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ENCONTRO DA INDÚSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE A INDÚSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

a IndústrIa brasIlEIra no caMInho da sustEntabIlIdadEfiemt.com.br/arquivos/916_cni_parte_1_rio20_web.pdf · privilegiada para lidar com as tarefas e aproveitar as chances decorrentes

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Encontro da IndústrIa para a sustEntabIlIdadE

a IndústrIa brasIlEIra no caMInho da sustEntabIlIdadE

ConFederAÇÃo nACIonAl dA IndústrIA – CnI

PRESIDENTERobson Braga de Andrade

1º VICE-PRESIDENTEPaulo Antonio Skaf

2º VICE-PRESIDENTEAntônio Carlos da Silva

3º VICE-PRESIDENTEFlavio José Cavalcanti de Azevedo

VICE-PRESIDENTESPaulo Gilberto Fernandes TigreAlcantaro CorrêaJosé de Freitas MascarenhasEduardo Eugenio Gouvêa VieiraRodrigo Costa da Rocha LouresRoberto Proença de MacêdoJorge Wicks Côrte Real José Conrado Azevedo SantosMauro Mendes FerreiraLucas Izoton VieiraEduardo Prado de OliveiraAntônio José de Moraes Souza

1º DIRETOR FINANCEIROFrancisco de Assis Benevides Gadelha

2º DIRETOR FINANCEIROJoão Francisco Salomão

3º DIRETOR FINANCEIROSérgio Marcolino Longen

1º DIRETOR SECRETÁRIOPaulo Afonso Ferreira

2º DIRETOR SECRETÁRIOJosé Carlos Lyra de Andrade

3º DIRETOR SECRETÁRIOAntonio Rocha da Silva

DIRETORESAlexandre Herculano Coelho de Souza FurlanOlavo Machado JúniorDenis Roberto BaúEdílson Baldez das NevesJorge Parente Frota JúniorJoaquim Gomes da Costa FilhoEduardo Machado SilvaTelma Lucia de Azevedo GurgelRivaldo Fernandes NevesGlauco José CôrteCarlos Mariani BittencourtRoberto Cavalcanti RibeiroAmaro Sales de AraújoSergio Rogerio de CastroJulio augusto miranda filho

CONSELHO FISCALTITULARESJoão Oliveira de AlbuquerqueJosé da Silva Nogueira FilhoCarlos Salustiano de Sousa Coelho

SUPLENTESCélio Batista AlvesHaroldo Pinto PereiraFrancisco de Sales Alencar

A IndústrIA BrAsIleIrA no CAmInho dA sustentABIlIdAde

BRASíLIA2012

© 2012. CnI – Confederação nacional da IndústriaQualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

CnIConfederação Nacional da Indústria

sedeSetor Bancário NorteQuadra 1 – Bloco CEdifício Roberto Simonsen70040-903 – Brasília – DFTel.: (61) 3317-9000Fax: (61) 3317-9994www.cni.org.br

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C748i

Confederação Nacional da Indústria.

A Indústria Brasileira no Caminho da Sustentabilidade / Confederação Nacional da Indústria. – Brasília : CNI, 2012.

47 p. (Cadernos setoriais Rio +20)

1. Sustentabilidade 2. Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável I. Título II. Série

CDU: 502.14 (063)

LISTA DE FIGURAS

Gráfico 1. Matriz energética brasileira ..................................................................... 21

Gráfico 2. Matriz Eletroenergética Brasileira ........................................................... 21

Gráfico 3. Comparativo da Produção (Cana de Açúcar X Etanol) ......................... 22

Gráfico 4. Previsão de produção nacional de gás natural a partir de recursos descobertos (reservas e contingentes) ................. 23

Gráfico 5. Estoque de carbono (em milhões de ton) .............................................. 24

SUMÁRIO

Apresentação

1 Introdução ............................................................................................................. 11

2 A indústria brasileira frente à agenda da Rio+20 ................................................ 13

2.1 Desenvolvimento sustentável: produção e consumo sustentáveis no eixo das políticas globais ................................. 14

2.2 A questão da governança global ................................................................ 15

3 Desenvolvimento sustentável: oportunidades para a indústria brasileira .......... 19

3.1 Matriz energética, florestas, biodiversidade e água: ativos brasileiros para o desenvolvimento sustentável .............................. 20

3.1.1 A matriz energética brasileira ......................................................... 20

3.1.2 Florestas ......................................................................................... 24

3.1.3 Biodiversidade ................................................................................ 25

3.1.4 Água ............................................................................................... 26

3.2 As oportunidades para a indústria brasileira .............................................. 26

4 O que a indústria precisa para aproveitar as oportunidades? ............................ 35

5 Compromissos do Sistema Indústria com o fomento da produção sustentável ............................................................ 43

Referências ................................................................................................................ 47

APRESENTAçãO

A agenda do desenvolvimento sustentável apresenta grandes desafios e numerosas oportunidades para o Brasil. Dotado de uma indústria diversificada e sofisticada, o país conta com uma combinação de recursos naturais que o coloca em posição privilegiada para lidar com as tarefas e aproveitar as chances decorrentes da sus-tentabilidade. Os desafios à sociedade estão postos também ao setor industrial, que está totalmente engajado em iniciativas conjuntas para a busca de soluções.

A Rio+20 proporciona uma ampla reflexão sobre a estratégia brasileira para lidar com os temas dessa agenda. Os temas “Economia verde no contexto do desen-volvimento sustentável e da erradicação da pobreza” e “Estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável” estão no centro das discussões no Rio de Janeiro. Maior representante do setor industrial brasileiro, a Confederação Nacional da In-dústria (CNI) propõe um conjunto de ideias sobre como desenvolver o Brasil respei-tando o meio ambiente.

A criação de condições que permitam elevar a competitividade da indústria, por meio do aumento da eficiência no uso de recursos e da qualificação na relação com todas as partes interessadas no negócio, é nosso objetivo primeiro. A contínua compatibilização desse objetivo com os requisitos da sustentabilidade é o nosso desafio atual e futuro.

Os esforços devem estar centrados em manter vivo o espírito de negociação e co-operação. A CNI espera que alcancemos a definição de conceitos e mecanismos claros, que promovam o equilíbrio das três dimensões clássicas do desenvolvimen-to sustentável – crescimento econômico, erradicação da pobreza e conservação do meio ambiente –, considerando ainda a dimensão cultural. É fundamental a busca de equilíbrio entre elas, sem sacrificar qualquer uma em detrimento das demais.

As transformações requeridas por um padrão de desenvolvimento sustentável de-pendem de investimentos públicos e privados, sobretudo em inovação e em tecnolo-gias produtivas mais limpas, além de métodos inovadores na gestão dos negócios.

A indústria brasileira já está fazendo o seu papel ao investir em novas tecnologias e aprimorar seus processos produtivos, buscando combinar ganhos de produtividade com geração de empregos e eficiência no uso dos recursos. A segunda parte deste documento é rica em exemplos concretos de tais avanços.

Para aprofundar sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, a indústria preci-sa contar com ambientes regulatórios e institucionais favoráveis às transformações produtivas e aos investimentos requeridos. Este documento apresenta um conjunto de requisitos, no âmbito doméstico e internacional, da transição para modelos mais sustentáveis de produção e consumo. A indústria brasileira tem o firme compromis-so de participar na concretização de tais condições, pois entende que a sustentabi-lidade só será possível se estiver assentada em um estreito diálogo entre governos, empresas e sociedade.

O documento A Indútria Brasileira no Caminho da sustentabilidade é resultado de um abrangente processo de articulação e de reflexão da CNI com federações estaduais de indústria e associações setoriais. O objetivo é apresentar à sociedade brasileira, ao governo e a atores internacionais sua visão atualizada sobre a agenda do desenvolvimento sustentável. Para além das ações de comunicação, os docu-mentos elaborados em parceria com 16 segmentos industriais e os debates que ocorrerão no Rio de Janeiro são o reconhecimento da indústria nacional de que a sustentabilidade é elemento central da estratégia de competitividade do país.

A CNI apresenta, neste documento, um conjunto de posições e compromissos do Sistema Indústria no campo da sustentabilidade. A CNI vai promover o tema da sustentabilidade em suas redes de representação e se engajar, em parceria com os governos e as organizações da sociedade civil, na construção de um ambiente político-institucional que crie as condições para a incorporação dos requisitos de sustentabilidade na economia brasileira.

Dessa forma, contribui na consolidação de uma economia produtiva, competitiva e que estimule o desenvolvimento com respeito ao meio ambiente.

robson Braga de Andrade Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

A Rio+20 oferece oportunidade única para a avaliação dos avanços registrados e dos desafios a serem enfrentados pela comunidade internacional e pelos diferentes países em seus esforços para conciliar desenvolvimento econômico e social com pro-teção ambiental.

Desde a Rio-92, a Confederação Nacional da Indústria – CNI tem buscado estimular o setor industrial a assumir a corresponsabilidade pela gestão sustentável dos recursos naturais, com inovação e eficiência nos processos, visando ao crescimento sustenta-do da economia sob a égide da justiça social e conservação do meio ambiente.

A construção das posições do setor industrial para a Rio+20 é resultado da articu-lação da CNI com associações setoriais e federações estaduais da indústria. Esse processo representou uma oportunidade para atualizar as visões e posições da indús-tria brasileira sobre os desafios do desenvolvimento sustentável, avaliar os avanços alcançados e identificar os obstáculos a enfrentar.

Com base neste processo, a CNI apresenta à sociedade a agenda de contribuição da indústria para o desenvolvimento sustentável. É o momento para dar maior pre-cisão aos conceitos em debate, identificar mecanismos e aperfeiçoar o sistema de governança global.

A segunda seção desse documento apresenta a visão do setor industrial sobre os temas que compõem a agenda da Conferência. A terceira seção apresenta os ati-vos do Brasil e as oportunidades para ao setor industrial decorrentes da agenda de transição. Os desafios dessa nova agenda são portadores de oportunidades para a indústria brasileira e tais oportunidades são destacadas nesta seção do documento. A quarta seção lista os obstáculos a serem vencidos para que a indústria possa dar a sua contribuição.

