A Meditação é Uma Forma de Revolução Psíquica

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  • 8/12/2019 A Meditao Uma Forma de Revoluo Psquica

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    A meditao uma forma de revoluo psquica

    sexta-feira, 17 de maio de 2013

    Texto longo mas de imenso valor para todos que se interessam pela espiritualidade, pelamudana comportamental e por uma revoluo da conscincia humana.

    "Eis por que a meditao uma forma de revoluo psquica. A crise est na psique e,portanto, tem de ser resolvida na psique."

    Meditao e concentrao

    do livro "Meditao - Uma maneira de viverde Vimala Thakar

    Palestra realizada em Matheran, a 29 de novembro de 1971

    Esta manh, pediram-me para falar sobre a meditao. Como h pessoas nesta reunioque no esto familiarizadas com a oradora e com sua forma de expresso, com o seumodo de falar a lngua inglesa, eu gostaria de pedir, logo de incio, que sejamos muitocuidadosos com o uso das palavras e tambm com o ato de escutar. Cada palavra temuma associao de idias e de emoes. E extremamente difcil encontrar uma palavra,em qualquer lngua do mundo, que no esteja impregnada de associaes.

    Ora, a palavra "meditao" tem uma variedade infinita de associaes, e eu gostaria,

    http://pistasdocaminho.blogspot.com.br/2013/05/a-meditacao-e-uma-forma-de-revolucao.htmlhttp://pistasdocaminho.blogspot.com.br/2013/05/a-meditacao-e-uma-forma-de-revolucao.htmlhttp://3.bp.blogspot.com/-b0pfN-wOq_E/UZbb5tBV_aI/AAAAAAAADyM/D4ffIcug0eY/s1600/budhi.jpghttp://pistasdocaminho.blogspot.com.br/2013/05/a-meditacao-e-uma-forma-de-revolucao.html
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    portanto, de solicitar a todos que prestem ateno especial s conotaes da palavra. Euno vou usar a palavra "meditao" como derivada do verbo "meditar a respeito de","meditar sobre". Na lngua inglesa, "meditar" significa uma atividade mental ou cerebralna qual h uma relao de sujeito e objeto. Eu, um indivduo, cogito acerca de, meditosobre algum objeto, algum ponto predeterminado por mim, ou por algum mais, para

    mim. Nesse sentido, "meditar" seria focalizar a ateno exclusivamente sobre um pontopredeterminado, por um certo tempo, e envolveria esforo consciente para manter aateno, para focalizar a ateno nesse ponto. Assim, as pessoas esto prontas aacreditar que a meditao uma atividade mental para enfocar toda a ateno em algum

    ponto, e mant-la ali tenazmente. Essa atividade mental deveria ser chamada"concentrao" e no "meditao".

    Na lngua snscrita, h duas palavras diferentes: dharana e dhyana. Dharana significamanter, conservar a ateno, cujo equivalente, em ingls, a palavra concentration[concentrao]. Procurarei traduzir para a lngua inglesa as conotaes do termodhyana. Vou usar a palavra "meditao" como uma palavra paralela, em ingls,

    palavra snscrita dhyana.

    Dhyana, ou meditao, um estado de ser no qual existe uma percepo sem esforo,sem escolha, do que a vida em si e ao seu redor. E, portanto, um estado de ser, nouma atividade. H um mundo de diferena entre os dois. A pessoa pode desabrocharnesse estado de ser. Em outras palavras, a meditao um modo de viver em atenodinmica, numa percepo dinmica do que a vida ; um movimento desinibido,descondicionado da conscincia individual, em harmonia com o ritmo da vida universal.

    Portanto eu gostaria de escoimar a palavra "meditao" de uma srie de associaes.Trata-se de um movimento no-cerebral, de um movimento da conscincia individual,mas no do crebro condicionado, no daquela parte do crebro que inibida pelocondicionamento atravs da educao, da cultura, da civilizao e do contedo scio-econmico da vida, O crebro, que um rgo fsico - uma parte do organismo

    biolgico-, to condicionado quanto o resto do organismo fsico. H padres cerebraisde comportamento. H uma espcie de corpo cerebral cristalizado- um corpo

    psicolgico. Ele invisvel e se expressa atravs de palavras, atravs de movimentosfsicos, etc.

