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MARIA FERNANDA DE QUEIROZ PRADO BITTENCOURT
A Influência dos Esteróides Anabolizantes sobre a Vocalização de
Ratos Treinados Fisicamente
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde.
São Paulo 2009
1
MARIA FERNANDA DE QUEIROZ PRADO BITTENCOURT
A Influência dos Esteróides Anabolizantes sobre a Vocalização de
Ratos Treinados Fisicamente
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Hudson de Sousa Buck. Co-orientadora: Profa. Dra. Marta Assumpção de Andrada e Silva.
São Paulo
2009
2
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Bittencourt, Maria Fernanda de Queiroz Prado A influência dos esteróides anabolizantes na vocalização de ratos treinados fisicamente./ Maria Fernanda de Queiroz Prado Bittencourt. São Paulo, 2009.
Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Ciências da Saúde.
Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Hudson de Sousa Buck Co-Orientador: Marta Assumpção Andrada e Silva
1. Voz/efeitos de drogas 2. Vocalização animal 3. Ultra-som 4. Esteróides/efeitos adversos 5. Anabolizantes/efeitos adversos 6. Ratos
BC-FCMSCSP/62-09
4
Dedico esse trabalho à minha Avó,
sempre capaz de ver a vida e as pessoas do melhor ângulo possível!
5
Agradecimentos
Ao meu orientador Hudson, por acreditar no meu trabalho, me receber de
braços abertos no curso de pós-graduação, por me apresentar um mundo de
idéias novas, pela paciência, ajuda e atenção.
À minha co-orientadora Marta, por todo o apoio dentro e fora da
Fonoaudiologia, por encarar comigo os desafios desse trabalho, por me ensinar e
me contagiar com sua paixão pela profissão.
À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
À todos os docentes e funcionários do Departamento de Ciências
Fisiológicas.
À Ariadiny, por me ensinar muito sobre o “mundo dos ratos”.
Ao senhor Martinho, por me ajudar e cuidar tão bem dos animais que
participaram dessa pesquisa.
Aos amigos, Ariadiny, Fábio, Káris, Marielza, Marília, Mayra e Ticiana, pelos
risos, medos, alegrias, conquistas, por tornarem meus dias mais alegres e cheios
de lembranças.
À professora Tânia, por estar sempre disposta a ajudar e a dar um pouco
de si para minha pesquisa.
Às minhas amigas fonoaudiólogas, Júlia, Milena, Natália, Regina, Simone e
em especial Bianca, por dividirem as descobertas, as alegrias, as dúvidas e por
direta ou indiretamente me ajudarem a trilhar os meus caminhos.
6
À minha mãe, pelo amor, aconchego, ternura, por ser a melhor ouvinte da
face da terra, por me ensinar a ser forte, corajosa, determinada e ao mesmo
tempo ser sempre uma pessoa incansavelmente doce.
Ao meu pai, pelas alegrias, pelos sonhos, por me ajudar nos momentos
mais difíceis, pelo bom humor, pela companhia, por todo seu amor e por sempre
alimentar até mesmo as minhas mais loucas idéias!
Às minhas irmãs por me encherem de orgulho e admiração, pela força,
pelas brigas, pelas gargalhadas, fotos, pelos finais de semana... e dias de semana
também, enfim por todos os momentos.
À Tia Sylvia por me ajudar a tornar-me fonoaudióloga.
À todos os animais que participaram do meu estudo e de alguma forma
contribuíram para o crescimento da ciência.
Ao Dr. André Duprat, Dra. Samantha, Dra. Marta e a todos os que fazem
parte do Ambulatório de Artes Vocais da Santa Casa.
Muito Obrigada!!
7
SUMÁRIO 1.1. Mecanismos de produção da voz em seres humanos e em ratos.......... 8
1.2. Vocalização Ultrassônica ........................................................................... 9
1.3. Esteróides Anabolizantes e Exercício Físico ......................................... 11
1.4. Esteróides Anabolizantes e Voz .............................................................. 12
1.5. Justificativa ............................................................................................... 15
2. OBJETIVOS. ..................................................................................................... 16
3. MATERIAL E MÉTODOS. ................................................................................. 17
3.1. Seleção da Amostra:................................................................................. 17
3.2. Tratamento Hormonal. .............................................................................. 18
3.3. Teste de Esforço ....................................................................................... 18
3.4. Treinamento físico .................................................................................... 19
3.5. Peso dos Animais: .................................................................................... 20
3.6. Registro da Vocalização Ultrassônica. ................................................... 20
3.7. Obtenção dos valores de duração da vocalização, freqüência máxima, freqüência mínima e média da freqüência fundamental: ............................. 21
3.8. Análise Estatística. ................................................................................... 22
4. RESULTADOS. ................................................................................................. 26
4.1. Teste de resistência física........................................................................ 26
4.2. Peso dos animais...................................................................................... 27
4.3. Freqüência máxima: ................................................................................. 27
4.4. Freqüência mínima: .................................................................................. 28
4.5. Média da freqüência fundamental: .......................................................... 29
4.6. Duração da vocalização: .......................................................................... 30
5. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 34
6. CONCLUSÃO.................................................................................................... 38
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ................................................................. 39
Anexo 1 ................................................................................................................. 43
Anexo 2 ................................................................................................................. 44
8
1. INTRODUÇÃO.
1.1. Mecanismos de produção da voz em seres humanos e em ratos
Nos seres humanos a produção da voz é um processo físico e estão
envolvidos nele, o músculo diafragma, os pulmões, a laringe, as pregas vocais
(PPVV), a faringe e os articuladores passivos e ativos (lábios, língua, palato mole,
palato duro e caixas de ressonância). Segundo a Teoria Mio-Elástica-
Aerodinâmica de Vanderberg, “a fonação é o inter-relacionamento das forças
físicas aerodinâmicas da respiração e da força elástica dos tecidos musculares da
laringe” (Russo, 1999) .
