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EDUARDO BITENCOURT DE OLIVEIRA A INFLUÊNCIA DA RELEVÂNCIA SOCIAL NO VIÉS DE GRUPO Natal 2015

A INFLUÊNCIA DA RELEVÂNCIA SOCIAL NO VIÉS DE GRUPO · na condição ARS.Ao verificar quais aspectos de cada indivíduo melhor previam o viés de grupo observado, descobrimos que

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EDUARDO BITENCOURT DE OLIVEIRA

A INFLUÊNCIA DA RELEVÂNCIA SOCIAL NO VIÉS DE GRUPO

Natal

2015

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EDUARDO BITENCOURT DE OLIVEIRA

A INFLUÊNCIA DA RELEVÂNCIA SOCIAL NO VIÉS DE GRUPO

Dissertação de Mestrado apresentada à

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Mestre pelo Programa de Pós-

graduação em Psicobiologia, na área de

concentração de Estudos do Comportamento.

Orientadora: Maria Emília Yamamoto

Coorientador: WallisenTadashi Hattori

Natal

2015

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Titulo: A INFLUÊNCIA DA RELEVÂNCIA SOCIAL NO VIÉS DE GRUPO

Autor: EDUARDO BITENCOURT DE OLIVEIRA

Data e horário: 05 de junho de 2015, às 14:30

Local: Sala de aula do Programa de Pós-graduação em Psicobiologia

Banca Examinadora:

ANGELA DONATO OLIVA [email protected]

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Membro externo

ANUSKA IRENE DE ALENCAR [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro Interno

WALLISEN TADASHI HATTORI [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia Coorientador

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AGRADECIMENTOS

Fazendo jus às ideias apresentadas na minha dissertação, começarei agradecendo a

minha família. Mãe, pai e irmã, que me lembraram (exaustivamente, no caso da minha mãe)

que eu nunca estive e nunca estarei sozinho, que no menor sinal de adversidade sempre terei

eles para me ajudar. Nunca me negaram algo que eu precisei, e raramente me negaram algo

que eu não precisei. Além, é claro, de serem ótima companhia. Vocês são exemplos vivos de

que uma verdadeira família tem laços ainda mais fortes que os sanguíneos. Parentes mais

distantes, partes da família também, logicamente, meus sinceros agradecimentos, mas vocês

são muitos para mencionar aqui sem que eu tome metade do espaço da dissertação só para

esse fim, sem contar o risco, terrível, de eu esquecer algum nome e, por isso, parecer que dou

mais importância para uns do que para outros.

Agradeço imensamente, as pessoas espetaculares que conheci na UFRN. Meus

orientadores, Prof. Maria Emilia Yamamoto e Prof. Wallisen Tadashi Hattori. Emilia uma das

pessoas mais inteligentes que conheci e Wall por ser ao mesmo tempo orientador, professor e

amigo, um super pacote. Meus colegas, tanto de mestrado como de laboratório.Carol portuga,

Daniéis (no plural, para incluir todos os cerca de 60 Danieis que misteriosamente se

concentraram na psicobiologia), Ju Drombowsky e Ju Didonet, Felipe, Cleanto, Laura

(Claudia), Ariela, Mariana, Júlio, Jaqueiuto, Lucianas (Rocha e Varella), só para citar a ponta

do iceberg. Natalia, que além de ser uma grande amiga, me ajudou diretamente no mestrado

com as coletas, possuidora de uma paciência lendária.

Aos sábios professores que tive e que ainda não foram mencionados, Fívia, Anuska,

Fátima, Arrilton, Daniel Pessoa, Renata Ferreira e Felipe Nalon, meus agradecimentos, vocês

mantém um programa de pós graduação capaz de fazer um gaúcho migrar de um extremo ao

outro do litoral brasileiro.

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Ao Thomas e seu fabuloso bar. A infame aula de sexta-feira neste mesmo bar que

continha muitas das celebridades já mencionadas, incluindo algumas novas, como Felipe

Cabeção e Vica, que ajudavam a fechar a semana com chave de ouro.

Aos amigos que conheci em Porto Alegre, numerosos demais para citar, afinal, não

foram apenas dois anos e meio de convívio. Saibam que encontrei pessoas incríveis aqui

também, o Brasil é um país imenso cheio de pessoas que vale a pena conhecer. Especial

menção ao Tiago (Bortô) por ter colaborado diretamente, e bastante, com meu mestrado e por

ter me indicado este programa de pós graduação (baita indicação!).

À dona Vera, que me proporcionou uma casa para morar. Ana Karinne, a dedicada

secretária do LECH. Jairo, meu amigo do fórum Ateus.net que me apresentou Natal como um

expert em turismo não faria, e aproveito para agradecer a todos do fórum, aos debates imensos

que duravam semanas e foram parte do motivo pelo meu crescente interesse sobre o

comportamento religioso.

Por último, obrigado a cidade de Natal. Pela praia, pelo açaí, pelos camarões, pelos

ventos constantes, pela paisagem, pelo Sol (que podia pegar mais leve de vez em quando).

Sentirei saudades.

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RESUMO

Comportamentos encontrados em todas as culturas, tendências gerais do ser humano, são

conhecidos dentro da Psicologia Evolucionista como mecanismos psicológicos evoluídos.

Esses comportamentos remontam ao Ambiente de Adaptação Evolutiva, e um exemplo bem

conhecido deste tipo de comportamento é o viés de grupo (ou viés intergrupo). Este viés

consiste em reconhecer membros do próprio grupo e favorecê-los, enquanto negligencia ou

mesmo prejudica membros de outros grupos. Este comportamento foi e ainda é

extensivamente estudado, entre as principais conclusões sobre o fenômeno encontra-se o

Paradigma dos Grupos Mínimos, onde se descobriu que o viés intergrupo poderia se

manifestar mesmo quando a divisão de grupos seguia critérios bastante arbitrários. No

presente estudo, nosso objetivo foi testar se os participantes, ao realizar um jogo econômico,

se comportavam da mesma maneira em uma situação de grupos mínimos e de grupos reais,

com relevância social. Com esse propósito criamos duas condições experimentais, a condição

de Baixa Relevância Social (BRS) onde os grupos eram representados por letras (H, B, O e Y)

com participantes sendo aleatoriamente alocados para cada grupo; e a condição de Alta

Relevância Social (ARS), em que a religião foi usada como marcador de grupo e continha os

dois grupos religiosos mais dominantes no Brasil, católicos e evangélicos, um grupo contendo

todas as outras filiações religiosas e o quarto e último grupo representando ateus e agnósticos.

A razão de doações in-group/out-group foi aproximadamente igual entre ambas as condições.

No entanto, a quantidade de wafers doada para o próprio grupo foi significativamente maior

na condição ARS.Ao verificar quais aspectos de cada indivíduo melhor previam o viés de

grupo observado, descobrimos que a percepção da Entitatividade in-group, assim como a

Identificação do Grupo, foram as variáveis mais relevantes, porém, só na condição ARS.

Simultaneamente, ao verificar a generosidade, enviesada ao grupo ou não, observamos que o

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fator de personalidade Socialização foi a única variável capaz de prevê-la, e apenas na

condição BRS.Concluímos que a nossa generosidade, ou falta dela, é em grande parte

definida pela nossa personalidade, em particular o fator Socialização. Mas essa mesma

generosidade pode ser enviesada pela relevância social dos grupos envolvidos e que, se esta

última for alta o suficiente, mesmo pessoas que, graças a sua personalidade, normalmente não

apresentam generosidade, são capazes de demonstrá-la quando o beneficiário é um membro

de seu próprio grupo.

PALAVRAS-CHAVE: Viés de Grupo, Generosidade, Cooperação, Psicologia Evolucionista,

Relevância Social

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ABSTRACT

Behaviors found in every culture, general human tendencies, are knew in Evolutionary

Psychology as evolved psychological mechanisms. Those behaviors date back the

Environment of Evolutionary Adaptedness, and a well know example of such behavior is the

group bias (or intergroup bias). This bias consists of recognizing members of your own group

and favor them, while disregarding or even harming outsiders. This behavior was and still is

extensively studies, among the most important conclusions about this phenomenon is the

Minimal Groups Paradigm, in which it was discovered that the group bias could trigger even

when the groupings were done in following very arbitrary criteria. In the current study, our

goal was to test if the participants, when playing an economic game, would behave in a

similar fashion under a minimal group situation and real groups, with social meaning. With

this in mind we made two experimental conditions, a Low Social Meaning one (LSM) where

the groups were represented by letters (H, B, O and Y) in which participants would be

ramdomly assorted to each group; and the High Social Meaning condition (HSM) in which

religion was used as a group marker, containing the two most dominating religious groups in

Brazil, catholic and evangelic, another group containing all the other affiliations e the fourth

and last group representing atheists and agnostics. The ratio of donations in-group/out-group

was roughly the same across both conditions. However, the amount of wafers donated to in-

group was significantly bigger in the HSM condition. By verifying which aspects of the

individual best predicted the observed group bias, we discovered that the in-group Entitativity

perception as well as the Group Identification were the most relevant variables, however, only

in the HSM condition. Simultaneously, by verifying the generosity, biased or not, we

observed that the agreeableness personality factor was the only variable able to predict it, and

only in the LSM condition. We conclude that our generosity, or the lack of it, is for most part

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defined by our personality, the Agreeableness factor in particular. But this very generosity can

be biased by the social meaning of the involved groups and that, if the social meaning is big

enough, even people who, thanks to their personality, normally wouldn’t show generosity, are

able to do so when the receiver is an in-group member.

KEYWORDS: Group Bias, Generosity, Cooperation, Evolutionary Psychology, Social

Meaning

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SUMÁRIO

BANCA EXAMINADORA ...................................................................................................... iv

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... v

RESUMO ................................................................................................................................. vii

ABSTRACT .............................................................................................................................. ix

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................... xiii

APRESENTAÇÃO GERAL ...................................................................................................... 1

ARTIGO TEÓRICO: Percepção de grupo e a generosidade enviesada ..................................... 2

Resumo ....................................................................................................................................... 3

Abstract ....................................................................................................................................... 4

Introdução ................................................................................................................................... 5

Cooperação, suas vantagens, seu preço e seus dilemas .............................................................. 6

Sobre “nós e eles” ....................................................................................................................... 9

Entitatividade: percebendo “muitos” como “um” .................................................................... 12

Religião como marcador de grupo ........................................................................................... 14

Discussão .................................................................................................................................. 18

Referências ............................................................................................................................... 21

ARTIGO EMPÍRICO: Papel da relevância social na generosidade e no viés de grupo: Uma

comparação entre grupos mínimos e filiação religiosa ............................................................ 28

Resumo ..................................................................................................................................... 29

Introdução ................................................................................................................................. 31

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Método ...................................................................................................................................... 36

Resultados ................................................................................................................................. 44

Discussão .................................................................................................................................. 54

Referências ............................................................................................................................... 62

CONCLUSÃO GERAL ........................................................................................................... 69

ANEXOS .................................................................................................................................. 71

Anexo A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................................... 72

Anexo B: Questionário Socioeconômico ................................................................................. 73

Anexo C: Questionário de Fundações Morais .......................................................................... 74

Anexo D: Escala de Autoestima de Rosemberg ....................................................................... 76

Anexo E: Escala de Necessidade de Pertencer ......................................................................... 77

Anexo F: Questionário Socialização ........................................................................................ 78

Anexo G: Questionário de Religiosidade ................................................................................. 79

Anexo H: Questionário de Entitatividade e Identificação de Grupo ........................................ 80

Anexo I: Questionário Qualitativo ........................................................................................... 83

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS

Figura 1. Escolha para quem doar. No eixo X, condição (a) e grupo por cada condição (b, c). No eixo Y,

porcentagem para cada categoria do eixo X. O gráfico (a) mostra a proporção da escolha in-group e out-group

para cada condição experimental. No gráfico (b) estão as quatro letras que representam os grupos da condição

BRS e, no (c), as quatro filiações religiosas usados na condição ARS. * p < 0,05 ....................................... 45

Figura 2. Porcentagem de participantes que doou os wafers para o próprio grupo (eixo Y) pela quantidade de

wafers (eixo X) para cada condição experimental. * p < 0,01 ................................................................. 47

Figura 3. Boxplot com o nível de prática religiosa dividido em “Praticantes” e “Não Praticantes” no eixo X para

indivíduos católicos da condição ARS. No eixo Y está a quantidade wafers doados para o próprio grupo menos a

quantidade doada para grupos externos. * p < 0,05 ............................................................................... 52

Figura 4. Em vermelho estão os participantes que consideram membros do corpo de bombeiro de Natal como

um grupo mais coeso do que pessoas esperando em uma parada de ônibus, a percepção de grupo esperada. Em

azul estão os restantes. No eixo Y estão as condições experimentais. No eixo X estão as condições experimentais

e no eixo y a proporção de participantes que respondeu sim/não para cada condição. A proporção de indivíduos

que respondeu “não” a essa pergunta foi de aproximadamente 30% na condição BRS e 14% na ARS. * p < 0,001

.................................................................................................................................................. 53

Tabela 1. Frequência Válida de Participantes por Filiação Religiosa em Função das Condições

Experimentais(Dois Participantes da Condição BRS não Declararam Filiação Religiosa)........................... 37

Tabela 2. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Escore de Viés de Grupo na Condição BRS ........................................................... 49

Tabela 3. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Escore de Viés de Grupo na Condição ARS ........................................................... 49

Tabela 4. ANOVA dos Modelos de Regressão Linear Hierárquica para a Variável Dependente Escore de Viés de

Grupo ......................................................................................................................................... 49

Tabela 5. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Quantidade Total Doada na Condição BRS ........................................................... 50

Tabela 6. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Quantidade Total Doada na Condição ARS ........................................................... 50

Tabela 7. ANOVA dos Modelos de Regressão Linear Hierárquica para a Variável Dependente Quantidade Total

Doada ......................................................................................................................................... 50

Tabela 8. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Doação In-group(Quantidade) na Condição BRS .................................................... 51

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Tabela 9. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Doação In-group(Quantidade) na Condição ARS .................................................... 51

Tabela 10. ANOVA dos Modelos de Regressão Linear Hierárquica para a Variável Dependente Doação In-

group (Quantidade) ........................................................................................................................ 51

Tabela 11. Correlações de Spearman entre as Variáveis ....................................................................... 54

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APRESENTAÇÃO GERAL

Um dos tópicos mais estudados nas ciências humanas, o viés de grupo (ou viés

intergrupo) intrigou cientistas sociais por décadas e, ultimamente, está sendo abordado pela

perspectiva evolucionista. Porém, o papel da relevância social do grupo em questão sobre o

viés intergrupo é um dos pontos que ainda precisam ser melhor trabalhados, e este é o

objetivo deste trabalho. Para tal, discorremos sobre essa questão em dois artigos diferentes,

um teórico e outro empírico.

O artigo teórico fará uma revisão da literatura sobre as hipóteses existentes de

cooperação, de como esta cooperação pode ser modulada pelo viés de grupo e, também, sobre

nossa tendência em perceber indivíduos como pertencentes a uma entidade discernível. Para

melhor ilustrar os argumentos apresentados, discutiremos sobre um grupo social em particular

de alta relevância na sociedade, a filiação religiosa, que em diversos momentos na história foi

responsável tanto pela cooperação entre indivíduos como pelo conflito entre grupos.

No artigo empírico, testaremos as hipóteses sobre o viés de grupo comparando duas

condições experimentais marcadas pela diferente relevância social de seus grupos e em como

essa diferença afetava o desempenho dos participantes em uma variação do jogo dos bens

públicos. Conjuntamente, testaremos o poder de predição de certas variáveis sobre o resultado

dos jogos, nomeadamente, a Entitatividade, Autoestima, Socialização, Necessidade de

Pertencer e as cinco Fundações Morais.

Fecharemos esta dissertação com uma conclusão geral abordando as questões tratadas

no artigo teórico e como os resultados do artigo empírico colaboraram com a literatura.

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ARTIGO TEÓRICO

Percepção de grupo e a generosidade enviesada

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Percepção de grupo e a generosidade enviesada

Eduardo Bitencourt de Oliveira¹, Maria Emília Yamamoto¹ e WallisenTadashi Hattori²

¹ Laboratório de Evolução do Comportamento Humano, Programa de Pós-graduação em

Psicobiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil

² Departamento de Saúde Coletiva, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de

Uberlândia, Uberlândia, Brasil

Resumo:

A tendência universal humana de separar pessoas entre as que pertencem ao seu próprio grupo

ou a um grupo externo, favorecendo as primeiras e ignorando ou antagonizando as últimas, é

conhecida como viés de grupo. Um dos fenômenos mais estudados pelos cientistas sociais,

suas implicações são amplas, e variam desde doar algumas fichas a mais em um jogo

econômico para seu colega de grupo a conflitos sangrentos entre facções rivais. Discutiremos

esse fenômeno apresentando uma breve revisão sobre as principais hipóteses a respeito não só

do viés de grupo, como da cooperação de maneira mais geral, incluindo os estudos da década

de 70 utilizando o Paradigma dos Grupos Mínimos assim como a abordagem mais recente da

Psicologia Evolucionista que busca explicar o viés de grupo sob a luz da evolução.

