoria susceptíveis de comprometer a independência do Revisor,contrariando o disposto no nº 2 do art. 22º da Directiva 2006/43/CE, de 17 deMaio.

Fonte: Resultados do Inquérito “Organização e Meios para a prestação deserviços de auditoria” de 30 de Março de 2007 da Comissão do Mercado deValores Mobiliários (Questionário de verificação da manutenção das condiçõesde registo do Auditor na CMVM).

Se uma firma for considerada uma firma de rede, exige-se que a

firma seja independente do cliente de auditoria de demonstrações

financeiras das outras firmas dentro da rede. Além disso,

relativamente aos clientes de garantia de fiabilidade que não sejam

clientes de auditoria de demonstrações financeiras, deve ser tomada

em consideração quaisquer ameaças que a firma possa

razoavelmente crer poderem ser esperadas por interesses financeiros

no cliente detido por outras entidades da rede ou por relacionamentos

entre o cliente e outras entidades na rede.

3.2.3 ÂMBITO DO DEVER DE INDEPENDÊNCIA

O dever de independência aplica-se não só ao revisor oficial de contas

mas também à sociedade de revisores de que for sócio, bem como

aos demais profissionais envolvidos na auditoria. Desta forma o

revisor oficial de contas deve-se assegurar de que dispõe de um

sistema adequado de salvaguardas para fazer face a potenciais

riscos para a sua independência. Assim, a proibição de prestação de

serviços aplica-se também às sociedades de revisores oficiais de

contas, aos respectivos sócios e, ainda, às pessoas colectivas que

integrem a rede a que a sociedade de revisores pertença.

A Comissão da UE constata que a crescente volatilidade da

capitalização bolsista deu origem a riscos de responsabilidade muito

mais elevados para os revisores oficiais de contas e as sociedades

de revisores oficiais de contas que realizam a auditoria das contas

das empresas cotadas. Paralelamente, o acesso aos seguros contra

estes riscos tornou-se mais limitado. A Comissão considera que esta

situação pode dissuadir os auditores de entrar no mercado

internacional da auditoria das empresas cotadas na Comunidade e

diminuir as perspectivas de que surjam novos intervenientes neste

sector.

4. Incompatibilidadese impedimentos como ameaçasà independênciaO Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (EOROC),

aprovado pelo Decreto-Lei nº 487/99, de 16 de Novembro e

republicado pelo Decreto-Lei nº224/2008 de 20 de Novembro,

apresenta uma série de incompatibilidades e impedimentos que o

revisor deverá ter sempre presentes por forma a manter a sua

independência.

4.1 TIPOS DE INCOMPATIBILIDADES

Tendo por base os Estatutos da OROC, as incompatibilidades foram

agrupadas em incompatibilidades em geral, específicas, absolutas

e relativas. Cada vez mais, assiste-se a uma maior preocupação da

evidência, por parte do revisor, de que não existem incompatibilidades

quando o mesmo se encontra num determinado cargo, como seja

membro do Conselho Fiscal de uma Sociedade. Verifica-se já que

alguns dos Conselhos Fiscais de empresas da nossa praça11, possuem

um regulamento do Conselho Fiscal onde é já exigido aos membros

do Conselho Fiscal uma declaração de independência e mesmo uma

declaração da inexistência de incompatibilidades.

4.2 EXISTÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADES

Nas situações em que se verifique a existência de qualquer um dos

tipos de incompatibilidades descritos acima, entre as funções

previstas no Estatuto da OROC e outras que o revisor oficial de

contas pretenda prosseguir, deve o mesmo cessar as funções de

revisor oficial de contas, requerendo a suspensão de exercício ou o

cancelamento de inscrição, consoante o caso.

4.3 IMPEDIMENTOS

Os impedimentos estão estreitamente ligados com as questões de

independência, pelo que desta forma os revisores oficiais de contas,

incluindo os sócios de sociedade de revisores seus representantes

no exercício dessas funções, que nos últimos três anos tenham

exercido funções de revisão legal das contas em empresa ou outra

entidade não podem nela exercer funções de membros dos seus

órgãos de administração ou gerência. A inobservância desta regra

implica a nulidade da eleição ou designação para o correspondente

cargo e a punição com pena não inferior à de multa. Também os

revisores oficiais de contas ou as sociedades de revisores que exerçam

funções em entidades de interesse público estão impedidos de

contratar colaboradores dessas entidades, durante o período do

mandato e até três anos após a sua cessação.

Os revisores oficiais de contas e os sócios de sociedades de revisores

que exerçam funções em entidades de interesse público estão

impedidos de celebrar contratos de trabalho com essas sociedades

ou nelas exercer funções de membros dos seus órgãos de

administração, gestão, direcção ou gerência, durante o período do

mandato e até três anos após a sua cessação. A inobservância desta

regra implica a punição com pena não inferior à de multa.

4.4 SANÇÕES

A Lei nº 36/2008 de 4 de Agosto refere o sentido e extensão da

autorização legislativa quanto às regras gerais, de natureza

substantiva e processual, adequadas a garantir o respeito pelas

normas legais e regulamentares que disciplinam a actividade de

auditoria. Desta forma, no uso da autorização legislativa conferida

também por esta Lei, pode o Governo definir como contra-ordenação

punível entre 10 000 e 50 000 a violação dos deveres de

independência ou de segredo dos revisores oficiais de contas e das

sociedades de revisores oficiais de contas relativos à preparação e

emissão de certificação legal de contas entre outros.

AUDITORIA

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Isabel Barrote / REVISOR OFICIAL DE CONTAS

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AUDITORIA

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5. A independência no controlode qualidade

No que concerne ao controlo de qualidade, a 8ª Directiva manifesta

uma particular preocupação em assegurar a sua independência, seja

impondo que a organização, recursos e financiamento do mesmo

sejam isentos de qualquer eventual influência indevida por parte

dos revisores oficiais de contas, seja sujeitando-o à supervisão

pública por parte do Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria

(CNSA).

Assim, estabeleceu-se que os revisores oficiais de contas estão

sujeitos a controlo de qualidade, o qual será exercido pela Ordem,

sob a supervisão do CNSA, em conformidade com o respectivo

regulamento e com as normas comunitárias aplicáveis. No caso das

actividades relativas a funções de interesse público, o controlo de

qualidade deve ser exercido de acordo com um plano anual, sendo

ainda submetidos a controlo, por deliberação do conselho directivo,

os revisores oficiais de contas e as sociedades de revisores que, no

exercício da sua actividade profissional revelem manifesta

desadequação dos meios humanos e materiais utilizados, face ao

volume dos serviços prestados e/ou apresentem fortes indícios de

incumprimento de normas legais ou de regulamentos ou normas

de auditoria em vigor, nomeadamente, sempre que os honorários

praticados pelos revisores oficiais de contas sejam significativamente

inferiores aos que resultariam da aplicação dos critérios estabelecidos

pelo artigo 60.º do Estatuto da OROC. No caso do controlo de

qualidade relativamente a funções dos revisores que não sejam de

interesse público, com exclusão do exercício da docência, este centra-

-se na verificação do cumprimento da lei e dos regulamentos

aprovados pela Ordem.

6. Requisitos do trabalhodo revisor considerando o temada independência

Para uma análise mais precisa dos diversos aspectos a considerar

no que diz respeito ao tema da independência considerámos os

seguintes requisitos, de forma faseada ao longo do trabalho:

· Requisitos comuns no decurso do trabalho

· Requisitos na fase de planeamento

· Requisitos na fase de execução do plano

· Requisitos na fase de finalização do trabalho e formação da opinião

· Requisitos do revisor responsável pela revisão da qualidade

Para que o objectivo final da revisão seja atingido, é fundamental

que o revisor efectue um apropriado planeamento12, no qual terá

que ser incluída, obrigatoriamente, a avaliação da independência

através de detecção de ameaças à mesma.

