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A indicialidade no contexto pós- mídia Eduardo de Jesus Artigo recebido em: 05/05/2017 Artigo aprovado em: 05/06/2017 DOI10.5433/1984-7939.2017v13n22p13

A indicialidade no contexto pós- mídia · 2020. 1. 13. · Em um primeiro plano, o experimentalismo das vanguardas europeias (Lázlo Moholy-Nagy, Man Ray, Max Ernst e Rodchenko,

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A indicialidade no contexto pós-mídia

Eduardo de Jesus

Artigo recebido em: 05/05/2017Artigo aprovado em: 05/06/2017

DOI10.5433/1984-7939.2017v13n22p13

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A indicialidade no contexto pós-mídia

The indiciality in the post-media context

Eduardo de Jesus*

Resumo: O texto traz um breve histórico da inserção da fotografia no domínio da arte e abre um conjunto de reflexões em torno dos meios e suportes na produção artística contemporânea para refletir sobre a indicialidade na produção fotográfica contemporânea. Para tanto articula questões conceituais e tecnológicas em obras atuais para expandir as formas de pensar a indicialidade da fotografia nos regimes imagéticos contemporâneos.

Palavras-chave: Indicialidade. Fotografia Contemporânea. Arte contemporânea.

Abstract: The text brings a brief history about the insertion of photography in the domain of art and opens a conjunct of reflections around the means and supports in the artistic contemporary production to reflect about the indexiality in the contemporary photographic production. Therefor it articulates conceptual and technological questions in current works to expand the forms of thinking the indexiality of the photography in contemporary imagetic regimes.

Keywords: Indiciality. Contemporary photography. Contemporary art.

* Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

discursos fotográficos, Londrina, v.13, n.22, p.13-30, jan./jul. 2016 | DOI10.5433/1984-7939.2017v13n22p13

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Introdução

Sabemosqueao longodo tempoa fotografia–depoisdetantos pictorialismos e tentativas de construir semelhanças com a pinturaeodesenho–seinseriunasdinâmicaseestratégiasdaarte.Jáépossívelperceberumahistóriadafotografiaedesuasrelaçõescomocircuitodaarteatémesmopelasuapresençacadavezmaisfrequenteemmuseus,coleções,exposiçõesegalerias. Possivelmente, um capítulo dessa história seja a constituição deumDepartamentodeFotografianoMoMA(NovaYork)nadécadade 1940, já que desde aproximadamente 1930 haviam esforçosparaestruturarumacoleçãodefotografia.Ogestodecolecionar,agrupar,escolhereexibirconfiguraumregimelegitimador,típicodosistemadaarteecomafotografianãofoidiferente.Oscuradoresde fotografia do MoMA, ao longo do tempo, constituíram umconjuntoexpressivodeexposiçõesepublicações.Oprimeiro foiEdwardSteichen (1879–1973)queatuouaté1962comocuradordefotografiadoMuseu.SteichenrealizouaimportanteexposiçãoThe family of the man (1955) que itinerou por diversas cidadesamericanaseoutrospaíses,abrindonovossentidosparaexposiçõescompostas essencialmente de fotografias. Posteriormente JohnSzarkowski (1925–2007)atuoucomocuradorentre1962e1991desenvolvendoimportantespublicaçõessobrefotografiaaindahojereconhecidas como Looking at photographs(1973)eMirrors and Windows: American Photography Since 1960(1978).Alémdisso,Szarkowski instituiu a exposição New photography (1980) nocalendáriopermanentedoMoMAsendorealizada,anualmente,atéos dias de hoje1 , revelando novos fotógrafos e artistas ligados ao domíniodafotografia.Aexposiçãofunciona,aindahoje,comoummarcodasexpansõesacionadasnoregimedafotografia. Deoutro lado,oCentrodeArteContemporâneaGeorgesPompidou,emParis,desdesuafundaçãonofimdadécadade1970,

