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Revista Crítica de Ciências Sociais, 63, Outubro 2002: 7-20 NANCY FRASER New School of Social Research, Nova Iorque A justiça social na globalização: Redistribuição, reconhecimento e participação Centrando-se na actual politização da cultura e particularmente nas lutas pelo reconhe- cimento, a autora identifica três problemas que ameaçam a justiça social no contexto da globalização: a reificação das identidades colectivas, a substituição da redistribuição pelo reconhecimento e a forma como diferentes tipos de luta estão a enquadrar desa- justadamente os processos transnacionais. O texto discute três estratégias concep- tuais para neutralizar os riscos derivados destes problemas, todas elas baseadas em traços emergentes da globalização. Para contrariar o risco da reificação, propõe uma concepção do reconhecimento baseada no estatuto que não conduz a uma política de identidade. Para contrariar o risco da substituição, a autora propõe uma concepção bidimensional de justiça que abrange tanto o reconhecimento como a distribuição. Para contrariar a ameaça do enquadramento desajustado, propõe uma concepção de soberania de múltiplos níveis que descentra o enquadramento nacional. 1. Introdução Ao escolher a frase “Globalização: fatalidade ou utopia?” como título deste colóquio, os organizadores sugerem duas coisas: em primeiro lugar, que estamos hoje à beira de uma importante transição social e, em segundo lugar, que as circunstâncias exigem que tomemos uma posição relativamente a essa transição. Concordo com ambas as sugestões. Mesmo que não possa- mos ainda caracterizar da melhor forma a globalidade da mudança, é evidente que estão a dar-se transformações profundas. Uma transição im- portante, da perspectiva do “Primeiro Mundo”, é a que se refere à pas- sagem de uma fase fordista do capitalismo, centrada na produção em massa, em sindicatos fortes e na normatividade do salário familiar, para uma fase pós-fordista, caracterizada pela produção virada para nichos do mercado, pelo declínio da sindicalização e pelo aumento da participação das mulhe- res no mercado de trabalho. Outra mudança relacionada com esta tem a ver com a transição de uma sociedade industrial, baseada nas tecnolo- gias de manufactura da segunda revolução industrial, para o que tem

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Revista Crítica de Ciências Sociais, 63, Outubro 2002: 7-20

NANCY FRASERNew School of Social Research, Nova Iorque

A justiça social na globalização:Redistribuição, reconhecimento e participação

Centrando-se na actual politização da cultura e particularmente nas lutas pelo reconhe-cimento, a autora identifica três problemas que ameaçam a justiça social no contextoda globalização: a reificação das identidades colectivas, a substituição da redistribuiçãopelo reconhecimento e a forma como diferentes tipos de luta estão a enquadrar desa-justadamente os processos transnacionais. O texto discute três estratégias concep-tuais para neutralizar os riscos derivados destes problemas, todas elas baseadas emtraços emergentes da globalização. Para contrariar o risco da reificação, propõe umaconcepção do reconhecimento baseada no estatuto que não conduz a uma políticade identidade. Para contrariar o risco da substituição, a autora propõe uma concepçãobidimensional de justiça que abrange tanto o reconhecimento como a distribuição.Para contrariar a ameaça do enquadramento desajustado, propõe uma concepção desoberania de múltiplos níveis que descentra o enquadramento nacional.

1. IntroduçãoAo escolher a frase “Globalização: fatalidade ou utopia?” como título destecolóquio, os organizadores sugerem duas coisas: em primeiro lugar, queestamos hoje à beira de uma importante transição social e, em segundolugar, que as circunstâncias exigem que tomemos uma posição relativamentea essa transição. Concordo com ambas as sugestões. Mesmo que não possa-mos ainda caracterizar da melhor forma a globalidade da mudança, éevidente que estão a dar-se transformações profundas. Uma transição im-portante, da perspectiva do “Primeiro Mundo”, é a que se refere à pas-sagem de uma fase fordista do capitalismo, centrada na produção em massa,em sindicatos fortes e na normatividade do salário familiar, para uma fasepós-fordista, caracterizada pela produção virada para nichos do mercado,pelo declínio da sindicalização e pelo aumento da participação das mulhe-res no mercado de trabalho. Outra mudança relacionada com esta tem aver com a transição de uma sociedade industrial, baseada nas tecnolo-gias de manufactura da segunda revolução industrial, para o que tem

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sido apelidado por alguns de “sociedade do conhecimento”, baseada nastecnologias de informação da terceira revolução industrial. Há ainda quereferir a mudança de uma ordem internacional dominada por Estados-naçãosoberanos para uma ordem globalizada em que os enormes fluxos transna-cionais do capital restringem as capacidades de governação dos Estadosnacionais.

