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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.064/426 Page 1 of 7 Mar 15, 2015 09:19:45AM MDT vitruvius | arquitextos 064.06 vitruvius.com.br como citar HICKEL, Denis Kern. A (in) sustentabilidade na arquitetura. , São Paulo, ano 06, n. 064.06, Arquitextos Vitruvius, set. 2005 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.064/426>. A discussão acerca de arquitetura e ambiente não é propriamente nova, é tão velha quanto a história da arquitetura e perpassa as diferentes disciplinas. Porém, não tem sido lembrada na prática. A realidade contemporânea se baseia cada vez mais no predomínio do ambiente construído e no crescimento descontrolado das metrópoles, no uso de materiais e técnicas com elevado custo energético e alto grau de desperdício em seu funcionamento e manutenção. É preciso buscar parâmetros relacionados com a capacidade da arquitetura contemporânea de responder a essas demandas. Uma arquitetura para o presente deve considerar o já construído, afrontando a melhoria de entornos degradados em busca de um reequilíbrio ecológico na relação entre seres humanos e seu entorno artificial, sem cair em nostalgias de um passado perdido (1). As arquiteturas voltadas para a questão ecológica, são comumente tratadas como meramente esteticistas ou funcionalistas e não tem a atenção merecida. Josep Maria Montaner é bastante incisivo: "o desafio atual consiste em demonstrar que arquitetura ecológica, além de ser necessária globalmente e correta socialmente pode ser muito atraente do ponto de vista estético, conceitual e cultural. Tudo isso implica na superação do clichê de que tal arquitetura sempre vai ligada a formas ecléticas, pitorescas, marginais e testemunhais" (2). Para tanto, é necessária a verificação de mudanças profundas nos mecanismos de projeto, o que está diretamente relacionado com o ensino da arquitetura. Colocar a discussão no âmbito acadêmico, que é o meio preparador do fazer arquitetônico, é a maneira de estabelecer novos parâmetros para a prática da arquitetura. A proposição desse tema é, suscitar a discussão em torno da prática arquitetônica contemporânea e sua relação com a sociedade, enquanto atividade questionadora dos valores que mudam com o passar do tempo e sua possível contribuição para um desenvolvimento sustentável. A arquitetura, ainda subjugada aos paradigmas modernistas e todas suas ramificações, passa por uma crise de identidade, em todo seu espectro. A arquitetura dita moderna e todos seus desdobramentos, está baseada na aceitação da progressividade historicamente inevitável, de habitar em configurações urbanas, entendendo a natureza como fonte inesgotável, capaz de sustentar seus processos técnicos culturais. A partir da exacerbação de desenvolvimentos e desequilíbrios próprios de uma economia globalizada, se faz evidente que esse sistema natural é insuficiente para atender as demandas de uma sociedade fragmentada. Esta é a crise de sustentabilidade (3). Não se trata de mera crítica ao movimento moderno e seus cânones. Mas sim, de repensar a situação da arquitetura contemporânea, com relação aos valores de seu tempo (que passam a ser fator provocativo e decisivo na qualidade do pensamento que está por vir). Sendo assim, toma-se o parâmetro espaço-tempo como guia com o qual articular toda a estrutura de idéias na arquitetura moderna. Espaço e tempo que se apresentam como par, como encruzilhada, que serve para definir o papel da arquitetura (4). O fator tempo, mostra as demandas atuais da nossa sociedade. Se espaço-tempo é o parâmetro com a

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Arquitetura e Sustentabilidade

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    como citar

    HICKEL, Denis Kern. A (in) sustentabilidade na arquitetura. , So Paulo, ano 06, n. 064.06,ArquitextosVitruvius, set. 2005 .

    A discusso acerca de arquitetura e ambiente no propriamente nova, to velha quanto a histria daarquitetura e perpassa as diferentes disciplinas. Porm, no tem sido lembrada na prtica.

    A realidade contempornea se baseia cada vez mais no predomnio do ambiente construdo e nocrescimento descontrolado das metrpoles, no uso de materiais e tcnicas com elevado custo energticoe alto grau de desperdcio em seu funcionamento e manuteno. preciso buscar parmetrosrelacionados com a capacidade da arquitetura contempornea de responder a essas demandas.