1 As mostras anuais estão disponíveis em: https://www.moma.org/calendar/groups/1?lo-cale=en.

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contou comumdepartamentode fotografia tendoprimeiramenteAlan Sayag como curador, seguido por Peter Galassi, o qual depois dequase30anosnoMoMaassumiuocargonomuseufrancês.Essesforam alguns dos primeiros curadores ligados mais diretamente à fotografia,mas é importante trazer outros nomes que em seustrabalhosdefiniramaspontes,conexõeseavançosdafotografianocontextodaarte. No contexto brasileiro, é fundamental destacar WalterZanini(1925–2013)eFredericoMorais(1936)quecomacuradoriadediversas exposições associadas a textos teóricos, curatoriais ecríticos, assim como na prática docente, possibilitaram a inserção dafotografianoscircuitosmaisamplosemdiálogocomaproduçãoartística. Assim como Harald Szeemann (1933–2005) e PontusHultén (1924–2006), no cenário internacional, que tambémincluíram obras e proposições artísticas que tomavam as linhasdeforçadafotografiaeda imagemcomoelemento intrínsecodaconstituição da produção artística. Integra ainda esse contextohistórico outros circuitos expressivos de uso, apropriação eexpansãodafotografiaemmuitosoutrospaíseseregiõesdomundo,constituindonarrativasespecíficasextremamenteimportantesparaos redimensionamentos da história da arte.

Esses regimes legitimadores que mostramos de forma extremamenteresumida,aolongodotempo,fizeramdafotografiaum rizoma na produção artística contemporânea que em suasramificações assume desde o lugar do registro ou da fotografiavernacularatéoutrasconstruçõesimagéticasformaiseconceituais.A fotografia em sua multiplicidade em vivo contato com asdinâmicascontemporâneasdaimagem.

É no cenário contemporâneo que gostaríamos de refletirsobrealgunspontosem tornoda indicialidadeda fotografiaedesuasdiversasrelaçõescomaarte.Podemoscomeçar tomandoasreflexõesdeBorisGroysemtornodoqueéocontemporâneo:

[…]o contemporâneonaverdade é constituídopeladúvida,hesitação,incerteza,indecisão–pelanecessidadedereflexão

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prolongada, de um adiamento. Queremos postergar nossas decisões e ações para ter mais tempo para análise, reflexãoeconsideração.E issoéexatamenteoqueocontemporâneoé – um período prolongado, potencialmente até infinito, deadiamento. […]A arte contemporânea pode ser vista comoa arte que está envolvida na reconsideração dos projetos modernos(GROYS,2010,p.121).

SeguindoamatrizpropostaporGroys,podemospensarafotografiaemsuasrelaçõescomaarte,comoumredimensionamentodosprojetosmodernosqueseexpandemporoutrosdesdobramentos.Em um primeiro plano, o experimentalismo das vanguardaseuropeias(LázloMoholy-Nagy,ManRay,MaxErnsteRodchenko,entreoutros)eaforçadeStieglitz(1864–1946)edospictorialistas,emoutradireção,nosEstadosUnidos.ComonosmostraJeffWall,logoemseguida, jánadécadade1920,osfotógrafosprecisaramolharparaalémdapintura:

Em 1920, os fotógrafos interessados em arte começaram a desviaraatençãodapintura,atémesmodapinturamoderna,para o vocabulário de seu próprio meio, e para o cinema, para descobrir sua própria natureza, descobrir-se mais uma vez,como a imagem imprevista exigida pela estética moderna(WALL,1995,p.246)2 .

Afotografiacontemporânea,essaquesecolocanocampoda arte, desdobrou imensamente o projeto moderno em torno dessasedeoutraslinhasdeforça,criandonovoslugareserelaçõescom as imagens que nos circundam. Esse contexto permite quea fotografia“tenhaumlugarprivilegiado,emboranãoexclusivo,para repensar seu estatuto, suas funções e modos de presença”

2Traduçãonossade:By1920,photographersinterestedinarthadbeguntolookawayfrom painting, even from modern painting, toward the vernacularof their own medium, and toward the cinema, to discover their own principle of spontaneity, to discover once again themselves, that unanticipated appearance of the picture demanded by modern aesthetics.

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(GONÇALVES, 2016, p. 132).Assim, tomando a fotografia nocontexto da arte contemporânea, percebemos que as práticasassumemumlugarenviesadoehíbrido,quedeumasóvezdiscutemsuaespecificidaderefletindosobreomeioeemoutraspassagensserecolocam alargando cada vezmais as fronteiras e abrangênciasdofotográfico.Umimportantereposicionamentodafotografianacontemporaneidade é justamente acionado pelas novas relaçõesestabelecidasentreasespecificidadesdomeioeaindicialidade.