Tomo todos estes processos como parte do que se entende por globaliza-ção e penso que todos estão relacionados com um outro traço fundamentalda presente constelação: a crescente proeminência da cultura na ordememergente. Esta nova proeminência da cultura pode ser vista numa série deaspectos: na maior visibilidade dos “trabalhadores simbólicos”, por con-traste com os trabalhadores manuais, na economia global da informação;no declínio da centralidade do trabalho relativamente à religião e à etnici-dade na constituição das identidades colectivas; na maior consciência dopluralismo cultural na esteira do aumento da imigração; na intensificaçãoda hibridação cultural, fomentada não só por contactos pessoais transcul-turais, mas também pela comunicação electrónica; na proliferação e rápidadifusão de imagens pelas indústrias globais da publicidade e do entreteni-mento de massas; e por último, como consequência de todas estas mudanças,numa nova consciência reflexiva dos “outros” e, por isso, uma nova ênfasena identidade e na diferença.

Contudo, aquilo que mais me interessa é o efeito desta nova proeminên-cia da cultura sobre a política – e, portanto, sobre as perspectivas de justiçasocial. Assim, gostaria de sugerir que um outro traço que define a globali-zação é a politização generalizada da cultura, especialmente nas lutas pelaidentidade e diferença – ou, como passarei a designá-las, as lutas pelo reco-nhecimento – que explodiram nos últimos anos. De facto, hoje em dia, areivindicação de reconhecimento é a força impulsionadora de muitos con-flitos sociais, desde batalhas sobre o multiculturalismo a lutas sobre asrelações sociais de sexo e a sexualidade, desde campanhas pela soberanianacional e autonomia subnacional a esforços para construir organizaçõespolíticas transnacionais, desde a jihad fundamentalista aos revivescentesmovimentos internacionais de direitos humanos. É certo que estas lutas sãoheterogéneas, situando-se numa escala que vai daquelas que são claramenteemancipatórias às que são absolutamente condenáveis. Não obstante, o seurecurso a uma gramática comum é notório, apontando para uma profundamudança dos ventos políticos: um ressurgimento maciço da política deestatuto.

O reverso deste ressurgimento é um declínio correspondente da políticade classe. Outrora a gramática hegemónica da contestação política, as reivin-

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dicações de igualdade económica são hoje menos salientes do que duranteo apogeu fordista do Estado-Providência keynesiano. Os partidos políticosque antes se identificavam com projectos de redistribuição igualitáriaabraçam hoje uma escorregadia “terceira via”, cuja substância verda-deiramente emancipatória, quando a têm, está mais relacionada com oreconhecimento do que com a redistribuição. Entretanto, os movimentossociais que não há muito tempo exigiam com audácia uma partilha equita-tiva dos recursos e da riqueza já não são exemplificativos do espírito daépoca. É certo que não desapareceram totalmente, mas o seu impactotem sido grandemente reduzido. Para além do mais, mesmo nos melhorescasos, quando as lutas pela redistribuição não se apresentam como anti-téticas às lutas pelo reconhecimento, elas tendem a ser dissociadas destasúltimas.

Portanto, em geral, a globalização está a gerar uma nova gramática dereivindicação política. Nesta constelação, o centro de gravidade foi trans-ferido da redistribuição para o reconhecimento. Como deveremos carac-terizar esta transição? Quais são as suas implicações para a justiça social?

A meu ver, as perspectivas são ambivalentes. Por um lado, a viragempara o reconhecimento representa um alargamento da contestação políticae um novo entendimento da justiça social. Já não restrita ao eixo da classe,a contestação abarca agora outros eixos de subordinação, incluindo a dife-rença sexual, a “raça”, a etnicidade, a sexualidade, a religião e a naciona-lidade. Isto constitui um claro avanço relativamente aos restritivos para-digmas fordistas que marginalizavam tal contestação. Para além disso, ajustiça social já não se cinge só a questões de distribuição, abrangendo agoratambém questões de representação, identidade e diferença. Também nesteaspecto constitui um avanço positivo relativamente aos redutores paradigmaseconomicistas que tinham dificuldade em conceptualizar males cuja origemreside, não na economia política, mas nas hierarquias institucionalizadas devalor.

Por outro lado, não é absolutamente nada evidente que as actuais lutaspelo reconhecimento estejam a contribuir para complementar e aprofundaras lutas pela redistribuição igualitária. Antes pelo contrário: no contexto deum neoliberalismo em ascensão, podem estar a contribuir para deslocar asúltimas. Se assim for, os recentes ganhos no nosso entendimento da justiçapodem estar entrelaçados com uma perda trágica. Em vez de chegarmos aum paradigma mais amplo e rico, capaz de abarcar tanto a redistribuiçãocomo o reconhecimento, estaremos a trocar um paradigma truncado poroutro: um economicismo truncado por um culturalismo igualmente trun-cado. O resultado seria um exemplo clássico de desenvolvimento combina-

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do e desigual: as recentes conquistas notáveis no eixo do reconhecimentocorresponderiam a um progresso paralisado, se não mesmo a francas per-das, no eixo da distribuição.