Destacamos a filiação religiosa como um bom exemplo de grupo social com forte influência,

tanto na cooperação quanto no conflito, presente em maior ou menor grau na vida de todas as

pessoas, o que contrasta com os grupos mínimos realizados em ambiente laboratorial.

Ressaltamos a possibilidade de que certos aspectos fundamentais de um grupo social, não só

da filiação religiosa, como da etnia ou do time de futebol, não possam ser replicados em um

típico experimento de grupos mínimos.

Palavras-chave: Viés de Grupo, Psicologia Evolucionista, Cooperação, Religião, Evolução.

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Group perception and the biased generosity

Abstract: The human universal inclination to separate persons between those who belong to

their own group and outsiders, favoring the former while ignoring or antagonizing the later, is

knew as group bias. One of the most heavily investigated phenomena by social scientists, it

has wide implications, ranging from donating a few more tokens in an economic game to a

fellow group member to bloody conflicts between rival factions. We will discuss this

phenomenon by presenting a brief review of the main hypothesis concerning not only the

group bias, but cooperation as a whole, including studies from the 70s that employed the

Minimal Groups Paradigm as well as the more recent approach from the Evolutionary

Psychology who strive to explain the group bias in the light of evolution. We highlight the

religious filiation as a good example of a social group with strong influence, both in

cooperation and conflict, present to a greater or lesser extent in everyone’s lives, contrasting

with the minimal groups realized in a laboratorial environment. We stress the possibility that

certain fundamental aspects of a social group, not only religious filiation, but ethnicity and

soccer team as well, can’t be replicated in a typical minimal groups experiment

Keywords: Group Bias, Evolutionary Psychology, Cooperation, Religion, Generosity

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Dentre as muitas maneiras de se estudar o comportamento humano, destaca-se a

Psicologia Evolucionista (PE), que aborda a compreensão da mente humana aplicando

conceitos oriundos da Biologia Evolutiva e da Psicologia Cognitiva (Cosmides & Tooby,

1997). Um destes conceitos, adaptação, é essencial para entender como certos traços surgiram

e se mantiveram na população. Segundo Sober (1984), adaptação pode ser interpretada tanto

como o processo de modificação fenotípica pela seleção natural como o produto deste

processo. Muito semelhante, porém ligeiramente distinto, é o conceito de adaptativo, ou seja,

traços que aumentam o sucesso reprodutivo de seu portador (Laland & Brown, 2002). Para

um traço ser reconhecido como uma adaptação, ele tem que ter sido adaptativo em algum

momento da história evolutiva da espécie em questão, mas não necessariamente o é na

atualidade. Entender como um pode ser ou ter sido adaptativo ajuda a entender o

comportamento como um todo.

Isso, porém, é apenas uma maneira de se compreender o comportamento. Quando se

investiga os porquês, é necessário lembrar que muitos deles não são auto-excludentes, mas

sim, complementares. As quatro questões de Tinbergen (1963) são o modelo clássico seguido

por todos que estudam o comportamento. O valor adaptativo do comportamento que

mencionei no parágrafo anterior, consiste em uma explicação última e foi o foco de muitos

estudos comportamentais abordados pela PE. A ontogenia do comportamento é alvo de

estudos longitudinais, e estudos que comparam crianças, adolescentes e adultos. A história

evolutiva do comportamento nos informa quando e onde essa característica surgiu ou deixou

de existir, bastante relevante para a PE, principalmente quando se trabalha com hipóteses em

volta do Ambiente de Adaptação Evolutiva (AAE), que seria o ambiente em que as

características genotípicas presentes foram selecionadas (Tooby & Cosmides, 1990) . E, por

fim, como este comportamento funciona, quais os mecanismos envolvidos. Apesar de eu ter

apresentado as quatro questões como uma maneira de estudar o comportamento humano, ela

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não está limitada nem a humanos, nem a comportamento, podendo ser usada para investigar

qualquer característica em um ser vivo (Bateson & Laland, 2013).

O comportamento que será discutido nesse artigo é uma tendência universal humana

em categorizar as pessoas entre “nós” e “eles”, dando preferência àqueles que reconhecem

como parte do seu grupo (nós) sobre aqueles que não o são (eles). Também veremos como

diferentes grupos sociais têm diferentes relevâncias, não só para seus membros como para a

população como um todo, comparando grupos formados arbitrariamente com aqueles que são

amplamente reconhecidos pela sociedade, como a religião. Para este fim, iniciaremos o artigo

revendo conceitos importantes de cooperação, uma categoria de comportamentos

particularmente relevante para humanos, considerando que somos animais em que a sociedade

é um fenômeno ao mesmo tempo complexo e muito presente em nossas vidas.

Cooperação, seus benefícios, seu preço e seus dilemas

Características que, aparentemente, reduzem as chances de um indivíduo sobreviver e

se reproduzir são definidas como um “quebra-cabeças darwiniano” (Alcock, 2001). Entre

eles, a cooperação seja talvez o mais clássico desses quebra-cabeças, uma vez que ela

envolve, no mínimo, um cooperador (que paga um custo c) e um beneficiário (que recebe um

benefício b), custo e benefício sendo mais uma vez interpretados como aumento ou

diminuição no sucesso reprodutivo (Nowak, 2006). Logo, para entender se e como a

cooperação pode trazer benefícios para o cooperador, é necessário elaborar uma pergunta

adequada, como: a cooperação pode ser um comportamento adaptativo?

Neste caso, sim, pode ser, uma vez que atenda a certos critérios. Um desses critérios é

apresentado pela seleção de parentesco. Em um episódio famoso, perguntaram a Haldane se

ele pularia para salvar um irmão se afogando, o qual respondeu que “não, mas pularia para

salvar dois irmãos ou oito primos” (Haldane, citado por McElreath & Boyd, 2007, p. 82) em

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tom de brincadeira, mas que mais tarde viria a ser conhecido como a Lei de Hamilton ou

Seleção de Parentesco (Hamilton, 1964). Na seleção de parentesco existe o grau de

parentesco, que pode ser entendido como a probabilidade de que um dado gene apareça em

dois indivíduos, sendo 50% entre pais e filhos e ou entre irmãos, 25% para tios e 12,5% para

primos (Frank, 1998; Taylor, 1992), o que explica a brincadeira de Haldane, pois seria

necessário dois irmãos (duas vezes 50%) ou oito primos (oito vezes 12,5%) para compensar o

risco de morrer (ele, logicamente, compartilha 100% dos genes consigo mesmo). Uma ação

que afete apenas o próprio indivíduo precisa apenas que o benefício (b) suplante o custo (c)

para ser considerada adaptativa. Porém, quando essa ação afeta outro indivíduo aparentado, o

custo terá que ser menor que o produto do benefício pelo grau de parentesco (r, do inglês,

relatedness). Logo, a fórmula da Lei de Hamilton é c < b*r.

O problema da cooperação persistiu, no entanto. Muitos comportamentos sociais, em

particular entre humanos, não envolviam laços de parentesco e mesmo assim apresentavam

decisões caracteristicamente pró-sociais. Uma criança que, por exemplo, compartilhasse parte

de sua merenda com um colega, ficaria fora do escopo da seleção de parentesco. Para tal, o

conceito de Altruísmo Recíproco (ou reciprocidade), proposto por Robert Trivers (1971),

surge para explicar esse tipo de comportamento. Na reciprocidade direta, as duas partes

envolvidas estabelecem uma relação de troca de favores. Inúmeros exemplos na natureza

podem ser encontrados, como a catação em primatas (Schino, 2007) e a partilha de sangue

ingerido entre morcegos hematófagos (Wilkinson, 1988). O outro tipo de reciprocidade é a

indireta, no qual reputação é um aspecto central. Nessa forma cooperação, um indivíduo

coopera com outro, mas não necessariamente esse outro irá retribuir o favor, porém, a

reputação do cooperador aumenta para terceiros, desde que estes terceiros estejam cientes de

que o ato cooperativo ocorreu, o que aumenta a chance de que estes últimos cooperem com

ele no futuro (Alexander, 1987).

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No estudo da cooperação em humanos, muitas limitações metodológicas desaparecem

ou são amenizadas, uma vez que é possível ter informações diretas sobre opiniões explícitas

através de questionários, tarefa inviável em outros animais. Outra diferença entre humanos e

os animais restantes é percebida nos jogos econômicos: Curiosamente, humanos são mais

generosos do que o esperado na maioria dos casos, a seleção de parentesco e altruísmo

recíproco não são suficientes para explicar o comportamento observado. Quando isso ocorre,

dá-se o nome de reciprocidade forte (Gintis, 2000). Reciprocidade forte pode se manifestar de

diversas formas, inclusive na predisposição a punir (e arcar com o custo de fazê-lo) indivíduos

do grupo que se comportaram de maneira egoísta. Certos pesquisadores argumentam que a

dita “reciprocidade forte” é, na verdade, uma consequência do método, que não reflete o

comportamento existente no mundo real (Paál & Bereczkei, 2015; Guala, 2012).

Entre humanos e formigas, duas formas de vida bastante distintas, uma das poucas

semelhanças é o fato de ambos formarem sociedades e ambos serem claramente bem

sucedidos em seus meios, exemplos vivos de como a sociabilidade tem um forte impacto na

aptidão de quem a exibe. Isso, porém, não significa que cooperar é sempre a escolha mais

interessante. Cooperar incorre no risco de que a generosidade não será retribuída.

Evidentemente, ajudar sem ser ajudado é pior do que simplesmente não ajudar.

Simultaneamente, colher os frutos do trabalho coletivo sem arcar com os custos de cooperar,

em outras palavras, trapacear, é sempre uma perspectiva tentadora. Quanto mais cooperadores

são os membros de uma sociedade, mais tentador é se aproveitar dela, incentivando

indivíduos trapaceiros, conhecidos na literatura pelo termo em inglês, free riders. Na

realidade, no entanto, indivíduos não necessariamente se comportam apenas como

cooperadores ou trapaceiros, mas podem desempenhar uma ou outra estratégia dependendo do

contexto. Essa situação cria os dilemas sociais (Axelrod, 1984), em que o indivíduo tem que

balancear seu sucesso pessoal e o sucesso de seu grupo. Em sociedades humanas, esse dilema

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aparece desde a divisão da conta de um churrasco entre amigos até acordos internacionais e,

em todos os casos, conflito é uma possibilidade iminente.

Sobre “nós e eles”

O risco de cooperar e não ser retribuído cria a necessidade de se possuir um critério

para separar os indivíduos entre pouco e bastante confiáveis. Uma das maneiras de julgar se

um indivíduo é confiável ou não é identificar se este é um membro de seu grupo ou de um

grupo externo, uma vez que membros do próprio grupo são normalmente percebidos como

mais confiáveis (Dovidi et al. 2002; Moy & Ng, 1996). O produto dessa categorização é um

favoritismo, conhecido como viés de grupo, que consiste na tendência a favorecer membros

pertencentes ao seu grupo ao mesmo tempo em que se ignora ou hostiliza membros de um

grupo externo. O favorecimento do próprio grupo também é conhecido como favoritismo in-

group, ou etnocentrismo, e hostilidade a um grupo externo também recebe o nome de

xenofobia (Hammond, & Axelrod, 2006) ou paroquialismo (Choi & Bowles, 2007).

Etnocentrismo e xenofobia são faces da mesma moeda, uma vez que é difícil um ocorrer sem

que o outro se manifeste. As consequências disso variam desde viés na escolha do

consumidor Klein e Ettensoe (1999) a genocídios, como o de Ruanda e o Holocausto

(Yamamoto & Lopes, 2009).

Esse viés foi encontrado em todas as culturas estudadas, uma evidência de que ele é

um mecanismo psicológico evoluído, uma tendência natural presente nos humanos

(Hammond & Axelrod, 2006; Kurzban, Tooby & Cosmides, 2001; Cashdan, 2001). Essa

categorização “nós versus eles” é um exemplo de comportamento conhecido pela Psicologia

Evolucionista como parte da natureza humana universal (Yamamoto & Lopes, 2009; Brown,

2004), ou seja, um traço com forte componente genético presente na espécie como um todo e

não restrito a apenas certas culturas. De fato, a categorização “nós versus eles” é tão

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predominante no comportamento humano que identificamos sílabas associadas com pronomes

normalmente usados para designar o próprio grupo, como “nós”, como mais agradáveis do

que sílabas com pronomes típicos de frases referentes a grupos externos, como “eles” (Perdue,

Dovidio, Gurtman & Tyler, 1990).

Notadamente, o viés de grupo não aparece apenas em grupos com algum significado

social prévio. Em um estudo pioneiro, Tajfel, Billig, Bundy e Flament (1971) dividiram os

participantes de seu experimento sob o suposto critério de que uns haviam superestimado o

número de pontos em uma imagem enquanto outros haviam subestimado. Feita a divisão, os

participantes deveriam alocar dinheiro para outros participantes em uma matriz.

Surpreendentemente, mesmo com um critério irrelevante como o que foi usado neste

experimento, os participantes procuraram recompensar mais os indivíduos pertencentes ao seu

grupo. Esse tipo de experimento ficou conhecido como Paradigma dos Grupos Mínimos,

comumente abreviado em MGP (do inglês, Minimal Groups Paradigm), que consiste em

alocar os participantes em grupos com o mínimo possível de relevância social.

Houve diversas tentativas de explicar o viés de grupo. Uma delas foca na percepção

assimétrica de similaridades, proposta por Byrne (1969). Byrne argumenta que tendemos a

gostar mais de pessoas que compartilham nossas crenças e atitudes e não gostar das que não

compartilham. Rokeach (1960) acrescenta que o viés intergrupo emerge da superestimação de

similaridades entre membros de um grupo e subestimação entre membros de grupos

diferentes. Uma explicação insatisfatória, pois deixa em aberto o porquê de estimar

similaridades de maneira diferente para membros in-group e out-group. Outra explicação foi

oferecida por Rabbie e Horwitz (1969), defendendo que é o destino comum dos membros de

um grupo que dispara o viés intergrupo. Em um experimento em que os participantes eram

divididos em dois grupos, os de camisa verde e camisa azul, e contendo duas condições

experimentais, uma com recompensas atraentes e outra sem recompensas, eles observaram

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que só na condição com recompensas atraentes o viés de grupo se manifestava. Estes mesmos

autores voltaram atrás em um estudo que revelava que mesmo na condição sem recompensas

o viés de grupo poderia ser visto desde que o número de participantes aumentasse

significativamente (Horwitz & Rabbie, 1982).

Em 1973, Tajfel e Billig desenvolveram a Teoria da Identidade Social, também

conhecida por sua sigla SIT (em inglês, Social Identitiy Theory). A identidade social é a parte

do autoconceito de um indivíduo que deriva de sua percepção de vínculo a um ou mais grupos

sociais (Hogg & Vaughan, 2002), o que a distingue da identidade pessoal, que seriam as

características únicas e idiossincráticas do indivíduo. Essa teoria defende que a filiação a um

grupo é um componente central na identidade social de uma pessoa e que, portanto, ao

favorecer o seu grupo, mantém-se uma identidade social positiva de si mesmo (Trepte, 2006;

Hogg, Terry, & White, 1995; Tajfel & Turner, 1979). A SIT defende o princípio do

metacontraste, que diz que, para existir favoritismo in-group, é necessário existir

comparações intergrupo e, consequentemente, a presença de um out-group bem definido

(Turner et al., 1987).

Uma abordagem alternativa é oferecida por Yamagishi, Kin e Kiyonari (1999), em um

estudo que apresenta a Reciprocidade Generalizada Direcional, ou BGR (do inglês, Bounded

Generalized Reciprocity). Conforme vimos anteriormente, um dos modelos evolutivos para a

origem da cooperação é o do altruísmo recíproco indireto. A BGR diz que os grupos formam

contentores de indivíduos sujeitos à reciprocidade indireta, e uma pessoa colaboraria mais

com o seu grupo visando o aumento de sua reputação nele. Essa abordagem oferece uma

explicação última, o que permite que a questão do viés intergrupo seja mais bem trabalhada

pela PE.

Dentro da própria área da PE, a questão do viés de grupo e, mais especificamente o

etnocentrismo, foi trabalhada. Um dos conceitos mais importantes dentro da PE é o do

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Ambiente de Adaptação Evolutiva (AAE), referido no início deste artigo. No AAE, grupos de

caçadores-coletores frequentemente entravam em conflito uns com os outros (Kelley, 1996) e

chegavam a formar coalizões dentro do próprio grupo (Chagnon, 1992). Portanto, eles

precisariam desenvolver um mecanismo psicológico eficiente para reconhecimento de aliados

e rivais em um ambiente em que tais conceitos eram fluidos. Cosmides e colaboradores

propõem que o preconceito racial não foi selecionado especificamente, mas é um subproduto

do mecanismo de reconhecimento de coalizões e alianças (Cosmides, Tooby & Kurzban,

2003).

Entitatividade: percebendo “muitos” como “um”

Para que uma pessoa decida favorecer um grupo, antes é necessário percebê-lo. David

Hamilton (2007) destaca quatro conceitos diferentes de percepção de grupo: Homogeneidade,

Essencialismo, Operacionalidade e Entitatividade (Homogeneity, Essentialism, Agency e

Entitativity). Segundo o autor, estes conceitos foram trabalhados de maneira relativamente

independente na literatura. Destes quatro conceitos, ressaltamos Entitatividade (Pereira et al.,

2011) como não só uma maneira de perceber um grupo, mas também de defini-lo (Hamilton,

2007).