6.1 REQUISITOS COMUNS NO DECURSO DO TRABALHO

Na Norma Internacional Sobre Controlo de Qualidade 1 (ISQC 1)–

“Controlo de qualidade para firmas que executem auditorias e exames

simplificados de informação financeira histórica, e outros trabalhos

de garantia de fiabilidade e de serviços relacionados” é referido que

as políticas e procedimentos definidos devem exigir que: (i) os sócios

responsáveis pelo trabalho prestem à firma informação relevante

acerca dos trabalhos de clientes, incluindo o âmbito dos serviços, de

forma a habilitar a firma a avaliar o impacto total, se o houver, sobre

os requisitos de independência; (ii) o pessoal notifique prontamente

a firma das circunstâncias e relacionamentos que criem uma ameaça

à independência afim de que possa ser tomada acção apropriada;

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DADOS ESTATÍSTICOS

Confirmação de independência

Numa Instituição, em que os colaboradores declararam terconhecimento das normas relativas a sigilo profissional (art. 72º doDecreto Lei nº 487 /99, de 8 de Novembro e art. 8º do Código de Éticae Deontologia Profissional dos Revisores Oficiais de Contas). Cerca de15% dos auditores registados afirmaram que os seus colaboradoresnão emitem qualquer declaração onde confirmem ter conhecimentodas regras relativas a sigilo profissional, contrariando o disposto noparágrafo 23 da norma ISQC1, segundo o qual, pelo menos anualmente,o auditor deve obter dos seus colaboradores, confirmação escrita deconformidade com as políticas e procedimentos sobre a independência.

Atente-se que, nos termos da alínea b) do nº 4 do art. 22º da Directiva2006/43/CE de 17 de Maio, o auditor deverá instituir alguma práticade registo, nos documentos de trabalho, das ameaças importantesque possam comprometer a sua independência, bem como das medidasde salvaguarda aplicadas para limitar esses riscos, as quais apenaspodem ser bem identificadas se o auditor tiver pleno conhecimentodas mesmas.

Fonte: Resultados do Inquérito “Organização e Meios para a prestação de serviçosde auditoria” de 30 de Março de 2007 da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários(Questionário de verificação da manutenção das condições de registo do Auditor naCMVM).

Com a transposição para a ordem jurídica interna da Directiva n.º

2006/43/CE através do Decreto-Lei nº224/08 de 20 de Novembro,

passa também a impor-se a título de requisito de independência,

a rotação do sócio responsável pela orientação ou execução da

revisão legal de contas (desenvolvido no ponto 7.1). Estabelece-se

também o dever de elaboração e divulgação de um relatório de

transparência pelos revisores oficiais de contas e sociedades de

revisores oficiais de contas e sujeita-se os mesmos a um controlo

de qualidade mais frequente – em cada três anos.

6.2 REQUISITOS NA FASE DE PLANEAMENTO

Como actividades preliminares ao desenvolvimento do trabalho de

auditoria, o auditor deve no início de cada trabalho desenvolver

procedimentos por forma a aferir a continuidade da relação com o

seu cliente e/ou trabalho em termos de risco, avaliar o cumprimento

com requisitos éticos incluindo a independência e estabelecer uma

compreensão dos termos do trabalho. As considerações do auditor

relativamente à continuidade e requisitos éticos, incluindo a

independência ocorre durante a elaboração do trabalho, tendo em

conta as condições e alterações das circunstâncias e a avaliação de

que se as alterações ocorridas desde a última confirmação podem

ou não afectar a independência da firma.

De acordo com a ISA 220.12 - Controlo de qualidade para auditorias

de informação financeira histórica, o sócio responsável pelo trabalho

deve chegar a uma conclusão sobre a conformidade com os requisitos

de independência que se aplicam ao trabalho de auditoria. Ao fazê-

lo, o sócio responsável pelo trabalho deve:

a) Obter informação relevante da firma e, quando aplicável, das

firmas da rede, para avaliar circunstâncias e relacionamentos que

criem ameaças à independência;

b) Avaliar informação sobre quebras identificadas, e caso existam,

das políticas e procedimentos de independência da firma para

determinar se elas criam uma ameaça à independência do trabalho

de auditoria;

c) Tomar acção apropriada para eliminar tais ameaças ou reduzi-las

a um nível aceitável ao aplicar salvaguardas. O sócio responsável

pelo trabalho deve relatar imediatamente à firma qualquer falha

para resolver a questão através de acção apropriada; e

d) Documentar as conclusões sobre independência e quaisquer

debates relevantes com a firma que suportem estas conclusões.

O revisor/auditor pode identificar uma ameaça à independência,

com referência ao trabalho de auditoria, pelo que as salvaguardas

podem não ser suficientes para a eliminar ou reduzir a um nível

aceitável. Nesse caso, o revisor efectua consultas dentro da firma

para tomar acção apropriada, que pode incluir eliminar a actividade

ou interesse que cria a ameaça ou retirar-se do trabalho de auditoria.

Tal discussão e conclusões devem ser documentadas. O revisor deve

sentir-se satisfeito com a documentação de consultas sobre

independência, e com o registo do racional, para as conclusões

atingidas deixando disso evidência no planeamento global da

auditoria, bem como na documentação das conclusões e/ou de

quaisquer matérias críticas, de forma tempestiva.

Quando o revisor/auditor trabalha em equipa, deve proporcionar-

lhe formação, por forma a que os elementos da equipa possam, eles

próprios, avaliar o cumprimento das regras de independência de

acordo com a política definida e quaisquer requisitos éticos adicionais

que se apliquem ao cliente em referência, devendo este documentar

se se encontra, ou não satisfeito com a avaliação efectuada.

Adicionalmente, com vista à avaliação da independência no processo

de aceitação ou continuação do cliente e também durante a fase de

planeamento, os elementos da equipa de auditoria deverão: (i)

auxiliar, no momento da aceitação/continuidade da relação com o

cliente e também antes do início do trabalho de auditoria a avaliar

ameaças à independência e a identificar as respectivas salvaguardas,

bem como a avaliar o cumprimento com a política de independência.

AUDITORIA

25

Isabel Barrote / REVISOR OFICIAL DE CONTAS

(iii) a comunicação de informação relevante ao pessoal apropriado

seja efectuada afim de que se possa rapidamente determinar se

satisfazem os requisitos de independência; (iv) se possa actualizar

os registos relativamente à independência; e (v) a firma possa tomar

acções apropriadas com respeito a ameaças à independência

identificadas. A firma deve estabelecer políticas e procedimentos

que lhe proporcionem segurança razoável de que seja notificada de

quebras de requisitos de independência, e a habilitem a tomar acções

apropriadas para resolver tais situações.

Uma firma que receba informação de uma quebra de políticas e

procedimentos de independência comunica prontamente informação

relevante aos sócios responsáveis pelo trabalho, a outros sócios e

colaboradores da firma, como se considerar apropriado e, quando

aplicável, a peritos contratados e ao pessoal da firma da rede, para

acção apropriada. A acção apropriada pela firma e pelo sócio

responsável pelo trabalho inclui a aplicação de salvaguardas

apropriadas para eliminar as ameaças à independência ou para

reduzi-las a um nível aceitável, ou a retirada do trabalho.

Adicionalmente, a firma deve proporcionar formação de

independência ao pessoal que se exige que seja independente.