Esta é, de qualquer das formas, a minha leitura das tendências actuais.A seguir delinearei uma abordagem que responde a este diagnóstico e quevisa evitar a sua realização plena. O que tenho a dizer divide-se em trêspartes, cada uma das quais corresponde a um risco inerente à actual tra-jectória da globalização. Considerarei em primeiro lugar o risco da substi-tuição das lutas pela redistribuição pelas lutas pelo reconhecimento, emvez de estas complementarem ou enriquecerem aquelas. Para neutralizareste risco, proporei uma análise da justiça social que é suficientemente amplapara incluir o leque total de preocupações suscitadas pela globalização,mesmo as desigualdades de classe e as hierarquias de estatuto. Em segundolugar, considerarei o risco da actual centralidade da política cultural, queestá a reificar as identidades sociais e a fomentar um comunitarismo repres-sivo. Para que este risco seja neutralizado, proponho uma concepção não--identitária do reconhecimento adequada à globalização, uma concepçãoque promova a interacção entre as diferenças e que estabeleça sinergiascom a redistribuição. Em terceiro e último lugar, examinarei o risco de aglobalização estar a subverter as capacidades do Estado para reparar ambosos tipos de injustiça. A fim de neutralizar este risco, proporei uma con-cepção múltipla de soberania que descentre o enquadramento nacional.Em cada um dos casos, as concepções propostas assentam em potenciali-dades emancipatórias que estão a despontar na actual constelação.

Portanto, em termos gerais, não tratarei a globalização como fatalidadeou utopia, mas antes como um processo de dupla face, que carrega em sitanto riscos como possibilidades. Desta forma, procurarei esclarecer osriscos e identificar os recursos com que lhes poderemos fazer frente.

2. Contrariar a substituição: uma concepção bidimensional da justiçasocial

Uma das ameaças à justiça social na globalização é resultado de uma ironiahistórica: a transição da redistribuição para o reconhecimento está a ocor-rer apesar (ou por causa) da aceleração da globalização económica. Destaforma, os conflitos identitários alcançaram estatuto paradigmático exac-tamente no momento em que o agressivo capitalismo globalizante con-duzido pelos Estados Unidos está a exacerbar radicalmente as desigual-dades económicas. Como resultado, a viragem para o reconhecimentoencaixou-se perfeitamente num neoliberalismo económico que desejaacima de tudo reprimir a memória do igualitarismo socialista. Neste con-

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texto, as lutas pelo reconhecimento estão a contribuir menos para suple-mentar, tornar mais complexas e enriquecer as lutas pela redistribuição doque para as marginalizar, eclipsar e substituir. Chamo a isto o problema dasubstituição.

Esta substituição ameaça a nossa capacidade de conceptualizar a justiçasocial num mundo em processo de globalização. Para evitarmos truncar anossa visão da emancipação e, assim, entrar involuntariamente em conluiocom o neoliberalismo, necessitamos de revisitar o conceito de justiça.O que é preciso é uma concepção ampla e abrangente, capaz de abrangerpelo menos dois conjuntos de preocupações. Por um lado, ela deve abarcaras preocupações tradicionais das teorias de justiça distributiva, especial-mente a pobreza, a exploração, a desigualdade e os diferenciais de classe.Ao mesmo tempo, deve igualmente abarcar as preocupações recentementesalientadas pelas filosofias do reconhecimento, especialmente o desrespeito,o imperialismo cultural e a hierarquia de estatuto. Rejeitando formulaçõessectárias que caracterizam a distribuição e o reconhecimento como visõesmutuamente incompatíveis da justiça, tal concepção tem de abrangê-las aambas. O resultado seria uma concepção bidimensional de justiça, o únicotipo de concepção capaz de abranger toda a magnitude da injustiça no con-texto da globalização.

Passo a explicar. A abordagem que proponho requer que se olhe para ajustiça de modo bifocal, usando duas lentes diferentes simultaneamente.Vista por uma das lentes, a justiça é uma questão de distribuição justa; vistapela outra, é uma questão de reconhecimento recíproco. Cada uma daslentes foca um aspecto importante da justiça social, mas nenhuma por si sóbasta. A compreensão plena só se torna possível quando se sobrepõem asduas lentes. Quando tal acontece, a justiça surge como um conceito queliga duas dimensões do ordenamento social – a dimensão da distribuição ea dimensão do reconhecimento.

