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A Metodologia de Pesquisa Em Sociolinguística (ARTIGO)

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Artigo sobre Metodologia de Pesquisa em Sociolinguística, escrito por Luisa Carolina Nunes Pinto. Discorre sobre os métodos qualitativo e quantitativo na área.

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Page 1: A Metodologia de Pesquisa Em Sociolinguística (ARTIGO)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS – CAMPUS I

402 - LICENCIATURA EM LETRAS VERNÁCULAS E LITERATURAS DE LINGUA PORTUGUESA

ED0027 – DIVERSIDADE LINGUÍSTICA

LUISA CAROLINA NUNES PINTO

METODOLOGIA DE PESQUISA EM SOCIOLINGUÍSTICA:

processo metodológico em Sociolinguística Interacional e em Sociolinguística

Variacionista

Salvador 2015

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LUISA CAROLINA NUNES PINTO

METODOLOGIA DE PESQUISA EM SOCIOLINGUÍSTICA:

processo metodológico em Sociolinguística Interacional e em Sociolinguística

Variacionista.

Artigo apresentado à Universidade do Estado da Bahia, Curso de Letras, como requisito parcial para a aprovação na disciplina Diversidade Linguística, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Lígia Pellon.

Salvador

2015

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INTRODUÇÃO

A Sociolinguística enquanto campo teórico de estudo da relação entre fala e

sociedade, pode ser dividida entre Sociolinguística Interacional e Sociolinguística

Variacionista. A Sociolinguística Interacional busca compreender a linguagem no

âmbito da comunicação e seus contextos, observando como os indivíduos reagem às

situações de interação comunicativas dentro de certos contextos sociais. A principal

preocupação da Sociolinguística Variacionista é a variação linguística praticada pelos

indivíduos e/ou grupos de indivíduos dentro da sociedade, levando em consideração o

fato de que as línguas não são homogêneas.

As pesquisas em Sociolinguística podem apresentar-se enquanto quantitativas ou

qualitativas. A metodologia de pesquisa, em cada um desses campos de estudo

sociolinguístico, dependerá de seus objetivos de análise.

O presente artigo busca descrever os processos metodológicos dentro das

pesquisas em Sociolinguística Interacional e em Sociolinguística Variacionista.

O PROCESSO METODOLÓGICO EM SOCIOLÍNGUISTICA

INTERACIONAL

A sociolinguística interacional está fortemente ancorada nas pesquisas

qualitativas empíricas e interpretativas. Os dados mais comuns coletados são as

conversas do dia-a-dia, as entrevistas, os discursos de sala de aula, as consultas médicas,

de acordo com o interesse do pesquisador, que pode dar maior ou menor atenção ao

fenômeno linguístico versus fenômeno interacional (Garcez e Ribeiro, 2002, p. 8). Os

métodos de coleta em Sociolinguística Interacional são a Observação Participante e a

Gravação de Conversa.

Observação participante

A Observação participante é usada para a criação da parte etnográfica da

pesquisa, e segundo Haguette (1992, apud Ladeira 20017), é uma coleta de dados menos

estruturada, oriunda da Antropologia e da Sociologia. A partir de uma etnografia da

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fala, os sociolinguistas qualitativos, que se ocupam dos usos da linguagem, buscam

compreender as normas culturais, as crenças e as atitudes que organizam e avaliam os

usos de uma determinada língua. A discrição do observador participante é fundamental

para o desenvolvimento da pesquisa, de forma a causar o mínimo de intervenção

possível no grupo investigado. O observador participante deve desenvolver consciência

sobre a diferença. Segundo Ladeira, "falar a mesma língua não é suficiente para

considerar determinado campo de pesquisa familiar, já que, além do vocabulário, pode

haver diferenças de significados e de interpretações (2007, p.48)".

Gravação de conversa

A Gravação de conversa é a gravação de uma ocorrência real de uma sequência,

segundo Sacks (1984, apud Ladeira, 2007) e tem como vantagem a possibilidade de ser

ouvida e estudada quantas vezes quantas necessárias. A transcrição da conversa utiliza

um sistema convencional que tenta capturar a fala com o maior número de detalhes

possível através de marcação de pausas, interrupções, e ênfases. O estilo de transcrição

deve ser, preferencialmente, o ortográfico padrão, para dar maior clareza às falas, e para

evitar que a descrição contribua para o desprestígio social dos possuidores da linguagem

não-padrão [motivo ético apresentado por Bagno (1999, apud Ladeira, 2007)] .A

utilização da linguagem não-padrão deve ser utilizada apenas em termos muito

utilizados coloquialmente e que não signifique desprestígio social.