Rosalind Krauss (1999) parte da obra do artista belgaMarcelBroodthaers(1924-1976)paraesclarecernovasrelaçõesquemostramcomoosdiversosmeiosrearticulamsuasespecificidadesemnovasaproximações.Assumindo,logonoiníciodeseulivroA voyage on the north sea – art in the age of post medium condition (Viagem ao mar do norte – arte na era da condição pós-mídia,Thames&Hudson,1999)adiferençadecompreensãoemrelaçãoàsabordagensligadasaomeio(eàsmediações,queseriaassuntoparaoutrotexto).KrausscolocaespecialmenteadiferençaemrelaçãoàsfechadasformulaçõesdeClementGreenbergquepostulavamaespecificidadedomeiocomoformadeaproximaçãoecompreensãodasobras.Kraussassumeoutradireção.

O filme de Broodthaers The voyage on the north sea (1974)3,pontodepartidadareflexãodeKrauss,partedeumlivroproduzidopelopróprioartistaqueérecriadoemfilmegerandoumasituação intermediária entre ambos os meios, um trânsito entreum e outro. Partindo dessa imbricada relação e para dar conta das inúmerasmisturas,passagenseaproximações,especialmentenasinstalações com uso da imagem em movimento, Krauss chamade “especificidade diferencial” essas formas de tensionamento epassagem entre os meios, conseguindo assim apreender uma sutil ambiguidade típica da era pós-mída. A autora ao aprofundar as reflexões em torno da condição pós-mídia, vem apontando naproduçãoartísticacontemporâneaimportantesparadoxos,tensões

3Disponívelemhttps://www.youtube.com/watch?v=dQPKG1efWGg.Acessoem24desetembro de 2016.

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econtradiçõesquecaracterizamasquestõesdomeioampliandoaconsistênciaeapotênciadesuasabordagensiniciais.Essegestoénitidamente percebido em Two moments in the post medium condition (October 116, 2006) texto que analisa obras de artistas comoChristian Marclay na relação entre cinema e vídeo e posteriormente em Frame by frame (Artforum, setembro, 2012) quandoKraussanalisaFILM(2011)deTacitaDean.AobradeDeanexibidanaTateModern,emLondres,tensionaanoçãodeKraussepossibilitanovasabordagens,maiscomplexas.Kraussafirmaqueapesardapoucaimportânciadomeionaproduçãoartísticacontemporânea,algunsartistas,sãocontraessacondiçãoereafirmamapotênciadomeioscomsuastípicasformasderesistência,queagorapassamacarregar diversas novas perspectivas. FILM aparenta ser a projeção integral da película cinematográfica 35 mm, no entanto trata-sede adesivos que sobrepostos criam essa ilusão, acionando todas asforçasqueassinalamareconfiguraçãodosmeios.ParaKrauss,“Dean, não tomou apenas o filme como suporte técnico, mas opróprio cinema como tema narrativo de sua instalação na Tate Gallery”4(KRAUSS,2012,p.418).

Tomando a questão da especificidade do meio, em suasambivalências como apontadas por Krauss na obra de Dean,podemospensarqueexperimentamosummomentosingularnoqualépossívelempreenderdiversasrelaçõescomosmeiosescapandodesuasespecificidades,seatrelandoaelasoumesmoproblematizandosuaspotênciasereverberações.Estamosemumaerapós-mídianaqual,osmeiosesuasespecificidades,quandofechadasemsi,tempoucaimportâncianaformulaçãogeraldasobras.Afotografiasecolocanessecontextodacondiçãopós-mídiaenãosóassumecomoreinventa diversos procedimentos que possibilitam o uso dos meios emradicaisaproximaçõesepassagens.

Todoessejogoacabaporreacenderacomplexaeinsistentequestãodaindicialidadedafotografia,queKrausstambémacionaao

4Traduçãonossapara:Dean,moreover,madenotonlyfilmas technnical supportbutcinema itself the narrative subject of her instalation in turbine hall.

