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1 A meia promessa das instituições internacionais: interparadigmatismo e uma análise eclética da segurança e defesa na UNASUL Bruno Valim Magalhães 1 Resumo: Desde o término da Guerra Fria, alguns policymakers ocidentais teriam procurado criar medidas de segurança baseadas em instituições internacionais. Ao fazer isso, eles rejeitariam expressamente a política de equilíbrio de poder como um conceito organizador do mundo pós-Guerra Fria, afirmando que a as instituições causam a paz. Mearsheimer recusa esse ponto de vista em sua obra seminal The False Promise of International Institutions. O nosso objetivo neste ensaio é avaliar metodologicamente e teoricamente as críticas de Mearsheimer em The False Promise em nos valendo de uma abordagem de análise eclética baseada em uma compreensão realista-construtivista do estado atual do campo das relações internacionais, com um exemplo descritivo do estado da segurança e defesa regionais, através da análise da UNASUL, para, finalmente, encontrarmos um meio caminho entre o neorrealismo de Mearsheimer e as três abordagens institucionais as quais ele enfrenta. Palavras-chaves: Neorrealismo, realismo-construtivista, segurança regional. Abstract: Since the Cold War ended, some Western policymakers would have sought to create security arrangements that are based on international institutions. In doing so, they explicitly reject balance-of-power politics as an organizing concept for the post-Cold War world, while stating that international institutions cause peace. Mearsheimer refuses this view in his chef- d'œuvre The False Promise of International Institutions. Our aim in this essay is to methodologically and theoretically evaluate Mearsheimer‟s False Promise critiques using an eclectic analysis proposition based on a realist-constructivist understanding of the current state of the international relations field as well as of the regional defense and security context, described when analyzing the UNASUR, to, finally, find a mid-way between Mearsheimer‟s neo-realism and the three institutional approaches he addresses himself to. Key-words: Neo-realism, Realism-constructivist, Regional Security. Introdução John J. Mearsheimer, em 1994, publica o artigo chamado The False Promise of International Institutions, o qual ele inicia com uma descrição teórica institucionalista de que, após o final da Guerra Fria, os líderes ocidentais procuraram criar arranjos de segurança baseados em instituições internacionais, rejeitando, portanto, a balança da política de poder como o conceito organizador das relações internacionais da Nova Ordem Mundial 2 . Em seu 1 Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando em Relações Internacionais (Política Internacional e Comparada) pela Universidade de Brasília. [email protected]. 2 Termo empregado no sentido proposto por Henry Kissinger (2004), referindo-se a um novo período no pensamento político, bem como ao novo equilíbrio mundial de poder, com maior centralização de esse poder no imediato pós-Guerra Fria. Das diversas interpretações desse termo, associamo-lo ao conceito de governança global e institucionalização.

A meia promessa das instituições internacionais: … · 2016. 1. 25. · John J. Mearsheimer, em 1994, publica o artigo chamado The False Promise of International Institutions,

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A meia promessa das instituições internacionais: interparadigmatismo e

uma análise eclética da segurança e defesa na UNASUL

Bruno Valim Magalhães1

Resumo: Desde o término da Guerra Fria, alguns policymakers ocidentais teriam procurado

criar medidas de segurança baseadas em instituições internacionais. Ao fazer isso, eles

rejeitariam expressamente a política de equilíbrio de poder como um conceito organizador do

mundo pós-Guerra Fria, afirmando que a as instituições causam a paz. Mearsheimer recusa

esse ponto de vista em sua obra seminal The False Promise of International Institutions. O

nosso objetivo neste ensaio é avaliar metodologicamente e teoricamente as críticas de

Mearsheimer em The False Promise em nos valendo de uma abordagem de análise eclética

baseada em uma compreensão realista-construtivista do estado atual do campo das relações

internacionais, com um exemplo descritivo do estado da segurança e defesa regionais, através

da análise da UNASUL, para, finalmente, encontrarmos um meio caminho entre o

neorrealismo de Mearsheimer e as três abordagens institucionais as quais ele enfrenta.

Palavras-chaves: Neorrealismo, realismo-construtivista, segurança regional.

Abstract: Since the Cold War ended, some Western policymakers would have sought to create

security arrangements that are based on international institutions. In doing so, they explicitly

reject balance-of-power politics as an organizing concept for the post-Cold War world, while

stating that international institutions cause peace. Mearsheimer refuses this view in his chef-

d'œuvre The False Promise of International Institutions. Our aim in this essay is to

methodologically and theoretically evaluate Mearsheimer‟s False Promise critiques using an

eclectic analysis proposition based on a realist-constructivist understanding of the current

state of the international relations field as well as of the regional defense and security context,

described when analyzing the UNASUR, to, finally, find a mid-way between Mearsheimer‟s

neo-realism and the three institutional approaches he addresses himself to.

Key-words: Neo-realism, Realism-constructivist, Regional Security.

Introdução

John J. Mearsheimer, em 1994, publica o artigo chamado The False Promise of

International Institutions, o qual ele inicia com uma descrição teórica institucionalista de que,

após o final da Guerra Fria, os líderes ocidentais procuraram criar arranjos de segurança

baseados em instituições internacionais, rejeitando, portanto, a balança da política de poder

como o conceito organizador das relações internacionais da “Nova Ordem Mundial2”. Em seu

1 Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando em Relações

Internacionais (Política Internacional e Comparada) pela Universidade de Brasília. [email protected]. 2 Termo empregado no sentido proposto por Henry Kissinger (2004), referindo-se a um novo período no

pensamento político, bem como ao novo equilíbrio mundial de poder, com maior centralização de esse poder no

imediato pós-Guerra Fria. Das diversas interpretações desse termo, associamo-lo ao conceito de governança

global e institucionalização.

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texto, ele coloca que tais abordagens institucionalistas – liberalismo, segurança coletiva e

construtivismo – são uma resposta ao realismo e desafiam-no ao declarar que instituições

desencorajam os Estados a fazer o cálculo de poder de ganhos relativos, por serem elas as

variáveis independentes de uma relação causal cuja variável dependente é a paz. A promessa

para os desafiadores do realismo é que: a promessa das instituições internacionais é a de

causar a paz.

