512
CAPÍTULO 1 Individualismo proprietário na Roma antiga 1.1 Introdução. Não constitui propósito das paglllas que se- guem abordar em profundidade o tema da propriedade no direito romano, mas apenas discutir três aspectos: a ausência, ou escassa relevância, do conceito de direito subjectivo no pensamento dos ju- ristas romanos constituía obstáculo a uma concepção individualista da propriedade (1.2)? Em que sentido se pode caracterizar a proprie- dade do direito romano como absoluta (1.3)? Faz algum sentido falar de um capitalismo antigo, propiciado pelas estruturas jurídicas da posse da terra no direito romano (1.4)? As três questões obedecem ao propósito de questionar um certo modo de ver de acordo com o qual o individualismo constitui apanágio da propriedade moderna. 1.2 Dominium e proprietas na linguagem do direito romano. Num estudo sobre a história do conceito de direito subjectivo, Helmut Coing salientou a necessidade de separar, em qualquer inves- tigação sobre o tema, a procura de uma resposta à questão de saber se numa determinada sociedade, e na ordem jurídica nela vigente, se conhece a ideia de propriedade privada e de um poder de disposição privado sobre os bens necessários à existência humana, por um lado, da procura de vestígios, por outro lado, nessas mesmas sociedade e ordem jurídica, da presença do conceito de direito subjectivo, en- quanto elemento da respectiva ciência do direito l . Por outras pala- I Cfr. Helrnut Coing, "Zur Geschichte des Begriffs 'subjektives Recht"', pp. 8-9. Uma distinção paralela é a estabelecida por Menezes Cordeiro entre uma dimensão dogmática da propriedade enquanto direito subjectivo e uma dimensão significativo-ideológica da proprieda- de, através da qual ela "corporiza as representações políticas, históricas ou sociais que se prendem à apropriação privada da riqueza e, designadamente da riqueza produtiva" (cfr. Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Ponuguês, I - Pane Geral, tomo I, p. 222).

A Justificação da Propriedade Privada numa Democracia Constitucional

  • Upload
    opastor

  • View
    432

  • Download
    22

Embed Size (px)

Citation preview

CAPTULO1 Individualismo proprietrio na Roma antiga 1.1Introduo.Noconstituipropsitodaspaglllasquese-guemabordaremprofundidadeotemadapropriedadenodireito romano,masapenasdiscutirtrsaspectos:aausncia,ouescassa relevncia,doconceitodedireitosubjectivonopensamentodosju-ristasromanosconstituaobstculoaumaconcepoindividualista dapropriedade(1.2)?Emquesentidosepodecaracterizaraproprie-dadedodireitoromanocomoabsoluta(1.3)?Fazalgumsentidofalar deumcapitalismoantigo,propiciadopelasestruturasjurdicasda possedaterranodireitoromano(1.4)?Astrsquestesobedecem aopropsitodequestionarumcertomododeverdeacordocomo qualoindividualismoconstituiapangiodapropriedademoderna. 1.2Dominiumeproprietasnalinguagemdodireitoromano. Numestudosobreahistriadoconceitodedireitosubjectivo, HelmutCoingsalientouanecessidadedeseparar,emqualquerinves-tigaosobreotema,aprocuradeumarespostaquestodesaber senumadeterminadasociedade,enaordemjurdicanelavigente,se conheceaideiadepropriedadeprivadaedeumpoderdedisposio privadosobreosbensnecessriosexistnciahumana,porumlado, daprocuradevestgios,poroutrolado,nessasmesmassociedadee ordemjurdica,dapresenadoconceitodedireitosubjectivo,en-quantoelementodarespectivacinciadodireitol.Poroutraspala-ICfr.Helrnut Coing,"Zur Geschichte desBegriffs'subjektives Recht"',pp.8-9.Uma distino paralela a estabelecida por MenezesCordeiro entre uma dimenso dogmticada propriedade enquanto direito subjectivo e uma dimenso significativo-ideolgica da proprieda-de,atravsdaqualela"corporizaasrepresentaespolticas,histricasousociaisquese prendemapropriaoprivadadariquezae,designadamentedariquezaprodutiva"(cfr. Menezes Cordeiro,Tratado de Direito Civil Ponugus,I - Pane Geral,tomo I,p.222). 30A JustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... vras,Coingadverteparaanecessidadedesemanteremseparadasa questodogmticaeaquestohistrico-socialeculturale,tambm, anecessidadedeseadoptarumaatitudeprudentequantoaplicao numdessesdomniosdasconclusesobtidasnooutro. Estepontodepartidacautelosopermite,comosever,aHelmut CoingchegaraconclusesdiversasdeMichelVilleyquantoquerela sobreaorigemhistricadodireitosubjectivo,muitoemboraaceitea importnciadiminutadoconceitonopensamentojurdicodosroma-nos.Villeyconstriasuateoriasobreaorigemdoconceitodedireito subjectivocomoumainstnciadaoposiodeprincpioentreantigos emodernos,perspectivadasobreabasedadiferenaradicalentreo direitonaturaltalcomoentendidoporunseoutros.Nestestermos,a teoriadeVilleyidentificaagnesedodireitosubjectivocomonasci-mentodoindividualismofilosfico,quesituasobretudonopen-samentodeOckham,comoadiantesever,e,aomesmotempo, procedeaumaleituradalinguagemjurdicadosromanosmargem dequalquersubjectivismo,vendo-acomoaconcretizaonodom-niododireitodaf1losofiadeAristteles.Inversamente,quemassuma umpontodepartidamenoscomprometidocomasummadivisio entreantigosemodernos,podersertentadoainferirdapresenade aspectosdalinguagemdodireitosubjectivoemsistemasjurdicosdo passadoocompromissodessessistemasjurdicoscomumaverdadeira filosofiadosdireitoshumanos,talcomoahojeaentendemos2Nas pginasqueseguemvaiprocurar-sesepararaquestodoindividua-lismonoscontextospr-modernosdacidadeantigadaquestoda linguagemjurdicaatravsdaqualapropriedadecompreendida nessesmesmoscontextos. Importa,pois,atentarnastesesdeVilley,considerandoestas duasdimensesqueacabamdeserreferidas,numaperspectivaes-sencialmenteanaltica,isto,numaperspectivaqueevidencieaquela que,segundooautor,"aprprialinguagemquefoiados jurisconsultosromanos;oprpriopensamentodosromanoseo 2Nesteltimosentido,cfr.GiovanniPugliese,"AppuntiperunaStoriadella ProtezionedeiDirittiUmani",pp.619ess.;TonyHonor,Ulpian:Pioneerof Human Rights,pp.76-93;FredD.Miller,Jr.,Nature,Justice,and RightsinAristotle'sPolitics, esp.pp.87e ss.No deixa deser interessante notar quea posio deVilley criticada por alguns destes autores:cfr.Pugliese, ob.cit.,pp.620-621; Fred D.Miller, Jr.,ob.cit., p.92. PropriedadeeIndividualismoantesdapocaModerna31 modocomoelesseexprimiam"3.Quaisseriam,pois,essespensa-mentoemododeexpresso?SegundoVilley,aocontrriodosnu-merososromanistasdosculodezasseisemdiante,osromanosno pretendiamdesignarcomaexpressoiusinrequalquerrealidade prximadodireitosubjectiv04Arealidadequehojetendemosa exprimircomacategoriadodireitosubjectivonoteriarecebidoum nomenabstractonalinguagemdosjuristasclssicos.Assimasex-pressesvagashabere,me umessepertencemlinguagemdasfr-mulasprocessuais;porseuturnoasexpressesdominium,potestas, outmumsentidomaisrestrito,significandoumdireitosobrecoisas corpreasousobreosmembrosdafailll1ia,ouentoevocamuma noomaisconcreta,adepoders.Aexpressoius,pelocontrrio, significaumacoisaeintegra,nessamedida,asresincorporalesna 3Cfr. Villey,"Du Sens de l'Expression Jus inRe en Droit Romain Classique", p.27. Em outro estudo, Villey insurge-se contra a projeco da moderna noo de direito subjecti-vonasexposiesdedireitoromano(cfr."L'IdeduDroitSubjectifetlesSystmes Juridiques Romains", p.203(= "Les Institutes de Gaius et l'Ide du Droit Subjectif', p.169). 4Segundo Henrique Mesquita, ao ius inreter-se-ia inicialmente chamado ius inrem "emparalelismocomdenominaodadaactioatravsdaqualpodiaser judicialmente defendido"(cfr.ObrigaesReaise6nus Reais,p.45,nota13);para BarryNicholas (An IntroductiontoRoman Law, p.141), o termo ius inrem ingls, embora derivado da actio inremromana,sendoa expressoiusinreo seu equivalente continental[sobre o assunto, emborasempremcausaqueactualmenteaexpressoiusinremmaiscomummente usadaemInglaterraenquantoosjuristascontinentaispreferemiusinre,cfr.Robert Feenstra, "Dominium and ius in re aliena: The Origins of a Civil Law Distinction", p.111e nota3;H.F.Jolowicz,RomanFoundationsof ModemLaw,p.75,Villey,"DuSensde l'ExpressionJusinReenDroitRomainClassique",p.421,nota14,paraosquaisa expresso maisusualna Idade Mdia seria iusinre,sendo depois,nossculosdezasseise dezassete,substituda por alguns autores continentais, por ius inrem]. 