Este conceito foi elaborado originalmente por Campbell (1958) que o definiu como “o

grau de ter a natureza de uma entidade, de ter existência real” (p. 17). Para elaborá-lo,

Campbell baseou-se na ideia de Gestalt (Weirtheimer, 1923) que consistia em três fatores

principais envolvidos na percepção de diferentes objetos como componentes de uma figura

organizada: proximidade, similaridade e destino comum (ou covariância). Campbell percebeu

que a transposição de objetos separados para figura única não necessariamente estava limitado

à percepção de formas e procurou aplicar tais conceitos à percepção de grupos sociais. O

conceito de Entitatividade ficou esquecido por décadas até que dois estudos (Brewer &

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Harasty, 1996; Hamilton & Sherman, 1996), publicados independentemente, trouxeram este

conceito à discussão sobre percepção de grupo.

Estudos mais recentes ampliaram e revisaram os três fatores apontados inicialmente

por Campbell, e destacam cinco fatores principais modulando a percepção de Entitatividade

(Lickel et al., 2000). A similaridade proposta por Campbell se manteve como um fator

relevante. Destino comum foi seccionado em dois fatores principais, objetivo comum e

resultados em comum (em inglês, common goals e common outcomes, respectivamente). Os

dois novos fatores são interessantes pela maneira com que se relacionam às explicações de

viés de grupo mencionadas anteriormente. Um deles é a importância que o grupo tem para os

seus membros, que se relaciona com preceitos básicos da SIT uma vez que, se o grupo serve

para consolidar a identidade social de seus membros, quanto mais importante esse grupo é

para eles mais ele será relevante para a construção da identidade social. De fato, a percepção

de Entitatividade tem forte relação com Identificação de Grupo (Castano, Yzerbyt &

Bourguignon, 2003). O outro novo fator de Entitatividade é a alta interação entre seus

membros, o que por sua vez aumenta a chance de um membro retribuir uma atitude

cooperativa (seja ele o beneficiário de tal atitude ou meramente espectador) tendo relação com

a abordagem oferecida pela BGR.

O papel da Entitatividade fica mais nítido ao comparar como processamos informação

nova sobre indivíduos e grupos diferentemente (Hamilton & Sherman, 1996). Por exemplo,

estamos mais propensos a fazer atribuições disposicionais ao julgar um indivíduo do que um

grupo (Susskind et al., 1999; McConnell et al., 1997, 1994). Ainda, o armazenamento e

organização de informações sobre o comportamento de indivíduos tendem a ser mais

eficientes do que o de grupos (McConnell et al., 1994; Wyer, Bodenhausen & Srull, 1984).

Porém, conforme a percepção da Entitatividade do grupo vai ficando mais alta, mais as

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pessoas processam informações sobre este de maneira semelhante ao que fariam com um

indivíduo (Yzerbyt, Rogier, & Fiske, 1998; McConnell et al., 1997).

Como vimos no tópico anterior, mesmo critérios arbitrários (como cor da camisa)

podem engatilhar a categorização de grupo. Esses critérios são conhecidos como marcadores

de grupo, e se referem a um ou mais preceitos centrais para que um indivíduo seja

considerado membro de um grupo. Um marcador de grupo bastante estudado é a etnia, que

inclui diversos traços que usamos como pistas para alocar aquele indivíduo a um grupo étnico.

Cor de pele é um exemplo, sendo escura para africano subsaarianos e clara para europeus.

Outro exemplo é a filiação religiosa, que pode ser definida por um conjunto de dogmas, tabus,

rituais e textos e será mais detalhadamente examinada no tópico a seguir.

Religião como marcador de grupo

No início deste artigo, nos referimos à cooperação, em especial entre humanos, como

o mais clássico dos quebra-cabeças darwiniano. Não é, no entanto, o mais enigmático

comportamento humano. Tal título pertence à prática religiosa, seja ela realização de cultos ou

de mera reflexão espiritual. Como explicar um fenômeno que normalmente demanda diversos

sacrifícios, sejam eles tempo, recursos ou energia, assim como dores físicas e psicológicas

(Sosis & Alcorta, 2003) e mesmo assim está presente em todas as culturas (Brown, 1991)?

Antes de tentar entender como a religião possa ter surgido e se mantido, porém, é

importante ter uma ideia razoavelmente clara do que se está tentando se explicar. Muitos

pensadores buscaram definir religião e quase todas as definições abordavam a questão da

crença no sobrenatural. Essas definições foram, no entanto, pouco satisfatórias, uma vez que é

inviável identificar a crença de um ser vivo. Steadman e Palmer (1995) definiram religião

com base na aceitação comunicada da crença no sobrenatural, transferindo assim a definição

para um comportamento observável: a fala.

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Apesar de desafiadora, muitos pesquisadores se empenharam na tarefa de desvendar a

origem evolutiva da religiosidade. Uma das hipóteses levantadas trata do papel da prática

religiosa como sinalização custosa, indicativa de comprometimento ao grupo (Bulbulia, 2009;

Sosis, 2006). A proposta é de que assim seria possível o reconhecimento e exclusão dos free

riders, visto que estes seriam incapazes de se engajar nos rituais custosos praticados pelo

grupo. Outra hipótese é oferecida por Bering (2006), que argumenta que a religião evoluiu

como um sistema cognitivo organizado com o intuito de criar representações ilusórias de

imortalidade psicológica, do significado simbólico dos fenômenos naturais e do propósito de

si. Segundo Bering, essas seriam pressões seletivas únicas ao ambiente social humano. Estas

duas hipóteses apresentadas tratam a religião como uma adaptação. Existe a hipótese de que a

religião é, na verdade, um subproduto. Essa hipótese interpreta a religião como a

manifestação de capacidades cognitivas que foram selecionadas com outro propósito, tais

como intuição moral, precaução contra desastres naturais e detecção de agentes (Boyer,

2003).

O que parece ser o ponto comum entre várias hipóteses sobre a origem da religião é

que ela tem um papel central na cooperação. Mesmo considerando que a religião não tenha

sido selecionada para esse fim, é possível que a evolução, tanto biológica quanto cultural,

moldou o comportamento religioso de forma que este funcionasse como um sistema eficiente

para resolver problemas relativos à cooperação (Pyysiäinen & Hauser, 2010), tais como o fato

de existir um baixo grau de parentesco entre membros de uma sociedade, especialmente no

ambiente atual.

Com o aumento histórico da população humana, diminui não apenas o grau de

parentesco entre os membros do grupo, como também a chance de reencontro, o que diminui

a influência da reciprocidade direta. Isso acaba tornando o ambiente mais interessante para

free riders, o que cria uma necessidade de controlá-los. Uma maneira é punindo-os, e essa

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punição pode vir de forma espontânea (punição altruísta) ou institucionalizada, com cada

cooperador contribuindo para a punição, como a criação e execução de leis feitas por

profissionais pagos com os recursos do contribuinte (punição cooperativa). O valor da

punição está em tornar o preço de não cooperar mais alto do que o de cooperar,

desencorajando free riders. Isso assume outras proporções em que a religião seguida por uma

sociedade diz que existe um agente punidor que tudo vê, como no cristianismo que tem um

deus onisciente, onipresente e onipotente.

Jaffe e Zaballa (2009) ressaltam que a eficiência de uma punição é determinada pela

razão do custo que o free rider tem que pagar (k) sobre o custo de aplicar a punição (c). Entra

na equação, a probabilidade de detectar o free rider (p). No caso da punição altruísta, esse

custo seria pessoal, enquanto na punição cooperativa ele seria dividido entre cada

contribuinte. Estes autores argumentam que o máximo de eficiência em uma punição seria

obtido caso ela fosse aplicada por um agente externo (por exemplo, um deus), o que tiraria o

custo da colaboração para os membros (c = 0). A punição seria absoluta (k = ∞) como, por

exemplo, a danação eterna. E a probabilidade de detectar o free rider seria de 100% (p = 1), o

que seria possível em um deus onisciente. No mundo real, não existem religiões exatamente

assim, mas existem religiões suficientemente parecidas neste aspecto, como as abraâmicas.

Isso é, no entanto, apenas um exemplo, que não se aplica a todas as religiões

existentes. Existem outras formas com que a religião incentiva a cooperação. Uma importante,

que é o foco dessa discussão, é que ela funciona como um marcador de grupo. Todas as

peculiaridades de uma dada religião, como costumes, dogmas, crenças, rituais e tabus, de

certo modo servem para identificar pertencimento ao grupo. Dois pontos principais precisam

ser ressaltados quanto a isso. Primeiramente, quando dizemos que a cooperação aumenta

porque os indivíduos se identificam como um grupo, não falamos de uma cooperação ampla,

irrestrita, mas sim de uma cooperação maior apenas com membros do próprio grupo. De fato,

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apesar das muitas propostas sobre como a religião afeta positivamente a cooperação, tais

como o agente punidor e sinais honestos, numerosos estudos, através do uso de jogos

econômicos, encontraram que indivíduos mais religiosos não são necessariamente mais

generosos do que não religiosos (Ahmed & Salas, 2009; Tan, 2006; Eckel & Grossman, 2004;

Orbell, Goldman, Mulford & Dawes, 1992). Dois estudos descobriram que a doação aumenta,

mas só quando o beneficiário é da mesma filiação religiosa que o doador, inclusive ateus que

favorecem outros ateus e, nestes experimentos, se comportaram de maneira muito semelhante

aos grupos religiosos (Bortolini, 2012; Yamamoto, Leitao, Castelo Branco & Lopes, 2009),

corroborando a proposta da filiação religiosa (incluindo a falta dela) como marcadora de

grupo.

O segundo ponto a ser discutido é que a religião não é o único marcador de grupo, não

é apenas ela que faz com que os seus membros favoreçam pessoas do próprio grupo. Portanto,

espera-se que outros marcadores de grupo, tais como etnia, nacionalidade e time de futebol

tenham função semelhante, o que de fato ocorre (Yamamoto & Lopes, 2009). Isso não

significa que todos os marcadores de grupo são necessariamente equivalentes em sua

influência sobre o viés intergrupo. Bulbulia e Mahoney (2008) realizaram um jogo econômico

com participantes cristãos da Nova Zelândia, em que estes presenciavam um membro do seu

grupo se sacrificar para punir um indivíduo de outro grupo. Quando o sacrifício era feito por

uma pessoa cristã, os participantes o recompensavam até quatro vezes mais do que quando era

feito por outro neozelandês. Ou seja, tanto cristãos quanto neozelandeses eram passíveis de

ser interpretados como membros in-group pelos participantes, mas o vínculo era bem mais

forte com os membros que compartilhavam a mesma filiação religiosa.

Conhecido afora como um dos países mais católicos do mundo, o Brasil presencia uma

mudança rápida em sua composição religiosa (Neri & Melo, 2011) com o número de católicos

diminuindo enquanto o número de evangélicos neopentecostais aumenta. Comparando entre

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faixas etárias, essa mudança é mais rápida na população mais jovem do que na mais idosa

(Neri & Melo, 2011). Esses dados indicam que as novas gerações estão se filiando a grupos

religiosos distintos das gerações anteriores. Isso confere perspectivas intrigantes para o estudo

do favorecimento de membros in-group e interações entre grupos, uma vez que mesmo dentro

da mesma unidade familiar a possibilidade de que os membros dessa família sejam filiados a

religiões diferentes é maior hoje do que décadas atrás.

Discussão

Conflitos entre grupos sempre existirão enquanto os interesses dos grupos envolvidos

sejam antagônicos. Isso é uma realidade não só para humanos, mas para todos os animais que

formam bandos ou sociedades, um reflexo da mesma luta entre indivíduos que é um dos

pontos centrais na seleção natural, só que elevado a outro nível organizacional. Em um nível

mais basal, esse conflito ocorre quando o território ou os recursos disponíveis sustentam

apenas um dos grupos. Mas é em nós, humanos, que vemos esses grupos lutando por

ideologias diferentes, algo até o momento não encontrado em outros animais. Por vezes, as

tais ideologias pelas quais lutamos parecem fúteis e, ocasionalmente, as consequências do

conflito gerado não são menores do que se nossas vidas dependessem disso.

De pouco vale, porém, categorizar um comportamento como meramente fútil e passar

a ignorá-lo. Ao estudá-lo, dois resultados se tornam possíveis, controlar para que esse

comportamento não ocorra ou descobrir que o que era considerado fútil não o é tanto assim.

Felizmente, muitos pensaram desta maneira e hoje temos uma vasta literatura a respeito e

nossa compreensão sobre os conflitos intergrupais é muito mais completa do que décadas

atrás. O Paradigma dos Grupos Mínimos foi um marco nessa empreitada, nos mostrando a

facilidade com que dois grupos podem se antagonizar. Ainda mais recente foi a abordagem da

Psicologia Evolucionista (PE), emprestando conceitos da Teoria da Evolução para essa

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questão tão urgente, permitindo que possamos avaliar não apenas como os conflitos ocorrem,

mas o contexto histórico que permitiu que esse comportamento surgisse e se mantivesse,

assim como o impacto que pode ter na aptidão dos indivíduos envolvidos.

Por outro lado, é injusto tratar esse fenômeno apenas pelo seu possível impacto

negativo. Ao falar do viés de grupo, lidamos também com o favoritismo para com membros

de mesma filiação. De fato, ajudar um membro do próprio grupo é prioritário (Balliet & De

Dreu, 2014). É incômodo, no entanto, perceber que cooperar com membros do próprio grupo

e desprezar ou ignorar membros de outro grupo são faces da mesma moeda. O que não

significa que não exista cooperação entre grupos, ou mesmo que os exemplos dessa

cooperação sejam escassos. Criamos ONGs para ajudar comunidades carentes, países prestam

auxílio a nações estrangeiras atingidas por um desastre natural e elaboramos programas para

diminuir o abismo de oportunidades entre etnias diferentes.

Ao investigar porque alguns indivíduos incitam guerras enquanto outros se dedicam a

uma vida ajudando pessoas carentes, é necessário reconhecer que existem fatores endógenos e

exógenos, uma dualidade popularmente conhecida por natureza e criação. Endógenos seriam

as características intrínsecas do indivíduo, tais como a personalidade, que refletiria o seu

componente genético, herança de seus pais biológicos. Um destes exemplos é como o fator de

personalidade Socialização afeta positivamente a cooperação (Bortolini, 2012; Graziano &

Eisenberg 1997; Buss, 1991). Fatores exógenos consistem no meio, tanto o meio em que o

indivíduo está atualmente inserido, como o meio em que ele se desenvolveu. Os dois fatores,

interno e externo, atuam para que o comportamento se expresse, a relevância de cada um

deles varia para cada comportamento estudado.

Apesar de a literatura sobre o viés de grupo ser rica, restam questões a ser respondidas.

Sabemos que um grupo pode não ter a mesma relevância para seus diferentes membros, e que

uma pessoa filiada a diferentes grupos pode considerá-los mais ou menos importantes para ela

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quando comparados uns aos outros. Certamente a Igreja Católica, por exemplo, com seu clero

e seus fiéis, é um grupo com maior relevância social do que dois grupos formados

espontaneamente em um experimento de jogos econômicos. E então as perguntas surgem: o

membro de um desses times formados para o experimento favoreceria seu colega de time da

mesma maneira que favoreceria um membro que frequenta a mesma igreja que ele? Ou, para

colocar de maneira mais sintética: A relevância social de um grupo afeta o viés intergrupo?

A complexidade do comportamento humano é o que o torna, ao mesmo tempo,

interessante e difícil de explicar, dado o número elevado de fatores que podem influenciar

nossas ideias e escolhas. O viés de grupo não é exceção. Temos uma tendência natural a

favorecer aqueles que percebemos como pertencentes ao mesmo grupo que nós, seja porque

se parecem mais, porque acreditam nas mesmas coisas, porque compartilham laços

sanguíneos, compartilham nosso ambiente de convívio ou até mesmo por terem a mesma cor

de pele ou por gostarem da mesma marca de eletrônicos que nós. Na maioria das vezes, as

consequências dessa tendência não passam da criação de laços mais fortes com as pessoas que

consideramos como membros de nosso grupo do que com membros de outras filiações.

Racionalmente, sabemos que uma pessoa não é melhor do que a outra por causa de critérios

tão arbitrários como este.

Estudar a história evolutiva da nossa espécie pode nos ajudar a explicar esse viés, mas

de modo algum o justifica. Em um mundo progressivamente mais globalizado, entramos em

contato diariamente com ideias divergentes das nossas, inclusive com pessoas do outro lado

do mundo. Estudar o viés de grupo, ainda mais com a abordagem evolucionista proposta pela

PE, ajuda a compreender a questão e nos dá ferramentas para combatê-lo, uma possibilidade

palpável, pelo menos quanto ao nosso conceito de raças (ver Kurzban, Tooby, & Cosmides,

2001). Estudos assim apresentam uma perspectiva animadora, em que as pessoas não

precisam odiar umas às outras por motivos banais, e possam dar espaço para comportamentos

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mais nobres, como a cooperação mais ampla, menos enviesada, de atos heróicos à gentileza

cotidiana e descomprometida.