Em ratos esse fenômeno é semelhante, pois eles possuem um aparelho
fonador e emitem vocalizações audíveis ao ouvido humano e ultrassônicas.
A vocalização é um processo dinâmico coordenado por mecanismos
cerebrais que envolvem o sistema respiratório, a laringe e todo o trato vocal, e
resulta na produção de um som (Jürgens, 2002). O mecanismo exato para a
produção foi descrito por Roberts (1975) e Weisz et al., (2001) e pode ser dividida
em dois tipos: uma emissão é similar ao assobio; e outra que é audível ao ouvido
humano. No assobio (inaudível) o rato inspira, o ar passa pela laringe e vai até os
pulmões. Nesse momento a laringe fica estável, as PPVV se unem com um
espaço de um a dois milímetros de abertura. Com uma pressão abdominal o ar é
expelido, passa por esse pequeno espaço entre as pregas vocais, fazendo-a
vibrar, assim o som é produzido (Roberts, 1975 Brudzynski e Ociepa, 1992; Weisz
et al., 2001; Brudzynski, 2005).
9
Esse assobio é o resultado de um processo físico em que há formação de
um turbilhonamento de ar num tubo (a laringe), com a movimentação das pregas
vocais.
Pode-se dizer que a produção audível do rato tem como resultado um som
complexo, ou seja, há participação de todo trato vocal, nota-se a presença de
harmônicos e freqüência fundamental o que indica que necessariamente existiu
vibração das pregas vocais (Robers, 1975).
1.2. Vocalização Ultrassônica
A vocalização ultrassônica de ratos foi registrada de três formas diferentes
(Brudzynski et al., 1991). Os ratos foram colocados em caixas separadas. Ao
início das gravações, os ratos do grupo A eram tocados com movimentos
contínuos e ritmados (estímulo tátil de toque); os animais do grupo B receberam
injeções intracerebrais de carbacol (agonista colinérgico) nas regiões
responsáveis pela decodificação dos estímulos físicos realizados no grupo
controle; os animais do grupo C receberam choques nas patas. Os registros
obtidos nos grupos não apresentaram diferenças significantes. Assim ficou
registrada a produção da vocalização ultrassônica, para os três grupos, em
decibels (dB), que varia de -70dB até seu pico em -40dB. Também foi observado
que nos três grupos a produção em kHz foi muito similar, tendo permanecido
sempre próxima de 22 a 25 kHz. (Brudzynski et al., 1991).
O comportamento da vocalização de ratos com dores crônicas e ratos sem
dores crônicas foi analisado em dois contextos sociais diferentes. No primeiro o
10
rato permanecia sozinho dentro de uma caixa e depois de um período de dez
minutos de ambientação, suas vocalizações eram registradas. No segundo, os
ratos foram colocados em ambiente social. Aqueles que permaneceram sozinhos
não produziram vocalizações, diferente dos que estavam em ambiente social. Os
ratos do grupo com dor crônica chegaram a apresentar dez vezes mais
vocalizações do que os ratos do grupo controle. Conclui-se dessa forma que
assim como na comunicação humana, as vocalizações de ratos estavam
presentes quando o animal tinha com quem se comunicar. Além disso, notou-se
maior atividade na comunicação vocal dos ratos com dores crônicas (Naito et al.,
2006).
A vocalização de ratos se apresenta de diferentes formas em diversos
contextos e estão associadas a estados subjetivos e/ou emocionais (Brudzynski et
al., 1991; Motomura et al., 2002; Naito et al., 2003 e 2006).
Foi observado que ratos com privação de alimentos, o que gerava o
comportamento de fome, apresentaram vocalizações na faixa de 54 a 60 kHz, com
duração média de 17 a 25 ms. Outros animais que eram manuseados pelo
pesquisador e recebiam estímulos similares aos de cócegas, apresentaram
vocalizações próximas de 50 kHz, porém também foram observadas vocalizações
em freqüências mais baixas (22 kHz). Durante as gravações os animais estavam
separados em caixas individuais (Schwarting et al., 2007).
As vocalizações de longa duração produzidas entre 20 e 35 kHz, foram
consideradas e caracterizadas como produções de alarme. (Brudzynski e Chiu,
1995; Brudzynsky, 2001; Lindquist et al., 2004; Whishaw e Kolb, 2005).
11
Apesar das produções em 22KHz serem caracterizadas como vocalizações
de alarme, perigo, fuga ou ansiedade (Brudzynski e Ociepa, 1992; Brudzynski et
al., 1993; Jelen et al., 2003; Kroes et al., 2007; Litvin et al., 2007; Schwarting et al.,
2007), também foram observadas em momentos de estímulos de toques e
cócegas. Portanto esse tipo de vocalização está relacionado não somente a
estímulos aversivos, mas também a estímulos agradáveis ou afetivos. De acordo
com Schwarting et al., (2007), cogita-se a hipótese de que, como a minoria dos
animais tenham vocalizado em 22 kHz, o estímulo (cócegas) possa ter
desencadeado processos de variação emocional, ou seja, para alguns ratos foi
prazeroso desencadeando produções em freqüências mais agudas enquanto para
outros foi aversivo mostrando produções mais graves.
1.3. Esteróides Anabolizantes e Exercício Físico
A utilização de esteróides anabolizantes entre atletas, atualmente é
considerada um problema de saúde pública, pois sua prevalência é alta e tende a
subir. Estudos estatísticos realizados nos EUA demonstraram que
aproximadamente 2,5% dos adolescentes já fizeram uso abusivo desse tipo de
medicamento ao menos uma vez. Entre os praticantes de musculação essa
utilização é de aproximadamente 25%. (Durant et al., 1995).