Do ponto de vista distributivo, a injustiça surge na forma de desi-gualdades semelhantes às da classe, baseadas na estrutura económica dasociedade. Aqui, a quintessência da injustiça é a má distribuição, em sen-tido lato, englobando não só a desigualdade de rendimentos, mas tam-bém a exploração, a privação e a marginalização ou exclusão dos mer-cados de trabalho. Consequentemente, o remédio está na redistribui-ção, também entendida em sentido lato, abrangendo não só a transferên-cia de rendimentos, mas também a reorganização da divisão do trabalho,a transformação da estrutura da posse da propriedade e a democratiza-ção dos processos através dos quais se tomam decisões relativas ao inves-timento.

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Do ponto de vista do reconhecimento, por contraste, a injustiça surge naforma de subordinação de estatuto, assente nas hierarquias institucionali-zadas de valor cultural. A injustiça paradigmática neste caso é o falso reco-nhecimento, que também deve ser tomado em sentido lato, abarcando adominação cultural, o não-reconhecimento e o desrespeito. O remédio é,portanto, o reconhecimento, igualmente em sentido lato, de forma a abar-car não só as reformas que visam revalorizar as identidades desrespeitadase os produtos culturais de grupos discriminados, mas também os esforçosde reconhecimento e valorização da diversidade, por um lado, e, por outro,os esforços de transformação da ordem simbólica e de desconstrução dostermos que estão subjacentes às diferenciações de estatuto existentes, deforma a mudar a identidade social de todos.

Do ponto de vista distributivo, portanto, a justiça requer uma política deredistribuição. Do ponto de vista do reconhecimento, em contraponto, ajustiça requer uma política de reconhecimento. A ameaça de substituiçãosurge quando as duas perspectivas da justiça são consideradas mutuamenteincompatíveis. Nesse caso, as reivindicações de reconhecimento desligam--se das reivindicações de redistribuição, acabando por as eclipsar.

Quando, contudo se sobrepõem as duas perspectivas, o risco de substi-tuição pode ser neutralizado. A justiça surge então como uma categoriabidimensional que abrange ambos os tipos de reivindicação. Desta pers-pectiva bifocal, torna-se desnecessário optar entre uma política de reconhe-cimento e uma política de redistribuição, impondo-se, pelo contrário, umapolítica que abarque os dois aspectos.

A aceleração da globalização faz com que, em princípio, tal políticase torne possível. Nesta sociedade, como vimos, a identidade já não estáexclusivamente ligada ao trabalho e as questões da cultura são intensamentepolitizadas. Contudo, a desigualdade económica continua a manifestar-sedesmedidamente, uma vez que a nova economia global da informação estáa alimentar importantes processos de recomposição de classe. Além disso,a actual população diversificada de trabalhadores simbólicos, trabalhadoresde serviços, trabalhadores manuais, trabalhadores temporários e a tempoparcial, bem como os socialmente excluídos, tem extrema consciência dasmúltiplas hierarquias de estatuto, incluindo as ligadas à diferença sexual,“raça”, etnicidade, sexualidade e religião. Neste contexto, não é viável nemum economicismo redutor, nem um culturalismo banal. Pelo contrário, aúnica perpectiva adequada é uma perspectiva bifocal que abarque tanto oreconhecimento como a distribuição.

Todavia, não é fácil combinar a redistribuição e o reconhecimento, umavez que isto exige que se submetam as duas dimensões de justiça a uma

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medida normativa comum. O que é preciso é um único princípio norma-tivo que inclua as reivindicações justificadas quer de redistribuição, querde reconhecimento, sem reduzir umas às outras. Com este propósito, pro-ponho o princípio de paridade de participação, segundo o qual a justiça requerarranjos sociais que permitam a todos os membros (adultos) da sociedadeinteragir entre si como pares. São necessárias pelo menos duas condiçõespara que a paridade participativa seja possível. Primeiro, deve haver umadistribuição de recursos materiais que garanta a independência e “voz” dosparticipantes. Esta condição impede a existência de formas e níveis dedependência e desigualdade económicas que constituem obstáculos à pari-dade de participação. Estão excluídos, portanto, arranjos sociais que insti-tucionalizam a privação, a exploração e as flagrantes disparidades de riqueza,rendimento e tempo de lazer que negam a alguns os meios e as oportuni-dades de interagir com outros como pares. Em contraponto, a segundacondição para a paridade participativa requer que os padrões instituciona-lizados de valor cultural exprimam igual respeito por todos os participantese garantam iguais oportunidades para alcançar a consideração social. Estacondição exclui padrões institucionalizados de valor que sistematicamentedepreciam algumas categorias de pessoas e as características a elas associa-das. Portanto, excluem-se padrões institucionalizados de valor que negama alguns o estatuto de parceiros plenos nas interacções – quer ao imputar--lhes a carga de uma “diferença” excessiva, quer ao não reconhecer a suaparticularidade.