    Uma arquitetura para o presente deve considerar o j construdo, afrontando a melhoria de entornosdegradados em busca de um reequilbrio ecolgico na relao entre seres humanos e seu entornoartificial, sem cair em nostalgias de um passado perdido (1).

    As arquiteturas voltadas para a questo ecolgica, so comumente tratadas como meramente esteticistasou funcionalistas e no tem a ateno merecida. Josep Maria Montaner bastante incisivo:

    "o desafio atual consiste em demonstrar que arquitetura ecolgica, alm de ser necessria globalmente ecorreta socialmente pode ser muito atraente do ponto de vista esttico, conceitual e cultural. Tudo issoimplica na superao do clich de que tal arquitetura sempre vai ligada a formas eclticas, pitorescas,marginais e testemunhais" (2).

    Para tanto, necessria a verificao de mudanas profundas nos mecanismos de projeto, o que estdiretamente relacionado com o ensino da arquitetura. Colocar a discusso no mbito acadmico, que omeio preparador do fazer arquitetnico, a maneira de estabelecer novos parmetros para a prtica daarquitetura.

    A proposio desse tema , suscitar a discusso em torno da prtica arquitetnica contempornea e suarelao com a sociedade, enquanto atividade questionadora dos valores que mudam com o passar dotempo e sua possvel contribuio para um desenvolvimento sustentvel.

    A arquitetura, ainda subjugada aos paradigmas modernistas e todas suas ramificaes, passa por umacrise de identidade, em todo seu espectro. A arquitetura dita moderna e todos seus desdobramentos, estbaseada na aceitao da progressividade historicamente inevitvel, de habitar em configuraes urbanas,entendendo a natureza como fonte inesgotvel, capaz de sustentar seus processos tcnicos culturais. Apartir da exacerbao de desenvolvimentos e desequilbrios prprios de uma economia globalizada, se fazevidente que esse sistema natural insuficiente para atender as demandas de uma sociedadefragmentada. Esta a crise de sustentabilidade (3).

    No se trata de mera crtica ao movimento moderno e seus cnones. Mas sim, de repensar a situao daarquitetura contempornea, com relao aos valores de seu tempo (que passam a ser fator provocativo edecisivo na qualidade do pensamento que est por vir). Sendo assim, toma-se o parmetro espao-tempocomo guia com o qual articular toda a estrutura de idias na arquitetura moderna. Espao e tempo que seapresentam como par, como encruzilhada, que serve para definir o papel da arquitetura (4).

    O fator tempo, mostra as demandas atuais da nossa sociedade. Se espao-tempo o parmetro com a

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    O fator tempo, mostra as demandas atuais da nossa sociedade. Se espao-tempo o parmetro com aqual se articula toda a estrutura de idias do pensar e fazer arquitetnico, podemos dizer que estamosvivendo um perodo de desequilbrio entre estes dois elementos. Os prprios mecanismos de crescimentoe comrcio, onde se produz e se vende arquitetura, contribuem para o desequilbrio. A sustentabilidadedemanda justamente equilbrio e no seriam espao e tempo fatores de medida da sustentabilidade?

    Que a sustentabilidade aqui no seja entendida como fator de subordinao da arquitetura a uma outradisciplina ambiental, promotora de uma "arquitetura formalista", mas sim como novo paradigma daarquitetura ou mesmo, de uma forma mais ampla, da "arquitetura urbana". A sustentabilidade deve serentendida como um grande tema da cultura contempornea, que afeta e transforma a teoria e a prtica dodesenho, reformulando-o frente onipotncia tecnolgica e anti-sustentvel da modernidade (5).

    Desde a revoluo industrial at o incio da dcada de 80, percorremos um tempo de crena no progresso,na tecnologia. A partir de alguns eventos como a reunio de cpula do Rio de Janeiro de 1992 a ,Eco 92se instala na agenda internacional a sensao de que temos um mundo fechado, com recursos limitados.Nesse momento se comea a tomar conscincia de certos fenmenos ambientais que se vm comocrticos, que so efeitos da deteriorao dos recursos ou da intensidade das atividades, que parecemimplicar at mesmo em um retrocesso com respeito ao prprio desenvolvimento.