Uma das formas de análise dos dados obtidos em gravação é o método de

construção de coleções de um fenômeno linguístico específico, que tem como objetivo a

produção de padrões na organização sequencial da fala em interação, pelas quais se

torne possível afirmar e explicar o uso estratégico de sequências conversacionais. O

primeiro passo deste método implica em na localização de fenômenos interessantes,

como uma forma particular de turno ou de sequencia. Após coletar um determinado

número de recorrências do fenômeno, descreve-se um caso particular formalmente,

concentrando-se no contexto conversacional, ou seja, no tipo de turno que antecede essa

produção. Caso um padrão possa ser identificado neste contexto, esse se torna a base

para a descrição do fenômeno. Retomam-se, então os dados obtidos de maneira a

verificar se o fenômeno pode ser explicado formalmente a partir desse padrão

sequencial. A construção de coleções é um método de análise descrito por Hutchby &

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Wooffitt (1998, apud Ladeiras, 2007). É possível através desse método, também, a

explicação de casos particulares, partindo do princípio da relevância condicional da

Análise da Conversa, que determina que "dada uma condição inicial do primeiro par,

um segundo é relevante" (Ladeiras, 2007), onde a falta do segundo par pode ser

justificado, como no caso de a pessoa não ter ouvido ou não querer responder.

Outra técnica em Análise da Conversa consiste na observação de detalhes

interacionais significantes no decorrer de uma fala extensa, como o uso de dispositivos

específicos de conversa, e permite localizar fenômenos sociais altamente organizados,

como por exemplo, as ações de contar histórias. A análise de caso único busca capturar

detalhes de estratégias e dispositivos que informam e guiam a produção da fala, e

privilegia a ordem sequencial, a fim de relacionar ações sociais específica com recursos

sequenciais (Hutchby e Wooffitt, 1998, apud Ladeiras, 2007).

Paradigma SPEAKING

Deel Hymes (1972, apud Laranjeiras, 2007), propõe enquanto método de

refinamento e interpretação das observações de campo o modelo de observação

chamado paradigma SPEAKING, onde cada letra da palavra SPEAKING corresponde a

um aspecto do evento comunicativo a ser observado. São eles: o cenário (setting), o

participante (participants), o objetivo (ends), a sequência de atos (act-sequence), o tom

da conversa (key), ou seja, o grau de seriedade e/ou formalidade da interação, os

instrumentos de negociação de confiança e legitimidade da interação (instruments), as

normas de interação e de interpretação que formam as expectativas de participação em

determinado evento (norms), e o gênero (gender), que determina a forma como o evento

é categorizado.

Identificação dos participantes

A forma de identificação dos participante de uma pesquisa tem sido alvo de

polêmicas e discordâncias teóricas. As possibilidades são por meio de letras do alfabeto,

categoria identitária e nome próprio. A identificação por letras do alfabeto são usadas

para descrever turnos de fala; as categorias identitárias geralmente são rejeitadas por

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introduzir referencias do senso comum à análise; a identificação por nome próprio é

uma possibilidade apropriada, visto que os participantes usarem esta forma de

reconhecimento cotidianamente.

O PROCESSO METODOLÓGICO EM SOCIOLÍNGUISTICA

VARIACIONISTA

O objetivo da pesquisa variacionista é descrever as formas linguísticas

alternativas (variantes) em uso em uma comunidade linguística. O único método viável

para a coleta dos dados linguísticos é a observação direta, visto que “a linguagem pouco

se presta à experimentação, já que só se manifesta na espécie humana, que é

dificilmente manipulável para fins de pesquisa” (Oliveira e Silva, 2003 apud Santos,

2009). A coleta de dados acerca de determinado fenômeno variacionista levará em conta

diversas decisões metodológicas, tais como escolha da comunidade, escolha da amostra

da coleta, do método de seleção dos indivíduos da amostra, e da forma de contato.