No mínimo anualmente, a firma deve obter confirmação escrita de

conformidade com as políticas e procedimentos sobre a

independência de todo o pessoal da firma que se exige que seja

independente pelo Código da IFAC e por requisitos éticos nacionais.

A confirmação por escrito pode ser em papel ou em forma electrónica.

Ao obter confirmação e ao tomar acção apropriada sobre a informação

de não cumprimento, a firma demonstra a importância que dá à

independência e torna a questão corrente e visível ao seu pessoal.

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O responsável do trabalho de campo deverá preparar o sumário das

considerações de independência; (ii) nos casos de uma

revisão/auditoria com multi-localizações e deverão ser emitidas

instruções relativas à independência para outros escritórios,

sociedades ou equipas, conforme apropriado; e (iii) dever-se-á verificar

as questões de rotação do pessoal e constituir novas equipas caso

se verifique essa ameaça.

6.3 REQUISITOS NA FASE DE EXECUÇÃO DO PLANO

Durante o trabalho de revisão/auditoria, o revisor/auditor deverá

estar atento a qualquer alteração nas circunstâncias relacionadas

com independência, com o objectivo de cumprir com os requisitos

de independência, nomeadamente:

· formar uma conclusão em novas matérias que possam criar ameaças

à independência, actualizar o sumário de considerações sobre

independência e discutir o assunto com os encarregados de

governação;

· manter-se alerta durante o trabalho de auditoria para ajudar a

identificar alterações nas circunstâncias que possam criar ameaças

à independência e comunicar as matérias identificadas ao revisor

de uma forma tempestiva; e

· confirmar que os trabalhos de auditoria e serviços relacionados

foram previamente aprovados pelo comité de auditoria ou órgão de

governação equivalente, quando tal é requerido pelo regulador ou

por requisitos do cliente.

O revisor/auditor responsável pela auditoria a um grupo de empresas

deverá considerar todos os pedidos recebidos para a prestação de

serviços fora do âmbito da auditoria, de modo a apurar o impacto

no seu trabalho e a estabelecer a resposta atempada aos requisitos

de independência aplicáveis nas circunstâncias. Em resumo, o

revisor/auditor deverá munir-se de meios que o mantenham

informado e actualizado sobre eventuais alterações na estrutura do

grupo dos seus clientes.

6.4 REQUISITOS NA FASE DE FINALIZAÇÃODO TRABALHO E FORMAÇÃO DA OPINIÃO

Com vista ao cumprimento dos requisitos de independência na fase

de finalização do trabalho, o responsável do trabalho de campo

deverá:

· verificar se os serviços de auditoria e fora do âmbito de auditoria

foram pré-aprovados pelo comité de auditoria ou órgão equivalente

de gestão, quando requerido pelo regulador ou requisitos do cliente;

· actualizar o sumário de considerações de independência em novas

matérias que possam criar ameaças à independência e obter

aprovação pelo revisor; e

· manter o revisor/auditor do trabalho informado sobre questões de

independência assim que sejam detectadas.

Todos estes pontos devem ser documentados. O revisor deve apreciar

e actuar no sentido de assegurar que se sente satisfeito com a

documentação de consulta sobre independência e, com o registo

do racional, para as conclusões atingidas deixando disso evidência

no fecho do trabalho, bem como na documentação das conclusões

e/ou de quaisquer matérias críticas.

6.5. REQUISITOS DO REVISOR RESPONSÁVEL PELAREVISÃO DA QUALIDADE

Nos clientes em que se decida a necessidade da existência de um

revisor responsável pela revisão da qualidade, deve-se ter em

consideração o ISQC 1, o qual requer que a objectividade do revisor

responsável pela revisão da qualidade seja mantida. Assim este

revisor não poderá ser escolhido pelo responsável do trabalho e não

participará de qualquer outra forma no trabalho nem em trabalhos

de outras empresas do grupo. Mesmo que exista em alguma situação

um contacto com o cliente, o revisor responsável pela revisão da

qualidade deverá manter a sua capacidade para permanecer

independente do trabalho e efectuar as suas avaliações com

objectividade. Este deve rever a documentação relativa às

considerações de independência do cliente em causa e concluir

sobre as situações que se afigurarem importantes por forma a sentir-

se satisfeito com as conclusões atingidas e com as salvaguardas

implementadas para reduzir eventuais ameaças a um nível aceitável.

As considerações de independência do revisor responsável pela

revisão da qualidade devem ser obtidas suficientemente cedo no

processo por forma a permitir que matérias significativas, relacionadas

com questões de independência, possam ser tratadas de forma

apropriada e atempada. A independência não é apenas uma

consideração de um momento, requer apreciação contínua pelo

responsável do trabalho e da equipa ao longo do trabalho. O revisor

responsável pela revisão da qualidade pode considerar útil o seu

entendimento sobre o processo levado a cabo pela equipa de trabalho

para identificar ameaças à independência e tomar acções correctivas

ou as salvaguardas adequadas de uma forma atempada. Deverá

ainda, discutir com o responsável do trabalho em momentos chave

durante o processo de auditoria, (i.e. pelo menos no planeamento

e na finalização do trabalho e mais frequentemente se este assim

o considerar necessário) e sempre que novas matérias surjam após

a consideração inicial de independência. A finalidade destas

discussões é obter a satisfação das conclusões retiradas nas questões

de independência, à luz de novas ameaças identificadas.

AUDITORIA

26

“ (...) A independência não é apenasuma consideração de um momento,requer apreciação contínua peloresponsável do trabalho e da equipaao longo do trabalho. (...)”

7. Discussão de questõesde independência com diferentestratamentosAs Directivas emitidas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho e

as recomendações emitidas pela Comissão, conduziram a reflexos

positivos no tratamento dos aspectos relacionados com a

independência do revisor/auditor em consequência do esforço que

tem vindo a ser efectuado na UE com vista à harmonização de

práticas e melhoria da qualidade dos trabalhos de auditoria.

Assim, com este enquadramento apresenta-se de seguida alguns

dos aspectos mais relevantes da garantia da independência dos

revisores, considerando soluções discutidas internacionalmente,

como a rotação do auditor; a constituição de uma comissão de

auditoria nas entidades de interesse público (responsável pela

selecção, remuneração e destituição do auditor); e a regulação das

relações entre o auditor e a sociedade auditada, em especial no que

respeita à prestação de serviços fora do âmbito da auditoria.

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7.1 A ROTAÇÃO DOS AUDITORES

Com o Sarbanes-Oxly Act em 2002 nos EUA pretendeu-se responder

aos riscos de ameaça à independência dos auditores: por familiaridade

no caso da rotação do auditor, e por auto-revisão na situação da

prestação em simultâneo de outros serviços aos clientes de auditoria.

A opção tomada foi a de estabelecer a rotação obrigatória do Sócio

Responsável pela auditoria de 5 em 5 anos, de acordo com o constante

no Relatório Blue Ribbon13, e a de prescrever uma lista de serviços,

cuja prestação simultânea a clientes de auditoria cotados é proibida.

Já na União Europeia (UE), a Recomendação da Comissão Europeia

sobre a independência dos auditores apontava a rotação dos sócios

responsáveis num prazo de sete anos, obrigação esta que viria a

manter-se no n.º 2 do artigo 42.º da Directiva relativa à revisão legal

de contas, contrariando assim a proposta da Comissão Europeia,

que apresentava como alternativa a rotação do sócio responsável

pela auditoria de cinco em cinco anos ou a rotação da sociedade de

auditoria de sete em sete anos, tendo ainda beneficiado da

observação da experiência americana o que deu origem à Directiva

nº 2006/43/CE de Maio de 200614.

