A microfilmagem, a informática e os serviços notariais e registrais brasileiros

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    A microf ilmagem, a informtica e osservios notariais e registrais brasileiros

    Introduo

    O objetivo deste trabalho renovar ostermos da discusso j instaurada no transcurso do XXIIIEncontro dos Oficiais de Registro de Imveis do Brasil, realizado entre os dias 12 a 16 deagosto de 1996 na cidade de Fortaleza, Cear, promovido sob os auspcios do Instituto deRegistro Imobilirio do Brasil - IRIB.

    Agora, nesta oportunidade em que se realiza um simpsio nacional, que congrega os notriose registradores de todo o Brasil, oportuno refletir sobre a modernizao dos registros pblicos

    e servios notariais brasileiros, extraindo das lies recolhidas em vrios congressosinternacionais os elementos que possam servir de base para o aprofundamento das complexasquestes relacionadas com a informatizao desse servio pblico.

    Por outro lado, j possvel deitar uma mirada crtica sobre os acertos e desacertos damecanizao, microfilmagem e informatizao dos servios registrais e notariais aps oadvento da atual Lei de Registros Pblicos, cujos vinte anos de vigncia se comemoram nestaoportunidade.

    cedio que a informtica, ao par de outras inovaes tecnolgicas, uma importanteferramenta a alavancar o processo de desenvolvimento e aperfeioamento dos serviosregistrais e notariais no Brasil e no mundo. J no h quem possa negar a importncia damodernizao das rotinas de trabalho que a introduo da microinformtica nos serviosnotariais e registrais representou. Assim foi com a mecanizao dos registros a substituiodos pesados livros pelas matrculas assim foi tambm com inmeros benefcios e melhoriasrepresentados pela introduo da microfilmagem e de processos reprogrficos.

    Porm, a cada etapa correspondeu, correlata, uma ampla discusso a respeito doaperfeioamento do sistema como um todo assim considerado nas complexas relaes queas instituies notariais e registrais brasileiras mantm com todo o sistema jurdico.

    Portanto, a introduo, em larga escala, de microcomputadores em nossos servios com aadoo de linguagens e mtodos variegados para tratamento da informao nos deve levar auma profunda reflexo sobre o tema mais geral da modernizao, organizao eaperfeioamento sistemtico desses servios e a sua inevitvel contraparte: o risco que toda

    mudana representa e, especialmente, as conseqncias que podem advir da opodeliberada para o tratamento eletrnico das informaes que nos so confiadas.

    Com o fim de sustentar e alimentar esse debate, vamos procurar identificar as razes que seaninham no sucesso e na estabilidade da tecnologia introduzida nos servios com amecanizao, com a reprografia e com a microfilmagem, procurando haurir dessasexperincias os aspectos positivos para dar suporte e colocar em bom rumo sistemtico ainformatizao dos servios notariais e registrais brasileiros. O aprofundamento das questespropriamente relacionadas com a substituio total dos meios tradicionais de suporte dainformao como escrituras eletrnicas, assinaturas digitais etc. fica para uma prximaoportunidade.

    A micro fi lmagem nos servios notariais e reg istrais

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    A microfilmagem, segundo nos afiana Deobry Santos, foi inventada h cento e cinqenta esete anos, na Inglaterra. "A primeira aplicao prtica desta tecnologia ocorreu na Frana, h126 anos. Os bancos, nos Estados Unidos, comearam a usar a microfilmagem h 68 anos"(1). Segundo o especialista, apesar do amplo desenvolvido de microcomputadores, discospticos e dispositivos de tratamento de imagem, o microfilme continua sendo, ainda hoje, omediumque sem contestao considerado como de "segurana" e "permanente".

    No Brasil, a microfilmagem surgiu da sentida necessidade de armazenar os grandes volumesde documentos que compunham os arquivos oficiais da administrao pblica e ainda deestender, aos traslados ou cpias dos filmes extrados, a mesma fora probante que a lei jhavia estendido s certides ou pblicas-formas expedidas por meio de reproduo"fotoesttica". (2) A inspirao confessada para a proposta que motivou a mensagem n. 27, de18 de janeiro de 1968, encaminhada pelo ento presidente militar Costa e Silva ao CongressoNacional, foi o Regulamento do Servio Geral e Arquivo da Aeronutica, aprovado pelo antigoDecreto 1.976, de 25 de janeiro de 1963, que havia autorizado a adoo do procedimento demicrofilmagem para armazenamento e reproduo de documentos para uso de suasreparties. (3)

    Depois de sua regular tramitao no Congresso Nacional, a proposta transformou-se na Lei

    5.433, de 1968.

    Posteriormente edio dessa importante lei e do Decreto 64.398, de 24 de abril de l969 que aregulamentou expressamente revogado pelo vigente Decreto 1.799, de 30 de janeiro de 1996

    houve a proposta do Ministrio da Justia, consubstanciada na Portaria 985, de 27 desetembro de 1979, de submeter sociedade a avaliao do anteprojeto de regulamentao daLei 5.433/68, elaborado a partir da sugesto oferecida pela Associao Brasileira deMicrofilme. A referida portaria foi publicada no Dirio da Unio, conclamando os interessadospara manifestarem-se, querendo, no prazo de sessenta dias, oferecendo sugestes paraaperfeioamento daquele anteprojeto de regulamentao da lei.

    A iniciativa mostrou-se acertada. Motivou um debate nacional que envolveu os diversos

    segmentos da sociedade, inclusive notrios e registradores que contriburam, tmida eescassamente, com o debate no se considerando aqui o fato de que as sugestes por elesapresentadas, ou por quaisquer outros, tenham ou no sido aproveitadas para a edio doDecreto 64.398/69 (4). O que releva para estas consideraes que, antecedentemente adoo dos processos de microfilmagem aplicados aos servios notariais e registrais, houve apossibilidade de uma ampla e aberta discusso, instaurada a nvel nacional, que poderia terenvolvido todos os cartrios, assim como envolveu os demais segmentos da sociedade.

    Importante ainda salientar que os critrios tcnicos, os requisitos formais que deveriam serpreenchidos, os mecanismos de segurana, rotinas de organizao dos dados, tamanho defotogramas, tipo de filmes, equipamentos, indexao de dados, enfim todas as exignciastcnicas e legais que deveriam ser observadas para que se pudessem produzir os efeitoslegais probatrios de documentos microfilmados, tudo isso foi objeto de amplo debate, de

    estudos preliminares, encetados com o fim de harmonizar os critrios, padronizar tecnicamenteos procedimentos e regulamentar a implantao racional da microfilmagem no Brasil.

    Microfi lmagem - uma renovao tecnolgica nos servios notariais e registrais

    Os motivos que inspiraram a introduo da microfilmagem de documentos da administraopblica, como j assinalado, justificariam plenamente que se aplicassem tais tecnologias aosregistros pblicos e servios notariais cujos oficiais so "fideipositrios", h largo tempo, devolumes assombrosos de documentos que se produzem em escala cada vez mais crescente.Essas novas tecnologias de armazenamento e recuperao de documentos e dadospermitiram que os registradores e notrios enfrentassem eficazmente o desafio da "explosodocumentria". (5)

    Comentando o artigo 41 da Lei 8.935/94, Walter Ceneviva expressou-se no sentido de que "olegislador (...) quis estimular o aperfeioamento e a modernidade dos servios, recordando os

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    efeitos da informtica e de outros mtodos teis para a velocidade e para a perfeio dosservios. Sob esse aspecto, o dispositivo til, pois a tradio sugere que houve, em parte dostitulares de servios e mesmo da doutrina, muita resistncia adoo de mtodos novos, sob adesculpa que se mostrou falsa de que sacrificariam a segurana". (6) Mais adiante,sentencia: "A modernidade no um valor em si mesmo, quando se trate de funes tabelioasou notariais. Vale, se acompanhada de segurana". (7)

    Lucidamente e com bom humor tambm Gilberto Valente da Silva do mesmo sentir: "No, entretanto, um atrevido modernismo que dever nortear titulares. A cautela em verificar aidoneidade do meio de reproduo ou de armazenamento de dados, o tempo de vida til dosistema e outras medidas devem ser detalhadamente aferidos. J travamos conhecimento comtitulares de registros imobilirios que passaram todas as suas matrculas para a memria deuma CPD, desprezando as antigas fichas, que no mais esto escriturando, a pretexto defornecer certides com a maior brevidade, olvidando-se que, mesmo com a mxima cautela ecom a elaborao de arquivos de segurana, a mquina sempre pode apresentardefeitos...Cautela e caldo de galinha no fazem e nunca fizeram mal a ningum." (8)

    No h como discordar do que afirmam. De fato, a modernidade expressa em sofisticadosequipamentos eletrnicos, em complexos sistemas de computadores, software importado

    esse coquetel tecnolgico, como uma espcie de fetiche, encantando e seduzindo osdesavisados no pode ser encarada como um valor em si mesmo. Os servios notariais eregistrais brasileiros no sero melhores ou piores pela simples adoo de custosos esofisticados sistemas e equipamentos. Sero, isto sim, um bem sociedade se, alm deeficientes e bem administrados, os registros e notarias brasileiros puderem oferecer segurana

    jurdica e ocupar o espao que se lhes designa neste fim de sculo: um servio essencialmentevoltado cidadania.

    Mas, voltando referida resistncia adoo de novos mtodos por parte de registradores enotrios e mesmo por parte da doutrina muito embora o mestre Ceneviva no decline asfontes de suas afirmao preciso dizer que nas sucessivas etapas por que passou oregistro pblico brasileiro, os desafios foram sendo admiravelmente superados, com segurana

    e eficincia ao menos no que toca microfilmagem e mecanizao dos registros pblicos.

