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A INTERCULTURALIDADE NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA · que já no século XIX a política imperialista da Inglaterra disseminou o uso da língua inglesa pelo mundo e no século XX foi

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A INTERCULTURALIDADE NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA

ATRAVÉS DA MÚSICA

Autor: Guilherme Kaminski1

Orientadora: Larissa Giordani Schmitt2

Resumo

O presente artigo descreve a trajetória do estudo realizado através do curso de formação PDE, da Secretaria de Estado de Educação do Paraná, desde a elaboração do Projeto de intervenção Pedagógica e posterior produção de um material didático, até sua implementação. Essa pesquisa envolveu os alunos da oitava série do ensino fundamental da Escola Estadual de Campo Nova Sant‟Ana, localizada no município de São Jorge D‟Oeste, no ano de 2011. Esta pesquisa traz os passos seguidos e os resultados obtidos da prática pedagógica, utilizando letras de músicas de diferentes países nas aulas de Língua Inglesa e relatando algumas teorias da linha histórico-crítica, as quais embasaram o trabalho, além das contribuições de professores que participaram de um curso a distância cujo tema foi o próprio projeto aqui descrito. O projeto priorizou a participação e temas de interesse do aluno e foi desenvolvido no contraturno das aulas. Durante a realização do projeto, constatou-se uma maior motivação entre os alunos para aprender a língua. Conclui-se assim, que os alunos precisam de educadores que desenvolvam metodologias de ensino-aprendizagem que atendam as expectativas do aluno e os motivem a aprendê-la, contribuindo assim, não apenas para a aprendizagem da língua inglesa, mas também para a formação geral do educando, conforme os pressupostos das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para Língua Estrangeira Moderna.

Palavras-chave: Inglês; Música; Projeto; Motivação.

1 Professor da rede pública do estado do Paraná, Graduado em Letras Português-Inglês pela

Universidade Tuiuti de Curitiba e pós-graduado em Planejamento Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira. 2 Doutoranda em Letras pela UFBA, Mestre em TESOL pela NMSU, especialista em Língua e

Literatura Inglesa pela UNIOESTE, graduada em Letras Português/Inglês pela UNIOESTE e professora assistente de Língua Inglesa na UNIOESTE, campus de Cascavel, Paraná.

Abstract

This article describes the trajectory of the study through the PDE training course, maintained by the Education State Department of Paraná, since the organization of the pedagogical intervention project and subsequent production of a pedagogical material, to its implementation. This study involved the students from grade eight of elementary public school, called Nova Sant‟Ana, located in the farming area of São Jorge D'Oeste, in 2011. This research presents the followed steps and the achieved teaching practice results, using lyrics from different countries in English classes and reporting some historical-critical line theories, which supported the study, besides the teachers contributions who participated in a distance course with the theme of the project described here. The project prioritized the participation and issues of student interest and it was also developed in time contrary to normal classes. During the project, there was a greater motivation among students to learn the language. It shows that students need educators to develop teaching-learning methodologies that meet the expectations of students and motivate them to learn it, thus contributing not only to English language learning, but also for the general training of the student, according to the assumptions of the Curriculum Guidelines of Paraná State for the Modern Foreign Language.

Keywords: English; Music; Design; Motivation.

1 Introdução

O presente trabalho é resultado de estudos realizados através do Programa

de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do

estado do Paraná durante os anos de 2010 e 2011.

De início foi elaborado um anteprojeto com o cronograma de ações e

pesquisas de leitura que norteariam todo o trabalho. A partir dos contatos com a

professora orientadora o mesmo foi reelaborado, com a definição do tema feita, o

objeto de estudo passou a ser definido. Também aconteceram cursos na

UNIOESTE, nos quais os professores cursistas do PDE tiveram também a

oportunidade de rever disciplinas teóricas e específicas da área. No ano de 2011,

com a elaboração do material didático no primeiro semestre e sua implementação

com os alunos no segundo semestre, foi possível executar a parte prática, além da

posterior discussão com professores da rede pública através do Grupo de Trabalho

em Rede - GTR, o qual permitiu troca de ideias e reflexões com colegas professores

da rede estadual, que contribuíram enriquecendo este estudo.

O estabelecimento escolhido para a implementação do projeto foi a Escola

Estadual de Campo Nova Sant‟Ana, localizada no interior do município de São Jorge

D‟Oeste, no sudoeste do Paraná. O fator motivador da escolha desta escola deve-se

ao fato de possuir praticamente a totalidade de seus alunos matriculados residentes

na zona rural.

A problematização abordada neste estudo foi o desinteresse dos alunos nas

aulas de língua inglesa, muitas vezes devido à descontextualização dos assuntos

com o meio em que vivem. Faz-se importante salientar que nos anos iniciais até se

pode perceber certo entusiasmo com as aulas, porém nas séries seguintes o mesmo

tende a ser minimizado, até a apatia quase tomar conta.

Algumas leituras a respeito da Pedagogia Crítica de Paulo Freire e outros

autores como Rajagopolan, Pennycook, Giroux e Siqueira apontaram indícios dos

motivos desta falta de sintonia entre o planejamento das aulas e o resultado de sua

aplicação. As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná também deixam bem

clara sua opção:

[...] a pedagogia crítica valoriza a escola como espaço social democrático, responsável pela apropriação crítica e histórica do conhecimento como instrumento de compreensão das relações sociais e para transformação da realidade (PARANÁ, 2008 p. 52).

Desta forma, percebe-se a necessidade de adaptar o currículo e o

planejamento das aulas de Língua Estrangeira nas escolas públicas do Paraná para

que esta apropriação possa de fato ocorrer, permitindo que as vozes de todos os

envolvidos no contexto escolar possam ser ouvidas. Com os alunos sentindo-se

envolvidos no processo, o aprendizado também poderá ser muito mais proveitoso.

O tema escolhido para a elaboração do material didático foi a música. Para

estar coerente com uma proposta intercultural, foram selecionadas músicas de

autores de diferentes países para que o aluno pudesse confrontar os temas e as

particularidades vocabulares e de pronúncia. Na implementação deste material, com

os alunos em horário de contraturno, foi possível verificar a diferença de interesse

nas aulas regulares e nas aulas do projeto, quando se percebia um maior

envolvimento por parte desses alunos. Também durante a implementação, o projeto

foi objeto de estudo e discussão com o grupo de professores do GTR, o qual

recebeu valiosas contribuições relatadas ao final deste artigo.