O autor de The False Promise tem como principal conclusão, antes mesmo de

apresentar seu argumento ou hipótese, a de que as instituições têm mínima influência no

comportamento dos Estados e, por isso, não cumprem a promessa de promover a estabilidade

no mundo pós-Guerra Fria. Nossa interpretação é que tanto Mearsheimer quanto seus

desafiantes estão equivocados ao tratar as instituições internacionais como a variável

explicativa da paz do mundo pós-Muro de Berlim3;4

. Nosso argumento é que as instituições

são uma interveniente, um meio-caminho, no processo causal que vai do conflito e não

diálogo entre os Estados para um de interdependência e integração, capitaneada por um

período de cooperação e coordenação5

. Assim, em nosso argumento e avaliação, as

instituições são variáveis intervenientes. Porque não criamos uma hipótese neste trabalho,

cujo objetivo geral não é falsear Mearsheimer, mas mostrar contrapontos às interpretações e

metodologias presentes naquele texto, usamos o termo argumento.

Para chegar a esses contrapontos e subsequentes conclusões, teremos três seções que

são nossos objetivos específicos. Devemos clarificar que nosso trabalho se desenvolve no

campo teórico e metodológico das Relações Internacionais e, mais especificamente, dentro da

temática da segurança internacional e regional. Portanto, não se aprofundando em uma

discussão técnica do papel da UNASUL. A organização sul-americana entra, na última seção,

como exemplo ilustrativo e crítico da realidade da segurança regional do que nos propomos a

descrever e avaliar nas seções iniciais e na conclusão.

Justificamos a escolha dessa temática a partir da visão de Kratochwil (2003), quem

argumenta que, quando os alunos de pós-graduação são indicados a escolher um tópico de

dissertação, eles são advertidos a escolher uma teoria de seus pares já bem estabelecidos para

3 A fim de harmonização cronológica, adotamos como marco temporal do fim da Guerra Fria o mesmo que

Mearsheimer. 4 Sabemos que algumas vertentes do neoliberal institucionalismo, tratam as instituições já como variáveis

intervenientes, mas não é o caso, em nossa visão, daqueles teóricos de cunho liberal tratados por Mearsheimer. 5 No nosso entendimento, como será mostrado na seção 3, os conceitos de interdependência e integração são

mais próximos da ideia da construção de comunidades de segurança de Karl Deutsch, Emmanuel Adler e

Michael Barnett, do que da possibilidade de emergência de conflito a partir da interdependência, como visto em

Robert Keohane.

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colocá-las em teste, conforme aconselhado por King, Keohane e Verba (1994). Porém, em

seguida, Kratochwil (2003) afirma que esse procedimento pode impedir bons esquemas por

parte desses alunos; porque, embora muitos desses esquemas possam provar-se inexequíveis,

outros seriam praticáveis. O autor se pergunta, então, se não deveríamos começar com um

problema e procurar um caminho para respondê-lo, questionando o pressuposto de figuras

líderes de nosso campo teórico, como Mearsheimer.

Dado esse incentivo, fazemos na primeira parte deste trabalho a revisão de The False

Promise para compreendê-lo, analisá-lo e avaliá-lo em seu conteúdo teórico e metodológico,

tecendo uma série de críticas à abordagem tendente ao behaviorismo de Mearsheimer6 e a

algumas das abordagens institucionais mais tradicionais. Na segunda seção, tratamos de como

aquela abordagem teórica e metodológica não traz avanços ao campo das Relações

Internacionais e tampouco soluciona a questão de como contrapor Mearsheimer ou os

institucionalistas. Nosso embasamento para isso será calcado nas obras de Christian Reus-

Smit (2013), David Lake (2013), Friederich Kratochwil (2013), Patrick Jackson e Daniel

Nexon (2009), Ole Wæver (1997, 1996) e Barry Buzan (1996); porque propomos uma

descrição interparadigmática e eclética para analisar a situação através de uma abordagem

realista-construtivista, ao modo de Patrick Jackson e Daniel Nexon (2004).

Para tanto, usaremos em contraposição a abordagem mais behaviorista de teste de

hipóteses de Gary King, Robert Keohane e Sidney Verba (1994) o processo-causal de Henry

Brady, David Collier e Jason Seawright (2002), James Mahoney (2010) e de Philippe de

Lombaerde e Luk van Langenhove (2005). Essa metodologia será importante na nossa

terceira seção, durante a demonstração descritiva do caso da América do Sul em seu processo

de manutenção de sua zona de paz através de uma instituição interveniente: a UNASUL.

Corroborando, portanto, para a sustentação de nosso argumento central. Finalmente, após a

análise dos conceitos, teorias e caso e da síntese das três seções, faremos a avaliação final em

nossa conclusão.

1. A falsa promessa: o realismo de Mearsheimer e o porquê de suas críticas

Nesta seção, duas coisas importantes devem ser feitas para que se possa avançar na

tentativa de convergência e de comensurabilidade das diversas abordagens teóricas trazidas

6

É importante destacar que Mearsheimer se vale também de leituras ditas „tradicionais‟ das Relações

Internacionais em alguns de seus trabalhos maiores; usando, então, a História e sua leitura seletiva. Mas, neste

artigo específico vemos mais a aproximação com o behaviorismo do que com o tradicionalismo.

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Mearsheimer em The False Promise (1994/95): faremos uma breve descrição do realismo

político trazido pelo texto de base; em seguida, dos pontos de conflito metodológico; e,

finalmente, uma descrição do porquê de Mearsheimer considerar como falhas as três

abordagens institucionalistas. Dessa forma, inicialmente, aquele autor encontra as chaves para

a guerra e a paz mais na estrutura do sistema internacional do que na natureza dos Estados de

forma individual. Assim, a natureza anárquica do sistema internacional cria incentivos

poderosos para a agressão, havendo pouco espaço para a confiança entre os Estados, porque

um Estado pode ser incapaz de se recuperar se sua confiança é traída e cada unidade deve

garantir a sua própria sobrevivência, já que nenhum outro ator vai fornecer a sua segurança.

Estados, portanto, procuram sobreviver sob a anarquia, maximizando o seu poder em

relação aos demais. Poder relativo, não os níveis absolutos de poder, importa a essas

unidades. A agressão é uma maneira de acumular poder e energia à custa de concorrentes. A

distribuição de poder entre Estados diz-nos como eles estão posicionados para cometer a

agressão. A natureza do poder militar afeta diretamente os custos, riscos e benefícios de ir à

guerra.