Por fim, a última seção apresenta as iniciativas em curso no Sistema Indústria para fo-mentar os esforços das empresas brasileiras em direção ao desenvolvimento sustentável.

1 INTRODUçãO

A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE 13

A Rio+20 apresenta inúmeras oportunidades para o Brasil, que tem uma indústria diversificada e sofisticada, além de um relevante parque tecnológico. A indústria bra-sileira reconhece que a agenda de desenvolvimento sustentável com inclusão social e proteção do meio ambiente tem grande poder de transformação sobre as estruturas de produção e consumo mundiais.

Os temas centrais da Conferência – “Economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” e “Estrutura institucional para o desenvolvimen-to sustentável” – têm potencial para fomentar o desenvolvimento da indústria brasileira sustentado no tripé competitividade, inovação e responsabilidade ambiental e social.

Em um contexto marcado pelos impasses nas agendas internacionais, o grande de-safio é manter vivo o espírito de negociação e cooperação que tem gerado, ainda que com muitas dificuldades, compromissos de países desenvolvidos e em desenvolvi-mento no enfrentamento de desafios globais, como a erradicação da pobreza e da miséria, a mitigação da mudança climática etc.

O QUE A INDúSTRIA BRASILEIRA ESPERA DA RIO+20:

• a adoção de conceitos que tenham potencial mobilizador e que reforcem o equilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade;

• o aperfeiçoamento do modelo de governança global dos esforços em direção à sustentabilidade e a implementação efetiva de mecanismos operacionais de financiamento e transferência de tecnologia para países em desenvolvimento;

• o avanço na definição de novas métricas e indicadores de desenvolvimento sustentável, apoiados em bases de informação consistentes e em modelos teóricos compreensivos que abarquem as três dimensões da sustentabilidade.

2 A INDúSTRIA BRASILEIRA FRENTE à AGENDA DA RIO+20

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE14

2.1 Desenvolvimento sustentável: produção e consumo sustentáveis no eixo das políticas globais

A Rio+20 deve avançar no sentido de dotar o conceito da economia verde de conte-údo operacional. Ainda que seu grau de generalidade tenha inegável potencial mobili-zador, sua concepção e utilização devem servir para reafirmar o pacto em torno do de-senvolvimento sustentável nas suas três dimensões: econômico, social e ambiental.

É fundamental a busca de equilíbrio entre os três tipos de objetivos. Nesse sentido, não é aceitável sacrificar qualquer uma das dimensões da sustentabilidade em detrimento das demais, mas, antes, buscar mecanismos e soluções para compatibilizá-los. Em-bora tenha potencial para impulsionar os movimentos em direção ao desenvolvimento, o conceito de economia verde requer qualificações de forma a evitar o risco de pro-mover o desequilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade, produzindo novas normas internacionais tendentes a gerar distorções em termos de competitividade.

Neste caso, poderíamos estar diante de uma abordagem que enfatize limitações ao desenvolvimento, fragilizando o compromisso com a erradicação da pobreza. Isso não interessa ao Brasil, nem à sua indústria. No entanto, mais importante do que um interminável debate conceitual é estabelecer metas e prazos para os compromissos já assumidos e não implementados.

Produção e consumo sustentáveis: referências para a indústria brasileira

O Brasil tem uma imperiosa necessidade de desenvolver e gerar riqueza para incorpo-rar segmentos expressivos de sua população aos benefícios de um mercado de con-sumo de bens industriais. O desenvolvimento nacional impõe, assim, um crescimento dos níveis de produção e de consumo que responda aos objetivos de distribuição de renda prioritários em uma sociedade democrática.

Cabe às empresas criar o progresso econômico e contribuir para a geração de em-pregos e renda de forma responsável e sustentável. A inclusão social de uma grande faixa da população dos países emergentes e em desenvolvimento, até então sem acesso aos mercados de consumo de massa, será um dos principais fatores de dina-mismo da economia global nos anos que seguem.

Esses desafios são portadores de oportunidades para a criação de novos padrões de trabalho e emprego para fazer frente às tecnologias e inovações necessárias. São também um estímulo à absorção de profissões ainda inexistentes, cujo perfil está sendo desenhado pelas novas demandas de produtos, bens e serviços da sociedade contemporânea.

15A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

Para a indústria brasileira, é fundamental a utilização da ideia de produção e con-sumo sustentáveis, nos termos do Processo de Marrakesh1, como referência pro-gramática. Esse conceito se distancia da visão que preconiza a imobilização de recursos naturais, aproximando-se de noções como manejo sustentável e ecoefici-ência, entre outras. Para um país como o Brasil, que dispõe de importantes ativos em recursos naturais, esta distinção é mais do que retórica: é essencial.

2.2 A questão da governança global

Os últimos 20 anos produziram um conjunto de compromissos e acordos internacio-nais em torno dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Contudo, as enormes e crescentes dificuldades para avançar na esfera da negociação e da cooperação internacional levaram a questionamentos sobre o modelo de governança. Não é por outro motivo que a agenda da Rio+20 incorpora a revisão da estrutura institucional global para o desenvolvimento sustentável.

A necessidade de maior coordenação entre os esforços em curso e a busca por maior capacidade internacional de implementação das medidas negociadas multila-teralmente estão na base das propostas de criação de uma agência de meio ambien-te no âmbito da ONU em substituição ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Há substanciais discordâncias em relação a esta proposta e, de forma mais geral, ao modelo de governança global do desenvolvimento sustentável. Isso torna a discussão sobre governança um dos maiores desafios da Rio+20.

Um desafio global relevante, no que se refere ao modelo de governança global, en-volve a necessidade de criar as condições internacionais para o pleno engajamento dos países em desenvolvimento nos esforços de transição para padrões sustentáveis de produção e consumo, sem que tais esforços sejam percebidos como socialmente injustos e economicamente onerosos, do ponto de vista dos objetivos de desenvolvi-mento desses países.

O compromisso deve envolver o conjunto dos países, considerando o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Ademais, precisa abarcar, neces-sariamente, todas as partes interessadas – governos e sociedade em geral, como o setor produtivo, trabalhadores, movimentos e organizações sociais.

1 Coordenado pelo PNUMA, o Programa de 10 anos em Consumo e Produção Sustentável (CPS) – também conhecido como Processo de Marrakech - estabeleceu uma série de iniciativas que promovem padrões sustentáveis de consumo e produção alinhados com as necessi-dades de desenvolvimento social, econômico e ambiental. Entre as forças-tarefa de Implementação de Produção e Consumo Sustentável (PCSs) já criadas estão Construção Sustentável, Compras Públicas Sustentáveis, Tursimo Sustentável, Educação para um Consumo Sus-tentável, Cooperação com a África, Estilo de Vida Sustentável e Produtos sustentáveis.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE16

Aperfeiçoamentos incrementais na governança global

O cenário internacional desfavorece “saltos institucionais” significativos. Aperfeiçoa-mentos, entretanto, são fundamentais, devendo ter como eixo a criação de incentivos e a remoção de obstáculos para a transição rumo a novos padrões de produção e consumo, especialmente para os países emergentes e em desenvolvimento. Nesse sentido, os acordos multilaterais já existentes devem ser considerados referenciais para os esforços globais e para políticas domésticas nesta área.

Peculiaridades regionais, nacionais e locais

O combate às desigualdades sociais e econômicas deve ser gradualmente compa-tibilizado com a transição para padrões de produção e consumo sustentáveis. Esse processo – global por natureza – somente será bem-sucedido se as negociações e iniciativas internacionais de cooperação criarem ambientes e mecanismos que esti-mulem as transformações desejáveis e incentivem a participação dos países em de-senvolvimento nesse esforço.

Reside na inclusão social produtiva talvez a principal força econômica dos países em desenvolvimento. Trata-se de condição imperiosa para a emersão os países mais pobres a um novo patamar de desenvolvimento. Este é o grande desafio para as atu-ais equações de produção e de consumo – incluir produtivamente, sem aumentar o impacto sobre o meio ambiente.

É fundamental levar em conta as peculiaridades culturais locais, regionais, nacionais e internacionais. As experiências de produção e consumo sustentáveis a elas associa-das devem ser incentivadas e disseminadas por meio da cooperação internacional e por meio da articulação dos diversos elos das cadeias de suprimento.

A preservação da autonomia dos países na escolha de suas trajetórias de desenvol-vimento e de compatibilização de suas metas econômicas e sociais com objetivos ambientais e climáticos desempenha um papel importante na criação de condições favoráveis ao engajamento dos países em desenvolvimento no enfrentamento dos desafios da sustentabilidade global.

Financiamento e transferência de tecnologias: ingredientes fundamentais

Como resultado de uma conjuntura global preocupada com a potencial insolvência de economias desenvolvidas e com os riscos de estagnação da economia mundial, tem-se um quadro que não incentiva a busca de mecanismos internacionais que redu-zam os custos associados à transição para um modelo econômico-social-ambiental sustentável, especialmente para países emergentes e em desenvolvimento.

Há uma grande diversidade de instituições e mecanismos envolvidos no financiamen-to internacional do desenvolvimento sustentável. No entanto, o baixo grau de coorde-

17A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

nação e sinergia entre eles resulta em inadequação da oferta de financiamento com as necessidades e prioridades dos países emergentes e em desenvolvimento. Um esforço significativo de coordenação e de estabelecimento de parcerias entre diferen-tes agências e instituições se faz necessário.

Os esforços de financiamento e transferência de tecnologia devem ter nos países desenvolvidos seus principais doadores. De forma complementar, a cooperação sul-sul tem importante papel a desempenhar na oferta de tecnologias adequadas às especificidades regionais, que levem em conta questões culturais no desenvolvi-mento de inovações que efetivamente possam ser absorvidas e operacionalizadas. Essas questões estão estreitamente inter-relacionadas, já que um dos componentes centrais da governança global deste processo é a operacionalização de transferên-cias de recursos financeiros e tecnológicos para países em desenvolvimento.

