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A língua de sinais "é uma língua especial visual, pois utiliza a visão para captar as mensagens e os movimentos, principalmente das mãos, para transmiti-la". Distinguem-se das línguas orais pela utilização do canal comunicativo, enquanto as línguas orais utilizam canal oral-auditivo, as línguas de sinais utilizam canal gestual-visual. A utilização de termos surdo-mudo, surdo e deficiente auditivo que são comumente empregados a pessoas que têm alguma perda auditiva é discutível, bem como seus variantes. SURDO-MUDO Em primeiro lugar, o termo surdo-mudo foi e ainda é amplamente aplicado a pessoas com surdez, no intuito de estabelecer uma relação quase lógica: quem não ouve, não fala; logo, quem é surdo também é mudo. Na verdade, este é, dentre os termos citados acima, o mais errôneo por motivos simples. No que se refere à questão anatômica e fisiológica do corpo humano tem-se que o sistema auditivo não estabelece relação nenhuma com a “falta de fala” no indivíduo surdo. Tanto isto é verídico que existem muitos surdos que conseguem falar oralmente. A problemática envolve uma questão ainda mais precoce: a aquisição de linguagem. No caso de uma criança que ainda não tenha completado dois anos de idade e seja diagnosticada como surda, a possibilidade do desenvolvimento normal da linguagem diminui drasticamente. Isto acontece em decorrência da ausência do feedback auditivo (ou retorno auditivo), fundamental no processo de aquisição de linguagem na criança onde, através da audição, ela escuta as demais pessoas falando e, desta forma, também adquire linguagem. SURDO A utilização do termo surdo mostra-se a mais adequada no momento em que devemos considerar os surdos não como portadores de uma condição de surdez, mas sim como uma minoria linguística. É deste modo que os surdos preferem ser chamados, uma vez que compõem uma cultura forte e rica como qualquer outra. É neste momento, também, que uma reflexão importante vem à tona: o termo correto é língua ou linguagem de sinais? É indispensável pensarmos que o instrumento de comunicação dos surdos equivale-

A Língua de Sinais

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Guia de convivência para

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Page 1: A Língua de Sinais

A língua de sinais "é uma língua especial visual, pois utiliza a visão para captar as mensagens e os movimentos, principalmente das mãos, para transmiti-la". Distinguem-se das línguas orais pela utilização do canal comunicativo, enquanto as línguas orais utilizam canal oral-auditivo, as línguas de sinais utilizam canal gestual-visual.

A utilização de termos surdo-mudo, surdo e deficiente auditivo que são comumente empregados a pessoas que têm alguma perda auditiva é discutível, bem como seus variantes.

SURDO-MUDO

Em primeiro lugar, o termo surdo-mudo foi e ainda é amplamente aplicado a pessoas com surdez, no intuito de estabelecer uma relação quase lógica: quem não ouve, não fala; logo, quem é surdo também é mudo. Na verdade, este é, dentre os termos citados acima, o mais errôneo por motivos simples.

No que se refere à questão anatômica e fisiológica do corpo humano tem-se que o sistema auditivo não estabelece relação nenhuma com a “falta de fala” no indivíduo surdo. Tanto isto é verídico que existem muitos surdos que conseguem falar oralmente. A problemática envolve uma questão ainda mais precoce: a aquisição de linguagem. No caso de uma criança que ainda não tenha completado dois anos de idade e seja diagnosticada como surda, a possibilidade do desenvolvimento normal da linguagem diminui drasticamente. Isto acontece em decorrência da ausência do feedback auditivo (ou retorno auditivo), fundamental no processo de aquisição de linguagem na criança onde, através da audição, ela escuta as demais pessoas falando e, desta forma, também adquire linguagem.

SURDO

A utilização do termo surdo mostra-se a mais adequada no momento em que devemos considerar os surdos não como portadores de uma condição de surdez, mas sim como uma minoria linguística. É deste modo que os surdos preferem ser chamados, uma vez que compõem uma cultura forte e rica como qualquer outra. É neste momento, também, que uma reflexão importante vem à tona: o termo correto é língua ou linguagem de sinais? É indispensável pensarmos que o instrumento de comunicação dos surdos equivale-se a qualquer outra língua no mundo, já que sua abrangência é total, sem deixar que nenhum termo sequer escape. Assim, a língua de sinais brasileira foi considerada, a partir de meados de 2002, oficializada como língua no Brasil, tendo assim, seu status linguístico reconhecido.

Assim, quando nos referimos às pessoas surdas, estamos falando naqueles “que são usuários da língua de sinais e que construíram uma identidade surda em comunidades de surdos” (THOMA, 2009).

Da mesma forma, é ainda relevante diferenciarmos a representação clínico-terapêutica da representação sócio antropológica, uma vez que aquela entende os surdos como deficientes auditivos e os classifica de acordo com a sua perda auditiva e esta, diferentemente, entende os surdos como integrantes de uma cultura própria e linguisticamente minoritários.

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DEFICIENTE AUDITIVO

Por fim, este termo, também amplamente utilizado, foi originalmente empregado por profissionais da área médica, na tentativa de identificar a surdez como também uma deficiência e tratá-la como tal. Com o surgimento da fonoaudiologia, contudo, a conscientização do uso deste termo passou a ser restrita em casos de realização de um exame denominado Audiometria. É a partir deste exame fonoaudiológico que confirma-se ou não uma suspeita de surdez do individuo através do estabelecimento de limiares auditivos deste paciente. Em outras palavras, é através desse exame que se pode estabelecer o mínimo de som que o paciente é capaz de escutar.