5Aoassociargenericamentedominiumepoder,Villeydescuraadistinoentre aquelee oimperium.Segundo Jean Gaudemet,"Dominium-Imperium.LesDeuxPouvoirs dans la RomeAncienne",pp.3 e ss.,a expresso imperium designa,na Roma antiga,"um poderdecomandomilitar,eporissocomdimensopoltica,comcertosaspectosdeum poderreligioso"(ob.cit.,p.6),e"evocasempreumaautoridadesobreoshomens,um poder pessoal,relaespolticasdesuperiora inferior"(ob.cit.,p.13).Diversamente, coma expressodominium"dopolticopassamosparaodomstico,paraombitodo casa, a domus"(ob.cit.,p.8).Ainda segundo Gaudemet, o termodominiumteria aparecido apenasnosculo I a.C.para "marcar a oposio entre o senhorio de uma coisa (dominium) eumaservidoouousufrutodacoisa,aindadesignadospelapefrasedireitosobreas coisasiurapraediorum"(ob.cit.,p.9).Estaoposio,associadaaocontedoimpreciso 32AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... conhecidadistinoestabelecidaporGaiusentreestaseasres corporales6Oiusseria,pois,umacoisa- enuncaumdireitosobre umacoisa- qualfaltaumabasematerial,econsistenuma"institui-ointeiramentecriadapelosjuristas",em"valoresrepousandoso-breaexistnciadeinstituiesjurdicasobjectivasdeterminadas"? Porseuturno,apalavraproprietasnodesignaria,napocaclssica, odireitosubjectivodepropriedade,masumaqualidadeabstractada coisa,asuaqualidadedeserprpriadealgum,deserobjectode apropriao.Nestaconformidade,aproprietas,emboranosejauma res,umacoisacorpreaparticular,surgecomoumseuelemento indissocivele,nessamedida,contm-senaideiaderescorporalis. Assimseexplicaria,segundoVilley,quenoregimedasfrmulas processuaisnosereivindicasseodireitodepropriedade,masares (reammeamesse)ouaindaqueatransmissodapropriedadeno do dominiumcomo expresso do poder dosenhorsobre ascoisas,desempenha um papel importante na tesedeVilleysobrea alegadaausnciadoconceito dedireitosubjectivono direito romano.Por agora interessa registar apenas que o termo dominium designa, segundo Gaudemet, "o senhorio dohomem sobre ascoisas (res),que se exerce no mbito domstico (domus)"(ob.cit., p.14), por oposio conotao poltica do termo imperium. 6Cfr.GaiInstitutionumCommentariiQuattuor,11, 12-14(adiantecitadoGai.):"12. Quaedampraeterearescorporalessunt,quaedamincorporales.13.Corpo raleshaesunt, quaetangipossunt,velutfundus,homo,vestis,aurum,argentoetdeniquealiaeres innumerabiles.14.Incorporalessunt,quaetanginon possunt,qualiasuntea,quaeiniure consistunt,sicuthereditas,ususfructus,obligationesquoquomodocontractae.necadrem pertinet,quodinhereditaterescorpo ralescontinentur,etfructus,quiexfundo percipiuntur,corporalessunt,et id,quodexaliquaobligationenobisdebetur,plerumque corporale est,veluti fundus,homo, pecunia:nam ipsum ius successionis et ipsum ius utendi fruendietipsumiusobligationisincorporaleest.eodemnumerosuntiurapraediorum urbanorum et rusticorum."(= TheInstitutes ofGaius, pp.126-129). 7Cfr.Villey,"DuSensdeJ'ExpressionJusinReenDroit RomainClassique",pp. 427e429.SegundoPugliese,aousar estesconceitos,prximosdateoriainstitucionalista deMauriceHauriou,oprprioVilleydemonstrariaaimpossibilidadedetratarodireito romanosemoauxliodeconceitosnascidosforadele(cfr."ResCorporales,Res Incorporalese ilProblema deiDiritto Soggettivo", pp.242 (= StudiinOnore diVincenzo Arangio-RuiznelXLV AnnodeiSuoInsegnamento,vol.m,pp.223ess.).Nomesmo sentido,EmilioBetticriticaaVilleyaorientaodoseuinteressedehistoriador noj a entenderadisciplinaromanadasrelaesdavida,masaoparticularmododeasvere apreender por partedos juristas romanos,isto,doseu interesse exclusivo pela concepo dogmtica desses juristas (cfr."Falsa Impostazionedella Questione Storica,Dipendenteda Erronea Diagnosi Giuridica", p.398). PropriedadeeIndividualismoantesdapocaModerna33 incidissesobreumdireito,massobreaprpriares,queconteriaa proprietas.Aexpressoiusdesignariaapenasascoisasincorpreas, aquelasquesooobjectodaquiloaquehojechamamososdiferen-tesdireitosreaismenores,comoousufrutoeasservides.Nesta sequncia,compreende-secomopodeumiuschegaraserinre.Isso nosignificaria,segundoVilley,aexistnciadeumdireitosobre umacoisa,masqueumacoisajurdicaincorpreasecontmnuma coisacorprea8 Comsemelhanteentendimento,aargumentaodeVilleycolo-cadesdelogoumproblema:porquerazoaproprietasporele apresentadacomocontidanaideiaderescorporalis,comoindisso-civeldares,masnoidentificadacomela,umavezqueestauma simplescoisamaterial,enquantoosiurainresojapresentados comoverdadeirascoisasincorpreas?Arazo,segundoele,spode sercompreendidaluzdasjaludidasnoesclssicasromanasde coisacorpreaecoisaincorprea.Averdade,porm,quequando Villeyserefereproprietascomoindissociveldares,emborano identificadacomela,afirmaoseucarcterde"valorincorpreo"9. nestepontoquesetornaimpossvel,naprpriaargumentaode Villey,escaparaotratamentodoconceitodedominium,cujaproxi-midadedaquiloquehojeentenderamoscomoumdireitosubjectivo aceitaexpressamente 10.Compreende-seassimporquerazoa proprietassurgeapresentadacornournaespciedetertiumgenusno 8Cfr. Villey, "Du Sens deJ'Expression Jusin Re en Droit Romain Classique", p.431. 9Cfr.Villey,"DuSensdeJ'ExpressionJusinReenDroitRomainClassique",p. 429 (" certamente [a proprietas]umvalor incorpreo; mas este valor no saberia constituir umbemdistinto,separadodacoisa;opostocoisa;quepossapertencer aumapessoa diferente daquela qualpertencea coisa corprea ousofrer um destino diferente"),p.430, nota 38("valor incorpreo que a proprietas"). 10 Cfr.Villey,"DuSensdeJ'ExpressionJusinReenDroitRomainClassique",p. 429;idem,"L'Ide duDroit Subjectif etlesSystemes Juridiques Romains",p.224-225(= "Les InstitutesdeGaius et I'Ide duDroit Subjectif', pp.186-187).Deresto,no inteira-mente claro o conceito dedireito subjectivo tida em vista pelo autor:uma vezes refere-se-lhe comoenvolvendo"poderesdohomemsobreasres"(cfr."L'Ide... ",pp.214,220;"Les Institutes ... ",pp.179,183),para depoiso definir como"uma faculdadequepertencea um sujeitoactivocontrasujeitospassivos"(cfr."DuSens ... ",p.430,nota39;"L'Ide ... ",p. 214,nota1:"Les Institutes ... ", p.179,nota 2). 34AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... seiodadistinoentrecoisascorpreasecoisasincorpreasll;sea resimplicaaproprietaseestaconsistenodominiumemsentido objectivO!2,qualificaresteltimo(quenopodedeixardeserenten-didocomoaproprietasemsentidosubjectivo)comoumius(porsua vezidentificadocomascoisaincorpreas)fariaruiratentativade excluirosubjectivismodalinguagemjurdicadosromanos.Mas claro,ocustodestaconstruoodefazerdarescorporalisuma "singularmisturadematriaedireito",comoadvertiuGiovanni Pugliese!3.Poroutraspalavras,atesedeVilleytemdesdelogooefeito detornardogmaticamenteproblemticaaprpriadistinoentreres incorporaliserescorporalis.Taltesepareceretomaraideia,comum entreosromanistas,dequeosromanosdesignavamporiurainreos direitoscorrespondentesapartesdestacadasdapropriedadeporopo-sioaodominiumenquantototalidadedetodososdireitosreais!4, 11 Acolocaoda proprietasedodominiumcomoumlimitedistinoentreres corporaliseresincorporalisnoapenasexperimentadaporVilIey.TambmMario Bretone,numaobraquevisaigualmentesalientarocarcterobjectivistadascategorias jurdicas dosromanosese estruturatambm sobre acontraposio entreantigosemoder-nos (embora sem oradicalismodeVilley),afirma que"toda arelao jurdica, que nose resolva imediatamente numa coisa corprea susceptvel de a exprimir (penso, como bvio nodominium),podeencontraroseulugarnoesquemadasresincorporales"(cfr.I Fondamenti dei Diritto Romano.LeCose e laNatura, p.222). 12 o prprio VilIey quem oafrnna:cfr."Du Sens de l'Expression JusinRe en Droit Romain Classique", p.430, nota 36. A diferenciao estabelecida por Villey entre proprietas e dominiumencontra-sej inteiramentepresentenaseguinteafirmaodeVittorioScialoja: "Proprietas indica principalmente o elemento de pertena da coisa de que se tem a propriedade ( ... ). Dominium, por seu turno,exprime talvez antes oconceito de dominao, de explicao da vontade do proprietrio, de sujeio da coisa sua pessoa." (cfr. Teoria della Propriet nel Diritto Romano, I,pp.257-258; Max Kaser, Eigentum und Besitz in iilteren r6mischen Recht, pp. 307-312; Dietrnar Willoweit, "Dominium und Proprietas", pp.138-139). Il Cfr.Giovanni Pugliese, "Res Corporales,Res 1ncorporalese il Problema dei Diritto Soggettivo", pp.255 e 258. 