    A doutrina, de fato, esteve cautelosa na reflexo que produziu a propsito da modernizaodos registros pblicos. Por todos, Afranio de Carvalho, que, aps fulminar com cida crtica aadoo de folhas soltas para a matrcula, assim se manifestou a respeito da tecnologiaaplicada ao registro: "De certo, essas razes pesaram no esprito do jurista que, com aautoridade acrescida de antigo registrador, realizou um estudo completo das leis do registroimobilirio da Amrica do Sul, quando, nas suas concluses sobre as diretrizes eventuais dasua reforma, recomendou precauo no acolhimento de processos de automao, restringindo-os aos "aspectos auxiliares da funo registral". Aconselhando a escritura mecanografada, osfichrios, assim como a microfilmagem de arquivos para mant-los duplicados, foi peremptrioem advertir que "los libros territoriales no debem ser sustituidos por tarjeteras ni tampoucodesglosados". (9) Mais adiante, referindo-se especificamente microfilmagem, acrescenta:

    "Sem dvida, a duplicata dos assentos pode ser obtida por microfilmagem nas grandescidades, em cartrios de intenso movimento, mas dificilmente poder s-lo em cartrios dointerior, inclusive por causa do alto custo da aparelhagem. Basta essa considerao paraaconselhar que os cartrios, independentemente de recomendao legal, continuem aorganizar o livro de extratos, mas outras razes igualmente convincentes militam no mesmosentido, ao mesmo tempo que sugerem uma mudana na maneira de organiz-lo paraaumentar a sua utilidade" (10)

    A noo de que o microfilme possa ser utilizado como suporte, funo auxiliar e subsidiria daregistrao, duplicao de segurana como sugere Afranio de Carvalho, nos oferecidatambm por Garca Garca ao enfrentar a questo que parece ser de importnciatranscendente aos registradores e notrios brasileiros que hoje, mal inspirados portecnocratas da informtica, se debruam, reverentes, ao que parece ser a Meca tecnolgica

    tupiniquim: a digitalizao de matrculas. Questiona o registrador de Barcelona: seria possvel,seria realmente conveniente, que se armazenassem todas as fontes de dados matrculas,

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    ttulos, documentos suplementares e acessrios, "papis" etc. em microcomputadores, hojerevitalizados e revalorizados pelo desenvolvimento de dispositivos como scanners e programasde reconhecimento ptico de caracteres? A resposta evidentemente pela negativa. Sugere,de forma muito singela e acertada, que, para se resguardar de eventuais sinistros, os registrospblicos devem ter todo o arquivo armazenado em... microfilmes! Das observaes sempreprecisas do registrador de Barcelona, a nica que hoje merece reparos a que sugere que a

    memria dos computadores no comportaria a massa de dados que o armazenamento full textacarretaria. Hoje sabemos que os discos pticos e mesmo os dispositivos magnticos, ouptico-magnticos, de armazenamento de dados, comportam perfeitamente os dados de umgrande registro ou notaria. (11)

    A microfilmagem aplicada aos registros imobilirios foi objeto de deliberao dos registradoresreunidos no I Congresso Internacional de Direito Registral, realizado na cidade de BuenosAires, de 26 de novembro a 2 de dezembro de 1972. Sob a rubrica "tcnicas de registrao", acargo da III Comisso, debateu-se intensamente o que ento se chamava "mecanizao dosregistros". A funo eminentemente instrumental e auxiliar da nova tecnologia foi posta emrealce naquela oportunidade, figurando nas concluses daquele pioneiro e importante certame,o aconselhamento do uso da microfilmagem e, em geral, de qualquer procedimento desegurana que facilite a reconstruo total ou parcial do registro e a conservao dos

    documentos e livros antigos que devam ser arquivados. (12) Verifica-se que a microfilmagem,assim como a mecanografia, a reprografia e a informtica foram sendo consideradoselementos auxiliares e de suporte das atividades registrais e notariais: "em razo do carter

    jurdico da registrao, sua f pblica emana unicamente do processo documental, cujaelaborao exclusiva de quem expede o documento inscritvel, e, por outro lado, de quem, noexerccio da funo registral, redige e pratica o assento. Do exposto resulta que no suficiente, do ponto-de-vista de seu valor jurdico, o mero armazenamento de informao emum suporte material, como o ciberntico, mas indispensvel, como contrapartida, aconstncia documental formal, redigida e firmada pelo registrador" (13)

    O fato que o tema da microfilmagem sempre esteve associado ao armazenamento dos ttulose documentos que do arrimo inscrio no caso dos registros imobilirios e guarda econservao dos documentos notariais. Nesse sentido, os servios notariais e registraisbrasileiros e a prpria legislao especfica no destoaram da orientao mais geral dosservios anlogos e mesmo da produo legislativa aliengenos. (14) Comentando o empregodo microfilme nos registros de segurana jurdica, como meio de apoio consulta, conservaoe extrao de cpias do registro, manifestou-se o Professor de Direito dos Registros daUniversidade do Chile, Fueyo Laneri que este meio serve maravilhosamente aos registrosimobilirios, que podem enfrentar o problema catico da acumulao crescente de livros edocumentos. (15)

    O registrador brasileiro Elvino Silva Filho teve a oportunidade de deixar consignado, em artigopublicado na Revista de Direito Registral, do Cinder, a importncia da mecanizao dosregistros, da reprografia, microfilmagem e, de forma surpreendente considerando-se acautela dos seus pares nos Congressos Internacionais ao tratar do tema nas consideraes

    francamente laudatrias a propsito da informatizao dos registros pblicos brasileiros. A suapercepo estava absolutamente correta. Como que se justificando, lanou a invectiva: "Dir-se- que tais previses so um tanto quanto visionrias de nossa parte, para a implantao noBrasil. No comungamos, todavia, dessa opinio. Se o homem dispe da mquina para a suautilizao, porque no utiliz-la para ua maior eficincia nos seus servios?". (16)

    O arquivo em sistemas de microfilmagem hoje amplamente utilizado por inmeros serviosnotariais e registrais. O debate sobre a introduo desses sistemas irradiou-se em nossacategoria atravs da regulamentao, pelas Corregedorias Gerais e Permanentes (17), de suainstalao e utilizao nos registros pblicos e servios notariais, j que no houve comoaugurava Afranio de Carvalho uma regulamentao prpria, quedando a Lei 6.015/73 comsua caracterstica de "cmulo normativo", reunindo num s corpo Lei e Regulamento. (18) Mas,de fato, no foi pacfica e totalmente imune de problemas a sua adoo. Alguns registros

    imobilirios pretenderam a sua plena utilizao mas, por vrios motivos, foram sendoimpedidos pelos seus corregedores permanentes (19). Contudo, sensvel s necessidadesimperiosas de racionalizao e modernizao de processos e mtodos de arquivamento de

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    documentos, a Corregedoria Geral da Justia de So Paulo acabou por estimular a suautilizao (20), sendo iterativas as recomendaes e os dispositivos normativos que disciplinamo uso do microfilme, logo abaixo referidos na nota.

    Uma questo importante, que mereceu o debate sobre o tema da segurana nos registrospblicos, consistiu em definir se a microfilmagem dos documentos autorizaria, posteriormente,

    a sua destruio e eliminao ou sua restituio s partes considerando-se, sobretudo, aquesto de racionalizao na ocupao dos espaos destinados ao arquivo dos cartrios.

    Walter Ceneviva, comentando o mbito de incidncia da Lei 5.433/68, registrou que "o artigo 1, 1, da Lei n. 5.433, de 8 de maio de 1968, dispe que os microfilmes, bem como certides,traslados e cpias fotogrficas obtidas diretamente dos filmes produziro os mesmos efeitoslegais, em juzo ou fora dele. A Lei n. 5.433 autoriza a incinerao de documentosmicrofilmados, o que no se aplica aos registros pblicos, por ser contrrio sistemtica da Lein. 6.015 (arts. 22 a 27), que lhe posterior."(21). Aparentemente, o eminente autor noreferenda o entendimento de que os documentos arquivados em microfilme nos registros enotarias possam ser incinerados, destrudos ou mesmo devolvidos s partes no que pese asua manifestao em comentrio ao artigo 26 da LRP. (22)

    Contudo, alm da deciso proferida no Processo CG 65.239/83, referido na nota , supra, aCorregedoria Geral da Justia de So Paulo j teve oportunidade de manifestar-se sobre apossibilidade de microfilmagem de documentos arquivados, inclusive aqueles que o foramanteriormente vigncia da Lei 6.015/73. (23)

    Hoje parece tranqilo o entendimento de que possvel a microfilmagem de documentos semque devam ser mantidas cpias ou vias no servio. (24) No fosse por todos essesprecedentes colacionados, h a promulgao da Lei Estadual Paulista n. 9.366, de 27 deagosto de 1996 (ainda pendente de regulamentao do executivo estadual) que prev aobrigatoriedade a microfilmagem de documentos arquivados nos cartrios extrajudiciais doEstado de So Paulo (art. 1), fixando o prazo mximo de dois anos, "dentro do qual dever serultimada a microfilmagem prevista neste artigo". Vejamos se o executivo estadual ter a

    sensibilidade para perceber o desatino dessa lei e lhe possa corrigir, alm das deficinciastcnicas, o rumo anacrnico da exigncia.

    Cuidados com a microfilmagem>

    Apesar de extensamente utilizada nas rotinas dos servios notariais e registrais e apesar de tersido fartamente comprovada a segurana que proporciona, a microfilmagem requer algunscuidados que a prpria lei e o decreto que a regulamentou prevem, alm de outras medidasque so indispensveis para a organizao desses dados, seu armazenamento, rpida esegura recuperao.

    Os dispositivos legais que tratam dos requisitos de segurana e armazenamento dosmicrofilmes so sobejamente conhecidos, de forma que a sua citao aqui seria ociosa. Masseria interessante registrar que o Decreto 1.799, de 30/1/96, que regulamenta a Lei 5.433/68,define em seu artigo 3 que se entende por microfilme "o resultado do processo de reproduoem filme, de documentos, dados e imagens, por meios fotogrficos ou eletrnicos, emdiferentes graus de reduo". Percebe-se j, e claramente, uma opo deliberada de conjugara tecnologia da microfilmagem com a informtica, pois o decreto refere-se a "dados" e suareproduo em filme por meios eletrnicos. Portanto, o filme poder ser produzido no s pormeios tradicionais e por todos conhecidos. Ademais, curioso notar que o prprio conceito dedocumento passa a ser dilargado, admitindo-se a reproduo em microfilme de dados eimagens.

    Por outro lado, tambm seria importante consignar, para informao dos participantes desteSimpsio, como a Corregedoria Geral da Justia de So Paulo atualmente avalia a

    microfilmagem nos servios registrais e notariais.