Apesar do supraexposto, Mearsheimer, em mais de uma obra (1990, 1994/95, 2001),

não nega as instituições internacionais. Sem embargo, o autor afirma que elas são apenas

reflexos dependentes do poder dos Estados participantes de um sistema internacional

anárquico e, portanto, aquelas são incapazes de alterar o comportamento de seus atores.

Assim, a variável independente principal, ou explicativa, da causa da guerra e da paz, para

nosso autor, não são instituições, mas o equilíbrio de poder. Entretanto, “mesmo que uma

condição de equilíbrio venha a ser a meta consciente dos Estados”, como complementaria

Kenneth Waltz (2004, p.259), é de se esperar que tal premissa da balança de poder “tenha

uma gradação maior de sofisticação”. Grau que, muitas vezes, de acordo com Mearsheimer

(1994/95), pode ser traduzido nas instituições sofisticadas, as quais os Estados mais

poderosos, após cálculos de poder sistêmicos, criam e moldam e escolhem obedecer às regras.

Mesmo expondo isso, uma das metodologias científicas de pesquisa das ciências

sociais e políticas mais dominantes na academia onde Mearsheimer se enraíza – metodologia

cujo um dos autores é Robert Keohane, um dos teóricos institucionalistas avaliados por

Mearsheimer – afirma: porque Estados procuram antecipar e conter as ações de outrem, a

causalidade é recorrentemente difícil de estabelecer e expectativas podem ter um papel

importante como parte das ações observadas na contabilidade do comportamento do Estado

(KING, KEOHANE, VERBA, 1994). Essa dificuldade na confecção da causalidade pode

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levar a outras cadeias de explicação; pois, o próprio Mearsheimer (2004) aceita que há alguns

casos que não podem ser explicados por sua abordagem, entendida por ele próprio como

bastante dependente de descrições e suas inferências.

Contudo, uma explicação proposta de algum aspecto da política mundial que assuma a

ausência de interação estratégica e reações antecipadas será muito menos útil do que uma

cuidadosa descrição que se concentra em eventos nos quais nós tenhamos uma razão para

acreditarmos que sejam importantes e interligados. Assim, uma boa descrição “seria melhor

do que uma explicação ruim” (KING, KEOHANE, VERBA, 1994, p.264, tradução nossa). É

justamente isso que Mearsheimer (1994/95) faz em seu texto; ao analisar as outras

possibilidades de explicação do sistema internacional, ele mostra que sua descrição é melhor

do que as “explicações ruins”, as quais acreditam que a condição de guerra ou paz seja

causada pelas instituições. O autor realista (1994/95, p.49, tradução nossa) assevera na

conclusão de False Promise que “há sérios problemas com a lógica causal de cada uma das

teorias institucionalistas e há pouca evidência empírica que as sustente”. Além disso, não

somente as abordagens institucionalistas buscam oferecer uma alternativa ao realismo, como

elas “explicitamente procuram destruí-lo”.

Todavia, Henry Brady, David Collier e Jason Seawright (2002), em uma das críticas

àquela abordagem metodológica de teste de hipótese e apenas em dados observáveis próximos

a um data-set observation, proposta por Keohane em parceria com King e Verba (1994),

afirmam que nas ciências sociais essa metodologia, muito próxima daquela aplicada por

Mearsheimer em False Promise7, dificilmente produz excelentes resultados. Alguns apontam

que uma razão central para o que apontamos como sendo uma insuficiência dos métodos

behavioristas, é que “qualquer estudo lastreado em dados observáveis enfrenta o desafio de

eliminar explicações rivais” (KING, KEOHANE, VERBA, 1994, p.246, tradução e grifo

nossos). Por isso, relembrando o que Mearsheimer propõe em seu texto: esse fator da

“eliminação” será importante na segunda seção deste trabalho, quando tratarmos das “batalhas

dos ismos” e do avanço das teorias de Relações Internacionais.

Entretanto, nós entendemos que as abordagens institucionalistas devem ser analisadas

metodologicamente menos como behaviorismo e mais como “institucionalismo histórico”, de

preferência buscando um equilíbrio que mantenha exequível e científico o trabalho. Na

primeira abordagem (HALL, TAYLOR, 1996; THELEN, 1999; IKENBERRY, 2001;

7 Sabemos das críticas que Mearsheimer faria com Stephen Walt a alguns aspectos de dados observáveis e de

data-set, próximos aos de King, Keohane e Verba, no artigo Leaving theory behind: Why simplistic hypothesis

testing is bad for International Relation, de 2013. Mas, acreditamos que esse debate excede o proposto neste

trabalho por ser posterior à publicação do artigo de 1994/95.

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SNIDAL, 2002; GINTY, 2006), tem-se que, inicialmente, a política doméstica e orientações

são mediadas de forma decisiva por estruturas e configurações institucionais de governo. As

estruturas de uma forma política restringem os objetivos, oportunidades e ações dos grupos e

indivíduos que operam dentro dele. Segundo, para entender como essas restrições e

oportunidades institucionais são manifestadas, elas devem ser colocadas dentro de um process

tracing ou path-dependence – instituições são estabelecidas e tendem a persistir até que um

critical juncture posterior introduza um novo momento de oportunidade para a mudança

processual.

Finalmente, estruturas institucionais têm um impacto, porque elas facilitam ou limitam

as ações de grupos e indivíduos, o que significa que as instituições não são oferecidas como

uma explicação completa dos resultados. Os impactos das instituições, portanto, tendem a ser

avaliados como eles interagem com outros fatores, tais como os interesses da sociedade, a

cultura, ideologia e novas ideias políticas. Por essa razão, concordamos no princípio com

Mearsheimer e não vemos as instituições como as variáveis explicativas ou a variável

independente principal da paz. Porém, não as vemos como apenas um reflexo dependente.

Vemo-nas, pois, como intervenientes da explicação da paz. Por isso, a meia promessa. Enfim,

essa abordagem toda será importante quando formos tratar, na terceira seção, do realismo-

construtivista.