    A meditao um movimento no-cerebral da conscincia humana, em harmonia com oritmo da vida interior, da vida exterior e daquilo que a cerca. No pode ser um meio

    para um fim. A concentrao pode ser um meio para um fim. A concentrao poderelaxar os nervos, tranqilizar a psique perturbada, criar um equilbrio qumico nocorpo, estimular os poderes latentes da mente e experincias no-sensoriais. Tudo isso

    pode ocorrer atravs da concentrao. E as pessoas que vivem numa sociedadealtamente industrializada, experimentando uma tremenda fadiga nervosa todos os dias,vivendo sob uma variedade de tenses, de presses neurolgicas e qumicas, sentemnecessidade mesmo da arte da concentrao para desenvolver poderes, adquirirexperincias, afinar e elevar a sensibilidade, refinar e sofisticar os rgos cerebrais. Se a

    pessoa deseja isso, pode seguir esse caminho. Tal concentrao, resultando nodesenvolvimento de poderes, pode no levar a uma transformao radical na qualidadede vida. Pode no ter nenhum valor para a base da nossa relao com outros entes

    humanos.

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    Portanto a concentrao pode estimular poderes, experincias, tornar uma pessoapoderosa; e os que esto perturbados, os que esto cansados dos prazeres sensuais, osque vivem em segurana econmica e poltica gostam realmente de viajar e vagar noastral, no oculto , para obter experincias no-sensuais, para adquirir poderestranscendentais, e assim por diante. Trata-se de um jogo no mundo psquico, e o esprito

    de aventura cria uma compulso interna para buscar essas experincias. No h nada deerrado nisso, uma vez que a pessoa esteja bem esclarecida em relao ao fim que temem vista. A vida para aventuras e experimentaes. A concentrao no tem nada aver com religio, com espiritualidade, com a descoberta da verdade, com meditao,com libertao ou Nirvana. Ela se encontra absolutamente na direo oposta -fortalecendo a conscincia do eu, aumentando a sensibilidade da conscincia do eu,alargando a esfera das experincias e aprofundando a esfera da penetrao cerebral.Portanto a pessoa tem de esclarecer a prpria mente sobre o que a meditao realmentesignifica. No h o que romancear a respeito disso. Trata-se de uma transcendncia docrebro condicionado. Trata-se do despontar de uma pessoa numa dimenso deconscincia inteiramente nova, onde o prprio experimentar chega a um fim; onde o

    experimentador, a conscincia do eu, a conscincia do ego, mantida em completainatividade; onde as fronteiras de tempo e espao, nas quais a conscincia do eu semove, de momento a momento, se desvanecem no nada; onde a dualidade chega a umfim e a relao fragmentria de sujeito/o b -jeto com a vida cessa completamente.

    A no ser que sinta uma compulso para descobrir o que est alm da mente, a no serque se sinta impelida para descobrir o que esta alm do crebro condicionado, o que estalm do ato de observao e do observador, do pensamento e do pensador, do que estalm do espao e do tempo, do que est alm de todos esses smbolos, do que est almdas maneiras cerebrais de comportamento; a no ser que haja uma paixo inata paraachar, para descobrir por si mesma, a pessoa no estar preparada para viver de umaforma meditativa.

    A meditao todo um modo de viver; no uma atividade parcial ou fragmentria. Nosei se existe uma maneira oriental ou ocidental de consider-la. A vida no nemocidental nem oriental. A vida pura existncia. Ela apenas . Os limites de raa, pas ereligio, as fronteiras de tempo e espao so absolutamente irrelevantes para a vida e oviver.

    E, ento, sinto acaso uma compulso para descobrir o que tempo, o que espao e oque est alm disso; o que mente, o que pensamento, e o que est alm? Sinto acaso

    uma compulso - no como uma reao s frustraes, aos insucessos oudesapontamentos da vida; no como uma reao ambio aquisitiva, para obter algodiferente da aquisio material, econmica ou poltica? Se s trata de uma reao sambies, frustraes ou fracassos na vida, ento a busca me conduzir somente atonde me leve o impulso da reao. Eu terei de ultrapassar o mpeto do desapontamento,da frustrao, ou da ambio. E, portanto, absolutamente necessrio possuir a chama

    pura, sem fumaa, da investigao, que a compulso para achar, para descobrir, paraaprender, no para qualquer outro fim seno pela prpria plenitude de descobrir osignificado da vida; pela graa, pela alegria que est inerente a tudo isso.