Nestas circunstâncias, em Portugal, a rotação dos auditores deverá

ser efectuada, para as entidades de interesse público, pelo sócio

responsável pela orientação ou execução directa da revisão legal de

contas, após sete anos a contar da sua designação, no entanto

poderá ser novamente designado passados dois anos15.

A questão da rotação do auditor está particularmente ligada a uma

ameaça à independência denominada familiaridade. Esta ameaça

resulta do relacionamento e da confiança estabelecida entre o auditor

e as pessoas chave da entidade auditada e poder-se-á traduzir na

aceitação de explicações da entidade, por parte do auditor, sem

proceder às devidas corroborações da mesma, diminuindo o seu

espírito crítico de forma a evitar o confronto com a entidade e pessoas

com as quais já mantém um certo relacionamento. A rotação de

pessoal é normalmente cumprida de uma forma automática através

de promoções ou da rotação do pessoal; no entanto, relativamente

ao responsável máximo do trabalho, estes são menos susceptíveis

de alterações, a menos que exista uma política da firma16 a requerer

a sua rotação. Adicionalmente é possível reduzir, até certo ponto17,

a cumplicidade que naturalmente se desenvolve em relações

contínuas e introduzir um certo efeito dissuasor através do controlo

do trabalho de cada sócio responsável pelo sócio que o sucede. Pode-

se no entanto continuar a enfrentar questões como a rotina na

revisão das contas, a antecipação de resultados e a auto-revisão.

Assim, aparentemente a solução mais completa passa pela obrigação

de rotação das sociedades de auditoria, na medida em que, neste

caso, se assiste apenas à mera rotação do sócio responsável da

sociedade de auditoria podendo o novo sócio não denunciar

irregularidades cometidas pelo seu colega, colocando assim em risco

a reputação do seu cliente, da sociedade de auditoria e o seu próprio

interesse na mesma.

A título ilustrativo apresenta-se de seguida os resultados do inquérito

efectuado pela CMVM relativamente à rotação de sócios:

DADOS ESTATÍSTICOS:

Rotação de sócios das SROC nos dossiers que estes acompanham

Apenas 30% dos auditores têm uma política de rotação de sócios nosdossiers. Releve-se que o nº 2 do art. 42º da Directiva 2006/43/CE, de17 de Maio, refere expressamente que os sócios responsáveis pelasfunções de revisão legal de contas de entidades de interesse público,deverão ser sujeitos a rotação no prazo máximo de sete anos, a contarda data da designação, devendo os Estados-Membros exigir asubstituição do sócio responsável pela função de revisão que trabalhecom a entidade examinada.

Fonte: Resultados do Inquérito “Organização e Meios para a prestação de serviçosde auditoria” de 30 de Março de 2007 da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários(Questionário de verificação da manutenção das condições de registo do Auditor naCMVM).

AUDITORIA

27

Isabel Barrote / REVISOR OFICIAL DE CONTAS

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7.2 AS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS PELOS AUDITORES

A prestação de serviços de auditoria em simultâneo com outros

serviços é vista como sendo potencialmente geradora de conflitos

de interesse, uma vez que poderá estar associada ao risco de auto-

revisão. O auditor não deverá participar em qualquer processo de

decisão do seu cliente e não poderá auditar as suas contas caso

tenha qualquer relação financeira, empresarial, de trabalho ou de

qualquer outro tipo com o mesmo que possa comprometer a sua

independência, nomeadamente se lhe presta serviços adicionais.

É difícil aferir se esta solução consegue garantir de forma

suficientemente eficaz a independência dos auditores,

nomeadamente quando comparada com soluções mais rígidas como

a de proibição directa de prestação de determinados serviços fora

do âmbito da auditoria simultaneamente com os serviços de auditoria,

tal como consta do Sarbanes Oxley Act.

O EOROC regula a relação entre os auditores e os seus clientes,

considerando que os revisores oficiais de contas: (i) não podem ser

beneficiários de vantagens particulares ou deter quaisquer valores

mobiliários emitidos pelas entidades a quem prestem serviços de

auditoria ou por outras que com ela se encontrem em relação de

domínio ou de grupo, nos termos do art. 21.º CVM; (ii) não podem

exercer funções de administração noutras sociedades; (iii) não

podem exercer função de revisor oficial de contas em sociedades

em que tenham participação no capital social ou cônjuge, parente

ou afim até ao 3.º grau na linha colateral nela exercendo funções de

administração; (iv) não podem prestar serviços que ponham em

causa a sua independência profissional; (v) não podem exercer

função de revisor oficial de contas numa sociedade em que tenham

exercido funções de membro do órgão de administração nos últimos

3 anos. Relativamente a conflitos de interesses, interessa relevar

o Regulamento da CMVM n.º 6/2000, art. 11º que preconiza que os

auditores registados na CMVM18 não podem ser beneficiários de

vantagens particulares ou deter, directamente ou por interposta

pessoa, quaisquer valores mobiliários emitidos pelas entidades a

quem prestem os serviços previstos no art. 8.º do CVM ou por outras

entidades que com elas se encontrarem em relação de domínio ou

de grupo nos termos do art. 21.º do mesmo código.

Outro aspecto abordado tanto pela Directiva relativa à revisão legal

das contas individuais e consolidadas como pelo Sarbanes Oxley Act

é a existência do chamado período de “cooling-off”19, o qual apresenta

diferenças no que respeita à extensão do período, às pessoas

afectadas e, ao conteúdo da proibição. O Sarbanes Oxley Act apresenta

um período de “cooling-off” mais restritivo (um ano), considerando

que as sociedades de auditoria não poderão efectuar uma revisão

legal de contas de um cliente se algum dos seus altos funcionários

tiver colaborado com a sociedade de auditoria e tenha participado,

a qualquer título, na auditoria desse cliente no ano anterior. Por

outro lado, na UE «o revisor oficial de contas ou o sócio principal que

realiza a revisão legal das contas em nome de uma sociedade de

revisores oficiais de contas não pode assumir posições de gestão

fundamentais na entidade examinada durante um período mínimo

de dois anos após a cessação das suas funções enquanto revisor

oficial de contas ou de sócio principal responsável pelo trabalho de

revisão ou auditoria», no entanto, a sua abrangência da limitação

é mais vasta que nos EUA, uma vez que proíbe directamente o

auditor (ou o sócio responsável da sociedade de auditoria) de aceitar

qualquer cargo de gestão importante durante o período estabelecido,

e não veda apenas à sociedade de auditoria a realização da revisão

legal de contas do cliente durante esse período. Este tipo de

divergências acaba por ser relevante se considerarmos os riscos

inerentes à assumpção de um cargo de gestão pelo antigo auditor.

AUDITORIA

28

EXEMPLOS DE AMEAÇAS À INDEPENDÊNCIA EM PERÍODOS DE “COOLING-OFF”:

1. O auditor pode ser persuadido pela promessa de um cargo de gestãopara colaborar em práticas fraudulentas do seu cliente.

2. Um auditor que assuma um importante cargo de gestão no seucliente estará numa posição privilegiada para pressionar a sua antigasociedade para colaborar em futuras práticas fraudulentas.

Tendo em conta os exemplos apresentados, considera-se que a

solução europeia é mais objectiva, uma vez que sendo o sócio

responsável da sociedade de auditoria, quem dirige a revisão legal

de contas da sociedade, é aquele que tem de ser persuadido a não

colaborar com práticas fraudulentas dos seus clientes em troca de

um cargo de gestão. Por outro lado, apenas um ex-sócio de uma

sociedade de auditoria tem capacidade para pressionar a sua antiga

sociedade para colaborar em futuras fraudes do cliente.

