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7/25/2019 (À) Luz Da Imaginação! “O Rio” Se Revela Na Voz Dos Personagens Do Lugar-Araguaia http://slidepdf.com/reader/full/a-luz-da-imaginacao-o-rio-se-revela-na-voz-dos-personagens-do-lugar-araguaia 1/31 Caderno de Geografia, Belo Horizonte, v. 17, n. 28, p. 89 - 120, 1º sem. 2007  89 (À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA! 1 (In) the Light of Imagination! “The River” reveals itself in the local characters’ voice – ARAGUAIA! Lúcia Helena Batista Gratão 2 RESUMO Pela perspectiva da geografia humanista em direção da geopoética, nos em- brenhamos pelos Caminhos d’“O Rio” – ARAGUAIA! buscando compre- ender e desvelar suas múltiplas imagens, tendo como base as experiências vividas de paisagem e de lugar. (À) Luz da imaginação poética projetada por Gaston Bachelard, partimos em busca de revelações de imagens reais, simbólicas e imaginárias d’“O Rio”, ou seja, investigando como “O Rio” se revela no imaginário das pessoas do lugar-ARAGUAIA!. Desvelando o sentido que tem “O Rio” a partir da (con)vivência das pessoas com ele, é possível ver e fazer a geografia do ponto de vista geral de uma reflexão so- bre as atitudes humanas no mundo. É esse o sentido da investigação pelo universo d’“O Rio” – ARAGUAIA!, procurando a sua origem na voz dos seus personagens. “O Rio” vivido, experienciado e sonhado pelas pessoas do lugar. Palavras-chave:  Geopoética; Paisagem; Lugar. 1. Uma primeira versão deste texto foi apresentada no Simpósio Nacional sobre Geografia, Percepção e Cognição do Meio Ambiente (SINPEC), realizado em Londrina, PR, em junho de 2005. 2. Geógrafa, pesquisadora do Grupo de Pesquisa “Imagens, paisagens e personagens” (IMAP&P), profes- sora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected]

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Caderno de Geografia, Belo Horizonte, v. 17, n. 28, p. 89 - 120, 1º sem. 2007   89

(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!1

(In) the Light of Imagination! “The River” reveals itself in the local characters’ voice– ARAGUAIA! 

Lúcia Helena Batista Gratão2

RESUMO

Pela perspectiva da geografia humanista em direção da geopoética, nos em-brenhamos pelos Caminhos d’“O Rio” – ARAGUAIA! buscando compre-

ender e desvelar suas múltiplas imagens, tendo como base as experiênciasvividas de paisagem e de lugar. (À) Luz da imaginação poética projetadapor Gaston Bachelard, partimos em busca de revelações de imagens reais,simbólicas e imaginárias d’“O Rio”, ou seja, investigando como “O Rio”se revela no imaginário das pessoas do lugar-ARAGUAIA!. Desvelando osentido que tem “O Rio” a partir da (con)vivência das pessoas com ele, épossível ver e fazer a geografia do ponto de vista geral de uma reflexão so-bre as atitudes humanas no mundo. É esse o sentido da investigação pelouniverso d’“O Rio” – ARAGUAIA!, procurando a sua origem na voz dosseus personagens. “O Rio” vivido, experienciado e sonhado pelas pessoas

do lugar.Palavras-chave: Geopoética; Paisagem; Lugar.

1. Uma primeira versão deste texto foi apresentada no Simpósio Nacional sobre Geografia, Percepção eCognição do Meio Ambiente (SINPEC), realizado em Londrina, PR, em junho de 2005.2. Geógrafa, pesquisadora do Grupo de Pesquisa “Imagens, paisagens e personagens” (IMAP&P), profes-

sora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected]

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Gratão, L. H. B.

Aos leitores, este texto são escrituras sobre a água...Ato de celebração ao elemento essencial da vida...

Ato de consagração à imaginação hídrica...

Geopoética, viagem e imaginação geográfica

Gaston Bachelard, o filósofo das águas, revela:

Foi perto da água e nas suas flores que melhor compreendi ser o devaneio umuniverso em emanação, um alento odorante que se exala das coisas pela mediaçãode um sonhador. Se quero estudar a vida das imagens da água, preciso, portanto,devolver ao rio e às fontes de minha terra seu papel principal... Nasci numa regiãode riachos e rios, num canto da Champagne, povoado de várzeas, no Vallage.(BACHELARD, 1989, p. 8)

A minha paisagem não é a de Gaston Bachelard. O meu imaginário brota dostrópicos. Brasil! Planalto Central! Sertão! Cerrado! Berço das Águas... Nasci emterras araguaianas de ipês-amarelos, brancos e roxos, pequi, buriti, açaí, araras,tucanos... rios de duas estações... de cheias... & vazantes... Gaston Bachelard, osonhador de imagens, ainda nos revela:

A terra natal é menos uma extensão do que uma matéria. É nela que materializamosos nossos devaneios; é por ela que nosso sonho adquire sua exata substância; é aela que pedimos nossa cor fundamental. Sonhando perto do rio, consagrei minhaimaginação à água [...]. Não posso sentar perto de um riacho sem cair num devaneioprofundo sem rever a minha ventura [...] não é preciso que seja o riacho da nossacasa, a água da nossa casa. A água autônoma sabe todos os segredos. A mesmalembrança sai de todas as fontes. (BACHELARD, 1989, p. 9)

Inspirada e seduzida por essas imagens de água, pus-me a acompanhar “ORio”; no sentido da água que corre, correnteza que leva (à) Vida! Saio em buscad’“O Rio” por caminhos poéticos, (à) luz da imaginação – da representação imagé-tica e simbólica, com o propósito de trazer “O Rio” para despertar em cada um denós a alegria de viver e de lutar por um mundo melhor, mais amoroso e solidário.

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

Onde a educação, a arte e a cultura possam (con)fluir no campo da Geografia, para“graphar” um canal de convergência geopoética. E no trabalho de geografar e ge-ografizar esse canal, a correnteza se orienta em busca das águas da vida... fontes...nascentes... águas de infância.... Quando existe amor as almas se buscam. Comtopofilia, (à) luz da imaginação!, “O Rio” – ARAGUAIA! recebe suas confluên-cias e celebra a grande convergência geopoética. Cenografia e iluminação, cenário,cenas, luz, poesia, falas, gestos só podem ser conduzidos por canções e louvaçõespara que um ato se realize. O texto narra a vida dos homens com “O Rio”, numalinguagem cênica-poética na voz dos personagens do lugar...

Aos leitores, a quem anunciei que este texto seria uma “escritura sobre águas”,anuncio agora que é uma “escrita” de Viagens.... Viagens... sonhada antes de con-templada

Viagens... em Ânima Viagens... em busca de imagens da água (à) luz da ima-ginação!

Viagens... conduzidas pela “póetique” bachelardiana, orientadas pela “géo-graphicité” dardeliana e (per)corridas com “topophilia” yifutuana pela trajetóriada geografia humanista.

Viagens... com entrada no mundo “interior” das pessoas do lugar.Em Gaston Bachelard, encontrei a paisagem onírica e a poética do espaço; as

imagens da água e os sonhos expressos pela fenomenologia da imaginação. “An-tes de ser um espetáculo consciente, toda paisagem é uma experiência onírica. Só

olhamos com uma paixão estética as paisagens que vivemos antes em sonho. Mas apaisagem onírica não é um quadro que se povoa de impressões, é uma matéria quepulula” (BACHELARD, 1989, p. 5).

Em Eric Dardel, encontrei “uma outra maneira de fazer geografia” (BESSE,1988, p. 43), “que analisa as experiências mais recônditas primitivas e diretas doSer Humano com a Terra; esta relação primordial, seminal, sem a qual nossa exis-tência não teria sentido” (HOLZER, 1992, p. 82). Uma geografia “vivida em ato,existente a partir da exploração do mundo e da ligação do homem com a terra na-

tal, que trata da relação do homem com a Terra” (GRATÃO, 2002, p. 36).Assim, o conhecimento geográfico tem por objetivo decifrar os signos ocultosda Terra, como expressa o próprio Dardel: “La connaissance géographique a pourobjet de mettre em clair ces signes, ce que la Terre rèvèle à l’homme sur as conditionhumaine et son destin. Ce n’est pás d’abord um atlas ouvert devant sés yeux, c’estum appel qui monte du sol, de l’onde ou de la forêt, une chance ou um refus, unepuissance, une présence.” (DARDEL, 1952, p. 2)

O encontro com Dardel, quando trata da existência e a realidade geográfica nosentusiasma pela sua expressão:

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Multiples sont les modalités sous lesquelles la réalité géographique conduit, parle symbole et ses images, à un au-delà de la matière. L`eau, par exemple, a undefoction idéalisante, celle du miroir qui amplifie, répèteet encadre. En elle ,le mondese contemple et ‘tend à la beauté’(Bachelard). Fleuve, lac ou mer, la surface des eaux

rend hommage à l’univers et le poétise. (DARDEL, 1952, p. 51)

Nosso entusiasmo se (en)leva ainda mais, quando Dardel revela poeticamente:

L’eau n’est pas seulement le miroir que la Terre tend au ciel, aux arbres, auxmontagnes; elle a as transparence propre et son mystère. Elle croise les imagesqui montent dês profundeurs et celles qui renvoiente le ciel ou le rivage. L’intintéde la substance liquide adoucit l’or froid du reflet, et creuse un monde de formesmouvantes qui semblent vivre sous le regard. (DARDEL, 1952, p. 51)