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ARTIGO EMPÍRICO

Papel da relevância social na generosidade e no viés de grupo:

Uma comparação entre grupos mínimos e filiação religiosa

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Papel da relevância social na generosidade e no viés de grupo:

Uma comparação entre grupos mínimos e filiação religiosa

Eduardo Bitencourt de Oliveira¹, Maria Emília Yamamoto¹, Tiago Soares Bortolini²’³, e

Wallisen Tadashi Hattori⁴

¹ Laboratório de Evolução do Comportamento Humano, Programa de Pós-graduação em

Psicobiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil

² Programa de Graduação em Ciências Morfológicas, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Brasil

³ Unidade de Neurociência Cognitiva e Comportamental, Instituto D’Or de Pesquisa e

Educação, Estado do Rio de Janeiro, Brasil

⁴ Departamento de Saúde Coletiva, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de

Uberlândia, Uberlândia, Brasil

Resumo:

Este estudo compara a intensidade com que a relevância social influencia o comportamento

generoso e o favoritismo in-group. O experimento consistiu de uma variação do jogo de bens

públicos de rodada única em que 354 participantes poderiam doar de zero a cinco wafers para

um dos quatro grupos, sem perspectiva de retorno. Houve duas condições experimentais: A

condição de Baixa Relevância Social (BRS) onde os grupos eram representados por letras (H,

B, O e Y) com participantes sendo aleatoriamente alocados para cada grupo; e a condição de

Alta Relevância Social (ARS), em que a religião foi usada como marcador de grupo e

continha os dois grupos religiosos mais dominantes no Brasil, católicos e evangélicos, um

grupo contendo todas as outras filiações religiosas e o quarto e último grupo representando

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ateus e agnósticos. A razão de doações in-group/out-group foi aproximadamente a mesma

entre ambas as condições. No entanto, a quantidade de wafer doada para o próprio grupo foi

significativamente maior na condição ARS comparada à BRS. Além do mais, tanto

Entitatividade quanto Identificação de Grupo desempenharam um papel importante na

condição ARS, embora tenham sido irrelevantes na BRS. Por outro lado, o fator de

personalidade Socialização teve um impacto central em medidas de generosidade, mas apenas

na condição BRS, sendo suplantados pela Entitatividade e Identificação de Grupo na condição

ARS. Sugerimos que a personalidade, em especial o fator de Socialização, é um importante

componente do comportamento generoso, porém, no momento em que os indivíduos estão

submetidos a uma situação envolvendo grupos com alta relevância social, o viés de grupo se

intensifica independente da personalidade.

Palavras-chave: Viés de Grupo, Psicologia Evolucionista, Cooperação, Relevância Social,

Generosidade

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O viés de grupo é um fenômeno extensamente estudado pelas ciências sociais (Ruffle

& Sosis, 2006) e aparece em todas as culturas (Yamamoto & Lopes, 2009), uma evidência de

que este fenômeno deriva de mecanismos psicológicos evoluídos (Hammond & Axelrod,

2006; Kurzban, Tooby & Cosmides, 2001; Cashdan, 2001). Também conhecido como “viés

intergrupo”, consiste na tendência sistemática de avaliar membros do próprio grupo (in-

group) de maneira mais favorável que membros de grupos externos (out-group) (Hewstone,

Rubin & Willis, 2002). O viés pode se manifestar no comportamento (discriminação), na

atitude (preconceito) e cognição (estereotipagem) (Wilder & Simon, 2001; Mackie & Smith,

1998). Existem duas faces no viés de grupo, no entanto, pois ao mesmo tempo em que a

cooperação é maior para com membros do próprio grupo (etnocentrismo), também é maior a

hostilidade aos de outros grupos, esta última denominada xenofobia, ou paroquialismo (Choi

& Bowles, 2007). Segundo Balliet et. al. (2014), é o favoritismo in-group e não o

paroquialismo que resulta na discriminação intergrupal. Esse interesse substancial encontrado

na literatura em entender os mecanismos por trás do viés de grupo decorre do fato deste

fenômeno ser central na discriminação entre grupos (Yamagishi, Jin & Kiyonari, 1999), sendo

de profunda relevância para a compreensão dos conflitos que ocorreram e que ainda ocorrem

entre diferentes grupos sociais (Yamamoto & Lopes, 2009).

Um dos estudos pioneiros dessa área foi realizado por Tajfel, Billig, Bundy e Flament

(1971) e introduziu um método amplamente utilizado para o estudo da cooperação intragrupos

e o papel de diferentes marcadores de grupo: o paradigma de grupos mínimos. Nesse trabalho,

os autores separaram os sujeitos em grupos formados arbitrariamente e demonstraram que,

mesmo nessas condições, os indivíduos tendiam a favorecer aqueles pertencentes ao mesmo

grupo ao qual foram designados. Contudo, nesse trabalho, a cooperação intragrupo

envolvendo filiações arbitrárias, não foi comparada com aquela de grupos com relevância

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social, ou seja, grupos aos quais os indivíduos de fato pertencem em seu ambiente social, por

exemplo, filiação religiosa ou time de futebol.

A primeira teoria que buscou explicar o paradigma dos grupos mínimos foi

desenvolvida por Tajfel e Billig (1973), denominada Teoria da Identidade Social, ou SIT (do

inglês, Social Identity Theory). Essa teoria diferencia a identidade pessoal, ou seja,

características únicas e idiossincráticas do indivíduo da identidade social, que é a parte do

autoconceito de um indivíduo que deriva de sua percepção de vínculo a um ou mais grupos

sociais (Hogg & Vaughan, 2002). Em seu cerne, ela propõe que o viés observado é oriundo de

uma motivação humana universal para manter uma identidade social positiva de si mesmo

(Trepte, 2006; Hogg, Terry & White, 1995; Tajfel & Turner, 1979). Como a identidade social

de si é parcialmente definida por uma filiação a um grupo social, é do interesse desse

indivíduo manter o seu grupo em uma posição mais vantajosa relativa a outros grupos. Essa

teoria advoga o princípio do metacontraste, que diz que, para existir favoritismo in-group, é

necessário existir comparações intergrupo e, consequentemente, a presença de um out-group

bem definido (Turner, Hogg, Oakes, Reicher & Wetherell, 1987).

Outra abordagem é fornecida pela Reciprocidade Generalizada Direcional, ou BGR

(do inglês, Bounded Generalized Reciprocity) (Yamagishi & Mifune, 2009; Yamagishi et al.,

1999). Essa perspectiva se baseia em conceitos de caráter evolucionista, como a reciprocidade

indireta. Na reciprocidade indireta, os indivíduos cooperam com membros de um grupo, mas

não visam necessariamente reciprocidade da pessoa com que interagiram e sim aumentar a

sua reputação neste grupo, o que por sua vez aumentaria a chance de que alguém do mesmo

grupo lhe oferecesse algum benefício no futuro (Alexander, 1987). A BGR presume que os

grupos sociais funcionam como contentores de uma reciprocidade generalizada, ou seja, o

viés de grupo observado seria meramente o comportamento de indivíduos que buscam

favorecer o grupo ao qual pertencem para aumentar a sua reputação nele.

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O que define um grupo social varia entre diferentes situações. Um dos fatores

observados na definição dos grupos de cooperação é a pertinência ao grupo (De Cremer &

Leonardelli, 2003; Baumeister & Leary, 1995), que pode modular a intensidade das interações

cooperativas. Pertencer a um grupo pode ser definido por atributos aparentemente arbitrários,

como o sotaque ou o modo de vestir. Estes marcadores que sinalizam pertinência a um grupo

favorecem frequentemente a cooperação intragrupo e persistem por permitir que as pessoas se

comportem de forma altruísta, direta e seletivamente, para com os seus (McElreath, Boyd &

Richerson, 2003). Dentre os marcadores de grupo estudados estão etnia (Gonçalves, 2010) e

filiação religiosa (Yamamoto, Leitão, Castelo-Branco & Lopes, 2009), os quais parecem

favorecer o viés de cooperação intragrupo (Reynolds et al., 2007). Etnias, filiações religiosas,

assim como times de futebol e nacionalidade são exemplos de grupos que possuem alta

relevância social, contrastando com o grupo típico usado em experimentos do paradigma de

grupos mínimos que são de baixa relevância social.

Entre os grupos com alta relevância social, destaca-se a filiação religiosa como um

importante marcador de grupo. Apesar de existirem várias hipóteses sobre o papel da

religiosidade na cooperação, tais como sinalização custosa de comprometimento ao grupo

(Bulbulia, 2009; Sosis, 2006) e medo de punição sobrenatural (Johnson & Krüger, 2004),

religiosos não se mostram significativamente mais cooperativos, de maneira geral, do que não

religiosos (Ahmed & Salas, 2009; Tan, 2006; Eckel & Grossman, 2004; Darley & Batson,

1973). Porém, indivíduos religiosos cooperam mais quando o alvo da generosidade

compartilha sua filiação religiosa e, de maneira análoga, ateus cooperam mais com outros

ateus (Bortolini, 2012; Yamamoto, Leitão, Castelo Branco & Lopes, 2009). Ademais, o

vínculo entre membros de uma mesma religião pode ser até quatro vezes mais forte do que

entre membros da mesma nacionalidade (Bulbulia & Mahoney, 2008). A filiação religiosa

seria, portanto, não apenas um exemplo de um grupo com alta relevância social, mas seria

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diametralmente oposta a grupos sem qualquer relevância social, como os formados pelo

paradigma dos grupos mínimos.

Além dos marcadores de grupo, inúmeras pesquisas usando jogos econômicos em

contexto de dilemas sociais têm mostrado diferenças individuais substanciais nos padrões de

generosidade dos participantes (Yamamoto, Alencar & Lacerda, 2009; Kurzban & Houser,

2001). Dentre as variáveis mais estudadas estão os traços de personalidade que parecem

modular os padrões comportamentais na resolução dos dilemas sociais (Reynolds et al., 2007;

Dall, Houston & McNamara, 2004), em especial a Socialização (Bortolini, 2012), visto que,

indivíduos com escores altos neste fator normalmente são percebidos como mais confiáveis,

cooperativos, amigáveis, gentis e generosos, entre outros traços (McCrae & Costa, 1987).

Um conceito essencial para a compreensão da percepção de um grupo social é o de

Entitatividade (em inglês, Entitativity) (Pereira, Álvaro, Oliveira & Dantas, 2011). Campbell,

em 1958, definiu entitatividade como “o grau de ter a natureza de uma entidade, de ter

existência real” (p. 17). Entitatividade pode se referir tanto às características intrínsecas do

grupo quanto à percepção do grupo (Hamilton, 2007) e é modulado por três aspectos:

similaridade, proximidade e destino comum (Campbell, 1958). Lickel et al. (2000) retrabalha

o conceito de Entitatividade atribuindo cinco fatores a ela: similaridade, resultados em

comum, objetivo comum, interações entre os membros e importância do grupo para os

membros.

Estudos empíricos apontam para uma correlação positiva entre Entitatividade e

Identificação de Grupo (Lickel et al., 2000), ou seja, quanto maior a entitatividade do grupo

em que o indivíduo está inserido, mais ele se identifica com ele. Segundo Gaertner e Schopler

(1998), Entitatividade também se relaciona positivamente com viés de grupo visto que, neste

estudo, quanto mais próximos os participantes do mesmo grupo eram colocados, mais eles

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percebiam o seu grupo como uma entidade real e mais eles favoreciam membros do próprio

grupo no jogo econômico.

Uma meta-análise (Aberson, Healy & Romero, 2000) sugere que a Autoestima

(Schmitt & Allik, 2005; Dall, Houston & McNamara, 2004; Dini, Quaresma & Ferreira,

2004) também pode interferir no grau de generosidade individual, mostrando que indivíduos

com elevada Autoestima tendem a cooperar mais com indivíduos do próprio grupo, quando

comparados com indivíduos com baixa Autoestima. Porém, apenas quando este último é

medido de forma direta, caso contrário essas duas variáveis não se correlacionam. “Forma

direta” inclui medidas de alocação enviesada de recursos, tal qual foi feito no estudo atual,

portanto, espera-se, baseando-se nessa meta-análise, que a Autoestima tenha algum poder de

predição sobre o viés de grupo. Quanto à discriminação intergrupo, indivíduos com pontuação

elevada no escore de Necessidade de Pertencer discriminam grupos mais do que a média, ao

mesmo tempo em que a discriminação entre pessoas é menor que a média para esses

indivíduos (Carvallo & Pelham, 2006).

Outro aspecto individual com provável influência na generosidade entre membros do

mesmo grupo são as bases morais de cada indivíduo (Graham et al., 2013). Como proposto

por Haidt e Joseph (2004), dentre as bases que formam o raciocínio moral, uma delas refere-

se à lealdade a um grupo, podendo ser uma variável com poder explicativo potencial para a

cooperação intragrupo. Baseado nisso, hipotetizamos que a Entitatividade, assim como o fator

de personalidade Socialização, a Autoestima, Necessidade de Pertencer e as Fundações

Morais, em especial a que se refere à lealdade ao grupo, são características de um indivíduo

capazes de afetar positivamente o favoritismo deste ao seu grupo e, portanto, servirão como

variáveis preditoras de modelos de doações em jogos econômicos envolvendo filiação a um

grupo.

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O objetivo deste estudo é responder uma pergunta que não foi feita no estudo original

de Tajfel, Billig, Bundy e Flament, em 1971: como a relevância social pode afetar o viés de

grupo? Sabemos que em situações em que os grupos são formados arbitrariamente o viés de

grupo se manifesta, mas não sabemos de forma comparativa se estes grupos diferem, em

relação ao viés de grupo, de grupos sociais reais, com relevância social fora do experimento.

A nossa hipótese é de que sim, a relevância social afeta positivamente e quantitativamente o

viés de grupo, ou seja, os indivíduos doariam mais para membros de seu próprio grupo

quando este último não é apenas um grupo formado arbitrariamente. Para testar essa hipótese

criamos duas condições experimentais: uma denominada BRS (Baixa Relevância Social) a

qual, refletindo características do paradigma de grupos mínimos, os indivíduos eram

agrupados de forma arbitrária em grupos sem qualquer significado; e outra denominada ARS

(Alta Relevância Social) e o critério de agrupamento foi a filiação religiosa dos participantes.

“Alta” e “baixa” relevância social foram definidas pelo significado social amplamente

reconhecido dos grupos em questão pela população brasileira, uma vez que é impossível

controlar o significado que um grupo ou um símbolo pode ter a nível pessoal.

Método

Participantes

Participaram 354 estudantes de graduação dos cursos de Biologia, Nutrição,

Psicologia, Biomedicina, História e Ecologia, da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN). Apenas os participantes que declararam não ter qualquer restrição quanto ao

consumo dos bombons de wafer recheado coberto com chocolate (a partir de agora chamados

wafers) e que seguiram corretamente as regras do jogo foram incluídos nas análises.

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37

Participantes que não declararam filiação religiosa na condição ARS foram excluídos por não

ser possível determinar seu grupo nessa condição experimental totalizando 10 participantes

excluídos. Entre os 344 participantes que foram incluídos em todas as análises, 217 eram

mulheres, e a idade média era de 22,73anos (DP = 5,01 anos). O estudo foi dividido em duas

condições experimentais, com 121 na condição BRS (Baixa Relevância Social) e 223 na

condição ARS (Alta Relevância Social). As coletas foram feitas em salas de aula, com

permissão dos professores e consentimento dos participantes.

Quanto à filiação religiosa, os participantes foram divididos considerando as duas

religiões predominantes no Brasil, católicos e evangélicos (IBGE, 2010). Agnósticos e ateus

foram enquadrados na mesma categoria por se encontrarem em baixa frequência na população

e, em um estudo anterior, apresentarem escores muito semelhantes quanto à prática religiosa e

identidade religiosa (Bortolini, 2012). Os participantes que não entraram em nenhuma das três

categorias citadas acima foram agrupados em “Outras Filiações”, que incluía pessoas sem

religião (mas com crença em algo sobrenatural), filiações cristãs que não eram católicas ou

evangélicas, doutrinas diversas, como budismo e religiões de baixa frequência no Brasil,

como o rastafári. Deste modo, o grupo “Outras Filiações” foi o grupo da condição ARS com

menor significado social, fazendo com que este se assemelhe mais aos grupos mínimos

tratados na condição BRS do que os outros três grupos da ARS. Detalhes na Tabela 1.

Tabela 1. Frequência Válida de Participantes por Filiação Religiosa em Função das Condições Experimentais

(Dois Participantes da Condição BRS não Declararam Filiação Religiosa)

Frequência BRS Percentual BRS Frequência ARS Percentual ARS

Católicos 45 37,8 85 38,1

Evangélicos 23 19,3 40 17,9

Outras Filiações 39 32,8 67 30

Ateus ou Agnósticos 12 10,1 31 13,9

Total 119 100 223 100

Nota: Ateus e agnósticos foram agrupados na mesma categoria. Outras Filiações inclui qualquer posicionamento

que não se enquadre em nenhuma dos outros três grupos.

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No questionário de Entitatividade, havia duas questões de treinamento relativas à

percepção de grupo para duas situações hipotéticas: pessoas em uma parada de ônibus e

integrantes do corpo de bombeiros (Anexo H). O esperado era que os participantes

percebessem o corpo de bombeiros como a entidade mais coesa entre as duas opções,

portanto, dois grupos foram formados, “percepção de grupo esperada” e “percepção de grupo

alternativa”, a fim de verificar se os indivíduos que avaliaram pessoas em uma parada de

ônibus (percepção de grupo alternativa) como um grupo tão ou mais coeso que corpo de

bombeiros apresentavam resultados significativamente diferentes da maioria.