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analisaraobradeDean.ParaKrauss,assimcomoháumadiferença,apontada por Peirce, entre a imagem fotográfica e a pintura,há uma importante diferença para Tacita Dean, entre a película fotoquímicaeaimagemdigital.Deanacreditaemcerta“naturezaindicial do filme”5 (KRAUSS, 2012, p. 416), problematizandoaindamaisasrelaçõesentrefilmeanalógicoeimagemdigital,quepara a artista seria da ordem do ícone. Tudo isso em uma obra que sintomaticamenterefletesobreocinema,suasespecificidadeseasrelaçõescomasoutrasimagens,provocandonovosposicionamentosnas relações entre os meios e a indicialidade. Em Tacita Dean(2011)aindicialidadedizrespeitoàscaracterísticasfísicasdofilmede apreender o real6,aespecificidadedomeioemmovimentoderesistência.

Para compreender esse jogo dos suportes e meios associados àsnovasformasdeproduçãoecirculaçãodeimagenséimportanteperceberospotentesagenciamentossociotécnicosqueseinstauramnaspassagensanalógico-digital(comonaradicalidadedeDeanea indicialidade do filme analógico), entre muitos outros. Redessociais, novos dispositivos de produção de imagens, conexãogeneralizadaediversasmaneirasdefazercirculardeformamassivaimagensproduzidasincessantementepelosmeiosdecomunicaçãoepornós(mass self communication,comoafirmaCastells(2009)são novos atravessamentos que acabam por reverberar fortemente na ativação de novos processos de subjetivação, individuais e coletivos.Éfundamentalverafotografianamultiplicidadedeseusagenciamentossóciotécnicos,assimcomoconsiderarosprocessosde subjetivação que pilham a produção imagética atual, em umcontextopós-mídianoquala lógicadosmeios se reinventacomfrequência.A ideia é estabelecer uma situaçãomais ambivalente5Traduçãonossade:[...]indexicalnatureoffilm.6NovídeodisponívelnositedaTate,DeanrevelaoprocessodecriaçãodeFILMesuarelaçãocomapelículafotoquímicaeafirma:“Ineedthestuffoffilmasapainterneedsthestuffofpaint”(euprecisodamaterialidadedofilmecomoopintorprecisadamaterialida-dedatinta”.Disponívelem:http://www.tate.org.uk/context-comment/video/tacita-dean--film.ExisteaindaumalongaconferênciadeRosalindKrausssobreaobradeDeanem:https://www.youtube.com/watch?v=vCU9CV7BAAk.

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entre índice e ícone, assim como outros pesquisadores, para compreenderoslugareseestratégiasdafotografiaemsuarelaçãocomaarte.Refletirsobreumacomplexificação,sobreaindicialidadeparaalémdeseusreferentesdiretos.

A circulação, o espetáculo e a imagem ruim

Aforma-imagemqueexperimentamosnacontemporaneidadecom a ampla produção, difusão e circulação parece ir além dasociedadedoespetáculo(DEBORD,1997).Agorasomostambémprodutores,fazemosnossasimagenscorrerememescalaglobaldedistintas maneiras.

Os meios de comunicação contemporâneos e redes comoFacebook,MySpace,YouTube, SecondLife eTwitter dão apopulações globais a possibilidade de apresentar suas fotos,vídeosetextosdeumamaneiraquenãopodeserdistinguidade qualquer trabalho de arte pós-conceitual, incluindo obrasdeartecombaseno tempo.Eissosignificaqueaartecontemporâneatornou-sehojeumapráticaculturalemmassa.[…] Se a sociedade contemporânea é, portanto, ainda umasociedade do espetáculo, então parece ser um espetáculo sem espectadores.(GROYS,2010,p.126).

