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A internet como atividade integrante de uma prática docente Flávio Chame Barreto Instituto Educacional Vivenciando RJ [email protected] Resumo Um consenso entre os docentes do Ensino Fundamental é que a
introdução a alguns conteúdos de Ciências constitui um grande
desafio, pois são temas geradores de muitas dúvidas, que podem
persistir, caso esses fundamentos não sejam bem fixados. Para
tornar esse processo mais efetivo e dinâmico, o docente pode utilizar
ferramentas que facilitem o aprendizado, utilizando recursos que
fixem conhecimentos por meio de uma atividade em que o aluno
sinta prazer em realizá-la. Atualmente, esse tipo de estratégia,
utilizando recursos da Informática, tem sido crescentemente
proposta no ensino de algumas ciências no Brasil, pois atende a
esses propósitos de forma diferenciada do contexto tradicional. O propósito deste relato é descrever como o uso da Informática, em
especial da Internet, pode facilitar o trabalho docente,
disponibilizando soluções para problemas pontuais na aprendizagem
de temáticas complexas, auxiliando na discussão e na construção de
conceitos pelo alunado de Ciências do Ensino Fundamental. Palavras-Chave: Informática na Educação; Educação em Ciências; Ensino Fundamental.
relato
1. Introdução Neste relato descrevo minha experiência docente vivenciada no
contexto da disciplina de Ciências no Ensino Fundamental, onde os
conteúdos abordados são consolidados a partir da utilização de
recursos da informática, já rotineiramente usados pelos alunos fora
da sala de aula. Iniciei a utilização da Internet no contexto escolar, criando inicialmente
um site como uma ferramenta de apoio didático exclusiva para meus
alunos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Pré-vestibular com o
endereço eletrônico: http://www.flaviocbarreto.bio.br (ver figura 1). Com o desenvolvimento desse processo, percebi que para
compartilhar informações que os educandos julgassem interessantes,
era necessário inserir uma abordagem adequada ao ambiente virtual
que já fazia parte do dia a dia desse alunado, ou seja, trabalhar
preferencialmente com pesquisas on line, desafios lúdicos e uma
interface de comunicação simples e eficiente.
Figura 1 - Site de apoio didático – Página inicial CIÊNCIA EM TELA - Volume 1, Número 1 - 2008 01
Essa inserção, rapidamente favoreceu uma melhoria nas relações entre
os conteúdos e os educandos, resultando em um diferencial bastante
interessante e enriquecedor no processo de ensino e aprendizagem.
Além disso, essa opção de utilizar os recursos de informática e da
Internet demonstrou que podemos possibilitar ao aluno trabalhar o seu
processo de aprendizagem de uma forma ativa, transferindo o enfoque
educacional do processo de ensino para o processo de aprendizagem
(VALENTE; FREIRE, 2001). Neste aspecto, porém ressalvo, percebi que
um conteúdo proposto poderia ser considerado apropriado ou não,
significativo ou não pelo aluno. Considerando isso, o docente deve dar
uma atenção especial e proporcionar momentos de debate em sala de
aula para facilitar as conclusões dos alunos, assim como avaliar, sempre
que possível, o histórico das navegações realizadas e a consistência das
informações obtidas. Como as concepções que o aluno tende a conservar melhor são aquelas
em que ele participa (POZO, 1998) e a utilização da Internet é uma
prática crescente nas novas gerações, o processo de navegação nos
conteúdos, pelo aluno por essas vias, implica em novos desafios para o
docente, pois ao contrário dos materiais educativos em formatos
tradicionais, a relação com a informação é mais abstrata, em seqüências
nem sempre lineares, produzidas por diferentes fontes, que no caso da
Internet, podem ser fidedignas ou não. 2. Descrevendo uma atividade didática Dentre as inúmeras atividades que desenvolvi, utilizando a Internet
durante o ano letivo no ensino fundamental, escolhi para descrever
neste relato, a que foi realizada pela 5ª série do Instituto Educacional
Vivenciando, na cidade do Rio de Janeiro, durante os meses de
relato
setembro e outubro de 2007, com o tema “reciclar, reaproveitar e reutilizar” (ver figura 2).
Figura 2 – Pesquisa proposta com o tema
dos “3 R – Reciclar, Reaproveitar, Reutilizar” Consciente de que apenas o uso do computador não seria capaz de
trazer uma contribuição importante, caso não houvesse um processo
de participação, desafios e reflexão sobre o conteúdo, planejei uma
atividade que valorizasse o processo de investigação e pesquisa. A
proposta inicial era que os alunos acessassem uma página específica
do meu site, onde eu havia colocado um desafio. A tarefa consistia em que cada aluno simulasse ser um repórter de um jornal
fictício on line, com a incumbência de produzir um texto sobre o lixo gerado
por um determinado produto, incorporando nele suas críticas e sugestões. As
opções de lixo eram inúmeras e variavam desde papéis, papelão e copos
descartáveis até garrafas pet e pneus usados (ver figura 3).
CIÊNCIA EM TELA - Volume 1, Número 1 - 2008 02
Nesta página eu disponibilizei alguns links e orientações para as primeiras buscas, uma caixa de texto onde cada um digitaria seus textos e um botão que ao ser clicado, enviaria seu conteúdo para o email do editor chefe, ou seja, para mim (ver figura 4).