Procedimento

Na condição BRS, os participantes foram alocados aleatoriamente a um dos quatro

grupos e cada grupo era representado por uma letra (B, H, O, Y). Esses quatro grupos foram

formados de maneira arbitrária e não tinham qualquer significado social. A letra referente ao

grupo estava escrita no próprio envelope contendo os instrumentos que eram entregues para

cada indivíduo. Na condição ARS, os participantes eram divididos em “católicos”,

“evangélicos”, “outras filiações” e “ateus”, conforme declarado pelos mesmos no questionário

socioeconômico.

Entregamos um envelope tamanho A4 a cada um dos participantes e continha duas

cópias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo A), um pequeno

caderno contendo seis questionários (Anexo B-G), um questionário de Entitatividade e

Identidade de Grupo (Anexo H), um questionário qualitativo sobre a experiência do

participante com o experimento (Anexo I) e mais um envelope de carta para ser usado no

jogo.

O experimento foi constituído de duas partes, para ambas as condições. Uma de

questionários e a outra era um jogo econômico. Uma vez que o participante tenha lido e

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concordado com os termos no TCLE, ele recebia cinco wafers para serem usados no jogo e já

podia responder os seis questionários presentes no caderno. Oferecemos instruções gerais

sobre os questionários oralmente para toda a turma, com dois ou três experimentadores

disponíveis para tirar dúvidas. Explicamos o jogo econômico a grupos de dois a seis

participantes, para assegurar um maior entendimento por parte destes. Na condição BRS,

informamos que a letra no envelope A4 (B, H, O ou Y) era um meio para organizarmos os

dados e os recursos doados, mantendo a identificação do participante com o grupo a mínima

possível. O jogo econômico era uma variação do jogo de bens públicos, no qual os

participantes doavam parte de seus recursos para um dos quatro grupos representados na

condição experimental, mas eles não recebiam de volta esses recursos investidos. Dissemos

que estavam participando da primeira etapa da pesquisa, e os wafers doados seriam

distribuídos para membros pertencentes ao grupo que recebeu a doação. Porém, estes

membros que receberam a doação necessariamente seriam outras pessoas participando em

uma segunda etapa da pesquisa a ser feita anos depois da atual, os participantes dessa segunda

etapa jogariam apenas com os wafers recebidos pelos participantes da primeira e não seriam

capazes de retribuí-los. Em uma maneira análoga ao jogo do ditador, os indivíduos da

primeira etapa eram os ditadores e os da segunda etapa os beneficiários. Em verdade, a

suposta segunda etapa da pesquisa não existiu, a instrução foi dada desta maneira para

verificar o quanto cada participante estava disposto a doar para membros de um grupo sem

esperar qualquer retribuição. Os wafers que foram doados foram reutilizados em outras

pesquisas.

Para o jogo, instruímos os participantes a levar o envelope de carta e os cinco wafers

para trás de um biombo contendo quatro urnas, cada urna representando um grupo. Dissemos

a cada participante que ele podia doar qualquer quantidade de wafers, de zero a cinco para

qualquer uma das urnas, mas ele só poderia escolher uma. Feita a escolha da quantidade de

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wafers e em qual urna doar, o participante colocava os wafers a serem doados dentro do

envelope de carta, e este dentro da urna. Sugerimos que eles levassem um objeto para guardar

os wafers não doados, como estojos e bolsas, para que os outros participantes não vissem a

quantidade doada. Essa atividade era de rodada única. Por fim, os informamos que não

receberiam um retorno de wafers em qualquer etapa do experimento e que os únicos wafers

que teriam seriam aqueles que eles decidiram não doar a qualquer uma das urnas.

Com o término do jogo, os participantes respondiam os questionários de Entitatividade

e o qualitativo. Este último serviu para compreendermos qual foi a experiência do participante

com o experimento, além de verificar sua compreensão do jogo e se havia alguma restrição ao

consumo de chocolate, permitindo assim ser usado como critério de exclusão.

O envelope de carta usado no jogo econômico continha um código escondido em seu

interior que permitia associar o conteúdo doado com a resposta nos questionários e escalas.

Mesmo os participantes que optaram por não doar depositavam o envelope de carta vazio para

informar com segurança sobre a decisão deles.

Medidas

Os instrumentos estão apresentados segundo a ordem de apresentação para os

participantes. Detalhes sobre instrumentos listados abaixo se encontram no material

suplementar.

Questionário Sociodemográfico: foram incluídas questões sobre sexo, idade, curso e

semestre, raça ou cor da pele (IBGE, 2010), poder aquisitivo e filiação religiosa, para

caracterização da amostra. Anexo B.

Questionário das Fundações Morais: trata-se de um questionário composto por 32

itens, os quais avaliam cinco fundações morais: Cuidado/Dano, Justiça/Trapaça,

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Lealdade/Traição, Autoridade/Subversão e Inviolabilidade/Degradação (Haidt& Joseph,

2004). Anexo C.

Escala de Autoestima de Rosenberg: trata-se de uma escala de múltipla escolha sobre

Autoestima individual (concordo plenamente, concordo, discordo e discordo plenamente)

composta por 10 itens (Dini, Quaresma & Ferreira, 2004). Anexo D.

Escala da Necessidade de Pertencer: trata-se de uma escala Likert de cinco pontos,

composta por 10 itens (Leary, Kelly, Cottrell & Schreindorfer, 2012; Baumeister & Leary,

1995), variando do valor 1 para discordo fortemente ao valor 5 para concordo fortemente.

Anexo E.

Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) (Nunes, Hurtz & Nunes, 2008; Tupes &

Christal, 1992; Fiske, 1949): trata-se de uma escala Likert de sete pontos, composta por 126

itens, divididos em cinco fatores. Com base em resultados de pesquisa anterior (Bortolini,

2012), foram utilizados apenas os 28 itens do fator Socialização. Anexo F.

Questionário de Religiosidade: Esse questionário está subdividido em duas partes. A

primeira trata-se de três subescalas adaptadas de estudos anteriores (Saslow, Willer, Feinberg,

Piff, Clark, & Keltner, 2013; Fetzer, 1999), referentes à frequência de práticas religiosas

individuais (três itens) e sociais (dois itens). Todos os itens são apresentados em escala Likert,

variando do valor um para “nunca” ao valor nove para “várias vezes por dia”, para os

primeiros cinco itens. A segunda parte refere-se à identidade religiosa, com dois itens, quanto

maior o valor declarado pelo participante em cada um desses itens, mais ele se considera

religioso. Anexo G.

Questionário de Entitatividade e Identificação de Grupo (Rüsch, 2009): consiste de

uma escala não validada para o português brasileiro. Este instrumento é composto por dois

itens de treinamento para sondar a percepção de grupos hipotéticos do participante. Todas as

outras questões eram referentes ao grupo do participante em uma das condições experimentais

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(uma letra na condição BRS ou uma filiação religiosa na condição ARS). Quatro dessas

questões eram sobre a entitatividade. As 10 restantes eram duas subescalas sobre identificação

de grupo, com cinco questões cada, totalizando 16 itens no questionário inteiro. Anexo H.

Questionário Aberto sobre a Atividade Prática: Um questionário qualitativo contendo

questões referentes à experiência do participante sobre as atividades realizadas no

experimento. Seis itens que incluíam perguntas sobre qual estratégia o participante usou no

jogo econômico, se sabia qual o objetivo da pesquisa e se sentiu alguma emoção e, em caso

afirmativo, quais. Anexo I.

Análises

Para todos os testes, o critério de significância adotado foi de 0,05.

As doações foram divididas em in-group (p.e., católicos doando para católicos ou

grupo H doando para H) e out-group (p.e., católicos doando para ateus ou grupo H doando

para grupo O). Partindo dessa divisão, cada indivíduo poderia doar apenas para o próprio

grupo, para outro grupo ou para nenhum, mantendo todos os wafers. Essa categorização nos

permitiu analisar se existe ou não viés na escolha de qual grupo doar ao dividir os

participantes entre doadores in-group e out-group. Para tal, fizemos um teste de qui-quadrado

comparando a frequência de doadores in-group e out-group entre as condições ARS e BRS.

Ao comparar entre grupos da mesma condição experimental, fizemos qui-quadrado

comparando a frequência de doadores in-group e out-group entre os grupos de cada condição

experimental. Os participantes que não doaram wafers foram excluídos dessa análise (n=14).

Para verificar se o número de participantes doou mais para o próprio grupo do que seria

esperado em uma doação cega, fizemos um teste binomial colocando a proporção esperada de

0,25 para doação in-group.

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Além da escolha de qual grupo doar, verificamos quantos wafers foram doados,

separadamente para as doações in-group e out-group, gerando duas variáveis dependentes,

que denominamos como doação in-group (quantidade) e doação out-group (quantidade),

respectivamente. Ou seja, quando eram analisadas todas as doações in-group, todos os

participantes que não haviam doado para o próprio grupo eram excluídos, incluindo

participantes que não doaram para qualquer um dos grupos. Em seguida, realizamos uma

composição das duas análises anteriores e os participantes que não doaram também foram

incluídos. Todos os participantes que foram excluídos nas análises anteriores, seguindo seus

critérios de exclusão, foram inseridos nesta terceira análise como se tivessem doado 0 (zero).

Isso gerou mais duas variáveis dependentes, doação in-group (quantidade x grupo) e doação

out-group (quantidade x grupo).

Criamos outras duas variáveis a partir das previamente citadas. Uma delas consiste na

diferença entre a variável doação in-group (quantidade x grupo) e doação out-group

(quantidade x grupo), denominada “escore do viés de grupo”. A outra variável foi a

quantidade total doada, que levava em consideração todos os wafers doados, independente de

qual grupo doou ou recebeu a doação, gerando um total de seis variáveis dependentes.

Usamos teste não paramétricos, o Mann-Whitney para comparar o padrão de doações entre as

duas condições experimentais e o Kruskal-Wallis para comparar doações entre grupos de uma

mesma condição experimental. Para verificar melhor a diferença nas doações in-group entre

condições transformamos a quantidade de wafers doadas em uma variável categórica e foi

feita uma comparação na quantidade de participantes que doou cada quantidade fixa de wafers

usando o qui-quadrado.

Criamos modelos de regressão linear hierárquico pelo método de entrada forçada com

o intuito de verificar quais variáveis melhor prediriam o padrão de doação. Para isso, as

variáveis independentes consideradas foram: Entitatividade (bloco 1), fator de personalidade

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Socialização (bloco 2), os cinco fatores de Fundações Morais (bloco 3), Necessidade de

Pertencer (bloco 4) e Autoestima (bloco 5). Foram feitos modelos separadamente para cada

condição experimental, assim como um para cada uma das seis variáveis dependentes. Para

verificar se houve diferença entre as condições experimentais para cada variável independente

utilizada nos modelos de regressão linear hierárquica, fizemos um teste de Mann-Whitney.

Comparamos a porcentagem com que os dois grupos formados através das respostas

nas questões ancora do questionário de Entitatividade e Identificação de Grupo, “Percepção

de Grupo Esperada” e “Percepção de Grupo Alternativa”, se apresentou em cada condição

experimental através de um teste de qui-quadrado. Fizemos também correlações de Spearman

entre as variáveis preditoras. Por fim, agrupamos os participantes em dois clusters utilizando a

prática religiosa como fator de agrupamento.

Resultados

Para quem doar

Em uma doação plenamente cega, a chance de que cada participante doe para a urna

que representa o seu grupo é de 25%, uma vez que são quatro urnas no total. Para testar se a

proporção de doações in-group observada foi maior do que em uma doação plenamente cega,

realizamos um teste binomial com proporção esperada de 0,25 em ambas as condições, e a

proporção observada foi de 0,63 na condição BRS e 0,68 na ARS. Ambas diferiram

significativamente do esperado (p < 0,001).

Quando testada a razão entre doações in-group e out-group, verificamos que os

valores observados são semelhantes aos valores esperados para ambas as condições

experimentais (χ² = 0,87; gl = 1; p = 0,350) (Figura 1a). Seccionando cada condição

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experimental em seus devidos grupos, observa-se que os valores observados são semelhantes

aos valores esperados na condição BRS (χ² = 1,53; gl = 3; p = 0,675) (Figura 1b). Porém, na

condição ARS, o valor observado para “outras filiações” difere significativamente do valor

esperado (χ² = 11,08; gl = 3; p = 0,011), com apenas 32 dos 62 participantes doando para o

seu próprio grupo, ou seja, aproximadamente 52%, diferente do percentual médio para a

condição, que foi de aproximadamente 68% (Figura 1c).

O quanto doar

Considerando apenas a quantidade de wafers em cada doação in-group, observou-se

que foi significativamente maior na condição ARS do que na BRS (U = 3871; z = -2,83; p =

0,005). Analisando a diferença entre as doações in-group e out-group, observa-se que, mais

uma vez, os participantes apresentaram um viés de grupo maior na condição ARS do que na

BRS (U = 10001,5; z = -0,23; p = 0,025). Porém, ao se comparar a doação in-group

(quantidade x grupo), nota-se que a diferença entre condições não é significativa, apesar de

apresentar tendência (U = 11099,5; z = -1,84; p = 0,066). Na Figura 2, observa-se a diferença

entre as duas condições experimentais no que se refere à quantidade doada para o próprio

grupo, porém, com a variável “quantidade de doação in-group (quantidade)” transformada em

uma variável categórica. O teste de qui-quadrado feito revelou que os valores observados para

participantes que doaram apenas um wafer são significativamente distintos do valor esperado

(χ² = 14,36; gl = 4; p = 0,006), sendo a condição BRS mais alta e a ARS mais baixa. Além

disso, é possível observar uma tendência de que doações baixas são mais comuns na condição

BRS, e altas mais comuns na ARS.

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Figura 1. Escolha para quem doar. No eixo X, condição (a) e grupo por cada condição (b, c). No eixo Y,

porcentagem para cada categoria do eixo X. O gráfico (a) mostra a proporção da escolha in-group e out-group

para cada condição experimental. No gráfico (b) estão as quatro letras que representam os grupos da condição

BRS e, no (c), as quatro filiações religiosas usados na condição ARS. * p < 0,05

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Figura 2. Porcentagem de participantes que doou os wafers para o próprio grupo (eixo Y) pela quantidade de

wafers (eixo X) para cada condição experimental. * p < 0,01

O que prediz o quanto doar

Houve correlação forte e positiva entre as duas subescalas de identificação de grupo

utilizadas neste estudo (ρ = 0,87; p < 0,001), assim como correlações fortes e positivas entre a

subescala de entitatividade e cada uma das escalas de Identificação de Grupo (subescala 1: ρ

= 0,71; p < 0,001; subescala 2: ρ = 0,72; p < 0,001). Devido a essa alta correlação entre as três

variáveis, apenas Entitatividade foi utilizada como variável preditora.

Cinco modelos foram comparados para cada condição experimental separadamente.

Utilizando o escore de viés de grupo (doação in-group menos doação out-group) como

variável dependente, observa-se que nenhum modelo foi significativo, indicando que os

preditores aqui testados não conseguem prever a aleatoriedade das doações na condição BRS

(Tabela 2), mas previram na condição ARS (Tabela 3). Na Tabela 4, apresentamos a ANOVA

dos cinco modelos para cada condição, lado a lado. O Modelo 1, contendo apenas

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Entitatividade como variável preditora (coeficiente de Entitatividade: β = 0,21; t = 3,17; p =

0,002), foi responsável por explicar 4% do viés de grupo para os participantes da condição

ARS. O teste U de Mann-Whitney revelou que apenas a Entitatividade foi diferente entre as

condições experimentais, sendo maior na condição ARS (U = 9936,50; z = -4,04; p < 0,001).

Ao fazer a regressão usando a quantidade total doada, ou seja, tanto as doações in-

group quanto out-group, nota-se que na condição BRS, o modelo 2 é significativamente

melhor do que o modelo 1 (Tabela 5), ou seja, foi o fator de personalidade Socialização

(coeficiente de Socialização: β = 0,28; t = 2,93; p = 0,004), e não a Entitatividade (coeficiente

de Entitatividade: β = -0,01; t = -0,59; p = 0,556), que predisse a variável dependente,

explicando 7,4% da variância. Para a condição ARS, novamente, o primeiro modelo,

contendo apenas Entitatividade, foi capaz de explicar 4,6% da variância (coeficiente de

Entitatividade: β = 0,22; t = 3,25; p = 0,007), porém, a Autoestima que foi incluída no quinto

modelo fez com que este explicasse 9,8% da variância (coeficiente de Autoestima: β = -0,18; t

= -2,57; p = 0,011) (Tabela 6). Neste modelo, Entitatividade apresentou apenas tendência

(coeficiente de Entitatividade: β = 0,15; t = 1,94; p = 0,056). ANOVA dos modelos para

quantidade total doada encontram-se na Tabela 7.

Nenhuma variável predisse a variância de qualquer doação out-group, independente da

condição experimental. Quanto às doações in-group, os resultados refletem aqueles

encontrados na regressão linear feita para o escore do viés de grupo. Ou seja, nenhuma

variável foi capaz de predizer a variância na condição BRS (Tabela 8). Entretanto, o Modelo

1, contendo apenas Entitatividade (coeficiente de Entitatividade: β = 0,25; t = 3,11;

p = 0,002), predisse 6,4% da variância na condição ARS (Tabela 9). Na Tabela 10, a ANOVA

dos modelos.