14 Cfr.F.C.vonSavigny,DasRechtdesBesitzes,p.114enota2;MaxKaser, DireitoPrivadoRomano,p.137;ErnstLevy,WestRomanVulgarLaw.TheLawof Property,p.19.Istosem prejuzo de numa poca maislongqua asservidesprediaisno serementendidascomodireitosreaislimitados,oudireitosreaissobrecoisaalheia,mas como propriedade, ainda que funcionalmente limitada, e da que alguns autores mencionem, para taiscasos, no direito romano mais antigo,a existncia de uma "propriedade funcional-mente dividida",entreodonodo prdio serviente eotitular da servido(cfr.Max Kaser, "ber'relativesEigentum'inaltrmischenRecht",pp.34-36;Frank MartinKrauss,Das geteilte Eigentum im19.und 20.Jahrhundert, p.17). PropriedadeeIndividualismoantesdapocaModerna35 comadiferenadequeosprimeirosnoconstituiriamdireitoem sentidosubjectivoporquesoresl5,eosegundo,naacepomencio-nada,smuitotardiamenteteriapenetradonalinguagemjurdicados romanos!6,constituindodealgummodoumadistorodamesma. OcarcterparticularmentepolmicodoentendimentodeVilley resultadacircunstnciadenoseterlimitadoaprocurardemonstrar queajurisprudnciaromananoelaborouoconceitodedireitosub-jectivo,masdeterpretendidosustentarairrelevnciadequalquer momentosubjectivo,comofaculdadeoupoder,nalinguagemjurdica dosromanos!?Comefeito,paraosintuitosdeVilley,nosentidode 15 Villey afrnna, com efeito, em relao aosentido da palavra iura, que "ela no pode serumdireito,umavezqueumares"(cfr."L'IdeduDroitSubjectif etlesSysremes JuridiquesRomains",p.215(esta passagem, que no consta da posterior verso do mesmo artigo"LesInstitutesdeGaiuset l'Idedu DroitSubjectif',pp.180ess.,deuazoaque Emilio Bett acusasse oautor de incorrer em petio de princpio:cfr., deste ltimo,"Falsa Impostazione della uestione Storica, Dipendente da Erronea Diagnosi Giuridica", p. 400; no mesmo vcio incorre Villey, La Formation delaPense Juridique Moderne, p. 246, quando afirmaqueparaosromanosodominiumnopodeserumdireitosubjectivoporqueos romanos o ope aos jura de que pode gozar um indivduo - sive dominus,sive is qui jus in rehabet-, quandocertoqueparaVilleytaisjuranosotambmentendidospelos romanos como direitossubjectivos,apesar deo autor se lhesreferir sempre, como se acaba de ver, em termos de uma relao de apropriao). 16 Cfr.Villey,"DuSensdel'ExpressionJusinReenDroitRomain Classique",p. 424.Oprimeirotexto latinoem que apalavra dominiumutilizada para designar anoo abstractadepropriedadeseriaumapassagemdojurisconsultoAlfenusVarus,cnsulno ano39a.C.(Digesta,8,3,30):cfr.RaymondMonier,"LaDated' Apparitiondu Dominium et de la Distinction Juridique des Res en Corporales et 1ncorporales", p.359; L. CapogrossiColognesi,,LaStrutturadellaProprietelaFormazionedeiJura Praediorum nell'Et Repubblicana, I, p.493; A. Santos Justo,Direito Privado Romano-III (Direitos Reais), p.15, nota 2; J.A.D'Ors, Derecho Privado Romano, p.185. I7 Cfr.MarioBretone, 1FondamentideiDirittoRomano.LeCosaelaNatura,p. 283.Criticando a posio de Villeycfr.,alm dostextos de Pugliese eBetti j citados, Ols Robleda, S. J.,"La Idea deIDerecho Subjectivo en el Ordenarniento Romano Clasico", pp. 23ess.;idem,"EI Derecho Subjetivo en Gayo",pp.7ess.;Yan Thomas,"Michel Villey, la Romanistique et le Droit Romain", esp. pp.37-39 [num estudo anterior, este autor chegou noentantoasustentar,emtermosbemmaisprximosdeVilley,aimpossibilidadede "pensaremtermosdeanttesearelaosujeito-objectoemdireitoromano":cfr.Yan Thomas, "Res, Chose et Patrimoine (Note sur le Rapport Sujet-Objet en Droit Romain)",p. 425].Privilegiandotambmuma perspectiva objectiva,massem oradicalismodeMichel. Villey, cfr.Alvaro D'Ors, "Aspectos Objetivos y Subjetivos dei Concepto deIus",279 e ss.[defendendoocarcterequidistanteouintermdiodoconceitodeius,cujosentido apresentaria"tantosaspectosobjectivoscomoaspectossubjectivos,semque,poroutro 36AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... encararalinguagemjurdicadosromanoscomoumainstnciada contraposioradicalentre"opensamentorealista,decortearisto-tlico" 18,dosantigoseoindividualismodosmodernos 19,nobastava demonstrarqueombitodaquelalinguagemnofoielaboradoo conceitodedireitosubjectivo,emsentidodogmtico;tomava-seainda necessrioexcluiromomentosubjectivo,arefernciaaopoderdo sujeito,dessamesmalinguagem.nestepontoqueimportaretomar adistinoestabelecidaporHelmutCoing,atrsmencionada,' entrea existncianumadeterminadasociedadedaideiadepropriedadepriva-daedeumpoderdedisposioprivadasobreosbensnecessrios existnciahumanaeaquesto,algodiversa,desabersenessamesma sociedadefoielaboradooconceitodogmticodedireitosubjectivo. Coingatribuiaausnciadequalquerpapeldecisivodaideiade direitosubjectivonodireitoromanoclssicoausnciadeumadis-tinoclara,nessembito,entreactio,enquantopretensoprocessual, eius,enquantodireitosubjectivosubstantiv02oOmesmoautorsalien-tatambmainexistnciadequalquerdefiniodepropriedadeno direitoroman021Masissonosignifica,comojseteveocasiode afirmar,quedaausnciadeumadefiniododireitosubjectivoou lado, chegasse a ser entendido como duas acepes distintas, como acontece, pelo contrrio, hoje"(cfr.oh.cit.,p.282)];CarloGioffredi,"OsservazionesulProblemadeiDiritto Soggettivo nel dirittoRomano",pp.227ess[oqual,reconhecendo queiusexprime clara-mente o significado de urna faculdade,sustenta que falta na experincia romana um conceito autnomoeunitriodedireitosubjectivo,comocomplexodefaculdadesatribudasaum sujeito, resultantes de uma norma, e contraposto ao direito em sentido objectivo (cfr.oh.cit., p.238)].Oqueseretiradostrabalhosdosautoresnestanota citadosque,por umlado, aquelesquetendemaadoptar uma perspectiva objectivasobreodireitoromano(Bretone, d'Ors, Gioffredi) reconhecem, todavia, a presena deum momento subjectivo na respectiva linguagem jurdica, por outro lado,osautoresquesustentam a presena da ideia dedireito subjectivona mesma linguagem(Betti,Pugliese,Robleda,Thomas)reconhecemqueessa presena no se manifesta pela palavra, mas pela clara existncia de atribuies subjectivas. 18 A expresso deMichel Bastit,umdiscpulo deVilley,em "La Diversidad en las InstitucionesdeGayo",p.24,cujointuitoode"notar aconcordncia entreomundode Gaius e o pensamento realista, de corte aristotlico". 19 E, como adiante se demonstrar a propsito da propriedade,afigura-se escassamen-terelevante a oposio entre antigos e modernos para a compreenso da categoria dogmtica do direitosubjectivo (nestesentido,cfr.Yan Thomas,"Le Sujet deDroit,la Personneet la Nature.Sur la Critique Contemporaine duSujet de Droit", p.105). 20Cfr.H.Coing, "Zur Geschichte desBegriffs'subjektives Recht"', p.11. 21 Cfr.H.Coing, "Zur Geschichte desBegriffs'subjektives Recht''', p.12. 1 PropriedadeeIndividualismoantesdapocaModerna37 dapropriedadesepossamextrairconclusesquantoexistnciade propriedadeprivadaoudeumamplopoderdedisposioprivada sobreascoisas.Poisbem,seaquisecontrastamosentendimentosde MichelVilleyeHelmutCoingquantoaoproblemadaorigemdo direitosubjectivo,issoaconteceporduasrazes:porumlado,estes doisautoresnosepreocupamapenasemdiscutiraquestolimitada dapresena(ouausncia)doconceitodedireitosubjectivonodireito romano,masprocuram,paraalmdisso,explicaragnesehistrica doconceito;poroutrolado,ambososautoresargumentamexpressa-mentecomaausnciadecontedotcnicodostermosdominiume proprietas,aqualsteriaocorridoapartirdaRepblicatardia.Esta ltimaargumentaono,todavia,equivalentenopensamentodos doisautores.Assim,Villey,comoseviu,fazdecorreraexclusodo dominiumdalinguagemjurdicaclssicadosromanosdaimportn-ciaqueatribuidistinoentrerescorporaliseresincorporalis. HelmutCoing,porseuturno,parecefazerderivaraausnciadeuma definio,querdodireitosubjectivo,querdapropriedade,daestrita relaoqueestabeleceentreoiuseoprocedimentolitigiosono direitoroman022NasreflexesdeCoingavulta,pois,arelevncia domomentoprocessualcomocaractersticadalinguagemjurdica romanaeseriaessarelevnciaqueexplicariaaausnciadeuma definiodepropriedade,poisapesardasuperaodaslegisactiones edoadventodasmaismodernasfrmulasprocessuais,nofimda Repblica,nuncachegouaverificar-seumaevoluoparaumasiste-matizaojurdicaemtermossubstantivos23Simplesmente,como 22 Cfr.,nomesmosentido,MenezesCordeiro,TratadodeDireito CivilPortugus,I - Parte Geral,tomo I,p.105. 