NessecontextoapontadoporGroysaproxima-sedaquestãodos suportes a própria qualidade da imagem, sob uma nova ótica aindamais complexa, já que nesse contexto o digital domina ocenário audiovisual.Ao mesmo tempo em que, cada vez mais,se faz um alarde da espantosa qualidade das imagens digitais,assistimosumcertodesprezodessaqualidadeemalgumasformasdeprodução,apropriaçãoecirculação.Indodofilmepirataaogifanimado em 256 cores, do filme em baixa resolução doGoogle Play (e,portanto,maisbaratonoserviçodestreaming)àimagemproduzidaporcelular.Semfalaremtodaumacenadeartistas,como

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observaClaireBishop,quevemexplorandoossuportesanalógicos:A fascinação com as mídias analógicas é um ponto departida óbvio para um exame da relação reprimida da artecontemporânea com o digital. Manon de Boer, MatthewBuckingham, Tacita Dean, Rodney Graham, RosalindNashashibi,eFionaTansãoapenasalgunsdosnomesdeumalonga lista de artistas atraídos pelamaterialidade do filme eda fotografia pré-digital. Atualmente, nenhuma exibiçãoestá completa sem alguma forma de tecnologia obsoleta e desajeitada-obarulhosuavedosprojetoresouozumbidodeumrolodefilme8-mmou16-mm.(BISHOP,2015,p.38).

OartigodeBishopaorefletirsobreapresençadodigitalnaproduçãocontemporâneaacabaporacionaraquestãodaprofusãodemeios e a qualidade das imagens que habitam a contemporaneidade. Há uma relação histórica, conceitual e técnica com os meios esuportes, bem como com suas possibilidades de uso para a produção imagética,caracterizandoovigordesseagenciamentosóciotécnico.

AartistaeprofessoradaUniversidadedeBerlimHitoSteyerl(2009)convoca,deformainédita,as imagensruins,paraapartirdelasdesenvolverumareflexãosobreasimagenscontemporâneas,suas formas de produção, circulação e as questões políticasacionadas.Steyerlprimeiramentecaracterizaaimagemruimesuasambiguidades: “imagens ruins são arrastadas pelomundo inteirocomo mercadorias ou suas efígies, como presentes ou recompensas. Elasdisseminamprazerouameaçasdemorte,teoriasconspiratóriasou pirataria, resistência e bestificação” (STEYERL, 2009)7 . A questão dos suportes e da passagem entre eles, especialmente o lugar da película analógica na produção audiovisual, ganha um tom políticonareflexãodeSteyerl,desenvolvidano textoIn Defense of the Poor Image8 , publicado no e-flux Journal. Diferente da 7 Tradução livre de: Poor images are dragged around the globe as commodities or their effigies,asgiftsorasbounty.Theyspreadpleasureordeaththreats,conspiracytheoriesorbootlegs,resistanceorstultification8Publicadopelaprimeiraveznoe-fluxJournalem2009.NoBrasilatraduçãofoipubli-

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indicialidadeligadaàresistênciaquebuscaTacitaDeannadefesada película em FILM, Steyerl vê a película como uma peça noimbricado jogo de poder que emerge da produção simbólica:

A insistência no filme analógico como único meio deimportânciavisualinfluencioumuitosdiscursossobrecinema,dequasetodasasinflexõesideológicas.Nuncaimportouofatodequeessaseconomiasafluentesdaproduçãocinematográficaestivessem(eaindaestejam)firmementeancoradasemsistemasdeculturanacional,emproduçõesdeestúdioscapitalistas,nocultodogênioquasesempremasculinoenaversãooriginal,sendo, por isso,muitas vezes conservadoras em sua própriaestrutura.(STEYERL,2009)9

A reflexão de Steyerl traz alguns dos aspectos maiscontemporâneos da produção e da circulação das imagens, massobretudo coloca uma carga política e social no centro do debate, enfatizando os jogos de poder ligados à produção de imagens.As ambiguidades e paradoxosda imagempermanecem,mas sãoamplificados pela força das novas formas do capitalismo que secoloca frequentemente nas tramas do estético e do artístico10 . Alémdisso, os desenvolvimentos tecnológicos ligados à internetprovocaram um reposicionamento brutal nas formas de distribuição. Primeiramente com as plataformas de exibição de vídeo comoo Youtube, DailyMotion e Vimeo, entre outros, associados aos compartilhamentos nas diversas redes sociais que ampliaram e rearticularamapaisagemimagéticacontemporânea.cadonaRevistaSerrote(número9,2015).Aquimerefiroaotextoeminglês.9Traduçãolivrede:Theinsistenceuponanalogfilmasthesolemediumofvisualimpor-tance resounded throughout discourses on cinema, almost regardless of their ideological inflection.Itnevermatteredthatthesehigh-endeconomiesoffilmproductionwere(andstillare)firmlyanchoredinsystemsofnationalculture,capitaliststudioproduction,thecult of mostly male genius, and the original version, and thus are often conservative in their very structure.10Atualmentesãodiversososnomesquetentamdefinirasformasmaiscontemporâneasdocapitalismo,entreelaschamaatenção“capitalismoestético”,desenvolvidoporGillesLipovetskyeJeanSerroy(2015),espéciedemanualdeinstruçõesambíguoentrerevelarecriticaromododeoperaçãodocapitalismocontemporâneo.