E, então, a fluência de imagens poéticas que dele emergem quando fala do sim-

bolismo aquático e da energia vital que brota das águas, desperta-nos e seduz-nos!“L’eau dvient aisément le symbole par excellence de la vie, à la ‘fontaine de jouvence’,aux rites de baptême et de lustration.” (DARDEL, 1952, p. 68)

Em Yi-Fu Tuan, encontrei o amor pela natureza, esta afeição especial que elechama de topofilia. No seu texto publicado em 1961, “Topophilia or Sudden withNature”, comenta longamente três obras de Bachelard, que, para ele, são exemplosdo estudo de topofilia: “La Terre et les Rêveries de la Volontè”, “La Póetique del’Espace” e “L’Eau et les Rêves” (TUAN, 1961). Este texto presentiou-me com areflexão do envolvimento do geógrafo no estudo da topofilia, proporcionando-me

sustentação para (per)correr os caminhos que já vinha trilhando pelos campos dapoética em direção da geopoética. Como Tuan, os geógrafos, penso eu, deveria seafastar de suas obrigações práticas e unir-se – pelo menos de vez quando – aos artis-tas e poetas para retratar o espetáculo da Terra. Eu não quero dizer que todos nósdeveríamos começar a descrever paisagens, e fazer planos inflexíveis para, numa datafutura qualquer, atingir o objetivo de ter toda terra coberta por esses retratos. Nósnão precisamos de planos, certamente não temos qualquer obrigação de descreveroutra área senão aquela pela qual temos um afeto especial ou uma inexplicável fas-

cinação. Como os poetas e artistas, temos mais tempo para saborear os vário frutosda Terra (TUAN, 1961). Seguindo por esta poética (à) luz bachelardiana, fui ao En-contro do Homem com a Terra (DARDEL, 1952) e o Amor pela Natureza (TUAN,1961), em busca de encontros & revelações d’“O Rio”, na voz dos personagens dolugar – ARAGUAIA!

Por este (per)curso... trilhei os caminhos da geografia pelo olhar da fenome-nologia, aliando ao vigor da ciência a observação pessoal e poética. É importante(re)lembrar a liberdade de escolha do caminho e a consciência de (per)corrê-lo.Esta foi, a perspectiva escolhida e que me conduziu em direção ao “O Rio” – ARA-

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

GUAIA! Aqui, encontra-se o sentido de travessia... e a poética bachelardiana. Oser humano tem o destino da água que corre. A água é realmente o elemento tran-sitório – travessia...

Uma travessia... de amor e poesia!“O Rio” foi concebido no decorrer do outono de 1991, como  EXPRESSÃO

de uma aula formal de Geomorfologia.  Flui... da  MANIFESTAÇÃO de um alunoquando apresentávamos a “Bacia Hidrográfica como Unidade Ambiental”. Então,ele se manifesta revelando uma música que expressa essa relação. Uma música como nome de “O Rio”. Seguindo a fluidez da aula, o aluno sugeriu que fosse apresen-tada a música na sala de aula e, partindo da sua sugestão, na aula seguinte, com otema “Geomorphology in Concert”, os alunos trouxeram os instrumentos musi-

cais e cópias da letra da música para a encenação musical. Assim, acompanhamos“O caminho d’“O Rio”...

O rio vai descendo a serraVai molhando a terra seca do sertãoVai formando uma correnteFeito uma serpente solta pelo chãoE a água de seu leitoÉ leite no peito da mão plantaçãoQue vai eliminar a fome

E matar a sede de toda naçãoO rio vai criando filhosVai regando o milho, arroz e feijãoVai seguindo o seu caminhoSegue seu destino a sua direçãoRio que não tem carinhoQualquer dia desses vão te dar valorNasce limpo e morre sujoEnvenenam tudo até o próprio amorSerá que eles não percebem

Que a natureza pede pra viverEnquanto vai morrendo o rioNada em sua volta poderá nascer(Composição de César Augusto e Mário Marcos; música de Chitãozinho eXororó)

A partir desse  fluxo...,  a música  surge como expressão & manifestação daarte e de conhecimento geográfico. Nesta correnteza..., nossas aulas passam poruma inovação criadora na busca da integração dos vários fragmentos da pessoahumana (GRATÃO, 1991). Da (con)fluência... de idéias emergidas do debate

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 fluíram múltiplas indagações que se materializaram tomando corpo e alma, mar-cando então os nossos  primeiros passos em direção d’“O Rio”, registrados notexto inédito “O caminho do Rio – uma expressão músico(eco)lógica” (GRA-TÃO, 1991). Ao longo desse

Caminho...levamos nossas idéias a vários fóruns

de debate, à procura de novos tributários... em busca d’“O Rio” – que expressaa vida e a morte! As relações humanas estão se distanciando da sua própria natu-reza e as suas manifestações estão expressas nas suas relações com “O Rio”. Oshomens se fazem “donos” dos “recursos naturais” e acaba “cortando” os seuslaços naturais e culturais a Terra. São essas relações as responsáveis pelas atuaiscrises sociais, ecológicas, culturais e psicológicas. É preciso mudá-las! Uma novaforma de olhar o mundo parte de mudanças fundamentais em nossos pensamen-tos, percepções, atitudes e valores. São caminhadas... em direção à criação, à

subjetividade, à imaginação!Dos caminhos... que (per)corremos e experienciamos, podemos revelar algu-

mas expressões... No Caminho d’“O Rio” o encontro do homem com a natureza e/ou consigo mesmo!? Nas suas águas expressões de amor/desamor; Nos seus (per)cursos... a expressão da vida e da morte! (GRATÃO, 1994). Tendo como referên-cia os vários caminhos trilhados... e o desejo fluente de (des)velar esse elemento danatureza – Água/Rio – na confluência... da Geografia com outros saberes, oriento-me para realizar essa investigação imaginante e amorosa.

A investigação seguiu pelos (per)cursos... do relacionamento amoroso do

homem com a terra, do homem com o rio – Homem/Terra/Rio – Hidrofilia! , (des)velando as imagens d’“O Rio” , com o ‘princípio’ de despertar para o sentidodo entendimento d’“O Rio” na construção da sua identidade e recuperação dasua memória. Tomando por ‘princípio’ o laço de afetividade de cada um com “ORio”, ou seja, o que ele representa e como ele se manifesta. A busca do entendi-mento d’“O Rio” como encontro..., é desvelar “O Rio” no movimento das águaspelo mundo da imaginação simbólica; é descobrir ou (re)descobrir que  sentidotem “O Rio” para a compreensão humana da Terra – na perspectiva da geogra-

fia humanista – nas suas múltiplas confluências; é entender “O Rio” não com osignificado de dominação(!), mas de integração, de comunicação, de coopera-ção, de encontro... é conceber “O Rio” pelos laços de afetividade no  sentido dageograficidade topofilíca, estabelecendo com ele um relacionamento de namoro(DUBOS, 1961) e, acima de tudo, criar laços profundos com ele, marcá-lo comnossa própria afetividade. Nesse sentido..., buscando a proteção e (re)cuperaçãode seus valores simbólicos e (res)guardando a sua memória cultural; é perceber“O Rio”, sobretudo, como lugar de morar, de habitar e como base de realizaçõesexistenciais. A investigação d’“O Rio” – ARAGUAIA! – Oh! Ber-ô-can de outro-

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ra! – busca recuperar o seu sentido como canal arterial, seminal, substancial. Asimagens d’“O Rio” construídas pelos viajantes, turistas, ribeirinhos, religiosos,poetas... são percepções que dão ao lugar sua identidade, revelando o cotidianodas águas... e

xperiências vividas– “geografias vividas” –, descritas e interiori-

zadas em sentimentos, numa introspecção de lugares, registrando intimidadese (res)guardando percepções e experiências significativas. Na correnteza daságuas... nos cantos e recantos das suas margens, “O Rio” vai construindo e con-tando sua história e a história dos homens.

“O Rio” – ARAGUAIA! foi sempre caminho... de expedições estrangeiras enacionais, colonizadores, bandeirantes, religiosos, curiosos, ou, simplesmente,amantes do rio, em busca do interior do sertão brasileiro; encontro... de sonhos ede adversidades. A nossa investigação tem o propósito de abrir caminhos... para

comunicar idéias e paixões que as águas sempre proporcionam ao nosso olhar...de corpo & alma. Caminhos... que possam levar (ao) conhecimento e (a) sabedoriad’ “O Rio” como travessia... confluência... encontros... “O Rio” – ARAGUAIA! de

 Água e Sonhos, inspirando-se em Gaston Bachelard na sua  fenomenologia onírica; de Corpo e alma, inspirando-se em Durval Borges no seu romance de exaltação do

 Araguaia (BORGES, 1987). Enquanto Bachelard “imagina” a poética das águas,Borges se “assenta” sobre “as margens do Araguaia” – Água e Terra se encontramno repouso e no devaneio – assim, foi-se compondo pelo imaginário das águas “ A

 poética d’ “O Rio” – ARAGUAIA! ” (GRATÃO, 2002).