23 Subjacenteaestemododeverascoisas,quesalientaarelevnciadomomento processualnalinguagem jurdica dosromanos,nosepodedeixar demencionar ateseda "propriedaderelativa"deMaxKaser.Segundoesteautor,noantigoprocessoromano relativopropriedade,alegisactiosacramentoinrem(cfr.Gaio,Inst.IV,16;The InstitutesofGaius, pp.410-415),ambasaspartesafirmavam ser proprietrios,tendo o juiz dedecidirqualdelasproprietrio,por,emconfrontocomacontraparte,lheassistiro melhordireitosobreacoisa,masnopodendorecusaraacopornenhumdelesser proprietrio.A proteco da propriedade, num contexto em que os direitos autnomos sobre coisa alheia eram ainda entendidos como uma espcie de propriedade, seria assim meramente relativa,pelomenosataosurgimento doprocedimento da reivindicatio(cfr.MaxKaser, EigentumundBesitz ... ,pp.8ess.,83-86;idem,DireitoPrivadoRomano,pp.138-139; idem,"Der romischeEigentumsbegriff',pp.20-29).Cfr.,noentanto,ascrticasdeLuigi 38AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... adverteCoinglogonoinciodasuaindagao,estasitua-senoplano dogmticoenopretendeextrairconclusesquantopresenade umpoderdedisposioprivadasobreascoisas,nemsequerquanto aoindividualismoquelheestarsubjacente.Naverdade,aexplica-odaausnciadeumadefiniodepropriedadepelosjuristasro-manos,combasenumavisoaindapredominantementeprocessual dodireito,noincompatvelcomoreconhecimentodanatureza individualistadodireitoromanodapropriedade.ComoafirmaFritz Schulz,nofoioconceitoromanodepropriedadequefoiconstrudo deformaindividualista,massimoseuregimejurdico24 Paradoxalmente,anaturezaindividualistadapropriedadea conclusolgica,aindaquenovoluntria,doprprioentendimento deVilleyquantoaomodocomoapropriedadefoiacomodadana CapogrossiColognesi,LaStrutturadellaProprietelaFormazionedeilura PraediorumneU'EtRepubblicana,I,pp.121ess.,epp.396ess.;idem,"Propriet (DirittoRomano)",pp.167-168;e,sobretudo,AlanWatson,TheLawof Propertyinthe Later Roman Republic, pp. 91-96. Uma boa aproximao tese de Kaser a de Peter Birks, "The Roman Law Concept of Dominium and the Idea of AbsoluteOwnership", pp.28-29, salientando, por um lado, como as palavras empregues nas afirmaes das partes no mbito da legis actio, segundo Gaio, no so necessariamente aquelas com base nas quais a questo era decidida,comoparecem pressupor oscrticosdeKaser,e,por outrolado,em sentido contrrio, a improbabilidade deuma descontinuidade radical entre a legis actio e o processo formulrio.Posteriormente,MaxKaserveiosustentarnovamenteatesedapropriedade relativa, reafirmando que o carter relativo se refere em primeira linha proteco processual (assim,segundo Kaser, cada sentena permanece justa ainda quando,num segundo processo, ovencedordoprimeirodevaservencidopelo"ainda"melhor direitodeumterceiro,en-quanto mais tarde, com uma segunda sentena que reconhea o direito de um terceiro sobre acoisa,demonstra-seaincorrecomaterialda primeirasentena)equeelenope em causaaessnciadopodersobreascoisasenquantoelementodopoderdomstico (Hausgewalt)queincumbe aopaterfamilias;dequalquer modo,Kaserarrma quemesmo na praxis do antigo direito romano a maioria dosbens materiais encontrava-se em regra nas mos domelhor pretendente e,nessa medida, os casos de titularidade "relativa" constituam aexcepo(cfr."ber'relativesEigentum'inaltrmischenRecht",pp.3-4,23-24;no pode deixar de se notar como a tese da "propriedade relativa" corresponde, na sua essncia, aotratamento dasquestessobreapropriedade nodireitoingls,emquese procura deter-minar qualdosdoislitigantestemomelhordireitosobreacoisa:A.W.B.Simpson, An Introductionto the History ofthe Land Law,pp.24-43 e 135-145). 24 Cfr.FritzSchulz,PrincipiosdeiDerechoRomano,p.174;L.Capogrossi Colognesi,LaStrutturadellaProprietelaFormazionedei e deaquisio de bens (Gterbeschaffung),salientando que uma determinao docontedo e limitesdapropriedadequeexceda oslimitesdoprincpiodaproporcionalidadeconduz respectiva inconstitucionalidade,masnoa uma expropriao(cfr.Rittstieg,Eigentumais Verfassungsproblem,pp.411-415;asideiasde Rittstieg foramdepoisretomadas por Lege, ZwangskontraktundGiiterdefinition,p.59).ComosalientaRozek,DieUnterscheidung vonEigentumsbindung und Enteignung,p.99, o conceito formalde expropriao do Tribu-nalConstitucionalalemoaproxima-se,noessencial,dasposiesdefendidaspor Drig. Com efeito, j Drigsedistanciava do conceito clssico em relao aosseguintes aspectos: (i) para ele,o objecto da expropriao no so imveis e outras coisas,mas todos os direitos subjectivoscomvalorpatrimonial;(ii)a expropriaopodeconsistirnameraprivaoda propriedade,nosendonecessriaasuatransmissoparaumnovoproprietrio;(iii)a expropriaopodeserlevadaacabodirectamentepelaleiejnoapenasporumacto jurdico concreto;(iv) deixa de ser necessria a afectao do bem expropriado a um concreto empreendimento.Admitindo a possibilidade, em facedodireito portugus, deseexpropria-rem,paraalmdecoisasimveis,"patentesdeinveno,direitosdeautoroudireitos fraccionrios da propriedade a que j no corresponde a translao de coisas", cfr. Marcello Caetano,"Em TomodoConceitodeExpropriaoporUtilidadePblica",pp.173ess.; idem,Manual deDireito Administrativo, vol.lI, pp.1020-1021, nota 2. Apropriedadecomoproblemaconstitucional1007 dela,oproprietrioprivadodeumaconcretaposiojurdica,garan-tidapelaConstituio,combasenopressupostodequeaexpropria-oserveointeressepblicoenecessriarealizaodeumfim deinteressepblicodeterminado.Poroutrolado,noplanododireito objectivo,aexpropriaonorepresentaarestriogenricadeum direitofundamental,masantesalimitaodombitodevalidadede umdireitofundamentalapropsitodeumseuobjectoconcreto; nessamedida,nopodefalar-sedeexpropriaoquandoestem causaumamodificaogeraldodireitoobjectivo.Pelocontrrio,a determinaodocontedoelimitesdapropriedadesignificaafixa-oemtermosgeraiseabstractosdosdireitosedeveresdopropriet-rio.Umaafectaoexcessivadaposiodoproprietrioatravsde taisnormasnosetransformaporissonumaexpropriao,antes conduzindoinconstitucionalidadedadeterminaodocontedoe limitesemcausa.Finalmente,olegisladorpodeestarobrigado,em determinadoscasos,previsodedeveresdecompensao,deforma asuavizarencargosexcessivosestabelecidossobreoproprietrio. Masenquantoaexpropriaoconsistenumaverdadeirainterveno noobjectododireitofundamentaldepropriedade,adeterminaodo contedoelimitesdapropriedadeconformeConstituioforma apenasocontedodagarantiadapropriedade,semconfigurarqual-querintervenonoobjectododireitofundamental. Oconceitodeexpropriaoassimdelineadoformal,vistoque secaracterizapelaperdadeumdireitodoproprietrio,resultantedeum actodopoderpblico(leiouactoadministrativo)orientadoparaesse fimepraticadoporummotivodeinteressepblicodeterminado376. 