7.3 A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FORA DO ÂMBITO DEAUDITORIA

No que diz respeito à prestação em simultâneo de outros serviços

aos clientes de auditoria, o EOROC estabelece no art. 68º-A os

princípios básicos sobre independência, estando previsto um

mecanismo de salvaguardas e descritos os serviços que não podem

ser prestados em simultâneo com os serviços de auditoria a entidades

de interesse público.

Uma das principais causas das fraudes nos Estados Unidos foi o

aumento exponencial dos incentivos dos auditores para colaborar

com os seus clientes ao longo dos anos 90. Até à entrada em vigor

do Sarbanes Oxley Act, assistiu-se a uma tendência crescente para

as sociedades pagarem muito mais por serviços de consultoria do

que por serviços de auditoria20. Verificou-se, assim, um incentivo

para os auditores quererem agradar aos seus clientes, o que afectava

não apenas as sociedades de auditoria, mas também o sócio

responsável pela auditoria, porque a remuneração deste era indexada

ao valor dos serviços de consultoria que conseguisse vender ao seu

cliente de auditoria, e os restantes sócios o pressionavam para

vender esses serviços. Adicionalmente permitiu aos clientes exercer

pressão sobre os seus auditores, ameaçando dispensar os seus

serviços de consultoria, verificando-se a dificuldade prática de

destituição do auditor, na medida em que a legislação norte americana

impõe a divulgação das razões que levaram a essa destituição,

sujeitando assim a sociedade auditada à supervisão das autoridades

e à exposição pública.

Às questões identificadas relativas à vontade de agradar ao cliente

e à pressão inerente21; acrescenta-se o risco de auto-revisão, o qual

até já era considerado nos Estados Unidos e na Europa anteriormente.

A situação de prestação simultânea de serviços de auditoria e fora

do âmbito de auditoria também se verifica em Portugal, onde, de

acordo com um estudo da CMVM, cerca de 50% das receitas das

sociedades de auditoria provêm da prestação de serviços fora do

âmbito da auditoria22. A Consulta Pública da CMVM n.º 02/2009

referente ao Projecto de Regulamento da CMVM - Governo das

Sociedades Cotadas e Projecto de Alteração ao Código do Governo

das Sociedades (Recomendações) que deixou de estar activa a 30

de Setembro de 2009 refere que “as empresas não devem contratar

o auditor para prestar outros serviços para além dos de auditoria»,

o que originou uma discussão significativa entre os revisores. Mais

uma vez se verifica a existência de divergências entre os EUA e a

UE, adoptando os EUA mecanismos mais restritivos, uma vez que

efectuou a proibição expressa de prestação simultânea de serviços

de auditoria e de determinados serviços fora do âmbito da auditoria.

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7.4 A PROBLEMÁTICA DA REMUNERAÇÃO VARIÁVELDAS SOCIEDADES DE AUDITORES E DOS SEUS SÓCIOS

A independência do auditor deve também ser garantida comoindependência económica de um cliente na sua totalidade, ou seja,a percentagem de facturação desse cliente em relação à totalidadeda facturação da empresa de auditoria não deverá ser significativa.Também a venda cruzada de serviços de auditoria e de serviços forado âmbito de auditoria pelos auditores conduz a que as sociedades

AUDITORIA

29

Isabel Barrote / REVISOR OFICIAL DE CONTAS

Por outro lado, na UE (baseado na Directiva relativa à revisão legal

de contas), a proibição de prestação de serviços fora do âmbito da

auditoria diz respeito apenas àqueles que coloquem em causa a

independência do auditor, cabendo a este determinar quando é que

a prestação desses serviços coloca em risco a sua independência.

A Recomendação sobre Independência dos Auditores da Comissão

define como princípio geral explícito que o auditor ao efectuar uma

revisão legal de contas, tem não só de “ser”, mas também de “parecer

ser” independente23. É ainda indicado que sempre que o auditor

preste serviços fora do âmbito da auditoria a um cliente, deve tomar

as medidas necessárias para garantir não só (i) que os colaboradores

que prestam serviços ao cliente não participam em qualquer processo

de decisão do cliente, mas também (ii) a redução de quaisquer riscos

de dependência para um nível aceitável.

A Recomendação inclui ainda uma lista das situações de risco que

devem ser proibidas se não forem verificadas determinadas condições

de salvaguarda da independência24, revelando-se pois uma posição

de proibição (flexível). Mais uma vez a opção escolhida pela UE

parece ser a mais adequada pois, por um lado, inverte o ónus da

prova, impondo ao auditor a prova da sua independência,

consubstanciando assim um incentivo à criação de mecanismos

adequados à manutenção da sua independência. Por outro lado,

permite uma prestação de serviços mais eficiente, pois permite ao

auditor usar o conhecimento e informação recolhida na prestação

de serviços fora do âmbito de auditoria, sempre que isso não afecte

a sua independência (ou aparência de independência), sendo no

entanto uma posição cautelosa na medida em que é baseada num

sistema de princípios gerais (e não numa proibição expressa) e

parece ser mais adequada face à fragilidade da independência do

auditor – causada pela prestação de serviços fora do âmbito da

auditoria – apesar de não reforçar a confiança dos investidores na

profissão em tão larga medida como o Sarbanes Oxley Act.

“ (...) A independência do auditor deve também ser garantida como independênciaeconómica de um cliente na sua totalidade, ou seja, a percentagem de facturaçãodesse cliente em relação à totalidade da facturação da empresa de auditoria nãodeverá ser significativa. (...)”

quais incide e (iii) aos critérios de independência e competência

técnica dos seus membros.

Assim, ao contrário do que sucede no regime norte-americano,

centrado nas sociedades cotadas, as propostas europeias têm tomado

por base as “entidades de interesse público”. Esta diferença é

perfeitamente compreensível atendendo ao facto de na Europa

Continental ser muito menor o recurso à bolsa para financiar a

actividade das empresas. Ficam assim salvaguardados os interesses

das demais sociedades para as quais a criação de um mecanismo

deste género seria excessivamente complexo e oneroso.

de auditoria reduzam os preços da revisão legal de contas paragarantir a preferência dos seus clientes, compensando essa reduçãocom a venda a esses mesmos clientes de serviços fora do âmbitoda auditoria altamente rentáveis. Por outro lado, de acordo comestudos realizados a remuneração dos sócios das sociedades deauditoria é frequentemente determinada pelo volume de serviçosfora do âmbito de auditoria vendidos aos seus clientes de auditoria.

Adicionalmente, a SEC optou por abordar directamente esta questãoe considera que um auditor não é independente do cliente deauditoria se, em qualquer momento durante a prestação de serviços,qualquer sócio receber compensação determinada pela venda de

serviços ou produtos para além dos serviços de auditoria, revisão oucertificação.

Em termos de UE o problema ainda não se encontra resolvido. Apesarde tanto a Recomendação da Comissão Europeia sobre aindependência dos auditores como a Directiva conterem disposiçõessegundo as quais os honorários têm de ser adequados, nãoinfluenciados pela prestação de serviços adicionais ou baseados naverificação de condições, não contém qualquer referência àremuneração dos sócios das sociedades de auditores.A Recomendação da Comissão sobre Independência dos auditoresdefine como regra geral que «a principal forma de um revisor oficialde contas demonstrar ao público que uma revisão legal de contasfoi efectuada de acordo com os princípios25, consiste em agir, emostrar que age, com independência».

Apesar de tudo continuam a subsistir algumas dúvidas, como sejam:(i) se o auditor é mais independente economicamente, pelo factode, ter apenas um cliente e uma auditoria ou ter vários clientes,várias auditorias e vários serviços; (ii) se a independência fica maissalvaguardada se o prejuízo, que a sociedade de auditores viesse asofrer se perdesse o cliente, fosse menor no cômputo geral; e (iii) aforma como se concretiza a independência económica em relaçãoao cliente, se tendo mais clientes e mais serviços ou concentraçãona dependência em clientes e serviços.