2 A necessária valorização da LEM na escola

O ensino de língua inglesa nas escolas públicas vem sendo muitas vezes

relegado a mero coadjuvante no processo formativo do aluno, não recebendo a

devida atenção para as possibilidades existentes para a contribuição desta disciplina

no conhecimento global. Antes de procurar apontar culpados por esta situação, é

importante fazer algumas reflexões, uma vez que, segundo Pennycook (1990), a

Língua Estrangeira tem sido isolada dos estudos das teorias educacionais e assim o

autor sugere buscar respostas na pedagogia crítica de Paulo Freire.

Estudar uma língua estrangeira é ampliar a visão cultural, o que permite

compreender melhor o universo das outras disciplinas estudadas. Certamente, ao

estudar inglês, o aluno conseguirá melhor aprender História, Geografia, Artes ou

Literatura, segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE, 2008),

desde que o professor planeje e dirija sua aula de acordo com esses objetivos.

O professor de Inglês não pode mais ficar simplesmente à parte, como um

estranho entre os demais docentes da escola. Ele precisa envolver-se no Projeto

Político-Pedagógico da instituição em que atua, fazer-se compreender e utilizar sua

disciplina como um instrumento para formação de cidadãos críticos e conscientes.

Se o professor não tiver uma visão crítica, continuará a sofrer certo isolamento, por

ser considerado o repassador de uma cultura estrangeira, estranha para nós.

A preocupação excessiva com a imitação da pronúncia dos falantes da

Inglaterra e dos Estados Unidos, além de modelos de metodologias importadas

destes países, contribui para que esta situação permaneça. É óbvio que deve haver

um padrão de pronúncia, mas outros fatores precisam ser levados em conta, pois a

cultura de berço do aluno e a sua língua materna influenciam no sotaque. Ser crítico

não é desprezar todas as teorias, mas analisar as possibilidades, pois empolgar-se

com novas teorias, de maneira alguma significa jogar fora o conhecimento e

experiências anteriores. E ao apostar na pedagogia crítica, deve-se valorizar

inclusive o que é considerado ultrapassado por alguns: “Portanto, é preciso que

fique claro que a consciência crítica, face ao novo, não repele o velho por ser velho,

nem aceita o novo por ser novo; aceita-os na medida em que são válidos” (CELANI,

2001, p. 35). Desta forma, está claro que as estratégias utilizadas em métodos

tradicionais de ensino podem e devem continuar a ser aproveitadas, apenas

tomando-se o devido cuidado para respeitar a cultura e o conhecimento que o nosso

aluno traz consigo.

Não há como negar a influência da língua e cultura inglesas no mundo atual.

Consequentemente, pode-se observar a presença constante de termos da língua

inglesa que integram o léxico do português brasileiro, no uso crescente da internet,

nos filmes e nas músicas. Ocorre que nós, professores que atuamos na escola

pública, nem sempre temos claro os motivos históricos e políticos que levaram a

esta situação e a escolha do inglês como língua estrangeira a ser estudada nas

escolas.

Em todos os períodos da história da humanidade houve uma língua que se

sobrepunha, tivemos o francês aqui no Brasil até algumas décadas atrás. Hoje,

aceitemos ou não, a língua internacional é o inglês. Crystal (1997), que traça o

histórico dos motivos da supremacia desta língua em todos os continentes, registra

que já no século XIX a política imperialista da Inglaterra disseminou o uso da língua

inglesa pelo mundo e no século XX foi a supremacia econômica dos Estados Unidos

que manteve e aumentou a influência desta língua. Portanto, há tempos a moeda

dos negócios internacionais tem sido o dólar americano.

Ao adotar uma postura mais crítica, o professor de Língua Estrangeira será

capaz de evitar a valorização de uma cultura em detrimento de outras. Ele poderá

envolver mais seus alunos para utilizarem a língua inglesa para falarem de si e do

que conhecem, além de possibilitar que conheçam falantes de outras partes do

planeta, bem como as diferenças de pronúncia. Por conseguinte, o professor

possivelmente conseguirá tornar as aulas muito mais atrativas, evitando seguir

apenas o livro didático, que é um excelente suporte para as aulas, mas muitas vezes

não condiz com a realidade vivenciada pelos alunos, o que torna as aulas

desinteressantes e fora do contexto do aluno. Vale salientar que muitas vezes a

realidade retratada neste livro tem origem estrangeira e muitas vezes não se aplica

ao contexto brasileiro.

Trabalhar com temas comuns, que os alunos conheçam e convivam pode

trazer resultados promissores, despertando assim o seu interesse. Freire (1996)

sugere relacionar o meio em que vivem com o conhecimento que já trazem consigo.

Permitir que falem de si, mesmo cometendo alguns tropeços, pode ser um bom

começo para desenvolverem o aprendizado, até atingir um nível maior de

dificuldade.

As experiências na sala de aula, com alunos do ensino fundamental, têm

permitido perceber que o entusiasmo inicial com as aulas de inglês nas quintas

séries, quando ainda é novidade, dá lugar ao desinteresse e apatia nas sétimas e

oitavas séries, quando o nível de dificuldade aumenta. O professor encontra muita

dificuldade para fazer os alunos participarem de sua aula. No contexto escolar,

também predomina a ideia de que o inglês é uma disciplina que não reprova e as

próprias equipes pedagógicas têm dificuldades para compreender os planejamentos

de língua estrangeira. Como resultado, temos uma aprendizagem aquém do

esperado, detectado no momento em que o aluno conclui seus estudos na educação

básica.

Cabem aqui algumas indagações: o que faz com que o interesse do aluno

caia tanto assim nas séries finais? Quais seriam as abordagens e metodologias

adequadas? Como agir para que seja dada ao ensino de inglês a mesma atenção

que é dada para as outras disciplinas consideradas essenciais?

Neste estudo pretende-se encontrar algumas respostas na pesquisa

bibliográfica a respeito do tema e também na intervenção pedagógica na escola

escolhida, utilizando o gênero música como tema. Acreditamos que canções e

músicas, por serem conhecidas pelo público em geral e utilizarem uma linguagem

considerada atraente a todas as classes, possibilita um trabalho intercultural e

ampliação do conhecimento a partir de seus textos. As DCE afirmam que

“possibilitar aos alunos que usem uma língua estrangeira em situações de

comunicação-produção e compreensão de textos verbais e não-verbais – é também

inseri-los na sociedade como participantes ativos, não limitados as suas

comunidades e outros conhecimentos” (PARANÁ, 2008 p. 57). A escola tem a

incumbência de permitir ao aluno que ele perceba que o mundo é muito maior do

que a comunidade onde está inserido, que o conhecimento da língua inglesa pode

ser um instrumento eficaz para melhor compreender a comunidade global e

conseguir comunicar-se e interagir com mais pessoas do que está habituado em sua

comunidade.