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Logo em seguida serviços de vídeo streaming, como a Netflix, estão ampliando ainda mais as formas de acesso a produção audiovisual,mas aomesmo tempo inaugurandonovas e inéditasformas de controle, visibilidade e segmentação de mercado. Assim comoSteyerl(2009),épossívelperceberqueacirculaçãodeobrasraras do cinema experimental ou da videoarte que reaparecemnos circuitos imagéticos como imagens ruins sinalizam diversosaspectos.Paraaautoratudoisso“revelatambémascondiçõesdesuamarginalização,aconstelaçãodasforçassociaisqueaslevaramacircularcomoimagemruimnainternet”11 porque perderam seu valorna“sociedadedeclassedasimagens”.Asimagensruinsservemtantoàsforçasdocapitalquantoaosgestosmaisexperimentais–paradoxotípicodasimagensnacontemporaneidade.

Toda essa enorme mudança nos modos de produção e circulaçãodeimagenssetraduznacentralidadequeelasalcançamcada vez mais na vida social fazendo com que, muitas vezeso referente torne-se o próprio processo de midiatização queexperimentamos.Entreummeioeoutro,umcircuitoeoutro,umanarrativaeoutra,umaapropriaçãoeoutra,afotografiaeoprópriodomíniodasimagenstornam-secriadoresdeumrealmidiatizadoque transcende em muito o referente direto e real. O referentepassa a ser um processo, uma relação, uma meada de sentidos comdistintascargashistóricas,sociais,políticaseculturais.Novasoscilações entregeraçõesde imagens espalhadas emumenormenúmerodereproduções.

Uma obra parece sinalizar a intensidade da presençada imagem na vida social. Em 24 hours in photos (24horas emfotos)ErikKesselsdistribuinosespaçosexpositivosmontanhasdeimagens impressas de todas as fotos postadas em determinada rede socialemumdiaqualquer.Otrabalhoéambíguo,etalvezdaívenhasuapotência.Aobra,assimcomootextoqueaapresentanosite,parece enaltecer ao mostrar o volume de imagens que conseguimos

11Traduçãolivrede:italsorevealstheconditionsoftheirmarginalization,theconstella-tion of social forces leading to their online circulation as poor images.

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produzir:Graçasàriquezadossitesdecompartilhamentodeimagenseàdisponibilidadedascâmerasdigitais,omundoestásujeitoaumaavalanchedenovasfotostodososdias.Para“24hoursinphotos”,umúnicodiafoiescolhido,easimagensdesseúnicodiaimpressas.Oresultadoforammontanhasdefotos,quevãodo chão da galeria ao teto12 .

Essa enorme quantidade de fotos assusta. Primeiro pelo caráterefêmerodaimagemquecircula:Arquivosquesemovemdeuma rede à outra e depois podem se perder na enorme profusão de imagens,meiosememórias.Umasucessãode“agoras”imediatos,muitasvezesordinários,umaacumulaçãoemvãodetempopresente,semqualquerfuturo.Umaimagembanalquemuitasvezessóservepara documentar oumarcar a urgência sem densidade do tempopresente.NaobradeKessels(2011)oreferentedecadaumadasimagensparecenãotersentido.Sehouver,seusentidoéoexcesso,o transbordar das imagens pelo espaço, não como referente e marca do real, mas como volume de registros.

Assim como em Kessels observamos outras obras quevamoscomentaraseguir,queampliam,complexificameexpandemanoçãodereferente,dandoumnovocontextoparaaindicialidadedafotografiacontemporânea.