Ambas as condições são necessárias à paridade participativa, nenhumasendo por si só suficiente. A primeira traz à tona preocupações tradicional-mente associadas à teoria da justiça distributiva, particularmente as que serelacionam com a estrutura económica da sociedade e com os diferenciaisde classe economicamente definidos. A segunda traz à tona preocupaçõesrecentemente salientadas pela filosofia do reconhecimento, especialmenteno que se refere à ordem de estatuto na sociedade e às hierarquias de esta-tuto culturalmente definidas. No entanto, nenhumas destas condições éapenas um epifenómeno da outra, sendo cada uma, pelo contrário, relati-vamente independente. Deste modo, nenhuma pode ser completamenteefectivada de forma indirecta, através de reformas dirigidas exclusivamentepara a outra. O resultado é uma concepção bidimensional de justiça queabrange tanto a distribuição como o reconhecimento, sem reduzir um aspectoao outro.

Esta abordagem permite contrariar o risco de substituição no contextoda globalização. Ao analisar a redistribuição e o reconhecimento comoduas dimensões mutuamente irredutíveis da justiça, amplia-se a sua con-

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cepção usual de modo a abarcar injustiças quer de estatuto, quer de classe.Ao submeter ambas as dimensões à norma englobante da paridadeparticipativa, esta abordagem oferece um só critério normativo para ava-liar tanto a estrutura económica como a ordem de estatuto. Assim, cons-titui o tipo de concepção lata de justiça de que precisamos a partir domomento em que resolvemos tratar a globalização nem como fatalidadenem como utopia, mas como um processo que envolve tanto recursoscomo riscos.

3. Contrariar a reificação: uma concepção não-identitáriade reconhecimento

Uma segunda ameaça à justiça social no contexto da globalização surgecomo resultado de uma outra ironia histórica: as lutas pelo reconhecimentoestão hoje a proliferar apesar (ou por causa) do aumento da interacção ecomunicação transculturais. Isto é, manifestam-se precisamente quando aaceleração das migrações e dos fluxos dos meios de comunicação globaisestão a fracturar e a hibridar todas as formas culturais, mesmo aquelas ante-riormente vividas como “intactas”. Em consonância, algumas lutas peloreconhecimento procuram adaptar as instituições a esta condição de com-plexidade crescente. No entanto, muitas outras tomam a forma de um comu-nitarismo que simplifica e reifica drasticamente as identidades de grupo.Nestes casos, as lutas pelo reconhecimento não fomentam a interacção e orespeito entre diferenças em contextos cada vez mais multiculturais, mastendem antes a encorajar o separatismo e a formação de enclaves grupais, ochauvinismo e a intolerância, o patriarcalismo e o autoritarismo. Chamo aisto o problema da reificação.

À semelhança da substituição, a reificação ameaça a nossa capacidade deconceptualizar a justiça social num contexto de globalização. Para neutra-lizar esta ameaça, precisamos de revisitar o conceito de reconhecimento.Necessitamos de uma concepção não-identitária que desencoraje a reifi-cação e promova a interacção entre as diferenças, o que significa rejeitar asdefinições habituais de reconhecimento.

Geralmente, o reconhecimento é visto através da lente da identidade.Deste ponto de vista, o que requer reconhecimento é a identidade culturalespecífica dos grupos. O falso reconhecimento consiste na depreciação detal identidade pelo grupo dominante e no consequente dano infligido aosentido do eu dos membros do grupo. A reparação deste dano requer oenvolvimento numa política de reconhecimento que visa rectificar a deses-truturação interna através da contestação da imagem pejorativa do grupoprojectada pela cultura dominante. Os membros desses grupos devem

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rejeitar tais imagens em favor de novas auto-representações por eles pró-prios construídas. Depois de remodelar a sua identidade colectiva, devemexibi-la publicamente de forma a ganhar o respeito e a consideração dasociedade em geral. Quando o resultado tem êxito, atinge-se o “reconhe-cimento”, uma relação não distorcida consigo próprio. Relativamente aomodelo identitário, portanto, a política de reconhecimento significa polí-tica de identidade

É indubitável que este modelo identitário contém algumas ideias verda-deiramente esclarecedoras a respeito dos efeitos psicológicos do racismo,sexismo, colonização e imperialismo cultural. Contudo, falha em pelo menosdois aspectos importantes. Primeiro, tende a reificar as identidades de grupoe a ocultar eixos entrecruzados de subordinação. Em consequência, reciclafrequentemente estereótipos relativos a grupos, ao mesmo tempo quefomenta o separatismo e o comunitarismo repressivo. Segundo, o modeloidentitário trata o falso reconhecimento como um mal cultural indepen-dente e, como consequência, oculta as suas ligações com a má distribuição,impedindo assim os esforços para combater simultaneamente ambos osaspectos da injustiça.