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Tabela 2. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Escore de Viés de Grupo na Condição BRS. Significado das abreviaturas: Ent =

Entitatividade; Soc = Socialização; FM = Fundações Morais (5 fatores); NP = Necessidade de Pertencer e; AE

= Autoestima

Escore de Viés de

Grupo (BRS)

Modelo R R² R² ajustado

Mudança

no R²

F da

mudança Sig. do F

1 (Ent) 0,18 0,03 0,02 0,03 3,37 0,069

2 (Ent; Soc) 0,18 0,03 0,01 0,00 0,15 0,702

3 (Ent; Soc; FM) 0,29 0,08 0,02 0,05 1,10 0,364

4 (Ent; Soc; FM; NP) 0,29 0,08 0,01 0,00 00 0,993

5 (Ent; Soc; FM; NP; AE) 0,29 0,09 0,00 0,00 0,33 0,570

Tabela 3. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Escore de Viés de Grupo na Condição ARS. Significado das abreviaturas: Ent =

Entitatividade; Soc = Socialização; FM = Fundações Morais (5 fatores); NP = Necessidade de Pertencer e; AE

= Autoestima

Escore de Viés de

Grupo (ARS)

Modelo R R² R² ajustado

Mudança

no R²

F da

mudança Sig. do F

1 (Ent) 0,21 0,04 0,04 0,05 10,02 0,002

2 (Ent; Soc) 0,23 0,05 0,04 0,01 1,01 0,317

3 (Ent; Soc; FM) 0,25 0,06 0,03 0,01 0,41 0,841

4 (Ent; Soc; FM; NP) 0,25 0,06 0,02 0,00 0,00 0,983

5 (Ent; Soc; FM; NP; AE) 0,25 0,06 0,02 0,00 0,47 0,493

Tabela 4. ANOVA dos Modelos de Regressão Linear Hierárquica para a Variável Dependente Escore de Viés de

Grupo. À esquerda, ANOVA dos modelos para condição BRS e, à direita, para a condição ARS. F = F da

mudança;gl = grau de liberdade (regressão, residual); p = significância da mudança

Modelos

BRS ARS

F gl P F gl P

Modelo 1

Entitatividade

3,37 1, 107 0,068 10,02 1, 208 0,002

Modelo 2:

Entitatividade

Socialização

1,75 2,106 0,179 5,51 2, 207 0,005

Modelo 3:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

1,29 7, 101 0,263 1,85 7, 202 0,080

Modelo 4:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

Necessidade de Pertencer

1,12 8, 100 0,359 1,61 8, 201 0,125

Modelo 5:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

Necessidade de Pertencer

Autoestima

1,02 9, 99 0,428 1,48 9, 200 0,158

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Tabela 5. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Quantidade Total Doada na Condição BRS. Significado das abreviaturas: Ent =

Entitatividade; Soc = Socialização; FM = Fundações Morais (5 fatores); NP = Necessidade de Pertencer e; AE

= Autoestima

Quantidade Total

Doada (BRS)

Modelo R R² R² ajustado

Mudança

no R²

F da

mudança Sig. do F

1 (Ent) 0,00 0,00 -0,01 0,00 0,00 0,966

2 (Ent; Soc) 0,27 0,07 0,06 0,07 8,61 0,004

3 (Ent; Soc; FM) 0,38 0,15 0,09 0,07 1,78 0,123

4 (Ent; Soc; FM; NP) 0,39 0,15 0,08 0,00 0,29 0,589

5 (Ent; Soc; FM; NP; AE) 0,40 0,16 0,08 0,01 0,75 0,388

Tabela 6. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Quantidade Total Doada na Condição ARS. Significado das abreviaturas: Ent =

Entitatividade; Soc = Socialização; FM = Fundações Morais (5 fatores); NP = Necessidade de Pertencer e; AE

= Autoestima

Quantidade Total

Doada (ARS)

Modelo R R² R² ajustado

Mudança

no R²

F da

mudança Sig. do F

1 (Ent) 0,22 0,05 0,04 0,05 10,57 0,001

2 (Ent; Soc) 0,22 0,05 0,04 0,00 0,65 0,419

3 (Ent; Soc; FM) 0,27 0,07 0,04 0,02 0,97 0,439

4 (Ent; Soc; FM; NP) 0,27 0,07 0,04 0,00 0,06 0,807

5 (Ent; Soc; FM; NP; AE) 0,31 0,10 0,06 0,03 6,59 0,011

Tabela 7. ANOVA dos Modelos de Regressão Linear Hierárquica para a Variável Dependente Quantidade Total

Doada. À esquerda, ANOVA dos modelos para condição BRS e, à direita, para a condição ARS. F = F da

mudança;gl = grau de liberdade (regressão, residual); p = significância da mudança

Modelos

BRS ARS

F gl P F gl P

Modelo 1

Entitatividade

0,00 1, 109 0,966 10,57 1, 219 0,001

Modelo 2:

Entitatividade

Socialização

4,31 2,108 0,016 5,61 2, 218 0,004

Modelo 3:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

2,55 7, 103 0,018 2,29 7, 213 0,029

Modelo 4:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

Necessidade de Pertencer

2,25 8, 102 0,029 2,00 8, 212 0,047

Modelo 5:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

Necessidade de Pertencer

Autoestima

2,08 9, 101 0,038 2,56 9, 211 0,008

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51

Tabela 8. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Doação In-group(Quantidade) na Condição BRS. Significado das abreviaturas: Ent =

Entitatividade; Soc = Socialização; FM = Fundações Morais (5 fatores); NP = Necessidade de Pertencer e; AE

= Autoestima

DoaçãoIn-group

(BRS)

Modelo R R² R² ajustado

Mudança

no R²

F da

mudança Sig. do F

1 (Ent) 0,10 9,01 -0,00 0,01 0,72 0,400

2 (Ent; Soc) 0,17 0,03 -0,00 0,02 1,20 0,277

3 (Ent; Soc; FM) 0,37 0,14 0,04 0,11 1,56 0,187

4 (Ent; Soc; FM; NP) 0,38 0,14 0,02 0,00 0,01 0,921

5 (Ent; Soc; FM; NP; AE) 0,38 0,14 0,01 0,00 0,07 0,789

Tabela 9. R² e Mudança no R² para cada Modelo Criado na Análise de Regressão Linear Hierárquica para a

Variável Dependente Doação In-group(Quantidade) na Condição ARS. Significado das abreviaturas: Ent =

Entitatividade; Soc = Socialização; FM = Fundações Morais (5 fatores); NP = Necessidade de Pertencer e; AE

= Autoestima

DoaçãoIn-group

(ARS)

Modelo R R² R² ajustado

Mudança

no R²

F da

mudança Sig. do F

1 (Ent) 0,25 0,06 0,06 0,06 9,70 0,002

2 (Ent; Soc) 0,28 0,08 0,06 0,01 1,88 0,173

3 (Ent; Soc; FM) 0,36 0,13 0,08 0,05 1,59 0,165

4 (Ent; Soc; FM; NP) 0,36 0,13 0,08 0,00 0,09 0,761

5 (Ent; Soc; FM; NP; AE) 0,37 0,14 0,08 0,01 1,55 0,216

Tabela 10. ANOVA dos Modelos de Regressão Linear Hierárquica para a Variável Dependente Doação In-

group (Quantidade). À esquerda, ANOVA dos modelos para condição BRS e, à direita, para a condição ARS. F

= F da mudança;gl = grau de liberdade (regressão, residual); p = significância da mudança

Modelos

BRS ARS

F Gl p F gl p

Modelo 1

Entitatividade

0,72 1, 67 0,400 9,70 1, 141 0,002

Modelo 2:

Entitatividade

Socialização

0,96 2,65 0,387 5,82 2, 140 0,004

Modelo 3:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

1,40 7, 60 0,223 2,84 7, 135 0,009

Modelo 4:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

Necessidade de Pertencer

1,20 8, 59 0,313 2,48 8, 134 0,015

Modelo 5:

Entitatividade

Socialização

Fundações Morais

Necessidade de Pertencer

Autoestima

1,06 9, 58 0,405 2,38 9, 133 0,016

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52

Os participantes foram divididos em praticantes e não praticantes, baseado em seus

escores de prática religiosa. Foi feito um teste Mann-Whitney entre praticantes e não

praticantes para cada um dos grupos usando a diferença entre doações in-group e out-group

como variável dependente. Como esperado, nenhum dos grupos da condição BRS mostrou

diferença baseando-se nos clusters de prática religiosa. Devido ao baixo número de

“praticantes” entre o grupo de “outras filiações” (11) e ao baixo número de “não praticantes”

nos “evangélicos” (6), não foi viável fazer essa o teste para esses dois grupos. “Ateus e

agnósticos” não tiveram participantes que se enquadraram no cluster de “praticantes”,

portanto não foi possível comparar os clusters desse grupo. Entre católicos, 41 participantes

ficaram alocados em cada cluster, e a diferença entre as doações in-group e out-group foi

maior para praticantes (U = 597; Z = -2,3; p = 0,022) (Figura 3).

.

Figura 3. Boxplot com o nível de prática religiosa dividido em “Praticantes” e “Não Praticantes” no eixo X para

indivíduos católicos da condição ARS. No eixo Y está a quantidade wafers doados para o próprio grupo menos a

quantidade doada para grupos externos. * p < 0,05

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53

Referente às questões ancora presentes no questionário de entitatividade e identidade

de grupo, a percepção de grupo da maioria dos participantes ficou dentro do esperado, ou seja,

consideraram que “membros no corpo de bombeiros” constituem um grupo mais coeso do que

“pessoas esperando em uma parada de ônibus”. Porém, a proporção de participantes que

percebeu “pessoas em uma parada de ônibus” um grupo tão ou mais coeso é maior na

condição BRS (χ² = 11,49; gl = 1; p = 0,001) (Figura 4).

As correlações de Spearman entre as variáveis preditoras utilizadas nas regressões:

Entitatividade, Socialização, cada um dos cindo fatores das Fundações Morais, Autoestima e

Necessidade de Pertencer, assim como a Prática Religiosa encontram-se na Tabela 11.

Figura 4. Em vermelho estão os participantes que consideram membros do corpo de bombeiro de Natal como

um grupo mais coeso do que pessoas esperando em uma parada de ônibus, a percepção de grupo esperada. Em

azul estão os restantes. No eixo Y estão as condições experimentais. No eixo X estão as condições experimentais

e no eixo y a proporção de participantes que respondeu sim/não para cada condição. A proporção de indivíduos

que respondeu “não” a essa pergunta foi de aproximadamente 30% na condição BRS e 14% na ARS. * p < 0,001

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Tabela 11. Correlações de Spearman entre as Variáveis. Valores de ρ em cima, seguidos embaixo do valor de p.

As Fundações Morais são: FMCD = Cuidado/Dano; FMJT = Justiça/Trapaça; FMLT = Lealdade/Traição;

FMAS = Autoridade/Subversão e; FMID = Inviolabilidade/Degração. PR = Prática Religiosa; Soc = Fator de

Personalidade Socialização; NP = Necessidade de Pertencer; AE =.Autoestima; Ent = Entitatividade

FMCD FMJT FMLT FMAS FMID PR Soc NP AE Ent

FMCD 1,00 0,44** 0,61** 0,40** 0,47** 0,25** 0,36** 0,31** -0,02 0,06

0,000 0,000 0,000 0,000 0,006 0,000 0,001 0,823 0,484

FMJT 0,44** 1,00 0,40** 0,26** 0,18 -0,07 0,29** 0,01 -0,01 -0,00

0,000 0,000 0,004 0,051 0,460 0,001 0,893 0,941 0,979

FMLT 0,61** 0,40** 1,00 0,57** 0,42** 0,15 0,30** 0,11 0,05 0,02

0,000 0,000 0,000 0,000 0,093 0,001 0,222 0,620 0,809

FMAS 0,40** 0,26** 0,57** 1,000 0,62** 0,28** 0,40** 0,11 0,06 0,05

0,000 0,004 0,000 0,000 0,002 0,000 0,230 0,533 0,600

FMID 0,47** 0,18 0,42** 0,62** 1,00 0,54** 0,39** 0,21* -0,03 0,16

0,000 0,051 0,000 0,000 0,000 0,000 0,024 0,724 0,072

PR 0,25** -0,07 0,15 0,28** 0,54** 1,00 0,36** 0,22* -0,02 0,21*

0,006 0,460 0,093 0,002 0,000 0,000 0,015 0,868 0,021

Soc 0,36** 0,29** 0,30** 0,40** 0,39** 0,36** 1,00 0,05 0,11 0,19*

0,000 0,001 0,001 0,000 0,000 0,000 0,595 0,227 0,041

NP 0,31** 0,01 0,11 0,11 0,21* 0,22* 0,05 1,00 -0,08 0,15

0,001 0,893 0,222 0,230 0,024 0,015 0,595 0,411 0,103

AE -0,02 -0,01 0,05 0,06 -0,03 -0,02 0,11 -0,08 1,00 0,01

0,823 0,941 0,620 0,533 0,724 0,868 0,227 0,411 0,935

Ent 0,06 -0,00 0,02 0,05 0,16 0,21* 0,19* 0,15 0,01 1,00

0,484 0,979 0,809 0,600 0,072 0,021 0,041 0,103 0,935

Discussão

Para testar se a relevância social do marcador de grupo afeta o viés intergrupo,

seccionamos cada doação em duas decisões a serem tomadas pelo participante: para quem

doar (próprio grupo ou outro grupo) e quanto doar (até cinco wafers). No que confere a

escolha entre doar para o próprio grupo ou para um grupo externo, os participantes

demonstraram um claro favoritismo ao seu próprio grupo, independente de qual condição

experimental se encontravam, o que corrobora a tendência observada na literatura (Balliet,

Page 69: A INFLUÊNCIA DA RELEVÂNCIA SOCIAL NO VIÉS DE GRUPO · na condição ARS.Ao verificar quais aspectos de cada indivíduo melhor previam o viés de grupo observado, descobrimos que

55

Wu & De Dreu, 2014). Dentro da condição ARS, o grupo intitulado “Outras Filiações” doou

para o próprio grupo com menos frequência do que os outros grupos desta condição. Esse

resultado é esperado, uma vez que “Outras Filiações” não é um grupo religioso e não

representa uma entidade ou instituição formal. Ao invés disso, “Outras Filiações” representa

meramente um aglomerado de todos os outros grupos religiosos que não se encaixaram em

nenhum dos três perfis dispostos no experimento. Sendo assim, quando apenas a escolha do

grupo é contemplada, a relevância social dos grupos em questão não afeta o viés de grupo.

O papel da relevância social no viés de grupo fica mais claro quando o participante

escolhe o quanto doar. Na condição ARS, os participantes doaram significativamente mais do

que na condição em que a relevância social era baixa. Nossos resultados indicaram, em uma

análise mais específica, que há uma diferença entre as frequências de pessoas que doaram

apenas um wafer, sendo maior quando a relevância social é baixa. Isso mostra que com ou

sem relevância social nos grupos, as pessoas estão mais propensas a doar para seu próprio

grupo, mas a menos que os grupos envolvidos possuam relevância social, não estão dispostas

a doar muito. Percebe-se, também, que a porcentagem de participantes que doou três ou mais

wafers, ou seja, mais do que metade do recurso recebido, foi comparativamente maior na

condição com elevada relevância social. Portanto, nossa hipótese de que a relevância social

influencia o viés de grupo foi corroborada, porém, apenas na quantidade de recursos doados.

Ao considerar tanto a escolha do grupo a doar quanto a quantidade de wafers não

encontramos uma diferença significativa para as doações out-group, mas observamos uma

tendência de que o favoritismo in-group seja mais forte quando existe relevância social. No

entanto, como o viés de grupo não é definido apenas pelo favoritismo in-group ou derrogação

out-group, mas sim pelos dois simultaneamente, a variável mais completa de nossa análise é o

escore de viés de grupo, que foi medido a partir da subtração das doações in-group e out-

group (quantidade x grupo). Apesar das doações (quantidade x grupo) não terem apresentado

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56

diferença significativa separadamente, o escore de viés de grupo apresentou, o que mostra que

o viés de grupo é mais facilmente identificável quando se analisa o favoritismo in-group e a

derrogação out-group ao mesmo tempo. Nota-se que o grupo incluindo ateus e agnósticos se

comportou de maneira semelhante aos grupos de católicos e evangélicos, mesmo que não haja

uma instituição, dogmas ou códigos que delimitem esse grupo, ao contrário dos outros grupos

religiosos.

Para o nosso estudo, o papel da derrogação out-group ficou implícito na variável

“escore do viés de grupo”, porém, nenhuma diferença foi observada entre as doações out-

group quando estas foram analisadas separadamente. É possível que os métodos usados

tenham limitado a manifestação desse comportamento em particular. Não existiu nenhuma

possibilidade de punir um grupo, apenas de não recompensá-lo, o que torna impossível

dissociar uma decisão no nosso jogo econômico entre favoritismo in-group e derrogação out-

group. Um tipo de jogo que permite punições dessa maneira é o Jogo da Punição por

Terceiros, ou TGP (do inglês, Third-party Punishment Game), como foi utilizado no estudo

de Shinada, Yamagishi e Ohmura (2004) para testar entre punição out-group e in-group.