Com isso, voltando às críticas de Mearsheimer, na sua busca por achar as falhas nas

abordagens institucionalistas, as quais, segundo ele, procuram colocar as instituições como

variável independente principal para a causa da paz. Assim, essa outra abordagem

metodológica, como já apontado acima, distinta daquela apregoada por Keohane, King e

Verba (1994), que não relaciona o process tracing com normas de regressão; mas, sim, com

uma distinta abordagem qualitativa à análise causal. Dois tipos de observações são úteis para

sublinhar essa diferença, sendo elas a observação de teste de hipótese causal com a

abordagem behaviorista próxima de um data-set e a observação do processo causal (causal-

process observation) – este último, um insight ou pedaço de dados que fornecem informações

sobre contexto, processo ou mecanismo, e que contribuem com um poder distintivo para a

inferência causal. A informação contida dentro da observação do processo causal reflete um

conhecimento robusto e profundo a respeito de um ou mais casos particulares que pode se

valer muito de métodos tradicionalistas das ciências sociais, em vez de dados coletados como

parte de um conjunto sistematizado de variáveis.

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Entretanto, metodologicamente, Mearsheimer trata as abordagens “rivais” à sua como

“data-set observations”, muito embora elas sejam “causal-process observations”. Por isso,

elas serão sempre insatisfatórias ou insuficientes empiricamente em sua explicação para ele,

reforçando o “uma boa descrição é melhor do que uma explicação ruim”. A

incompatibilidade e a tentativa de exclusão ocorrem devido a uma incomensurabilidade ao

estilo kuhniano8, quando James Mahoney (2010) afirma que, embora a combinação seja

possível entre algo mais data-set e outro mais casual-process, a pesquisa behaviorista e o

institucionalismo histórico são pesquisas com objetivos e observações diferentes: i) o

institucionalismo histórico visa explicar porque um “Z” surgiu após um “X” em

circunstâncias específicas; ii) o behaviorismo visa demonstrar que, de forma geral, que o

surgimento de “X” leva ao estabelecimento de “Z”. Aqui, se tomarmos “X” como variável

independente principal como instituições e “Z” como paz, veremos o porquê de as teorias

institucionais sempre falharem para Mearsheimer. As instituições, como já dito, no nosso

entendimento, ali, não são moldadas para causar a paz, mas para ser uma interveniente “Y”

no processo causal que pode desembocar na paz.

2. O embate dos “ismos” tampouco causa a paz

Na seção anterior, trabalhamos como Mearsheimer transformou a sua crítica às teorias

institucionais em uma luta teórica e em um embate paradigmático. Nesta seção, iremos

mostrar o quão infrutífera para a análise da causalidade das instituições ou das causas da paz a

é a abordagem de Mearsheimer. Faremos isso através do entendimento da limitação de seu

neorrealismo e de sua metodologia; da avaliação de como análise eclética pode ser aplicada a

esse caso de uma “guerra paradigmática”, a qual leva ao próprio questionamento sobre os

avanços das teorias de Relações Internacionais e sua aplicabilidade à realidade social.

Comecemos, portanto, com a metodologia de Mearsheimer. Patrick Jackson e Daniel

Nexon (2009) argumentam que os acadêmicos estadunidenses caracterizam o estudo das

Relações Internacionais em uma divisão entre “paradigmas” kuhnianos e “programas de

pesquisa” lakatosianos; mas, aqueles dois autores dizem que essas abordagens deveriam ser

8 “The second kind of incommensurability [observational incommensurability] results from differing

assumptions about the nature of evidence that counts for the evaluation of theories. Rejecting a paradigm

involves, in consequence, an often profound shift in scientists‟ working observational theories. Thus, even if

„protagonists‟ in an inter-paradigmatic debate „could formulate their rival claims in a common language, they

could not agree on a shared body of observational evidence against which competing claims are to be judged.‟

In the absence of such agreement, progress cannot proceed through a smooth process of testing and discarding

theories” (JACKSON, NEXON, 2009, p.49).

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evitadas porque distorcem o diálogo no campo. Eles afirmam que essa distorção é muito

derivada do cientificismo behaviorista, que o neorrealismo tomou para si após a II Guerra. Tal

derivação provoca a incomensurabilidade entre paradigmas distintos; e, assim como os

paradigmas, teorias que pertençam a programas de pesquisa competidores não poderiam ser

diretamente testadas umas contra as outras.

Muito embora Jackson e Nexon (2009) afirmem que teorias específicas, os típicos

“ismos”, como o realismo e o liberalismo, quando se valem do paradigma da escolha racional,

possam ser comensuráveis, vê-se novamente o obstáculo da incomensurabilidade advinda do

debate ainda maior de como prosseguir com o conhecimento social-científico. Essa

incomensurabilidade social-científica entre os “ismos” se dá, para os dois autores, em dois

aspectos: o observatório e o metodológico. Como já salientamos acima, Mearsheimer torna

seu neorrealismo e as teorias institucionalistas como incomensuráveis, porque ele não aceita

as evidências empíricas de observações de processo-causal apresentadas pelos segundos, e

tampouco aceita que eles não se apresentem com geradores de cadeias causais.

Com relação a isso, Jackson e Nexon (2009) afirmam que programas de pesquisa não

são irremediavelmente incomensuráveis; não precisamos necessariamente embater duas

teorias de programas de pesquisa distintos, mas podemos usar critérios de segunda ordem ou

de alcance médio para conseguir compará-las. Um adendo proposto por Ole Wæver (1997) é

necessário ser feito aqui. Ao contrário de Mearsheimer, Kenneth Waltz9 conseguiu, depois

dos anos 1980, no debate “neo-neo”, superar a autolimitação analítica à qual Mearsheimer

ainda se submete, ao se redefinir em direção a um debate menos metateórico e não

minimalista. Com isso, realismo e liberalismo, agora neorrealismo e neoliberalismo

institucional, não mais eram incomensuráveis. Uma concepção mútua de programa de

pesquisa embasado na ciência e uma vontade partilhada de operar na premissa da anarquia

waltziana e na investigação da evolução da cooperação e o quanto as instituições importavam,

aos moldes de Keohane, levou à comensurabilidade entre elas (JACKSON, NEXON, 2009).

Importante destacar aqui que o próprio Wæver (1989a, 1989b apud BUZAN, 1996) se

considera também um neorrealista, porque ele partilha das mesmas premissas básicas, mas se

propõe a fazê-las através de outro método. Barry Buzan (1996) explica o porquê de Wæver

poder também ser um neorrealista. Buzan afirma que a maioria dos trabalhos nas Relações

Internacionais se encontra em mais de um paradigma do campo; dessa forma, grande parte

dos estudiosos cruza os “limites” desses paradigmas. Entretanto, a maioria dos cruzamentos

9 Ver como referência a essa temática o artigo de Waltz: “Structural Realism after the Cold War”. International

Security, Vol. 25, No. 1, Summer, 2001.