    Quando existe essa chama de indagao para aprender, para descobrir, para ver,

    paraprocurar, pela alegria em si, as inibies dos motivos, das intenes e ambiesfenecem. Tal estado no-motivado vitalmente necessrio no comeo do

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    descobrimento. Como vocs sabem, cada motivo cria uma inibio e carrega um medoem sua prpria sombra. Cada ambio carrega no seu ventre o medo do insucesso e dafrustrao. A pessoa tem que se preparar para o estado de meditao, para o estado deindagao pura. Uma investigao genuna absolutamente necessria; este um pontoa ser enfatizado ao mximo. A indagao no s elimina a inibio dos medos

    reprimidos, mas uma indagao genuna cria a flexibilidade da humildade - no arigidez da ambio. A conscincia do eu muito rgida.

    Assim, a brandura, a flexibilidade, que vo nos ajudar muito, sero imprescindveis. Odestemor no pode surgir, a no ser que haja a flexibilidade da humildade. Vocs sabemcomo as crianas so flexveis e ternas. Todo o seu ser uma chama de interrogao.Olhem para os seus olhos, seus movimentos; elas querem aprender e crescer. Ahumildade libera uma energia que no nem fsica nem cerebral. Eis por que eugostaria de chamar a ateno de vocs para a dimenso da humildade que acompanhauma busca genuna. A brandura, a flexibilidade liberam muitas energias latentes - amuscular, a nervosa, a glandular, a cerebral e a no-cerebral - que estavam

    enclausuradas e bloqueadas devido rigidez da conscincia do eu. Elas so liberadas nomomento em que somos flexveis no esprito de indagao, e desejamos conhecer,descobrir, aprender atravs dos olhos, dos ouvidos, do nariz, atravs de cada nervo doser. Estar no estado de indagao estar no estado de bem-aventurana, porque aindagao ir explodir na realizao. A realizao, ou a descoberta, nada mais que oamadurecimento dessa indagao. A indagao e a realizao no so duas coisasseparadas. A pessoa abenoada se est interessada numa indagao genuna, no numaindagao falsa, nem numa atrao, fascinao ou excitao intelectual ou emocional.

    No h excitao num verdadeiro pesquisador; h uma profundeza de intensidade, no asuperficialidade da excitao entusistica. A excitao, o entusiasmo, o estmulo dasemoes e dos sentimentos perturbam o equilbrio qumico do ser. Portanto precisoassentar a base correta desse estado de meditao, no qual o mecanismo fsico e

    biolgico da pessoa est em equilbrio qumico e relaxamento nervoso.

    Eu me pergunto se vocs j observaram como as crianas, na idade entre 3 e 6 anos, eaquelas acima dessa idade, aprendem. Vocs as observaram nas classes, no lar, quandofazem os deveres de casa, o modo como se sentam, como tocam a lousa, a delicadeza, aflexibilidade e o desenvolvimento gradual e a manifestao da rigidez de seus modos,conforme elas vo avanando em anos? O pesquisador como uma criana flexveleterna. Ele vulnervel ao toque da vida, est exposto, de qualquer ngulo, realidadeda vida, sem qualquer mecanismo de defesa. Na criana, o mecanismo de defesa no

    funciona, exceto no nvel fsico; no nvel psicolgico, a criana est exposta svibraes da vida. Do mesmo modo, o pesquisador est exposto s vibraes da vida.