Pois aqui a terranão foi ainda profanadae é por isso que se ignora o medo feioda morte que o homem geraÀ beira do rioas raízes mostram a direção da vida buscando a águaevidentemente a bondade passou pelo mundo antesde ser pervertida a consciência.Hoje desejaria não encontrar-me com os homens,

ficar no rio indefinidamentepara avaliar sem mágoaa verdadeira dimensão da terra.(Paulo Gabriel, 1983, p. 75-76)

O Encontro do Homem com a Terra através de Dardel (1952) e o Amor pelaNatureza por Tuan (1961) marcaram a nossa busca. Como observou Besse (1988apud  HOLZER, 1992), a obra de Dardel se torna leitura obrigatória para quemquiser trilhar os caminhos da teoria da geografia, principalmente sob a ótica dafenomenologia ou do humanismo. Besse nos revela:

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A reflexão de Eric Dardel se opõe a redução da geografia a uma “simples” disciplinacientífica. A diversidade de seus interesses, que conduzem Dardel a prestar atençãoàs produções “positivas” da geografia, mas também às problemáticas mais recentesda filosofia, à história das religiões, assim como os problemas éticos de seu tempo,

a leitura assídua de poetas, a convidariam sobretudo a ver a geografia do ponto devista geral de uma reflexão sobre as atitudes humanas no mundo. (BESSE apud  HOLZER, 1992, p. 81-82)

Esta leitura orienta a compreensão d’“O Rio”. A geograficidade exige umaatitude que alia ao vigor da ciência a observação pessoal e poética. Dardel, mais doque isso, conseguiu de maneira simples e direta, utilizando-se do método fenome-nológico, relativizar o papel da ciência na geografia. Colocou “entre parênteses”,de modo magistral, o conhecimento científico ocidental, questionando as bases dadualidade entre sujeito e objeto (HOLZER, 1992). Certamente Dardel ensinou-me uma outra maneira de fazer geografia. A nossa investigação segue essa intençãode traçar uma outra “graphia” d“O Rio” e de lançar um outro olhar em sua direção.É por este sentido que, quando Dardel trata da existência e a realidade geográfica,nos entusiasma pela abordagem poética que faz da geografia, e, mais ainda, quandorevela o simbolismo aquático e a energia vital que vêm das águas, despertando-nospara as imagens e o sentido d’“O Rio”.

Tuan, no encerramento do seu texto poético de 1961, fazendo uma reflexãosobre o envolvimento do geógrafo no estudo da topofilia nos anima ainda mais,

para (pro)seguir o nosso (per)curso...“Os geógrafos, penso eu, deveriam se afastarde suas obrigações práticas e unir-se – pelo menos de vez em quando – aos artistase poetas para retratar o esplendor da Terra [...]. Como os poetas e artistas, temosmais tempo para saborear os vários frutos da Terra.” (TUAN, 1961, p. 32)

A Geografia Humanista não é só um “(per)curso alternativo”; nesse sentido,ela tem outras buscas... outros sentidos... É como seguir um caminho novo... ou-tros olhares... outras paragens... outras travessias... outros encontros... Uma outraviagem!

Esta foi a perspectiva que escolhi para alcançar os meus propósitos; pois, é

esta a trajetória... que conduziu-me ao “O Rio” – ARAGUAIA! Uma trajetória...que, ao longo dos (per)cursos..., encontrei outras (con)fluências...

Um ensaio de David Lowenthal, de 1961 (LOWENTHAL, 1982), represen-tou uma grande (con)fluência... como reflexão epistemológica. Uma outra (con)

 fluência... do mesmo ano vem do geógrafo inglês Prince. Para ele, nesta geografiaque invoca o amor instintivo pela “natureza”, como Ruskin a chama, “Cada ho-mem é um geógrafo... Como o jardineiro, o novelista, o poeta, o pintor, o pescadore o montanhista, o geógrafo compartilha uma experiência direta de paisagem...” 

(PRINCE apud HOLZER, 1992, p. 107).

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

A afirmação de Prince que destaca o sentido da imaginação no conhecimentogeográfico impulsiona-nos para a poética d’“O Rio”:

A boa descrição geográfica demanda não somente respeito à verdade, mas também

inspiração e direcionamento de uma imaginação criativa. Enquanto ela observa oscânones da evidência e se submete aos mais severos modelos de erudição, o motivoque a impele é estético e poético. É função do intelecto em observar os fatos, emreduzi-los para ordenar e descobrir relações entre eles, mas é a imaginação que lhesdá significado e propósito através do exercício do julgamento e do entendimento.(PRINCE apud  HOLZER, 1992, p. 109, grifo nosso)

Por isso, Prince considera que a Geografia deve buscar as descrições dos lu-gares feitos por poetas, ensaístas e novelistas. Lowenthal e Prince, em The En-glish landscape (1964) e English landscape tastes (1965), iniciaram uma linha

de estudos que, segundo Holzer (1992), se tornou típica da Geografia Humanista,trazendo a paisagem e o lugar de forma conjunta nas análises.Lowenthal marca a instauração na geografia dos estudos de percepção am-

biental.

We respond to and affect the environment not directly, but through the medium ofa personally apprehended milieu. This milieu differs for each of us according to hispersonal history; and for each of us it varies also with mood, with purpose, and withattentiveness. What we see, what we study, and the way we shape and build in thelandscape is selected and structured for each of us by custom, culture, desire, and

faith. To understand perceptual processes requires examination of all these facets ofhuman behavior. (LOWENTHAL, 1967, p. 1)

Uma outra (con)fluência... vem de Tuan (1967), que delineia o projeto huma-nista para a geografia traçando um (per)curso... que vai nortear as nossas buscas...e o foco de luz do nosso olhar. Aqui, encontramos maior  força e ânimo para (pro)

 seguir... nossos sonhos!

[...] O mundo do homem é uma fábrica de idéias e sonhos, alguns dos quais eleconsegue dar forma visível. Pelo privilégio de ter fantasias, de possuir um mundoao invés de um simples ambiente, o homem paga com o risco do desastre e com

a certeza da impermanência extrema em todos os seus esforços. (TUAN apud  HOLZER, 1992, p. 121-122, grifo nosso)

Nascentes... confluências... & convergência geopoética

Tuan (1967) e Lowenthal (1967) foram duas (con)fluências... substanciaispara a convergência geopoética. Um geógrafo, culturalista por formação; um geógra-fo histórico por excelência, aproximando a Geografia da Literatura e da Filosofia.

A nascente topofílica surge em 1961, com o primeiro artigo publicado de Tuancom o título instigante “Topophilia or Sudden Encounter with Nature”, que tra-

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duzimos poeticamente como “Topofilia ou encontro repentino com a natureza”(TUAN, 1961). O ensaio inicia descrevendo uma experiência banal vivida pordois artistas, que a valoriza de tal forma que ela se torna única, transcendendo aodomínio do racional. A sugestão de Tuan é que essas experiências não ocorremsomente com os poetas mas com todas as pessoas, principalmente com aquelas quese relacionam com a terra, como os geógrafos, geólogos, naturalistas e fazendeiros.Aqui encontro “eu”, geógrafa, filha de fazendeiros! Pesquisadora aprendiz da terra& da água! Encontro-me com Topofilia – o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ouambiente físico (TUAN, 1980). E, mais uma vez, é importante marcar que a topo-

 filia está no coração da Geografia Humanista que “procura um entendimento domundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza, do seucomportamento geográfico, bem como dos seus sentimentos e idéias a respeito do

espaço e lugar” (TUAN, 1982, p. 143).Topofilia... passa então a representar a (con)fluência... de maior fluidez... e in-

tensidade... ao longo do nosso (Per)Curso... Na verdade, ela passa à representaçãoda nossa mais fluída fonte de inspiração (à) luz da imaginação! Tuan e Bachelardse encontram e nos conduzem por esta investigação amorosa!

Tuan pela Topofilia... amplia-se para novos conceitos: postura cultural; inte-resse e valor; atitudes e crenças. São expressões conceituais que revelam laços deafetividade, de respeito e de cuidado. Por exemplo, atitudes e valores para com oquadro ambiente é uma verdadeira revelação de cuidado com o outro – ambiente/ lugar/paisagem. A pessoa valoriza e organiza o seu mundo e nele se relaciona (nelese vive); é uma idéia de conservação. Se dá valor, cuida; se cuida, conserva, se cuidae conserva, ama! Ou, se ama, cuida e conserva. Da valorização da percepção e dasatitudes decorre a preocupação de verificar os gostos, as preferências, as caracterís-ticas, e as particularidades dos lugares. Valoriza-se também o contexto ambiental eos aspectos que redundam no encanto e na magia dos lugares, na sua personalida-de e distinção. Há o entrelaçamento entre o grupo e o lugar.

Encontramos aqui conceitos mais sutis, como gostos, preferências, encanto,

magia e personalidade dos lugares..., sutilezas que levam o entrelaçamento entre o grupo e o lugar . Quantos lugares nos encantam? Quantos lugares nos são mágicos? Lugar... é onde o indivíduo se encontra ambientado, no qual está integrado. Ele

faz parte do seu mundo, dos seus sentimentos e afeições como centro de significânciaou um foco de ação emocional do homem. O lugar não é toda e qualquer localidade,mas aquela que tem significância afetiva para uma pessoa ou grupo de pessoas. Elepossui ‘espírito’ , ‘ personalidade’, ‘ sentido do lugar ’ (TUAN, 1979). Este sentido dolugar se dá pela apreciação visual ou estética, e também pela audição, olfato, paladare tato, que exigem um contato próximo e uma longa associação com o ambiente.

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

Novas (con)fluências...

A partir da fusão... da fenomenologia com o existencialismo, Buttimer (1974)procura construir sua visão para o futuro da Geografia. A geografia do futuro, para

a autora, deve se dedicar a explorar o mundo cotidiano, engajando problemas so-ciais, revolucionando o pensamento geográfico, explorando a vocação erudita e asquestões éticas...