376 Importa aqui salientar quealgumascrticasda concepo formaldeexpropriao nopem em causa os critriosformaismencionados notexto, designadamente o da priva-o,totalouparcial,deumdireitopatrimonialprivado,masanecessidadedasua complementao por um critrio material, respeitante intensidade da leso no direito funda-mentaldepropriedade.Reconhece-se,assim,quesea expropriaonofornecea designa-odeconjuntoparatodososcasosdesacrifciodedireitospatrimoniaisprivados,ela apenasexistequandoaprivaodeumdireitopatrimonialprivadorepresentaria,semin-demnizao,um encargo contrrio aos princpios da proporcionalidade e da igualdade. Esta correco substancial da concepo formala que alude o texto seria sobretudo vlida para os casosdeprivaoparcialdodireito(cfr.FrankRaue,DieZwangsvollstreckungais NagelprobefordiemodemenEigentumsbegriff,pp.263-264e285-286).Oautortem sobretudoemvistaoscasosdeconstituiodeservidesdedireitopblico,comummente 1008AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... Paraalmdadistinoformalquantoaospressupostosdaexpropria-o(actodopoderpblicovisandoaprivaodeumaconcreta posioJurdica)edadeterminaodocontedoelimitesdaproprie-dade(definionormativadosdireitosedeveresdoproprietrio),h aindaadistinotambmformalquantosconsequnciasdaverifi-caodeumaououtrasituao.Temosassim,porumlado,odever deindemnizao,queexistenocasodeexpropriao,masno,em princpio,nadeterminaodocontedoelimitesdapropriedade.Por outrolado,humadistinorelativaaosmeioscontenciososdispon-veis.Enquantooexpropriadorecorreaostribunaiscomunsparafa-zervaleroseudireitodeindemnizao,aquelequeseconsiderar afectadoporuma(re)definionormativadoseudireitodeproprie-dadecontrriaaosprincpiosdaproporcionalidadeedaigualdade deverecorreraostribunaisadministrativoscomvistaaeliminara violaodoseudireito,impugnandoasnormasquerepute inconstitucionaisporviolaodagarantiaconstitucionaldaproprie-dade.Oafectadonopoderetirarimediatamente,da inconstitucionalidadedalesodoseudireito,apretensoaumain-demnizaoporexpropriao,nemtopoucooptarentrerecorrer aostribunaisparaeliminaralesodoseudireitoouparaobteruma indemniza0377Sobesteaspectoexiste,pois,umaradicalinverso deperspectivaemrelaojurisprudnciadoSupremoTribunal Federalalemo,emquesedescuravaporcompletoaprotecojur-dicaprimriaeseaceitavaqueaointeressadocabiaumdireitode escolhaentreaquelaeaprotecojurdicasecundria,subordinada aolema"suportaeliquida"("duldeundliquidiere")378. abrangidospelaconcepofonnaldeexpropriaosegundoadoutrinaalem.Nopode deixar-sedenotar quesemelhante correcosubstancialaoscasosdeprivaoparcialdo direitodepropriedadepareceestarsubjacenteaoregimeprevistonoartigo8.doCdigo dasExpropriaes,aprovado pela Lein.o168/99,de18deSetembro, para a indemnizao devida pela constituio de servides de direito pblico. 377 Paraaexposioqueantecede,com referncias jurisprudncia constitucional, cfr.Ulrich Hosch,Eigentumund Freiheit,pp.212-213;ChristophKlpmann,Enteignende Eingriffe?, pp.100 e ss. 318 Cfr.JochenRozek,DieUnterscheidungvonEigentumsbindungund Enteignung, p.71;Jan-R.Sieckrnann, Modelle desEigentumsschutzes, p.29. Apropriedadecomoproblemaconstitucional1009 2.7.2Afiguradadeterminaodecontedoenvolvendoum deverdecompensao.Seriaerradopensar-se,hoje,queorecursoa umconceitoformaldeexpropriaoconseguevazarporcompleto, nosmoldesdadistinoentreexpropriaoedeterminaodocon-tedoelimites,oscasosdeintervenonodireitodepropriedade sujeitaaindemnizaoeoscasosemqueestasujeiosenoverifica. Logoem1951HansPeterIpsenformulouemtermosincisivos ostermosdadecisoquenofuturohaveriaquetomarsobreainter-pretaodoartigo14.0 daLeiFundamentalalem:re!:upexao dogmticadoconceitodeexpropriaonosentidorestrito,ecom issodistinoentredeterminaolegislativadocontedodaproprie-dade,porumlado,e,poroutro,restriodapropriedadesempreen-cherosrequisitosdaqueleconceitoqueseria,noentanto,deindemni-zarnoscasosdesacrifcioespecialdeacordocomospressupostos do75daIntroduoaoAllgemeinesLandrecht;emalternativa, insistncianaaplicaodoconceitoamplodeexpropriao,adistin-guirdadeterminaodocontedoelimitesdapropriedade,no sujeitaaindemnizao,nostermosdasteoriasdoactoindividuale dadignidadedaprotec0379 Foi,noentanto,atravsdadecisodoTribunalConstitucional alemosobreodepsitolegaldelivros,de14deJulhode1981,que oprimeirocaminhocomeouasertrilhado.Atravsdaqueladeciso considerou-seviolaragarantiaconstitucionaldapropriedadeuma normaimpondoaoeditorodeverdefornecergratuitamenteauma bibliotecapblicaumexemplardecadaobraimpressa,nocasode umaimpressodereduzidatiragemenvolvendograndesdespesas38o OTribunalentendeuque,noobstanteestivesseemcausaaobriga-odeentregadeumnicoexemplaremcadaedio,nosepodia falardeumaexpropriao,umavezqueanormanoconcedequal-querpoderAdministraopara,atravsdeumactoindividual, 319 Cfr. H.P.Ipsen,"Enteignung und Sozialisierung", pp.93-94.No mesmo sentido, cfr. Drig, ''Zurck zum klassischen Enteignungsbegriff', pp. 4 e ss. 380 Cfr.EntscheidungendesBundesverfassungsgerichts,vol.58,pp.137ess.; Rudolf Steinberg /AndreasLubberger,Aufopferung - Enteignungund Staatshaftung,pp. 153ess.;ChristophKlpmann,EnteignendeEingriffe?,pp.120-123;JochenRozek,Die UnterscheidungvonEigentumsbindungundEnteignung,pp.76-79;SchOnfeld,Die Eigentumsgarantieund NutzungsbeschrankungendesGrundeigentums,pp.34-35. 1010AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... lanarmodeumobjectodepropriedadenecessrioprossecuo deumdeterminadofim.Pelocontrrio,anormaprev,emtermos geraiseabstractos,umaobrigaodeprestaodeumacoisa(a entregadeumexemplardecadaediodeumlivro)e,nessamedi-da,integraodireitoobjectivo,aodeterminarocontedodaproprie-dadedaobraeditadaenquantouniversalidadedetodososexempla-resqueacompem381.Aomesmotempo,entendeuoTribunalquea ponderaoentreaintensidadedaimposiolegislativaeopesoda suajustificao,ointeresseculturaldacolectividade,emespecialo interessedasgeraesfuturasnoconhecimentodaproduocultural decadapoca,temcomoresultadoque,tratando-sedeobrascom elevadoscustosdeimpressoetiragensreduzidas,aobrigaode entregadeumexemplarultrapassaoslimitesimpostospelapropor-cionalidadeerazoabilidadefixaodocontedodapropriedadedo editor.Assim,anormaemcausaviolariaoprincpiodaigualdade quedevesertomadoemconsideraonafixaodocontedoe limitesdapropriedade,aoabrigododispostonoartigo14.,n.o1,2a parte,daLeiFundamental.Umdevergeraldeentregacomexcluso decompensaoconduz,nasuaaplicaoconcretaeconsiderandoa diversidadedaactividadeeditorial,aintervenesnapropriedadede intensidadeconsideravelmentediversa.Umataldiversidadedeefei-tosdevetambmsertomadaemconsideraonombitodemedidas legislativasadoptadasnostermosdocitadoartigodaLeiFundamen-taP82.Combase,designadamente,nestadecisodesenvolveu-seo conceitode"determinaodecontedoenvolvendoumdeverde compensao"(ausgleichspflichtigeInhaltsbestimmung),queno, noentanto,nelaempregad0383.Aquestoentosuscitadaade saberse,combaseemtalconceito,noseacabaporaceitaraimpos-sibilidadededelimitarnumplanomeramenteformalosconceitosde determinaodecontedoeexpropria0384.Poroutraspalavras,o 381 Cfr.EntscheidungendesBundesverfassungsgerichts,voI.58,pp.144-145. 382 Cfr.EntscheidungendesBundesverfassungsgerichts,voI.58,pp.150-151. 383 Afigurafazsentidoemoutroscontextosdevinculaosocialdapropriedade, designadamentepor motivosecolgicos:cfr.GomesCanotilho,ProtecodoAmbientee Direito dePropriedade, pp.96-97. 384 Cfr.UlrichHosch,EigentumundFreiheit,p.214;Eschenbach,Der verfassungsrechtlicheSchutzdesEigentums,pp.538ess.;Schonfeld,Die Eigentumsgarantieund NutzungsbeschrankungendesGrundeigentums,pp.56 e 71. Apropriedadecomoproblemaconstitucional1011 conceitode"determinaodecontedoenvolvendoumdeverde compensao"acabariaporimplicartambmorecursoacritrios materiaisprximosdaideiadesacrifcioespecial,subjacenteaocon-ceitoamplodeexpropria0385.Talconceitoequivaleriaafinalre-cuperaodaideiade"intervenoexpropriativa"subjacentequele conceitoamplo. Averdadequeasdvidasassimsuscitadasnotmrazode ser.Narealidade,podemesmoafirmar-sequeadecisosobreo depsitolegaldelivrossobretudorelevanteaopremcausaa "teoriadatransformao":aclassificaodeumanormacomodeter-minaodocontedoelimitesdapropriedadeconduzforosamente, segundoessateoria,negaodeumacompensaofinanceira,pois sa,comosedisse,precisamenteanecessidade,ouno,dein-demnizaoquedeterminaaclassificaodogmtica386.Ainversa no,todavia,verdadeira:acircunstnciadeaexpropriaopressu-por,necessariamente,umaindernnizaonoareduzaumdeverde indemnizarnasequnciadeumaintervenonodireitodeproprieda-de,nemexcluiapossibilidadedeadeterminaodocontedoe limitesdapropriedadeseracompanhadadeumacompensao,fi-nanceiraoudeoutrotipo.A"determinaodecontedoelimites envolvendoumdeverdecompensao",sempre,umadetermina-odecontedoelimitesdapropriedadee,comotal,abrangida,pela previsodoartigo14.,n.o1,2a parte,daLeiFundamental.Nada impedequeadeterminaodecontedoelimitesdapropriedade incluamecanismosdecompensao,tendoemvistaassegurarares-pectivaconformidadecomosprincpiosdaproporcionalidadee razoabilidade,assimcomonadaimpequeessesmecanismosse traduzamnumacompensaofinanceira387Afigura"determinao decontedoelimitesenvolvendoumdeverdecompensao"no seriaassimumtertiumgenusentreaexpropriaoeadeterminaodo 385 Cfr.Ulrich Hosch,Eigentumund Freiheit,p.215;Rudolf Reinhardt,"Wo liegen frdieGesetzgeber dieGrenzen ... ?",pp.6-7 enota 3a;sobrea ideia desacrifcio especial, cfr.,ainda,FernandoAlvesCorreia,AsGarantiasdoParticularnaExpropriaopor UtilidadePblica,p.86;Maria Lcia Amaral, Responsabilidade doEstadoe Responsabili-dadedoLegislador, p.577. 