    Por certo, a meditao requer que a pessoa esteja sadia de corpo e mente. por isso quea cultura ioga fsica, a ioga pranaiama - que ajuda a oxigenar o sangue - e as asanas -que ajudam a manter todo o corpo, os sistemas todos, muscular, glandular e nervoso,numa condio muito flexvel e branda - so necessrias. O desabrochar numa dimensono-cerebral precedido pelo encontro com a mente condicionada, com a menteconsciente, a subconsciente e a inconsciente; e no fcil passar por esse encontro, ano ser que se tenha a fora do ao nos nervos. Se no, a pessoa pode fracassar e osistema nervoso pode ser destrudo. Enfrentar face a face o contedo do subconsciente e

    do inconsciente, as discrepncias, as deficincias e as deformaes neurticas em nossamaneira de comportamento no fcil. necessria uma fora tremenda para passar por

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    esse encontro. Eis por que preciso assentar as fundaes corretas e ter um organismofsico puro e saudvel. Do contrrio, o mais leve encontro pode excitar e provocar aslgrimas, a ansiedade, a dana ou o choro. Todos esses acontecimentos so causados

    pela incapacidade de o sistema nervoso suportar o encontro. Como temos que examinartantas coisas em to curto tempo, s lhes posso falar a respeito dos fundamentos.

    Pessoas h que se precipitam em despertar poderes, sem equipar seus sistemas nervosoe muscular com a fora da pureza, sem assentar a base de uma ordem interna. Elas selanam a estimular poderes e experincias, seja atravs de drogas para a expanso daconscincia, como o LSD, a mescalina e outras, ou cantando mantras, concentrando ouaceitando a ajuda de alguns tantras, e se viciam em shaktipat para estimular e despertara kundalini e abrir os chacras. Qualquer que seja o caminho que sigam, se elas selanam a estimular poderes sem equipar seu sistema nervoso com a fora da pureza, elasse lanam em algo muito perigoso, nada cientfico. Por isso, a minha primeiraadvertncia : assentar as bases corretas. Precisamos descobrir se este corpo, este belo,complexo e magnfico instrumento que temos, encontra-se em estado de suportar a

    intensidade da meditao, desse movimento desinibido da conscincia em harmoniacom a conscincia universal.

    A intensidade desse movimento desinibido no pode ser comparada com a intensidadedos pensamentos e das emoes. Estes so movimentos cerebrais, so pulsaes, e tmsido medidos e controlados. O movimento da meditao, o infinito movimento da vida,tem um impulso de natureza inteiramente diversa. t qualitativamente diferente domovimento de impulsos tais como o desejo sexual, o apetite, o sono. Os pensamentos,as emoes, os sentimentos tm o seu prprio movimento, o seu prprio mecanismoincorporado ao sistema, em reflexos biolgicos. A meditao tem um "momentum"qualitativamente diferente dos pensamentos. muito mais intenso; sua profundidade esua intensidade no podem ser medidas pela mente. Eis a razo por que esta base da

    purificao de todo o sistema absolutamente necessria; no num sentido puritano,mas com o auxlio de uma abordagem cientfica. Tudo isso tem de ser descoberto pela

    prpria pessoa; no possvel padronizar regras e regulamentos para todos os sereshumanos,

    Tomando-se por assente que j se tenha conseguido isto, o segundo passo consiste emfamiliarizar-se com o movimento da mente. O movimento fsico, ou a capacidade para omovimento fsico, no constitui uma barreira no caminho da meditao, mas omovimento cerebral pode ser um obstculo; assim, preciso que se entenda o que a

    mente. preciso familiarizar-se com a anatomia da mente, com a qumica dospensamentos e das emoes; como um pensamento se move; como os reflexos semovem, como eles controlam a nossa percepo, as nossas reaes s situaes, comoeles governam as nossas relaes com as outras pessoas. E para isso preciso aprendero que observao. Se eu sou um experimentador, ento estarei envolvido no processode experimentar e no serei capaz de vigiar o movimento da mente. Portanto e precisoaprender a cincia e a arte da observao: no interpretar, no analisar, no comparar,no julgar, mas ter a percepo do movimento da mente, da mesma maneira que temos a

    percepo do pr-do-sol. Enquanto estivemos sentados por poucos minutos em silncio,vocs devem ter notado o choro da criana. A mente resistiu a ele? Se a mente resiste,ento h um atrito, e o atrito resulta numa reao. Assim, a resistncia leva ao atrito e o

    atrito resulta em contrariedade, irritao, e ento perde-se o estado de observao. Todareao nasce de uma resistncia. No existe reao se no h resistncia vida; assim,