    Hoje vivemos em um mundo globalizado e povoado de artefatos, onde o homem est reduzido a um objetoalienado na cidade, com espao interior cheio de mensagens contraditrias, e uma geografia exteriorplena de manufaturas iconogrficas que robotizam sua conscincia e lesionam o equilbrio da natureza. Aarquitetura, em parte significativa parece atender aos anseios de uma classe mdia em ascenso,lastrada em desajustes sociais, ambiciosa de aparncias e empenhada em rasurar o . Talvez,tempoporque a demanda dessa nova classe (ou sociedade) produto desse mundo globalizado requeira comoelemento integrador o substrato do simulacro. Isso produz uma arquitetura eloqente em molduras,enftica em formas e perversa na simulao do lugar (6).

    nas cidades onde se refletem os efeitos maiores, ocasionados pela globalizao desigual, atravs doinchamento populacional e todos os problemas decorrentes disso. A cidade se d de maneira desconexa,feita mais de objetos do que de tecidos, com espaos de interesse comum. A homogeneidade daedificao atravs de normas que tendem a unificar os fragmentos da cidade uma utopia, uma vez queos mecanismos de crescimento de uma cidade so muito mais dinmicos. Os gestores pblicos, nopodem deter a iniciativa muito mais agressiva dos mecanismos comerciais, atravs dos quais, aarquitetura se produz e se vende. As operaes pontuais so o motor de transformao em todo tipo decidade. A arquitetura desse sculo deve, portanto transformar esses episdios considerados triviais emsignificantes (7). Dando assim, mais nfase a qualidade de projetos especficos e de grande valorurbanstico ou que venham a se tornar pontos referenciais dentro de um determinado contexto. Arquiteturacomo promotora da qualidade de vida, pois sabida a influncia positiva dos bons espaos na vidacotidiana. Espaos de qualidade tambm so fatores de sustentabilidade da casa ao espao pblico.

    Se reconhecermos que atravessamos uma crise de sustentabilidade que necessitamos de novosinstrumentos de controle, de regulao de desenvolvimento, de melhoramento das relaesinternacionais, de aproveitamento racional dos recursos escassos na arquitetura no pode ser diferente.Deve-se analisar e discutir o modo em que arquitetura se acomoda a essa situao de finitude, deescassez, de modalidades que obriguem a prticas muito mais cuidadosas no uso da energia, naregulao da produo de resduos, entre outros fenmenos que fazem com que comecemos a pensarque estamos em um mundo de ciclos interativos. Tudo convive conosco: estamos na cultura dasustentabilidade por tanto no temos margem para nos abstrairmos do futuro (8).

    O projeto que significa ver antes a unidade de medida da prtica. Teoria, projeto e prtica so o

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    O projeto que significa ver antes a unidade de medida da prtica. Teoria, projeto e prtica so omodo de conhecimento que guia a arquitetura. Roberto Fernandez defende que talvez voltemos a prticasque podem ter relao com a pr-modernidade, onde o projeto moderno individual, um projeto de autor.No medievo a organizao de um espao urbano ou edificao se dava atravs de um coletivo comalguma coordenao principal, porm o projeto era algo que no se sabia muito bem como era at estarpronto. possvel que a ascenso do problema da sustentabilidade por parte da arquitetura implique umretorno idia de um projeto mais coral, menos autoral, interdisciplinar, onde o conceito de projeto comounidade de transformao e melhoramento de uma situao d conta da complexidade, assuma maisdados, seja consciente dos fatores ligados crise de sustentabilidade o que implica conhecimentos quenem sempre so do domnio do arquiteto.