A comunidade onde a Escola Estadual Nova Sant‟Ana está inserida localiza-

se no meio rural. Os alunos, em muitos casos, não veem a necessidade de aprender

uma língua estrangeira, falta a devida motivação para se aprofundarem no estudo do

inglês ou então por falta de senso crítico podem cair na exagerada admiração pelo

estrangeiro. Segundo Moita Lopes (1996, p. 357), “talvez mais importante que os

conteúdos passados em aulas de línguas seja o desenvolvimento em sala de aula

de uma consciência crítica em relação ao discurso e à aprendizagem nas práticas

discursivas em que as pessoas se envolvem”.

Pode-se trabalhar as aulas de inglês a partir de temas que sejam comuns à

vivência dos estudantes, como por exemplo: comidas, modos de se vestir, diversão,

esportes, namoro e música. Como agem as pessoas de outras culturas e outros

países com relação a essas questões? Para a intervenção foi escolhida a Escola

Estadual Nova Sant‟Ana e com o tema música e canções populares de diferentes

épocas e diferentes partes do planeta. Acredita-se que este gênero poderá estimular

o interesse pelo estudo da linguagem positivamente. Como afirma Murphey (1992),

“a música está em todos os lugares e todos estudantes possuem gostos musicais.”

Portanto, pretende-se através das canções que os jovens já conhecem e as que

conhecerão por intermédio do projeto, ampliar o seu conhecimento de mundo e

também praticar a língua inglesa em atividades orais e escritas.

3 O ensino de inglês e a pedagogia crítica

De acordo com Freire (1996, p.27), “ensinar não é transferir, é construir

conhecimento junto com o outro”. No caso específico de Língua Estrangeira, os

conteúdos selecionados para serem trabalhados nas aulas nem sempre levam em

conta as expectativas dos alunos envolvidos, o que pode gerar o distanciamento

entre o que se quer ensinar e o que efetivamente é aprendido.

Talvez um dos primeiros passos para evitar este distanciamento seja a

tomada de consciência do por que o inglês ter sido escolhido como língua franca. E

com relação a esse aspecto, o professor precisa tomar uma posição, deve

abandonar sua habitual neutralidade. Sávio Siqueira (2010), professor da

Universidade Federal da Bahia, que realizou uma pesquisa com professores de

língua inglesa de diversos segmentos, a este respeito afirma:

O ensino de língua inglesa está longe de ser uma empreitada ideologicamente neutra, as nossas salas de aula podem servir como arena ideal para que alunos e professores sejam capazes de relacionar o processo de ensino e aprendizagem do idioma com o mundo real, visando, principalmente, a promover uma atuação mais ativa e mais crítica na crescente comunidade planetária (SIQUEIRA, 2010, p. 32).

O aluno deve e precisa participar da discussão sobre os assuntos a serem

abordados nas aulas, mas só conseguirá entender se partir da sua própria realidade.

Caso não ocorra a tomada de consciência, corre-se o risco de cair em dois

extremos, que são: o professor, alienado e fascinado com a cultura estrangeira que

procura repassar seus valores em detrimento aos de seu país ou então a rejeição

total por tudo que é estrangeiro. Esses dois perigos opostos – aceitação ingênua ou

rejeição radical – podem conduzir a dois males igualmente indesejáveis: a

subserviência ou o isolamento cultural (OLIVEIRA, 2005, p.42).

O inglês, já não se pode dizer que representa uma única cultura. Além de

ser atualmente a língua oficial de várias nações do mundo, o inglês é ensinado como

LEM nas escolas em mais de cem outros países. Cerca de um quarto da população

mundial (1,5 bilhão de pessoas) hoje é fluente em inglês (CRYSTAL, 1997). A partir

do momento em que o aluno compreender a necessidade de aprender uma língua

internacional e perceber que pode através desta expressar sua própria cultura,

certamente se envolverá mais nas aulas. Aprender inglês na contemporaneidade

pode ser considerado uma necessidade.

Para Rajagopalan (2003, p.70), “é preciso dominar a língua estrangeira,

fazer com que ela seja parte da nossa própria personalidade e jamais permitir que

ela nos domine”. Cabe ao educador crítico estimular a visão crítica dos alunos, de

questionar as certezas que com o passar do tempo acabam se tornando intocáveis.

Ocorre que, num mundo globalizado como o de hoje, as línguas são influenciadas

umas pelas outras e são acompanhadas historicamente por uma cultura. Portanto,

deve-se tomar o devido cuidado para que o imperialismo cultural anglo-saxão e

norte-americano que se impuseram no mundo nos últimos anos não sejam

endeusados como superiores aos demais. Mattelart (2005) chama a atenção para a

mundialização, o estreitamento cultural, a atual dominação norte-americana e a

difusão do american way of life, como aponta o autor:

Os defensores das teorias chamadas difusionistas que afirmam que o fluxo de uma cultura a outra passa irreversivelmente da que é mais „desenvolvida” para a que é mais “primitiva” (...) Tudo o que é afastado da matriz moderna ou ocidental e para os raciólogos da raça branca – é hierarquizado, catalogado como inferior ou anterior. A receita para recuperar o atraso é curvar-se ao modelo que já foi testado. (MATTELART, 2005, p.18)

Infelizmente, algumas culturas são julgadas inferiores a outras,

principalmente no hemisfério sul. Esses povos possuem muitas vezes uma cultura

muito rica, mas desconhecida pelos demais países, pois a versão que recebemos é

apenas unilateral. O problema causado por essa única visão deve-se ao fato de a

que a história única cria estereótipos, os quais não são mentira, apenas incompletos.

O depoimento de Chimamanda Adichie (2009), intitulado: O perigo de uma única

história, mostra ao público o quanto podem estar equivocados sobre o que pensam

dos povos africanos, por exemplo.