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    no cabe resistir, nem experimentar, sendo a experimentao uma forma muito sutil deresistncia. Notaram vocs, alguma vez, as resistncias aos acontecimentos da vida?Eles so convertidos em experincias porque a emoo cria uma resistncia, umadiviso. Vocs querem interpretar o acontecimento, identific-lo, reconhec-lo, avali-lo, dar-lhe um rtulo e p-lo na memria, debaixo de uma categoria, a fim de que a

    experincia lhes seja til para posteriores interpretaes dos acontecimentos. A pessoaquer ter defesa, e as experincias so uma parte do mecanismo de defesa, da mesmaforma que o conhecimento. A pessoa tem medo de se expor vida, de viver num estadode inocncia, de absoluta e incondicional vulnerabilidade ao toque puro da vida comoela , e deixar que as respostas venham. A pessoa quer cultivar resistncias, adquirirrespostas em forma de experincias, guard-las na memria, a fim de que possa abrir agaveta ou o arquivo da memria, reportar-se a ele, logo que surge um desafio, e buscar aresposta condicionada. A memria uma espcie de saldo bancrio. Assim como as

    pessoas querem um saldo bancrio na forma de dinheiro, elas querem um saldo bancriona forma de experincias; no importa se compram, se pedem emprestadas ou seroubam experincias!

    Vocs notaram o crescimento desequilibrado do homem? Ele sofisticou o crebro eperdeu a elegncia da simplicidade; perdeu a capacidade de olharas coisas sem ummotivo, inocentemente, sem converter o ato de observao e o objeto da observao emmeio para algum fim. A elegncia, a beleza da simplicidade e da inocncia esto

    perdidas para o homem. A pessoa tem que florescer na vulnerabilidade, na ternura, naflexibilidade da meditao; ento o homem ser digno desse nome.

    Hoje, todos ns nos tornamos desequilibrados. Eis por que existe tanta esquizofrenia. Ohomem vive mais ou menos num estado de neurose. Nossas respostas so inibidas,nossas percepes condicionadas. No h espontaneidade na vida. H apenas um

    processo mecnico de reao, de acordo com o condicionamento, a tradio, asambies pessoais, os motivos, etc., etc. A beleza da ao est perdida. Aespontaneidade tambm est perdida. Portanto hoje a meditao tornou-se relevante

    para a vida, para ajudar o homem a se descondicionar, para ajud-lo a ver o quanto elese tornou neurtico, para estimular nele o desejo de se desenvolver numa dimenso deconscincia inteiramente nova.

    Consequentemente, toda pessoa tem de aprender a observar os pensamentos conformeeles surgem, tem de devotar algum tempo a isso, sentando-se sossegadamente - se vocse senta maneira oriental ou ocidental, isso no vem ao caso. O nico requisito que a

    coluna e o pescoo estejam eretos, a fim de que o ritmo da respirao e a circulao dosangue no sejam perturbados. A pessoa tem de estar a ss, quieta, por algum tempo,para observar o movimento do pensamento, para entrar num estado de observao. Elatem de aprender isso, porque, no momento em que se pe no estado de observao, oantigo hbito de introspeco, de avaliao, surge. Mesmo numa frao de segundo, oestado de observao pode ser dissipado; voc se torna juiz, agente, experimentador.Dia a dia, a pessoa tem de se auto-educar. Chame voc isso de disciplina, sadhana ouautocontrole, ou qualquer outro nome de que goste, o fato que a pessoa tem de passar

    por essa educao de si mesma, aprendendo como observar. No comeo, por uma fraode segundo, h o estado de observao e, ento, o experimentador se intromete, e oestado de observao se dissipa. Isso acontece muitas vezes e pode continuar assim por

    algum tempo. No fcil esse estado de observao onde voc no faz nada, onde vocno est nem se abandonando, nem fazendo coisa alguma, nem ativo, nem inativo; onde

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    a atividade mental dualista mantida em suspenso e s a observao ativa, noocorrendo o mesmo nem com o agente nem com o experimentador. Ento esse estadode observao comea a permear as horas de viglia. Se voc est cozinhando, se vai aoescritrio ou enquanto est conversando, o estado de observao permeia todas asatividades das horas de viglia.