386 Cfr.Christoph Klprnann,EnteignendeEingrijJe?,pp.122-123. 387 Cfr.Gomes Canotilho,ProtecodoAmbiente e DireitodePropriedade,pp.97-98;Osvaldo Gomes, Expropriaes por UtilidadePblica.pp.34-36 e nota109. 1012 AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia'"contedodapropriedade,masumameraconfiguraoespecialdesta ltimavisandoassegurararespectivaconformidadeconstitucional. Noparece,assim,acertadocriticarafiguraemanlisecom basenadistinoentreombitodeaplicaodoartigo14.,n.o1, relativogarantiadepermanncia,eoartigo14.,n.o3,daLei Fundamental,relativogarantiadevalor(aquestocolocar-se-ia, alis,precisamentenosmesmostermosemrelaoaosnmeros1, prevendoadesignadagarantiadepermanncia,e2,respeitante garantiadevalor,doartigo62.daConstituioportuguesa).Ora, dir-se-,namedidaemqueadeterminaodecontedoatravsde umacompensaoconfereaoEstadoapossibilidadedetransformar agarantiadepermanncianumagarantiadevalor,semqueexista qualquerexpropriao,issosignificatambmqueafiguraemcausa correspondeaumaliquidaodoscritriosdogmticosexistentesat aomomento,semquaisquervantagensaparentesnaperspectivade umamaiorclarezasistemtica388.Todavia,seoqueestemcausa sopreocupaesdeclarezasistemticaforosoreconhecerqueas mesmasforam,antesdemais,postasdecididamenteemcausaatravs daextensodoconceitodeexpropriao.Seoobjectivoprecpuode todaaconformaolegislativadapropriedadealcanarsolues simultaneamenteconformesaointeressegeralerespeitadorasdoin-teressedoproprietrio,oqueseafiguradecisivoqueainclusode umdeverdecompensaonaquelaconformaosusceptveldeser menoslesivadesteltimointeressedoqueaexclusodessemesmo dever. Podeaindaobjectar-sefiguradadeterminaodocontedoe limitesenvolvendoumdeverdecompensaoqueamesmasignifi-ca,naprtica,aatribuioaoEstadodeumpoderde"comprar"ao cidadoavinculaosocialdasuapropriedade.Umatalatribuio, emltimaanlise,inadmissvelporque,naexpressodeHansPeter Ipsen,"aconformaosocialnopodesercomprada"389.Aobjeco desconhece,todavia,queoobjectodagarantiaconstitucionalsoas posiesjurdicasdefinidaspeloprpriolegislador:nopodeser "comprado"aocidadopelolegisladorumdireitoqueporele 388 Cfr.Andreas Lubberger, Eigentumsdogmatik,pp.216-218. 389 Cfr. Hans Peter Ipsen,"Enteignung und Sozialisierung", p.93. Apropriedadecomoproblemaconstitucional1013 definido390.Pelocontrrio,antesaextensodoconceitodeexpro-priao- atravsdaimposiojudicialdodeverdeindemnizara todaavinculaosocialdapropriedadequeexcedaaquiloque,na opiniodotribunal,podesertolerado-,quedistorceaperspectiva deacordocomaqualadeterminaodocontedoelimitesda propriedadeconstituiumaexpressodaautodeterminaolegislativa eforaolegisladoraadquirir,expostfacto,avinculaosocialda ordemdapropriedade. Novale,igualmente,esgrimir,contraafigurada"determina-odecontedoelimitesenvolvendoumdeverdecompensao", comadiminuiodoespaodemanobradolegisladornavinculao socialdapropriedade,nabasedoreceiodeumgrandenmerode exignciasdecompensao,quenoseriamconsideradasdeacordo comaconcepoanterior,nostermosdaqualavinculaosocial nuncadavaorigemaumaindemnizao391.Desdelogo,importa salientarqueaconcepoanteriortambmpressupunhaumacom-pensao,emboraimpostapelojuiz.Alis,apartirdomomentoem queapossibilidadedaatribuiodeumacompensaopassoua dependerdaprevisodeumaclusuladeindernnizaoconjunta392, deixadeserpossvelimputarexclusivamentefiguraemanliseo receiodeumaparalizaodolegislador.Vriosfactorespermitem, dequalquermodo,excluiressereceio.Entreeles,contam-seacir-cunstnciadeagarantiaconstitucionaldapropriedadenoenvolver umaprotecodopatrimnioemsimesmoconsiderado,comose sustentouanteriormente,orecursoaumcontroloadequadocombase nosprincpiosdaproporcionalidadeedaigualdade,bemcomo(e decisivamente)ocarctergeraleabstractodasnormasqueintegram adeterminaodocontedoelimitesdapropriedade393Umargu-mentoopostoquelequeacabadesermencionadoconsisteemafirmar queafiguraemcausavisaapenascompensarumaintervenodo legisladordesproporcionadaedesrazovel.Simplesmente,dir-se-ia, 390 Cfr. Christoph Klpmann, Enteignende Eingriffe?, p.128. 39.Cfr.R.SteinbergI A.Lubberger,Aufopferung - Enteignungund Staatshaftung, pp.152-153. 392 Cfr.R.SteinbergIA.Lubberger,Aufopferung- EnteignungundStaatshaftung, pp.145ess. 393 Cfr.Christoph Klprnann,Enteignende Eingriffe?,pp.129-130. 1014AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... umcontrolonostermosdoprincIpIodaproporcionalidadedeixa aindaumalargamargemdeactuaoaolegislador.Paraalmdisso, a"determinaodecontedoelimitesenvolvendoumdeverde compensao"admite,comosedisse,compensaesdenatureza nofinanceira.Ora,saberemquemedidaumsucedneodaindernni-zaoalcanaonvelnecessrioeadequadodecompensaoalgo quepermaneceincerto.Afiguraemcausaseriaassimpoucosegura quantoaosseuspressupostosealcancee,consequentemente,apro-tecoporelaconferida,nostermosdoartigo14.,n.O1,daLei Fundamental,seriaconsideravelmentemenordoquearesultantede umaexpropriaoaoabrigododispostonon.o3domesmoartig0394 Simplesmente,nadapermiteatribuiraolegislador,porcomparao comojuiz,ummaiorgraudeincertezaquantoobtenodeum nveladequadodecompensao.Deresto,seaolegisladorforatri-buda,emprimeiramo,atarefadealcanarumnveladequadode compensaopeladeterminaodocontedoelimitesdapropriedade, osresultadosobtidospoderosempreserdepoiscontroladospelo juiz.Oqueestemcausa,pois,encontrarummodeloqueenvolva simultaneamenteolegisladoreojuiz395 Resulta,assim,doexpostoquea"determinaodecontedo envolvendoumdeverdecompensao"consistetambm,talcomoa expropriao,numamanifestaodoprincpiodaigualdadedoscida-dosperanteosencargospblicosemresultadodosacrifciodedirei-tospatrimoniaisprivados396Noseumbitodeaplicaoincluem-se oscasosdeemissoderudos,fumos,cheiros,eoutrosfactosseme-lhantes,apartirdeinstalaespblicas,bemcomodelimitaodas possibilidadesdeusodoproprietrionodomniodaprotecodo 394 Cfr.Fritz Ossenbhl, "Eigentumsschutz gegen Nutzungsbeschriinkungen", p.697. 395 Ossenbhlparece,noentanto,descrerdaspossibilidadesdeumtalmodelode envolvimento mtuo, como o atesta o seu comentrio final sobre a situao da responsabili-dade do Estado na Alemanha: "Pennanece assim o desenvolvimento da responsabilidade do Estado nas mosda justia. Talvez esteja a em melhores mos doquenasda poltica" (cfr. "DieHaftungdesStaatesfrhoheitlicheAktederLegislative,Administrativeund Judikative", p.181). 396 Para alm do acima exposto,cfr.Hartmut Maurer, Allgemeines Verwaltungsrecht, 27,n" 79,p.743. Apropriedadecomoproblemaconstitucional1015 patrimnioculturaledanatureza397.Umtalgrupodecasosmostra bemcomoafiguraemanliseimplicaumatransfernciadoproblema danecessidadedecompensarossacrifciosespeciaisimpostosaos proprietriosdombitodaexpropriaoparaombitodadetermina-odocontedoelimitesdapropriedade,envolvendotambmuma determinaodoalcanceeefeitododireitofundamentaldeproprie-dade.Poroutraspalavras,umatransfernciadoproblemaemcausa dombitodon.o2doartigo62.paraon.o1domesmoartig0398A questoqueentomuitodirectamenteimportacolocaradesabero queseganhacomtaltransferncia.Naverdade,oqueestemcausa saberseaintensidade,gravidadeeduraodeumainterveno legislativadevesersuportadapeloproprietrio,atendendo,desde logo,aumacomparaocomoscasostipicamentetidosemvista pelolegisladoreapelando,dessemodo,aoprincpiodaigualdade. Simplesmente,severdadequedessemodoserecuperamdealgum modooscritriosmateriaisdo"sacrifcioespecial"subjacentedistin-oentreexpropriaoalargadaevinculaosocial,tambmcerto queanecessidadedecompensaoagoraassumidaetratadanoplano dalei.Enquantoa"dependnciadasituao"(Situationsgebundenheit) doimveleraanteriormentededuzidadocasoconcreto,eladeve agoraresultardaprpriadisciplinalegislativa.Casoonoseja,no podemostribunaisgarantirimediatamenteumaindemnizao,mas 397 Cfr.HartmutMaurer,AllgemeinesVerwaltungsrecht,27,n.o 82,p.745.Como salienta o autor,no casodas emisses, existe nonna dodireito privado que pode fornecer o critrio daexigibilidadedecompensao(o906doBGB;osartigos1346 .. e1347 .. do Cdigo Civil). 