Barreiras ao comércio: tentação a ser evitada

É necessário cuidado na formulação de políticas ambientais, climáticas e sociais que afetam o fluxo de mercadorias. A introdução de barreiras às importações de produtos intensivos no uso de energia, água e em emissões de gases de efeito estufa vem sen-do discutida em países desenvolvidos. Essa hipótese, se concretizada, geraria novos focos de conflito comercial entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, sem qualquer benefício palpável para o enfrentamento dos desafios ambientais e daqueles associados à mudança do clima.

A possibilidade de que os esforços de enfrentamento do desafio climático e ambiental sejam “contaminados” por conflitos comerciais, atualizando as preocupações dos pa-íses em desenvolvimento, com o “protecionismo verde” não é pequena. A questão já entrou na agenda comercial, através de painéis de solução de controvérsias na OMC e a relação entre regime climático e ambiental, de um lado, e regime comercial e de inves-timentos, de outro, deverá merecer atenção crescente dos negociadores internacionais.

Novas métricas e indicadores de sustentabilidade

Um dos desafios mais relevantes na esfera global consiste no desenvolvimento de novas métricas que respondam às especificidades do desafio do desenvolvimento sustentável, englobando indicadores que permitam quantificar a evolução da riqueza e do desenvol-vimento, considerando os aspectos ambientais e sociais. Nesse sentido, a discussão so-bre indicadores e metas de desenvolvimento sustentável é central na agenda da Rio+20. A indústria brasileira entende que a definição de metas e de padrões de comparabilidade entre países, setores e empresas demanda a formação de bases de dados de referência sólidas e confiáveis que respeitem especificidades regionais e setoriais.

A construção de indicadores e metas de desenvolvimento sustentável deve, necessa-riamente, ocorrer a partir de um diálogo estreito entre os poderes públicos, as organi-zações da sociedade civil e o setor produtivo.

A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE 19

Para a indústria brasileira, a transição para uma economia ambientalmente susten-tável e socialmente inclusiva é compatível com os objetivos de crescimento econô-mico e de melhoria das condições de competitividade. É a presença de fatores que desestimulam os investimentos e inibem a inovação que pode colocar em oposição os esforços de sustentabilidade e a busca de maior competitividade da indústria.

O Brasil conta com uma combinação de recursos – biodiversidade, potencial de geração de energia limpa, disponibilidade de recursos hídricos, patrimônio florestal sem comparação no planeta, abundância de terras férteis, dentre outros – que o co-loca em posição privilegiada para desenvolver-se de forma economicamente viável, ambientalmente sustentável e com inclusão social2.

O avanço da indústria brasileira nas questões em pauta na Rio+20 traduz o reco-nhecimento dos diferentes setores industriais de que a sustentabilidade vai-se tor-nando um fator preponderante para o sucesso dos negócios. Não se trata de lidar com a sustentabilidade como discurso e manifestação de boas intenções, mas de tê-la presente no desenvolvimento dos planos de negócios das empresas e como variável-chave de suas estratégias de competitividade.

2 O Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global apresentou em janeiro de 2012 seu relatório ao Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon. O Painel é composto por 22 membros e foi criado pelo Secretário-Geral em agosto de 2010 para formular um novo projeto de desenvolvi-mento sustentável e de baixo carbono. Segundo o documento, a demanda por recursos crescerá exponencialmente considerando o salto da população de 7 bilhões para 9 bilhões até 2040 e a inclusão de 3 bilhões de pessoas à classe média ao longo dos próximos 20 anos.

3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: OPORTUNIDADES

PARA A INDúSTRIA BRASILEIRA

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE20

3.1 Matriz energética, florestas, biodiversidade e água: ativos brasileiros para o desenvolvimento sustentável

A abundância de recursos naturais faz do Brasil um ator essencial na liderança do planeta no caminho do desenvolvimento sustentável. Matriz energética limpa, cobertura florestal correspondente a 60% do território nacional e uma imensa biodi-versidade são ativos que, se bem utilizados, constituem inegáveis vantagens com-parativas, em um mundo que precisa incorporar bilhões de pessoas à sociedade de consumo. Para a indústria brasileira, esses ativos apresentam inúmeras oportunida-des e importantes desafios.

ALGUNS ATIVOS DO BRASIL

• quase metade da oferta energética vem de fontes renováveis;

• área florestal correspondente a 60% do território;

• a maior área de floresta tropical do mundo e a segunda maior extensão de florestas do planeta;

• o maior estoque de carbono do mundo armazenado na biomassa florestal;

• 15% do número de espécies conhecidas pela ciência e cerca de 30% das florestas tropicais no mundo; e

• aproximadamente 12% da disponibilidade água superficial do planeta.

3.1.1 A matriz energética brasileira

O Brasil possui uma matriz energética que, além de diversificada, é das mais lim-pas do mundo. O país tem a maior frota mundial de carros movidos a bicombus-tíveis. A geração de energia elétrica é majoritariamente hidráulica. Quase metade da oferta energética no Brasil vem de fontes renováveis, com destaque para a bioenergia e a hidroeletricidade.

21A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

GráFico 1. MAtriz eNerGéticA BrAsileirA

Fonte: EPE/MME, 2011.

ENERGIA ELÉTRICA

A matriz elétrica brasileira é particularmente limpa, refletindo principalmente a elevada participação da hidrogeração no total. O gráfico a seguir apresenta a composição atual da matriz eletroenergética brasileira (incluindo importações).

GráFico 2. MAtriz eletroeNerGéticA BrAsileirA

Fonte: BIG – Banco de Informações de Geração da Aneel – abril de 2012.

O Brasil alcançou, em 2011, um total de 99.649 km de linhas de transmissão. A otimi-zação elétrico-energética é o fator motivador de tamanha interligação, uma vez que, neste sistema, as diferentes regiões permutam energia entre si, aproveitando a diver-sidade hidrológica de um país que tem dimensões continentais.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE22

BIOCOMBUSTíVEIS (ETANOL E BIODIESEL)

Em 2010, a produção de biocombustíveis totalizou 27,1 milhões de toneladas equi-valentes de petróleo (TEP) – 93% como etanol e 7% como biodiesel –, corresponden-tes a 542 mil barril de petróleo dia – BPD, ou seja, cerca de 27% da atual produção nacional de petróleo, um volume considerável em termos absolutos e relativos (EPE, 2011). Os produtos energéticos originários da cana-de-açúcar são responsáveis por importante parcela da oferta primária de energia no país.

GráFico 3. coMPArAtivo dA Produção (cANA de AçúcAr X etANol)

Fonte: Luiz Horta, a partir de UNICA, 2011a – Fascículo Setorial do IBP.

A produção e uso de etanol têm impacto direto na mitigação das emissões de GEE no setor de transporte. O Plano Nacional de Mudança de Clima recomenda expres-samente reforçar a participação do etanol na matriz energética e indica que o uso do etanol combustível deve ser intensificado. No período de 1970 a 2007, evitou-se a emissão de 800 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera com o uso de etanol como biocombustível.

Embora em fase embrionária, o biodiesel poderá representar uma promissora fonte renovável. Desde janeiro de 2010 (antecipando a meta inicial de 2012), o teor de bio-diesel no diesel passou a ser de 5%, assegurando uma demanda anual da ordem de 2,4 bilhões de litros. Esse quadro favorável, com demanda garantida e preços futuros definidos em leilões, estimulou uma rápida expansão da capacidade instalada, que, em outubro de 2011, alcançou 6,03 bilhões de litros/ano em 58 usinas, cerca de 2,5 vezes superior à demanda anual prevista, conforme o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis – IBP.

23A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

PETRóLEO E GÁS

A produção brasileira de petróleo atingiu, em 2011, o patamar de 2,2 milhões de bar-ris de petróleo por dia (BPD), o que consolida a autossuficiência do país quanto ao suprimento dessa fonte de energia, atingida em 2006. A taxa de crescimento da pro-dução de petróleo no Brasil nas últimas décadas foi bastante superior à de aumento do consumo. Além disso, a relação entre as reservas provadas e a produção (R/P) é atualmente de 18 anos, o que coloca o Brasil em uma posição confortável em termos da disponibilidade futura do recurso.

Por sua vez, o gás natural, cuja produção também crescerá de forma associada à exploração de novas jazidas de petróleo, tende a constituir uma fonte de energia es-tratégica cujo desenvolvimento e utilização devem ser estimulados. Essa tendência recente é reforçada pelo debate em torno da mudança global do clima, uma vez que o gás natural, por ser um combustível menos intensivo em carbono, pode dar uma contribuição importante na mitigação das emissões de gases de efeito estufa.

Conforme o Instituto Brasileiro do Petróleo, a exploração das reservas do pré-sal pode ser convergente com o posicionamento do país frente à agenda de sustentabilidade. O país conta com uma economia diversificada, na qual as receitas de petróleo não serão dominantes. O maior efeito da exploração dessas reservas será gerar incremen-tos de renda para suportar maiores investimentos em educação e desenvolvimento tecnológico e em outras condicionantes do desenvolvimento sustentável. O protago-nismo global do país na área ambiental e o grau de excelência tecnológica tende a viabilizar o desenvolvimento das operações com segurança e proteção adequada ao meio ambiente, combinando o aproveitamento de um diferencial comparativo do país com os preceitos da sustentabilidade.

GráFico 4. Previsão de Produção NAcioNAl de Gás NAturAl A PArtir de recursos descoBertos (reservAs e coNtiNGeNtes)

Obs.: GA: gás associado e GNA: gás não associado. Fonte: Amaro Pereira Jr., com base em De Gouvello (2010).

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE24

3.1.2 Florestas

Com uma área florestal total de 524 milhões de hectares, correspondentes a 60% do seu território, o Brasil ostenta posição global de destaque. Apesar de estarem em declínio, ainda são altas as taxas de supressão da cobertura florestal do país. Há es-forços para reduzir o desmatamento, principalmente na Amazônia, onde o problema ganhou grande dimensão nas últimas décadas.

Os dados da cobertura florestal brasileira indicam que o país detém a maior área de flo-resta tropical do mundo, além de possuir a segunda maior extensão de florestas do pla-neta, atrás apenas da Rússia, com suas extensas florestas boreais. Por outro lado, o Brasil possui o maior estoque de CO2 armazenado na biomassa florestal entre todos os países. As florestas brasileiras estocam em torno de 62 bilhões de toneladas de CO2, seguidas pela Rússia, com 32,5 bilhões de toneladas, e pela República Democrática do Congo, que fica na terceira posição com algo próximo de 19,7 bilhões de toneladas (SFB, 2010)3.