Figura 3: Opções sugeridas para as
pesquisas
Figura 4: A caixa de texto para o envio dos textos e links para as
primeiras buscas.
relato
Os textos acompanhados pelas respectivas referências, começaram
imediatamente a chegar em minha caixa de Email. Após imprimi-los,
e durante duas aula seguidas, todos os alunos tinham acesso ao conteúdo de todos os textos. Em grupos, eles debatiam as soluções propostas, inseriam novos
comentários, criticavam quando a informação era pobre ou
inconsistente, e nesses casos, decidiam fazer novas pesquisas na
Internet, redistribuindo entre eles as novas funções e prazos. Ao
final de 15 dias, recebi um texto final, enviado através do meu site,
com as respectivas referências, links e fotos. 3. Desdobramento da atividade inicial Na aula imediatamente posterior, durante a conclusão dos debates,
os alunos me perguntaram se podiam criar um jornal on line “de
verdade” utilizando em sua primeira edição, o material desenvolvido
pela turma. Falei que era uma ótima idéia, principalmente porque o
mundo inteiro teria a chance de ter acesso ao material produzido por
eles. A simples menção que o mundo inteiro teria acesso ao texto
gerou novos debates que culminaram com novas atividades que
incluíram várias consultas aos professores de português, artes e
informática, além é claro, deste professor de ciências. Duas semanas
depois um site completamente produzido por eles e denominado
“Jornal Internacional de Ciências” foi disponibilizado na Internet,
hospedado no servidor gratuito “Yahoo/Geocities” (Ver figura 5).
Nessa segunda fase, o meu papel continuou sendo de orientador,
pois novas pesquisas foram realizadas, alguns textos ampliados e
novas imagens foram incorporados ao texto original.
CIÊNCIA EM TELA - Volume 1, Número 1 - 2008 03
Figura 5: Jornal on line criado por iniciativa dos alunos aproveitando o material da pesquisa
4. Avaliação Durante essa atividade ratifiquei que um dos objetivos na educação
não deve ser o quanto de um conteúdo será absorvido, mas
principalmente, como isso ocorrerá. Logo, um ensino que favoreça
atingir esses objetivos, por meio de atividades que podem ser
desenvolvidas pelo aluno de forma prazerosa, onde ele constrói
conceitos que considere inteligíveis, plausíveis e proveitosos no seu
cotidiano, devem ser realizadas pelo docente (PHILLIPS, 1997). O tema da pesquisa, na forma que foi proposto, permitiu uma profunda
reflexão dos alunos sobre o desenvolvimento tecnológico acelerado e a
sua conseqüente produção de lixo, propiciando um olhar crítico sobre o
problema. Servindo para comprovar que para se poder tomar uma
relato
posição crítica e de valor e não só de consumo indiscriminado deve-
se ter a capacidade de saber aprender, critério para selecionar e
situar a informação e um mínimo de conhecimento básico para dar-
lhe sentido e convertê-la em conhecimento pessoal, social e
profissional (SANCHO, 1988). Apesar de não ter sido explicitado na tarefa proposta, as discussões
convergiram para a busca de soluções coerentes com a redução do
consumo, fato este, resultante das diferentes pesquisas e dos
próprios debates que sempre sinalizavam para este ponto em
comum. Este consenso foi destacado por diversas vezes nos textos
produzidos, e inclusive finalizou a versão final como uma sugestão a
ser seguida por todos nós. Este relato demonstra que o processo de descoberta, do significado
de conceitos básicos, pelo aluno, pode ser realizado de forma bem
simples através do uso da Informática como mediadora no processo
de aprendizagem. Atualmente, as ferramentas disponíveis nos
programas de uso cotidiano permitem que qualquer docente que
tenha domínio básico de informática possa construir rapidamente
diferentes aplicativos que atendam as suas necessidades pontuais. O
simples processo de navegação pelos inúmeros sites que oferecem
serviços gratuitos, como por exemplo o que foi escolhido pelos
alunos para hospedar o material produzido, disponibilizam tutoriais
que orientam passo a passo como criar e publicar páginas e
hospedar diferentes conteúdos gratuitamente na Internet. É importante ressaltar que o aspecto motivacional das diferentes atividades
desenvolvidas, possibilitou uma compreensão mais ampla do tema pelos
alunos, onde a participação deles foi de tal forma enriquecedora, que posso
considerar tais atividades como boas opções para que sua prática seja
utilizada de forma mais generalizada por outros docentes.
CIÊNCIA EM TELA - Volume 1, Número 1 - 2008 04
relato
5. Referências Bibliográficas POZO, J. I. Teorias cognitivas da aprendizagem. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. PHILLIPS, R. JENKINS, N. Interactive multimedia development: The developer's handbook to interactive multimedia – A pratical
guide for educational applications. London: Kogan Page, 1997. SANCHO, J. M. (Org). Para Uma Tecnologia Educacional. São Paulo: Editora Artmed. 1988. VALENTE J. A.; FREIRE, F. M. P. (Org), Aprendendo para a vida: Os computadores na sala de aula. 1ª Ed, São Paulo: Editora Cortez, 2001. Sobre o autor Flávio Chame Barreto é bacharel em Biologia na especialidade Genética e licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atua como professor do ensino básico e superior e como consultor no desenvolvimento de softwares. Atualmente, está concluindo uma especialização no ensino de Ciências e Biologia no Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.
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