    No que o Modernismo e tudo o que veio a seguir no dialogassem com outras reas do saber, mas ofazia em seu tempo em resposta a todo um contexto histrico, cultural, poltico. Eis o desequilbrio: aarquitetura atual, dentro de sua crise de identidade, no responde corretamente as demandas do nossotempo, causando assim a ruptura entre espao-tempo. Como bem coloca Ruth Verde Zein,

    " necessrio recusar a postura da negao total desse aparente caos. A soluo no comear de novoda pgina em branco, repetindo a v tentativa das vanguardas, pois h muito que aprender com asabedoria dos antigos (inclusive, e principalmente, os mestres da modernidade)" (9).

    Tambm no se pode dizer que a arquitetura atual no o faz, mas com que profundidade e amplitude o faz a questo, afinal a discusso acontece dentro de crculos fechados. Roberto Fernandez se refere a umainterdisciplinaridade em todos os campos: da filosofia, cultura at a tecnologia e a todas as reas ligadass questes ambientais. Como fenmeno social, uma massa de pessoas consome por fora da mdiauma cultura cada vez mais voltil e ligada a um simulacro de realidade com sentido nico de abastecer ummundo de economia globalizada de forma desigual em permanente movimento. Torna-se perfeitamentenormal que um profissional que sai das faculdades para abastecer esse mesmo mercado, o faa com umadefasagem enorme de cultura geral e arquitetnica, soma-se a isso o fato gravssimo da falta deinteratividade entre as diferentes disciplinas no ser essa a maneira de resgatar a prpria qualidade daprtica?

    Para Roberto Fernandez, uma das sadas pensar em um ensino disciplinar da arquitetura:

    "Assim como h uma economia e uma agricultura da sustentabilidade sem mencionar a ecologia, abiologia ou as tecnologias que se dedicam a estudar a desmaterializao, as tecnologias limpas entreoutras existem muitas disciplinas que tem se transformado de maneira a assumir essa proposio. certo que a arquitetura, em geral, se d atravs de prticas pontuais, cada uma das quais no tem umagrande significncia medida que so como micro prticas, muito mais incuas se comparadas com umplano econmico ou militar. Mas importante revisar a disciplina, pois se a acumulao de prticas no seajusta a um maior acordo com o paradigma da sustentabilidade, o impacto que passa a distribuir-se sobremuitos praticantes imenso. Se a construo consome algo como metade dos recursos no renovveisdo mundo em combustveis, metais, etc se deve analisar ou discutir o modo como a arquitetura seacomoda a essa situao" (10).

    Deve-se, porm tomar cuidado ao criar disciplinas especficas para tratar da sustentabilidade, uma vezque essa deve ser vista como parte de um todo dentro do ensino e da prtica da arquitetura, sob pena dese criarem nichos separados de conhecimento. Tendncia essa bastante forte no nosso contexto: muitodifcil tratar desse assunto dentro das disciplinas de projeto, teoria e urbanismo. Geralmente o tema ficarelegado s disciplinas relacionadas com a rea tecnolgica. Como resultado temos trabalhos de grande

    valor do ponto de vista prtico e de baixa qualidade arquitetnica. Cria-se uma segregao entre o que se

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    valor do ponto de vista prtico e de baixa qualidade arquitetnica. Cria-se uma segregao entre o que seentende por arquitetura e tcnica. Arquitetura est pautada em forma, funo e tcnica que devem estarsempre juntas e em equilbrio. Sobre a unidade necessria pode-se citar Frijof Capra:

    "Quando formamos parte de uma sociedade ou rede, automaticamente nossos comportamentos vo seigualando, influenciados pelo grupo. Isso vai desde a roupa, bens, aspiraes e at mesmo os sistemasorgnicos. Da mesma maneira as matrias, os cursos, acontecem sem nenhum tipo de relacionamentoentre si, esquecem que pertencem a redes. Precisamos repensar desde o conhecimento que repassado,como at os prdios nos quais so ensinados, os sistemas, equipamentos, material. Tudo deve fazer partede um todo, independente de qual rea tcnica objetiva" (11).