Por estas razões, proponho uma concepção alternativa de reconheci-mento. Na minha opinião, baseada no que pode designar-se por um “modelode estatuto”, o reconhecimento é uma questão de estatuto social. O querequer reconhecimento no contexto da globalização não é a identidadeespecífica de um grupo, mas o estatuto individual dos seus membros comoparceiros de pleno direito na interacção social. Desta forma, o falso reco-nhecimento não significa a depreciação e deformação da identidade dogrupo, mas antes a subordinação social, isto é, o impedimento da partici-pação paritária na vida social. A reparação desta injustiça requer uma políticade reconhecimento, mas isto não significa uma política de identidade. Nomodelo de estatuto, pelo contrário, significa uma política que visa superara subordinação através da instituição da parte reconhecida distorcidamentecomo membro pleno da sociedade, capaz de participar ao mesmo nível dosoutros.

Passo a explicar. A aplicação do modelo de estatuto requer que exa-minemos os efeitos dos padrões institucionalizados de valor cultural sobrea posição relativa dos actores sociais. Nos casos em que tais padrões consti-tuem os actores como pares, capazes de participar ao mesmo nível que osoutros na vida social, então podemos falar de reconhecimento recíproco e deigualdade de estatuto. Quando, pelo contrário, os padrões institucionaliza-dos de valor cultural constituem alguns actores como inferiores, excluídos,completamente outros ou simplesmente invisíveis, portanto como menos

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do que membros plenos na interacção social, então teremos de falar defalso reconhecimento ou subordinação de estatuto. Portanto, de acordo como modelo de estatuto, o falso reconhecimento é uma relação social de subor-dinação transmitida através de padrões institucionalizados de valor cultural.Ocorre quando as instituições sociais regulam a interacção de acordo comnormas culturais que impedem a paridade de participação. Os exemplosincluem leis matrimoniais que excluem uniões entre pessoas do mesmo sexocomo ilegítimas e perversas, políticas sociais que estigmatizam as mães soltei-ras como parasitas sexualmente irresponsáveis e práticas de policiamentocomo a identificação por “perfil racial” que associam determinadas pes-soas com a criminalidade. Em cada um destes casos, a interacção é regu-lada por um padrão institucionalizado de valor cultural que constitui algu-mas categorias de actores sociais como normativas e outras como deficientesou inferiores. Consequentemente, é negado a alguns membros da socie-dade o estatuto de parceiros plenos, capazes de participar na interacção aomesmo nível que os outros.

Portanto, segundo o modelo de estatuto, o falso reconhecimento consti-tui uma grave violação da justiça. Sempre que ocorra e qualquer que seja aforma que tome, é necessário reivindicar o reconhecimento. Mas devemosnotar o que isto significa em termos precisos: tal reivindicação não visa avalorização da identidade do grupo, mas a superação da subordinação,procurando instituir a parte subordinada como membro pleno na vida social,capaz de interagir paritariamente com os outros. Isto é, visa desinstitucio-nalizar padrões de valor cultural que impedem a paridade de participação esubstituí-los por padrões que a fomentam.

Conceber o reconhecimento a partir de um modelo de estatuto constituium meio de contrariar a reificação no contexto da globalização. Ao con-centrar-se, não na identidade de grupo, mas nos efeitos das normas institucio-nalizadas sobre as capacidades de interacção, evita o hipostasiar da culturae a substituição da mudança social pela engenharia da identidade. Da mesmaforma, ao recusar privilegiar remédios para o falso reconhecimento quevalorizam as identidades de grupo existentes, evita a essencialização dasactuais configurações e a recusa da mudança histórica. Por último, aoestabelecer a paridade participativa como critério normativo, o modelo deestatuto submete as reivindicações de reconhecimento a processosdemocráticos de justificação pública. Assim, evita o monologismo autoritárioda política de autenticidade e valoriza a interacção transcultural por oposiçãoao separatismo e enclausuramento do grupo. Por conseguinte, longe deencorajar o comunitarismo repressivo, o modelo de estatuto combate-o fron-talmente.

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Em termos gerais, portanto, esta abordagem fomenta o tipo de políticade reconhecimento de que precisamos se tratarmos a globalização nem comofatalidade nem como utopia, mas como um contexto para as lutas de justiçasocial.