Seguindo então pela trajetória humanista..., saímos em busca d’“O Rio” – ARAGUAIA! no sentido... de criar e (re)criar idéias que possam ampliar (à) luz dohorizonte de conhecimento e de entendimento d’“O Rio” . E, recebendo as (con)

 fluências... não como canais isolados, mas como vertentes que se dirigem, se encon-tram e se convergem num mesmo canal – “O Rio” – que não divide, mas que une...Terra e Homem. Como canais que devem ser concebidos da  fusão... de conheci-mentos e de pessoas. Com afetividade! Não como (per)cursos paralelos... caminhan-do um ao lado do outro sem se darem as mãos. Mas, um Caminhar... de mãos dadasem direção ao Grande Encontro... (e)terno abraço e (e)terno retorno. Assim segue “ORio” – ARAGUAIA! Homem e Natureza de mãos dadas! Comunhão!

Como nos versos cantados por Ernestina... Povo a Caminho...

O povo a caminhoÉ povo se encontrandoPara um mundo novo

 Juntos caminhandoViajante Aprendiz... o encontro... com o ‘lugar’ & ‘uma outra maneira de fazer

geografia’

Du plan de la géographie, la notion de situation déborde dans les domaines lês plusvariés de l’expérience du monde. La ‘situation’ d’un homme suppose um ‘espace’ oùil ‘se meut’; un ensemble de relations et d’échanges; des directions et des distancesqui fixent en quelque sorte le lieu de son existence. L’Homme e la Terre – Nature dela realité géographique. (DARDEL, 1952, p. 19)

Na busca do lugar... um grande encontro... com Dardel! Uma majestosa re-velação! Tomar contato com a sua obra foi “descobrir” a intensidade do lugar deexistência. A base de uma existência é o lugar..., diz Dardel. É a partir dele quedestacamos os “objetos” do mundo que nos circunda, e que se referem às nossasatenções e a nossos projetos... “Avant tout choix, il y a ce ‘lieu’ que nous n’avonspás choisi, ou s’effectue la ‘fondation’ de notre existence terrestre et de notre hu-maine condition” (DARDEL, 1952, p. 56). Certamente, Dardel mostrou-me “umaoutra maneira de fazer geografia, “esta que analisa as experiências mais recônditas,primitivas e diretas do Ser Humano com a Terra; esta relação primordial, seminal,

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sem a qual nossa existência não teria sentido” (HOLZER, 1992, p. 82). Ensinou-me uma geografia vivida em ato, existente a partir da exploração do mundo e daligação do homem com a terra natal, que trata da relação do homem com a Terra;“une

 géographicitéde l’homme comme mode de son existence et de son destin”

(DARDEL, 1952, p. 2). Esse humanista que me encorajou quando diz que é preci-so romper com os limites da ciência de laboratório para se ir além, buscando umageografia interior, primitiva.

Como viajante aprendiz , aprendi essa cumplicidade constante entre a Terrae o Homem, que se realiza na existência humana, chamada de geograficidade (géo-

 graphicité), envolvendo os bons e os maus encontros com o ambiente – paisagens,lugares & personagens.

Na leitura de Edward Relph, pela sua leitura da geograficidade e do método

fenomenológico, aproximo-me ainda mais de Dardel... “Geograficidade é a relaçãoque necessariamente temos com o mundo através dos espaços, paisagens e luga-res que encontramos nas nossas vidas diárias. Geograficidade compreende nossasatitudes ambientais e respostas imediatas ao ambiente, e facilmente tomada porcerta.” (RELPH, 1979, p. 22) Dardel já dizia... explanatória ou descritiva, a geo-grafia permanece profundamente ligada ao real e em Geografia assevera que é “im-possible du cote de ‘observateur, de supprimer, entièrement lê ‘point de vue’, d’oùest embrassée la réalité géographique, d’effacer, par conséquent, la subjectivité dusujet pour laquelle la réalité devient réalité” (DARDEL, 1952, p. 121). É essencial,

portanto, prestar atenção na maneira pela qual “a realidade geográfica vem rever-berar dentro de nós” e estar atento ao como respondem aos espaços, paisagens elugares (DARDEL, 1952, p. 53).

Nesse viajar... observa-se que a geograficidade envolve encontros – “bonse maus encontros”. Nesse sentido, é possível falar de uma geograficidade topo-fílica – que envolve os bons encontros. E dos bons encontros... com “O Rio”,pode-se conceber uma geograficidade hídrica que nasce do profundo vínculoafetivo com ele – topofilia hídrica – Hidrofilia! Nos encontros... com “O Rio” –

ARAGUAIA! cada personagem seleciona e concentra uma forma dominante derelacionamento topofílico – de amor, de encantamento, de prazer, de sedução,de alegria, de saudade... O valor moral e estético d’“O Rio” flui... das falas, dosgestos, do coração... nos tons de voz, no olhar.. Os personagens revelam os seussentimentos hídricos/fluviais, os seus vínculos hidrotopofílicos. Mesmo quesejam sentimentos de “tristeza”, não mostram tristeza pelo desaparecimento/morte do peixe, da pesca, materialmente falando, mas de uma perda maior – decosmo. Um sentimento de perda que vem da alma, ligado ao espírito do lugar– inscape –, uma ligação do Homem com a Terra. Na memória indígena, é um

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rompimento com as tradições – mitos e ritos. Estas revelações! encontram-se napoesia, na música, nos relatos de viajantes, nas campanhas publicitárias e nosprojetos de educação ambiental. Como observa Dardel, “antes de toda escolha,existe este ‘lugar’ que nós não escolhemos, onde se efetua a ‘fundação’ de nossaexistência terrestre e de nossa condição humana” (DARDEL, 1952, p. 56).

A partir do olhar de Dardel, Relph (1979, p. 23) nos declara... “Toda Geogra-fia tem de ser entendida como uma interpretação, na qual, por exemplo, há muitasGeografias sobrepostas e corretas [...] e o valor e a correção dependem da qualida-de da interpretação que oferecem, tanto quanto nosso interesse sobre elas”. Cer-tamente, há muitas Geografias sobrepostas e corretas d’“O Rio” – ARAGUAIA!,a do IBGE, a do RADAMBRASIL, a de Couto Magalhães, a de Hermano Ribeiroda Silva, a dos Poetas do Araguaia, a de Carmo Bernardes, a de José Mauro de Vas-

concelos, a de Durval Borges..., mas a identificação da geograficidade tem aindaimplicações mais amplas, como afirma Relph, por ela ter a ver com o modo peloqual vivemos no mundo, e com a qualidade das nossas experiências ambientais.

Qualquer trabalho fenomenológico da geograficidade revelaria seguramente nãoapenas uma riqueza de experiências pré-científicas, mas também uma riqueza designificados, que são ignorados e descartados como triviais. Revelaria, portanto, o grauda insensibilidade ambiental que alcançam, não somente como geógrafos teoréticosou engenheiros, mas indivíduos em nossos mundos-vividos. (RELPH, 1979, p. 23)

A Hidrovia Araguaia-Tocantins, se concebida pelo canal fenomenológico da geograficidade,  revelaria o grau da insensibilidade ambiental e/ou de desamor edesrespeito ao “O Rio”. Revelaria o distanciamento dos homens com “O Rio” e o(des)enraizamento com a terra e o lugar...

Eric Dardel faz a convergência... com “O Rio” – ARAGUAIA! , no sentido de(re)conhecê-lo como lugar..., e o relacionamento primordial entre o Homem e aTerra pela sua geograficidade. Nesse sentido, compartilho com Holzer, quando ex-pressa sobre a obra de Dardel...

Os temas básicos que preocupam a geografia humanista estão, certamente,

contemplados neste pequeno livro: a relação primordial entre o homem e a Terra,e a questão das distâncias e localizações na formação dos conceitos de lugar. Estestemas estão à espera de recuperação e adequação ao momento atual, talvez abrindonovas frentes de investigação para a geografia. (HOLZER, 1992, p. 95-96)

Lugar de encontros... & conversas... de amor, poesia & sonhos!

A Palavra e a Voz da ÁguaConversa de Amor

 Jaburu, na praia branca do rioconversava uma eternidade de silêncio

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Olhos Vegetais

Titia, quem é Urupianga?

– Urupianga é a voz da selva, o deus dos bichos. Quando

Urupianga fala, não sai voz, sai música.

 Rosinha, minha canoa (VASCONCELOS, s.d.)Para compor este fragmento de texto, inspirei-me na conclusão do livro A

água e os sonhos, de Gaston Bachelard, onde ele registra em linguagem fluídica...“A palavra da água”...

A água é a senhora da linguagem fluida, da linguagem sem brusquidão, da linguagemcontínua, continuada, da linguagem que abranda o ritmo, que proporciona umamatéria uniforme e ritmos diferentes coisas! Que grande mestre, o riacho!  [...]Palavras há que se acham em plena floração, em plena vida, palavras que o passado nãohavia concluído, que os antigos não conheceram tão belas, palavras que são as jóias

misteriosas de uma língua. Tal é a palavra rivière (rio). É um fenômeno incomunicávelem outras línguas. Pensemos foneticamente na brutalidade sonora da palavra river .Compreenderemos que a palavra rivière é mais francesa de todas as palavras. É umapalavra que se faz com a imagem visual da rive (margem) imóvel e que, no entanto,não cessa de fluir... (BACHELARD, 1989, p. 193-195, grifo nosso)

A fluida fonte... vem do encontro... com “expoentes” do lugar... personagensdo lugar... Seguindo pelas referências apontadas encontramos o lugar..., quandoobservamos através das múltiplas cenas e dos múltiplos encontros... um relaciona-mento de afetividade das pessoas com “O Rio” , marcando um forte sentimento deamor e expressão poética. Este lugar... existe e tem um nome – ARAGUAIA! – queestá guardado no imaginário dos povos  Karajá...; dos povos ribeirinhos; escri-tores, poetas, músicos, missionários... As palavras d’“O Rio” ‘ em plena floração’,se revelam na voz dos personagens do lugar... em expressões poéticas, literária emusical...