7.5 A IMPORTÂNCIA E A CONSTITUIÇÃODAS COMISSÕES DE AUDITORIA

A comissão de auditoria tem sido um dos temas mais discutidostanto nos Estados Unidos como na Europa, no âmbito daindependência dos auditores. A comissão de auditoria, tal comoimplementada nos Estados Unidos, tem origem no Conselho deAdministração das sociedades cotadas sendo formada poradministradores independentes, e é responsável não só pelaorganização dos sistemas de auditoria interna e pela fixação daspolíticas de informação financeira da sociedade, mas também pelaselecção, contratação, comunicação e destituição dos auditoresexternos. Na UE a Comissão Europeia acompanhou esta problemáticae talvez por essa razão, as suas propostas divergem das soluçõesnorte-americanas em diversos aspectos, nomeadamente, asdiferenças mais significativas referem-se (i) aos poderes destacomissão de auditoria, (ii) à determinação das sociedades sobre as

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7.6 AS FUNÇÕES DA COMISSÃO DE AUDITORIA:NOMEAÇÃO, REMUNERAÇÃO E SUPERVISÃODOS AUDITORES

Em termos de funções da comissão de auditoria, o Sarbanes Oxley

Act estabelece que as comissões de auditoria são directamente

responsáveis pela nomeação, remuneração e supervisão dos serviços

prestados por qualquer sociedade de auditoria contratada pelo

emitente para preparar e emitir o relatório de auditoria ou serviços

conexos, e cada sociedade de auditoria deverá responder

directamente perante a comissão de auditoria. Ao nível europeu, a

Directiva relativa à revisão legal de contas seguiu essas indicações,

no entanto a nomeação do auditor é da competência da assembleia

geral de accionistas, sob proposta da comissão de auditoria

(a quem caberia assim a selecção prévia do auditor), seguindo o

estabelecido actualmente na maioria dos Estados-Membros, incluindo

Portugal26. Na maioria dos casos, os auditores nomeados pela

assembleia geral são aqueles que são recomendados pela

administração27, o que não contribui para salvaguardar a

independência dos revisores28. Assim, é positiva a introdução de um

órgão independente que intermedeie as relações entre a sociedade

e o auditor, assumindo responsabilidades próprias29 e dispersando

o risco inerente a qualquer tipo de pressões30.

Relativamente à remuneração dos auditores, o Relatório Winter II

referia que deveria caber à comissão de auditoria a determinação

das “condições da nomeação” dos auditores, nomeadamente, a

remuneração. No entanto, a Directiva relativa à revisão legal de

contas não abordou esta questão, não fazendo qualquer referência

à remuneração, nem sequer às condições da nomeação dos auditores.

Mesmo que os poderes de supervisão e garantia da independência

dos auditores incluam a determinação da remuneração, teria sido

preferível que a Directiva resolvesse logo esta questão (tal como o

Sarbanes Oxley Act resolveu nos Estados Unidos) atribuindo esse

poder à comissão de auditoria31. Em Portugal e em mais alguns

Estados Membros, acaba por ser o órgão de administração, não só

a determinar os honorários dos auditores, mas a desenvolver todos

os contactos negociais com os mesmos. Este sistema permite que

a administração da sociedade (objecto da fiscalização) pressione os

auditores a serem mais complacentes, através da negociação dos

honorários e outras condições contratuais. Esta questão assume

uma relevância acrescida perante a prestação simultânea de serviços

de auditoria e fora do âmbito da auditoria.

7.7 A INDEPENDÊNCIA DOS MEMBROS DA COMISSÃODE AUDITORIA

O Sarbanes Oxley Act requer que todos os membros da comissão de

auditoria sejam independentes, seguindo a auto-regulação das

próprias bolsas nos EUA. Por seu lado, na UE, apenas a maioria dos

membros da comissão de auditoria são independentes, sendo

defendido que esta opção seria mais adequada às estruturas

europeias de administração de sociedades comerciais,

nomeadamente à participação nas mesmas de representantes de

accionistas dominantes e de trabalhadores (nos sistemas de co-

determinação). Também a Directiva relativa à revisão legal de contas,

inclui uma solução ainda menos exigente, uma vez que, nos termos

do art. 41.º n.º 1, apenas um dos membros da comissão de auditoria

deve ser independente32, enquanto que os restantes membros,

podem apenas ser administradores não executivos.

Em termos práticos, considerando a influência dos accionistas

dominantes nos sistemas da Europa Continental, qualquer definição

de independência dos membros da comissão de auditoria tem de

assegurar um espaço de liberdade destes face àquele tipo de

accionistas.

7.8 A COMPETÊNCIA TÉCNICA DOS MEMBROS DACOMISSÃO DE AUDITORIA

A questão dos requisitos de competência técnica dos membros da

comissão de auditoria constituem outro ponto de divergência entre

as soluções norte-americana e europeia. Assim, o Sarbanes Oxley

Act requer33 (de acordo com o esquema comply or explain34) que

todos os membros da comissão de auditoria tenham algumas noções

de contabilidade e que, pelo menos um deles, seja um “perito

contabilista”35.

Por seu lado, na UE a Directiva inclui uma solução ainda menos

exigente, não requerendo sequer que os membros da comissão de

auditoria tenham os tais “conhecimentos básicos de contabilidade”,

nem que um deles seja um perito em contabilidade; requer apenas

que um dos membros da comissão tenha “competência nos domínios

da contabilidade e/ou da revisão ou auditoria” (cf. n.º 1 do artigo

41.º)36.

Efectivamente tornar-se-ia complicado a comissão tomar posição

sobre questões controversas sem ouvir um perito em contabilidade.

Também a solução comply or explain (como a adoptada nos EUA)

introduz a flexibilidade necessária para legitimar o não cumprimento

pelas sociedades que não estão em condições de cumprir, desde

que justifiquem devidamente essa opção. Assim, caberá ao mercado

ajuizar sobre opções da sociedade.

AUDITORIA

30

Page 14: A INDEPENDÊNCIA NO TRABALHO DO AUDITOR E NA … · oficiais de contas e das sociedades de revisores oficiais de contas portugueses, alinhado com o modelo adoptado a nível comunitário

8. ConclusãoPara o mercado de capitais europeu ser atractivo para todos osemitentes e investidores e assegurar um elevado nível de protecçãodos investidores, beneficiando do reconhecimento à escala mundial,a UE promoveu e exigiu a utilização de normas de elevada qualidade,reconhecidas a nível internacional, no que diz respeito aofuncionamento do seu mercado de capitais, com um esforço deharmonização de elevado nível dos requisitos da revisão legal decontas, por via, seja da exigência de aplicação das normasinternacionais de contabilidade, seja, no que se refere aos auditores,da actualização dos requisitos em matéria de formação, seja doreforço dos deveres de ordem deontológica - independência, isenção,confidencialidade, prevenção de conflitos de interesse e outros -seja ainda da criação de estruturas independentes de controlo dequalidade e de supervisão pública.

O revisor/auditor poderá optar por adoptar políticas de independênciae ética baseadas nas emitidas pelo IFAC37 e complementar comregras nacionais ou outras mais exigentes, nomeadamente asemitidas pela SEC38, previstas no Sarbanes Oxley Act e narecomendação da Comissão Europeia de 16 de Maio de 2002 sobrea independência dos auditores. A divulgação do sistema de controlode independência e de ética deverá ser assegurada através denormas escritas, periodicamente actualizadas e disponibilizadas viaintranet a todas as pessoas da firma, sendo efectuadasperiodicamente acções de formação sobre matérias de independênciae ética, com frequência obrigatória.