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dos limites ainda se mantém de uma forma que os conceitos dos programas de pesquisa

possam ser mensuráveis.

Assim, todas as abordagens que Mearsheimer critica são mensuráveis na medida em

que adotem o Estado como unidade de análise, o poder como elemento central e a anarquia

como premissa, mas se tornam incomensuráveis quando Mearsheimer muda o foco do

processo das outras. O método não é, per se, a ciência10

. É aí, segundo Buzan (1996), que

reside o desacordo. Completando essa análise, Buzan (1996), concordando com Wæver

(1996; 1997), enfatiza: porque, mais de uma metodologia pode ser aplicada ao realismo, essa

abordagem não só está a salvo de um ataque epistemológico, como torna possível um

ecletismo que poderia evitar toda a batalha da incomensurabilidade excludente do outro

“ismo” a que Mearsheimer se propõe.

Em relação à batalha da incomensurabilidade excludente, David Lake (2011, 2013) diz

em alguns de seus artigos que a história da disciplina das Relações Internacionais é

comumente contada em termos de “Grandes Debates”. Lake não nega que os Grandes

Debates ajudaram a clarificar as suposições que os acadêmicos tinham em suas teorias,

contudo eles se mostram insolúveis, porque, em nosso campo, esses debates tomaram a forma

de uma competição na qual as teorias são elevadas a dogmas que devem ser defendidos a todo

custo na forma de “guerras paradigmáticas”.

Infelizmente, segundo Lake (2013, p.573, tradução nossa), isso tudo transforma a

pesquisa de uma ferramenta para explicar a política internacional para uma ferramenta para

“provar o realismo, liberalismo, ou o que mais seja a verdade de fé à qual todos devam

aderir.” Por isso, a guerra paradigmática não leva a progressos sob quase nenhuma definição.

Segundo essa concepção, de acordo com Wæver (1996), só há progressos quando há o

debate interparadigmático. O interparadigmatismo ocorre quando se percebe que há a

superposição e cruzamento de limites entre diferentes paradigmas (WÆVER, 1996; REUS-

SMIT, 2013), como já exposto anteriormente. E o maior produto do interparadigmatismo são

as teorias de nível médio, ou médio alcance (LAKE, 2013). A lógica da combinação de

paradigmas é o cerne dessas teorias; superando, enfim, as lutas paradigmáticas em favor de

uma visão pragmática da pesquisa social (SIL, KATZENSTEIN, 2010). Lake (2013) e Reus-

Smit (2013) nomeiam essas teorias de médio alcance pragmáticas como ecletismo analítico.

10

King, Keohane e Verba (1994) afirmam em sua obra que os acadêmicos não estão preocupados com o que

alguém pensa, mas estão preocupados com o que alguém é capaz de provar empiricamente. Portanto, para eles, a

ciência seria resumida ao método. Nesse caso, o científico behaviorista.

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É importante reiterar, todavia, que não são os debates per se que causam a guerra

paradigmática (SIL, KATZENSTEIN, 2010). Como já afirmado por Lake (2013), os debates

são necessários para que se possa chegar ao ecletismo. Portanto, o que Mearsheimer provoca

não é, em si, algo totalmente improfícuo, se visto apenas o estado da arte da teoria. Não fosse

o seu grau metateórico de incomensurabilidade e de dogmatização do realismo, não se poderia

desenvolver uma argumentação que tornasse possível um meio-caminho pragmático.

Por isso, devemos concordar com Reus-Smit (2013), quem afirma que um debate

metateórico com vistas à resolução da guerra paradigmática não é a mesma coisa que um

debate com olhos em suas consequências, pois este último debate não pretende resolver o

conflito que impossibilita o interparadigmatismo. Finalmente, se na visão normativa de

Mearsheimer as instituições não são a causa da paz, devemos reafirmar que seu debate

metateórico em defesa do realismo como dogma tampouco é uma variável independente dessa

causa e não leva a conclusões que realmente expliquem a política internacional do mundo

real. Em outras palavras, defendemos uma análise eclética para a questão das instituições

como causa da paz, relembrando que ecletismo não é a mesma coisa que pesquisa

multimétodos ou triangulação metodológica.

Assim, concordando com Reus-Smit (2013), percebemos que, para uma análise

eclética, é tanto possível como desejável separar a superestrutura analítica de tradições de

pesquisa (realismo e teorias institucionalistas) de suas bases metateóricas

(incomensurabilidade de paradigmas e dogmatismos), reimplantando a superestrutura e

dispensando a metateoria.

3. A meia promessa: uma análise realista-construtivista a partir do exemplo da

UNASUL

O impulso de questionamentos, no âmbito das teorias de Relações Internacionais,

mostra-se um mesmo tecido composto por comunicação e síntese teórica. Com isso, tudo

pode ser debatido e alguma coisa nova pode, eventualmente, emergir, estuda Friederich

Kratochwil (2003). Por exemplo, ao considerarmos colocar o construtivismo como uma

ferramenta para explicar o causal-process das instituições; poderíamos ouvir que essa

abordagem não é um argumento válido porque outras teorias bem estabelecidas já trabalham

com essa perspectiva há mais tempo, como já escreveu Nicholas Onuf (2002). Assim,

poderiam afirmar que devido tanto à explicação pautada no interesse neoliberal quanto àquela

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embasada no cálculo de poder neorrealista, o fenômeno não precisaria de abordagens novas

(KRATOCHWIL, 2003).

Para contornar essa crítica de não nos valermos de algo consolidado e, ao mesmo

tempo não gerar algo novo, encaixamos nosso próprio entendimento construtivista de

instituições entre alguns elementos liberais, mas, sobretudo, realistas, os quais são também

centrais em nossa explicação, atingindo uma abordagem de nível médio ou de médio alcance.

Assim como Buzan e Wæver (ambos 1996), vemo-nos mais como realistas que não estão

presos a um enquadramento metodológico solidificado no “paradigma realista tradicional de

Mearsheimer” e buscamos um overlapping de vários paradigmas.