Na voz do poeta Paulo Gabriel (1983, p. 76):

Encantos do RioHoje desejaria não encontrar-me com os homens,

ficar no rio indefinidamentepara avaliar sua mágoaa verdadeira dimensão da terra

Na voz do músico Marcelo Barra (1993):

AraguaiaE na rede ensismesmadoSonho sonhos que já estão em mimSinto a vida que eu levo aquiNão esqueço nunca mais

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Diante do cenário de imagens  fluidas... “O Rio” – ARAGUAIA! é mesmo umlugar... de cantos e encantos... na composição de José Wilson Leite e na voz cantadapor Marcelo Barra (1993):

Oh! Rio cheio de encantoQue banha a minha terraTodo orgulho de minh’almaTeu valor garboso encerraVá meu sofrer minha dorMeu Araguaia queridoPor ti eu morro de amor

É mesmo um canal... (en)volvente como é revelado nas canções de Ernestina(MJC) (1990)...

Araguaia, meu AraguaiaComo enorme serpente se enrroscaMajestoso nos prende e não soltaSe nenhuma vez o Araguaia já viuChegou tarde não custa ele voltaRemador deixa o barco correrQue estas águas nos levem pra’além

É mesmo um lugar... de encanto... um canto de amor... de grandeza... e de so-nhos! na voz do poeta, músico, missionário e andarilho.... Rio de Sonhos... Com-

posição e Música de Manelão...Rio de SonhosMeu belo Rio AraguaiaEncanto da naturezaNum canto de amor e pazHei de levar onde eu forSeu nomeSua grandeza(Manelão, 1990)

Diante desse horizonte poético, o espaço se transforma em lugar à medida queadquire definição e significado (TUAN, 1983). Então, pela transfiguração do espa-ço em lugar surge “O Rio” – Lugar... com sentido do lugar... do espírito do lugar...É “O Rio” apreendido pelo olhar, pelo sentido, sensações, no que é “visível” no“não visível”; no deslocamento... no movimento... na cor... no cheiro... nos sons &tons...“O Rio” evocando sentimentos, emoções, lembranças, evocando o espírito dolugar... – “inscape” . Os  personagens atribuem significados particulares ao “Rio” ,expressando suas referências e suas condutas, seguindo suas experiências e, assim,vão definindo e orientando as suas atitudes com ele. “O Rio” , se revela na voz do

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músico, do índio, do poeta, do missionário... cada  personagem... revelando os elosafetivos com esse lugar... Na (con)fluência... da geograficidade de Dardel, do amorpela natureza de Tuan e do espírito humano de Buttimer, (à) luz da imaginação po-ética de Bachelard, “O Rio” – ARAGUAIA! é mesmo um canal de múltiplas (con)fluências... e lugar... de encontros... & conversas... de amor, poesia & sonhos!

O caminho d’“O Rio” – ARAGUAIA!

A TerraO Araguaia desce mil léguas de seu silêncioÀs suas margens, o homem.É um rio silencioso. Rio solidárioUm rio que se embebeu dos anos da vida humana,

as suas margens.Água grandeÁgua pequena– Araguaia Mansidão.(Garcia, 1980)

O poeta expressa a poesia que flui d’“O Rio” – e que segue com ele; que bro-ta das águas e segue com elas... O meu desejo seria de seguir no sentido da águaque corre, no sentido da correnteza, como Bachelard expressa na sua poética derio...“ Meu prazer é ainda acompanhar o riacho, caminhar ao longo das margens,

no sentido certo, no sentido da água que corre, da água que leva a vida alhures, à povoação vizinha.” (BACHELARD, 1989) Esse teria sido o nosso sonho! Cami-nhar... pelas suas margens, navegar ... pelo seu leito no sentido da água que corre...Meu “alhures” vai bem longe... “O Rio” – ARAGUAIA! faz um (per)curso... commais de dois mil e cem quilômetros até o  Encontro... com o Rio Tocantins... Alitermina... o Berohokÿ e se finda “O Rio” – ARAGUAIA! . É, pois, um mundo! . “ORio” – ARAGUAIA! não conduz suas águas até o Mar; não chega ao Oceano Atlân-tico. O seu destino não é o infinito mas a imensidão/mansidão... fluxo que pulsano coração do Brasil!

O Grande Rio! ARAGUAIA! Berohokÿ! – Olhos d’água que brotam do chãopulsante, borbulhante... que logo a poucos metros das Nascentes... que vertem doconjunto de vales da Serra do Caiapó a 850 metros de altitude, já se escultura umriacho para então se tornar um grande “Rio” , nasce do  Encontro... de três Esta-dos – do lado leste, Goiás, do lado sul, Mato Grosso do Sul, e do lado oeste, MatoGrosso. Com orientação para o Norte, passa por toda a extensão de Goiás e To-cantins pela vertente direita e pela vertente esquerda, por toda extensão do MatoGrosso e porção sul do Pará até o  Encontro... com o Rio Tocantins na  Ponta do

 Bico do Papagaio em terras dos tocantinenses. A partir do Bico... suas águas se jun-

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tam e se dirigem ao mar – Oceano Atlântico –, (per)fazendo um longo (per)curso...para compor grande Bacia Hidrográfica Araguaia/Tocantins.

Ao longo do seu (Per)Curso... segue por um surpreendente cenário de ima-

 gens... & paisagens... corpo & formas... movimentos...cachoeiras, quedas, canyons,

grutas, cotovelos, travessões, barreiras, curvas, meandros, areias, praias... compon-do seu corpo, formas & esculturas.

No Araguaia, a natureza se move no seu ritmo peculiar. Tudo acontece no seudevido tempo: o pouso do Jaburu, a desova da tartaruga, o sol lambendo as águasno início e no fim do dia. A única coisa que deve ser feita a qualquer hora, sem pa-rar, é a preservação... O Ritmo da Vida – (PROJETO ARAGUAIA, 2000).

Poetas e músicos têm “razão de sobra” para compor os seus versos & cantos.São cenários e cenas de verdadeiro encantamento! São cantos e recantos de uma

terra cheia de encantos! São composições de profundo amor ao “O Rio”. É só po-esia! Devaneio!

Raios de sol dourados refletidos nas calmas águas; estendidos nos lençóis deareias quentes, homens e mulheres se entregam de “corpo inteiro” à sua beleza esedução. Na intimidade das águas se envolvem de “corpo e alma”! Imagens poé-ticas extraídas da imaginação aquática de Bachelard que vêm povoar os sonhosde busca... & encontro... com o nosso “sujeito” de investigação pelos “Sertões do

 Araguaia” em busca de (re)colher imagens poéticas! Uma travessia... pelas míticase místicas paisagens de lendas! de sonhos! por este longínquo (per)curso... “cor-tando” o sertão!

Travessias... & encontros... imagens reveladas na voz das pessoas do lugar...,“parceiros”, “viajeiros”, “aventureiros”! Imagens... de um “Rio” sagrado, solidá-rio, mágico, de mistérios! Ao amanhecer e ao anoitecer o  surgir... de um “mundoencantado”! No despertar do dia, raios dourados do Sol descortinando a bela pai-sagem do Cerrado! Ao entardecer e ao anoitecer, outros olhares... (à) lua crescen-te! Refletindo raios prateados nas águas encantadas, delineando imagens oníricas(des)veladas & reveladas! pelos poetas e geopoetas!

É nos lugares onde vive e pelo manejo dos campos, rios e pradarias, no cursode sua vida e no movimento das coisas e pessoas, que o homem externa sua relaçãofundamental com a Terra (DARDEL, 1952). Não há nada de misterioso, ou abstra-to, ou exclusivo nesse mundo-vivido geográfico, o qual todos devemos encontrarem nossas vidas diárias. Dardel (1952) já nos apresenta a geografia como um modoparticular de sermos inspirados pela terra, pelo mar, pelo rio, pela distância, pelaviagem tornando-se real pela paisagem.

E o poeta se enamora e canta, inspirado na relação fundante com o lugar-paisagem,

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Meu AraguaiaAraguaiaLongas noites, madrugadasQuanta beleza pra um só lugar

...Meu AraguaiaSuas areias cobriram meus pésSeu encanto fez do prantoUm acalanto pra nós doisE na rede ensimesmadoSonho sonhos que já estão em mimSinto a vida que eu levo aquiNão esqueço nunca mais(Composição de Rinaldo Barra; música de Marcelo Barra, 1990)

“O Rio” – ARAGUAIA! ocupa o lugar... & o coração... do povo goiano comouma artéria que pulsa e dá vida – corpo & alma – Coração do Brasil – PlanaltoCentral! Ao longo do seu (per)curso... o amor pela Terra é contado em prosa eversos como uma geografia que invoca o amor instintivo pela “natureza” – “o gêniodo lugar” – que só pode ser conhecido através da literatura, da arte ou da ciência.Assim, os personagens expressam e preservam o sentimento de amor e o vínculocom a terra natal; exprimem a sua experiência geográfica pela ‘matéria’ da Terraexpressando os seus sentimentos de paisagem! O sentido de “guardar” a imagem

do lugar... com seus valores geográficos, históricos, culturais e imaginários, cele-bram a ligação entre o Homem e a Terra. Nesse ato, registrando a maneira como osseres humanos respondem ao seu ambiente físico, em torno da topofilia, o elo deafeição que une as pessoas aos lugares (TUAN, 1980) e em torno dos significados evalores, procurando abarcar a totalidade do ser através da percepção, pensamento,símbolos e ação (BUTTIMER, 1974). E o poeta canta em noite de luar,

Rancho de CapimNoite de luarE essa calma assim

Pra poder sonharTantas horas vão se perdendoE o rio ali correndoPor toda a vidaVai levando o meu cantar...Um pedaço desse céu, o luarDeixando n’alma uma linda poesiaEm forma de canção...