GráFico 5. estoque de cArBoNo (eM Milhões de toN)

Fonte: SFB, 2010.

No que tange ao uso sustentável da floresta nativa, importantes desafios terão que ser superados, de forma a permitir o melhor aproveitamento do potencial local madei-reiro, sem gerar custos ambientais significativos. Existem 290 milhões de hectares de florestas cadastradas como florestas públicas pelo Serviço Florestal Brasileiro – SFB, suscetíveis de serem manejadas sustentavelmente, sendo 93% na Amazônia. Deste total, 226 milhões de hectares já estão destinados a algum uso e 644 milhões de hec-tares ainda estão aguardando destinação. Esse estoque de madeira indica o potencial existente para ampliar e consolidar uma economia florestal sustentável na Amazônia, por meio da utilização dos recursos madeireiros e não madeireiros, sem prejuízo da conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos que caracterizam a região.

3 Serviço Florestal Brasileiro. Livro: Florestas do Brasil em resumo 2010. Disponível em: <http://www.florestal.gov.br/publicacoes/tecnico--cientifico>. Acesso em: 10 abr. 2012.

4 Dados obtidos da publicação “Florestas Nativas de Produção Brasileiras”. Serviço Florestal Brasileiro e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, 2011. Florestas Nativas de Produção Brasileiras. (Relatório). Brasília, DF.

25A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

Mesmo diante da ineficiência da exploração e dos sistemas de produção da floresta nativa, alguns exemplos indicam que o manejo sustentável pode ser uma fonte de geração de riqueza, de renda e emprego, sobretudo na Amazônia, como demonstra a certificação de 2,7 milhões5 de hectares de florestas nativas submetidas à exploração em regime de manejo sustentável em 2010.

O manejo florestal sustentável da Amazônia representa uma estratégia fundamental para valorizar o bioma como fonte de geração de emprego e renda, em substituição ao modelo atual fortemente baseado no aproveitamento residual de madeiras oriun-das das áreas desmatadas para uso alternativo do solo. A redução definitiva das taxas de desmatamento na região pressupõe um modelo de desenvolvimento baseado na floresta e não na sua supressão para expansão da fronteira agropecuária.

Alguns setores econômicos já percebem oportunidades e reconhecem a importância de ir além das restrições legais vigentes. A iniciativa de certificação voluntária pelo se-tor florestal, através do Forest Stewardship Council – FSC é um bom exemplo. O FSC é um dos selos verdes mais adotados no mundo, garantindo que a madeira utilizada pelas empresas em um determinado produto é oriunda de produção sustentável.

3.1.3 Biodiversidade

Estima-se que o Brasil abriga cerca de 15% do número de espécies conhecidas pela ciência e cerca de 30% das florestas tropicais no mundo. Essas florestas, que ocupam menos de 7% da superfície da Terra, detêm mais da metade das espécies conhecidas da fauna e flora globais. A riqueza biológica coloca o país em evidência e demanda a sua atuação como um dos protagonistas do debate mundial sobre a conservação e uso sustentável da biodiversidade.

Os produtos da bioeconomia decorrentes do uso da biodiversidade, em particular dos seus recursos genéticos, possuem alto valor agregado e padrões tecnológicos de produção avançados, rendem bons lucros aos investimentos realizados e são atrati-vos no mercado internacional.

Essa indústria, representada principalmente pela biotecnologia, não causa riscos à con-servação da biodiversidade: além de realizar um extrativismo com baixo potencial degra-dador, obedece a uma legislação que prevê rigorosas exigências que visam garantir o uso sustentável da biodiversidade. Além disso, o enorme potencial atribuído ao setor de biotecnologia se deve às várias etapas produtivas – que envolvem desde a exploração da matéria-prima até a venda ao consumidor final – pelas quais perpassam seus insumos.

Talvez nenhum outro setor combine tantas oportunidades aos desafios deste novo século, marcado pela busca constante da inovação e pela preocupação aos limites dos recursos naturais, e, dessa forma, talvez também nenhum outro setor no Brasil disponha de tantas oportunidades para se destacar internacionalmente.

5 Serviço Florestal Brasileiro. Certificação florestal. Disponível em: <http://www.florestal.gov.br/snif/producao-florestal/certificacao-florestal>. Acesso em: 10 abr. 2012.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE26

3.1.4 água

Os rios brasileiros representam 12% da disponibilidade de água superficial do plane-ta. Considerando o aporte dos países vizinhos esse número sobre para 18%. Essa situação confortável é complementada por um conjunto de sistemas aquíferos que garantem uma importante capacidade de reserva de água. A distribuição da dispo-nibilidade de água no Brasil não é muito heterogênea. A região amazônica é respon-sável por ¾ da disponibilidade de água no país, sustentando parcela importante da biodiversidade do país e as chuvas no Cerrado e na região Sudeste.

O setor industrial é responsável por 22% da demanda de água global; no Brasil a in-dústria é responsável por 17% das captações de água e por apenas 7% do consumo. O uso industrial da água é mais intenso nas bacias hidrográficas do rio da Prata e nas demais bacias da região Sudeste, aonde o setor industrial já investe em práticas de recirculação e reuso de água.

Diversas oportunidades são associadas ao uso sustentável dos recursos hídricos no país. O aproveitamento do potencial de geração hidrelétrica, já referido, o aumento da produtividade da produção de alimento por meio da irrigação, o maior aproveitamento das vias navegáveis como modal de transporte serão importantes avanços na com-petitividade do país. Para um bom gerenciamento global das águas em processos de produção, será estratégico conhecer as condições locais dos recursos hídricos nas diferentes etapas das cadeias de suprimento.

O incremento da segurança hídrica está diretamente associado à segurança climática (adaptação) e à segurança energética. As fontes de geração de energia estão vincu-ladas à disponibilidade de água diretamente (hidrelétrica, bicombustível) ou indireta-mente (usinas nucleares ou térmicas), quando demandam de importantes volumes de água para resfriamento. A eliminação do passivo do setor de saneamento ambiental, além de uma oportunidade para o setor industrial, tende a reduzir os riscos corporati-vos associados à água.

3.2 As oportunidades para a indústria brasileira

A indústria brasileira, consciente de que sustentabilidade se constrói com competiti-vidade, responsabilidade e inovação, vislumbra as oportunidades que surgem nessa nova economia.

O uso responsável dos ativos que o país detém combinado ao engajamento das em-presas no processo de produção sustentável abre um amplo leque de novidades com potencial para gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para toda a socieda-de. É hora de buscar novas soluções e desenvolver novos negócios. O papel da CNI, neste contexto, é alertar para a importância dessa agenda e orientar o setor produtivo a se inserir de maneira competitiva, inovadora e responsável nesse novo modelo.

27A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

OPORTUNIDADES PARA A INDúSTRIA BRASILEIRA

• Energia

• Gestão de resíduos sólidos

• Clima e emissões

• Saneamento

• Biodiversidade e florestas

• Tecnologia e inovação

• Inclusão social e educação

• Melhores práticas de gestão e governança corporativa

energia

A eficiência energética é crucial na transição para uma economia sustentável e pro-gramas estruturadores de geração, transmissão, conservação e busca de fontes alter-nativas de energia trazem oportunidades para todos os setores industriais. A garantia de disponibilidade e o preço da energia são fatores fundamentais para a competitivi-dade industrial do Brasil.

• Há ainda um vasto potencial para identificação de oportunidades para a melhoria na eficiência energética, utilizando-se o gerenciamento pelo lado da demanda, tanto no setor industrial como também nos segmentos comercial e residencial.

• Há uma década, a utilização de resíduos como fonte de energia em fornos de ci-mento vem crescendo. Contudo, na comparação com outros países, o atual nível de utilização de resíduos no Brasil ainda é relativamente baixo e há grande poten-cial para o incremento no aproveitamento energético dos resíduos.

• A Amazônia tem se apresentado como a nova fronteira de geração de energia hi-drelétrica no Brasil. Existe ainda um potencial hídrico não explorado, concentrado na região, de mais de 100 GW, cuja utilização será fundamental para ampliar a par-ticipação relativa das fontes renováveis de energia na matriz energética brasileira. As novas tecnologias permitem a exploração dessa fonte de energia com reduzido impacto ambiental.

• No Brasil, o biodiesel representa cerca de 10% da produção total de biocombus-tíveis. Sua produção tenderá a crescer com a identificação de novas matérias-pri-mas a serem utilizadas. O biodiesel tem potencial positivo para diversos setores industriais, por sua contribuição para potencial redução da emissão de CO2.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE28

• Com altos índices de irradiação solar, sobretudo nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, o Brasil poderá ficar mais bem posicionado no uso intensivo da energia solar nas pró-ximas décadas. Nessas regiões, onde o nível diário é estimado pela Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel em até 6.100 Wh/m2, o país tem todas as condições para fazer uso intensivo da energia solar nas próximas décadas. Na trajetória para amplia-ção do uso de energia fotovoltaica, há espaço para investimento em tecnologia local, em inovação para a produção de células solares e na engenharia de materiais para redução de custos de implantação e de geração dessa alternativa energética.

• Há um grande potencial para o desenvolvimento da energia eólica no Brasil. No marco do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – Proin-fa, implantado em 2004, foram contratados 1.422,92 MW gerados a partir de 54 usinas eólicas.

Gestão de resíduos sólidos

O reaproveitamento de resíduos como insumos no sistema produtivo já é, em si, uma verdadeira revolução na transição para o desenvolvimento sustentável, pois implica uso econômico de material tido, anteriormente, como descarte ou rejeito. Além de oportunidade econômica e financeira, trata-se de potencial para redução da pressão sobre os aterros sanitários, ampliando seu ciclo de uso.