O uso de esteróides anabolizantes na população que pratica exercícios
físicos ocorre pela busca do corpo musculoso e definido. O abuso de tais drogas
em homens encontra-se de duas a três vezes mais presentes do que em mulheres
(Bruckert et al., 2006). Aproximadamente 70% desses usuários são praticantes de
12
esportes competitivos. Apesar de não haver casos de dependência relacionada
aos esteróides anabolizantes, entre os levantadores de peso, que geralmente
costumam utilizar essas drogas em doses suprafisiológicas e durante longos
períodos, foi verificada a tendência de desenvolver depressão e pensamentos
suicidas (Hall et al., 2005).
Foi observado que a hipertrofia induzida pelo exercício físico em conjunto
com a utilização de esteróides anabolizantes é um aditivo no ganho de massa
muscular e o exercício físico por si, aumenta o número de receptores
androgênicos e a secreção aguda de testosterona (Wu e Eckardstein, 2005).
Os efeitos anabólicos dos esteróides somados aos do exercício físico,
podem atuar de forma suplementar, e promover dessa forma hipertrofia do tecido
muscular (Bhasin et al., 1996; , Kuhn, 2002; Hall et al., 2005).
1.4. Esteróides Anabolizantes e Voz
Na sociedade em que vivemos o culto a beleza e ao corpo perfeito, assim
como a prática de esportes criam um modelo a ser seguido. Quem não se
enquadra nessas regras, ditadas pela mídia e pela sociedade está sempre atrás
de fórmulas ou caminhos para conseguir entrar dentro desses padrões (Celotti e
Negri, 1992; Wu, 1997; Lise et al., 2001; Silva et al., 2002).
Atualmente o uso de esteróides anabolizantes é uma das saídas
encontradas por aqueles que desejam obter resultados rápidos e visíveis para
modificar sua aparência física. Seu uso indiscriminado pode trazer problemas à
saúde do usuário (Wu, 1997).
13
Os esteróides anabolizantes são derivados sintéticos da testosterona,
hormônio sexual masculino, responsáveis pelas mudanças e desenvolvimento do
sistema reprodutivo e características sexuais secundárias do homem. Os efeitos
anabólicos da testosterona são aqueles que envolvem o crescimento dos ossos
longos, fechamento epifisário, aumento da laringe e das PPVV, aumento da
síntese protéica, redução da gordura corporal, aumento de massa, da força dos
músculos esqueléticos e aumento de hemácias. (Celotti e Negri, 1992; Bhasin et
al., 1996; Lise et al., 2001; Tamaki et al., 2001; Silva et al., 2002).
A testosterona é o hormônio esteróide androgênico mais importante
produzido pelas células de Leydig nos testículos. No sexo feminino, é produzido
em pequena quantidade pelos ovários (Celotti e Negri, 1992).
O uso de esteróide anabolizantes sem a indicação médica pode alterar
diversas funções do usuário (Celotti e Negri, 1992), inclusive algumas
relacionadas à voz (Bruckert et al., 2006). É sabido que em mulheres o pitch
(sensação psicoacústica de freqüência (Hz), ou seja, quanto o ouvido humano é
sensível com relação as diferenças entre faixas de freqüência) pode tornar-se
mais grave (Baker, 1999; Iriart e Matos de Andrade, 2002; Ribeiro, 2002; Wollina
et al., 2007).
Em pacientes homens com hipogonadismo e hipogonadotrofia foi
observado pitch agudizado quando comparados ao grupo controle masculino, os
valores de freqüência fundamental estavam bastante próximos a freqüência
fundamental do grupo controle feminino. Esse efeito foi revertido com o uso de
testosterona, que promoveu o agravamento do pitch para valores semelhantes
14
aqueles observados no grupo controle masculino. Esses dados demonstram a
relação da concentração de testosterona e a voz (Akcam et al., 2004).
Em ratas, o tratamento com esteróides anabolizantes por três meses,
promoveu alterações histológicas do epitélio da laringe e PPVV, como hiperplasia
das células e aumento do processo de mitose celular, em comparação ao grupo
controle. Em relação às fibras musculares, foi verificado aumento da
vascularização na região e aumento do uso de glicogênio, inclusive no músculo
tireoaritenóideo (Talaat et al., 1987).
Mesmo depois de interromper o uso do andrógeno, as ratas que foram
submetidas a ele continuaram apresentando mudanças irreversíveis nas fibras
musculares, principalmente na parte medial do músculo tireoaritenóideo (músculo
situado nas PPVV) (Talaat et al., 1987).
Esses dados podem ser correlacionados com as mudanças na qualidade
vocal de mulheres, submetidas a utilização de esteróides anabolizantes, as quais
apresentam um pitch agravado (Baker, 1999).
A laringe humana é muito semelhante em homens e em mulheres até a
puberdade. Após esse período ocorrem grandes mudanças, relacionadas ao
aumento de tamanho e de peso da laringe e, conseqüentemente, das PPVV.
Essas ocorrem, pois existem receptores de andrógenos na laringe que
contribuem, entre outras coisas, para a caracterização da voz (Beckford et
al.,1985).
Os autores ressaltaram também que entre as cartilagens da laringe a que
mais se modifica é a cartilagem tireóide. Com relação ao ligamento vocal, os
15
efeitos androgênicos apesar de existirem, não foram significantes (Beckford et
al.,1985).
Com relação ao desenvolvimento pós-natal das pregas vocais de ratos, foi
verificado que as transformações que ocorrem nas pregas vocais e na laringe
também podem ser observadas nas pregas vocais de humanos. (Tateya et al.,
2005 e 2006).
1.5. Justificativa
Em 2006, no Ambulatório de Artes Vocais do Departamento de
Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa e Misericórdia de São Paulo e
do Curso de Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da
Santa Casa de São Paulo, destinado a atores e cantores de diversos gêneros
musicais. Foi observada a chegada de pacientes cantores, praticantes de
atividade física e usuários de esteróides anabolizantes. Esses pacientes
apresentavam queixas de perda em agudos (observadas apenas na voz cantada),
fadiga vocal e voz “pesada”. Nenhum deles relacionava tais queixas ao uso de
esteróides anabolizantes.