Outro modo de detectar derrogação out-group é realizando jogos no qual o participante toma

suas decisões confrontando não apenas membros in-group e out-group, mas também

estranhos não classificados (Balliet & De Dreu, 2014). É possível quando utilizados métodos

que permitam melhor identificação de decisões que visam prejudicar outros

grupos/indivíduos, o número de participantes que apresentam derrogação out-group aumente

substancialmente. Vale ressaltar que, mesmo que a derrogação out-group tenha alguma

relevância no viés de grupo, o favoritismo in-group por si só é necessário para que o viés de

grupo ocorra (Balliet & De Dreu, 2014).

Ao testar o valor de diversas variáveis como preditoras do escore de viés de grupo,

nenhuma obteve sucesso, exceto a Entitatividade (Pereira et al., 2011; Campbell, 1958), fato

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57

observado apenas na condição de Alta Relevância Social. Vale lembrar que a escala dessa

variável e as duas escalas usadas de identificação de grupo se correlacionaram fortemente.

Essa forte correlação entre Entitatividade e Identificação de Grupo já foi encontrada em um

estudo anterior (Lickel et al., 2000). Portanto, mesmo que essas escalas não estejam medindo

exatamente os mesmos constructos, elas são similares o suficiente. Soma-se a isso o fato de

que a Entitatividade percebida pelos participantes da condição ARS foi significativamente

maior do que na condição dos grupos mínimos.Apesar do baixo tamanho de efeito (O R foi de

0,21), concluímos que a Entitatividade do grupo percebida, assim como a Identificação de

Grupo, são os fatores que melhor explicam por que pessoas estão mais propensas a doar mais

em uma situação envolvendo grupos reais, com alta relevância social, do que em grupos

arbitrariamente formados, como os grupos mínimos usados em experimentos.

Identificação de Grupo é um conceito central à SIT, visto que, para o grupo definir a

identidade social do indivíduo, é necessário que esse indivíduo se identifique com ele. A

relação entre SIT e Entitatividade pode ser menos óbvia, mas a relação entre Entitatividade e

Identificação de Grupo é relativamente fácil de entender. Segundo Campbell (1958),

Entitatividade pode ser percebida através de três fatores: destino comum, similaridade e

proximidade das partes integrantes do grupo. Isso fica claro ao observar a escala de

Entitatividade usada nesse estudo, com questões como se o seu grupo “possui muitas

características em comum” (similaridade) e se “compartilham os mesmos objetivos” (destino

comum). As escalas de Identificação de Grupo focam em itens sobre elo emocional entre o

participante e seu grupo, mas também possuem itens que tocam em aspectos centrais à

Entitatividade, em especial, similaridade e proximidade (ver Anexo H). É importante salientar

que a Entitatividade analisada no estudo foi, mais especificamente, a Entitatividade in-group

percebida. Ou seja, se o participante julga que o seu grupo (seja ele a letra atribuída da

condição BRS ou sua filiação religiosa da ARS) tem alta Entitatividade, esse grupo tem um

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58

ou mais fatores de Entitatividade suficientemente altos. Em decorrência disso, o próprio

participante é similar, está próximo e/ou possui um destino comum em relação aos seus

companheiros de grupo.

Essa alta relação entre a Entitatividade e o viés de grupo também está em acordo com

os preceitos da BGR. Lickel et al. (2000) apontam que um dos principais fatores que levam

um participante julgar um grupo como possuindo alta Entitatividade é o alto grau de interação

entre os membros deste. Alto grau de interação pode levar a várias consequências, em

especial, um aumento na chance de reciprocidade. Esse aumento na reciprocidade também

pode ser visto nos fatores centrais da Entitatividade, destacados por Campbell (1958).

Proximidade, seja ela geográfica ou social, aumenta a chance de reencontro. Destino comum

significa que os membros do grupo compartilham do mesmo objetivo o que, em

consequência, torna mais provável que eles se percebam como cooperadores do que

competidores. Essa maior chance de reciprocidade pode ser a causa por trás da diferença de

recursos doados entre as duas condições. Conforme observado em nossos resultados,

aproximadamente um em cada cinco dos participantes na condição BRS doaram apenas um

wafer contra um em cada vintena condição ARS. Apesar dos participantes serem

explicitamente informados de que não haveria retorno de recursos doados, é possível que a

maior probabilidade de reciprocidade em grupos com maior entitatividade tenha selecionado o

mecanismo psicológico intrínseco por trás das escolhas observadas em jogos econômicos,

mesmo em jogos nos quais a reciprocidade não seja possível, como o que foi usado neste

estudo, um jogo de rodada única sem possibilidade de retribuir.

A Autoestima foi uma das variáveis que não funcionaram como preditoras para o viés

intergrupo. De maneira semelhante, Necessidade de Pertencer não foi capaz de prever o

padrão de doações de recurso no jogo econômico. Considerando as duas principais tentativas

de explicar o viés de grupo, a SIT e a BGR, Autoestima e Necessidade de Pertencer são

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59

variáveis importantes para a primeira, mas não para a segunda. Portanto, a falta de relevância

destas duas variáveis no viés de grupo observada neste trabalho está mais consoante à BGR

do que à SIT. A importância dessas variáveis para o viés de grupo precisa ser estudada mais

detalhadamente em estudos futuros.

Apesar da irrelevância da Autoestima sobre as medidas de viés de grupo usadas neste

estudo, o mesmo não pode ser dito a respeito do papel desta variável sobre a quantidade total

doada. A quantidade total não serve como uma medida de viés de grupo, visto que ela informa

todos os wafers doados independente de qual grupo foi escolhido para recebê-los. Entretanto,

esta é uma boa medida de generosidade e a usamos neste estudo com este fim. Curiosamente,

quanto menor a Autoestima, maior a doação, um resultado que é contrário a outros estudos,

como por exemplo, a correlação positiva entre generosidade e Autoestima em crianças

(Miller, Ginsburg, & Rogow, 1981). Ainda, essa relação entre Autoestima e quantidade total

doada só foi observada na condição ARS. Entre os modelos criados na regressão linear

hierárquica, um modelo contendo apenas Autoestima foi incapaz de predizer a quantidade

total doada, mas modelos que incluem Autoestima e Entitatividade sim, mostrando que é a

interação dessas duas variáveis que possuem o melhor poder de explicação para a quantidade

total doada em uma situação com alta relevância social.

Nem Autoestima nem Entitatividade, no entanto, foram capazes de predizer a

quantidade total na condição BRS. Para essa condição, o modelo que melhor explicou a

variância continha o fator de personalidade Socialização. A relação entre Socialização e

generosidade era esperada visto que, segundo Bortolini (2012), este foi o único fator de

personalidade capaz de prever as doações no jogo de bens público. É possível que a

Socialização seja o fator inicial por trás das doações, mesmo que essa doação seja menos

enviesada quanto ao favoritismo in-group. No momento em que os participantes são

submetidos a uma situação envolvendo grupos com relevância social, mesmo os participantes

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60

que pontuaram baixo em Socialização mostram-se generosos, tirando o poder de predição da

Socialização nessa condição, ou seja, a Entitatividade suplanta o fator Socialização,

intensificando o viés de grupo.

Nenhuma das Fundações Morais entrou no modelo de regressão como preditora do

padrão de doações, nem mesmo o fator referente à lealdade ao grupo. É possível que tenha

havido uma idiossincrasia dentro de cada condição, ou seja, cada indivíduo tem uma ou mais

Fundações Morais que considera mais relevantes que o resto. Por exemplo, pessoas mais

religiosas poderiam considerar que a fundação moral Inviolabilidade/Degradação é mais

relevante do que Justiça/Trapaça,o que de fato ocorreu.

Os participantes foram divididos em dois grandes agrupamentos, baseados em seu

escore de prática religiosa, criando os agrupamentos dos “praticantes” e dos “não praticantes”.

Como esperado, o padrão de doação não diferiu entre esses dois agrupamentos para os grupos

da condição BRS. Na condição ARS, essa divisão só foi relevante para os católicos. Entre

católicos, é visível a diferença entre praticantes e não praticantes, no sentido que o viés de

grupo de praticantes é maior, semelhante aos resultados encontrados por Bortolini (2012),

com a única diferença de que mesmo os católicos considerados “não praticantes”

apresentaram viés intergrupo, certamente porque o estudo anterior consistia de rodadas

repetidas, em que um mesmo indivíduo poderia doar para o próprio grupo em uma iteração, e

para outro grupo em outra. O que difere do nosso, de rodada única, forçando os indivíduos a

doaram apenas para o grupo favorito. Os resultados da comparação entre católico praticantes

e não praticantes demonstram que o viés de grupo é mais intenso conforme o indivíduo se

dedica as atividades de sua filiação.

Ao analisar as respostas das questões ancoras do questionário de Entitatividade e

Identificação de Grupo, nota-se um resultado curioso: a proporção de participantes que

considera que o corpo de bombeiros é um grupo menos coeso do que pessoas esperando em

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61

uma parada de ônibus é consideravelmente maior na condição BRS. A resposta esperada, para

qualquer participante, é de que este interprete o corpo de bombeiros como sendo um grupo

mais coeso. Uma possível causa disso foi o fato de que o questionário de Entitatividade e

Identificação de Grupo foi respondido depois do jogo econômico; todos os outros

questionários, com exceção do questionário referente à opinião dos participantes sobre o

experimento, foram realizados antes. Logo, os indivíduos que participaram da condição BRS

possivelmente remodelaram sua percepção de grupo ao perceberem que os grupos disponíveis

no experimento eram meramente letras sem qualquer significado social, estando mais

propensos a interpretar aglomerados aparentemente desconexos de pessoas (tais quais as que

esperam em uma fila de ônibus) como sendo entidades reais. Portanto, a condição pode ter

funcionado como priming (ver Bargh, Chen, & Burrows, 1996) para a percepção de grupo.

Para verificar esta hipótese, novos estudos precisarão ser feitos.

Por fim, é importante salientar que o marcador de grupo escolhido para a condição

com alta relevância social, filiação religiosa, não necessariamente representa outros

marcadores de grupo. Particularmente, o fato de a religião muitas vezes servir como

orientação moral pode ter uma forte influência no comportamento generoso, uma vez que o

indivíduo pode julgar os preceitos morais de outra religião como incorretos ou insatisfatórios

e, consequentemente, as pessoas que os seguem como pouco confiáveis. Igualmente

importante salientar que outros grupos sociais, tais como a etnia, não estão totalmente

ausentes de julgamento. O chamado “racismo científico” foi a prática de justificar a rotulação

de raças como superiores ou inferiores sob o pretexto de que tais conclusões foram obtidas

por métodos científicos (Brown & Webb, 2007; Collins, 2000). Hoje essa prática é

considerada uma pseudociência (Gould, 1996). A influência de um marcador de grupo sobre o

julgamento moral estaria, portanto, sujeita aos pensamentos dominantes da época e do local,

portanto, mesmo que este marcador de grupo possua pouca influência sobre o viés de grupo

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62

hoje, isso não significa que não foi maior no passado ou poderá ser maior no futuro. Essa

influência também varia conforme o grupo representa o seu filiado, de maneira análoga a

como católicos praticantes apresentam maior viés de grupo do que os não praticantes. Estudos

futuros precisam ser feitos para averiguar se o incremento no viés de grupo é um fenômeno

universal a todos os grupos socialmente relevantes, não apenas ao grupo religioso.

Em suma, o estudo atual mostra que a relevância social de um grupo tem o poder de

aumentar o viés de grupo e que, ao usar método do paradigma dos grupos mínimos para

estudar comportamento social em humanos, pode se estar ignorando aspectos fundamentais

dos grupos sociais os quais procuramos compreender.

Referências

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69

CONCLUSÕES GERAIS

Começamos o artigo teórico discorrendo sobre a cooperação entre indivíduos, um

enigma darwiniano que intrigou evolucionistas desde que a Teoria da Evolução foi formulada

por Darwin e Wallace, a mais de um século e meio atrás. Mais especificamente, falamos sobre

os diversos modelos de cooperação, tais como a seleção de parentesco e a reciprocidade direta

e indireta, assim como suas possíveis origens e valor adaptativo. Depois abordamos como

essa cooperação dificilmente se dá de maneira irrestrita, mas sim, modulada por uma

tendência universal encontrada em humanos conhecida como o viés de grupo, um dos pontos

centrais desta dissertação.

Para melhor ilustrar o fenômeno do viés de grupo, falamos sobre um grupo social

particularmente forte e muito presente em nossas vidas, a religião. Discutimos as hipóteses

sobre sua origem e seu possível valor adaptativo, assim como, obviamente, o papel que esta

exerce na formação e manutenção de grupos. Na conclusão deste artigo, contrastamos as

filiações religiosas com os grupos mínimos, nos perguntando se a maior relevância social da

filiação religiosa afetaria o viés de grupo.

Com essa questão levantada pelo artigo teórico, elaboramos os experimentos do

empírico. Alguns participantes foram confrontados com uma condição em que os grupos eram

arbitrariamente formados (que denominamos de Baixa Relevância Social, ou BRS) enquanto

outros realizaram o jogo sendo divididos em grupos correspondendo às suas religiões, ou à

falta dela (Alta Relevância Social, ou ARS), os participantes da condição em que a relevância

social foi alta de fato se mostraram mais propensos a doar mais recursos, no caso, wafers, a

membros de sua filiação. Como seccionamos o comportamento do viés de grupo em duas

etapas: escolha do grupo a ser beneficiado e escolha da quantidade de recursos a doar, foi

possível identificar mais precisamente em que momento a relevância social atua no viés de

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70

grupo, uma vez que os participantes escolheram doar para o próprio grupo com a mesma

freqüência em ambas as condições, mas foi na condição ARS que a quantidade de recursos

investidos em cada doação foi maior.

Investigando quais aspectos do indivíduo eram mais importantes na tomada de decisão

do jogo econômico, percebemos que a Entitatividade e, de maneira equivalente, a

Identificação de Grupo, se mostraram como os fatores centrais que diferenciam o viés

observado em um típico experimento de grupos mínimos e um grupo social, real, como o

religioso. Porém, quando analisamos apenas a generosidade, ou seja, todas as doações, sem

levar em consideração se foi para o próprio grupo ou não, percebemos que o fator de

personalidade Socialização foi central, mas só vimos essa relação na condição BRS. Na

condição ARS, mais uma vez foi Entitatividade e Identificação de Grupo, indicando que, uma

vez submetidos em uma condição em que os grupos têm alta relevância social, mesmo

pessoas com uma personalidade pouco favorável à generosidade estão dispostas a doar mais,

desde que o beneficiário seja o próprio grupo e o doador se identifique com ele, assim como

identifique que o grupo é uma entidade real, saliente, e não apenas um aglomerado desconexo

de indivíduos.

Concluímos que a relevância social do marcador do grupo influencia positivamente o

viés. Portanto, apesar do Paradigma dos Grupos Mínimos nos oferecer uma perspectiva

intrigante sobre o viés de grupo, é necessário ter cautela caso queira extrapolar resultados

encontrados em um experimento de grupos mínimos para grupos de alta relevância social,

como, por exemplo, a etnia, nacionalidade, orientação política e, é claro, religião.

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71

ANEXOS

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72

Anexo A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Este é um convite para você participar da pesquisa“Diferenças Individuais e Marcadores de Grupo na

Cooperação em Humanos”que é coordenada pelo Pós-doutorandoWallisenTadashiHattori. Sua participação é

voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem

que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.

Essa pesquisa procura investigar as o papel das diferenças individuais sobre o comportamento

humano. Caso decida aceitar o convite, você será submetido(a) a um atividade de doações de chocolates para

urnas que representarão grupos e ao preenchimento de duas escalas e um questionário. Esta atividade

apresenta um risco mínimo de desconforto emocional dado que danos possam ocorrer devido aos eventuais

comentários realizados pelos demais participantes. Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome

não será identificado em nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos

resultados será feita de forma a não identificar os voluntários.

Você terá os seguintes benefícios ao participar da pesquisa: os chocolates podem ser retidos e aqueles

doados poderão ser distribuídos entre os participantes. Se você tiver algum gasto que seja devido à sua

participação na pesquisa, você será ressarcido, caso solicite.

Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa,

você terá direito a indenização. Qualquer tipo de ressarcimento ou indenização será responsabilidade do

Programa de Pós-graduação em Psicobiologia (UFRN).

Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,

poderá perguntar diretamente para WallisenTadashiHattori, no endereço eletrônico [email protected],

no Laboratório de Etologia Humana, no Centro de Biociências (UFRN). Dúvidas a respeito da ética dessa

pesquisa poderão ser questionadas aoComitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, pelo telefone 84-3215-3135 ou pelo e-mail [email protected].

Consentimento Livre e Esclarecido

Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e benefícios

envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa“Diferenças Individuais e Marcadores de

Grupo na Cooperação em Humanos”.

Participante da pesquisa: Pesquisador responsável:

Assinatura do participante Natal _____ de __________ de 201__

WallisenTadashiHattori Pós-doutorando em Psicobiologia

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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Anexo B: Questionário Socioeconômico

Por favor, responda as questões abaixo. Visto que está é uma pesquisa de participação anônima, responda da forma mais verdadeira possível.