Sabemos que, por ser admiravelmente parcimonioso, o realismo tem uma utilidade no

mundo real limitada, o que levou muitos acadêmicos realistas a adicionar variáveis e outros

mecanismos causais (POHL, WILLINGEN, 2015). Isso engatilha, consecutivamente, muitas

críticas sobre colocar ideias tidas como incomensuráveis – por exemplo, por Mearsheimer

(1994/95; 2001) ou King, Keohane e Verba (1994) – sobre o mesmo rótulo realista, há uma

cobrança desnecessária a nosso ver por um purismo que apenas engendra mais debates

metateóricos improdutivos quando a meta é se explicar o mundo real (LEGRO,

MORAVICSIK, 1999).

A resposta a esse dilema é para Benjamin Pohl e Niels van Willigen (2015) e David

Lake (2013), assim como para nós: a análise eclética. Se a parcimônia realista não é capaz de

lidar com os custos de explicar sem engendrar uma observação causal behaviorista, deve-se

expandir os horizontes para explicações mais abrangentes da complexidade da realidade.

Então, devemos começar nossa análise eclética pelos dois pontos em comum que usaremos

entre o realismo e o construtivismo: poder e anarquia. Aceitamos que o poder não pode ser

transcendido na política internacional e, por isso, haverá sempre o cálculo desse por parte dos

Estados em relação a cooperar ou a coordenar suas ações através de instituições (JACKSON,

NEXON, 2004). Não citamos aqui o liberalismo porque não aceitamos o seu entendimento de

que o poder possa ser transcendido.

O outro ponto em comum que encontramos entre o realismo e o construtivismo é a

aceitação da anarquia como estruturante do sistema. Mas, ao contrário dos realistas clássicos,

acreditamos que a anarquia exerce influência indeterminada nos atores na política

internacional. Ou seja, a anarquia não é uma condição dada e pode ser modificada de acordo

com a constituição social de uma dada conjuntura (WENDT, 1992). Eis o ponto em que nos

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encontramos também com algumas premissas liberais: o da mudança no sistema (JACKSON,

NEXON, 2004).

Dessa forma, vê-se que o poder ainda é central na análise, mas elementos sociais e

liberais também são levados em conta. Patrick Jackson e Daniel Nexon (2004) chamam essa

abordagem eclética de realista-construtivista. O argumento, portanto, que realismo e

construtivismo podem ser combinados é correto, mas a dificuldade está em se atingir esse

objetivo (FOLKER, 2004) Assim, o diálogo entre essas três posições do mainstream requer o

reconhecimento de pontos de convergência (JACKSON, NEXON, 2004).

Finalmente, para não perder o foco das instituições, como proposto na primeira seção

deste trabalho, voltamos àquelas variáveis de Mahoney (2010). Se, para nós, as instituições

são variáveis intervenientes do processo causal que pode desembocar na paz, isso é muito

derivado da análise eclética baseada no realismo-construtivista. Tendo em vista que estamos

lidando com o texto de Mearsheimer, quem trabalha com a questão de que as instituições

causam a paz, seguiremos na mesma seara, mantendo-nos no escopo da segurança

internacional e entrando no nosso exemplo da UNASUL.

Como estamos trabalhando com um processo, acreditamos ser demasiado trabalhar a

segurança antes do final da Guerra Fria e podemos nos focar em uma parte do process tracing

apenas. Assim, já partimos aos novos alvos das ameaças, que não são somente a integridade

física do Estado, mas também a unidade política, grupos societários, a humanidade e o meio-

ambiente (SAINT-PIERRE, 2007; BUZAN, WÆVER, WILDE, 1998). Tomamos, a partir

dessa nova abordagem, o surgimento um novo conceito relativo às ameaças: a insegurança,

que reflete ameaças às quais não há contramedidas adequadas disponíveis (BUZAN,

WÆVER, WILDE, 1998). As Nações Unidas postulam a respeito de ameaças, inseguranças,

e segurança nacional e internacional, que:

É necessário considerar a segurança nacional e internacional como uma questão de

grau; nas circunstâncias internacionais atuais não é factível que as nações e os

indivíduos alcancem por seus próprios meios plena liberdade frente a todos os perigos,

apenas com cooperação internacional plena seria possível atingir esse objetivo (ONU,

1985).

Muitas regiões e países do mundo perceberam que muitos desses tópicos de segurança

nacional e internacional só seriam alcançados se nós realmente cooperássemos. Com esse

intuito, por exemplo, na América do Sul, de acordo com Alfredo Forti (2014), diretor do

Centro de Estudos Estratégicos de Defesa (CEED), órgão ligado ao Conselho de Defesa Sul-

americano (CDS), seria criada a UNASUL. Tais inseguranças dão origem a um novo dilema

da segurança regional de caráter não passageiro (BOOTH, WHELLER, 2008). Há o receio de

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spill-over das ameaças transnacionais típicas do pós-Guerra Fria em nossa região, já citadas

acima, também conhecidas por “novas ameaças” (FUCCILLE, REZENDE, 2013; CEPIK,

2005).

Assim, observa-se que na América do Sul há a configuração de um “quebra-cabeça”,

pois apesar de sermos uma região de baixa incidência de conflitos interestatais, vê-se que esse

novo dilema da segurança é confirmado através do Anuário do Stockholm International Peace

Research Institute (SIPRI) de 2014, o qual demonstra que os gastos dos países sul-americanos

com segurança e defesa duplicaram entre 1990 e 2014.

Muitos se perguntam (MEDEIROS FILHO, 2010) até que ponto as novas demandas

transnacionais de segurança impactam as identidades e preferências das burocracias militares

e diplomáticas a ponto de estimular, ou não, o desenvolvimento de uma arquitetura

cooperativa na América do Sul. Alexander Wendt (1992) e Nizar Messari (2002) afirmam que

interesses são moldados por crenças que definem necessidades e o valor de superá-las. E,

finalmente, necessidades não superadas resultariam em mais insegurança e dilema

securitizadores.

Somado a isso, quando preferências não conseguem se agregar em um interesse

coletivo consistente, as instituições podem prover um quadro de ordem que pode permitir

escolhas comuns (KOWERT, LEGRO, 1996; ARROW, 1951). Dessa maneira, instituições

podem coordenar expectativas e ações em situações nas quais haja múltiplos equilíbrios

(KOWERT, LEGRO, 1996). É justamente isso que o diretor do CEED coloca:

Provavelmente, um dos conceitos mais inovadores e importantes, surgido nestes anos

de vida institucional do CDS foi o de „interesse regional‟, categoria política e analítica

emergente incorporada ao próprio Estatuto do Centro de Estudos Estratégicos de

Defesa. Este conceito é definido como „o conjunto de fatores comuns, compatíveis

e/ou complementares do interesse nacional de cada um dos países membros da

UNASUL‟ (FORTI, 2014, p.14, grifos presentes no texto original).