Ao considerar esses dados e confrontar com os da literatura, que mostram
alterações no aparelho fonador de humanos e ratos após tratamento com
esteróides anabolizantes, foi pensada a realização de um estudo sobre a
influência do exercício físico e dos esteróides anabolizantes na voz, para dar início
a novas perspectivas terapêuticas e profiláticas para esses casos.
16
2. OBJETIVOS.
O objetivo deste estudo foi determinar a influência do uso de esteróides
anabolizantes associados a prática de exercício físico sobre a vocalização de
ratos.
17
3. MATERIAL E MÉTODOS.
3.1. Seleção da Amostra:
Foram utilizados 32 ratos Wistar adultos de doze semanas de idade (250 a
350 gramas), fornecidos pelo biotério do Instituto Nacional de Farmacologia da
Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. Os animais
foram mantidos sob condições controladas de temperatura e iluminação (ciclo 12h
claro/escuro) com livre acesso à água e ração. Todos os experimentos foram
realizados de acordo com as normas éticas de experimentação animal da
Comissão de Ética em Experimentação Animal da FCMSCSP (Protocolo nº 180-
Anexo 1).
Os animais foram divididos em quatro grupos com oito ratos em cada
grupo:
• Grupo GSC: grupo sedentário controle (sem tratamento e sem
treinamento físico);
• Grupo GSA: grupo sedentário anabolizado, recebeu doses semanais
de esteróides anabolizantes e não passou por treinamento físico;
• Grupo GT: grupo treinado, passou por treinamento físico;
• Grupo GTA: grupo treinado anabolizado, recebeu doses semanais de
esteróides anabolizantes e passou por treinamento físico.
18
3.2. Tratamento Hormonal.
Os grupos GTA e GSA receberam o esteróide anabolizante decanoato de
nandrolona, dissolvida em óleo de milho, que foi administrado duas vezes por
semana, com injeções subcutâneas na dose de 5mg/kg, totalizando
10mg/kg/semana a partir do início do treinamento. Os animais do GSC e GT
receberam nas mesmas condições, somente o veículo.
3.3. Teste de Esforço
O período de adaptação, teste de esforço e o treinamento físico foram
realizados no período da manhã, entre 9 e 12 horas. Após quinze dias de
adaptação dos animais no biotério, todos foram submetidos a um processo de
adaptação em esteira ergométrica (Imbrasport) por uma semana (a 12 semana
de idade) durante 10 minutos com velocidade de 0,3 km/h (5m/min).
Após a adaptação foi realizado um teste de esforço que consistiu em um
treino com velocidade inicial de 0,3 km/h (5m/min) com implementação de 0,3
km/h (5m/min) a cada três minutos até o limite de resistência do animal. Ao final
do teste de esforço, os animais foram distribuídos nos grupos treinados (GT e
GTA) e sedentários (GSC e GSA). Com os resultados do teste de esforço (teste 1)
a rotina de treinamento de cada grupo treinado foi estabelecida e ao final da quinta
(teste 2) e da décima semana de treinamento físico, foi realizado um novo teste de
esforço (teste 3) com todos os grupos. A partir dos resultados obtidos nos testes
19
de esforço, foi possível avaliar a eficácia do treinamento físico aplicado (Tancrede
et al., 1982).
3.4. Treinamento físico
O treinamento dos animais em esteira ergométrica, adaptada para a
atividade física em ratos, foi aplicado cinco vezes por semana durante dez
semanas em intensidade baixa (nas primeiras cinco semanas) e intensidade
moderada nas últimas cinco semanas (Raad et al., 1990; De Angelis et al., 1997)
(Anexo 2).
Tabela 1- Velocidade máxima e tempo máximo alcançado em cada sessão de
treinamento, no protocolo de treinamento físico dos grupos treinados (a 13ª
semana de idade corresponde a primeira semana de treinamento).
Semanas de idade Velocidade (km/h) Tempo (minutos)
12 Adaptação à esteira
13 0,7 30
14 0,7 45
15 0,7 60
16 0,9 60
17 0,9 60
18 0,9 60
19 1 60
20 1 60
21 1 60
22 1 60
20
3.5. Peso dos Animais:
Os animais foram pesados semanalmente para o cálculo da dosagem do
tratamento hormonal. Foram utilizados os valores de peso da primeira semana de
treinamento/tratamento (peso 1), da quinta semana de treinamento/tratamento
(peso 2) e da décima semana de treinamento/tratamento (peso 3).
3.6. Registro da Vocalização Ultrassônica.
Para o registro da vocalização ultrassônica (VU), os animais foram
colocados separadamente em uma sala isolada acusticamente, no escuro (os
ratos, por serem animais noturnos apresentam maior atividade nesse período) em
uma caixa neutra de polipropileno (41x34x16cm) durante dez minutos para
ambientação. Para que os animais produzissem vocalizações mesmo fora de um
ambiente social (Motomura et al., 2002; Naito et al., 2006), foi aplicado o estímulo
de toque que consistiu em movimentos ritmados na região dorsal do animal
realizado sempre pelo mesmo pesquisador (sentido rostral caudal) (Brudzynsk et
al., 1991). As vocalizações foram registradas no início da primeira semana de
treinamento (gravação 1), na quinta semana (gravação 2) e na última semana de
tratamento/treinamento (gravação 3). Os registros foram realizados aos sábados,
para evitar interferências pré ou pós-atividade física e para obter o registro dos
animais em repouso. Foi estipulado que o tempo máximo de gravação com cada
animal seria de 5 minutos, se ao final o animal não vocalizasse seria selecionado
o próximo rato da caixa.
21
O procedimento para a gravação e análise da VU quantitativa foi descrito
por Schwarting et al., (2007). As vocalizações foram captadas por um microfone
para registros de ultrassons (condenser microphone - Avisoft Bioacoustics, Berlin,
Germany) conectado ao pré-digitalizador e gravador de som Avisoft-RECORDER
(versão 1.6 Avisoft Bioacoustics, Berlin, Germany), que por sua vez foi conectado
a um computador portátil. As amostras foram armazenadas no disco rígido do
computador e analisadas utilizando o programa Avisoft SASLab Pro (Versão 4.2,
Avisoft Bioacoustics, Berlin, Germany). Os espectrogramas foram gerados em
configuração Fast Fourier Transformation (FFT) com 512 pontos em janela
Hamming.