A independência dos auditores deve pois, ser entendida como aausência de interesse pessoal, auto-revisão, representação,familiaridade ou confiança, intimidação, ou qualquer outracircunstância que reduza a objectividade do auditor no cumprimentodas suas funções. Nos países de estrutura accionista concentrada(como Portugal), a questão da independência dos auditores coloca-se não só face à administração, mas também face aos accionistasdominantes das sociedades auditadas. A independência dos auditoresconstitui, ainda, a garantia mínima da adequada fiscalização dassociedades comerciais, sendo essa fiscalização essencial àmanutenção do equilíbrio do sistema e à protecção dos interessesdos investidores, credores e trabalhadores, bem como, do interessepúblico em geral.

No que concerne à importância da comissão de auditoria, as propostasda Comissão Europeia – reflectidas na Directiva relativa à revisãolegal das contas anuais e consolidadas – divergem das soluçõesnorte americanas em diversos aspectos. As diferenças maissignificativas referem-se (i) aos poderes desta comissão, (ii) à

determinação das sociedades sobre as quais incide a obrigação dasua criação e (iii) aos critérios de independência e competênciatécnica dos seus membros.

Relativamente à fixação da remuneração dos auditores, tambémesta decisão deveria caber à comissão de auditoria, na medida emque a sua fixação pela administração abre a porta a possíveis pressõesao auditor. Quanto à possibilidade de fixação pela assembleia geral,constata-se que na generalidade dos casos esta se limita a aceitaras propostas da administração, pelo que se impõe outra solução.

No tema das relações entre o auditor e o seu cliente, a questão daprestação simultânea de serviços de auditoria e fora do âmbito deauditoria assumiu especial relevância por ter sido apontada comouma das principais causas das fraudes nos Estados Unidos, à medidaque as principais sociedades de auditoria se aperceberam do quanto

podiam beneficiar com a venda cruzada dos seus serviços de

consultoria aos seus clientes de auditoria. Esta situação criou um

incentivo para os auditores quererem agradar aos seus clientes de

auditoria a quem pretendiam vender outros serviços e deu aos

clientes de auditoria um instrumento de pressão sobre os seus

auditores através da ameaça de dispensa dos seus serviços de

consultoria. A estes problemas, soma-se o risco de auto-revisão e

o conflito de interesses inerente à remuneração variável das

sociedades de auditores e dos seus sócios. Este tipo de soluções

remuneratórias com base na regra geral da Recomendação da

Comissão sobre Independência dos auditores, segundo a qual os

auditores têm de “ser” e “parecer ser” independentes deveriam ser

revistas. Assim, não poderá ser considerada independente aquela

sociedade de auditoria cujo sócio responsável pela auditoria seja

remunerado de acordo com os serviços extra auditoria que venda

ao seu cliente de auditoria. Por fim, atendendo aos elevados custos

associados à rotação das sociedades de auditoria e ao facto de não

se poder comprovar os benefícios associados a esta medida, é mais

equilibrado impor apenas a rotação do sócio da sociedade de auditoria

responsável pela revisão das contas. É ainda possível enfrentar

problemas como a rotina na revisão das contas, a antecipação de

resultados e a auto-revisão.

Relativamente ao trabalho a desenvolver pelo revisor/auditor por

forma a identificar o objectivo da independência, este baseia-se em

três aspectos chave: (i) identificar as ameaças à independência do

auditor e analisar a sua significância; (ii) avaliar a efectividade das

potenciais salvaguardas, incluindo restrições; e (iii) determinar o

nível aceitável de risco de independência – o risco de independência

a partir do qual o auditor se encontra comprometido. Utilizando

estes três aspectos chave o revisor/auditor encontra-se em posição

para analisar o custo/benefício dos regulamentos e a considerar os

pontos de vista dos investidores e outros utilizadores.

A independência é definida como mais do que apenas o cumprimento

das regras de independência. A apreciação das questões relacionadas

com a sua independência obriga o auditor a efectuar uma avaliação

pessoal da sua objectividade, para determinar se as pressões e outros

factores comprometem a capacidade de tomar decisões de auditoria

de forma imparcial. Enquanto esta avaliação introspectiva é crítica,

a definição chama também a uma avaliação de como as actividades

e relacionamentos com o cliente de auditoria irão ser apresentados

perante os terceiros; o auditor deverá considerar o racional baseado

em expectativas dos investidores e outros utilizadores bem

informados.

AUDITORIA

31

Isabel Barrote / REVISOR OFICIAL DE CONTAS

“ (...) A independência dos auditoresdeve pois, ser entendida como aausência de interesse pessoal, auto-revisão, representação, familiaridadeou confiança, intimidação, ou qualqueroutra circunstância que reduzaa objectividade do auditor nocumprimento das suas funções. (...)”

Page 15: A INDEPENDÊNCIA NO TRABALHO DO AUDITOR E NA … · oficiais de contas e das sociedades de revisores oficiais de contas portugueses, alinhado com o modelo adoptado a nível comunitário

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Organization of Securities Commissions - October 2002.

1 Por exemplo, sociedades cotadas na bolsa, instituições de crédito obrigadas à revisão

legal das contas, empresas de seguros e resseguros, empresas de investimento, etc.

(ver art.2º do DL nº 225/2008 de 20 de Novembro).2 Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de Novembro e republicado pelo Decreto-

Lei n.º 224/2008, de 20 de Novembro.3 Quarta Directiva 78/660/CEE do Conselho, de 25 de Julho de 1978, art. 54º, nº 3, alínea

g), do Tratado e relativa às contas anuais de certas formas de sociedades. JO L 222, de

14.8.1978, p. 0011-0031; Ver arts. 48.º a 51º.4 Não obstante o art. 51.º n.º 2 desta Directiva prever um regime de isenção que foi

transposto em Portugal para o art. 262.º n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais.5 A fiscalização de sociedades tem sido abordada a nível europeu no âmbito da

harmonização do Direito Europeu das sociedades, sendo um objectivo há muito

proclamado sido renovado no Plano de Acção para os Serviços Financeiros, em 1999,

e nas conclusões do Conselho Europeu de Estocolmo, realizado em 23 e 24 de Março

de 2001. Ver Comissão Europeia – Comunicação: Aplicação de um enquadramento

para os serviços financeiros:Plano de Acção, COM (1999) 323, de 11.5.1999.6 Estes temas vieram a ser abordados apenas na proposta de Quinta Directiva do

Conselho, sobre a estrutura das sociedades abertas e os poderes e obrigações dos seus

órgãos. Com o abandono desta proposta, em 1991, subsistiram as diferenças substanciais

de regime entre os diversos Estados-Membros, situação que, na perspectiva da Comissão

Europeia, não era compatível com as necessidades de um mercado único europeu.7 Conselho de Administração, compreendendo uma Comissão de Auditoria, e Revisor