Outras indicialidades

Ao observar alguns gestos na produção artística contemporânea é possível perceber como há uma tensionamentona indicialidade, provocado pelomodo como fotografia, meio evidasocialseenfrentamcompartilhandoeacionandoumcontextopovoado de imagens. Acreditamos que na indicialidade da fotografiareverberaastramasdaenormequantidadedereferênciasimagéticasqueaolongodotempoexperimentamosemprocessos

12Disponívelemhttp://www.kesselskramer.com/exhibitions/24-hrs-of-photos

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de midiatização cada vez mais avançados que acionam nossasformas de interação.

Vamoselencaralgunsexemplosnosquaisaindicialidadedafotografiapensasobreomeio,aimagemeaoscircuitosdeimagensqueexperimentamos.Essesexemplosoperamcomopontosdeumacartografiamais ampla que delimita esse expansivo conjunto derelaçõeseestratégiasquecaracterizamafotografiacontemporâneaesuasrelaçõescomodomíniomaisampliadodasimagens.

A obra de Pedro Motta vem se tornando um território aberto aos jogos de sentido que a fotografia pode produzir emseusdesdobramentos,apropriaçõeseformasdeinserção.Emsuaúltima exposiçãoEstado da natureza (2016),Câmerasete -CasadaFotografiadeMinasGerais-BeloHorizonte)Mottatensionaasrelaçõescomanaturezaemfotografiasque“sãooresultadodeváriasestratégias:a representaçãodireta,aapresentaçãomateriale a construção ficcional, usualmente combinadas para produzirimagensmisteriosas,degrandeforçaexpressiva”(ROCA,2016).Apesar da força dos trabalhos desta exposiçãomais recente quetraz sofisticadas intervenções nas imagens enfatizando um traçoquase catastrófico da natureza, gostaríamos de retomar a sérieanterior Caixa d´água13 premiada no 14º Salão do Museu de ArteModenadaBahia(2007)epublicadaemseulivroTemprano (Ediçãodoautor,2010).Asériemostraumconjuntode imagensempretoebrancocomrigorosasebemelaboradascomposiçõesformais, mostrando diversos tipos de caixas d´água. Algumassãoalteradasdigitalmentegerandoconstruções impossíveis, comenormescaixasd´águasustentadasporcanosfinosouporapenasumestreitopilar.Aquestãoaquinãoéexatamentemostrarascaixasd´águacomoformaderegistrooudocumentação,masreconhecerum lastro histórico-conceitual das séries produzidas pelo casalBecher (BernhardBecher1931-2007eHillaBecher1934-2015),nadécadade1970.Aindicialidadenãoserefereexatamenteaoreal

13Asérieestádisponívelnositedoartistaem:http://www.pedromotta.net/v1/en/obra/caixa-dagua/.

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que tocou a imagem, mas ao que ela parece comentar se abrindo para outros sentidos, como se na apropriação quase irônica dos Becher,emergisseoíndicedessaimagem.

Outros artistas como Kent Rogowski14 , que expôs noBrasilnaprimeiraediçãodoFestival InternacionaldeFotografiadeBeloHorizonte (FIF), em2013, reconstrói os sentidos dandonovos contornos ao real que tangencia a imagem, como se fosse uma segunda camada que recobre e por isso distorce tudo levando aumnovoestrato.Omeiodeslizaeparecepossibilitaraaçãodeconstruir a imagem a partir de algo, como quebra-cabeças ou capas delivros,queapontamparaarranjossociais,expressosemformassimbólicas quase desgastadas de apreensão dos índices do real. Rugowskiacionaoutrosmodosdeconstruirumaindicialidadequeseexpandeparaalémdaimagemquevemos,noslevandoapensarmaisnaslógicasdasimagensdoquenorealespecificamente.Nãosãoapenaslivrosouquebra-cabeças,masumaconstruçãoimagéticaquerevelaumconjuntodevaloresculturais,padrõese todaumaconstelação de atravessamentos produzidos pelas imagens nasrelaçõescomossujeitos.