3.7. Obtenção dos valores de duração da vocalização, freqüência máxima,
freqüência mínima e média da freqüência fundamental:
Os valores de duração média da vocalização foram obtidos de forma que
cada vocalização produzida pelo animal foi medida em segundos, seus valores
foram somados e depois feita a média, esses valores expressam efetivamente o
tempo em que o animal vocalizou (Figura 1).
Para os valores de freqüência máxima, foi gerado o espectrograma,
inserida a opção “barra de freqüências”, e a partir disso foi obtida a freqüência
máxima de cada uma das produções (Figura 2).
Para a freqüência mínima, foi gerado um espectrograma. Para facilitar sua
análise foi selecionado um cursor específico o “bound reticule cursor”, que se “fixa”
a faixa de freqüência mais grave presente no espectrograma (Figura 3).
22
Na freqüência fundamental foi utilizado o tempo (seg) total da produção,
dividido em três partes e do terço intermediário foi obtido o valor da média da
freqüência fundamental (Figura 4 e 5).
3.8. Análise Estatística.
Para a análise dos valores obtidos no teste de esforço foi utilizada a análise
de variância ANOVA de uma via seguida do pós-teste de Bonferroni.
Na comparação entre grupos, para os parâmetros freqüência máxima,
freqüência mínima, freqüência fundamental e duração da vocalização, foram
utilizadas a ANOVA de uma via seguida do pós-teste de Bonferroni e a ANOVA de
duas vias seguida do pós-teste de Bonferroni.
Foram considerados significantes os valores para P<0,05.
23
Figura 1: Vocalização completa, produzida pelo animal. Foi selecionado o primeiro pulso de vocalização para ser determinada sua duração.
Figura 2: Observa-se o espectrograma da produção do animal, a barra na horizontal apresenta os valores máximos atingidos nas gravações
24
Figura 3: Observa-se o espectrograma da produção do animal, a barra na horizontal apresenta os valores mínimos atingidos nas gravações.
Figura 4: Para a análise da Freqüência Fundamental, foi selecionado o terço médio da produção total do animal.
25
Figura 5: Observa-se o espectrograma da produção do animal, na parte inferior da figura a freqüência fundamental foi analisada, podendo ser observada nas cores verde e vermelha.
26
4. RESULTADOS.
4.1. Teste de resistência física
A efetividade do treinamento físico foi avaliada pela resposta no teste de
esforço. Desde o inicio do experimento, os grupos treinado (GT) e treinado
anabolizado (GTA), já se mostravam mais resistentes no teste de esforço (teste 1).
Os animais do GTA apresentaram um aumento significante na velocidade máxima
de corrida desde a quinta semana de treinamento (teste 2- GTA=39,9±4,6m/min),
diferentemente do que foi observado no GT (teste 2- GT=34,9±4,9m/mim).
A comparação entre o primeiro teste de esforço e após dez semanas de
treinamento físico (teste 3) mostra diferença significante tanto para os animais do
GT quanto para os do GTA (teste 3- GT=37,4±1,6m/min; GTA=39,9±1,6m/min). O
aumento na velocidade de corrida nos grupos treinados está associado com o
aumento do consumo máximo de oxigênio (Brooks e White, 1978; Rodrigues et al.,
2006) demonstrando a eficácia do treinamento físico aplicado neste estudo (Figura
6).
1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 30
10
20
30
40GCSGSA
GT
GTA
* **
*
#
velo
cid
ade
(m/m
im)
Testes de Esforço
27
Figura 6- Gráfico que representa os valores dos testes de esforço: teste 1, teste 2 e teste 3 para os grupos, sedentário controle (GSC), sedentário anabolizado (GSA), treinado (GT) e treinado anabolizado (GTA). *P<0,05; **P<0,001; #P<0,001. Anova de uma via seguida do pós-teste Bonferroni.
4.2. Peso dos animais
No inicio do protocolo de treinamento físico todos os grupos apresentaram
peso entre 250g e 300g. Na comparação entre os grupos (GSC, GSA, GT e GTA)
a variação de peso não foi diferente (Figura 7).
0
100
200
300
400
500GSCGSAGTGTA
peso 1 peso 2 peso 3
Pes
o (
gra
mas
)
Figura 7: Comparação do peso corporal entre os grupos GSC (grupo sedentário controle), GSA (grupo sedentário anabolizado), GT (grupo treinado) e GTA (grupo treinado anabolizado).
4.3. Freqüência máxima:
Observa-se que todos os animais apresentaram uma queda na freqüência
máxima (independentemente do grupo em que estavam). Esses resultados não
demonstraram diferenças significantes nem inter-grupos, nem intra-grupos
28
(Gravação 1- GSC= 76,9±3,5kHz; GSA=77,9±2,0kHz; GT=70,8±3,4kHz;
GTA=70,6±3,4kHz; Gravação 2- GSC=67,3±3,5kHz; GSA=71,8±2,0kHz;
GT=63,9±3,4kHz; GTA=62,9±3,4kHz; Gravação 3- GSC=65,5±3,5kHz;
GSA=65,8±2,0kHz; GT=68,1±3,4kHz; GTA=62,5±3,4kHz). Em relação ao fator (F),
não foram observadas diferenças nem no fator tempo nem no tratamento. Porém
podemos afirmar que no decorrer do protocolo todos os ratos produziram
freqüências máximas menos elevadas.
A variação entre a gravação 1 e gravação 3 foi de aproximadamente GSC=
11,5kHz, GSA= 12,0kHz; GT=2,0kHz; e GTA= 8,0kHz (Figura 8).