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    A necessidade de elaborao de ndices bvia e no requer grande esforo parademonstrao. Somente dessa maneira, organizando eficientemente os ndices dos filmes, seencontraro, rpida e seguramente, as informaes armazenadas. (25) Alguns serviosnotariais e de registro no se apercebem da importncia da manuteno de ndicesorganizados e atualizados dos microfilmes. Alguns, at, permitem que to importante atividadeseja desempenhada inteiramente por empresas prestadoras de servio e vale aqui a

    recomendao geral de que, embora possam contar com o apoio de servios tcnicosespecializados de informtica e microfilmagem, a orientao geral, a superviso e a decisofinal de modernizao dos servios notariais e registrais devem sempre ficar a cargoexclusivamente da avaliao pessoal do profissional do direito delegado. (26)

    Algumas recomendaes seriam pertinentes aos registradores e notrios que se utilizam dosservios de microfilmagem de seus documentos:

    A microfilmagem ser feita sempre em filme original. A definio ser de, no mnimo, cento eoitenta linhas por milmetro de definio. (27)

    Para efeito de segurana necessria a extrao de cpia de segurana do filme. A suaguarda dever ser feita em local diferente do filme original. (28)

    vedada a utilizao de filmes atualizveis. No permitido o corte ou insero no filmeoriginal. (29)

    Quando se tratar de documento cujas dimenses ultrapassem o campo fotogrfico, deve sermicrofilmado por etapas, desde que garantida a repetio de parte da imagem anteriormenteregistrada. (30)

    Deve ser organizado o acervo a ser microfilmado e dele formado um ndice que deve figurar naimagem de abertura da srie. O ndice figurar na jaqueta do filme.

    A Lei 6.015/73, a mic ro fi lmagem e os "ou tros meios de reproduo"

    Como se sabe, foi posterior lei de microfilme no Brasil que houve a edio da nossaconhecida Lei 6.015/73, que disciplinou de forma pouco sistemtica a utilizao damicrofilmagem no arquivamento de documentos e papis, permitindo, ainda, o registro dettulos e documentos por meio de microfilmagem, desde que os microfilmes fossem havidoscomo partes integrantes dos livros dos registros. (31) Alis, coerentemente, a lei permitiu to-somente o registro, por meio de microfilmagem, de ttulos e documentos, reservando para osdemais ofcios especialmente o registro imobilirio to-s a possibilidade de arquivamentodos documentos e "papis" que lhe do suporte. (32)

    Comentando o artigo 25 da Lei dos Registros Pblicos, Walter Ceneviva, sob a rubrica"modernizao dos servios cartorrios", deixou assinalado, criticamente, a m redao do

    texto legal: "O artigo 25 demonstra descuido redacional: no se trata de papis referentes aoservio. O intrprete deve subentender fichas, livros e todos os documentos de interesse parao registro pblico ao qual a serventia se dedique" (33). A crtica no me parece inteiramenteprocedente: que a lei 6.015/73, de modo consentneo com a Lei 5.433/68 (que assegura queos documentos pblicos e particulares arquivados podem ser microfilmados, tendo suareproduo ou cpia o mesmo valor probante que o original) (34) permitiu o arquivamento de"papis" mediante processos microgrficos. A crtica se sustenta to-somente nadesvalorizao da expresso evidentemente equvoca "papis" quando o mais adequadoseria, eventualmente, "ttulos" ou "documentos" (35).

    Mas o intrprete no dever entender, sob o campo semntico dessa expresso, as fichas dematrculas e os prprios livros do registro. A faculdade concedida pela lei refere-se aosdocumentos ou ttulos que, de forma direta ou complementar, dem suporte ao registro, e no

    aos livros e fichas que recebem os seus dados pela inscrio ou registro, o que no seria

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    lgico a no ser que se fizesse da microfilmagem desses livros um elemento a mais desegurana.

    Outro aspecto importante a ser destacado aqui a parte final do art. 25 da Lei 6.015/73, queprev a utilizao de "microfilmagem e de outros meios de reproduo autorizados em lei". Ora,debatemos intensamente o tema da introduo de novas tecnologias nos registros pblicos

    aps o advento da Lei 8.935/94 especialmente a adoo de sistemas de computao, discoptico e outros meios de reproduo esquecendo-nos de que a nossa velha Lei dosRegistros Pblicos, no j citado art. 25, fazia referncia autorizadora da utilizao de "outrosmeios" de reproduo. (36) Muito embora a lei peque pela falta de clareza e preciso tcnicaao dispor que fica facultada a utilizao de microfilmagem e de outros meios de reproduoautorizados em lei dando a entender, numa rpida leitura, que a microfilmagem seria nica eto-somente uma tcnica ou um meiode reproduo (e logo nos recordamos de dispositivoscomo os heliogrficos, fotoestticos, xerox etc.) no se pode perder de perspectiva que ocitado dispositivo legal refere-se ao armazenamento e arquivamento dos "papis" por meio deprocessos "racionais" seja l o que esta expresso queira significar. Esse o vetorinterpretativo: reproduo, em microfilme, ou qualquer outro dispositivo, de documentos edados. Quando a lei refere-se a "meios", deve-se entender o suporte material microfilme ououtros quaisquer, ad exemplum e nomeadamente os discos pticos. nesse medium escolhido

    que se d a reproduo do documento. (37)

    Mas, o problema central, que permanece ainda sem soluo, o da inexistncia de expressapreviso legal autorizadora do arquivamento de documentos em meios eletrnicos. A Lei clara, "outros meios de reproduo autorizados em lei". No se trata, sic et simpliciter, dequestionar a validade do que, de forma genrica, est previsto no artigo 41 da Lei 8.935/94.(38) De fato, possvel a utilizao de qualquer recurso tecnolgico na organizao interna dosservios notariais e registrais alis, tal atine com a prpria administrao e organizao dosservios a cargo dos notrios e registradores, expressamente previstas na prpria lei. Mascoisa bem distinta o armazenamento dos documentos e ttulos que deram suporte econformaram os atos praticados por notrios e registradores em meios eletrnicos, j que noh expressa previso legal para tal, nem para dar autenticidade e valor probatrio s cpias,traslados, certides dali extrados. Em suma, no h previso legal para que se produzamefeitos jurdicos e legais s reprodues, equiparveis aos originais, dos documentosarmazenados em meios eletrnicos, nem mesmo para que se registrem documentosdiretamente em meios eletrnicos.

    A informt ica nos serv ios regis trais

    A falsa idia, difundida at em propaganda enganosa, a meu aviso de que os sistemas dedigitalizao de papis e documentos, hoje encontrados e mercadejados a preos vis,pudessem substituir comodamente os indicadores pessoal e real dos registros, ou osindicadores de ttulos e documentos, pessoas jurdicas, registro civil e mesmo dos tabelionatos

    cujos ndices poderiam ser criados "automaticamente" pelo programa, dispensando-se,assim, os trabalhos de manuteno perniciosa para os registros pblicos e tabelionatos

    brasileiros.

    A oportunidade propcia para aclarar os pontos que ainda ficaram obscuros no trabalho jreferido sobre informatizao dos registros imobilirios brasileiros. (39) Antes, porm, vamostraar um roteiro dos temas mais importantes e das discusses havidas entre os registradoresreunidos em congressos internacionais.

    A Info rmtica como supor te auxi liar do regist ro imob il ir io

    J no longnquo 1972, realizou-se em Buenos Aires, Argentina, o I Congresso Internacional deDireito Registral, no qual muito se debateu sobre o que ento se denominou "mecanizao dosregistros". Como registra Jos Manuel Garca Garca, as concluses a que chegaram os

    congressistas, se hoje nos parecem tmidas, firmaram as primeiras bases para a modernizaodos registros e ulterior tendncia sua informatizao. (40)

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    De outra parte, firmou-se o entendimento que se manter ao longo dos anos seguintes, nossucessivos debates de que os recursos aportados pela tecnologia no podero substituir aqualificao registral, no seu elemento personalssimo e essencial. A tcnica aparecer comoum elemento importante e indispensvel, mas sempre como meio coadjuvante, instrumental,auxiliar. (41)

    A mesma orientao se confirmar no congresso seguinte, realizado em Madri no ano de 1974,onde os registradores espanhis, zelosos de sua importante atividade, registraram nos anaisdesse congresso, e nos trabalhos por eles apresentados, que os computadores no poderiamser vistos e compreendidos como um verdadeiro sistema de inscrio, suplantando o prprioregistrador em seu labor especfico e singular que se concretiza em funes to propriamentehumanas e especificamente jurdicas. (42)

    Na poca desses debates, Elvino da Silva Filho expressou-se no mesmo sentido: amecanizao do registro seria mesmo indispensvel, como demonstrou proficientemente,sendo desejvel a coadjuvao de computadores, sem que, todavia, pudesse ser eliminada acontribuio do homem no exame de validade e legalidade dos ttulos que devem suportar ainscrio. (43)

    Assim, visto da perspectiva da atividade desenvolvida pelo registrador i.e, da atividadeinstitucional que faz do registro pblico imobilirio sofisticado mecanismo publicitrio queconcretiza, no mbito do Direito, a mutao jurdica na constituio, transmisso, modificaoou extino do domnio e dos direitos reais de bens imveis cr-se que essa atividade noh-de ser suplantada por um sistema ciberntico que possa substituir o profissional do direitoencarregado de to importante atividade. Afinal, o entendimento de que o uso decomputadores e demais dispositivos eletrnicos na atividade do registrador deva sernecessariamente subalternado a essa atividade que singulariza o prprio sistema de direitoregistral a qualificao registrria no difcil de ser compreendido: trata-se, no limite, deuma atividade que se exerce com carter personalssimo, parte da sua obrigatoriedade, do

    juzo concludente e principalmente de sua independncia. (44)

    " A informtica como Condicionante do Direito"

    Em 1984, teve ocasio em Madri, na Espanha, o VI Congresso Internacional de DireitoRegistral realizado entre os dias 22 e 26 de outubro de 1984, onde o tema da informatizao foinovamente retomado e discutido sob a rubrica: O Direito como Condicionante da Tcnica deProcessamento de Dados uma formulao temtica que j denuncia um preconceito naproposio que visa subalternizar a cincia da computao s condicionantes do direito.