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

Meu Araguaia poesia do Sertão(Música de Marcelo Barra (1990); composição de Rinaldo Barra e Luiz Junqueira)

O escritor Leolídio Caiado expressa o sentido da Vida d’“O Rio”, em “ Ara-

guaia – O rio da vida” (CAIADO, 1999). Na “orelha do livro”, Jaci Siqueira poe-tisa, “O rio Araguaia – rio, paisagem, fotográfico, cinematográfico, o rio-mãe que atodos se deu e agora esvaindo-se nas próprias veias, implora por piedade que lhedêem algum desvelo, não asfixia final [...] rio turístico ‘pão nosso de cada dia’ detantas nações, regalo d’alma goiana pela beleza que não pára não, não pára, nãopára, Meu Deus!” (CAIADO, 1999, p. 14). Imagens... que ao chegar em Luis Alves(GO) chamaram a atenção da viajante... A entrada da cidade estava embalada porfaixas coloridas saudando o Amigo do Araguaia, que estava lançando o seu mani-festo de amor ao “O Rio” .

Assim, os personagens ensinam-nos suas geografias; a Geografia dos não geó- grafos e revelam-nos os sentidos, os significados. Imagens... & revelações! que setransfiguram no espírito do lugar, que emergem do próprio “orgulho” do lugar...,Uma nova entonação! de “coração”! Revelação de namoro com a Natureza. Ex-pressão daquela terrae incognitae que, segundo Wright (1947) é a mais fascinantea ser buscada: a que se encontra no interior da alma e do coração dos homens.

Diante dessas imagens... reais e imaginárias da água... Godoy Garcia em “Aquié a Terra” (GARCIA, 1972), suspira...

Êh, Água...A água não vive sozinhatem o amor com as estrelasque moram no seu seioNinguém vence a águaEla vai mansamente,Caminha o mundo,para os homens.

“O Rio” – ARAGUAIA! – ‘Aterrorizante beleza’

 John Wayne, quem diria, quase acabou no Araguaia. Trata-se do filme Tigrero,cujo diretor, Samuel Fuller, elevado à condição de mestre do cinema depoisdo clássico Agonia e Glória, de 1980, definiu apaixonadamente o cenário queescolheu para seu Tigrero: É um paraíso aterrorizante em sua imensa beleza.Fuller foi romântico e preciso. A região do Rio Araguaia, de tão esplendorosa,assusta. É a própria síntese do Brasil. Tem praias de areias brancas e macias comoas do litoral nordestino, vegetação e animais da Floresta Amazônica, do Pantanale do Cerrado, gado gaúcho, forró pernambucano, índios que falam com sotaquecarioca, e um especialíssimo mosaico cultural que só poderia ser construído num

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país multifacetado como este. É como se as músicas de João Gilberto, Villa-Lobos eLuiz Gonzaga se fundissem num caldeirão explosivo e, com uma mágica brasileira,se transformassem num recanto do mapa... O primeiro contato dos carajás com osbrancos aconteceu no século XVI, com as incursões dos bandeirantes no Araguaia

[...]. Hoje restam apenas 2 mil carajás  – todos na região do Araguaia –, queainda vivem basicamente de pesca, caça, coleta de alimentos e alguma lavoura..“O mundo Carajá e a ‘aterrorizante beleza’ do Araguaia  estão registradosnuma brincadeira que virou cinema, ‘Tigrero, o Filme que Nunca Foi Feito’, umaprodução independente do diretor finlandês Mika Kaurismaki. Em setembrode 1993, Kaurismaki filmou o reencontro de Samuel Fuller, então com 82 anos,com os índios que conhecera havia quarenta anos. O filme aproveita imagensdo passado, tem Fuller no papel dele mesmo e o também cineasta Jim Jarmuschcomo um repórter que o entrevista. ‘Tudo mudou muito. Apenas os índios sãoos mesmos. Agora eles usam roupa, mas continuam com a mesma alegria juvenil’,

disse Fuller, inebriado. Hoje, John Wayne poderia vir aquí”. (TERRA, 1996, p.26-34, grifo nosso)

Os personagens do lugar... não poderiam mesmo resistir ao “terrível encanto”deste “Rio” – Karajá – Berohokÿ! – Rio Grande! – de cantos, recantos & encantos!sedução! Suas águas e suas praias contagiam o nosso olhar (à) luz da imaginação, fazendo fluir o nosso imaginário! Cor e luz fazem da paisagem um mundo de so-nhos e nos convida a sonhar... e a paisagem onírica compõe a grande tônica deste(per)curso... da Ilha do Bananal. É o (per)curso... do “rio majestoso” do amante do

 Araguaia, Hermano Ribeiro da Silva (SILVA, 1949). Afinal, este é o Reino dos Ka-rajá. Aqui, nasceram os filhos do ARAGUAIA! Aqui está o “lago” de onde segundoa tradição indígena saíram do fundo das águas os primeiros  Karajá – os povos do

 fundo das águas. Trata-se de um imenso e misterioso lago, com o nome Paraupevaou Paraupava, nomes emprestados ao próprio Rio Araguaia, como registra o escri-tor Borges (1987)...

Dessas águas... deste Grande Útero... é que vieram à luz,os povos Karajá atra-ídos pela beleza e encantamento das suas praias douradas; dos frutos e do mel...paisagens de cerrado! Revelações... de cosmização do território dos Karajá e o en-

cantamento das pessoas pelo lugar... Esse encantamento faz parte mesmo desse“Rio” , como os próprios Karajá que viviam no fundo das águas e que se encanta-vam com “O Rio”  – ARAGUAIA! , como diz a lenda. É esse mesmo encantamentoque nos leva também a se encantar com ele? São revelações de vínculo com oslugares, com as paisagens, como escreve Dardel (1952), precisamos de uma basepara estabelecer nossa existência e realizar nossas possibilidades.

Ao longo do (per)curso... percebemos que parece haver um elo na corrented’“O Rio” ,  ligando as pessoas com ele. Seria a busca do “religare” com o lugar,como que revelando a relação espiritual com o “O Rio” ?

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

A esta imagem religam os versos entoados por Manelão (1990) na canção “Riodos Meus Sonhos”,

Meu belo Rio Araguaia

Encanto da naturezaNum canto de amor e pazQuero contar suas belezasHei de levar onde eu forSeu nomeSua grandezaMeu Araguaia

No contorno do belo corpo da Ilha do Bananal, outro personagem revela, “AsBelezas do Rio Araguaia”,

Araguaia, suas praias têm belezaOnde vivem os Carajás,Tem peixes e TracajásOnde cantam os Sabiás.Tem tartarugas, Pirosquis e PintadosTem árvores de todas as qualidades,Tem um povo pobre e coitadosNos barrancos do Araguaia.(Raimundo Rosendo Filho apud  GRATÃO, 2002, p. 159-160. Ex-vice-prefeito deCasseara, MT)

Diante desse belo cenário, um ilustre personagem do lugar, Dom Pedro Ca-saldáliga revela sua mística. Bispo e poeta do Araguaia, declara: “minha vida é esteAraguaia! que se teme e se deseja” e expressa em forma de poema, na sua AntologiaRetirante (CASADÁLIGA, 1979),

Nossas vidas são os rios.Minha vida é este Araguaia!Idescretível,indecifrável,

Que se ama e se agradece, e se teme e deseja;ao qual se volta sempre,Como a um lar, fatídico e feliz....E, de súbito, o pulsarfrágil de uma canoaE as nuvens, acima,cansadas e fecundasAs famílias que chegam, retirantes;...

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as mulheres batendo a trouxa indiscreta;os homens na popa, os homens no remo;e os meninos banhando-se,somando-se às águas, como peixes.

E eu, pela manhã, lavando-me do sonocom o espelho incandescente ao sol da outra margem;eu, pela tarde, entrando,reverente, estrangeiro,vestido pela luz poente e pura,Na liturgia destas grandes águas...

Na voz do Bispo, no seu campo pastoral em São Felix do Araguaia (MT),brota com intensidade fecunda a expressão poética de um Rio Sagrado! Um RioSolidário. Na celebração da Santa Missa na Catedral da Prelazia, Cantos, Sermões e

Oferendas todos revelam um ato de fé, de Comunhão com a terra, com a água e comos homens! CANTOS do Povo de Deus (1996)

O pão sofrido da Terra, na mesa da refeição,O corpo do meu Senhor é força viva da pazÁgua trazida da fonte, matando a sede que mata.Água da chuva no chão traz vida e traz pãoprá gente e pra mataÁgua da Vida, Vida, Jesus, é força viva da paz

Uma cerimônia (en)levada de simbolismo telúrico & aquático! A própria Ca-tedral de São Félix é uma imagem dessa expressão simbólica. Dom Pedro, como

 Poeta do Araguaia! confessa... um “estrangeiro” que chegou no Brasil e que en-tregou sua vida ao Araguaia, ao Sertão e aos Povos do Araguaia! Nos seus versosestá composta a paisagem e o sentido de lugar numa atitude de ternura, de encanta-mento e de denúncia ante ao “Rio” – ARAGUAIA! , e essencialmente de amor! E desubstância! Substractum vitae! ...