• O Brasil é uma referência internacional para reciclagem de resíduos com ativi-dades que contribuem para a inclusão social. Há avanços notáveis em muitos produtos, como alumínio, papel e papelão, embalagens cartonadas, PET e sucata ferrosa, mas ainda há um potencial enorme para a reciclagem. Segundo o Pano-rama dos Resíduos Sólidos no Brasil6, dos mais de 60 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, da fração seca que corresponde a 49%, há um potencial de reciclagem mecânica ou química para cerca de 20 milhões de toneladas e recu-peração energética para quase 10 milhões de toneladas, onde a indústria poderá desempenhar um papel preponderante.

• Crescentemente, a reciclagem será a tônica da produção de matérias-primas se-cundárias, que serão essenciais à indústria do futuro em substituição a grande parte das matérias-primas oriundas da natureza. Além disso, a indústria baseada na reciclagem cria oportunidades de trabalho e renda que beneficia expressivo contingente de catadores de material reciclável.

• A implementação da logística reversa no país propiciará a criação de um novo mercado voltado à reciclagem dos mais diversos materiais, incluindo os eletroele-trônicos, lâmpadas, embalagens e outros produtos descartados pelo consumidor. O desafio no Brasil será a criação de políticas públicas que favoreçam a implan-tação e o fortalecimento da indústria da reciclagem em todas as regiões do país.

6 Abrelpe (2010).

29A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

• Há um enorme potencial para reciclagem de resíduos sólidos no país, gerados na indústria em geral e, em particular, na indústria da construção civil. Exemplo disso é o uso de agregado reciclado em obras de pavimentação por parte dos municí-pios, que tem promovido o interesse do setor privado na instalação de unidades de reciclagem de resíduos inertes.

• Dentro das indústrias, um caminho comum na redução da geração de resíduos é utilizá-los no processamento industrial para a geração de energia. Dessa for-ma, a biomassa do bagaço da cana-de-açúcar, dos dejetos de aves e suínos, da casca de arroz, transforma-se em eletricidade e vapor. Essas formas de energia abastecem as próprias indústrias e, muitas vezes, ainda geram rendas adicionais. É o caso das empresas que vendem energia excedente ou vendem créditos de carbono gerados pela substituição de fontes fósseis pela biomassa. Com essas e outras estratégias, já há exemplos de empresas que mostram ser possível chegar próximo dos 100% de reaproveitamento de resíduos industriais.

clima e emissões

Na última década, as mudanças climáticas emergiram como umas das principais preocupações para governos, empresas, investidores e sociedade em geral. A ges-tão eficaz do carbono, minimizando riscos e maximizando oportunidades, já está na agenda da indústria brasileira.

• Empresas que implementarem o inventário do nível atual de emissões de GEE poderão aproveitar as novas tendências do mercado, consolidando a imagem de responsabilidade corporativa e preparando-se para lidar com as questões de com-petitividade que poderão advir de possíveis cenários com restrições de emissões.

• O Brasil oferece à indústria oportunidades excepcionais para ampliar a participa-ção de energias renováveis numa matriz energética que já é uma das mais limpas do mundo. O potencial hidráulico é subutilizado. Há ainda vasta área disponível para aumentar a produção de energia de biomassa (floresta, cana etc.), além do potencial eólico e de energia solar, permitindo à indústria utilizar uma energia mais limpa na comparação com seus concorrentes internacionais. Além disso, a agen-da de mitigação de emissões estimula maior eficiência no uso de energia e insu-mos, reduzindo custos de produção.

• O estabelecimento de políticas de gestão de gases de efeito estufa cria novas oportunidades de investimento para o setor privado, seja por meio da participação no mercado de carbono (MDL ou mercados voluntários, como CCX, VCS), ou do acesso ao capital através de índices e indicadores, como o Carbon Disclosure Leadership Index, o índice Carbono Eficiente (iCO2) e da participação em índices de sustentabilidade, por exemplo. A eventual implantação do REDD+ representa oportunidades de novos negócios e investimentos para a indústria brasileira.

• O Fundo Nacional sobre Mudança do Clima – Fundo Clima (instituído pela Lei nº 12.114/2009 e regulamentado pelo Decreto nº 7.343/2010) é um dos instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima que merece atenção do setor pro-

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE30

dutivo. Ele tem como objetivo assegurar recursos para apoio a projetos e estudos e financiamento de empreendimentos que visam à mitigação e à adaptação da mudança do clima e aos seus efeitos. O Fundo Clima é uma iniciativa no Plano Plurianual 2012 – 2015, com orçamento estimado em R$ 389 milhões (trezentos e oitenta e nove milhões de reais) para 2012.

saneamento

O saneamento deve ter prioridade na agenda nacional, por seus impactos sobre os recursos hídricos e sobre a infraestrutura básica necessária para a erradicação da po-breza. Investimentos neste setor têm um elevado potencial para gerar oportunidades para a indústria e podem constituir fonte relevante de emprego. O serviço de abaste-cimento de água atinge 95,2%, da população urbana. Já o serviço de esgoto atingia, em 2009, pouco mais da metade – 52,9% – dos domicílios brasileiros e apenas 37,9% dos esgotos gerados eram tratados. Superar este quadro só será possível por meio de investimentos e tecnologias apropriadas às especificidades locais.

• Para acelerar essa cobertura do saneamento, instrumentos de financiamento como as parcerias público-privadas – PPPs tenderão a ser mais utilizadas. O PAC 2 – que abrange o período de 2011 a 2014 – tem previsão de investimento de R$ 3,7 bi-lhões em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário em municípios de até 50 mil habitantes. Até 2014, terão sido investidos R$ 35,1 bilhões no setor de saneamento. Também o programa Minha Casa, Minha Vida abre oportunidade de investimentos para diversos setores da economia.

• O ambiente de transição para a sustentabilidade é favorável aos investimentos na operação das infraestruturas de saneamento – abastecimento de água, tratamento de esgoto e coleta de lixo. A redução das perdas na distribuição de água potável e a melhoria na eficiência dos sistemas de tratamento de esgotos, além da implan-tação de aterros sanitários, serão essenciais para a redução da pressão urbana sobre os recursos hídricos.

• A iniciativa privada deverá ter papel fundamental na busca da universalização dos serviços de infraestrutura de saneamento, seja na realização dos projetos e obras, seja na operação dos sistemas, formando um ciclo virtuoso rumo à criação de riqueza, assimilação de mão de obra e a um novo patamar do desenvolvimento sustentável.

• A indústria também contribui para a sustentabilidade ao aportar soluções inteligen-tes e inovadoras para suprir os déficits do setor de saneamento. O fornecimento de equipamentos de uso doméstico mais modernos e eficientes no uso da água, que reduzam o consumo de água dos usuários urbanos e, consequentemente, a demanda de água e o lançamento dos esgotos das cidades, representa oportuni-dades importantes para o setor industrial.

• O reuso de águas servidas nos processos industriais é oportunidade para a re-dução dos riscos corporativos associados à água. A disseminação de práticas de reuso da água reduz a pressão sobre os recursos hídricos especialmente em zonas críticas em termos de disponibilidade hídrica.

31A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

Biodiversidade e florestas

O rico acervo da diversidade brasileira oferece oportunidades singulares para o de-senvolvimento de novos produtos, como fármacos, alimentos, cosméticos, entre ou-tros. Além disso, a vasta extensão de florestas oferece enorme oportunidade para o manejo florestal sustentável e certificado.

• O desenvolvimento do conhecimento e da exploração do potencial da biotecnolo-gia, motor do aproveitamento sustentável da biodiversidade, apresenta-se como oportunidade de avanço para a indústria brasileira. O setor de biotecnologia está incluído entre aqueles que apresentam potencial para transformar radicalmente produtos, processos e formas de uso no médio e longo prazos.

• Embora o Brasil abrigue cerca de 15% do total de espécies existentes no planeta, apenas pequena parcela desse patrimônio é conhecida. O desenvolvimento do seu conhecimento e a exploração do potencial da biotecnologia apresentam-se como oportunidades de avanço para a indústria brasileira.

• O mercado sustentável e baseado na conservação da biodiversidade pode ter grandes oportunidades de negócios nos próximos anos. Segundo o estudo “A economia dos ecossistemas e da biodiversidade” (TEEB, na sigla em inglês), o carro-chefe da economia verde será o de produtos agrícolas certificados. A es-timativa é que a movimentação anual desse setor cresça de US$ 40 bilhões em 2008 (o equivalente a 2,5% do mercado global de alimentos e bebidas) para US$ 210 bilhões em 2020.

• O uso sustentável da biodiversidade como oportunidade deve estar alinhado às políticas que estimulem a inovação e a competitividade. Para gerar riqueza a partir da sua biodiversidade, o Brasil deve caminhar para a integração da cadeia de valor dessa indústria, no âmbito mundial, participando de fóruns que visam à remoção imediata dos obstáculos da legislação atual.

• A grande extensão de floresta tropical passível de uso sustentável, a disponibi-lidade de terras subutilizadas na agropecuária que podem ser destinadas para plantios florestais, associada às condições edafo-climáticas favoráveis, o avanço tecnológico na silvicultura e as práticas de manejo sustentável já testadas confe-rem ao setor florestal brasileiro vantagens expressivas no campo da sustentabili-dade. A indústria de base florestal pode ser um dos pilares da economia de baixo carbono no Brasil.

• O Brasil possui um estoque de madeira que significa a possibilidade para ampliar e consolidar uma economia florestal sustentável na Amazônia, por meio da utiliza-ção dos recursos madeireiros e não madeireiros, sem prejuízo da conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos que caracterizam a região.

• O manejo florestal sustentável da Amazônia, substituindo o modelo atual de apro-veitamento residual de madeiras de áreas desmatadas, tem potencial para gerar emprego e renda. A redução das taxas de desmatamento na região implica desen-volvimento baseado na floresta e não na sua supressão.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE32

tecnologia e inovação

Na nova economia, o setor privado deve analisar como potencial de oportunidades os investimentos em pesquisa e no desenvolvimento tecnológico, reconhecendo que inovação e criatividade são mais do que exigências dos novos e velhos consumidores e uma imposição do mercado, são também fonte de oportunidades para aumento de eficiência, redução de custos e desenvolvimento de novos negócios.

• A indústria brasileira pode ser mais ativa na atração de centros de P&D de empresas estrangeiras, articulando e coordenando melhor as ações públicas e privadas no de-senvolvimento de novas tecnologias para novas demandas sustentáveis. Também pode melhorar a infraestrutura e a cultura de propriedade industrial no país.