    Tem-se por indiscutvel, por ora, a afirmao de que o elemento humano na qualificaoregistral no pode ser simplesmente substitudo pela mquina muito embora, assim expressoo pensamento, reduz-se a complexidade do problema da substituio de importantes tarefashumanas pelos sistemas cibernticos (45) problemas que envolvem profundas discussescientficas e filosficas que no cabem aqui explicitar. (46) Mas, ao estabelecer como

    pressuposto da discusso que o direito deve necessariamente condicionar a tcnica deprocessamento de dados, parece ser um apriorismo discutvel, e em todo o caso no cientfico,

    j que exemplos hauridos do testemunho dos prprios registradores, reunidos nessesimportantes congressos internacionais, nos do conta das profundas transformaes que osistema registral sofreu com o impacto de novas tecnologias, reconformando-se, assim, odireito que regulamenta as atividades registrais. Assim, longe de ser condicionante dastcnicas de processamento de dados, o direito posto, ele prprio, plasmado a partir deimperativos de ordem social e tecnolgica cuja dimenso no tem sido devidamente avaliada.

    Assim foi, por exemplo como nos relata Jos-Luis Benavides Del Rey com a mecanizaodos registros espanhis: as mudanas tecnolgicas verificadas nos procedimentos deregistrao haveriam-de conformar os meios de suporte da informao registral. Notou-se que

    a adoo da mquina de escrever no registro, como instrumento base do processo de suamodernizao, implicava uma mudana notvel no prprio conceito de arquivo. (47) No poracaso, reagiu Chico y Ortiz aceitao incondicionada da mquina nos processos de

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    registrao: "pois bem, aceitar substancialmente a mquina no somente como meio deverificar inscries, mas de realizar todos os aspectos jurdicos que traz consigo oprocedimento de inscrio, suporia a transformao de nosso sistema registral, modelar nomundo do Direito, em um de simples transcrio da documentao notarial. Isso implicaria,igualmente, a supresso do princpio de legalidade." (48) Portanto, a completa submisso dosistema registral informatizao suporia a converso em um sistema de transcrio,para que

    a mquina pudesse ter seu mbito operativo. Assim, padeceria de graves limitaes naproduo de seus efeitos exatitude, legitimao e f pblica registral. do prprio Chico yOrtiz a constatao de que no foi em decorrncia da adoo do sistema de transcrio, ou deinscrio, que se imps aos registros prediais a escriturao mo: foi antes a falta demquinas e de recursos tcnicos que limitou o registro na utilizao daquele meio o que referendar, obliquamente, o mesmo entendimento, embora, obviamente, a manuscrio no setenha dado pela ausncia da mquina, mas precisamente pela disponibilidade concreta dapena e do papel como instrumentos e meios para a realizao do registro assim como amecanizao do registro no se deu pela inexistncia de computadores. O fato que estamosdiante da mesma constatao de que o desenvolvimento tecnolgico vai, pouco a pouco,reconformando o prprio sistema, pela modificao substancial dos meios fsicos em que soarmazenados os dados e informaes. til consignar que o prprio Chico y Ortiz, naqueleimportante conclave, enumerou as sucessivas leis e regulamentos que pouco a pouco foram

    alterando fundamente o sistema "modelar" de registro imobilirio espanhol. O retrao dessasucesso de dispositivos normativos e regulamentares permitem-nos reconstituir o percurso damodernizao do registro espanhol: mecanizao, reprografia, microfilmagem, processamentode dados, computao grfica etc.

    A Digi tal izao da mat rcula

    Peo vnia para citar longamente um trabalho que foi anteriormente apresentado por ocasiodo XXIII Encontro dos Oficiais do Registro de Imveis do Brasil, realizado em Fortaleza, Cear.(49)

    A substituio de um meio por outro, sem qualquer estudo cientfico prvio, erro que se deve

    obviar. Por outro lado, a transformao das rotinas dos registros imobilirios deve se pautarsegundo um critrio e modelo que no podem prescindir de anterior reflexo sobre o processode aperfeioamento dos registros pblicos no Brasil uma recuperao histrica dastransformaes tecnolgicas que se foram introduzindo no curso do longo trajeto do registroimobilirio brasileiro. A informatizao sem slidas bases conceituais teoria de informao,tcnica de anlise e processamento de dados, legislao, histria, alm de conhecimento dasexperincias desenvolvidas em outros pases no se mostra aconselhvel. Nem mesmovivel, cientificamente falando.

    O advento da Lei 8.935, de 21.11.94, disciplinando os servios notariais e de registro, deu umnovo alento s expectativas de ver aperfeioado o sistema, de atingir um nvel de segurana,confiabilidade e rapidez nos importantes servios que prestamos comunidade.

    O impacto do uso de microcomputadores nos servios registrais e notariais tem sido profundo,acarretando contnuas transformaes nas rotinas de servio, aperfeioando, ampliando ediversificando os campos de sua incidncia, tornando cada vez mais precisa a base do sistemaregistral: a informao. Estamos presenciando a mais importante transformao tecnolgica

    jamais experimentada pelos servios de registros pblicos no pas. O sistema registralbrasileiro, inaugurado no sculo XIX, alcanou, surpreendentemente inclume, a dcada de 70deste sculo, com sua sistemtica inteiramente artesanal, com seus oito pesados livrosprincipais de registro e indexao de seus apontamentos com nfase no indicador pessoal(50).

    O advento da atual Lei de Registros Pblicos significou uma ruptura profunda no sistemaregistral brasileiro. A mudana de um sistema de base documental (transcrio de ttulos) paraum sistema de base cadastral (matrcula de imveis), visto de um peculiar ngulo, poder sercompreendida como uma espcie de coadjuvao numa transformao mais ampla nos meiosde tratamento da informao em setores da sociedade; isto , com a nova lei foi possvel a

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    introduo da mecanizao dos assentos, sistemas reprogrficos, microgrficos e por fim ainformatizao de setores importantes do Registro (indicadores pessoal e real), tudo isso paripassu com as transformaes tecnolgicas tornadas possveis com o advento principalmentedo microcomputador, alm de sistemas de mecanizao, reproduo e microfilmagem. A Lei6.015/73 cumpriu, portanto, esta importante funo: preparar o caminho legal para amodernizao do Registro Pblico Brasileiro, dando a partida para as transformaes que ora

    estamos experimentando.

    O tempo gasto para a concretizao do ciclo de mudanas no Registro tender a diminuirdramaticamente. Em outras palavras: se o sistema registral brasileiro demorou mais de umsculo para sua revoluo completa (substituio do medium livro-manuscrito para matrcula-mecanizao), e o deslocamento da nfase centrada no ndice pessoal para o real, aexpectativa de uma nova transformao do gnero matrcula-mecanizao para banco dedados-memria eletrnica acabar por nos colher de surpresa. A razo a rapidezvertiginosa das transformaes tecnolgicas, miniaturizao de equipamentos e suasconseqncias sociais, culturais e econmicas, cuja importncia, singularidade e significadosno cabem neste contexto discutir.

    Interessante notar como se deu a informatizao dos cartrios. Via de regra, automatizaram-

    se, a princpio, as rotinas de clculo de emolumentos, emisso de protocolos auxiliares eresumos financeiros dos registros; posteriormente, foram adotados processadores de textosem setores como o de certido. Aps, com a ampliao dos recursos tcnicos (modem decomunicao micro-mainframe) houve a possibilidade de armazenar em computadores degrande porte as fontes de dados dos indicadores pessoal e real produzidas remotamente.Assim, periodicamente, havia atualizao dos dados e emisso de microfichas com osindicadores. Mais recentemente, com a ampliao da capacidade de armazenamento de dadosem microcomputadores, os bancos de dados dos indicadores pessoal e real migraram para ointerior das serventias. Passaram a ser acessados em tempo real. No so atualizadosalhures. Alcanado este patamar, a prxima etapa a entidade que hoje singulariza o registroimobilirio: a matrcula. Assim, os analistas, programadores e registradores se preparam para"digitalizar" esta terra incognita... Brave New World!

    Interessante tentar estabelecer uma relao entre a formao do registro imobilirio no Brasil,suas etapas e aperfeioamento, com a histria recente da informatizao das serventias. Estahistria como que refere, de certa maneira, aquelas etapas: primeiro foram os ttulos e oindicador pessoal a se tornarem objeto de programas e sistemas de informtica emicrogrficos; depois o indicador real e finalmente a matrcula do imvel. A mudana doenfoque marcadamente documental de antes do advento da Lei 6.015/73 at a adoo docadastro real, como que deixou rastros perceptveis na informatizao dos registrosimobilirios. Refletindo sobre os caminhos percorridos dessa rpida informatizao, pode-seperceber a fora da tradio que se revela de vrias maneiras inclusive na conformao dachamada "matrcula digital".

    De fato, o futuro da informtica, com a expanso das plataformas grficas, permitir em breve

    a utilizao plena de scanners e outros dispositivos grficos. Haver meios fsicos paraarmazenamento dessas informaes (discos pticos etc.)

    Contudo, estejamos atentos para que o resultado no venha a ser, meramente, a reproduode um meio por um outro e a histria das transformaes tecnolgicas rica de curiosos epitorescos exemplos de como um modelo antecessor tende a conformar o sucessor. Quantotempo levou at que o rdio fosse compreendido como algo maior do que o "telgrafo semfios"? (como originalmente foi batizado). Quanto tempo levou o cinema para descobrir que suasamplas possibilidades somente poderiam ser descortinadas e plenamente utilizadas se sedesprendesse de seu modelo anterior, o teatro? E a TV, com seus amplos recursos em face docinema? Obviamente que a tradio e a permanncia so aspectos relevantes e indiscutveis,cujo valor e importncia no se questiona. Mas, a "matrcula digital" como querem alguns, ou o"flio eletrnico", como o denominam outros, dever ser uma entidade substancialmente nova,

    incorporando nveis de consulta diferenciados, interfaces com bancos de dados do prpriocartrio (indicadores) e prefeituras, croquis, plantas, fotos etc. alm de permitir acessos

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    singularizados, com instalao de terminais no balco do Registro, acesso aos bancos dedados da Serventia via modem, fax etc. Tudo controlado por sistemas.

    A digitalizao da matrcula tem sido defendida entusiasticamente por muitos especialistas eminformtica e mesmo por alguns registradores. O n grdio da questo reside numaconstatao desconcertante: via de regra, nem os registradores entendem suficientemente de

    processamento eletrnico de dados, teoria da informao etc., nem os analistas eprogramadores de computadores entendem de registros pblicos... A influncia recproca quese exercem, uns sobre os outros, tem levado a equvocos e paradoxos. A matrcula digital h-de ser pensada a partir de outras bases. A afetao por um modelo j definido e singularizado erro de concepo razo pela qual, se sugere a constituio de uma comisso de estudos,integrada por registradores e tcnicos, para dirimir as dvidas que tm um em relao satividades do outro, mas sempre, e incontornavelmente, sob a estrita direo dos primeiros.