Em outro poema, revela os (per)cursos da prelazia... de amor e de conflitos!(Casadáliga, 1979)

Nosso Araguaia querido,Praia dos homens-canoas,Divisa do Cativeiro,Giro da Bandeira Verde,Porteira do Latifúndio,Banzeiro da indignaçãoGuerrilha de Ventanias,Mar Vermelho da EsperançaNosso Araguaia querido.

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

O personagem... recorda as canções d’“O Rio” – ARAGUAIA! para expressaras suas belezas e mistérios dessas margens do Araguaia... e começa a cantarolar, namesma fluidez do poema... “O Rio Araguaia é peixe... é caminho... mas ao mesmotempo, dentro da poética singela do povo..., é mito. O Araguaia tem muito mito! Éo luar do Araguaia!... O amanhecer do Araguaia! As flores do Araguaia! O Araguaiado boto... sinal... símbolo... até religioso. Porque o boto é muito respeitado, mui-to querido, Ele salva os náufragos. É prosperidade!! O “olhar de um estrangeiro”revela também o seu o encontro repentino de topofilia (TUAN,1961) e geopoético(DARDEL, 1952) com “O Rio”  – ARAGUAIA! , absorvendo e descrevendo a sua

 paisagem... O Araguaia é o maior rio que já vi. Este caudal do Araguaia me chegacheio de Llobregats... O Araguaia é o rio mais piscoso de toda a região amazônica.É uma bênção de Deus... Gostaria que me enterrassem – se morrer aqui – no cemi-

tério de São Félix, que está ao lado do Araguaia... Minha vida é este Araguaia...E, como se não querendo (des)vincular do Araguaia ou se querendo recuperar

da memória a ligação subconsciente, do Araguaia com o rio da infância continua...Araguaia que vem cheio de “Llobregats”, no sentido de um rio tão infinito e aquelerio tão pequeno. Então, O Araguaia, subconscientemente está cheio de rios “Llo-bregats”. “Esse é o rio de minha infância”, rememora o bispo espanhol.

(À) luz da imaginação amplia, cada vez mais, o campo de envolvimento dageografia com a topofilia, como Yi-Fu Tuan muito bem nos ensinou. Ao chegar notrevo da cidade de Conceição do Araguaia, no  Portal de Entrada... uma imagem

 sagrada! Nossa Senhora da Conceição! Voltada para “O Rio” , contemplando-o,orientando-o e abençoando-o à distância e o poeta expressa em versos de cordel(MANELÃO, s.d.),

O nome desse lugartem um significadoBerocan, o grande rioAraguaia, assim chamadoSob chuvas de Bençãoà Virgem da Conceição

o lugar foi consagradoE surge a canção “Conceição do Araguaia”Venha olhar como é belo morarNestas plagas tão belas do meu Grande ParáVenha ver, correr mansamenteO lindo Araguaia mais belo que o marOnde os barqueiros lutam com destrezaE cantam a naturezaSob o belo luarVenha já, venha ver o que há em Conceição do Araguaia

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Conhecer a tribo Carajá,Nestas praias de cá.Venha ver como estouVocê vindo fica namorado

Desta terra encantada e não voltará

Este é o cenário d’“O Rio” – ARAGUAIA! que concebeu a cidade nas suas mar-gens pelo espírito da Igreja e cujo imaginário religioso ainda hoje se manifesta e serevela no belo monumento à gloriosa e amada Imagem de Nossa Senhora da Con-ceição, esculpida em pedra no Portal de Entrada da cidade, erguida nas areias bran-cas do vale encantado d’“O Rio” – ARAGUAIA!. Imagem que revela experiênciasmissionárias e a relação com “O Rio”, mostrando o espírito religioso que guarda olugar... ‘inscapes’ vividos e reconhecidos pelos  personagens... ligados ao “O Rio” , 

expressando a sua “geograficidade”. Afetividade, religiosidade e transcendência.Por todo canto e recantos na beira d’“O Rio” ,  o encanto de mágicas cenascomo expressão da “intimidade” com “O Rio” . Mulheres do Araguaia... amantesdo rio... escravas do rio... “Lavadeiras do Araguaia”, na voz do poeta Paulo Gabriel(POETAS DO ARAGUAIA, 1983, p. 87-89).

Vou contar a vidadas mulheres do Araguaia,amantes do rioescravas do rio

senhoras da água,lavadeiras!O Araguaia manso, se oferece meigo, cúmplice, amantee elas o abraçam, o invadem e nele se abandonamnadando sensuais, a roupa grudada ao corpoantes de começar a luta.

As lavadeiras (en)cenam, cantam e (en)cantam, enfeitam “O Rio” – ARA-GUAIA! . À tarde, as mulheres descem para as águas com suas ‘trouxas’ de roupasna cabeça; é hora dos encontros & conversas; de lavar & banhar; de cantar. Mo-

mento de Festa! Sedução! Intimidade e liberdade!Lavadeiras! Escravas num tempo de negra-liberdade,Libertai a vida como o rio é livre,Lavai a dignidade na água pura.(Paulo Gabriel, 1983, p. 89)

 O Mágico Encontro das Águas no Bico do Papagaio! Ode à Alegria!

E os dois rios descem abraçados,Sem se darem conta de que o homem civilizado,Agredindo com fúria a Natureza,

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

Destrói, sem piedade, tanta beleza!(Laurentina Murici de Medeiros apud  SILVA, 1997, p. 183)

Chega-se ao Encontro das Águas no Bico do Papagaio! O amarelo-ouro dos

raios de Sol pintando o céu e as águas expõe a paisagem do lugar. É a magia das águas(à) luz da imaginação! Só as águas podem proporcionar tão belo olhar através de suafluidez elaborando e refletindo suas imagens... Movida pelo desejo de ir ao Encontrodos Rios... chega-se à Araguatins (TO) fazendo a travessia... pelo mágico e (en)can-tado Sertão do Araguaia. Em Araguatins encontra-se com “O Rio” – ARAGUAIA!A partir de Araguatins nas margens d’“Rio” – ARAGUAIA! , território do Estado doTocantins, abrem-se duas vias em direção ao Encontro dos Rios... Araguaia & To-cantins... pela superfície de terra e pela superfície das águas. Duas Viagens... DuasTravessias... Três Estados brasileiros – Tocantins, Pará e Maranhão – no contorno

da Ponta de Terra do Pico do Papagaio unindo territórios e povos.Esta é a história das águas! Todos os rios têm uma história. “O Rio” – ARA-

GUAIA!  tem a sua também. O poeta Cícero Gomes rememora “Karajá” (POETASDO ARAGUAIA, 1983, p. 42)

Homem-terraDe passos exatos,Olhar profundo.Senhor do Rio.Karajá.

canoeiro.Conheces o ululudessas águas?

Dois (per)cursos... de grandes venturas e (a)venturas em direção  Encontro...quando “O Rio” – ARAGUAIA! entrega suas águas ao Rio Tocantins através da

 Ponta do Bico do Papagaio. No devaneio da terra – do elemento terrestre – ao longodeste (per)curso..., sentimo-nos envolada em nós mesmas com uma imagem de re-fúgio, de enraizamento, de pertencimento. Imagens que nos sugerem um mesmomovimento em direção às fontes primeiras, da volta à mãe –

terra/sertão– o ventre,

a raiz. “Compreende-se, pois, que a água em si possa tomar, aos olhos de certasimaginações, o lugar de sua matéria primordial” (BACHELARD, 1989, p. 155).Em vista da “necessidade de seduzir, a imaginação trabalha mais geralmente ondevai a alegria – ou pelo menos onde vai a alegria! –, no sentido das formas e cores, nosentido das variedades e das metamorfoses, no sentido de um porvir da superfície” (BACHELARD, 1989, p. 2).

É nesta direção, sobretudo, da “imaginação íntima dessas forças vegetantese imaginárias” (BACHELARD, 1989, p. 2) que vamos encontrar, por trás das

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imagens que se mostram, ao longo dos (per)cursos..., as imagens que se ocultam,ir à própria raiz da força imaginante. Paisagem se pondo, se (com)pondo e se (de)compondo diante do nosso olhar, recordamos da poética de Bachelard:

Sonha-se antes de contemplar. Antes de ser um espetáculo consciente, toda paisagemé um experiência onírica. Só olhamos com uma paixão estética as paisagens quevimos antes em sonho [...] Mas a paisagem onírica não é um quadro que se povoade impressões, é uma matéria que pulula. (BACHELARD, 1989, p. 5)

Na  superfície das águas... embalada e deslizando serenamente... o olhar seperde na imensidão... mansidão das águas, nas duas direções do seu longo (per)curso...; de um lado, a vista se estende para montante e se projeta para as nascen-tes...; de outro, o olhar pulula para jusante, com a emoção do olhar fluídico esten-dido e projetado na direção da sua confluência... & convergência. No final do seu

destino... águas que brotam dos rebordos da Serra dos Caiapós, dirigindo-se parao Norte e passando por múltiplos ( per)cursos... de cores, sons e tons e sentimentos...até chegar ao seu destino... para retornar... No devaneio da água- do elemento hi-drante –  sentimo-nos envoltas com as imagens substanciais da água –, elemento

 feminino que simboliza com as forças humanas escondidas, mais simples, maissimplificantes, na escrita de Bachelard,

As imagens da água, nós as vivemos ainda, vivemo-las sinteticamente em suacomplexidade primordial, dando-lhes muitas vezes a nossa adesão irracional [...]Se quero estudar a vida das imagens da água, preciso, portanto, devolver ao rio e àsfontes de minha terra seu papel principal. (BACHELARD, 1989, p. 8-9)

Um Caminhar...viajar... no sentido da água que corre, da água que leva ao Encontro... com o Tocantins... e a ele entrega suas águas, para juntos, dar vida àterra e ao seu povo na Ponta do Bico do Papagaio. No encontro... suas águas se

 fundem no sentido não mais de profundidade mas de infinitude em direção aomar. Encontro Mágico... Dois Rios Índios... de tribos diferentes! se entregam numGrande Abraço e se (entre)laçam para celebrar o  Encontro das Águas... “O Rio” –

 ARAGUAIA! entrega suas águas ao canal do Tocantins num gesto de amor e solida-

riedade, fundindo-se de corpo e alma... Comunhão! (À) luz da imaginação! o cantodas araras e dos tucanos em tons harmônicos e de estranha beleza nos fascina e nosencanta! E nossa alegria explode! “Ode à Alegria” – “Ode à Natureza”! Asas da Ima-ginação! Do alto, em vôos livres... saúdam o Encontro... e a fusão das duas águas...