A escolha da comunidade deve ser feita em função do fenômeno, ou jamais ter

sido estudada antes. O número de indivíduos da amostra de coleta , por sua vez,

depende: da homogeneidade da população, que deve compartilhar um grupo de regras

de usos linguísticos e culturais, da quantidade de variáveis analisadas, do fenômeno a

ser descrito, tendo em vista que há fenômenos mais homogêneos que outros e do

número de membros da comunidade. A seleção dos indivíduos da amostra pode ser feita

a partir do método de seleção aleatória simples, que parte do princípio de que “todos os

indivíduos têm exatamente igual probabilidade de escolha” (Oliveira e Silva, 2003,

apud Santos, 2009), ou pelo método de seleção aleatória estratificada, que estratifica a

amostra dividindo a população em células compostas por indivíduos com as mesmas

características sociais, e nesse caso, o número ideal de indivíduos por célula é de 5

(cinco) falantes, a depender da extensão da comunidade.

No o método de observação direta em pesquisa sociolinguística variacionista, os

contatos com o indivíduo da pesquisa pode ser feito a partir de interações livres, de

entrevistas, testes, e questionários eletrônicos ou presenciais. As entrevistas, segundo

Campov (2005 apud Santos, 2009), podem ser do tipo individual programada, anônima

fugaz ou telefônica, e os testes podem ser de disponibilidade léxica e de escalas de

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nível. A decisão sobre a forma de contato deve levar em conta o fenômeno a ser

pesquisado, e todas as formas de contato exigem preparação prévia do pesquisador,

principalmente as formas de entrevista.

Como o objetivo da Sociolinguística é observar a fala no cotidiano, deve-se ter

muito cuidado para que a fala em observação não seja artificial, de maneira que o

pesquisador deve tomar uma série de cuidados para conseguir registrar uma fala que

seja a mais natural possível, como por exemplo, ter contato com os informantes antes da

aplicação do instrumento de coleta, de forma a familiarizar-se com a comunidade da

amostra, permitindo que o pesquisador e permitirá que o pesquisador possa comparar as

falas, sem e com o uso de equipamentos de registro.

Análise dos dados

A etapa seguinte à coleta dos dados é a transcrição desses dados a fim de se

obter uma análise mais consistente, visto que é impossível analisar o oral a partir do

próprio oral, como argumentou Campov (2005, apud Santos, 2009). Como o

levantamento e transcrição dos dados de uma pesquisa Sociolinguística são, geralmente,

etapas trabalhosas, os pesquisadores podem optar pelo uso de programas

computacionais de análise multivariada para auxiliá-los na construção do corpus de

análise. A partir dessa construção, os pesquisadores podem descrever quais fatores

linguísticos e extralinguísticos podem estar influenciando a fala dos indivíduos da

comunidade estudada, utilizando os dados obtidos na análise como argumento, e não

como ilustração. Trata-se, portanto, de uma pesquisa quantitativa, uma vez que dentro

do estudo da variação, o fator quantidade de ocorrências de uma variante é determinante

na caracterização da variação.

A análise qualitativa é possível dentro da pesquisa Sociolinguística

Variacionista, quando se busca interpretar os dados obtidos na pesquisa de observação.

CONCLUSÃO

É importante lembrar que, dentro de uma pesquisa sociolinguística, seja ela no

campo das interações de fala ou no campo das variações linguísticas, não há uma receita

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metodológica pronta. Cada pesquisa exigirá procedimentos metodológicos que sejam

coerentes e adequados com seus objetos e objetivos de análise, e deve-se levar em conta

os aspectos teóricos de cada metodologia, de maneira a conferir confiabilidade à

pesquisa construída.

REFERÊNCIAS

LADEIRA, Wânia Terezinha. Teoria e métodos de pesquisa qualitativa em sociolinguística interacional. Revista de C. Humanas, Vol. 7, Nº 1, p. 43-56, Jan./Jun. 2007

SANTOS, Renata Lívia de Araújo. A metodologia da pesquisa em sociolinguística variacionista. Revista Espaço Acadêmico, nº 97, Jun., 2009

RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, Pedro M. [Orgs] Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola. 2002.