    J nos referimos opinio de Garca Garca sobre o inconveniente de integrar o arquivo emtotalidade do registro imobilirio em meio eletrnico ao modo de full text (51), como ele sereferiu. A sua objeo ainda vlida: o armazenamento dessa massa de informao inconveniente por conter frases inteis e palavras vazias, como consignou em seu trabalho.Pois bem. Se prope agora aos registradores brasileiros a digitalizao das matrculas para

    que, uma vez digitalizadas, possam ser pesquisadas atravs de um mecanismo que "localiza" ainformao desejada, funcionando como recurso de preciso na recuperao de informaesrelevantes para o registro. Falam desses recursos como se estes representassem uma espciede panacia na hiperespecializao dos indicadores pessoal e real, podendo recuperar,adicionalmente, outras informaes, como desejasse o consulente.

    Ora, o armazenamento das matrculas em discos pticos , vamos dizer assim, um bis in idem,uma duplicao conceitual e sistematicamente equivocada, representa a constituio, bastanteonerosa alis, de um meta-flio real de notria ilegalidade, se utilizado como forma desubstituio da ficha. , em suma, uma estrutura de armazenamento desnecessariamentecomplexa, levando-nos a pensar que tambm aqui a histria se repete como farsa...A nicautilidade que vislumbramos para esse arquivo , como j se referiu Garca Garca, uma cpia

    para meros efeitos de conservao em caso de sinistro, com a diferena de que o registradorde Barcelona indicava a regulao de uma cpia em microfilme, coisa que j fazemoscorriqueiramente em nossos registros prediais. (52)

    Ao lanar a questo do que realmente relevante numa matrcula, pensvamos nos "rudos" expresses que de forma indispensvel articulam um "discurso" coerente no contexto damatrcula tradicional, mas que perdem essa caracterstica e utilidade em outro meio. Em outraspalavras: transposta a informao para um novo contexto, a sua leitura passa a ser no linear.No se requer uma forma descritiva para informar o registro imobilirio organizado em flio realeletrnico. Assim, as expresses que compem o receiturio descritivo dos ttulos albergadosno registro, devero ser abandonadas por completa obsolescncia no contexto do flioeletrnico. A matrcula, tal qual a vemos hoje, traz uma marca indelvel do sistema de"transcrio" dos ttulos do qual se originou e a duras penas se afasta. Afranio de Carvalho

    reputa a opo da Lei pela "forma narrativa" dificuldade de elaborar um modelo adequado escriturao colunar "por extrato" das declaraes essenciais do ttulo. (53) O fato que a"forma narrativa" no se coaduna com o sentido da evoluo do sistema registral brasileiro, fatoapontado pelo pranteado mestre, muito menos ainda se conforma com os modernos sistemasde registro imobilirio baseados no "flio real eletrnico", na forma em que toimprudentemente se prope, isto , com a digitalizao das matrculas.

    Portanto, a "matrcula digital", se concebida como simples converso especular da matrculaoriginal, mais um truque para encanto dos desavisados do que um verdadeiro avano nosentido da informatizao de rea to crtica em um registro imobilirio.

    Resta analisar o mecanismo de pesquisa que os modernos programas indicados paradigitalizao das matrculas contm e vamos fugir aqui, propositadamente, de enfadonhasdiscusses tcnicas. Via de regra, a imagem das matrculas capturada por dispositivoschamados scanners, que a converte digitalmente sendo gravada e armazenada em meios

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    pticos, ou pticos magnticos, ou s magnticos. Como no se trata de um arquivo de texto,mas de um arquivo "grfico" (54) com grande volume de dados a pesquisa nessesarquivos, para localizao de determinada palavra, ou conjunto delas, torna-se especialmenteproblemtico. Para resolver esse problema, esses softwares se utilizam de um programaconhecido como O.C.R., que em bom vernculo quer dizer simplesmente reconhecimentoptico de caracteres. Pois bem, feita a varredura desses arquivos, o programa gera um outro

    arquivo agora de texto para nela rastrear o monema, ou sintagma, desejados. Ento,resumindo, o processo o seguinte: (a) digitalizao da matrcula; (b) converso do texto emimagem; (c) armazenamento da imagem em arquivo; (d) rastreamento da imagem com O.C.R.;(e) traduo; (f) gerao de arquivo texto. nesse ltimo arquivo que o programa vai procurara ocorrncia da palavra desejada na pesquisa, para s ento referir o arquivo "grfico" paramostrar na tela do computador a imagem da matrcula.

    Ora, esse complexo processo no seguro. E mesmo que fossem superadas as dificuldadesencontradas atualmente (55), simplesmente no uma soluo para o desenvolvimento doflio real: mesmo a criao de mais um grande problema sem falar na irracionalidade de sedigitalizar um texto, formar uma imagem perfeita desse documento, armazen-la em custososdiscos pticos, para ento... transform-la em texto novamente!

    Por outro lado, a digitalizao da matrcula, com a captura de sua imagem, mero efeitoespecular. Desconsidera as amplas potencialidades que as media eletrnicas abrigam.Recepcionar, vamos dizer assim, a matrcula, tal qual hoje a conhecemos, em meio rico esubstancialmente diferente, erro indesculpvel. H que se pensar na "matrcula digital" comouma entidade nova.

    Na oportunidade em que foi apresentada e debatida a pequena contribuio discusso dainformatizao dos registros imobilirios brasileiros, acima referida e reproduzida parcialmente,muitos registradores objetaram que optaram pela via da digitalizao da matrcula por ser ummeio mais seguro e rpido de se manter e prestar as informaes quando instados a lavraremcertido de seus assentos. E mais: a digitalizao das matrculas, de ttulos, documentos e oarmazenamento desses dados em discos pticos, permitiria, segundo alguns, a substituio

    progressiva do microfilme e dos prprios livros do registro, suplantando os limites que aindaimpediriam a plena utilizao dos computadores no servio registral. (56)

    Por outro lado, no ocioso repetir aqui, como se tem repetido alhures e com bastanteinsistncia, que o registro imobilirio brasileiro um sistema de inscrio, pressupe umaatividade criativa do registrador na qualificao do ttulo, dele destacando os elementos paraplasmar o registro. A digitalizao dos documentos diretamente inserindo os dados do ttulo emmeio eletrnico, com as "facilidades" de buscas, sem a necessidade de indicadores pessoal oureal, com digitalizao full text, acabar por desnaturar irremediavelmente o sistema deinscrio, transformando-o num sofisticado e tecnicamente oneroso sistema de transcrio.(57) Com isso voltamos quase um sculo no desenvolvido do sistema registral brasileiro.

    A oportunidade se mostra propcia para aclarar alguns aspectos que ficaram obscuros ou

    pouco explorados no trabalho anterior. Faz-se logo a ressalva de que no se trata de renunciar,conservadora e timidamente, aos benefcios que a informtica traz para os registrosimobilirios. fato incontrastvel que as novas tecnologias de tratamento da informao ho-de aportar e se estabelecer no seio do registro imobilirio brasileiro, transformando-ofundamente. Procuramos demonstrar, contudo, que a adoo dessas novas tecnologiasdeveria estar orientada num bom rumo sistemtico, isto , o processo deveria ser conduzidoseguramente, com a regulamentao, a nvel federal, da adoo de sistemas informatizados deregistro, arquivamento e recuperao de dados, sendo indispensvel a colaborao dacategoria, atravs de seus rgos de representao.

    Sumariando os pontos que mereceriam um aprofundamento, temos:

    Carter pblico do s dados mantidos em computador e a Indelebilidade do registro

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    Os livros em que lanados os registros ostentam o carter, latamente considerado, dedocumentos pblicos. Qualquer que seja o meio material em que o registro se realize, tem-sesempre, como resultante, um documento pblico. (58) Abstraindo-se o conceito de documento,podemos considerar pblicos, igualmente, os dados que compem os indicadores pessoal ereal, organizados eletronicamente como havero-de ostentar tal caracterstica as imagensdigitalizadas de matrculas, livros, ttulos e demais documentos utilizados no registro.

    A questo relacionada com o armazenamento desses dados em meio eletrnico precisa sermuito bem avaliada a partir dessa perspectiva, afinal os dados que permanecem na serventiasob a guarda e conservao do registrador devem ser armazenados de tal forma que se nocomprometa a indelebilidade que torna seguro todo o sistema contra perdas eventuais, mastambm assegure-o contra fraudes e adulteraes alm de permitir a rpida e fcilrecuperao e reconstituio.

    Pois bem, no se desconhece o fato de que alguns programas que esto sendocomercializados e utilizados por servios registrais brasileiros de digitalizao de matrculas seutilizam fartamente de algoritmos de encriptao que no so pblicos, isto , so empregadasrotinas de programao muito sofisticadas a fim de que se possa armazenar em menor espaopossvel os dados que o software processa, ao mesmo tempo em que se protege o contedo

    contra possveis adulteraes. Tratam-se de programas desenvolvidos e comercializados porempresas privadas que por estratgias comerciais e industriais no tornam pblicos osalgoritmos utilizados para processamento desses dados. A recuperao dos dados fica, porconseguinte, sempre condicionada e dependente da aplicao de rotinas de reverso daencriptao original, a fim de que se obtenha os dados integralmente, tal qual foramarquivados. Percebe-se, claramente, um perigoso deslocamento da competncia original doregistrador em verificar e certificar a autenticidade dos documentos albergados no registro,tornando sua atividade dependente da verificao de autenticidade que o prprio sistemarealiza, por meios e processos que ele ignora ou desconhece. (59)

    A digitalizao de matrculas, analisada sob esse aspecto, contra-indicada sem consideraraqui, por bvio, as complicaes inerentes interrupo dos servios pela empresa produtora

    do software, mudana de plataformas operacionais, incompatibilidade de hardwaree softwaree uma infinidade de problemas correlatos.