    Com relao arquitetura Brasileira contempornea, Ruth Verde Zein coloca:

    "No momento passamos por uma fase de experimentao quanto a materiais tcnicas, formas. umaagitao necessria para se superar o excessivo esquematismo do material nico, aptrida e aclimtico.Nossa tradio colonial de devastao e desperdcio vai aos poucos cedendo espao para a reflexosobre o clima e a adequao energtica dos edifcios" (12).

    possvel pensar que um projeto, mais que uma forma fechada, possa ser um manual de instrues paraque os atores implicados encontrem alguma ordem na resoluo de seus problemas. Existem muitasperspectivas ligadas recuperao da dimenso da experincia e naturalmente, caem do lado dasprticas sociais, de sedimentaes que ajudam a pensar a permanncia de certos valores mais que aexacerbao pela troca em si mesma. O arquiteto que apenas se preocupar com as formas do futuro podeestar ajudando a maquiar velhos hbitos predatrios, que devem ser ultrapassados. Por outro lado,mudando-se a maneira de encarar a construo, naturalmente variaro as respostas formais novasituao o que no implica descartar o atual repertrio de conhecimentos, mas sim rev-lo e ampli-lo(13).

    Exposto o problema nestes termos, inevitvel pensar na necessidade de reorientar o ensino dearquitetura e enfatizar aquilo que a gerao de conhecimento, desprendendo do estigma de ser umadisciplina meramente instrumental, sem respostas a determinadas questes que no parecem estarexplicitadas nos encargos profissionais, como a sustentabilidade. A arquitetura esteve em demasiavinculada ao mundo da prtica profissional, ao fazer sem conhecer e, s vezes, ao fazer repetindo-se. Edentro de uma esfera do saber tal como a complexidade urbana, a sociedade, que no mais est em estadode crise a crise de sustentabilidade a arquitetura tem um programa de conhecimento, um campo deteoria e investigao que, a partir do ensino, lhe permite apropriar-se dessa esfera (14).

    A afirmao da arquitetura como rea sistematizvel do conhecimento bsica para qualquer avaliaoque se possa fazer acerca do futuro dessa mesma arquitetura. Embora a pura criatividade no sejaexplicvel, nem toda arquitetura necessita permanecer inexplicvel, ainda mais sendo a mais tcnica detodas as artes. Ruth Verde Zein coloca que essa afirmao no facilmente aceita. Se de um ladoproliferaram durante as dcadas de afirmao da modernidade brasileira os arquitetos que se pretendiamcriadores absolutos e meramente intuitivos (negando sua prpria formao, seu repertrio, e at negandoa histria), de outro tornou-se popular certa metodologia de projeto meramente funcionalista, que entendeo fazer arquitetnico de maneira demasiado mecnica e externa. Como diz Antonio Fernandez Alba, souconsciente de que o pensamento em geral, como obra se realiza, deve entender-se no entramado daexperincia vital da pessoa (15).

    A ignorncia desses fatos bsicos principalmente danosa no ensino e formao de arquitetos.Despreparado para raciocinar a fundo a arquitetura que concretamente faz, corre o risco bastantepresente da atitude imitativa, da transposio de analogias de maneira indevida, e da apreciaomeramente mecnica ou pseudo-artstica de sua produo. Ruth Verde Zein, ao colocar que estamos

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    presente da atitude imitativa, da transposio de analogias de maneira indevida, e da apreciaomeramente mecnica ou pseudo-artstica de sua produo. Ruth Verde Zein, ao colocar que estamosvivendo uma fase de experimentao, se pergunta:

    "A essa fase de variao se seguir uma reunificao? Penso que no, talvez por motivos quetranscendem o fato arquitetnico e se enrazam nas alteraes culturais que hoje ocorrem em todas associedades humanas do planeta. [...].Favorecendo a diversidade! [...]. Assim, pode-se considerarimprescindvel entre as tendncias de futuro que as arquiteturas se preocupem em trabalhar a favor darealidade em que se inserem; o seu compromisso maior dever ser a coerncia com seu contexto, sempretendo em vista que a realidade est em permanente transformao, integrando as contribuies que a elaso apostas, e portanto variando continuamente de parmetros" (16).