0
25
50
75
100GSC
GT
GSA
GTA
Gravação 1 Gravação 2 Gravação 3
Fre
qu
ênci
a M
áxim
a(k
Hz)
Figura 8: Gráfico que apresenta a comparação das três produções, referentes à freqüência máxima distribuída entre os grupos GSC (grupo sedentário controle), GSA (grupo sedentário anabolizado), GT (grupo treinado) e GTA (grupo treinado anabolizado).
4.4. Freqüência mínima:
Na comparação das freqüências mínimas obtidas na gravação 1, gravação
2 e a gravação 3 não foram observadas diferenças entre os animais do mesmo
29
grupo, nem na comparação entre os outros grupos (gravação 1-
GSC=22,4±0,1kHz; GSA=22,9±0,3kHz; GT=28,9±0,7kHz; GTA=24,0±0,7kHz;
gravação 2- GSC=21,9±0,1kHz; GSA=22,1±0,3kHz; GT=22,1±0,7kHz;
GTA=21,8±0,7kHz; gravação 3- GSC=22,0±0,1kHz; GSA=21,6±0,3kHz;
GT=21,1±0,7kHz; GTA=21,65±0,7kHz). Para o fator (F) tratamento e tempo
também não observa-se diferenças
A variação entre a primeira gravação e a terceira foi de aproximadamente
GSC=0,45kHz GSA= 1,3kHz; GT=7,8kHz; e GTA= 2,5kHz (Figura 9).
0
10
20
30GSC
GT
GSA
GTA
Gravação 1 Gravação 2 Gravação 3
Fre
quê
ncia
Mín
ima
(kH
z)
Figura 9: Comparação realizada entre os grupos no decorrer das gravações grupos (GSC- grupo sedentário controle, GSA- grupo sedentário anabolizado, GT- grupo treinado e GTA- grupo treinado anabolizado).
4.5. Média da freqüência fundamental:
Na comparação da média da freqüência fundamental do GSC nas
gravações 1, 2 e 3 não observamos diferenças, o mesmo aconteceu entre todos
os outros grupos quando comparados entre si. Também não observou-se
diferenças nos fatores (F) tratamento e tempo.
30
Foram realizadas análises da média da freqüência fundamental entre os
grupos pesquisados, não foram observadas diferenças significantes. Os valores
obtidos foram: Gravação 1- GSC=23,0±0,7kHz; GSA=23,9±0,8kHz;
GT=25,3±0,8kHz; GTA=25,0±0,9kHz; Gravação 2- GSC=23,5±0,7kHz;
GSA=23,2±0,8kHz; GT=23,4±0,8kHz; GTA=23,0±0,9kHz; Gravação 3-
GSC=23,0±0.7kHz; GSA=22,6±0.8kHz; GT=22,6±0,8kHz; GTA=22,9±0,9kHz
(Figura 10).
0
10
20
30GSC
GTGSA
GTA
Gravação 1 Gravação 2 Gravação 3
Méd
ia d
a fr
equ
ênci
afu
nd
amen
tal
(kH
z)
Figura 10: Média da freqüência fundamental, na comparação entre todos os grupos (GSC- grupo sedentário controle, GSA- grupo sedentário anabolizado, GT- grupo treinado e GTA- grupo treinado anabolizado).
4.6. Duração da vocalização:
Os valores de duração da vocalização foram obtidos em segundos, seus
valores foram somados e depois foi feita a média.
Quando comparou-se a duração da vocalização não observou-se
diferenças intra-grupos para os grupos GSC, GSA, GT e GTA do primeiro segundo
e terceiro dia de gravação (Figura 11).
31
Na análise inter-grupos, quando comparados o GSC com o GSA, foi
observado que os valores começam próximos, porém não seguem o mesmo
padrão, as diferenças encontradas não foram estatisticamente significantes
(Figura 12).
Na comparação entre GSC e GT pode-se observar que não há diferença
entre os grupos, entretanto os animais do GT tiveram na primeira gravação a
duração da vocalização mais curta que os do GSC. O mesmo não aconteceu com
os animais dos outros grupos, essa variação se mantém, porém de uma forma
menos evidente na segunda e na terceira gravações. Os valores obtidos não
foram estatisticamente significantes (Gravação 1- GSC=1,11±0,2s;
GSA=1,13±0,5s; GT=0,73±0,6s; GTA=1,25±0,4s; Gravação 2- GSC=1,35±0,4s;
GSA=0,91±0,4s; GT=0,96±0,4s; GTA=0,73±0,5s; Gravação 3- GSC=1,51±0,3s;
GSA=1,13±0,3s; GT=0,83±0,4s; GTA=0,99±0,2s) (Figura 13).
A associação entre o tratamento com esteróides anabolizantes e o
treinamento físico apontou um declínio no fator de tratamento (F(1, 39)= 11.19,
P=0.002), mas não no fator tempo (F(2, 39)=0,19, P=0.825) quando comparadas a
duração média da vocalização do GTA com o GSC, foram observadas diferenças
na duração da vocalização, indicando que os animais tratados tiveram produções
mais curtas que os animais do GSC (Figura 14).
.
32
1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 30
1
2
GSCGSA
Gravações
GTGTA
Du
raçã
o m
édia
da
voca
liza
ção
(se
g)
Figura 11: Comparação da duração média da vocalização feita em cada um dos grupos (GSC- grupo sedentário controle, GSA- grupo sedentário anabolizado, GT- grupo treinado e GTA- grupo treinado anabolizado).
0
1
2
GSC
GSA
2 3Gravações
1
Du
raçã
o m
édia
da
voca
liza
ção
(se
g)
Figura 12: Os grupos GSC (grupo sedentário controle) e GSA (grupo sedentário anabolizado) não apresentaram diferenças na duração média da vocalização. Anova de duas vias, seguida do pós-teste de Bonferroni.