    Regulamentao federal do uso de computadores no registro

    O uso de sistemas digitais no registro precisa ser regulamentado. facilmente compreensvelque o carter pblico dos servios registrais recomenda a uniformizao e padronizao deprocedimentos para a registrao. No se concebe que cada servio registral, a talante de seuoficial registrador, possa decidir sobre o meio ou suporte sobre o qual possam se dar osregistros, como no se concebe que possa decidir sobre as caractersticas que devam ter oslivros de registro, mormente considerando-se a insinuao solerte de livros "eletrnicos", comosi acontecer com a chamada "matrcula digital" ou "flio real eletrnico".

    Afranio de Carvalho, em mais de uma oportunidade, referiu-se necessidade de se manter aunidade de direito material e formal no registro imobilirio, de tal forma que deveriam derivar damesma fonte os livros do registro e os direitos reais harmonizando-se entre si, direitos eformalidades, "de modo que a respectiva sinalizao e bem assim a citao fossem entendidasno pas inteiro como expresses do mesmo direito material e formal."(60)

    Ora, o direito registral imobilirio h-de ser um direito de aplicao uniforme em todo o territrionacional, com precisa definio constitucional da competncia exclusiva da Unio para legislarsobre a matria (61) sendo de todo inconveniente que a variedade, em tema de ordenao doslivros do registro, se consagre como regra. (62)

    Pois se aplicam inteiramente essas consideraes pretenso de alguns registradores

    adoo de variados e contraditrios procedimentos de informatizao dos registrosimobilirios. Alm dos problemas que podero advir de uma utilizao mal orientada dosamplos recursos da informtica que pode at mesmo levar a um colapso do sistema corre-

  • 7/27/2019 A microfilmagem, a informtica e os servios notariais e registrais brasileiros

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    se o risco de uma interferncia indevida e danosa de outros rgos pblicos na estruturaodos servios registrais. do prprio Afranio de Carvalho a advertncia de que a omissolegislativa acerca de pontos essenciais, acabar por ser suprida, com desvantagens e desviossistemticos, ou pelo Executivo, ou pelo prprio Poder Judicirio, atravs de seus rgoscorrecionais, de tal modo que poder haver tanta interferncia no suprimento de lacunas legaisquantas forem as justias estaduais, com prejuzos evidentes. (63)

    A informatizao dos registros imobilirios, portanto, carece de uma regulamentao federal,qui sob o controle e iniciativa do Ministrio da Justia, como ocorreu com a microfilmagem,que to bem tem servido aos registros pblicos brasileiros. E o exemplo vem de outro registropblico, o de empresas mercantis e atividades afins, que j conta com regulamentao federaldisciplinando que os "atos" de empresas mercantis, aps preservada a sua imagem atravs demicrofilmagem ou "por meios tecnolgicos mais avanados", podero ser devolvidos pelasJuntas Comerciais. (64)

    Prospectando o documento eletrnico

    H contemporaneamente uma tendncia de tornar os negcios jurdicos dependentes demaiores formalidades e requisitos, com vistas a garantir maior segurana s partes eespecialmente a terceiros nas complexas relaes que se estabelecem nessa aldeia global,cada vez mais apequenada pelo constante aporte de novas tecnologias de comunicaes.Vivemos uma onda de retorno ao formalismo. Poderamos hoje reafirmar, como a sua vezregistrou brilhantemente Ihering, que "inimiga declarada da arbitrariedade, a forma a irmgmea da liberdade". (65)

    Mas, preciso distinguir claramente o que so formalidades necessrias em contraste com aexcessiva burocracia estatal, que interfere danosamente com a vida do cidado comum oque alguns ainda confundem, lamentavelmente. Fica muito difcil ao leigo compreender anecessidade do retorno como revalorizao ao preenchimento de certas formalidadeslegais para segurana das partes e de terceiros nos atos e negcios jurdicos privados medidas essas que so confundidas por alguns, vulgar e lamentavelmente, com transtornos

    desnecessrios, complexos, alm de mais custosos.

    Sente-se, cada vez mais intensamente, nos pases desenvolvidos, a necessidade da figura donotrio mesmo naqueles pases em que a tradio se funda na common law. Basta oexemplo dos Estados Unidos, pela American Bar Association, que constituiu um comit deestudos e pesquisas para prover de recursos tcnicos e jurdicos e para viabilizar, em slidasbases, o comrcio eletrnico que aquele pas pratica em escala global. A certificao deautenticidade e validade dessas transaes eletrnicas estaro a cargo de um... notrio! Alis,de um CyberNotary(66)

    Portanto e por mais paradoxal que possa parecer justamente o advento dessas novastecnologias, parte a j diagnosticada complexidade contempornea das relaes jurdico-privadas, que fez renascer as preocupaes dos juristas, tcnicos, economistas e demais

    profissionais das mais diversas reas, em conferir maior segurana, autenticidade e eficcia snegociaes que j transcendem as fronteiras nacionais e se irradiam globalmente numaeconomia interdependente e integrada. De fato, a contratao distncia, o advento de novastecnologias, como os documentos paperless, a assinatura digital, o chamado documentoeletrnico, que j fazem parte do cotidiano de nossas vidas, fizeram renascer a preocupaocom a segurana dessas transaes.

    Recentemente o mundo da informtica tem voltado seus olhos para os servios notariais. E poruma razo muito simples. Com o advento de seguros processos de encriptao de dados paratrnsito de documentos eletrnicos em redes mundiais, os tcnicos depararam-se com umproblema fundamental na contratao eletrnica. De fato, superados os problemas deassinatura eletrnica (imputao subjetiva, segurana contra repdio), integridade dos dados,

    sigilo, compactao etc., atravs da tecnologia de chaves pblicas (67) restou o problematormentoso de autenticidade na conferncia e utilizao das chaves que compem o sistema.Afinal, seguro afirmar que o contrato foi firmado eletronicamente por fulano, que no houve

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    ataque integridade daquele documento, mas, realmente, quem pode afirmar com seguranaque fulano realmente fulano e no outro, um fantasma?

    Para superar este tipo de problema, os notrios europeus tem sido instados a manifestarem-sesobre a autenticidade do sistema de criptografia por chaves pblicas, aplicao em largaescala de contratao eletrnica, reconhecimento de firmas digitais (autenticidade eletrnica) e

    lavratura de atos notariais eletrnicos (68).

    As potencialidades da utilizao de sistemas de comunicao de dados ampla. Bastaverificar que a contratao no contexto do Mercosul est a reclamar mecanismos modernos eeficientes para fazer frente s complexas demandas que esses mercados regionaisemergentes impem como desafios aos profissionais do direito.

    Prometo voltar ao assunto da contratao eletrnica em outra oportunidade, trazendo oresultado de um modelo terico que est sendo desenvolvido para registrao pblica elavratura de atos notariais em meios eletrnicos.

    (1) Santos, Deobry. Microfilmes - Mdia de Segurana e Permanncia.In Mundo da Imagem n.17, set/out, 1996, p. 19

    (2) Cfr. Decreto-lei 2.148, de 25 de abril de 1940, art. 2: "As certides de inteiro teor, bemcomo as pblicas-formas de qualquer natureza podem ser extradas por meio de reproduofotoesttica, devendo as cpias conter, para valor probante em juzo ou fora dele, aautenticao da autoridade competente, que certificar em declarao expressa, se acharemiguais ao original".

    (3) Cfr. a Exposio de Motivos n. 1.038-B, de 14 de dezembro de 1967, do Sr. Ministro daJustia, itens 4 e 5, que encaminhou ao Presidente da Repblica o Projeto 960-A, de 1968,elaborado pelo Ministrio do Exrcito.

    (4) digno de nota o fato de que somente um cartrio, o de Piracicaba, e o Colgio Notarial doBrasil, por Rio Grande do Sul, tenham contribudo com sugestes e propostas iniciativa doMinistrio da Justia ao menos o que se depreende da publicao abaixo referida. Emregra, parece ser essa a sina dos servios registrais e notariais no Brasil: quedarem-se inertese como que "refratrios" s grandes questes que envolvem a sociedade e a prpria categoria.E no nos esqueamos de que a Lei e o projeto de regulamentao faziam expressa menoaos servios notariais e registrais criando, inclusive, uma nova atividade aos registros de ttulose documentos. Cfr. proposta feita pelo Colgio Notarial do Brasil, subscrita pelo seu presidenteCarlos Luiz Poisl e a extensa crtica elaborada pelo 2 Registro de Imveis de Piracicaba, SoPaulo, por Tcito Morato Krhenbhl. A crtica no prosperou, mas indicadora do escassointeresse que o tema despertou na categoria. A razo provvel acha-se no fato de que osoperadores de direito, de um modo geral e os registradores, de modo especial reagem deforma pouco preparada aos desafios que se pem sua atividade, precisamente quando essesdesafios requerem uma abordagem multi e interdisciplinar. O Ministrio da Justia editou, em1980, em comemorao da V Conveno Nacional do Microfilme, realizada em Braslia de 8 a15 de junho de 1980, um volume intitulado "Microfilmagem no Brasil - A Questo Legal",reunindo todo material legislativo acerca da edio da lei e decreto regulamentador, bem assima ntegra das manifestaes suscitadas por ocasio da publicao da referida PortariaMinisterial 985/79. Remetemos o leitor a essa edio para acompanhar a introduo domicrofilme no Brasil, do ponto de vista da trajetria legislativa, e especialmente para verificarem que medida os servios notariais e registrais do pas envolveram-se com o debate.

    (5) Cfr. Fueyo Laneri, Fernando. Teora General de los Registro.Buenos Aires : Astrea, 1982,p. 224. De um modo geral experimentamos, contemporaneamente, um crescimento incontidoda produo de informao. Assim, se em princpios do Sculo XIX a informao mundial

    dobrava a cada cinqenta anos, na dcada de cinqenta a cada dez, hoje dobra a cada trsanos! (Cfr. Martin. James. Hiper Documentos e como Cri-los. So Paulo : Campus, 1992, p.14-15).

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    (6) Ceneviva, Walter. Lei dos Notrios e dos Registradores Comentada. So Paulo : Saraiva,1996, p. 212.