398 Semmencionarexpressamenteafiguraanalisadanotexto,OliveiraAscenso sustenta que"O legislador ordinrio podeimpor asrestriesque foremnecessrias, luz do princpio da funosocial. Se o fizer,porm, de modo a esvaziar o contedo da proprie-dadesem contrapartida em justa indernnizao,incorreem inconstitucionalidade"(cfr."A Caducidade da Expropriao no mbito da Refonna Agrria", pp. 64-65; idem,"Expropria-o e Direitos Privados", p.36;idem,Direito Civil - Reais, p.230).Sustenta ainda que, em tais casos, "o fundamento da indernnizao no se encontra na identificao ou equiparao expropriao, mas na prpria garantia da propriedade privada"(cfr.Oliveira Ascenso, "O UrbanismoeoDireitodePropriedade",p.327).Seolegislador confonnaocontedoda propriedadesempreveranecessriaindemnizao,noscasosaqueaelahajalugar,h sempreviolaodagarantiadapropriedade don" 1 doartigo62"; todavia,aprevisoda indemnizao d-sesempretambm por equiparao aoprincpio da justa distribuiodos encargos pblicos, subjacente aoartigo 62", n" 2. 1016AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... julgarinconstitucionaladisciplinadaleP99.Assim,sedeacordocom afiguradadeterminaodecontedoenvolvendoumdeverdecom-pensaoseadquiredefinitivamenteaideiadequeaindemnizao devidacomocondiodajustificaoconstitucionaldamedida legislativaemcausa,nopodendoserexcludaporlei,nomenos verdadequeagarantiadapropriedadenoconstitui,emsimesma, emprincpio,ofundamentoimediatoparaumaimediatapretenso indemnizatria,necessitandodeumadisciplinalegislativaqueapre-veja4OO 2.7.3Aexpropriaocomoumcasodesacrifcioindemni-zveldedireitospatrimoniaisprivados.Naexposioqueantecede procurouevidenciar-sequeodebateentreaconcepoclssicae umaconcepoampladeexpropriaodevehojeconsiderar-seultra-passadopelaintroduodoconceitode"determinaodocontedo envolvendoumdeverdecompensao".Comefeito,aadmisso destaltimapressupenecessariamentearecuperaodapossibilidade deidentificaroscasosdeexpropriaocombaseemrequisitosfor-mais,aindaquenonecessariamentenosmesmostermosdaconcep-oclssica.Mas,aomesmotempo,coloca-seoproblemadesaber seaquelafiguraesgotatodososcasosemqueexisteumdeverde indernnizaodospoderespblicospelosacrifciodedireitopatri-moniaisprivados.Squandoseadmitaarelevnciadetaiscasosse podetambmadmitiraafirmaoinicial,relativasuperaodo debateentreconcepoclssicaeconccepoampladeexpropria-o.Deixandodeladooscasosdeintersecoentreexpropriaoe determinaodecontedoenvolvendoumdeverdecompensao401, toma-seaindanecessrioapurarquaisosefeitosdaadmissodesta ltimafiguraemrelaoaoscasosimprevisveiseatpicosdesacrif-ciodedireitospatrimonaisprivadossusceptveisderesultaremda 399 Cfr. Hartmut Maurer, Allgemeines Verwaltungsrecht,27, n.o81, p.744. 400 Cfr. R Steinberg I A. Lubberger, Aufopferung - Enteignung und Sfllatshajiung, p. 237. 401 Cfr.RSteinberg IA.Lubberger,Aufopferung - Enteignungund Staatshaftung, pp.157 e 5S.; como indicam os autores, a nova disciplina jurdica de um determinado direito pode simultaneamente implicar a eliminao de posies jurdicas existentes:pense-se, por hiptese,nosefeitosdareduodoperododeprotecodeumdireitointelectualou industrial em relao aos direitos j constitudos. Apropriedade como problemaconstitucional 1017 actuaodospoderespblicos,comosucedecomoscasostratados pelajurisprudnciaedoutrinaalemssobadesignaode"interven-oexpropriativa"402.Sejacomofor,ocertoqueasuperaode umconceitoamplodeexpropriaonoseprendecomumamenor consideraodaspretensesdeindemnizaocombaseemsacrifci-osespeciaisdedireitospatrimoniaisprivadosedoprincpio,quelhe subjaz,dajustadistribuiodeencargosentreoscidados.Pelo contrrio,arecusadeumconceitoamplodeexpropriaopodee devecoexistircomaadmissodetodasaspretensessusceptveisde seremconcebidasaoabrigodeumtalprincpio.Simplesmente,o quadroconceptualemqueasmesmasseintegramsurgedistorcido nohorizontedeumconceitoamplodeexpropriaoemsentido constitucional.Oqueacabadeserditopodeserconfirmadonoplano daarticulaoentreasgarantiasdepermannciaevalorincludasna tutelaconstitucionaldapropriedade(2.7.3.1),noplanodacorrecta perspectivaodopapeldolegisladoredojuizquantoefectivao dessamesmatutela(2.7.3.2),noplanodeumadequadoentendimento dasprotecesprimriaesecundriadodireitofundamentaidepro-priedade(2.7.3.3)enoplanodarelaoentreagarantiadeinsti-tutoeagarantiaindividualdapropriedade(2.7.3.4). 2.7.3.1Garantiadepermannciaegarantiadevalor.Acom-preensodagarantiaconstitucionaldapropriedade,previstanoartigo 62.,n.o1,daConstituio,comoumagarantiadeconcretasposi-esjurdicasdefinidaspelolegisladortemcomoresultadoquea intervenodesteltimo,nadeterminaodocontedoelimitesda propriedade,sesitua,sempre,simultaneamenteamontanteeajusante dodireitofundamentaldepropriedade.Amontante,namedidaem 402Assim,R.SteinbergIA.Lubberger,Aufopferung- Enteignungund Staatshaftung,pp.237-238,sustentamquea"determinaodecontedoenvolvendoum dever de compensao" no susceptvel de abranger os casos a que se referem as figuras mencionadas no texto; em sentido contrrio, em relao "interveno expropriativa", sus-tentaChristophKlpmann,EnteignendeEingriff? .. ,p.259,ser j tempodeadespedir; questionando tambm a impossibilidade de fazer abranger pela figura da "determinao de contedo envolvendo um dever de comensao" grande parte dos casos actualmente trata-dosnombitodafigurada"agressoexpropriativa",cfr.HartmutMaurer,Allgemeines Verwaltungsrecht,27,n.O 108,p.763.Sobreambasasfiguras,cfr.supra,capo1,ponto 1.5.1.2.2. 1018AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... queaolegisladorquecabedefinirasposiesjurdicassusceptveis deseremqualificadascomopropriedadeemsentidoconstitucional;a jusante,porquanto,umavezqualificadaumacertaposiojurdica comopropriedadenessesentido,nolivreaolegisladorasua redefinio,nostermosjexpostos.Pelocontrrio,aexpropriao, efectuadaporleioucombasenalei,aqueserefereoartigo62.,n.o 2,daConstituio,sempreumaintervenoapenasajusantedo direitofundamentaldepropriedade,isto,sobreumaposiojurdica definidapelolegislador,eporelejsocialmentevinculada,namedida emqueoseja,qualificadacomopropriedadeemsentidoconstitucio-nal.Nestesentido,aexpropriaoconsistenaeliminaodeum objectododireitofundamentaldepropriedadeenonarestrio desteltimo,enquantoadeterminaodocontedoelimitesseinte-granoprocessoqueconduzdefiniodaposiojurdicaacuja manutenoorespectivotitulartemumdireitofundamental.claro queesseprocessopodeterumresultadorestritivododireitofunda-mentaldepropriedadeenomeramenteconformadordoseuobjecto, comoseviu. Dequalquermodo,oconceitodeexpropriaoemsentido constitucionaldeveseradequadoapreservarapossibilidadededefi-niragarantiadapropriedadecomoumagarantiadepermannciade posiesjurdicasenocomoumasimplesgarantiadevalor.Os argumentoscontraumaconcepodagarantiadapropriedadeen-quantosimplesgarantiadevalorforamjanteriormenteexpostos403 Oqueaquiimportaagorasalientaradificuldadedeatravsdeuma concepoampladeexpropriaopreservaradefiniodaproprie-dadeemsentidoconstitucionalcomodesempenhandoumafuno deprotegeraliberdadeindividualdoproprietrio.Comefeito,atra-vsdeumatalconcepo,todaavinculaosocialdapropriedade susceptveldesertransformadapelojuiznumagarantiadevalorda mesmapropriedade.Pelocontrrio,umaconcepoformaldeexpro-priao,construdasobreaprivaodeumdireitopatrimonialpriva-do,maisadequadaapreservaraquelamesmadefinio,sempr necessariamenteemcausa,comosever,atransformaodagaran-tiadepermannciaemgarantiadevalor,quandoaquelanoseja aptaaprotegeraposiodoindivduo. 