Assim, pode-se dizer que os mecanismos de segurança e defesa da UNASUL teriam

surgido para caminhar rumo à interdependência e integração através de uma abordagem da

necessidade de cooperação em segurança dentro da região sul-americana, que tem como

interesse convergente maior a manutenção da zona de paz de nosso continente (BUZAN,

WÆVER, 2003; KACOWICZ, 1998) através de países que adaptem seu comportamento a

princípios e normas e instituições e a processos conjuntos de decisão em nome de um

convívio pacífico (SENHORAS, 2009).

O descrito acima retoma o que Waltz (2001) completava em Mearsheimer (1994/95)

na primeira seção deste trabalho, ao dizer que mesmo que os Estados busquem como meta o

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equilíbrio de poder – em nosso caso específico: equilíbrio regional – esse equilíbrio pode ser

traduzido em um processo de balanço calculado cuja sofisticação pode ser instrumentalizada

através de instituições. Esse viés realista concorda, portanto, no caso da UNASUL, com a

visão construtivista de Kowert, Legro e Arrow, citada acima, as quais trazem as instituições

como esses vetores de coordenação e convergência de expectativas estatais após cálculo de

interesses.

Importante notar que, apesar de a UNASUL não se pretender, portanto, como

formadora de uma identidade vinculante (FUCCILLE, REZENDE, 2013), identidade

vinculante no sentido europeu de supranacionalidade (SCHMITTER, 2010), ela se pretende

como vetor identitário comum de manutenção dessa zona de paz de nosso continente “a partir

da convergência de interesses nacionais em interesses regionais coordenáveis através de uma

instituição e de sua cooperação político-militar” (FORTI, 2014, p.14).

Nesse sentido, Amado Cervo (2008) afirma que desde o começo dos anos 2000, o

Itamaraty já tomava para si parte da responsabilidade de definir a política de segurança

nacional. Assim, o serviço externo brasileiro partilharia com as Forças Armadas uma

incumbência que essas exerciam sozinhas no passado. Sendo o Ministério de Relações

Exteriores um defensor de soluções multilaterais, a política de segurança haveria de adaptar-

se ao processo de integração regional. Logo, as perspectivas e interesses dos militares

estariam incrustados dentro do aspecto diplomático e isso pode ser verificado pela ênfase que

a Estratégia Nacional de Defesa, de 2008, dá à integração sul-americana como parte das

diretrizes nacionais de defesa e alguns aspectos de segurança.

Verifica-se que esse processo também se deu com muitos outros países da região, onde

as pastas de relações exteriores passaram a dirigir muitos aspectos militares (MEDEIROS

FILHO, 2010), vendo-se, assim, a promoção de um quadro que permite a interlocução

regional através de instituições políticas. Esse quadro evidencia a abordagem da Buzan e

Wæver (2003) dos novos quadros de segurança do pós-Guerra Fria nos quais a segurança e

mesmo a defesa podem ser tratados em um espectro político e não exclusivamente militar.

Uma vez que se tem no interesse nacional do Brasil tanto a promoção da estabilidade e

da interlocução regional, sendo ele o líder, quanto o do envolvimento na criação, inclusive, de

uma indústria de defesa regional – fatos que consideramos como cálculos de ganhos relativos,

realistas –, e, ao mesmo passo que, o Brasil procura incentivar a construção de uma unidade e

identidade sul-americana sem que dela participe países alheios à região – cálculos de ganhos

comunitários absolutos, de caráter mais construtivista. Esses fatos podem ser observados com

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o Conselho de Defesa Sul-americano, primeiro foro de coordenação de high politics regional

sul-americano no qual não houve a presença de uma potência extrarregional (AMORIM,

2011) e que já produz frutos industriais comunitários, como será citado à frente.

Temos, com isso, o path-dependence mostrado na Figura, que 1 é ilustrativo desse

apanhado teórico e descritivo. Se o cálculo de poder11

leva ao entendimento de que os Estados

devem cooperar para atingir interesses nacionais que sejam convergentes com o de outros

atores através de instituições que promovam um quadro de coordenação e, considerando que,

as instituições são os vetores de coordenação, a UNASUL, a instituição instrumentalizadora

em questão, estaria intervindo entre a independência e a coordenação12

.

Figura 1. Espectro Político de Conflito-Independência-Interdependência

Fonte: DE LOMBAERDE, VAN LANGENHOVE, 2005 (tradução própria).

Esse path-dependence é conceituado por seus idealizadores da seguinte forma: conflito

é um período anterior a um regime de segurança no qual há a interlocução entre os Estados

devido a suas refregas; independência é um período quando os Estados de uma região não

dialogam entre si de maneira autônoma em matéria de segurança regional, elemento tido

como dominante na América do Sul até o final da Guerra Fria; cooperação é quando os

Estados passam, novamente, a um status de interlocução para convergir seus interesses, sendo

a coordenação, no cálculo de poder, a forma menos custosa e menos passível de trapaça na

cooperação, por isso, esta é a forma mais essencial da cooperação; interdependência é

sinônimo de integração e, por consequência, no nosso entendimento, de manutenção da zona

de paz.

Por exemplo, poderíamos ter como um estudo de caso específico os Planos de Ação

do CDS entre 2009 e 2013 como indicadores de tal movimento de convergência

11

Embasamo-nos no cálculo de poder para cooperação na obra de John Ikenberry: “Strategic Restraint, and the

Persistence of American Postwar”. International Security, Vol. 23, No. 3 (Winter, 1998-1999), pp. 43-78. Mas,

consideramos essa discussão muito além da proposta deste trabalho e estender-nos-íamos demasiado se a

colocássemos aqui. 12

Conforme nota 5.