    (7) Ceneviva, Walter loc. cit. e Silva, Gilberto Valente da. Breves Anotaes Lei 8.935/94.Trabalho apresentado no XXII Congresso Nacional do Instituto de Registro Imobilirio, 1995 .Cfr. tambm Edgardo O Scotti, para quem a organizao, a tcnica e os procedimentos de

    registrao no podem ser considerados um fim em si mesmo. Contudo, constata,lamentavelmente, que a carncia de tcnicas modernas de organizao dos servios registrais,bem como a inexistncia de um suporte legal apropriado gerando uma inadequao dosservios em relao s modernas conquistas cientficas, e s complexas demandas do mundocontemporneo tm sido a causa do mal funcionamento dos registros. (Scotti, Edgardo OBases y Resultados de la Tecnificacin de los Registros Inmobiliarios en la Argentina - Aportepara Una Adcuacin de las Tecnicas Registrales en su Estudio Comparado. In: III CongressoInternacional de Direito Registral, 27 out. a 2 nov. 1977, San Juan, Puerto Rico. Ponencias ecomunicaciones presentadas al III Congreso Internacional de Derecho Registral . Instituto deDerecho Registral y Notarial de Puerto Rico, Tomo II, p. 289 e ss).

    (8) Idem, Ibidem.

    (9) Carvalho, Afranio. Registro de Imveis. 3. ed. So Paulo : Forense, 1982, p. 365. Ofestejado autor baseou-se no testemunho de Villavicencio, J. R. (Publicidad immobiliaria. 1reimp. Washington : Unio Panamericana, 1966. p. 557.). Cfr. ainda do mesmo Afranio deCarvalho sobre a microfilmagem ibid. p. 538.

    (10) Carvalho, op. cit., p. 365.

    (11) "Dada la enorme capacidad de memoria de algunos ordenadores, no asequibles desdeluego, podra plantearse, tericamente al menos, si cabra o sera conveniente integrar todo elarchivo (libros de inscripcin y asientos) en el ordenador a modo de full text o texto completo,utilizando terminologa informtica. Sin embargo, en el momento actual hay que descartarlo,por lo siguiente: 1 Se necesitara en cada Registro de la Propriedad un ordenador de una

    memoria excepcional, lo que resulta actualmente imposible. 2 El full text tiene el inconvenientede incluir muchas palavras vacas o frases intiles a efectos informticos. Es mucho mejor elsistema de extracto, que vendra a ser el sistema de indices antes propuesto. 3 Por outraparte, siempre se producira duplicidad del trabajo, pues sera impensable que el Registrofuese simplesmente el ordenador. La garanta del sistema hipotecaria com el sistema decontrol judicial de los libros e imposibilidad de manipulacin, segn se h demonstrado en msde cien aos de historia hace imposible prescindir de los libros de inscripciones. Por tanto,habra que redactar los asientos en los libros y adems recogerlos en full text en el ordenador.Duplicidad que determina su inviabilidad. Diferente cuestin es la fomentar una regulacin de lacopia del archivo a travs de microfilmaciones, a efectos de garantizar su conservacin en casode siniestro." Garca Garca. Jos Manuel. Notas Sobre las Relaciones del Derecho Hipotecariocom la Informatica Jurdica. In: VI Congresso Internacional de Direito Registral, 22 a 26 out.1984, Madrid. Ponencias y Comunicaciones presentadas al VI Congreso Internacional de

    Derecho Registral. Ilustre Colegio Nacional de Registradores de la Propriedad y Mercantiles deEspaa, Tomo II, 1985, p. 1095 e ss.

    (12) Garca Garca, Jos Manuel. Derecho Inmobiliario Registral o Hipotecario.t. I, Madrid :Civitas, 1988, p. 523. Para o registrador de Barcelona, as concluses a que chegaram em 1972os participantes foram o estabelecimento das primeiras bases para a informatizao do sistemaregistral. Cfr. tambm Chicuta. Kioitsi, Lima, Ary Jos de, Jacomino, Srgio.Algumas Linhassobre a Informatizao do Registro Imobilirio. Fortaleza, XXIII Encontro dos Oficiais doRegistro de Imveis do Brasil,1995, p. 9 e ss.

    (13) Concluses da Comisso III que se ocupou do tema das "tcnicas de registrao emecanizao dos registros" citado por Garca Garca, Jos Manuel, op. cit., p. 490.

    (14) Alm das recomendaes dos congressos internacionais, aos quais voltaremos ainda,recolhemos algumas referncias microfilmagem, j como uma tecnologia "madura" e

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    plenamente estabelecida no contexto dos registros e notarias pblicos. A referncia microfilmagem no incio da dcada de setenta sempre se d como pressuposto e comoelemento importante e coadjuvante, uma implementao tecnolgica, j indispensvel, para oavano e aprofundamento da modernizao dos servios notariais e registrais. O sentidodessas reflexes sempre a informatizao como meta e objetivo mais geral: "3. Operazione diarchiviazione di note e titoli. Il principale problema che pone larchiviazione degli atti lo spacio

    e la complessit di consultazione quando gli archivi sono molto voluminosi. A ci si pu ovviaremediante procedimenti di microfilmatura dei documenti. Al fine di assicurare la conservazionedei microfilm opportuno che il documento microfilmato ed il microfilm vengano conservati inluoghi e com criteri diversi, oppure che di ogni documento vengano riprodotti pi esemplari dimicrofilm, conservati in luoghi diversi com distinte specifiche finalit. Il sistema adottato dalRegistro de la Propriedad Inmueble di Bs. As., che da anni utilizza per larchiviazione deidocumenti il procedimento di microfilmatura, quello di consevare sotto forma di microfilm i titolitrascritti, mentre i documenti originali vengono restituiti alla parte istante". (Guasti, Federico.Considerazioni in Tema di Meccanizzazione ed Informatica Aplicate ai Registri Immobiliari. InRevista de Derecho Registral n 5. Buenos Aires : Centro Internacional de Derecho Registral,1976, p. 111 e ss. )

    (15) Fueyo Laneri, Fernando. op. cit., p. 225, nota : "El microfilme permite almacenar en

    reducido espacio infinita cantidad de folios reales, otros documentos y planos. De este modo sevence el fenmeno de la explosin documentaria que repleta e ahoga el local ms espaciosoque pudiera destinar-se a tales fines registrales.".

    (16) Como uma modesta, mas justa, homenagem, vamos reproduzir parte de suas reflexescomo um registro, em publicao brasileira, do discernimento desse notvel registrador:"Acrescente-se, ainda, que a adoo do flio real ou ficha real, atravs da matrcula,conjugada com a mecanizao dos lanamentos, possibilitar uma extraordinria rapidez nasinformaes sobre imveis, que so solicitadas ao respectivo Registro, atravs da expediode certides pelo processo xerox, mediante a reproduo ou cpia da ficha, o que,atualmente, impossvel no Brasil, uma vez que os dados solicitados so extrados, pordatilografia, dos maudos livros encadernados e manuscritos. E, nesta oportunidade, nopoderamos deixar de nos referir, tambm, utilizao de computadores, uma vez que osRegistros de Imveis, alm de serem os repositrios dos imveis e das pessoas dos titularesde direitos sobre eles, devem possibilitar precisas informaes sobre esses dois dados ouelementos." [...] "A mecanizao dos registros possibilitar, assim, no Brasil, em futuro nomuito remoto, a aplicao da ciberntica, mediante a utilizao de computadores, para oprocessamento das informaes sobre os imveis e os titulares do seu domnio" [...]. "Ainda,para completar esse extraordinrio apoio de um computador, a mecanizao dos registrospoder se utilizar da microfilmagem, da qual nos referiremos mais adiante, conjugada ou nocom o computador, atravs do sistema COM (Computer Output Microfilm), ou ento pelosistema MICRODISC, recentemente fabricado pela 3M Company." Respondendo esatisfatoriamente crtica de Afranio de Carvalho acerca da tcnica do flio real em folhaavulsa, reproduz a recomendao formulada nos congressos internacionais de utilizao damicrofilmagem como "substancioso elemento coadjuvante", formulando a regra at hojeseguida pelos registros imobilirios: "E, alm de tudo isso, o Oficial do Registro de Imveispoder ter sua disposio aparelhos de microfilmagem, e, ento, todos os ttulos registradossero microfilmados, em numerao conjugada com o Livro Protocolo, contando, assim, comsubstancioso elemento coadjuvante que lhe possibilitar a reconstituio da ficha real oufolha real, perdida ou extraviada."Cfr. Silva Filho, Elvino.A Unidade Imvel - Flio Real - e aMecanizao dos Registros no Brasil, In Revista de Derecho Registral n 5. Buenos Aires :Centro Internacional de Derecho Registral, 1976, p. 111 e ss.

    (17) Cfr. ad exemplum, o parecer oferecido pelo magistrado que abrilhanta e enriquece esteevento, Dr. Narciso Orlandi Neto. Apreciando a consulta feita pelo oficial do Registro Imobiliriode So Carlos, So Paulo, o juiz corregedor elaborou parecer no sentido de ser autorizada amicrofilmagem das vias no negociveis de cdulas de crdito e sua posterior destruio. Omagistrado j avana na considerao de que os documentos apresentados a registro podem

    ser microfilmados e posteriormente destrudos, alm de consignar sua opinio favorvel adoo de novas tecnologias nos servios registrais: "Muitos Cartrios de Registro de Imveis,especialmente os mais organizados (como o caso de So Carlos), tm utilizado a

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    microfilmagem, no s para diminuio do espao ocupado pelo arquivo, mas tambm pormotivo de segurana. Sabe V. Ex. que o microfilme, a par de provar tanto quanto o original, superior em questo de segurana; do sistema a guarda de duas cpias em locais distintos.

    Ademais, permite, com a utilizao de mquinas prprias, a expedio de certides semnenhuma demora. (...) Documentos particulares mais importantes que simples cpias decdulas j so arquivados por microfilmagens. o caso das quitaes de hipoteca, dos

    contratos particulares de compromisso de venda e compra e dos contratos particulares comfora de Escritura Pblica.". Aqui o ilustre magistrado toca num ponto essencial dessadiscusso sobre arquivamento de documentos em microfilme: a forma do arquivamento.Confiramos: "No h razo para que se continue impondo a formado arquivamento. O que alei manda que se arquive e no ser ela descumprida se os documentos foremmicrofilmados." Depois de recomendar cuidados especiais na microfilmagem, sugere amudana das NSCGJSP. (Parecer oferecido em 7/2/83 por Narciso Orlandi Neto, Processo CG65.239/83, publicado no Dirio Oficial da Justia do Estado de So Paulo de 8/3/83, p.16. Omesmo parecer foi publicado in Decises Administrativas da Corregedoria Geral da Justia deSo Paulo - 1982/1983. Des. Bruno Affonso de Andr. Org. So Paulo : RT., 1984, p. 115/117,ementa 44). Aproveito o ensejo para registrar a existncia do opsculo "A Informtica noRegistro Pblico", do colega registrador Antonio Carlos Carvalhaes, de So Carlos, justamentehomenageado no parecer de Narciso Orlandi Neto. Ao que saiba, sua publicao foi pioneira

    em colocar em pauta, no mbito dos registradores brasileiros, as questes importantes damicrofilmagem e da informtica no registro pblico brasileiro. O trabalho foi apresentado no XEncontro de Oficiais de Registro de Imveis do Brasil, realizado de 8 a 15 de outubro de 1983,em Serra Negra, So Paulo.