Oficial de Contas ou Conselho de Administração Executivo, Conselho Geral e de Supervisão

e Revisor Oficial de Contas.8 Conforme nº5 do art. 414º do CSC: considera-se independente a pessoa que não esteja

associada a qualquer grupo de interesses específicos na sociedade nem se encontre

em alguma circunstância susceptível de afectar a sua isenção de análise ou de decisão,

nomeadamente em virtude de ser titular ou actuar em nome ou por conta

de titulares de participação qualificada igual ou superior a 2% do capital social da

sociedade; ou ter sido reeleita por mais de dois mandatos, de forma contínua ou

intercalada.9 Sem inclusão do Revisor Oficial de Contas10 Serviços proibidos:

a) Elaboração de registos contabilísticos e demonstrações financeiras;

b) Concepção e implementação de sistemas de tecnologia de informação no domínio

contabilístico, salvo se essa sociedade assumir a responsabilidade pelo sistema global

de controlo interno ou se o serviço for prestado de acordo com as especificações por

ela definidas;

c) Elaboração de estudos actuariais destinados a registar as suas responsabilidades;

d) Serviços de avaliação de activos ou de responsabilidades financeiras que representem

montantes materialmente relevantes no contexto das demonstrações financeiras e

em que a avaliação envolva um elevado grau de subjectividade;

e) Representação no âmbito da resolução de litígios;

f) Selecção e recrutamento de quadros superiores.11 Nomeadamente em entidades de interesse público.12 Conforme preconizado pela DRA 300, um apropriado planeamento contribui para

que seja prestada devida atenção a áreas importantes da revisão, que potenciais

problemas sejam identificados, que o trabalho seja completado de forma expedita, a

devida atribuição de tarefas aos membros da equipa de revisão e a verificação do seu

trabalho.13 NEW YORK STOCK EXCHANGE - Report and Recommendations of the Blue Ribbon

Committee on Improving the Effectiveness of Corporate Audit Committees)(1999), p.

6-7.14 Vide art. 42º, nº2 da Directiva15 Vide art. 54º do EOROC16 Profissional executor único, uma parceria, sociedade ou outra entidade de contabilistas

profissionais e/ou sociedade de revisores de acordo com a ISQC 1.17 A cumplicidade verificada entre os clientes e os seus auditores não está patente

apenas ao nível do sócio responsável pela auditoria e dos altos funcionários da entidade

auditada. No entanto, é a este nível que se torna mais problemática essa cumplicidade.18 Bem como os revisores oficiais de contas contratados e, no caso de sociedades, os

respectivos sócios.19 Período durante o qual o auditor não pode aceitar um cargo de gestão numa sociedade

que tenha sido sua cliente.20 Vide COFFEE – It’s About the Gatekeepers. De acordo com este autor, as grandes

sociedades norte-americanas normalmente pagavam aos seus auditores três vezes

mais por serviços de consultoria do que por serviços de auditoria.21 Estes riscos foram identificados pela Comissão Europeia como riscos de “interesse

pessoal” e “intimidação”, na Recomendação sobre independência dos auditores.22 Vide PAULO CÂMARA – A Actividade de Auditoria, p. 97. Segundo o estudo referido

AUDITORIA

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por este autor em 2003, os serviços de consultoria representavam então 49,75% no

cômputo global de serviços cobrados a empresas cotadas.23 Esta Recomendação da Comissão foi já acolhida em Portugal pela CMVM,

nomeadamente através do Regulamento n.º 7/2001, sobre o governo das sociedades

cotadas. De acordo com este diploma, deve constar do relatório sobre o governo da

sociedade: (i) a descrição dos serviços for a do âmbito da auditoria prestados pelo

auditor; (ii) a remuneração paga por esses serviços; (iii) a percentagem correspondente

no computo global da remuneração do auditor; e (iv) descrição dos meios de salvaguarda

da independência do auditor que foram implementados. A este regime acresce um

outro de aplicação mais vasta, estabelecido pelo EOROC. De acordo como este diploma,

os revisores oficiais de contas não podem prestar serviços que ponham em causa a sua

independência profissional (Cf. art. 78.º n.º 1 alínea d).24 A lista das situações de risco que devem ser proibidas inclui: (1) a preparação de

registos contabilísticos e demonstrações financeiras; (2) a preparação e implementação

de serviços tecnológicos de informação financeira; (3) os serviços de avaliação; (4) a

participação em auditorias internas do cliente; (5) a actuação por conta do cliente na

resolução de litígios; e (6) o recrutamento de pessoal para altos cargos de gestão.25 Princípios de objectividade, integridade e independência.26 Em Portugal, esta solução que já resultava dos arts. 262.º, n.º 4; 415.º, n.º 1; e 446.º

n.º 1, todos do CSC, antes da reforma de 2006.27 Por sua iniciativa ou por influência dos accionistas dominantes.28 Recomendação da Comissão 2002/590/CEE, de 16 de Maio de 2002, sobre a

independência dos revisores oficiais de contas na UE: Um conjunto de princípios

fundamentais, Secção 4.1.29 Incluindo a responsabilidade civil dos seus membros pelo incumprimento culposo

das suas obrigações, nos termos do art. 81.º do CSC.30 Num sistema como o proposto torna-se mais difícil pressionar o auditor, na medida

em que essa pressão afectará também aos membros da comissão de auditoria,

responsáveis perante a sociedade, sócios e terceiros pelo cumprimento das suas

obrigações. O risco de pressão deixa então de estar concentrado no auditor, passando

a estar disperso por todos os envolvidos no processo de produção e divulgação de

informação financeira da sociedade.31 Na Directiva foram ainda incluídas duas outras normas sobre a remuneração dos

auditores: (1) Nos termos do art. 25.º, os Estados-Membros deverão assegurar a

existência de regras adequadas que prevejam que os honorários relativos às revisões

legais das contas: (a) não sejam influenciados ou determinados pela prestação de

serviços adicionais à entidade objecto de auditoria; (b) não se possam basear em

qualquer forma de condicionalidade. (2) Por outro lado, com vista a proporcionar uma

maior transparência à relação entre o auditor ou a sociedade de auditoria e a entidade

objecto de auditoria, o art. 49.º altera as Directivas 78/660/CEE e 83/349/CEE de modo

a requererem a divulgação dos honorários de auditoria e dos honorários pagos

relativamente a serviços não relacionados com auditoria, nos anexos das contas

individuais e das contas consolidadas.32 Devendo também “ter competência” nos domínios da contabilidade e/ou auditoria.33 Nos termos da Secção 407 do Sarbanes Oxley Act, a SEC tem de adoptar normas

que requeiram a divulgação trimestral e anual de informação sobre se pelo menos um

dos membros da comissão de auditoria é um perito contabilista e, caso não seja, porquê.34 Este esquema traduz-se na exigência de que as sociedades que não possam cumprir

os requisitos impostos por lei justifiquem às autoridades de supervisão porque é que

não o podem fazer, sendo essa informação disponibilizada aos investidores. Esta solução

implica um juízo do mercado sobre as opções dessas sociedades. Caso os investidores

achem que a justificação não é suficiente, a sua opinião acabará por se reflectir no preço

dos valores mobiliários emitidos por essas sociedades.35 A SEC foi também incumbida da definição do termo “perito contabilista”, considerando

se uma pessoa tem a necessária competência através de formação e experiência como

auditor, director financeiro, controller, ou chefe de contabilidade de um emitente ou de

uma posição envolvendo o desenvolvimento ou funções similares.36 Note-se que, nas suas origens, no sistema inglês, o auditor não tinha de possuir

formação contabilística. Assumia-se apenas como um fiduciário dos accionistas,

encarregado de fiscalizar a administração da sociedade, podendo para tanto recorrer

aos serviços de peritos contabilistas (ou outros) por conta da sociedade. Hoje é

comummente aceite que o auditor tem de ser um perito contabilista, mas as

considerações iniciais poderiam valer então para os membros do órgão interno de

fiscalização (art. 13.º Decreto-Lei n.º 49.381, de 15 de Novembro de 1969, sobre o poder

dos membros do conselho fiscal de se fazerem assistir por técnicos ou outros auxiliares).37 International Federation of Accountants38 U. S. Securities and Exchange Commission

AUDITORIA

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Isabel Barrote / REVISOR OFICIAL DE CONTAS