    Quando o estado de observao se mantm nas horas de viglia, a pessoa se tornaconstantemente cnscia, de manh noite, dos desafios objetivos - as rvores, os

    pssaros, os sons, os edifcios em volta e o trfego que se move na rua. A pessoa setorna consciente da situao objetiva - intensamente consciente; atualmente, ns noestamos conscientes; no estamos atentos, mesmo quando tomamos as refeies,quando usamos as roupas; estamos simplesmente flutuando na espuma da desateno,da distrao, das perturbaes; executamos apaticamente todas as atividades do dia, dosono, do despertar, e as coisas nos escapam. Estamos atentos somente para os nossosmotivos, e, portanto, nossa percepo desviada por esses motivos. Assim, a cadamomento, dada ateno apenas a uma parte da percepo; mas, quando o estado de

    observao se mantm, a sensibilidade aumenta e, de manh noite, voc est muitomais atento do que antes.

    Primeiro, no havia conscincia do fato. A percepo e a ateno apareciamocasionalmente a voc. Agora voc est constantemente consciente, constantementeatento, a ateno intensificada, a sensibilidade aguada e se torna gil. Voc est a

    par do que est acontecendo exteriormente, bem como do que est acontecendointeriormente. Se o estado de observao no resultar nessa conscincia gil, nasensibilidade intensificada e na ateno acurada, ento no estamos observando;estamos apenas passando para algum estado entorpecido de conscincia. Isso no observao, no silncio. A observao abre novas avenidas de energia, novasavenidas de ateno e percepo, de modo que o estado de observao, permeando ashoras de viglia, resulta numa decolagem da conscincia. Antes, tnhamos a percepoapenas de um fragmento do objeto, qualificado e modificado pelos nossos motivos, e asreaes tambm eram condicionadas pelos motivos.

    Agora, vejam o que acontece: a pessoa est a par da total unidade da percepo, semmotivo, sem inibio alguma. Voc tem a percepo simultnea dos dois: para isso, temde haver uma decolagem da conscincia do estado anterior de desafio e reao. Oimpulso da mente subconsciente - de raiva, de cime, de represses do pensamento,surgindo em forma de reaes - est l, mas ele perde o seu aguilho, perde o poder

    sobre voc de deformar e torcer as suas reaes.Se e quando o estado de observao permeia as horas de viglia, ele comea ento a seinfiltrar no que chamamos de sono. O estado de observao, que se infiltra at no sono

    profundo, que se infiltra atravs dos sonhos, algo maravilhoso - estar consciente dosono, como voc est das horas de viglia - e isso no poesia, um fato. Acontecemesmo. A meditao o repouso do sono profundo nas horas de viglia. uma

    percepo sem esforo, tanto do sono como das horas de viglia. As horas de viglia e desono causam um movimento porque deixam de ser duas dimenses diferentes.

    Consequentemente, o estado de observao ento mantido dia e noite, e somente

    quando ele se mantm assim que o contedo do subconsciente comea a surgir e a darsugestes, na forma de vises e de experincias diferentes. Contemos em ns o

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    conhecimento e a experincia de toda a humanidade. Os psiclogos ocidentais, acomear por William James, Freud, Jung, Adler e James Martin, descobriram o queacontece nas camadas mais profundas da conscincia. Toda a experincia e oconhecimento da humanidade, a despeito das raas, esto contidos na conscinciaindividual. Quando o estado de observao se mantm, essas experincias brotam,

    manifestando-se, para serem expostas sua ateno, sua observao, enquanto ospoderes ocultos da psique - tais como a clarividncia, a viso de acontecimentospassados ou a de acontecimentos futuros, a telepatia, a leitura de pensamentos, etc. -comeam a se manifestar. Todos esses poderes tornam-se possveis. Essas exignciasinternas, no-sensuais, tm um tremendo efeito embriagador, muito mais do quequaisquer experincias sensuais. Trata-se de uma experincia sem a dualidade darelao sujeito/objeto. isso cria a iluso de liberdade, voc no tem de estar relacionadocom qualquer coisa fora de voc mesmo. O estimulo interno, a experincia tambm interna. Eis por que to embriagadora.