4. Contrariar o enquadramento desajustado: uma concepção múltiplade soberania

Há ainda uma terceira ameaça à justiça social na globalização. À seme-lhança da substituição e da reificação, esta é também resultado de umaironia histórica: a globalização está a descentrar o enquadramento nacionalde uma forma que torna cada vez menos plausível postular o Estado nacio-nal como o único contexto de actuação e a única instância que contém emsi e regula a justiça social. Nestas condições, torna-se imperativo colocar asquestões no plano devido: tem de se determinar quais os assuntos que sãoverdadeiramente nacionais, quais são locais, regionais ou globais. Contudo,os conflitos actuais assumem um enquadramento desadequado. Por exem-plo, há numerosos movimentos que procuram garantir enclaves étnicosprecisamente numa altura em que a mistura crescente de populações está atornar tais projectos utópicos. E há alguns defensores da redistribuição quese tornam proteccionistas precisamente numa altura em que a globalizaçãoeconómica está a fazer com que o keynesianismo seja impossível num paíssó. Nestes casos, o efeito não conduz à paridade de participação, mas antesà exacerbação das disparidades, ao impor à força um enquadramento nacio-nal a processos que são inerentemente transnacionais. Chamo a isto o pro-blema do enquadramento desajustado.

Como a substituição e a reificação, o enquadramento desajustado ameaçaa nossa capacidade de conceptualizar a justiça social num contexto de globa-lização. Para neutralizar esta ameaça, necessitamos de revisitar o problemado enquadramento. O que precisamos é de uma concepção múltipla quedescentre o enquadramento nacional, pois só tal concepção permite acomo-dar toda a extensão de processos sociais que criam disparidades de parti-cipação na globalização.

A necessidade de tal concepção deriva dos desencontros de escala. Porexemplo, muitos dos processos económicos que regem a distribuição sãoclaramente transnacionais. No entanto, os mecanismos redistributivos queherdámos do período fordista situam-se à escala nacional. Em consequên-cia, há actualmente um óbvio desajustamento entre tais processos e meca-nismos. É certo que instituições transnacionais como a União Europeiaprometem ajudar a eliminar o fosso, mas elas próprias manifestam gravesdéfices de justiça, tanto internamente (nas suas propensões neoliberais) como

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externamente (na sua tendência para erigir uma Fortaleza Europa). Paraalém de campanhas dispersas por medidas como o Imposto Tobin ou oRendimento Básico Universal, até tempos recentes pouco tem surgido nohorizonte que augure a superação deste desajustamento de escalas. Contudo,há pouco tempo, alguns segmentos do movimento emergente contra a glo-balização hegemónica neoliberal começaram a pensar seriamente sobre estaquestão. Havendo mais avanços nesta direcção, o Fórum Social Mundialpoderá ajudar a gerar ideias programáticas, bem como energias políticas.

De modo semelhante, muitos dos processos culturais que geram distinçõesde estatuto não podem confinar-se ao enquadramento nacional, na medidaem que envolvem fluxos globais de signos e imagens, por um lado, e prá-ticas locais de hibridação e apropriação, por outro. No entanto, os meca-nismos usados para responder à subordinação de estatuto encontram-seinstalados em larga medida dentro dos países ou Estados-nação, como eracostume chamá-los. Portanto, também aqui encontramos um desajusta-mento. É certo que os novos mecanismos transnacionais para instituciona-lizar os direitos humanos, tais como o Tribunal Penal Internacional, ofere-cem algumas esperanças no que diz respeito ao preenchimento deste vazio,mas são ainda rudimentares e estão sujeitos às pressões dos Estados maispoderosos. De qualquer das formas, tais organizações são provavelmentedemasiadamente globais, demasiadamente orientadas para universais abs-tractos para lidarem com todas as formas de subordinação de estatuto. Pre-cisaremos de outras abordagens para lidar com as formas resultantes dosfluxos culturais que têm uma escala mais “glocal”.

Em geral, nenhum dos enquadramentos por si só se ajusta a todas asquestões de justiça no contexto da globalização. Como vimos, a justiça signi-fica aqui a remoção dos obstáculos à paridade de participação. Porém, comovimos também, há pelo menos dois tipos de obstáculos – a má distribuiçãoe o falso reconhecimento – que não se sobrepõem exactamente um ao outro.Sendo assim, não há garantias de que um enquadramento adequado a umadimensão de justiça sirva também a outra. Pelo contrário, há muitos casosem que as reformas formuladas a partir de uma destas dimensões acabampor exacerbar a injustiça na outra.

De facto, a necessidade de enquadramentos múltiplos é parte inerenteda ideia de paridade participativa. No fim e ao cabo, esse princípio nãopode ser aplicado se não especificarmos qual a arena de participação socialque está em causa e o conjunto de participantes que têm o direito de pari-dade dentro dela. Mas a norma da paridade participativa deve ser aplicadaa toda a vida social. Assim, a justiça requer paridade de participação numamultiplicidade de contextos de interacção, que incluem os mercados de

A justiça social na globalização | 19

trabalho, as relações sexuais, a vida familiar, a esfera pública e as associa-ções voluntárias da sociedade civil. Contudo, a participação tem significa-dos diferentes em cada um desses contextos. Por exemplo, no mercado detrabalho o seu sentido é qualitativamente diferente da participação nas rela-ções sexuais ou na sociedade civil. Portanto, o significado de paridade deveser ajustado ao tipo de participação em questão. Da mesma forma, o con-junto de participantes com direito à paridade é delimitado diferentementeem cada um dos contextos. Por exemplo, o conjunto dos que têm direito àparidade nos mercados de trabalho pode ser maior do que o dos que têm omesmo direito numa determinada associação voluntária da sociedade civil.Por conseguinte, o âmbito da aplicação do princípio deve ser ajustado aocontexto em questão, o que significa que não há uma fórmula única quebaste para todos os casos. Daí que sejam necessários múltiplos enquadra-mentos.