Aceitando ou não, a globalização está aí, mais forte do que nunca. Afinal, ela

é benéfica ou prejudicial? Para Santos (2000), “a globalização é a massificação da

cultura com objetivos econômicos, porém a cultura popular reage e a massificação

advinda dos países subdesenvolvidos, constituída de baixo para cima poderá

permitir que questões de ordem moral, social e cultural possam prevalecer, onde a

classificação de potências deixe de ser uma meta” (SANTOS, 2000, p.154). Em

outras palavras, é necessário ouvir as vozes que normalmente são excluídas. Uma

globalização que permita a troca de experiências e informações entre as diferentes

culturas só pode ser um fator de crescimento para todos. E a utilização de uma

língua internacional, no caso o inglês, é uma ferramenta para facilitar a comunicação

entre esses povos, sem impor uma ideologia sobre as demais.

Não se pode ignorar que a tentativa de imposição do imperialismo cultural

existe. Para Galeano (2006), apesar de todo o avanço tecnológico a sociedade

comunica-se cada vez menos, a voz dos mais poderosos do norte é imposta sobre

os países mais pobres do sul. Os meios de comunicação dominantes estão nas

mãos de um pequeno número de cidadãos no planeta e incitam ao consumo e a

violência. Isto é perigoso e deve ser combatido. O professor que quiser assumir

neutralidade nesta questão apenas estará colaborando para a efetivação desta

dominação cultural.

Para Siqueira (2010), a resposta está na Pedagogia Crítica, da qual Paulo

Freire pode ser considerado um dos criadores. Outros autores seguem nesta linha,

são eles: Moita Lopes, Giroux, Pennycook, Rajagapolan, Kumaravadivelu. Não se

trata de rejeitar o ensino do inglês como língua franca, isto é, meio de comunicação

acessível para pessoas de todo o mundo, fazendo com que possam comunicar-se e

falar de sua própria cultura. Siqueira (2010) também critica a excessiva utilização por

parte dos professores brasileiros de sistemas orientados por pedagogias de LE

importadas dos países centrais. Segundo Giroux (1997), a escola deve ser um

espaço onde haja liberdade para a crítica, a cultura e a política. Não se pode reduzir

a educação a meros procedimentos técnicos. Aliás, esta preocupação com normas,

procedimentos e resultados leva o professor de língua estrangeira a afastar-se dos

debates políticos e muitas vezes ser considerado um alienado.

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para a Língua Estrangeira

Moderna trazem a seguinte recomendação:

A aula de LEM deve ser um espaço em que se desenvolvam atividades significativas, as quais explorem diferentes recursos e fontes, a fim de que o aluno vincule o que é estudado com o que o cerca. (PARANÁ, 2008, p. 64)

Desta maneira pode-se concluir que o planejamento das aulas pode e deve

ser dirigido para diferentes temas, que atendam aos interesses dos alunos a fim de

construir e ampliar o seu conhecimento. Também é primordial que seja permitido ao

aluno desenvolver seu aprendizado respeitando o seu ritmo e o conhecimento que já

traz consigo.

4 Um material utilizando música para as aulas de LEM

A escolha do assunto do material didático a ser produzido ocorreu durante

uma série de encontros com a professora orientadora. Havia várias possibilidades, o

que já estava certo é que seria na perspectiva intercultural, com o objetivo de levar o

aluno a perceber através de determinados textos que circulam em nosso meio que a

presença da língua inglesa é constante e que o aprendizado de uma língua

estrangeira pode ser muito útil em sua vida. A opção recaiu sobre o tema música

uma vez que é sabido que praticamente todas as pessoas apreciam algum gênero

musical, porém, em se tratando de adolescentes este interesse é ainda muito maior.

Segundo Griffee (1992, p.4), “são as canções que nos falam diretamente sobre

nossas experiências, nos reanimam nos momentos de sofrimento”.

Como trabalhar o tema música em uma perspectiva intercultural? Cada

canção traz um fragmento de uma cultura, que por sua vez, contém uma vasta

informação social. Não há quem não seja tocado pelo ritmo musical. Deve-se tomar

o devido cuidado para respeitar a diversidade de preferências e gostos musicais,

momento que pode ser aproveitado para trabalhar o respeito pelas diferenças

culturais. Pode-se afirmar que as letras trazem mensagens diversas e procuram

expressar sentimentos, o que nos fazem acreditar que seja um ponto de partida para

despertar o interesse do aluno em aprender e assim desenvolver as suas

habilidades na língua inglesa.

Definido o tema, partiu-se para a pesquisa de quais autores e ritmos eleger

para levar à sala de aula. Cabe salientar que houve a preocupação em trazer

cantores consagrados e também outros desconhecidos do público brasileiro, mas

que representam a cultura de países fora do eixo europeu-americano.

Consequentemente, encontrar material disponível na internet a respeito de cantores

e músicas que fazem sucesso na África, por exemplo, exigiu muita paciência e

pesquisa.

Ao final, para constar no material, foram selecionadas 8 músicas de um total

de 12 que haviam sido pré escolhidas. A primeira música deu origem à unidade um,

a qual traz o grupo alemão Scorpions, com a música Dust in the wind,

propositalmente foi escolhido um grupo conhecido e que é de um país que não tem

o inglês como língua oficial. Além de atividades com o vocabulário da letra,

abordagem e exploração do texto, há um pequeno texto sobre a internacionalidade

da língua inglesa e cantores internacionais.

A segunda música é de uma das bandas mais comentadas de todos os

tempos, os Beatles, com a música Let it be. Esta seção também traz, além das

atividades propostas, uma sugestão de pesquisa sobre a banda, cuja história é

muito interessante, pois essa banda influenciou toda uma geração na música.

A terceira unidade contempla um cantor da Jamaica e do ritmo reggae, o

Bob Marley. Algumas atividades voltadas ao interesse dos jovens são sugeridas a

partir de um texto a respeito do povo jamaicano, sobre suas peculiaridades na

pronúncia do inglês, a exemplo do termo three, que é pronunciado da mesma forma

que a palavra tree. Na letra da música existem também muitas semelhanças entre o

modo de vida jamaicano e o brasileiro, para que os jovens possam identificar-se.

Na unidade 4, aparece a música In the ghetto de Elvis Presley. Além de

conhecer um pouco mais sobre este famoso cantor americano, oportuniza-se nesta

unidade refletir sobre a realidade dos Estados Unidos, um país tão rico, mas que

também possui gente morando em favelas, lá conhecidas como guetos. Apesar de a

canção ser antiga, sua mensagem não deixa de ser atual, por tratar do problema das

crianças nascidas na pobreza e o envolvimento na violência e no tráfico.