COOPERAÇÃO

CONFLITO INDEPENDÊNCIA COORDENAÇÃO INTERDEPENDÊNCIA

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interdependente, pois se vê que de mais de 30 ações estratégicas entre os países sul-

americanos, das quais apenas 6 deixaram de ser cumpridas no prazo determinado pelo

Conselho (MAGALHÃES, CHAGAS, 2014). Exemplo de ações importantes de coordenação

política é a realização de exercícios militares conjuntos, a criação de uma metodologia de

gastos militares, a criação de uma Escola Sul-americana de Defesa – essa já criada e sediada

em Buenos Aires – e, bastante relevante, o desenvolvimento de um avião de treinamento

militar, o UNASUR-1, inteiramente desenvolvido a partir da cooperação transnacional sul-

americana e sob a coordenação do CDS (MAGALHÃES, PAGLIARINI, GERALDO, 2014).

Poderíamos citar ainda, quando a Colômbia foi chamada ao CDS, em 2009, para

esclarecimentos sobre bases americanas em seu território após fortes tensões com a

Venezuela, em uma tentativa, liderada pelo Brasil, de real entendimento e apaziguamento da

situação de forma regional (AMORIM, 2011). Não cabe à UNASUL realizar os projetos ou

resolver as situações, mas cabe a ela promover a coordenação e a interlocução para que os

Estados, em conjunto, façam-nos.

Percebe-se, com isso, que as instituições não são as variáveis independentes desse

processo, elas são apenas catalisadoras ou intervenientes. Elas não causam a paz, mas podem

ajudar na velocidade desse processo. O que irá determinar ou não a paz, assim como na

abordagem de Mearsheimer, é a balança de poder e seu cálculo. Se os Estados entenderem

que devem cooperar através de instituições que coordenem seus interesses comuns, a paz

poderá ser catalisada através delas. Elas não cumprem a promessa de causar a paz, mas são

fatores intervenientes e mediadores nessa promessa. Assim, reiteramos o exposto há pouco

sobre o realismo-construtivista: não acreditamos que o poder possa ser transcendido na

anarquia internacional. Mas, também não acreditamos que a anarquia seja independente das

condições sociais e interesses e vontades dos atores locais.

Conclusão

Em suma, o conhecimento gerado pelo realismo deve ser considerado substancial.

Mas, ele não é indefectível, intemporal e, menos ainda, uniformemente distribuído da maneira

que alguns neorrealistas, como Mearsheimer, pensam. E, porque o realismo tem permanecido

como a tradição dominante no campo das Relações Internacionais, ele também permanece

sendo o alvo principal de ataques e oposições de discursos das teorias. Entretanto, não é certo

caracterizar o realismo apenas se pautando em um autor. Não se deve fazer metonímia de um

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autor pelo realismo como um todo, buscamos apresentar esse fato ao descrever, na segunda

seção, que, nas teorias de Relações Internacionais, uma mesma escola pode apresentar uma

sobreposição de paradigmas sem, com isso, perder suas premissas centrais.

Salientamos que o realismo não deve ser interpretado como uma ideologia. Muito

embora os Grandes Debates possam transformar escolas em dogmas de fé, o objetivo da

ciência, sobretudo da empírica, é sempre testar aqueles que se julgam como portadores de

verdade e de leis. Por essa razão, mesmo afirmando-nos também como realistas,

interpretamos a própria teoria na qual nos supomos estar enquadrados.

Além do mais, considerando o método como meio e não como ciência, inferimos que,

não necessariamente, uma abordagem behaviorista, comum na academia anglo-saxã, é o que

define a ortodoxia de uma escola teórica. Com isso, parte de nossa conclusão se baseia que

muitos realistas, mas aqui, sobretudo, Mearsheimer, limita o poder explicativo de sua obra

por, primeiro, não aceitar que outros métodos de ciência sejam possíveis, ficando preso a

concepções behavioristas que o prendem a um infindável e um improfícuo embate

metateórico e, segundo, por não aceitar, pelos motivos metodológicos supracitados, as

contribuições de outras abordagens e que interparadigmatismo é um elemento essencial para

que as teorias de Relações Internacionais não fiquem presas ao mundo das ideias e à discussão

de seu estado de arte e esqueçam uma de suas principais funções que é a de explicar o mundo

real.

Com isso, não podemos dizer que Mearsheimer errou ao dizer que as instituições não

causam a paz, muito porque concordamos com ele nesse ponto da cadeia causal. Mas,

podemos concluir que o modo com o qual ele afirma essa relação nula de causalidade não é o

mais correto para se analisar as instituições internacionais e seu grau de influência para a

causalidade da paz.

Assim, voltamos a vários pontos das três seções ao descrever e as instituições como

possíveis variáveis intervenientes do processo causal da paz. Usamos o termo descrição

porque, na concepção do behaviorismo, uma “boa descrição seria melhor do que uma

explicação ruim”, e, com isso, não caímos no argumento de que não podemos comparar as

nossas diferentes abordagens pela incomensurabilidade conceitual. Para descrever nosso

exemplo usamos a América do Sul e seu processo de cooperação e coordenação regional em

aspectos de segurança, conforme a Figura 1 apresentada. Dessa forma, demonstramos

descritivamente que o processo sul-americano de manutenção de sua zona de paz vem através

da coordenação de interesses comuns instrumentalizados por instituições.

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Porém, muito embora a UNASUL nunca tenha sido colocada real a teste de

manutenção da sua zona de paz, percebe-se que ela cumpre o que se propõe no eixo de

conflito à interdependência. Saímos de uma condição de ingerência externa de potências não

regionais sem discussão formalizada e autônoma para uma que busque debates políticos e

militares das condições regionais de forma independente e mais coesa. Tudo em se mantendo

o grau de soberania dos países sul-americanos e o seu cálculo de ganhos relativos, que podem

ser convertidos em um ganho absoluto regional que ajuda na velocidade com se percorre

aquele eixo de cooperação, coordenação e interlocução, cuja extremidade é a

interdependência e integração, a qual é uma ferramenta indispensável à manutenção da paz.

Assim, com essa visão de nível médio realista-construtivista, não prometemos que as

instituições irão causar a paz, como afirmam as teorias institucionalistas. Tampouco,

afirmamos que elas não têm implicação causal, como argumenta e conclui Mearsheimer.

Fazemos uma descrição que sintetiza vários paradigmas para avaliá-los e chegamos à

conclusão de que as instituições, ao fazerem o meio-caminho, nem cumprem a promessa

institucionalista nem a falseiam inteiramente: são uma meia promessa, nem causam a paz,

nem podem ser minimizadas do processo causal.

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