Nas duas séries apresentadas no FIF, Rogowski acionourepertórios imagéticos próprios que carregam em si inúmerosprocessosdesignificaçãopelomodocomoseinseremnadinâmicasocial. As capas de livros de auto-ajuda, assim como as frases e imagens de capas de romances sustentados pelo título da sérieEverything I wish I could be(Tudooqueeuqueriaser)acionamalgo muito maior fora da imagem. Diz respeito, sobretudo, aomodo como alguns elementos visuais e textos são recorrentesnessasmensagensdeauto-ajuda,nos fazendodeslocardascapaspara pensar nas formas subjetivas e no lugar desses discursos. Ainda na chave da ironia, Rogowski apresentou a sérieLove = Love(amor=amor)compostaporimagensmontadascompeçasdequebra-cabeças misturando as bucólicas e quase irreais paisagens

14AsérieestádisponívelnositedoFIFem:http://www.fif.art.br/2013/2014/08/29/ke-nt-rogowski/.

Eduardo de Jesus

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com imagens de flores coloridas, ambos padrões típicos dessespassatempos.Os fragmentos de imagens das peçasmudam,masospadrõesdeencaixenãomudamquandoosquebra-cabeçassãofeitospelasmesmasfábricas.EssajocosadescobertadeRugowskipermitiu fundir imagens de forma rudimentar em composiçõessurpreendentes revelando com o gesto os modos como as imagens se tornamclichêsemeras repetições,moldes.A indicialidadedealgumas imagens na contemporaneidade, assim como os quebra-cabeças de Rugowski, não importa mais, mas sim o jogo quepodemosfazercomosmesmosmoldes.

Na mesma edição do Festival a relação entre o meioe a indicialidade apareceu em outros trabalhos que indicavam ainda mais complexidade. Como na série Most Popular of All Time (Mais popular de todos os tempos) apresentada pela duplaMacdonaldStrand (Clare Strand e GordonMacdonald).A duplatomaimagensextremamentepopularesdaculturamidiáticaglobalcomoaquedadepessoasnoWorldTradeCenter,aimagemdeCheGuevara,EinsteincolocandoalínguaparaforaouasmanifestaçõesnaPraçadaPazCelestialnaChinareduzindo-asatraçosempretoe branco. Alguns desses traços trazem números que, como notradicional passatempo, nos permitem ligar os pontos na ordem paraveremergirafiguraquecompletaaimagem.Essasimagensda dupla se referem muito mais aos lugares que passaram a ocupar no imaginário global, do que efetivamente se reduzem ao traçoindicialqueasorganiza.Oíndiceaquiindicaumsuntuosoconjuntoderelaçõesentreimagens,meioseformasdecirculaçãoquelevamanovoscontornosdasrelaçõessociaisepolíticasmediadaspelasimagens,pelasfotografiasquepossibilitaramessaconstrução.

Além de colocarem as imagens na tradicional formaexpositivadocubobrancodagaleria,osartistasdeixamdiversasdas imagens impressas no mesmo papel comum que as cópias emolduradas, ao contrário das impressões em papeis especiais,paraqueopúblico recolha as imagens e possa juntar os pontos,desmanchandoassimasformasmaisrecorrentesdeexposiçãoede

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relação entre visitantes e obras no circuito da arte.

Consideraçõesfinais

Nesses poucos exemplos comentados podemos perceberque o referente oscila dinamicamente entre o real, as outras imagens,osdiversosprocedimentosdeapropriaçãoereferênciaàhistóriadaarteeàsforçasdamidiatização.Umaindicialidadecomnovos contornos, ambivalências e tensões produzida de um ladopelapresençamarcantedasimagensnasmediaçõesdetodaordemnavidasocialedeoutropelamultiplicidadequeafotografiaacionano domínio da arte construindo novos jogos de sentido em tramas cadavezmaiscomplexas.

Trata-se agora de uma nova etapa na qual as imagens operam em direto contato com novas lógicas de produção, circulação, mediaçãoeapropriaçãoinseridasfortementenasdinâmicassociais.Vamosdomemedifundidoemredequesolicitaumsentidoparaa imagemque sempre seorientapara asdinâmicas sociais atéodomíniodaartequepassaa lidarcomnovas relaçõesdesentidoinstauradaspelasimagensemsuasdiversasocorrênciaseusos.

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Eduardo de Jesus

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