 Duas Águas... que chegam através de dois canais... que (per)correm... quase para-lelos, ao longo do extenso (per)curso... Majestoso e poético encontro de sonhos! “ORio” – ARAGUAIA! agora sem o seu nome faz o (re)torno e se eterniza no(e)terno(re)torno pelo misterioso – e geográfico – ciclo hidrológico! Uma Viagem... de Águas& Sonhos; Amor & Poesia! Navegante aprendiz... lições aprendidas e apreendidas

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(À) LUZ DA IMAGINAÇÃO! “O RIO” SE REVELA NA VOZ DOS PERSONAGENS DO LUGAR-ARAGUAIA!

na/da (con)vivência com os homens d’“O Rio” através da poética das águas... (à)luz da imaginação... em direção à convergência geopoética! Encerra-se a busca d’“ORio” – ARAGUAIA! Águas de nascentes... (con)fluentes... & (con)vergentes! Pelatrajetória g

eopoética! Eo cancioneiro toca “Coração Sertanejo” (Chitãozinho &

Xororó, s.d.).

Andei... andei... andei...

Até encontrar

este amor tão bonito

Que fez me parar

Nesse pedaço de chão

Do coração do Sertão

encontrei meu lugar

Este é o meu lugar

Pra gente sonharNo coração sertanejo

é que é o meu lugar.

E (re)encontro o “Meu Araguaia” (BARRA, 1993)

Oh! Rio cheio de encanto

Que banha a minha terra

Todo o orgulho de minh’alma

Teu rolar garboso encerra

Quero que no teu banzeiro

Vá meu sofrer minha dorMeu Araguaia querido

Por ti eu morro de amor

Seduzida pela poética d’“O Rio” , a “viajante aprendiz” encerra com a “Voz doRio” (pro)clamada pelo poeta e personagem do lugar , Antônio Alencar Sampaio.

No sopé da serra,Das profundezas do chão,Das águas que caem das chuvas,

Dos córregos e dos riachosEu saio, eu nasço, eu nasçoNos baixos e nas chapadas,No coração do sertão,Nas vilas e nas cidades.Nos pensamentos dos vivosEu passo, eu sirvo, eu passo.Sou o som, sou sentimento,Sou despacho e emoção,sou parque pra meninada,

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Gratão, L. H. B.

onde se aprende a nadar.Meu corpo cortado em poçoÉ casa de muitos irmãos,Fonte de muitas vidas,

Minhas pegadas no chão.Meu corpo picado em cacimbaé o meu sangue minado.Pra matar a sede de quem tiverSede.Estão me matando, e são vocês,Homens irmãos.Me olhem, me sintam,me usem,me amem.

Deixem que eu seja um RIO VIVO.(GRATÃO, 2002, p. 304-305)

“O Rio” segue seu destino...

A investigação revelou-me o universo d’“O Rio” que habita e pulsa no coraçãoda gente sertaneja, no interior do Brasil! Revelou-me uma “geografia de amor &

 poesia” buscada por uma viajante atraída pelos encantos d’“O Rio” , na direção deencontrá-lo e de conhecê-lo; de estar com ele, de estar nele. Para então, retornar (à)

mesma luz da busca no sentido de protegê-lo da perda de sua identidade; de sua in-tegridade. Pelos laços topofílicos do cuidar para a conservação e (re)cuperação dasua consciência, do seu espírito (“inscape” ), pelo despertar da consciência ambien-tal no íntimo da consciência humana, (des)vendando, (des)velando e revelando “ORio” – pelos (per)cursos... da fenomenologia da imaginação; de uma fenomenolo-gia da alma, na direção da geografia poética – geopoética! Na (con)vivência com asimagens extraídas das experiências do lugar , “O Rio” – ARAGUAIA!  não é só ummorar ao longo dos seus (per)cursos... Para os povos araguaianos, ribeirinhos, ín-dios, pescadores, lavadeiras, barqueiros, poetas, músicos, místicos, missionários,

“O Rio” é Existência; o seu mundo vivido (“lebenswelt” )! Para a viajante, um en-contro da fenomenologia e a geografia como substrato latente da experiência. Énesse mundo que os estudos fenomenológicos destacam a natureza dialógica dorelacionamento das pessoas com o lugar .

 De volta... um convite a olhar e a pensar os lugares com olhos do coração.O nosso voltar-se para os lugares e paisagens valoradas não pretendem produzirapenas uma simples divagação poética d’ “O Rio” . O que está se pondo/compondosão buscas de (en)trelaços de afeição do Homem com os lugares, os quais se (en)volvem, vivem e (con)vivem. Sentimentos e valores que têm significados relevantes,

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 fluentes... na formação de juízos de valor e de ações sobres esses lugares & paisa- gens, trazendo no coração o sonho real de que o “O Rio” – ARAGUAIA! continuaráexistindo (e)ternamente, como grande artéria deste “corpo hídrico” que continuaráa pulsar

no Coração do Brasil, dando vida aos seus “habitantes”. Suas Nascentes...não morrem! Os seus encantos não se (des)encantam; se (re)encantam! Seus mitos

continuam vivos! “O Rio” dos Karajá – Berohokÿ – não pode morrer! Nascentes...que brotam do chão Cerrado – Berço das Águas! Berço da Vida! 

 Na voz dos personagens registraram-se as múltiplas vezes que citam a palavraAraguaia – o nome do lugar – com entonação sempre em güaia! em tom de exaltação!Exclamação! ARAGUAIA! Talvez pela própria origem – raiz da palavra na línguados Karajá BEHOROKŸ – (Ber-ô-can), que significa “Rio Grande”. Na expressão“O Rio” – ARAGUAIA! está a sua grandeza! Majestade! Encantamento! Louvação!

Ah! Se fosse possível pela escrita registrar as expressões gestuais... orais, visuais,corporais, vocais, sensoriais! Mas é possível sim, pela geopoética, fazer a Escriturada Terra e pela geopoética d’“O Rio” fazer a Escritura das Águas!

Eric Dardel já havia nos ensinado que “la géographique est, selon l’étymologie,la ‘description’ de la Terre; plus rigoureusement, lê terme grecsuggère que la Terre estune écriture à déchiffrer, que lê dessin du rivage, lês découpures de la montagne, lêssinuosités dês fleuves forment lês signes de cette écriture” (DARDEL, 1952, p. 2).

Que esta écriture seja “decifrada” no core da geografia, despertando os seus(per)cursores... (à) lua da imaginação, iluminando o espírito geográfico. Que (à) luzda imaginação bachelardiana possa (res)surgir um novo olhar geográfico que (en)volva e (des)vele os sentidos e significados dos lugares... & paisagens... E que a luzdo imaginário de Eric Dardel possa projetar uma “geografia de sonhos” como elese expressa... “Poursuivant notre exploration du, expressions géographiques, nousentrons, sur les voies de l´imaginaire, dans une géographie de rêve” (DARDEL,1952, p. 6).

O (per)curso... fenomenológico realizado através desta geografia permitiu-mealcançar o mundo vivido geográfico pela experiência de lugar .  O viaja por este

(per)curso... conduziu-me ao exercício de reflexão da nossa própria consciênciadas coisas e do mundo, transportando-me ao encontro... de uma compreensão maisprofunda de nós mesmos. A exploração direta d’“O Rio” – mundo – (à) luz da ima-

 ginação – projetou-me no mundo da experiência e conduziu-me ao (re)encontro e(re)encantamento do mundo e a (re)descoberta da geografia pela geopoética!

ABSTRACT

In the perspective of humanist geography aimed at geo-poetics, we follo-wed the paths of “The River - ARAGUAIA!” trying to understand and to

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Gratão, L. H. B.

reveal ‘his’ multiple images, with basis on the experiences of landscapeand place. (In) the light of Gaston Bachelard’s poetical imagination, weset out in search of revelations of real, symbolic and imaginary images of“The River”, that is, we investigated how “The River” reveals ‘himself’ in

the people’s imagination of the place-ARAGUAIA!. Unveiling the senseof “The River” from people’s (co)existence with ‘him’, it is possible to seeand to design geography from the viewpoint of a reflection on human atti-tudes in the world. This is the sense of the investigation through the uni-verse of “The River” - ARAGUAIA!, seeking ‘his’ origin in the characters’voice: “The River” lived, experienced and dreamed of by local people.

Key words: Geo-poetics; Landscape; Place.

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