A quinta unidade traz um cantor totalmente desconhecido no Brasil, mas é

sucesso na Coreia do Sul, seu nome é Taeyang. Por meio da canção proposta,

oportuniza-se conhecer um país asiático e um pouco de sua cultura, além de

perceber a pronúncia característica do inglês de seu povo. Como nas demais

unidades, o texto dessa unidade explora aspectos gramaticais de vocabulário e de

compreensão do texto.

A unidade 6 tem uma canção gravada por duas cantoras australianas: The

Veronikas. Esta unidade também aborda peculiaridades culturais e da pronúncia do

povo australiano cujo país tem o inglês como língua oficial. Uma atividade

interessante nesta seção é a criação de um profile, uma espécie de currículo, a partir

de uma das componentes da dupla. Na montagem de seu próprio profile o aluno tem

a oportunidade de identificar seus gostos e suas características pessoais, para na

sequência trocar informações com seus colegas.

Na sétima unidade, vem o grupo de Gana, o Bradez. A letra da canção tem

trechos em inglês e outros em um dialeto africano, porém um ritmo bastante

contagiante. Além da exploração da letra, nesta unidade apresentamos o vídeo do

depoimento de Chimamanda Adichie, O perigo de uma única história, para refletir

como as pessoas podem ser levadas a acreditar em certos estereótipos.

E a última unidade, a oitava, apresenta um cantor brasileiro, mas conhecido

internacionalmente, o Tom Jobim e sua famosa Waters of March. Assim os jovens

têm a oportunidade de perceber como o inglês é um instrumento de

internacionalização e da expansão da cultura, inclusive a nossa. Uma vez que o

material foi concluído, após passar pela orientação e sugestões da professora

orientadora, passou a fase de formatação e entrega à SEED. O próximo passo seria

colocá-lo em prática.

5 A implementação na Escola Nova Sant’Ana

Após ter sido entregue, no mês de julho do ano de 2011, foi feita a

apresentação do projeto para a comunidade escolar. De uma forma ampla e

abrangente, os objetivos gerais e específicos foram mostrados e, posteriormente, os

passos a serem executados ao longo da intervenção também foram apresentados.

No início de agosto, houve o primeiro contato com os alunos da oitava série

da Escola Estadual de Campo Nova Sant‟Ana e após a exposição do projeto,

percebeu-se a disposição da grande maioria em participar. Como as aulas regulares

aconteciam no período da tarde, a implementação ficou agendada para as sextas-

feiras pela manhã. Vale aqui ressaltar que, por ser uma escola localizada no meio

rural, os alunos em sua grande maioria residem longe da escola e neste dia

permaneceriam lá o dia todo, inclusive recebendo almoço, demonstrando o esforço

dos alunos e colaboração da direção, que prestou todo o apoio a este projeto.

A frequência dos alunos variou entre 60 e 80 por cento ao longo do projeto.

Alguns alegaram que em determinados dias precisavam auxiliar os pais no serviço

de casa, o que é comum no meio rural. Também cabe destacar que o interesse e a

participação desta turma nas aulas regulares de inglês, antes do início do projeto,

eram baixos. No primeiro encontro, quando foi apresentada a música Dust in the

wind, foi possível perceber que a atitude dos alunos nesta aula foi diferente das

aulas regulares, talvez devido ao uso do datashow e a apresentação das palavras

do vocabulário de forma diferenciada, antes de apresentar a música.

A maioria não conhecia o grupo Scorpions, apenas três disseram que já o

conheciam, inclusive a música apresentada. Todos os alunos presentes fizeram as

atividades, até mesmo as de análise linguística, que não costumam ser tão

interessantes para eles. Pode-se afirmar que foi uma oportunidade para falar sobre a

mensagem da letra da música, a qual fala sobre a transitoriedade das coisas no

mundo, e também discutir ritmos e preferências musicais. Ao final da aula foi

mostrada mais uma música do mesmo grupo.

No segundo encontro, percebeu-se que os alunos já se sentiam mais à

vontade e a participação na aula também aumentou. Vale ressaltar o caso de um

aluno que nas aulas normais pouco participava. Em conversa particular, mais tarde,

este aluno revelou gostar muito de música, pediu cópias do material e das

gravações e foi o único a participar de todos os encontros, sem faltar a nenhuma

aula.

Os encontros prosseguiram dentro do cronograma previsto, com os alunos

tendo mais tempo de permanência na escola e maior contato com a língua inglesa.

Assim, foi possível verificar que os jovens já estavam mais entusiasmados, pois

indagavam ao longo das aulas: qual vai ser a próxima música, professor? Houve

ocasiões em que o assunto era adiantado e em outras se deixava a expectativa para

o dia da aula. Em duas ocasiões, nas quais já tinham conhecimento prévio da

música, houve um aluno que no dia da implementação já havia baixado a canção da

internet. Apesar de residirem em zona rural, alguns, a minoria é claro, já tem acesso

à rede.

De todas as unidades trabalhadas, foi possível observar que a terceira, que

era relacionada a Bob Marley e a sétima, de Bradez, os cantores ganeses, foram as

que tiveram a melhor aceitação. A unidade do Elvis, eles gostaram muito das

atividades propostas, porém a música não chamou muito a atenção, devido

provavelmente à sua antiguidade. Esta foi a oportunidade de mostrar também outras

canções deste cantor, inclusive Suspicious Mind, que por acaso durante os dias da

implementação do projeto era tema de uma das novelas da rede Globo.

As duas últimas unidades não puderam ser trabalhadas como foram

planejadas, pois o final do ano já se aproximava, quando as atenções se desviam

para as provas finais e outras atividades. Provavelmente o resultado da última

unidade, a qual trazia um cantor brasileiro, fosse outro se não tivesse sido

trabalhada nessa época.

Na avaliação final, o relato feito por um aluno pôde expressar de certa forma

o que a turma sentiu, pois relatou ter gostado do projeto e também de ter tido a

oportunidade de conhecer algumas músicas até então desconhecidas. Além disso,

comentou também já conseguir falar algumas palavras em inglês, as quais foram

aprendidas com as letras das músicas. Este pode ser considerado um dos pontos

positivos do projeto, pois é a comprovação de que alguns objetivos foram atingidos.