    Por si s, o fato de trabalhar a favor da realidade uma atitude sustentvel que implica umdiscernimento por parte da arquitetura para com o meio onde est inserida. Aproximando-se do nossocontexto brasileiro significa levar em conta nossos aspectos sociais, ambientais e econmicos (evitandoexcessos tecnolgicos e a dependncia da tcnica e inventando uma arquitetura feita de adaptaes realidade). Se a concepo compreende ecologia, deve aceitar a realidade deixar de normatizar e dereproduzir modelos. A ecologia vai alm da tcnica. O problema ambiental vai junto com a preservao daidentidade cultural, do , das condies climticas e geogrficas.genius loci

    Percebe-se que h um distanciamento muito grande entre a prtica profissional e o ensino de arquitetura perde o manuseio terico, enquanto a disciplina meramente instrumental ganha fora. O arquiteto, cadavez mais, sai da sua instituio de ensino pronto para atender as demandas e interesses de um mercado euma economia de mercado, balizada pela globalizao. Essa situao vai contra qualquer inteno desustentabilidade (enquanto expresso cultural e social), uma vez que o arquiteto se forma completamentedespreparado para responder as demandas cruciais de nosso tempo. Isso gera a perda gradativa, do seucarter de propositor de alternativas para soluo dos problemas do espao habitvel de maneira geral.Dessa reflexo depende, na minha concepo, a prpria existncia da arquitetura como profisso.

    Essa situao apenas reflete a realidade das instituies de ensino de arquitetura de uma maneira geral: afalta de interao dos diferentes campos e disciplinas. A reflexo sobre o ensino de arquitetura me parece, a chave para uma mudana de situao.

    As diversas reas do saber devem estar preparadas, para propor alternativas em resposta aos problemasde seu tempo e assim, garantir a qualidade da prpria existncia humana por mais utpico que issopossa parecer e a arquitetura no pode se furtar a esse compromisso. Ao mesmo tempo, nem uma delastem o poder de responder de maneira isolada a todas essas complexas demandas. necessrio, portantoestabelecer um dilogo amplo entre as partes a multidisciplinaridade, para usar um termo atual. Dessareflexo depende toda a questo da qualidade ambiental, social e cultural.

    notas

    1MONTANER, Josep Maria. A beleza da arquitetura ecolgica. In: A modernidade superada. Arquitetura,

    . Barcelona, Gustavo Gili, 2001, p. 195.arte e pensamento do sculo XX

    2, p. 196.Idem, ibidem

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    3FERNANDEZ, Roberto. Las ciudades imposibles . Acesso em 22 nov. 2004.http://archivo-elciudadano.com.ar/20-11-2004/cultura/ciudades.php

    4FERNANDEZ ALBA, Antonio. El proyecto de la arquitectura, entre el imaginar e construir, la metropoli

    . Barcelona, Anthropos/Palabravacia. Aurora e crepsculo de la arquitectura en la ciudad modernaPlstica, 1990.

    5FERNANDEZ, Roberto. .Op. cit

    6FERNANDEZ ALBA, Antonio. .Op. cit

    7SOLA-MORALES, Ignasi de. El valor del tempo en la arquitectura. , n. 35. RepublicadoArquitectura Vivain , n.4, Universidade de Palermo, Buenos Aires, dez.1994, p. 94-96.Arquis Arquitetura e Urbanismo

    8FERNANDEZ, Roberto. .Op. cit

    9ZEIN, Ruth Verde. . Porto Alegre, Ritter dos Reis,O lugar da crtica. Ensaios oportunos de arquitetura2001, p. 79.

    10FERNANDEZ, Roberto. .Op. cit

    11CAPRA, Frijof (entrevista). . Porto Alegre, CREA-RS, nov. 2004, p. 6.Conselho em Revista

    12

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    12ZEIN, Ruth Verde. ., p. 79.Op. cit

    13 Ruth Verde Zein. ., p. 82.Apud Op. cit

    14 FERNANDEZ, Roberto. .Apud Op. cit

    15FERNANDEZ ALBA, Antonio. .Op. cit

    16 Ruth Verde Zein. ., p. 82.Apud Op. cit

    sobre o autor

    064.09

    Programa Favela-Bairro: construir cidade onde havia casa. O caso de Vila Canoa

    Maria Helena Rhe Salomon

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