Em termos gerais, então, não há nenhum enquadramento ou nível desoberania que por si só seja suficiente para lidar com a totalidade das questõesde justiça no contexto da globalização. O que é preciso é antes um conjuntode enquadramentos múltiplos e uma concepção de soberania com múl-tiplos níveis. Consequentemente, torna-se inevitável a questão de saberquando e onde aplicar determinado enquadramento. A partir daqui,qualquer discussão sobre a justiça deve incorporar uma reflexão explícitasobre o problema do enquadramento. Relativamente a cada caso, devemosperguntar quem são precisamente os sujeitos relevantes da justiça e quemsão os actores sociais entre os quais se exige que exista paridade de parti-cipação.

Anteriormente, antes da actual aceleração da globalização, a resposta atais perguntas era em grande medida um dado adquirido. Partia-se do princí-pio, geralmente sem uma discussão explícita, de que as esferas da justiçacoincidiam com os Estados e, portanto, que os indivíduos com direito aserem considerados eram concidadãos. Todavia, hoje em dia tal resposta jánão é inquestionável. Dada a crescente relevância tanto dos processos trans-nacionais como dos subnacionais, o país já não pode funcionar como aúnica instância de justiça. Pelo contrário, apesar de continuar a ter importân-cia, o país constitui apenas um de vários enquadramentos numa nova estru-tura emergente de múltiplos níveis. Nesta situação, as deliberações acercada institucionalização da justiça devem ter o cuidado de colocar as questõesno plano adequado, determinando quais os assuntos que são verdadeira-mente nacionais, locais, regionais ou globais. Elas têm de delimitar várioscontextos de participação de forma a distinguir os conjuntos de partici-pantes com direito a paridade dentro de cada uma delas.

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Portanto, em geral, a discussão explícita do enquadramento deve ter umpapel central nas deliberações relativas à justiça, pois só assim poderáneutralizar-se o risco do seu desajustamento na globalização, entendida nãocomo fatalidade ou utopia, mas como um contexto para lutar pela justiça.

5. ConclusãoOs três problemas que identifiquei – a reificação, a substituição e o enqua-dramento desajustado – são extremamente graves. Todos eles ameaçam ajustiça social no contexto da globalização. Na medida em que a ênfase noreconhecimento está a levar à substituição da redistribuição, aquele podevir efectivamente a fomentar a desigualdade económica. Na medida emque a viragem cultural está a reificar as identidades colectivas, corre-se orisco de se sancionar violações de direitos humanos e de se congelar ospróprios antagonismos que esta viragem pretende mediar. Finalmente, namedida em que diferentes tipos de lutas estão a enquadrar desajustada-mente os processos transnacionais, corre-se o risco de truncar o alcance dajustiça e excluir actores sociais relevantes.

Propus neste texto três estratégias conceptuais para neutralizar estesriscos. Primeiro, para contrariar o risco da substituição, propus uma con-cepção bidimensional de justiça que abrange tanto o reconhecimento comoa distribuição. Segundo, para contrariar a ameaça da reificação, propusuma concepção do reconhecimento baseada no estatuto que não conduz auma política de identidade. Terceiro, para contrariar a ameaça do enqua-dramento desajustado, propus uma concepção de soberania de múltiplosníveis que descentra o enquadramento nacional. Todas estas propostas sebaseiam em traços emergentes da globalização.

No seu conjunto, as três propostas constituem pelo menos uma partedos recursos conceptuais de que precisamos para começar a responder àquiloque eu considero ser a mais importante questão política dos nossos dias:como poderemos delinear uma estratégia coerente para reparar as injustiçasde estatuto e de classe no contexto da globalização? Como é que podemosintegrar os melhores aspectos da política de redistribuição e da política dereconhecimento de forma a desafiar a injustiça em ambas as frentes? Se nãoconseguirmos responder a estas perguntas, se nos agarrarmos em vez dissoa falsas antíteses e a enganadoras dicotomias, perderemos a oportunidadede conceptualizar formas de organização social que sejam capazes de repararao mesmo tempo a má distribuição e o falso reconhecimento. Só através daconvergência dos dois objectivos num único esforço será possível cumpriros requisitos de justiça para todos.

Tradução deTeresa Tavares