• O setor produtivo terá um crescente papel na formação de recursos humanos qua-lificados em engenharia, “ciências duras” e no ensino técnico – base para a busca de tecnologia de ponta.

• O apoio a projetos estruturantes de P&D em grande escala, mobilizando as ca-deias produtivas das empresas-âncora, assim como a inovação e a difusão de tecnologia para pequenas e médias empresas, visando à redução de diferenciais de competitividade hoje existentes no setor privado, será uma agenda propulsora de oportunidades para todo o setor produtivo.

inclusão social e educação

A agenda do desenvolvimento sustentável com erradicação da pobreza requer que se reforcem os fatores de inclusão social produtiva e sustentável, combinando esforços de melhoria da educação com a oferta de melhores empregos.

• A incorporação de grandes contingentes populacionais a novos patamares de desen-volvimento humano é ao mesmo tempo uma grande oportunidade e um grande desa-fio para os países com economias abundantes em recursos naturais. O crescimento econômico dos países emergentes, especialmente os de maior população, acrescen-ta novas pressões sobre as fontes de matérias-primas e os serviços ambientais. Para ser sustentável, a inclusão social não pode repetir os modelos do passado.

• A inclusão social dos mais pobres requer novas tecnologias e hábitos de vida. A conformação tanto dos espaços coletivos urbanos como dos ambientes de traba-lho e domésticos deve ser comandada por critérios de sustentabilidade. Como em todos os países, no Brasil encontram-se amplas oportunidades de renovação dos parques produtivos para responder a tais necessidades.

• Devido ao processo histórico e a similaridades da identidade cultural, os movimen-tos de internacionalização das empresas brasileiras em direção a outros países do hemisfério sul carrega um grande potencial de reforçar a inclusão social produtiva nesses países. Empresas de setores como construção, biocombustíveis, cimento, mineração, siderurgia e petróleo têm se expandido com sucesso na África e na América Latina e, ao se relacionarem com as comunidades locais, transferem prá-

33A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

ticas e políticas desenvolvidas no Brasil. Assim, a capacidade de inclusão social produtiva da indústria brasileira constitui fator de competitividade internacional.

• Estatísticas recentes, levantadas pelo instituto norte-americano The Conference Board, mostram que é muito baixa a produtividade do trabalhador brasileiro, medi-da pelo quociente entre bens e serviços produzidos no país e o pessoal ocupado. Com o crescimento econômico fortemente baseado na produção de commodities, a produtividade se ressente da defasagem de investimentos e da educação da população. É preciso investir em infraestrutura e em produtos de valor agregado, mas também tratar a educação como prioridade absoluta. A educação vista como oportunidade será ferramenta básica para a produtividade e para o crescimento.

• O consumo das classes C, D e E experimentou forte incremento no Brasil, refletin-do não somente o aumento de renda dessas classes como também a capacidade das empresas brasileiras para desenharem produtos, serviços e critérios de co-mercialização adequados. Há ainda um vasto contingente populacional a ser in-corporado ao mercado de consumo no Brasil. Há inúmeras oportunidades para o setor industrial na oferta de bens e serviços adequados às necessidades e deman-das dos novos consumidores e aos requisitos de sustentabilidade da produção.

• A incorporação dos mais pobres nos dividendos da geração produtiva de riqueza é também portadora de oportunidades de negócios e de novas formas de capta-ção de capitais. O governo criou, há muitos anos, mecanismos de participação dos trabalhadores no processo produtivo, como o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, o Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT e o PIS/PASEP. Tais mecanismos revertem-se em bonificações periódicas aos trabalhadores formais, oriundas dos rendimentos proporcionados por investimentos na capacidade pro-dutiva do país. No entanto, há muito ainda por se fazer no acesso dos mais pobres aos mercados de investimento nas atividades produtivas, que podem se transfor-mar em oportunidades de negócios e em novas formas de captação de capital.

Melhores práticas de gestão e governança corporativa

Os investimentos em aperfeiçoamento e modernização dos processos de gestão es-tratégica dos negócios, com maior articulação entre os atores envolvidos, interes-sados ou afetados pelos processos de produção, representam oportunidades para capturar dividendos financeiros, melhoria da competitividade e reforço da imagem em um contexto de produção sustentável.

• O desenvolvimento de modelos de gestão modernos e a disseminação das me-lhores práticas econômicas e socioambientais na cadeia produtiva agregam repu-tação à identidade e imagem das empresas, além de reduzir custos de produção e administração.

• Ações para reforço da sustentabilidade aumentam a credibilidade do negócio, me-lhoram o diferencial competitivo, contribuem para a atração e retenção de talentos e para a construção de parcerias.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE34

• A rotulagem ambiental de produtos, quando não transformada em barreira comer-cial, pode ser um importante instrumento para melhorar a eficiência no uso dos insumos, ajudando a conquistar novos consumidores e mercados.

• Empresas listadas em índices de sustentabilidade das principais bolsas de valores tendem a ter suas ações valorizadas, facilitando o acesso a capital e linhas de financiamento diferenciadas que incorporam critérios ambientais e melhorando o good-will por parte dos públicos de interesse. No caso de empresas que necessi-tem de licenças formais e informais para exploração de recursos naturais, isso é ainda mais relevante.

• A elaboração anual de relatórios de sustentabilidade com iniciativas em linha com o tripé do economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo tem contribuído para a melhoria da imagem de diversas empresas brasileiras.

• A adoção voluntária de certificações e normas de qualidade, ambientais, de saúde e segurança ocupacional e de responsabilidade social também é oportunidade de agregar valor aos negócios.

A indústria brasileira quer ser protagonista, de forma consciente e propositiva, junta-mente com o poder público e a sociedade civil, na consolidação da base do desen-volvimento sustentável e da erradicação da pobreza. O setor produtivo quer aproveitar as oportunidades que se abrem com essa nova agenda, enquanto se prepara para lidar com os desafios para a competitividade trazidos por cenários mais restritivos de produção e de consumo de bens intensivos em recursos naturais.

A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE 35

As transformações requeridas pela agenda de desenvolvimento sustentável depen-dem de investimentos públicos e privados, sobretudo em inovação e em tecnologias produtivas mais limpas, além de métodos inovadores na gestão dos negócios. A in-dústria pode contribuir para a transição rumo a uma economia efetivamente susten-tável, adotando novas tecnologias que alinhem maior produtividade ao equilíbrio das diversas cadeias produtivas, à demanda por geração de emprego de qualidade e à eficiência no uso dos recursos naturais, evitando o desperdício.

O contexto doméstico é hoje dominado pelas preocupações crescentes com a perda de competitividade da indústria brasileira. Para aprofundar sua contribuição ao desen-volvimento sustentável, a indústria precisa contar com ambientes regulatórios e ins-titucionais favoráveis às transformações produtivas e aos investimentos requeridos.

O Brasil tem uma matriz industrial diversificada do ponto de vista setorial e espacial. Essa diversidade deve ser considerada no desenho de políticas públicas no país. As assimetrias que estão na origem dos desníveis regionais e de renda afetam o desem-penho da indústria e sua capacidade de aderir às formas sustentáveis de produção.

Os sistemas produtivos respondem ao mercado e às políticas públicas, razão pela qual não se pode separar o desempenho das atividades industriais e a estrutura do sistema produtivo do conteúdo das políticas governamentais de desenvolvimento. às políticas públicas cabe o papel de criar condições para que as empresas incorporem a sustentabilidade em suas estratégias de produção, direcionar o consumo, corrigir as desigualdades regionais e buscar a equidade na distribuição da renda.

Os temas relacionados à sustentabilidade dos padrões de produção e consumo ain-da não foram adequadamente integrados à agenda de política industrial e de inova-ção do Brasil. Em consequência, essas políticas não geram incentivos para que as empresas privadas incorram nos custos e riscos inerentes aos investimentos neces-sários à transição para uma produção sustentável.

4 O QUE A INDúSTRIA PRECISA PARA APROVEITAR

AS OPORTUNIDADES?

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE36

As decisões de investimentos dependem, crucialmente, de perspectivas de desen-volvimento econômico sustentável, do acesso a financiamento a custos reduzidos, de uma estrutura tributária compatível, da regulação adequada e previsível, da dis-ponibilidade de força de trabalho qualificada e de fontes sustentáveis de energia e matérias-primas, com preços e condições competitivas, como também de infraestru-tura moderna e eficiente.

A qualidade e a eficiência dos gastos públicos têm papel central neste processo e, por isso, também o governo deve otimizar a oferta de serviços públicos, aumentando a qualidade desses e a eficiência dos recursos empregados.

A indústria brasileira enfrenta um cenário doméstico com políticas tributárias, fiscais e creditícias que ainda são tímidas no estímulo aos investimentos produtivos e oneram a competitividade dos seus produtos nos mercados interno e externo.

OBSTÁCULOS DO AMBIENTE DOMÉSTICO PARA A AGENDA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

• as distorções do sistema tributário brasileiro;

• os elevados custos e as dificuldades de acesso ao crédito de longo prazo no Brasil;

• os escassos instrumentos da política de P, D & I para a sustentabilidade;

• a instabilidade, inadequação e administração dos marcos regulatórios na área ambiental;

• a insuficiência e precariedade dos serviços de infraestrutura;

• a insuficiência dos investimentos em educação e em qualificação dos tra-balhadores;

• a obsolescência da legislação do trabalho.

Como parte de suas atividades de representação e defesa dos interesses da indústria brasileira, a CNI identificou um conjunto importante de obstáculos domésticos, de natureza regulatória e sistêmica, que hipotecam esforços empresariais de aumento da produtividade e competitividade. Além disso, para cada um dos obstáculos iden-tificados, a CNI formulou propostas e recomendações visando aperfeiçoar políticas públicas e seus mecanismos específicos de implementação.

Todos os fatores que impactam negativamente a competitividade e a produtividade da indústria brasileira também comprometem a transição desta em direção a paradig-mas de produção e consumo sustentáveis.

37A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

Da agenda de competitividade...