Para exemplificar como aconteceram as atividades de implementação,

tomaremos um trecho da Unidade 3, o qual apresenta primeiramente a letra da

música Three Little Birds de Bob Marley e, na sequência, a canção foi executada e

ouvida pelo grupo. Além da versão original com Bob Marley, também foi

apresentado um vídeo com uma gravação de Gilberto Gil que contém um clipe com

um desenho animado que contextualiza o tema abordado pela canção, conforme

segue:

Three Little Birds (trecho) Don't worry about a thing Cause every little thing Gonna be all right Rise up this morning Smile with the rising sun Three little birds…

Depois de ouvir a música, primeiramente sem acompanhar a letra e mais

duas vezes acompanhando a letra, com a finalidade de fixar o vocabulário, foi

pedido aos alunos que numerassem as palavras na ordem em que fossem ouvindo.

( ) all right ( ) songs

( ) birds ( ) sun

( ) doorstep ( ) thing

( ) melodies ( ) true

( ) smile ( ) worry

A atividade foi executada sem grandes dificuldades por parte dos alunos,

assim foi possível fazer com que eles reconhecessem a palavra no texto, praticando

e aperfeiçoando o seu listening. A seguir, os alunos foram convidados a descobrir o

significado dos termos. Alguns deles já eram conhecidos, a exemplo de bird. Outros,

por serem cognatos, também foram logo reconhecidos, como melodies. O

vocabulário novo foi então trabalhado em atividades escritas que consistiam em

preencher lacunas com palavras retiradas da letra da música, além de usá-las em

situações diferentes. Para a compreensão do texto, a seguinte atividade de

conversação foi apresentada:

Is the message from this song negative or positive? Find an excerpt in the lyrics that may comprove your choice. Do you worry about the problems or you are similar to the person of the song?

Para uma atividade intercultural, com a finalidade de explorar o

conhecimento sobre o país de Bob Marley, foi proposto pesquisar na internet a

respeito da Jamaica, sobre sua cultura e seus atrativos turísticos. Esta atividade foi

realizada em duplas e a seguir cada dupla apresentou o resultado de sua pesquisa

para a turma. A seguir, o texto adaptado abaixo foi apresentado a eles, conforme o

trecho:

People know you are Jamaican if... 1. You can distinguish between "cocoa-tea" "bush-tea" and "green-tea". 2. When someone sympathizes with you, you comment "Yuh tink seh it easy?" 3. You point with your lips. 4. You can't say "three" or "thing" ... you say "tree" and "ting". 5. You say words like Heg (instead of Egg); Hingland (instead of England). 6. You give directions with your hands, even if it is in another state.

7. You go to parties for the food and drink and then cuss afterwards when the food and drink run out. 8. You nod your head upwards to greet someone. 9. You always find yourself standing next to plenty of luggage and boxes at the airport. 10. When you travel home, you bring an extra suitcase going down, it has none of your clothes; returning, it has food. 11. You also point to other people picking their nose. 12. You hate to throw away empty containers as they might come in handy for pepper sauce or "green seasonings". 13. You have one big pot you call curry pot when you are not even cooking curry. 14. You have another pot you called dutch pot. 15. You say "boy" at the beginning of a sentence and "man" at the end of it. 16. You always hang something on your rearview mirror. 17. You put pepper sauce on everything for the taste. 18. You think eating ackee and saltfish, plaintain and fried dumplings is a great morning breakfast. 19. You can't go a week without a rice dish. 20. You think steak is a waste of good meat; you would rather cut it up and stew it with potatoes. 21. You chew and suck out all the marrow from the chicken bone and then pick out your teeth afterwards. 22. You save all juices from the cooked meats/chicken to use for flavour for your next dish. 23. You wash and rinse plastic utensils and cups that can be used again. 24. You bring home food from a party (enough for your breakfast the next morning, your lunch and your dinner!) 25. You chew the ice when you finish your drinks.

Após ler o texto, com comentários em cada item, foi solicitado aos alunos

que respondessem as seguintes questões para depois compartilhar com os colegas,

são elas: qual característica do jamaicano chamou mais a sua atenção? O que o

jamaicano tem em comum com os brasileiros? Como você acha que os estrangeiros

veem os brasileiros? O ponto de partida para as questões deve-se ao fato de que

cada povo possui algumas características próprias em razão da cultura em que está

inserido. O resultado mostrou muitas respostas diferentes que puderam ser

compartilhadas com o grupo e outras que foram comuns entre eles.

A seguir, com o objetivo de explorar a parte gramatical, propôs-se a

atividade a seguir para memorizar os verbos encontrados no texto. Portanto, os

alunos relacionaram os verbos com suas definições, conforme segue:

(1) to save ( ) to place in a specific location, set

(2) to chew ( ) to bite and grind with the teeth, masticate

(3) to point ( ) to lower and raise the head quickly

(4) to put ( ) to indicate, reveal or suggest

(5) to nod ( ) to keep in a safe condition, safeguard

A atividade de pesquisa foi feita na sala de informática com a utilização da

internet e foi possível acompanhar o trabalho de cada aluno individualmente. Foi

com grande interesse que eles procuraram conhecer mais sobre o país da Jamaica

e seu povo. Além disso, puderam perceber que existem culturas similares à

brasileira, nas quais falam inglês com um sotaque diferente do americano, como

geralmente aparece nos livros didáticos.

Aproveitou-se o texto para trabalhar o tema estereótipos e, em seguida, os

alunos pesquisaram sítios que traziam informações similares ao apresentado sobre

o povo jamaicano relacionado a outros povos, inclusive o Brasil. O mesmo tema

voltou à pauta na unidade 7 que trata de cantores da África. Nessa ocasião, o

assunto do vídeo de Chimamanda Adichie foi exibido e debatido com os alunos.

Esta unidade, bem como algumas outras, foi também trabalhada em outras

séries do Ensino Médio, porém em aulas regulares. Com a experiência de produzir o

próprio material, pôde-se perceber que esta prática traz mais segurança ao

professor na condução de sua aula. Além disso, é gratificante ao professor poder

contribuir com seus colegas apresentando-lhes sugestões práticas, situação vivida

no curso do GTR.

6 Contribuições dos colegas participantes do GTR

O GTR, uma plataforma moodle disponibilizada pela Secretaria de Estado da

Educação do Estado do Paraná, possibilitou aos cursistas do PDE compartilhar suas

experiências com colegas professores da rede pública. O projeto, o material didático

e sua implementação foram objeto de discussão e troca de experiências e ideias

dentro de um curso a distância tutorado pelo professor autor do projeto. O curso teve

15 professores inscritos, todos atuantes em escolas públicas do estado do Paraná e

foi executado entre os meses de outubro e dezembro de 2011, enquanto acontecia a

implementação na escola. Do total de professores inscritos, 14 concluíram o curso.