33
0 1 2 3 40
1
2
CSG
TG
Gravações
Du
raçã
o m
édia
da
voca
liza
ção
(se
g)
Figura 13: Os grupos GSC (grupo sedentário controle) e GT (grupo
treinado) não apresentaram diferenças na duração média da vocalização. Anova de duas vias seguido do pós-teste de Bonferroni.
0 1 2 3 40
1
2
GSC
GTA
* *
Gravações
Du
raçã
o m
édia
da
voca
liza
ção
(se
g)
Figura 14: Os grupos GSC (grupo sedentário controle) e GTA (grupo treinado anabolizado) quando comparados apresentaram diferença na duração média da produção da vocalização (*P<0,05). Anova de duas vias seguido do pós-teste de Bonferroni.
34
5. DISCUSSÃO
Esse estudo teve a finalidade de avaliar os efeitos dos esteróides
anabolizantes na vocalização de ratos treinados fisicamente em esteira.
Observou-se que o treinamento físico foi eficiente, pois no teste de esforço
os ratos dos grupos treinados obtiveram melhores resultados que os animais dos
grupos sedentários. O treinamento não mostrou diferença entre o desempenho
dos animais do GT e os do GTA no final do treinamento. Porém no teste 2, na
quinta semana de treinamento, os animais do grupo GTA apresentaram melhor
desempenho que os animais do GT, esses resultados demonstram que os animais
tratados atingiram melhor capacidade física quando comparados aos animas que
passaram apenas pelo treinamento físico. Esses achados corroboram com
aqueles apresentados pela literatura que apontam que os animais tratados com
esteróides anabolizantes apresentam aumento da capacidade aeróbia, aumento
da força e da massa muscular (Bhasin et al., 1996; Kuhn et al., 2002; Hall et al.,
2005).
As possíveis justificativas para o fato dos animais terem terminado o
treinamento com desempenhos similares são: a duração do tratamento e
possivelmente a dosagem utilizada. A testosterona quando é administrada em
altas doses, inibe a produção normal desse hormônio pelo homem, nesse
momento os receptores capazes de produzir a testosterona estão
dessensibilizados. A dose administrada é sintetizada pelo organismo porém um
pouco dela acaba sendo eliminada. O uso dessa droga a longo prazo acarreta
35
uma pequena diminuição de sua absorção e falta de sua produção pelo corpo
(Kuhn, 2002).
A produção da vocalização emitida pelos animais esteve sempre próxima
de 22 kHz, tanto nos valores obtidos na freqüência mínima quanto nos de
freqüência fundamental. Os valores de freqüência máxima apresentam certa
uniformidade, apesar de não serem estatisticamente significante há uma tendência
do som a tornar-se mais grave.
As vocalizações em 22 kHz demonstram que apesar de não terem sofrido
estímulos de dor, os animais entenderam o estímulo de “toque”, como sendo
negativo, ele causou respostas de medo, fuga e/ou defesa. Esse fenômeno pode
ser explicado levando em conta que os animais não estavam em suas caixas em
companhia dos outros animais, e sim, contidos pelas mãos do pesquisador,
impossibilitados de fazer movimentos. Sem saber o que esperar daquela situação
e mesmo sem sofrer nenhum tipo de dor estavam num momento de desconforto.
(Brudzynski e Chiu, 1995; Brudzynsky, 2001; Whishaw e Kolb, 2005).
Foi realizada a analise da duração vocalização nela observamos que não
houve diferença na comparação entre os grupos GSC e GSA, apesar de não
haver diferenças pudemos observar que diferentemente do GSC e do GT, o GTA
apresenta uma diminuição da duração da vocalização.
Essa diminuição que foi observada no GTA (quando comparada ao GSC)
sugere que os esteróides anabolizantes tenham causado uma alteração na PPVV
dos ratos, essa alteração foi acentuada pelo exercício físico. Demonstrando que
os animais não conseguiram manter o mesmo tempo fonatório devido a um
36
possível aumento de massa nas PPVV. No estudo histológico, realizado por Talaat
(1987), foram observadas mudanças no epitélio das PPVV de ratas tratadas com
esteróides anabolizantes. As mudanças encontradas foram entre outras hipertrofia
do músculo tireoaritenóideo, essa hipertrofia pode ser considerada um aumento de
massa das PPVV. Assim podemos inferir que os resultados obtidos em relação ao
tempo fonatório dos animais do GTA indica que o tratamento realizado nesse
estudo possivelmente causou uma alteração estrutural na PPVV dos ratos
treinados e anabolizados.
Esses resultados sugerem a importância de um estudo morfométrico para
identificar as possíveis mudanças na estrutura morfológica da PPVV dos animais
estudados.
Para que a comunicação de um animal seja efetiva há necessidade de que
o resto do grupo possa entender a mensagem emitida, se o animal produzir
vocalizações em faixas de freqüências que não puderem ser entendidas pelos
outros não há comunicação (Blumberg, 1992).
Experimentos realizados com ratos vivendo em grandes colônias mostram a
importância da vocalização para a comunicação entre eles. Montava-se uma
grande colônia com diversos ambientes e diferentes acessos a esses lugares, no
centro da colônia ficava o ambiente em era colocada a comida e água para todos
os animais (Blanchard, 1991).
Um predador, como o gato, era colocado próximo ao lugar onde os ratos se
alimentavam; dentro de uma gaiola para que não pudesse escapar. Alguns
segundos depois que o primeiro rato percebesse sua presença todos os outros
37
animais, mesmo aqueles que não podiam ver nem sentir o cheiro do predador por
causa da distância, ou ver o rato que estava de frente para esse predador, ficavam
paralisados e um pouco depois tentavam se esconder em lugares considerados
mais seguros e escuros (Blanchard, 1991).
Dessa forma que para que a comunicação entre esses ratos fosse efetiva,
todos teriam que ser capazes de produzir e compreender vocalizações de alarme.
Umas das hipóteses para que a duração da vocalização se apresente mais curta,
é que, para conseguir transmitir a mensagem na freqüência de 22 kHz os animais
do grupo GTA, por possivelmente apresentarem uma prega vocal alterada, ou
mais pesada, diminuíram a duração da vocalização para que conseguissem
manter a mesma faixa de freqüência de produções de alarme do resto do grupo.