403 Cfr.supra,ponto2.5.3. Apropriedadecomoproblemaconstitucional1019 2.7.3.2Legisladorejuiznaefectivaodatutelaconstitucio-naldapropriedade.Janteriormente,aquandodacrticadaconcep-oampladeexpropriao(supra,2.7.1.2)edaanlisedafigurada "determinaodecontedoenvolvendoumdeverdecompensao" (supra,2.7.2),seexpuseramosriscosdeumahipertrofiadopapel dostribunaisnadelimitaodosacrifcioindemnizvelporinterven-esdolegisladoremdireitospatrimoniaisprivados.Importaagora deummodoespecialsalientarqueospressupostosapontadospor algumadoutrinacomojustificando,oumesmoimpondo,umaexten-sodoconceitodeexpropriao,emborapossamseraceitesno conduzemnecessariamenteaumtalresultado.Assim,UlrichScheuner sustentavaqueacircunstnciadeapropriedadeestarhojesubtrada livredisposiodolegisladoreconstitucionalmentegarantidaimpli-cavadeigualmodoqueoconceitodeexpropriaonodeveapenas vincularaAdministrao,mastambmolegislador.Consequente-mente,deveriaserafastadaaexpropriaoclssicae,emsuasubsti-tuio,adoptadaumaconcepodeexpropriaocomosacrifcio, emobedinciasseguinteslinhas:a)aexpropriaodeveserfeita emvistadointeressepblico;b)oseuobjectodevemserquaisquer posiesjurdicascomcontedopatrimonial;c)definiodaexpro-priaodeixadepertencerorequisitodatransmissodapropriedade paraoutrasmos,passandoaquelaaintegrar,noapenastambma privaoousubtracodeumdireito,masatasimplesoneraoou imposiodedeveres,namedidaemqueestesimpliquemumaespe-cialexignciasobreindivduosoupequenosgruposemviolaodo princpiodaigualdade;d)porltimo,nasequnciadoqueacabade serdito,umamedidaexpropriativapassaaserdefinidacombaseem critriosmateriais,sendoindiferenteaformadoactoqueaexprime404. Comoresultadaexposioantecedente,concorda-secomesta tomadadeposio,nosentidoemqueasubtracodapropriedade livredisposiodolegisladorimplicatambmavinculaodeste,e jnoapenasdaAdministrao,peloconceitodeexpropriao.Nesta conformidade,tambmverdadequedaresultaarejeiodaidenti-ficaoentreoconceitoconstitucionaldeexpropriaoeaconcepo 404 Cfr.UlrichScheuner,"GrundlagenundArtenderEnteignungsentschadigung", pp.93-99. 1020AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... clssica,umavezqueaexpropriaoconstitucionalpassanecessaria-menteaabranger,comoobjecto,quaisquerdireitospatrimoniaispri-vados(masnodireitossubjectivospblicos),ejnosdireitos reais,pressupesimplesmenteaprivaodessesdireitos,ejnos arespectivatransmissoparaospoderespblicos,epassaapoder serlevadaacabodirectamentepelolegislador,ejnospela Administrao.Todavia,davinculaodolegisladoratrsmenciona-datambmnoresulta,comosuaconsequncianecessria,areviso doconceitoconstitucionaldeexpropriaodeacordocomasrestantes linhasatrsapontadas.Pelocontrrio,namedidaemqueaproprie-dadesubtradadisposiodolegisladorissosignificaquesobre esterecaiodeverdeconformaraordemdapropriedadeemtermos dearespectivadisciplinanormativanoimplicarasujeiodeindi-vduosougruposdeindivduosaespeciaissacrifcios,quenoatin-gemageneralidadedaspessoas,ou,pelomenos,nocasodetalno serpossvel,odeverdeconformaraordemdapropriedadeemter-mosdeatribuirataisindivduosepequenosgruposascompensaes adequadas.precisamenteesteopressupostododesenvolvimento dafigurada"determinaodecontedoenvolvendoumdeverde compensao" . Namedidaemqueaconcepoclssicadeexpropriaopre-tendaseranicamanifestaodoprincpiodaigualdadedeencargos doscidadosperanteospoderespblicos,situando-seaactuaodo legisladornecessariamentemargemdetalprincpio,comosucedia "classicamente"epretendiaOttoKirchheimerjnocontextodoEsta-doSocial,essaconcepodeveconsiderar-sedefinitivamenteafasta-da.Deresto,Kirchheimer,comoseviu,baseavaoseumododever numaconcepoidentitriadedemocracia,deinspiraoschmittiana, desmentidapeloprprioRousseau,oseusupostofundador.Para Rousseau,aocontrriodoqueparece,porvezes,fazercrerCarl Schmitt,avontadegeral"notemnuncaodireitodefazerpesar encargossobreumsujeitomaisdoquesobreumoutro,jquea questotomando-separticular,estforadacompetnciadoseupo-der"40s.Aindaquehojeestadelimitaodecompetnciadavontade geralnosejajvivel,nosentidoemqueaobservnciadoprincpio 405 Cfr.Rousseau,DuContrat Social,Livro lI, CapoIV,p.197. Apropriedadecomoproblemaconstitucional1021 daigualdadedeencargossusceptveldesergarantidonoplanoda disciplinageraleabstractadeumdeterminadodireito(comoode-monstraafigurada"determinaodecontedoenvolvendoumdever decompensao")essaapenasmaisumarazoparasubordinara actuaodolegisladoraoprincpiodajustianadistribuiodos encargospblicos,bemcomoaosdemaisprincpiosmateriaisdo EstadodeDireito.Aomesmotempo,essasubordinaonopodeter oefeitodeconsiderarcomosinnimodeexpropriaoqualquersacri-fcioindemnizveldosdireitospatrimoniaisprivadosimpostopelos poderespblicos.Comumatalsinonmiaperde-seclarezanorecorte conceptualderealidadesdistintas406,semnadaseganharnaperspec-tivadeumamaisefectivatutelaconstitucionaldapropriedade. 2.7.3.3Subsidariedadedaprotecosecundriaemrelao primria.Nostermosdadelimitao,combaseemcritriosformais, entreexpropriaoedeterminaodocontedoelimitesquandoesta ltimaexcederoslimitesdosprincpiosqueenformamaactividade dolegisladornessembito,isto,osprincpiosdaproporcionalidade, daprotecodaconfianaedaigualdade,haverapenasinconstitu-cionalidade,noexpropriao,nemaindemnizaoconsequente. Istosignificatambmqueaoparticularestapenasabertaaviada protecojurdicaprimria,atravsdaqualeledeveprocurarelimi-naraviolaodoseudireito.Poroutraspalavras,ointeressadodeve, emtermosofensivos,afastaralesodasuapropriedadecontrriaao direitoeno,emtermosdefensivos,aceitarasuaperdaerecorrerao direitodeliquidao407.AdecisoNassauskiesung,comosedisse, elucidativaaestepropsito:"seocidadoconsiderarexistirnamedi-daqueoatingeumaexpropriao,elepoderapenaspretenderuma indemnizaoquandoexistafundamentolegalparaoefeito.Nafalta deste,terdetentarobterjuntodajurisdioadministrativaaanula-odoactolesivo.Nopodeocidado,todavia,renunciandoatal 406 Neste sentido,quantodistino entre expropriao eimposio deservides de direito pblico, cfr.Bernardo Azevedo, Servido deDireito Pblico, pp.36 e ss.,sendo, no entanto,necessrio acentuar que osautoresque rejeitam oconceito amplo de expropriao no advogam nunca um regrresso puro e simples ao conceito clssico de expropriao, mas antes propem urna concepo formal de expropriao. 407 efr. Jochen Rozek, Die Unterscheidung von Eigentumsbindung und Enteignung, p.71. 1022AJustificaodaPropriedadePrivadanumaDemocracia... impugnao,exigirumaindemnizaonoaprovadapelalei;na faltadefundamentolegalnopodetambmojuizatribuirumain-demnizao".ParaoTribunalConstitucionalalemo,"ointeressado notem,portanto,qualquerdireitodeescolha,quantoadefender-se contrauma'expropriao'contrriaaodireitocombasenafaltade indemnizaolegalouaexigirimediatamenteumaindemnizao. Casoelenoimpugneoactolesivo,issotercomoconsequnciaa rejeiodoseupedidodeindemnizao.Aquelequenofizerqual-querusodaspossibilidadesquelhesoconcedidaspelaLeiFunda-mental,nosentidodedefenderoseudireitocriaodeumasituao conformecomaConstituio,nopode,porcausadeumaperda imputvelasiprprio,exigirdospoderespblicosumaindemnizao emdinheiro".Acresceainda,continuaoTribunal,que"aremisso paraaimpugnaodoactoadministrativonorepresentaparao interessadoqualquerencargoexcessivo.Adecisoderecorreraesta protecojurdicanomaisdifcildetomardoquearelativaaum pedidoindemnizatrio.Taldecisoapenaspressupequeseestabe-leasealeiprevumaindemnizao"408.Ateseassimformulada novaleapenasparaaexpropriaonosentidodoartigo14.0,n.o 3, daLeiFundamental,masantespostulaumprincpiogeral,deacordo comoqualintervenescontrriasConstituionodireitodepro-priedadedolugaraumadefesaprimria,isto,afazervaler"o direitocriaodeumasituaoconformeConstituio",eos casosde''perdaimputvel"aoprpriointeressadodesteltimodireito dotambmlugarexclusodeumapretensoindemnizatria409 WernerBhmerinterpretaestajurisprudnciacomosignificandoa superaodoprincpio"duldeundliquidiere",esuasubstituio peloprincpiodeacordocomoqualapretensoindemnizatriado proprietriosurgesempresubordinadaquestodesaberseuma intervenonodireitodepropriedadelegtima,luzdaConstitui-o,etem,consequentemente,desersuportada4lODeacordocom estemododever,aquejvriasvezessealudiu,umapretenso indemnizatrianoumdireitodedefesa,namedidaemquenose 408 Cfr.Entscheidungen desBundesveifassungsgerichts,voI.58,p.324.