Os participantes conheceram primeiro o projeto de intervenção pedagógica, na

segunda unidade foi apresentado e discutido o material didático e na terceira e

última unidade o tema foi a implementação na escola. A seguir algumas impressões

destes professores serão comentadas. No primeiro fórum de discussão, quando o

projeto foi apresentado aos cursistas, eles foram convidados a opinar sobre a

proposta. Portanto, dois depoimentos foram selecionados e serão trazidos a este

trabalho, os quais serão identificados como professor A e professor B.

Professor A:

Ao escolher o referido tema, eu criei expectativas de poder conhecer melhor sobre o assunto e entrar em contato com novas metodologias e poder trabalhar a música como elemento cultural, a qual pode interferir na maneira de pensar a realidade e transformá-la. A globalização e o contato com o mundo exterior, bem como a atitude que o falante constrói com a língua são fatores essenciais no aprendizado da língua inglesa entre os educandos. Como o PPP da minha escola é pautado na pedagogia histórico-crítica, concordo que o professor considere o conhecimento de mundo do aluno e vá gradativamente inserindo os conteúdos de Língua Inglesa para que o mesmo se perceba como sujeito da aprendizagem da língua e da cultura. Analisando o projeto percebi que será interessante desenvolver atividades com música, já tenho feito isso nas minhas práticas pedagógicas e os alunos se envolvem bastante, principalmente se as atividades referentes a música forem interessantes para eles também. Através dela, o professor pode fazer uma ampla contextualização estimulando o educando a perceber a importância da cultura para os povos e dentro desse mesmo contexto ele deve criar situações de ensino da língua estrangeira. Espero que no decorrer do curso sejam disponibilizados textos, músicas, metodologias e atividades a serem trabalhadas.

Professor B:

Em nossos tempos, educar tornou-se um grande desafio. O professor é, todos os dias, convocado a ser inovador, persistente e, sobretudo, alguém que acredita no melhor do ser humano. Pensando no professor de língua estrangeira moderna, um ingrediente a mais parece ser necessário, o equilíbrio. Explico: ele deve ser capaz de envolver seus alunos de modo que eles compreendam e utilizem a língua abordada, tendo sempre como foco o cidadão crítico e consciente. Esclarecendo que, para muitos do nosso meio, fazer uso do inglês, por exemplo, significa “aliar-se ao inimigo”, numa visão simplista do mundo. Aí está o valor do profissional que sabe administrar as doses do respeito a cultura, da postura crítica que evita a sobreposição de uma cultura às outras, que torna aulas atrativas utilizando o livro didático, mas que não fica preso a ele, que interage trazendo para a sala temas comuns, com os quais os alunos convivam e conheçam de modo que estabeleçam conexões de sentido. Este trabalho desperta horizontes, faz automaticamente o aluno ir e vir no caminho de quem vê a própria comunidade na aldeia global. O professor de LEM não é alguém fascinado pelo que é estrangeiro, também não é o alienado que se recolhe nas frases do –esta disciplina não reprova, é o profissional que realiza seu trabalho consciente da contribuição intercultural que sua disciplina pode desenvolver e alcançar. E ainda, de acordo com as DCEs o professor de LEM deve

propiciar atividades significativas usando de vários recursos e fontes pare que através dessas o aluno estabeleça vínculos e pontes entre o que é visto em sala de aula e o mundo globalizado e multifacetado que o envolve .

As participações, de um modo geral foram muito construtivas, pois

mostraram que o professor de língua inglesa nas escolas públicas está empenhado

em buscar soluções para as dificuldades que enfrenta em seu trabalho. Também foi

possível constatar que de maneira geral estes professores estão procurando tomar

conhecimento do Projeto Politico-Pedagógico de sua escola e das DCEs de Língua

Estrangeira Moderna.

No segundo fórum, quando os cursistas do GTR foram convidados a opinar

sobre o material didático, citando três pontos positivos e uma sugestão para

melhorar, mais algumas intervenções foram registradas. Também escolhemos duas

para ilustrar. Portanto, as contribuições dos professores C e D serão trazidas:

Professor C:

Os fatores positivos da Produção Didático-Pedagógica do tutor são: o trabalho com o gênero música, já que de alguma maneira a maioria das pessoas são tocadas pela linguagem musical, o que auxilia o processo de ensino e aprendizagem; a percepção da riqueza da diversidade cultural existente em cada cultura e poder utilizar o inglês como um instrumento de comunicação; e também, a identificação das diferentes pronúncias existentes em cada país. Uma sugestão de melhoria na atividade da primeira unidade (chapter one), com a canção Dust in the Wind, seria com a parte do vocabulário, ou seja, as palavras encontradas na música podem ser trabalhadas também de maneira dinâmica, como por exemplo, dividir a sala em dois grupos grandes e fazer o jogo das mímicas, assim, o aluno consegue captar melhor o significado das palavras, já que eles adoram jogos, fica aí uma dica. Realmente a proposta de trabalho do tutor é de extrema importância, pois a mesma vem ao encontro das necessidades dos sujeitos de participarem de um processo de criticidade em relação à construção de efeitos de sentidos. Com certeza, essa proposta auxiliará bastante o nosso trabalho.

Professor D:

Gostei muito do material didático produzido e acredito que ele seja bastante funcional em sala de aula. Como primeiro fator que considerei positivo, posso apontar a proposta intercultural de se trabalhar com música. A maioria dos trabalhos nessa temática privilegia apenas a música norte-americana e consequentemente sua cultura. Eu mesma nunca havia

pensado em trabalhar música dessa forma e acredito que agora terei suporte para mudar essa realidade. Como segundo fator, aponto a escolha das músicas, que considero de muito bom gosto, todas com letras de conteúdo e melodias agradáveis. Outro fator que achei bastante interessante foram as atividades propostas, que permitem a reflexão e a construção do conhecimento, não apenas a reprodução de palavras ou frases. Além disso, apreciei muito as atividades que tratam da história das bandas e cantores, e das próprias músicas, que foram produzidas em contextos histórico-culturais específicos e, portanto, são certamente carregadas de conteúdo e ideologias a serem conhecidas. Como sugestão, acho que a unidade que trata de Elvis Presley poderia explorar mais sua história, do que ele significou para a geração a qual pertenceu e suas influências até hoje. Poderia ter até mais alguma atividade com alguma outra música dele. A unidade do Bob Marley pode gerar comentários e dúvidas sobre drogas e sobre sua relação com ela. Talvez fosse importante algum texto que tratasse dessa questão, ou ao menos alguma referência para que o professor buscasse mais sobre o assunto. Bob Marley é um ícone mundial, estampado em muitas roupas e acessórios usados por muitos jovens e adolescentes e, infelizmente, sua imagem está quase sempre associada ao uso de drogas. No capítulo do Scorpions, talvez fosse interessante citar ou até mesmo usar a outra versão da música, acho que da Sarah Brighton, que se tornou bastante popular há pouco tempo e talvez atraia ainda mais os alunos. Enfim, o material está perfeito e percebo que poderemos explorar bastante cada uma das unidades em sala de aula.