38
6. CONCLUSÃO
Concluímos que tanto o exercício físico quanto o tratamento com esteróides
anabolizantes aplicados isoladamente não foram capazes de alterar os
parâmetros avaliados.
A utilização concomitante de esteróides anabolizantes e a aplicação de
treinamento físico moderado por 10 semanas diminuiu a duração média dos da
vocalização sugerindo a presença de alterações funcionais decorrente de
alterações morfológicas nas pregas vocais desses animais.
Podemos também inferir que os animais que não conseguiram manter o
mesmo tempo fonatório, não tiveram nenhum tipo de mudança nas freqüências
(mínima e máxima), isso demonstra a importância da manutenção da produção
nas mesmas freqüências para que os animais fossem capazes de se comunicar
com os outros.
Nos homens, por terem um padrão de voz mais grave que as mulheres, é
mais difícil perceber auditivamente a variação do pitch, quando esse se torna mais
grave. Esse estudo sugere, que as dificuldades encontradas por cantores de axé
music e pagode, usuários de esteróides anabolizantes, em relação a produção dos
sons agudos está relacionado a um possível aumento de massa das pregas
vocais.
39
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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44
Anexo 2
1ª semana segunda terca quarta quinta sexta
Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga
2' 0,3 3' 0,3 3' 0,3 3' 0,3 3' 0,3
10' 0,6 15' 0,6 15' 0,6 10' 0,6 10' 0,6
3' 0,3 2' 0,3 2' 0,3 3' 0,7 8' 0,7
- - - - - - 6' 0,6 6' 0,6
- - - - - - 3' 0,3 3' 0,3
Total 15' - 15 - 20 - 25 - 30 -
2ª semana seg terca quarta quinta sexta
Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga
MANHÃ 2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3
10 0,6 17 0,6 20 0,6 20 0,6 20 0,6
3 0,7 3 0,7 3 0,7 5 0,7 5 0,7
13 0,6 15 0,6 17 0,6 15 0,6 10 0,6
2 0,3 3 0,3 3 0,3 3 0,3 5 0,7
3 0,3
Total 30 - 40 - 45 - 45 - 45 -
3ª semana seg terca quarta quinta sexta
Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga
MANHÃ 2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3
20 0,6 20 0,6 20 0,6 20 0,6 20 0,6
5 0,7 10 0,7 10 0,7 10 0,7 10 0,7
10 0,6 10 0,6 15 0,6 15 0,6 15 0,6
5 0,7 5 0,7 5 0,7 10 0,7 10 0,7
3 0,3 3 0,3 3 0,3 3 0,3 3 0,3
Total 45 - 50 - 55 - 60 - 60 -
45
4ª semana seg terca quarta quinta sexta
Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga
2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3
20 0,6 15 0,6 15 0,6 10 0,6 10 0,6
MANHÃ 10 0,7 15 0,7 15 0,8 20 0,8 20 0,9
15 0,6 15 0,6 10 0,6 10 0,6 5 0,6
10 0,7 10 0,7 15 0,7 15 0,7 20 0,7
3 0,3 3 0,3 3 0,3 3 0,3 3 0,3
Total 60' - 60' - 60' - 60' - 60' -
5ª semana seg terca quarta quinta sexta
Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga
2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3 2 0,3
10 0,6 10 0,6 5 0,6 5 0,6 5 0,6
MANHÃ 20 0,9 20 0,9 5 0,8 5 0,8 5 0,8
5 0,6 5 0,6 5 0,6 5 0,6 5 0,6
20 0,7 20 0,7 15 0,9 15 0,9 15 0,9
3 0,3 3 0,3 5 0,6 5 0,6 5 0,6
Total 60' - 60' - 20 0,7 20 0,7 20 0,7
3 0,3 3 0,3 3 0,3
60' - 60' - 60' - Repetir o teste de esforco e me passar os resultados para eu prescrever mais 5 semanas 6ªSemana Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 20´ 0,9 20´ 0,9 20´ 0,9 20´ 0,9 20´ 0,9
46
2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 15´ 0,9 15´ 0,9 15´ 0,9 15´ 0,9 15´ 0,9 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 10´ 0,9 10´ 0,9 10´ 0,9 10´ 0,9 10´ 0,9 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 60´ 60´ 60´ 60´ 60´ 7ªSemana Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 20´ 1 20´ 1 20´ 1 20´ 1 20´ 1 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 15´ 1 15´ 1 15´ 1 15´ 0,9 15´ 0,9 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 10´ 0,9 10´ 0,9 10´ 0,9 10´ 1 10´ 1 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 60´ 60´ 60´ 60´ 60´
8ªSemana Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 3´ 0,6 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 20´ 1 20´ 1 20´ 1 20´ 1 20´ 1 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 15´ 1 10´ 1 10´ 1 10´ 1 10´ 1
47
3´ 0,6 8´ 0,8 8´ 0,8 5´ 0,8 5´ 0,8 10´ 1 10´ 1 10´ 1 13´ 1 13´ 1 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 60´ 60´ 60´ 60´ 60´ 9ªSemana Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 20´ 1 20´ 1 20´ 1 20´ 1 20´ 1 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 10´ 1 10´ 1 10´ 1 10´ 1 10´ 1 5´ 0,8 5´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 13´ 1 13´ 1 15´ 1 15´ 1 15´ 1 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 60´ 60´ 60´ 60´ 60´ 10ªSemana Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga Tempo Carga 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 20´ 1 20´ 1 20´ 1 20´ 1 TESTE DE ESFORCO 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 2´ 0,6 10´ 15´ 1 15´ 1 15´ 1 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 3´ 0,8 15´ 1 10´ 1 10´ 1 10´ 1 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 3´ 0,6 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 2´ 0,3 60´ 60´ 60´ 60´
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