A indústria brasileira enfrenta um cenário doméstico com políticas tributárias, fiscais e creditícias que ainda são tímidas no estímulo aos investimentos produtivos e oneram a competitividade dos seus produtos nos mercados interno e externo.

Assim como é improvável que a indústria brasileira aumente sistematicamente sua pro-dutividade e competitividade sem a remoção desses obstáculos – identificados pela agenda de políticas da CNI há mais de uma década –, é difícil imaginar que ela seja capaz de aprofundar sua trajetória de transição para padrões de produção sustentáveis e mais exigentes social e ambientalmente em um contexto regulatório e institucional marcado por tantas distorções. Até porque aos obstáculos que se interpõem entre a indústria e seus objetivos de investimento e competitividade, juntam-se outros que difi-cultam especificamente a consecução de metas de sustentabilidade empresarial.

... À agenda de competitividade sustentável

De fato, as transformações requeridas pela agenda de desenvolvimento sustentável de-pendem fortemente de investimentos em inovação de produtos e processos produtivos mais “limpos”, bem como da adoção de métodos inovadores na gestão dos negócios.

O aprofundamento da trajetória da indústria em direção à sustentabilidade agrega à agenda de competitividade requisitos e exigências adicionais, em termos de políticas públicas e ambiente regulatório e institucional. Tais requisitos envolvem tanto os temas já listados (distorções tributárias, obsolescência da legislação trabalhista etc.) quanto os temas que estão diretamente relacionados aos objetivos de sustentabilidade.

No que se refere aos temas que compõem a agenda de competitividade definida pela CNI há já alguns anos, a prioridade concedida à sustentabilidade se expressa através da “modulação” dos instrumentos de política doméstica que removam os obstáculos e facilitem a transição. A agenda da indústria brasileira para o aperfeiçoamento do ambiente doméstico inclui:

A eliminação das distorções do sistema tributário brasileiro

O sistema tributário precisa levar em conta a dimensão social e ambiental da atuação das empresas, premiando a utilização eficiente de recursos naturais e, de forma mais geral, os modelos sustentáveis de produção.

A diversidade de impostos e as frequentes mudanças na forma de tributação no Brasil geram um sistema de alta complexidade e de baixa convergência com os padrões de tributação das principais economias do mundo. Essa assimetria impacta fortemente a competitividade da indústria brasileira e cria distorções na alocação dos recursos, com efeito determinante na estrutura industrial brasileira.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE38

Para a agenda do desenvolvimento sustentável, o principal problema são os diversos tributos, muitos em cascata, que oneram o preço final dos bens de capital e ele-vam o custo final do investimento – principal vetor de transformação dos processos produtivos. A política tributária nacional não deve ser meramente arrecadatória, mas estimular o desenvolvimento direcionado para a sustentabilidade. Assim, o sistema tributário deve respeitar os princípios de progressividade, da simplificação e da não cumulatividade, sem perder de vista a questão social e ambiental.

A redução dos custos e a melhoria nas condições de acesso ao crédito de longo prazo

O financiamento de longo prazo enfrenta dois problemas estruturais no Brasil: taxas de juros elevadas e dificuldade no acesso por parte das micro e pequenas empresas. Estas desempenham importante papel econômico e social na geração de emprego e renda e, portanto, da redução dos indicadores de pobreza.

A oferta de crédito de longo prazo ainda está concentrada no Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social (BNDES). Há, no âmbito do BNDES e de suas linhas de financiamento, iniciativas inovadoras que – mais além das condicionalidades socio-ambientais exigidas das empresas que buscam financiamento junto ao Banco – confe-rem tratamento relativamente mais favorável a investimentos propriamente ambientais. Mas a verdade é que tais iniciativas são ainda pontuais e amplamente minoritárias.

Na área de financiamento ao investimento, a prioridade deve ser a disseminação de instrumentos de financiamento público com taxas especiais, voltados para a adoção de processos e mudanças na produção que contribuam para a adequação do setor industrial aos objetivos do crescimento sustentável, bem como para o aproveitamento de novas oportunidades de negócios relacionadas àqueles objetivos.

o aperfeiçoamento dos instrumentos da política de P, d & i para a sustentabilidade

Nos últimos anos, a política de inovação passou por mudanças importantes e posi-tivas, voltadas para reduzir a distância entre, de um lado, as atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação e, de outro, as empresas, seu funcionamen-to e suas estratégias. Essas mudanças foram estimuladas pela constatação de que historicamente estas atividades se desenvolveram quase que exclusivamente em âm-bito acadêmico, com o setor produtivo atuando de maneira periférica.

Apesar desses esforços, os resultados, em termos de desempenho da inovação empresarial no Brasil ainda têm sido considerados insatisfatórios, o que motivou a CNI a organizar, nos últimos anos, a Mobilização Empresarial pela Inovação. Em um contexto de competição internacional acirrada e de forte concorrência dos produtos importados no mercado brasileiro, a inovação tornou-se componente inescapável das estratégias empresariais no país.

39A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

A coordenação entre os agentes da inovação, públicos e privados, precisa ser esti-mulada, já que muitos setores produtivos absorveram tecnologias com potencial de disseminação na busca de soluções sustentáveis nos ciclos de produção, distribui-ção e logística reversa.

A política de inovação tem um papel central a desempenhar na transição para um modelo de produção e consumo sustentável. A totalidade dos países desenvolvidos e alguns países emergentes, como a China e a Coreia do Sul, já se deram conta deste fato e integraram às suas políticas industriais e de inovação objetivos ambiciosos ligados ao paradigma da sustentabilidade.

É necessário intensificar as atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação e integrar as preocupações climáticas e ambientais à agenda brasileira de política de inovação. É também fundamental fortalecer a rede brasileira de serviços técnicos, tecnológicos e de propriedade industrial e desenvolver planos setoriais e o subsistema financeiro de apoio à inovação.

A estabilidade, adequação e boa administração dos marcos regulatórios na área ambiental

A inadequação e a instabilidade dos marcos regulatórios constituem um dos princi-pais obstáculos aos investimentos privados. Na área ambiental, o marco legal recen-te e a falta de uma jurisprudência consolidada criam um ambiente de insegurança. As normas infralegais, que regem o licenciamento ambiental das atividades efetiva e potencialmente poluidoras, encontram-se defasadas. Há ainda problemas de articu-lação entre diversas áreas de governo que interferem nas regulações, seja na esfera de um mesmo ente da Federação, seja em virtude da fragilidade do pacto federativo, levando à sobreposição de competências entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. Isso, não raro, mais confunde o empreendedor do que o auxilia na busca de sustentabilidade em seu negócio.

Embora não se possa negar que o Brasil possua uma legislação ambiental avançada na comparação com outros países, uma das dificuldades da aplicação das normas legais que acaba se transformando em obstáculo é o fato de existir uma legislação prolixa e, muitas vezes, de difícil aplicação.

Por outro lado, os fundamentos doutrinários da política ambiental brasileira ainda es-tão baseados nos mecanismos de comando e controle do Estado. A legislação é adequada para punir o uso ineficiente dos recursos naturais e a degradação ambien-tal, mas é desprovida de instrumentos econômicos que estimulem o uso sustentável.

Além disso, a gestão ambiental pública, na maioria dos casos, se reduz às atividades de licenciamento e autorizações sem a adoção dos demais instrumentos da política ambiental e de gerenciamento dos recursos naturais. Na maioria dos casos, há im-pactos sobre as atividades industriais, com elevação de custos, sem a contrapartida governamental para facilitar o cumprimento dos compromissos exigidos pelos novos padrões de qualidade ambiental a serem observados pela indústria.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE40

É necessário integrar ao menu de políticas voltadas para a área ambiental e climá-tica, hoje predominantemente apoiada em mecanismos de comando e controle, instrumentos de planejamento, de mercado e de disseminação de informações. Am-pliar a utilização de avaliações ambientais estratégicas, entre outros instrumentos de planejamento de base territorial, permitirá qualificar os procedimentos de licen-ciamento ambiental reduzindo seu perfil cartorial.

A melhoria dos serviços de infraestrutura

O Brasil investe pouco em infraestrutura. A precariedade dos serviços de infraestrutu-ra tem impactos importantes na eficiência do processo produtivo industrial, gerando desperdício de recursos e prejudicando a produção sustentável. É também importan-te entrave à maior inclusão social, pois é sobre a camada mais pobre da população que incidem proporcionalmente os maiores custos resultantes da ineficiência da infra-estrutura, especialmente nas áreas de transporte e saneamento.

A carência de infraestrutura adequada tem reflexo em todas as vertentes do desen-volvimento do país. Sua precariedade está associada ao Custo Brasil, principalmente a relativa ao transporte, às comunicações e à energia. Assim, é essencial a busca de alternativas que incluam a participação de capitais privados, como já ocorre nas rodo-vias, aeroportos, comunicações e energia, na construção, ampliação e modernização de outros segmentos da infraestrutura, incluindo construções sustentáveis.

A eficiência econômica e ambiental da logística em um país de proporções continen-tais depende do reequilíbrio da matriz de transporte, com a maior participação de modais alternativos, menos poluentes e emissores de carbono.

A inadequação da infraestrutura de transporte provoca insegurança não apenas de natureza material, mas para o meio ambiente e a população. Este é o caso da preca-riedade observada especialmente nas rodovias, que, além de ceifar prematuramente a vida de número crescente de pessoas, provoca sérios danos ao meio ambiente.

A questão do saneamento merece posição de destaque, segundo critérios ambientais e sociais. Do lado ambiental, a falta de saneamento é hoje a principal fonte de polui-ção das águas, superando as fontes industriais. Do ponto de vista social, as carências nesta área impactam negativamente – e com muita força – os esforços de erradicação da pobreza. A realidade do serviço de esgoto é dramática. Um dos desafios do setor de saneamento é acelerar o ritmo de expansão da cobertura da rede coletora de es-goto. Isso só será possível por meio da eliminação dos entraves aos investimentos.

Mesmo com a expansão da rede nos últimos anos, o ritmo de crescimento poderia ser mais intenso, caso instrumentos de financiamento, como as parcerias público-privadas – PPPs, fossem mais utilizadas pelo governo federal.