    A descoberta das experincias ocultas e transcendentais resulta na libertao de novas

    capacidades, de novos poderes. A pessoa se torna poderosa. Seus olhos se tornamdiferentes; o modo de ela andar diferente. Existe nela uma nova fora, um novo sensode libertao, embora no seja ainda a libertao - pois ainda est no mbito da psique.E ia se torna qualitativamente diferente das outras pessoas e, na maioria das vezes, oestado de observao perdido logo que ocorre o estimulo de novos poderes eexperincias. O homem perde o sono. As conseqncias so demasiadas para ele, osistema nervoso enfraquece e ele se curva novamente aos ditames da conscincia do eu,da conscincia do ego. A ambio volta. A lascvia passa a imiscuir-se nas experinciasocultas. Tal pessoa pode sacrificar qualquer coisa para satisfazer esse apetite. E perde oequilbrio.

    Manter o estado de observao enquanto se passa atravs das experincias no-sensuais extremamente difcil. Para no sermos tirados do equilbrio, precisamos daflexibilidade e da humildade de um pesquisador. Estou falando isso com grande agonia.Tenho observado, nos ltimos seis anos, como as pessoas se entusiasmam facilmente,como se tornam prisioneiras das experincias psquicas - jovens dos Pases Baixos, daCalifrnia, da Irlanda, da Noruega, do Nepal, do Japo, do Hava -; quanto mal esseapego aos prazeres no-sensuais faz a elas! a angstia de uma amiga sensvel que estfalando, no como uma critica. Tambm neste pais, com todas as suas associaesespirituais, o chamariz das experincias no-sensuais que tem atrado muitas pessoas

    para o oculto; assim, a pessoa tem de ser extremamente sensvel, humilde e flexvel para

    manter o estado de observao. H que se passar atravs desse tnel; o encontro entre osubconsciente e o inconsciente o tnel atravs do qual cada pesquisador tem de passar.No h que suprimir essas experincias, mas deix-las acontecer.

    Quando a ternura do corao comea a fluir atravs dos olhos, chegou a estaochuvosa da pesquisa. Quando tudo comea a acalmar-se e a pessoa se sente desapegadainternamente, o outono e, assim, emocionalmente, h que se atravessar o ciclocompleto das estaes dentro de si mesma. Se a pessoa se fixa nas expresses do

    processo que ocorre ao passar atravs desse tnel, ou se se apega aos poderes da mente,ento a indagao sustada. Voc no estar em condies de levar a indagao maisalm. Portanto a pessoa precisa de toda humildade e toda delicadeza e, se a pessoa

    preserva e mantm assim o estado de observao, ento no h mais nada a serobservado. Todas as experincias captam o impulso do subconsciente e o inconsciente

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    se exaure. Ele aflora, manifesta-se e se exaure por si mesmo. As experincias de Jesusde Nazar, de Gautama, o Buda, na ndia, de Lao-ts, na China, e de outros, sustentamesta verdade.

    Essas experincias podem subir camada superior da conscincia. H to-somente que

    se observar, que olhar; olhar como se olham as nuvens do cu ao entardecer. Ento,quando elas se exaurem atravs desse movimento, nada mais h para ser visto, nadamais para ser observado. O observador no tem mais nenhum papel a desempenhar, efica inativo. Voc no tem de fazer nada contra o observador. Quando o impulso dasassociaes exaurido, no resta nenhum papel para o observador desempenhar. Aexpresso final da conscincia do eu entrou em inatividade e a pessoa se encontra noreino do silncio. At ento, no h silncio. No estado de observao, no h atividadee, no entanto, no h o silncio como dimenso da conscincia, porque a pessoa estobservando, est no processo de observar; mas agora h uma dimenso de sHncio no

    pensamento, na experincia, nas vises. O transcendental foi ultrapassado; a pessoa foialm do oculto. Isto mais fcil de se dizer do que fazer, mas estou desenhando um

    mapa da coisa toda para vocs. Em palavras, isso tudo o que se pode fazer. Aspalavras nada mais so que um meio de arrebatamento; se a pessoa apreende o seusignificado, ela arrebatada. Se seduzida pelas palavras, no arrebatada.