Para questão de ilustração tem-se que as perdas auditivas podem ser de diferenciados graus. A classificação mais conhecida e amplamente utilizada classifica a perda auditiva em normal, leve, moderada, severa e profunda (DAVIS e SILVERMAN, 1970). Portanto, é importante destacarmos que a fonoaudiologia se vê preocupada em classificar a perda auditiva do paciente, e não o próprio paciente, como muitas áreas da saúde costumam fazer.

Tem-se assim, que, até mesmo na concepção dos próprios surdos, que o verdadeiro deficiente auditivo é aquele que vive a condição de surdez como uma deficiência, não a vendo como uma cultura extremamente rica e normal. Por fim, destacamos aqui a importância da escola de surdos, uma vez que esta tem sido apontada como o lugar onde as comunidades surdas emergem e fazem com que as crianças surdas convivam com outras pessoas surdas, como uma forma de reforçar os laços desta comunidade. Portanto, a surdez é uma experiência constituída na relação com outros (surdos ou ouvintes) e que permite ao indivíduo surdo inserir-se na sociedade por meio do bilinguismo.

O surdo percebe o mundo de forma diferenciada dos ouvintes, através de uma experiência visual e faz uso de uma linguagem especifica para isso a língua de sinais. Esta língua é, antes de tudo, a imagem do pensamento dos surdos e faz parte da experiência vivida da comunidade surda. Como artefato cultural, a língua de sinais também é submetida à significação social a partir de critérios valorizados, sendo aprovada como sistema de linguagem rica e independente. (QUADROS, 2006)

O primeiro órgão no Brasil a desenvolver trabalhos com surdos e mudos surgiu em 1857. Foi do então Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que saíram os principais divulgadores da Libras. A iconografia dos sinais, ou seja, a criação dos símbolos, só foi apresentada em 1873, pelo aluno surdo Flausino José da Gama. Ela é o resultado da mistura da Língua de Sinais Francesa com a Língua de Sinais Brasileira, já usada pelos surdos das antigas várias regiões do Brasil.

A libras muitas vezes também foi vista na educação do surdo como algo prejudicial à aquisição da linguagem oral, bem como a sua integração na sociedade e atualmente já tem  status linguístico, ou seja, já é reconhecida como língua. (SOARES, 1999)

A língua de sinais é uma linguagem autêntica, com uma estrutura gramatical própria e com possibilidades de expressão em qualquer nível de abstração". Por ser tão completa quanto à língua oral é adequada, pode e deve ser utilizada no processo

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ensino e aprendizagem, exercendo o desenvolvimento, a comunicação e a educação dos alunos marcados por uma falta, a audição.

Muitas mudanças foram alcançadas, novos conceitos surgiram e, a partir de um novo contexto, iniciam-se pesquisas e estudos sobre desenvolvimento do deficiente auditivo. (SOARES, 1999)

A educação do surdo no Brasil, data do século passado, na década de 50, sob a Lei nº 839 de 26 de janeiro, assinada por D. Pedro I quando aconteceu a fundação do Imperial Instituto dos Surdos. A fundação deste instituto deve-se ao surdo chamado Ernesto Huet, francês, professor e diretor do Instituto. Quando chegou ao nosso país, foi apresentado ao imperador, que facilitou a fundação do Instituto Santa Terezinha em 15 de abril de 1829, oferecendo atendimento sócio pedagógico. (REILY, 2004)

Com a oficialização da lei de LIBRAS houve estabelecimentos de parâmetros nunca antes estabelecidos essa lei foi publicada em abril de 2002 (Lei nº 10.436, de 24 abril de 2002) e diz:   Artigo 1° - "É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados".

A lei 10.436 reconhece a legitimidade da Língua Brasileira de Sinais LIBRAS e com isso seu uso pelas comunidades surdas ganha respaldo do poder e dos serviços públicos. Esta lei foi regulamentada em 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto de nº. 5.626/05 que estabelece a inclusão da LIBRAS como disciplina curricular no ensino público e privado, e sistemas de ensino estaduais, municipais e federais (Cap.II, art.3º). Este decreto, no capítulo VI, Art. 22, incisos I e II, estabelece uma educação inclusiva para os surdos, numa modalidade bilíngue em sua escolarização básica, garantindo-se a estes alunos, educadores capacitados e a presença do intérprete nessas classes. (MENEZES, 2006)

Através desses dispositivos legais, pode-se verificar que a escola regular está amparada legalmente para receber os alunos surdos em suas classes, pois a legislação brasileira já reconhece a importância da linguagem dos sinais na educação dos sujeitos surdos, como um elemento que abre portas para o desenvolvimento global dos alunos que não ouvem, mas que são iguais àqueles que têm a audição. (MENEZES, 2006)                          

 A busca é por uma educação inclusiva para os surdos, com uma modalidade especificadamente  bilíngüe na escolarização básica dando garantias aos alunos de uma boa qualidade de ensino com  educadores capacitados e a presença do intérprete nessas classes. (MENEZES,2006)

Essa Lei foi criada e conquistada com  luta pelos direitos dos surdos em espaços de cidadania  como a escola, sociedade, igreja e outros que os levem a adquirir independência. (SKLIAR, 1997)                              

A educação de surdos, seja na escola de surdos, seja na família, no âmbito profissional e na sociedade como um todo deve determinar e controlar, segundo a lei, a presença da língua de sinais garantindo sua proficiência entre osprofessores, funcionários e demais membros do contingente escolar. (BOTELHO, 2002).