41A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

Aumento dos investimentos em educação e em qualificação dos trabalhadores

A melhoria da qualidade da educação é condição fundamental para que o país te-nha sucesso em seus objetivos de desenvolvimento sustentável. Disso depende a elevação do grau de conscientização ambiental da população e a capacidade dos trabalhadores qualificados para contribuir com processos de produção sustentável.

Sem educação básica de qualidade não existe força produtiva para ser treinada. Sem ensino médio profissionalizante mantém-se o hiato na qualificação para o mer-cado de trabalho e, por fim, sem educação superior não há ciência, sem ciência não há tecnologia e sem tecnologia não há inovação.

A falta de qualificação da mão de obra é um dos principais entraves ao crescimento sustentado no Brasil. O Programa Internacional de Avaliação de Ensino – PISA, que avalia conhecimentos em leitura, matemática e em ciências em alunos de 15 anos, exibe um quadro que precisa ser superado: a nota média do aluno brasileiro ultra-passou os 400 pontos apenas em 2009, ficando distante do desempenho dos estu-dantes dos países desenvolvidos, criando um hiato na sustentabilidade também no quesito educação.

Modernização da legislação do trabalho

A legislação brasileira não acompanhou a modernização do mundo do trabalho e, ao permanecer paralisada, continua representando um entrave para o desenvolvimen-to sustentável do país. A evolução tecnológica cria novas modalidades de trabalho, que não são compatíveis com a aplicação de fórmulas homogêneas de proteção ao trabalhador. Essas novas modalidades de trabalho permitem processos produtivos mais eficientes, com menores custos de deslocamento e menos intensidade do uso de recursos naturais.

Para que a indústria brasileira possa assumir um efetivo protagonismo em relação às oportunidades que se apresentam, é essencial que os arranjos institucionais e regulatórios, também no âmbito da legislação trabalhista, provejam crescimento, es-tabilidade, previsibilidade e um ambiente mais compatível com o novo perfil dos tra-balhadores no século XXI.

A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE 43

A CNI tem a convicção de que o crescimento econômico deve estar sustentado no desenvolvimento social e na conservação ambiental. A instituição compromete-se a exercer o papel de liderança para mobilizar e engajar a indústria brasileira na transfor-mação de padrões de produção e consumo para modelos mais sustentáveis.

Aproveitando o momentum criado pela realização da Rio+20, a CNI apresenta uma agenda de iniciativas que pretende ser propositiva e mobilizadora das lideranças empresariais do país.

A transição para o crescimento sustentável requer transformações em produtos e pro-cessos que exigem inovação, incorporação de novas tecnologias, melhores práticas de gestão e governança corporativa, educação e capacitação profissional. O Sistema Indústria compromete-se a fortalecer seus programas e ações voltadas para a susten-tabilidade ambiental e o desenvolvimento social.

COMPROMISSOS DO SISTEMA INDúSTRIA:

• a disseminação de novas tecnologias, processos e melhores práticas;

• a identificação de metas e a construção de indicadores;

• os investimentos na educação e na capacitação profissional;

• a articulação com atores domésticos e internacionais.

5 COMPROMISSOS DO SISTEMA INDúSTRIA COM O FOMENTO DA

PRODUçãO SUSTENTÁVEL

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE44

A disseminação de novas tecnologias, processos e melhores práticasA CNI concentrará esforços no incentivo à produção sustentável, por meio da inten-sificação de parcerias domésticas e internacionais que tenham como objetivo a dis-seminação e o apoio à implementação de novas tecnologias e processos e melhores práticas. As iniciativas previstas são:

• O estímulo às atividades e iniciativas de sustentabilidade nas médias, pequenas e microempresas, inclusive por meio da disseminação das melhores práticas, pro-movendo a maior integração e a compatibilidade das práticas adotadas por em-presas de diferentes portes, em parceria com instituições como o Sebrae.

• O fortalecimento de programas de competitividade e conservação ambiental, tais como Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias – Procompi, Programa de Eficiência Energética, Programa de Produção Mais Limpa, Sistema Bolsa de Resíduos.

• A busca de ampliação das parcerias com o governo federal na área de meio am-biente, por meio da celebração de acordos com os diversos ministérios e agências executivas e reguladoras que podem contribuir com essa agenda.

• O estímulo às associações setoriais para que estreitem parcerias e diálogos com o governo e a sociedade civil para identificar alternativas sustentáveis para os pro-cessos industriais.

• O estímulo às Federações Estaduais da Indústria para que construam parcerias e diálogos com os governos estaduais e a sociedade civil, de modo a promover um ambiente institucional estável para os investimentos que favoreçam o desenvolvi-mento sustentável, contemplando as especificidades regionais.

A identificação de metas e a construção de indicadoresA construção de indicadores e metas de desenvolvimento sustentável deve, necessa-riamente, ocorrer a partir de um diálogo estreito entre os poderes públicos, as organi-zações da sociedade civil e o setor produtivo.

Para a definição de metas, é necessário um sistema de governança que garanta con-dições de investimento de médio e longo prazos. São elementos essenciais desses sistemas de governança:

i) provimento de estabilidade institucional no ambiente de negócios;

ii) transparência das bases de dados e das metodologias utilizadas;

iii) garantia das condições de competitividade, sendo as metas sociais e ambientais de desenvolvimento sustentável encaradas como diferenciais positivos e não restritivos.

45A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

A CNI pretende contribuir para esse processo com as seguintes iniciativas:

• A articulação com os diferentes setores industriais para a elaboração e qualifi-cação dos inventários socioambientais, com vistas a mapear e reduzir os riscos corporativos associados à utilização de recursos naturais e às questões de saúde, segurança do trabalho, meio ambiente e emissões de gases de efeito estufa.

• A promoção do engajamento da indústria nacional na análise de seus padrões de sustentabilidade, a partir de suas cadeias de suprimento, buscando a construção de indicadores e o estabelecimento de metas voluntárias e progressivas.

• A coordenação, a cada quatro anos, de esforços de revisão e análise dos avan-ços da indústria nacional em direção aos objetivos da produção sustentável, nos moldes do processo de construção deste documento e dos fascículos setoriais.

Os investimentos na educação e da capacitação profissional

A educação é vetor fundamental do desenvolvimento sustentável. É condicionante para o desenvolvimento da criatividade e da inovação, para a incorporação dos valo-res e conceitos do desenvolvimento sustentável, para a operacionalização de novas tecnologias e, acima de tudo, para o acesso a melhores formas de emprego e gera-ção de renda.

A melhora acelerada da escolaridade média da população brasileira é fator estratégico para a promoção da sustentabilidade. A universalização da educação básica com qua-lidade, o fortalecimento da educação profissional e o estimulo à educação continuada, dentro e fora do ambiente de trabalho, são compromissos do Sistema Indústria.

A CNI incorporou, no Mapa Estratégico da Indústria para 2007-2015, a educação como elemento fundamental para o desenvolvimento sustentável. Os programas de trabalho das instituições do Sistema Indústria estarão voltados para a garantia da qua-lidade da educação básica, o fortalecimento da educação profissional e tecnológica e a promoção da inclusão digital.

A articulação com atores domésticos e internacionais

A CNI compromete-se a influenciar os processos de negociação internacional que envolvam os temas da sustentabilidade, seja por meio da sua interlocução com o governo federal, seja atuando nos foros empresariais de âmbito internacional. É com-promisso da CNI intensificar a participação nos foros internacionais, defendendo a agenda de sustentabilidade da indústria brasileira.

ENCONTRO DA INDúSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE46

No ambiente doméstico, a CNI assume o compromisso de intensificar o diálogo com os poderes públicos e organizações da sociedade civil para a construção de condições objetivas para a materialização de padrões de produção e consumo sustentáveis.

A CNI está empenhada em apoiar o governo federal na tradução dos resultados das convenções e diálogos internacionais para o ambiente interno, buscando compatibili-zar os compromissos internacionais às necessidades da agenda competitividade da indústria nacional.

A INDúSTRIA BRASILEIRA NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE 47

REFERêNCIAS

EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA - EPE. Balanço energético nacional 2011: ano-base 2010. Rio de Janeiro: EPE/MME, 2011.

HORTA NOGUEIRA, L. A. UNIFEI, dezembro de 2011.

Amaro Pereira Jr., com base em De Gouvello - DE GOUVELLO, Christophe. (Coord.). Brazil low carbon study. Washington: The World Bank, 2010.

SERVIçO FLORESTAL BRASILEIRO. Florestas do Brasil em resumo 2010. Dispo-nível em: <http://www.florestal.gov.br/publicacoes/tecnico-cientifico>. Acesso em: 10 abr. 2012.

CnI – ConFederAÇÃo nACIonAl dA IndústrIA

dIretorIA de relAÇÕes InstItuCIonAIs – drI

Mônica Messenberg GuimarãesDiretora de Relações Institucionais

GerÊnCIA eXeCutIVA de meIo AmBIente e sustentABIlIdAde – GemAs

Shelley de Souza CarneiroGerente Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade – CNI

Percy Soares Neto Elisa Romano Dezolt Coordenação Técnica

José Quadrelli NetoMario Augusto de Campos CardosoPaula Bennati Sergio de Freitas MonforteWanderley Coelho BaptistaEquipe técnica

Priscila Maria Wanderley Pereira Produção editorial

Fundação dom Cabral

Guilherme Lima Guimarães Gerente do Projeto

José Carlos Carvalho Coordenação Técnica

Antônia Cristina de Filippo Claudio Bruzzi Boechat Marcelo Fernandes Equipe Técnica

Paulo Paiva Gilmar de Melo Mendes Professores Colaboradores

ecostrat Consultoria (revisão)

Sandra Polônia RiosPedro da Motta Veiga

dIretorIA de ComunICAÇÃo – dIrCom

Carlos Alberto BarreirosDiretor de Comunicação

GerÊnCIA eXeCutIVA de PuBlICIdAde e ProPAGAndA – GeXPP

Carla Cristine Gonçalves de SouzaGerente Executiva

Armando UemaProdução editorial

Aline Santos JacobNormalização

Denise GoulartRevisão gramatical

Grifo DesignProjeto gráfico e diagramação