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A lenda dos três rios Diz uma lenda que outrora houve uma conversa de três rios: o Guadiana, o Tejo e o Douro. Aborrecidos de andar lá pelas montanhas, quiseram correr aventuras. Combinaram, então dormir um bom sono; o primeiro que despeitasse chamaria os outros, partindo então todos os três para o mar. Dito e feito! Deitaram se a dormir. O primeiro a acordar foi o Guadiana. Olhou para os outros e, por ter dó de os acordar, pôs se a caminho sem chamar os vizinhos. Escolheu, portanto, o melhor caminho, como quem passeia por um jardim. A corda a seguir o Tejo: esfrega os olhos e avista ao longe , já na planície, o Guadiana a brincar com o Sol, que o veste de ouro reluzente. Aflito, na ânsia de ganhar o tempo perdido, não escolhe caminho: atira se pelas serras abaixo, salta pelas encostas, lança se dos penedos que lhe embaraçam a marcha. Para entrar em Portugal, onde o Guadiana passeava, salta num pulo as Portas de Rodão. Daqui em diante corre deliciosamente, deixando se rolar na planície, ora charneca, ora várzea, até ao mar Acorda por fim o Douro. Furioso, quer vingar se.

A lenda dos três rios

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Page 1: A lenda dos três rios

A lenda dos três rios

Diz uma lenda que outrora houve uma conversa de três

rios: o Guadiana, o Tejo e o Douro.

Aborrecidos de andar lá pelas montanhas, quiseram

correr aventuras.

Combinaram, então dormir um bom sono; o primeiro

que despeitasse chamaria os outros, partindo então

todos os três para o mar. Dito e feito! Deitaram – se a

dormir.

O primeiro a acordar foi o Guadiana. Olhou para os

outros e, por ter dó de os acordar, pôs – se a caminho

sem chamar os vizinhos. Escolheu, portanto, o melhor

caminho, como quem passeia por um jardim.

A corda a seguir o Tejo: esfrega os olhos e avista ao

longe , já na planície, o Guadiana a brincar com o Sol, que

o veste de ouro reluzente. Aflito, na ânsia de ganhar o

tempo perdido, não escolhe caminho: atira – se pelas

serras abaixo, salta pelas encostas, lança – se dos

penedos que lhe embaraçam a marcha.

Para entrar em Portugal, onde o Guadiana passeava,

salta num pulo as Portas de Rodão. Daqui em diante corre

deliciosamente, deixando – se rolar na planície, ora –

charneca, ora várzea, até ao mar

Acorda por fim o Douro. Furioso, quer vingar – se.

Page 2: A lenda dos três rios

Enquanto o guadiana brilha ao sol como longa fita de aço

e o Tejo senda às curvas graciosas, em passo medido, ele,

Douro, não pode escolher caminho: fura serras e mais

serras, salta tudo, despenha – se doidamente…

- Mariana Araújo Frutuoso e Silva. Turma: mag4