Sexo Feminino Masculino

Idade anos completos

Curso

Semestres cursados

Cor ou raça Amarela Branca Indígena Parda Preta

Filiação religiosa Católico Evangélico

Acredita em Deus

Não acredita em deus

Outra(s):

Marque um X na quantidade de itens você possui em sua residência.

Televisão em cores 0 1 2 3 4 ou +

Rádio 0 1 2 3 4 ou +

Banheiro 0 1 2 3 4 ou +

Automóvel 0 1 2 3 4 ou +

Empregada mensalista 0 1 2 3 4 ou +

Máquina de lavar 0 1 2 3 4 ou +

Videocassete e/ou DVD e/ou BlueRay 0 1 2 3 4 ou +

Geladeira 0 1 2 3 4 ou +

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex) 0 1 2 3 4 ou +

Marque um X para o grau de Instrução do chefe de família em sua residência.

Analfabeto/ Fundamental 1 Incompleto

Fundamental 1 Completo / Fundamental 2 Incompleto

Fundamental 2 Completo/ Médio Incompleto

Médio Completo/ Superior Incompleto

Superior Completo

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Anexo C: Questionário Fundações Morais

Parte 1. Quando você decide se algo está certo ou errado, até que ponto as seguintes considerações são relevantes para o seu pensamento? Por favor, classifique cada afirmação com

a escala abaixo:

nada relevante

não é muito relevante

ligeiramente relevante

pouco relevante

muito relevante

extremamente relevante

0 1 2 3 4 5

Esta consideração não tem nada a ver

com os meus julgamentos de certo e errado

Este é um dos fatores mais

importantes quando eu julgar o certo e o

errado

1. Se alguém sofreu ou não emocionalmente 0 1 2 3 4 5

2. Se algumas pessoas foram ou não tratadas de forma diferente do que os outros

0 1 2 3 4 5

3. Se a ação de alguém mostrou ou não amor por seu país 0 1 2 3 4 5

4. Se alguém mostrou ou não falta de respeito pela autoridade 0 1 2 3 4 5

5. Se alguém violou ou não padrões de pureza e decência 0 1 2 3 4 5

6. Se alguém era ou não bom em matemática 0 1 2 3 4 5

7. Se alguém se importou ou não com alguém fraco ou vulnerável

0 1 2 3 4 5

8. Se alguém agiu ou não de forma injusta 0 1 2 3 4 5

9. Se alguém fez ou não alguma coisa para trair seu grupo 0 1 2 3 4 5

10. Se alguém se conformou ou não com as tradições da sociedade

0 1 2 3 4 5

11. Se alguém fez ou não algo nojento 0 1 2 3 4 5

12. Se alguém foi ou não cruel 0 1 2 3 4 5

13. Se alguém foi negado ou não seus direitos 0 1 2 3 4 5

14. Se alguém mostrou ou não uma falta de lealdade 0 1 2 3 4 5

15. Se uma ação causou ou não caos ou desordem 0 1 2 3 4 5

16. Se alguém agiu ou não de uma maneira que Deus aprovaria 0 1 2 3 4 5

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Anexo C: Questionário Fundações Morais (continuação)

Parte 2. Por favor, leia as seguintes frases e indique o quanto concorda ou discorda:

Discordo fortemente

Discordo moderadamente

Discordo levemente

Concordo levemente

Concordo moderadamente

Concordo fortemente

0 1 2 3 4 5

17. Compaixão por aqueles que estão sofrendo é a virtude mais importante.

0 1 2 3 4 5

18. Quando o governo faz as leis, o princípio número um deve ser garantir que todos sejam tratados de forma justa.

0 1 2 3 4 5

19. Tenho orgulho da história do meu país. 0 1 2 3 4 5

20. Respeito pela autoridade é algo que todas as crianças precisam aprender.

0 1 2 3 4 5

21. As pessoas não devem fazer coisas que são repugnantes, mesmo que ninguém seja prejudicado.

0 1 2 3 4 5

22. É melhor fazer o bem do que fazer o mal. 0 1 2 3 4 5

23. Uma das piores coisas que uma pessoa pode fazer é machucar um animal indefeso.

0 1 2 3 4 5

24. A justiça é o requisito mais importante para uma sociedade. 0 1 2 3 4 5

25. As pessoas devem ser leais a seus familiares, mesmo quando eles fizeram algo errado.

0 1 2 3 4 5

26. Homens e mulheres têm papéis diferentes para desempenhar na sociedade.

0 1 2 3 4 5

27. Eu diria que alguns atos são errados, alegando que eles não são naturais.

0 1 2 3 4 5

28. Nunca pode ser correto de matar um ser humano. 0 1 2 3 4 5

29. Eu acho que é moralmente errado que as crianças ricas herdaremmuitodinheiro, enquanto as crianças pobres não herdam nada.

0 1 2 3 4 5

30. É mais importante se expressar pelo grupo do por si mesmo. 0 1 2 3 4 5

31. Se eu fosse um soldado e discordasse das ordens do meu comandante, eu obedeceria assim mesmo, porque esse é o meu dever.

0 1 2 3 4 5

32. A castidade é uma virtude importante e valiosa. 0 1 2 3 4 5

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Anexo D: Escala Autoestima de Rosemberg

Marque um X para cada sentença, considerando a legenda abaixo.

Concordo plenamente Concordo Discordo Discordo plenamente

1 2 3 4

1. De forma geral (apesar de tudo), eu me sinto satisfeito(a) comigo mesmo(a). 1 2 3 4

2. Às vezes, eu acho que eu não sirvo para nada desqualificado(a) ou inferior aos outros).

1 2 3 4

3. Eu sinto que eu tenho um tanto (um número) de boas qualidades. 1 2 3 4

4. Eu sou capaz de fazer as coisas tão bem quanto à maioria das outras pessoas (desde que me ensinadas).

1 2 3 4

5. Não sinto satisfação nas coisas que realizei. Eu sinto que não tenho muito do que me orgulhar.

1 2 3 4

6. Às vezes, eu realmente me sinto inútil (incapaz de fazer as coisas). 1 2 3 4

7. Eu sinto que sou uma pessoa de valor, pelo menos num plano igual (num mesmo nível) às outras pessoas.

1 2 3 4

8. Não me dou o devido valor. Eu gostaria de ter mais respeito por mim mesmo(a).

1 2 3 4

9. Quase sempre eu estou inclinado(a) a achar que sou um(a) fracassado(a). 1 2 3 4

10. Eu tenho uma atitude positiva (pensamentos, atos e sentimentos positivos) em relação a mim mesmo(a).

1 2 3 4

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Anexo E: Escala de Necessidade de Pertencer

Marque um X para cada sentença, considerando a legenda abaixo.

Discordo fortemente

Discordo moderadamente

Nem discordo, nem concordo

Concordo moderadamente

Concordo fortemente

1 2 3 4 5

1. Se outras pessoas parecem não me aceitar, eu não deixar isso me incomodar.

1 2 3 4 5

2. Tento muito não fazer coisas que farão com que outras pessoas me evitem ou rejeitem.

1 2 3 4 5

3. Eu raramente me preocupe se outras pessoas se importam comigo. 1 2 3 4 5

4. Eu preciso sentir que há pessoas que eu posso recorrer em momentos de necessidade.

1 2 3 4 5

5. Eu quero que as outras pessoas me aceitem. 1 2 3 4 5

6. Eu não gosto de ficar sozinho(a). 1 2 3 4 5

7. Ficar longe de meus amigos por um período de tempo longo não me incomoda.

1 2 3 4 5

8. Eu tenho uma necessidade forte de fazer parte de algum grupo. 1 2 3 4 5

9. Incomoda-me muito quando eu não estou incluído nos planos de outras pessoas.

1 2 3 4 5

10. Meus sentimentos são feridos facilmente quando eu sinto que os outros não me aceitem.

1 2 3 4 5

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Anexo F: Questionário Socialização

Marque um X para cada sentença, considerando a legenda abaixo.

Absolutamente não me identifico com a frase

1 2 3 4 5 6 7 Descreve-me perfeitamente

1. Tento fazer com que as pessoas sintam-se bem. 1 2 3 4 5 6 7

2. Importo-me com os sentimentos dos outros. 1 2 3 4 5 6 7

3. Preocupo-me com aqueles que estão numa situação pior que a minha.

1 2 3 4 5 6 7

4. Preocupo-me com todos. 1 2 3 4 5 6 7

5. Sofro quando encontro alguém que está com dificuldades.

1 2 3 4 5 6 7

6. Tenho um "coração mole". 1 2 3 4 5 6 7

7. Preocupo-me em agradar as pessoas. 1 2 3 4 5 6 7

8. Sou generoso(a). 1 2 3 4 5 6 7

9. Tento incentivar as pessoas. 1 2 3 4 5 6 7

10. Respeito os sentimentos alheios. 1 2 3 4 5 6 7

11. Respeito o ponto de vista dos outros. 1 2 3 4 5 6 7

12. Sinto-me mal se não cumpro algo que prometi. 1 2 3 4 5 6 7

13. Respeito autoridades. 1 2 3 4 5 6 7

14. Faço coisas consideradas perigosas. 1 2 3 4 5 6 7

15. Gosto de quebrar regras. 1 2 3 4 5 6 7

16. Costumo enganar as pessoas. 1 2 3 4 5 6 7

17. Divirto-me contrariando as pessoas. 1 2 3 4 5 6 7

18. Posso agredir fisicamente as pessoas quando fico muito irritado.

1 2 3 4 5 6 7

19. Uso as pessoas para conseguir o que desejo. 1 2 3 4 5 6 7

20. Preocupo-me em agir segundo as leis. 1 2 3 4 5 6 7

21. Suspeito das intenções das pessoas. 1 2 3 4 5 6 7

22. Acho que os outros podem tentar prejudicar-me. 1 2 3 4 5 6 7

23. Acredito que as pessoas têm boas intenções. 1 2 3 4 5 6 7

24. Acredito que as pessoas têm uma natureza ruim. 1 2 3 4 5 6 7

25. Confio no que as pessoas dizem. 1 2 3 4 5 6 7

26. Dificilmente perdoo. 1 2 3 4 5 6 7

27. Acho que os outros zombam de mim. 1 2 3 4 5 6 7

28. Tenho alguns inimigos. 1 2 3 4 5 6 7

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Anexo G: Questionário de Religiosidade

Por favor, leia as sentenças baixo e marque um X no número correspondente à sua frequência das atividades descritas.

Nunca Menos de uma vez por ano

Em torno de uma ou duas vezes

por ano

Várias vezes por

ano

Em torno de uma vez

por mês

de 2 a 3 vezes por

mês

Praticamente toda semana

Toda semana

Várias vezes por semana

1 2 3 4 5 6 7 8 9

1. Com qual frequência você participa de rituais religiosos?

1 2 3 4 5 6 7 8 9

2. Além dos rituais religiosos, quantas vezes, em média, você participa em outras atividades na sua igreja, congregação, templo, etc.?

1 2 3 4 5 6 7 8 9

3. Com qual frequência você reza sozinho em lugares diferentes da sua igreja, congregação, templo, etc.?

1 2 3 4 5 6 7 8 9

4. Com qual frequência você assiste ou escuta programas religiosos na TV ou radio?

1 2 3 4 5 6 7 8 9

5. Com qual frequência você lê a Bíblia ou outra literatura religiosa?

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Na linha abaixo, marque um X considerando o quanto você se considera religioso, sendo que quanto mais próximo de 0 menos religioso você é e quanto mais próximo de 10 mais religioso você é.

0

10

Marque um X no número que representem melhor quão forte é sua identidade religiosa.

Não tenho religião Identidade religiosa

não muito forte Identidade religiosa um

pouco forte Identidade religiosa

muito forte

1 2 3 4

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Anexo H: Questionário de Entitatividade e Identificação de Grupo

Condição BRS Qual o grupo que lhe foi atribuído? ___

Nós estamos interessados na sua percepção do grupo que lhe foi atribuído (letra no envelope) como um grupo.

Todos os grupos são uma coleção de pessoas. Porém, nem todas as coleções de pessoas são consideradas como um grupo. Por exemplo, a maioria das pessoas consideraria os membros de um comitê de planejamento como um grupo, mas não consideraria um monte de pessoas que, coincidentemente, pegaram o mesmo elevador juntas como um grupo.

Agora, por favor, considere duas outras coleções de pessoas e circule um número entre 1 e 9 que represente o que você pensa.

Pessoas esperando em uma fila no ponto de ônibus...

... não são um grupo de forma alguma. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ... são definitivamente um grupo.

O corpo de bombeiros de Natal...

... não são um grupo de forma alguma. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ... são definitivamente um grupo.

Agora, perguntaremos sua opinião sobre o grupo que lhe foi atribuído (letra no envelope). Para cada uma das quatro questões, por favor, circule um número entre 1 e 9 que represente o que você pensa.

O grupo que lhe foi atribuído...

... não são um grupo de forma alguma. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ... são definitivamente um grupo.

... possui muitas características em comum.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

... compartilha o mesmo destino e mesmos objetivos.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

... pode ser reconhecido como um grupo distinto da sociedade como um todo.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

O quanto você se sente como parte do grupo que lhe foi atribuído?

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Ser parte do grupo que me foi atribuídoé importante para definir quem eu sou.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Emocionalmente, eu me sinto muito próximo do grupo que me foi atribuído.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Em meus contatos e atividades sociais diárias, eu estou perto do grupo que me foi atribuído.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Quando eu penso sobre mim mesmo e a história da minha vida, eu me considero fortemente um membro do grupo que me foi atribuído.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

1. Eu me identifico com outros membros do grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

2. Eu sinto laços fortes com o grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

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3. Eu sinto um forte senso de solidariedade com grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

4. Eu tenho muito em comum com outros membros do grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

5. Ser parte do grupo que me foi atribuídoé uma importante expressão de quem eu sou.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

Condição ARS

Nós estamos interessados na sua percepção deseu grupo religioso (católicos, evangélicos, etc.) como um grupo.

Todos os grupos são uma coleção de pessoas. Porém, nem todas as coleções de pessoas são consideradas como um grupo. Por exemplo, a maioria das pessoas consideraria os membros de um comitê de planejamento como um grupo, mas não consideraria um monte de pessoas que, coincidentemente, pegaram o mesmo elevador juntas como um grupo.

Agora, por favor, considere duas outras coleções de pessoas e circule um número entre 1 e 9 que represente o que você pensa.

Pessoas esperando em uma fila no ponto de ônibus...

... não são um grupo de forma alguma. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ... são definitivamente um grupo.

O corpo de bombeiros de Natal...

... não são um grupo de forma alguma. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ... são definitivamente um grupo.

Agora, perguntaremos sua opinião sobre o deseu grupo religioso (católicos, evangélicos, etc.). Para cada uma das quatro questões, por favor, circule um número entre 1 e 9 que represente o que você pensa.

O grupo que lhe foi atribuído...

... não são um grupo de forma alguma. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ... são definitivamente um grupo.

... possui muitas características em comum.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

... compartilha o mesmo destino e mesmos objetivos.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

... pode ser reconhecido como um grupo distinto da sociedade como um todo.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

O quanto você se sente como parte do grupo que lhe foi atribuído?

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Ser parte do grupo que me foi atribuídoé importante para definir quem eu sou.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Emocionalmente, eu me sinto muito próximo do grupo que me foi atribuído.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Em meus contatos e atividades sociais diárias, eu estou perto do grupo que me foi atribuído.

Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

Quando eu penso sobre mim mesmo e a história da minha vida, eu me considero fortemente um membro do grupo que me foi atribuído.

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Nem um pouco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito

1. Eu me identifico com outros membros do grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

2. Eu sinto laços fortes com o grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

3. Eu sinto um forte senso de solidariedade com grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

4. Eu tenho muito em comum com outros membros do grupo que me foi atribuído.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

5. Ser parte do grupo que me foi atribuídoé uma importante expressão de quem eu sou.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

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Anexo I: Questionário Qualitativo

Condição BRS

QUESTIONÁRIO ABERTO SOBRE A ATIVIDADE PRÁTICA

Por favor, responda essas perguntas de forma sincera e sucinta. Não precisam ser respostas elaboradas, apenas o que você realmente pensa. Qual a estratégia de doação você utilizou? Por quê? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Você sentiu alguma emoção ao doar ou não doar algum chocolate? O que causou essa emoção? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Você acha que sabe qual o tema/objetivo da pesquisa? Qual? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Você acha que você teve algum controle na escolha de seu grupo (EDITAR)? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Utilize o espaço abaixo para fazer algum comentário sobre a atividade prática caso julgue conveniente. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________

MUITO OBRIGADO

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Condição ARS

QUESTIONÁRIO ABERTO SOBRE A ATIVIDADE PRÁTICA

Por favor, responda essas perguntas de forma sincera e sucinta. Não precisam ser respostas elaboradas, apenas o que você realmente pensa. Qual a estratégia de doação você utilizou? Por quê? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Você sentiu alguma emoção ao doar ou não doar algum chocolate? O que causou essa emoção? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Você acha que sabe qual o tema/objetivo da pesquisa? Qual? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Você acha que a religião que escolheu seguir foi fortemente influenciada por outros (pais, parentes, amigos e conhecidos) ou que suas próprias opiniões e sentimentos foram mais relevantes? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Utilize o espaço abaixo para fazer algum comentário sobre a atividade prática caso julgue conveniente. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________

MUITO OBRIGADO