    Portanto a pessoa est agora no reino do silncio; no h conscincia do eu no centro.Trata-se de uma conscincia sem fronteiras, de uma conscincia sem centro. O homemno pode fazer qualquer coisa agora. Existe apenas silncio. Portanto a energia nasrazes de nosso ser - as razes do ser esto no ponto central; a energia que estavadividida, espalhada e fragmentada em pensamentos e emoes em conflito, na dualidadede sujeito e objeto, de observador e observado, de experimentador e de experimentado -est agora no reino da no-dualidade; no mais fragmentada; ela est l, no pontofundamental, em sua inteireza, em sua totalidade, voltando a unir-se a si mesma em suafonte. A energia no esttica. um movimento infinito. Assim, pela primeira vez navida do homem, dada totalidade da energia uma oportunidade para mover-se. Elano tem de acompanhar o "momentum" dos impulsos, dos pensamentos, das emoesetc. de vocs. Agora ela est livre para expressar-se em sua totalidade.

    Ento, o silncio comea a se mover, o silncio comea a operar, a funcionar. Como noh movimento de dualidade do crebro, do pensamento, da emoo, no h perturbaoqumica no corpo, no h diviso nos nervos. O sistema nervoso entra em completorepouso e, quimicamente, h um equilbrio. Isso absolutamente necessrio. Se o

    silncio no resulta nisso, no silncio. um pensamento desejoso de silncio, e o egoest por trs, escondido em alguma parte; ainda est operando. Portanto a pessoa estquimicamente equilibrada e com os nervos repousados, e a totalidade da energia semove. Voc ver como essa totalidade. Somente a totalidade de nosso ser que curatodas as feridas. Assim como a totalidade da energia se move em sono profundo, no

    perturbada por sonhos, da mesma maneira a totalidade da energia se move agora noestado de meditao. Energia sensibilidade, inteligncia. Portanto a sensibilidade doser total, no a sensibilidade do crebro, do rgo fsico, mas de todo o ser, ainteligncia, como uma fora, se torna operante. Hoje ns no sabemos o que asensibilidade, no sabemos o que a inteligncia. Conhecemos o intelecto, as funescerebrais. A inteligncia um caminho de natureza diferente, um elemento diferente de

    vida. O movimento da energia total no pode ser descrito. Trata-se de um movimento nano-dualidade, de um movimento do ser inteiro.

  • 8/12/2019 A Meditao Uma Forma de Revoluo Psquica

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    Assim, a totalidade responde, percebe e elimina a diviso entre o indivduo e o universo.A diviso ilusria, a diviso enganosa, criada pela conscincia do eu, entre o individuale o universal, desaparece nessa dimenso do silncio. Voc no nem o individual nemo universal: voc apenas vida. A totalidade da vida olha ento atravs da totalidade

    dessa pessoa. O silncio dos olhos responde atravs da totalidade dessa pessoa. Amoldura de carne e ossos estar l enquanto durar o impulso herdado, mas osmovimentos dessa pessoa no so individuais, pois no so motivados. Chame-se a issoa imerso do indivduo no universal. No se pode descrev-lo. O fato que desaparece adiviso entre o um e os muitos, entre o interior e o exterior, entre o individual e ouniversal. A pessoa , ento, conscincia sem esforo, sem escolha, do infinitomovimento da vida. Vida viver constantemente atravs do nascimento e da morte,atravs da dor e do prazer; a vida opera atravs do dia e da noite, a vida respira o tempotodo - o nascimento a vida inspirando, enquanto a morte a vida expirando.

    A vida se move, ento, alm da dualidade. Este o estado de meditao. Chame-o

    samadhi, se quiser, ou nirvana, se preferir. Tal pessoa torna-se ento uma manifestao,em carne e osso, da unidade, da totalidade da vida, e para mim isso a consumao docrescimento humano, O homem ainda no est maduro para ela. Ele aprimorou o corpo,o crebro, mas tem que atingir ainda a maturidade da conscincia que a meditao abre

    para ele. Atualmente, somos seres humanos apenas na forma, e no no contedo. Adivindade para mim a humanidade aprimorada e purificada. O homem tem que atingira condio na qual venha a existir uma sociedade baseada no amor, na amizade e nacooperao, na ordem social, econmica e poltica, livre da explorao, da corrupo eda violncia.

    Eis por que a meditao uma forma de revoluo psquica. A crise est na psique e,portanto, tem de ser resolvida na psique.