A partir da análise do material feita por parte dos cursistas, constatou-se sua

praticidade para aplicação nas aulas e as possibilidades de ampliá-las com várias

sugestões construtivas. Aconteceram importantes momentos de troca de ideias e de

projetos de aula já aplicados pelos professores que consideraram este um momento

de grande proveito, pois eles não dispõem de tempo suficiente para pensar em

novas estratégias para suas aulas de inglês. Pode-se considerar que cada professor

possui um certo estoque de planejamentos de aulas similares e que podem ser

trocados com colegas, como em um banco. Este momento do curso representou a

oportunidade desta troca.

Na terceira atividade do curso, referente à implementação do projeto, os

professores-alunos foram convidados a relatar uma experiência similar que já

tenham realizado em seu trabalho. De tantas que podem ser consideradas

interessantes, destaca-se uma:

Professor E:

Desde que comecei a lecionar, sempre trabalhei com músicas em minhas aulas. Considero uma ótima prática para despertar o interesse dos alunos pelas aulas e pelo aprendizado da língua inglesa. No início deste ano, trabalhei com minhas turmas do Ensino Médio a música Suspicious Minds do Elvis

Presley, aproveitando a projeção que a música alcançou integrando a trilha sonora da novela da rede Globo. Iniciei a atividade contextualizando os alunos sobre o artista, através da apresentação de fotos e vídeos do Elvis, esclarecendo sua influência para a música, até a atualidade, destacando como seu modo de vestir, dançar e atuar no palco atravessou gerações, influenciando ainda os artistas da atualidade. Em seguida, trabalhei a letra da música deixando lacunas em branco para que os alunos completassem com as palavras faltantes ao ouvirem a música. Depois disso fizemos uma interpretação em conjunto sobre o significado da letra, destacando expressões utilizadas e palavras desconhecidas. Para terminar a atividade, lemos um texto em inglês sobre a vida de Elvis Presley, sobre o qual, os alunos responderam atividades de interpretação. A experiência foi muito rica e agradável. Os alunos foram, em sua maioria, bastante interessados e participativos e demonstraram ter apreendido novo vocabulário na língua.

Todos participantes do curso apresentaram alguma experiência com trabalho

sobre música nas suas aulas. Inclusive houve alguns que utilizaram o nosso material

para sua aplicação e relataram o resultado. Foi mais um momento gratificante, tomar

conhecimento que o presente projeto estava sendo levado à prática por mais

professores do nosso estado para as salas de aula e sendo divulgados os seus efeitos

práticos para a aprendizagem do inglês.

7 Considerações finais

Durante a aplicação do projeto e no contato virtual com os colegas

professores participantes do GTR, foi possível verificar que o ensino de língua

inglesa no ensino fundamental e médio é uma tarefa que apresenta inúmeras

dificuldades para os professores, uma vez que alguns alunos não demonstram muito

interesse em aprender a língua estrangeira. Cabe a estes professores encontrar

meios criativos que estimulem os jovens a prestar atenção nos conteúdos, o que é

perceptível que fazem, e estão empenhados em procurar alternativas para que suas

aulas sejam consideradas atraentes. Os professores também procuram atualizar-se

com leituras relacionadas ao ensino de inglês e trocar ideias com colegas de

trabalho.

Há necessidade de contextualizar, porém muitos percalços necessitam ser

enfrentados: o material disponível e as salas de aula com suas precárias condições

físicas e o grande número de alunos estão longe de oferecer condições adequadas

para realizar um trabalho com resultados satisfatórios. É verdade que as escolas já

dispõe de TV pen drive nas salas de aula e laboratório de informática com acesso à

internet, porém nas escolas de comunidades rurais o sinal é captado através de

satélite e por sua lentidão, os programas demoram muito para carregar, sem falar

que dificilmente o número de computadores disponíveis para os estudantes é

suficiente para todos. Contudo, muitas iniciativas estão em andamento nas escolas e

os professores mostram-se conscientes da proposta das Diretrizes Curriculares que

propõem que o aluno:

[...] use a língua em situações de comunicação oral e escrita; Vivencie, na aula de Língua estrangeira, formas de participação que lhe possibilitem estabelecer relações entre ações individuais e coletivas; Compreenda que os significados são sociais e historicamente construídos e, portanto, passíveis de transformação na prática social. Tenha maior consciência sobre o papel das línguas na sociedade; Reconheça e compreenda a diversidade linguística e cultural, bem como seus benefícios para o desenvolvimento cultural do país (PARANÁ, 2008, p. 56).

No caso do projeto aqui relatado, pôde-se verificar que a implementação

feita em um horário de contraturno e que não exigia presença obrigatória,

possibilitou um maior comprometimento por parte dos alunos e os resultados foram

bastante positivos. Também foi possível constatar, após o início das aulas do

projeto, uma atenção maior por parte dos alunos envolvidos nas aulas regulares de

inglês. Pode-se inferir a partir dessa informação que, quando os alunos são

submetidos simplesmente aos conteúdos do livro didático, sem antes haver

compreendido o que está sendo estudado e para quê estudam tal conteúdo, eles se

recusam a fazer parte do jogo.

Por fim, é necessário repensar a maneira como as aulas são planejadas e

como os professores as trabalham com seus alunos. Já não se questiona a

necessidade dos alunos aprenderem um idioma de uso internacional, como é o caso

do inglês, mas como conscientizá-los para que se dediquem ao estudo. Como foi

mencionado no início deste estudo, nas séries iniciais existe maior disposição

porque aprender inglês é uma novidade; entretanto, no decorrer dos anos, há

necessidade de reforço e prática no uso da língua, bem como concentração e

dedicação. Nesse momento, a tendência é recusar-se a participar, em decorrência

das exigências. Cabe aos professores encontrar maneiras que possam atrair a

atenção dos alunos para suas aulas, trabalhando assuntos que sejam do seu

contexto. Vale lembrar que a música é um deles!

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