    (18) Carvalho, op. cit. , p. 532, nota .

    (19) Gilberto Valente da Silva, em comentrio Lei 8.935/94, assim manifestou-se: "Odispositivo em questo se harmoniza, perfeitamente, com os artigos 20 e 21 da Lei 8.935,possibilitando os titulares dos servios que, sem qualquer autorizao, implantemequipamentos modernos e modernizadores para a instrumentao dos seus atos, para aexpedio de certides, para a prpria prtica dos atos de seu ofcio. Veio a bom tempo,porque lamentavelmente, quando se fazia necessria e no havia lei expressa nesse sentido

    a autorizao do Juzo Corregedor Permanente para o aprimoramento, no faltaramMagistrados que a recusaram, outros que a condicionaram a uma srie de questinculas,entravando o progresso e interferindo, indevidamente, na administrao das serventias."(Silva,Gilberto Valente da. Comentrios Lei 8.935/94. Congresso do IRIB, Cuiab, 1995).

    (20) A propsito de orientaes emanadas da Eg. CGJSP, cabe registrar a viso e o tirocniodo magistrado que poca era juiz auxiliar daquele rgo do Poder Judicirio paulista, e quenesta oportunidade abrilhanta o evento Dr. Jos Renato Nalini. Vale a transcrio de parte doparecer oferecido quela poca, pela sntese do pensamento dominante na CGJSP e pelapreocupao pessoal na adequao dos servios notariais e registrais aos avanostecnolgicos na arquivstica documental, tornando esses servios consentneos com acontemporaneidade. Ao oferecer parecer sobre o recurso interposto contra deciso do juiz

    corregedor permanente de um registro imobilirio paulista que negou autorizao para amodernizao da serventia (sob o argumento de que a microfilmagem e o processamento dedados poderiam acarretar a dispensa de funcionrios) recurso impetrado, alis, pelo prprioregistrador, inconformado com a deciso de seu superior hierrquico, assim se manifestou: "Amicrofilmagem constitui tendncia irreversvel, a que a E. Corregedoria Geral da Justia no seoporia, depois de reconhecer o sensvel aprimoramento dos Cartrios que a adotaram. Bastasalientar que, na comarca da Capital, todos os dezoito Registros de Imveis se utilizam dela.Com evidente benefcio na presteza, segurana, exao e eficincia dos servios a que sepreordenam as Serventias. Sua adoo permite economizar espao, garantir durao maislongeva aos documentos, propiciar exame facilitado, assim como obteno de cpiassuperiormente fidedignas, em condies de conforto e higiene adequadas ao que se esperados servios judiciais e extrajudiciais contemporneos". Ao final de seu parecer, numademonstrao de respeito ao registrador que pode avaliar, melhor do que ningum, a

    convenincia e oportunidade da introduo de melhorias tecnolgicas em se servio rematou:"O parecer que me permito submeter superior considerao de V. Ex no sentido de seconferir provimento ao recurso para que se autorize a implantao dos servios naquela

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    Serventia, se ainda for de interesse de seu titular." (Processo 76/86, parecer de Jos RenatoNalini in Decises Administrativas da Corregedoria Geral da Justia de So Paulo - 1986 . Des.Sylvio do Amaral. Org. So Paulo : RT., 1986, p. 24, ementa 9).

    (21) Ceneviva, Walter. Lei dos Registros Pblicos Comentada. 9 ed. So Paulo : Saraiva,1994, p. 248.

    (22) Comentando o artigo 26, assim se pronunciou: "indefinidamente advrbio de modocolocado junto ao predicado permanecer com o sentido da ilimitada preservao imposta aossucessivos serventurios. evidente que, no futuro, apenas ser feita conservao de livros epapis reduzidos em microfilmagem ou outros processos que a cincia criar, pelo insuportvelvolume fsico que os originais demandaro, impossibilitando seu adequado manuseio. Apermanncia no exige que o arquivo seja no prdio do cartrio. Pode ser em outro local, namesma rea administrativa judiciria, desde que assegurada a rapidez na consulta e mantida aresponsabilidade do oficial. Quando for vivel a interligao das serventias pela adoo demeios eletrnicos e de informtica ser possvel uma central nacional de todos os assentos.".(Ceneviva, Walter. op. cit. p.37-38, nota).

    (23) bastante curiosa essa deciso que apreciou o pedido formulado por um registradorpaulista sobre a possibilidade de incinerar o acervo do Registro, consistente de cdulas e suasquitaes, documentos arquivados de ttulos e documentos, documentos de averbaes deconstruo etc., em pastas, "pastas essas com incio e trmino anterior vigncia da Lei 6.015(1 de janeiro de 1976)", sem que fossem microfilmados. Decidindo sobre a possibilidade dareduo do acervo documental pela microfilmagem, a CGJSP estendeu a amplitude do art. 25da Lei 6.015/73 aos documentos arquivados anteriormente vigncia da lei, em 1976:"Asserventias em que o problema j podia ser considerado grave deram-lhe soluo que estna prpria lei. Com efeito, o art. 25 da Lei 6.015/73 facultou a utilizao de microfilmagem paraa organizao do arquivo, possibilitando a diminuio sensvel do espao necessrio, semprejuzo da segurana. Esta Egrgia Corregedoria Geral j teve at oportunidade de estender aadoo de microfilmagem para o arquivo das cdulas de crdito, regulado em legislaoespecfica que no prev outra forma de conservao desses documentos (...) Parece-me que

    no resta outra alternativa ao consulente. A nica maneira de desocupar o espao necessrio guarda dos papis relativos ao registro sua microfilmagem. Pouco importa que digam elesrespeito a atos j registrados antes do advento da Lei 6.015/73, pois a legislao anterior,propositadamente citada neste parecer, j tornava obrigatria a conservao dos documentosreferentes ao Registro de Imveis e ao Registro de Ttulos e Documentos." , parecer oferecidono Processo CG 69.849/84, aprovado pelo Des. Herclites Batalha de Camargo, publicado noDirio da Justia do Estado de So Paulo de 11/5/84.

    (24) Aqui cabe uma observao sobre a possibilidade de se microfilmar os livros e documentosfeitos sob a gide de antigos regulamentos de registro imobilirio. O ento presidente do IRIB,Elvino Silva Filho, produziu um parecer a pedido e a fim de subsidiar a deciso do magistradoento titular da 1 Vara de Registros Pblicos da capital de So Paulo que redundou naedio do Provimento 1/82, de 3/3/82 no sentido de se possibilitar a microfilmagem de todos

    os antigos livros de registro, com sua ulterior incinerao. O parecer buscou fundamentos naLei 5.433/68, no seu decreto regulamentador e no artigo 25 da Lei 6.015/73, embora no fossetarefa fcil justificar, com base no citado artigo 25, a propositada microfilmagem desses livros esua ulterior incinerao, como alis reconheceu: "Entretanto, se a execuo da microfilmagemdos documentos e papis (note-se que o art. 25 da Lei 6.015/73 refere-se, exclusivamente, apapis) no encontra obstculos legais de qualquer espcie, j no que concerne aos livros deregistro, a soluo do assunto e o atendimento do pedido no encontram a mesma facilidade,dentro da sistemtica dos lanamentos registrais anteriores atual lei, em conotao com onovo sistema e procedimento previstos no diploma legal vigente.". O eminente registradorconcluiu pela possibilidade da microfilmagem de todos os livros e sua posterior destruio,lavrando-se termo circunstanciado a respeito no Livro de Visitas e Correies. O provimento1/82, baixado pelo Dr. Jos de Mello Junqueira, autorizou a microfilmagem dos livros, porm adestruio mecnica ou incinerao somente do Protocolo (livro 1) e Livro Auxiliar. (Cfr. Silva

    Filho, Elvino. Microfilmagem - Registro de Imveis. Microfilmagem dos livros previstos no Dec.4.857, de 9/11/39 (antigo regulamento dos Registros Pblicos) e possibilidade de suaincinerao. RDI 10/48, 1982.)

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    (25) Cfr. disposto nos arts. 7 e 8 do Decreto 1.799/96 que tratam das informaesnecessrias que constaro obrigatoriamente dos termos de abertura e encerramento dos filmese que devem figurar na face da jaqueta ou bobina que acondiciona o filme.

    (26) "os microfilmes no tinham qualquer ndice e, segundo est confessado pelo sindicado eadmitido pela Defesa, a localizao s seria possvel com o auxlio da empresa que realizava o

    servio de microfilmagem dos documentos". Parecer oferecido pelo magistrado MarceloMartins Berthe no Processo CG 692/96, publicado no Dirio da Justia de 2/7/96.Posteriormente, no mesmo Dirio Oficial, em 2/9/96, foi publicada a Portaria CG 8/96, doCorregedor Geral da Justia de So Paulo, Des. Mrcio Martins Bonilha, cujo item "c"registrava: "De outro lado, verificou-se que no havia qualquer remisso, nos documentosmicrofilmados, que possibilitasse sua localizao no arquivo de microfilmes. Nem haviatambm ndice para os rolos de microfilmes, os quais sequer eram numerados, tornando-seimpossvel a pronta localizao de qualquer dos documentos que pudessem sermicrofilmados."Em outro registro pblico de ttulos e documentos foi diagnosticada a falta demicrofilmagem de alguns documentos, o que ensejou a Portaria 54/96, do Corregedor Geral daJustia de So Paulo, de 30/8/96: "j) Embora os documentos, muitas vezes, j tenham sidodevolvidos s partes interessadas, a microfilmagem das respectivas certides de cumprimentoainda no havia sido realizada quando dos trabalhos correcionais. Os tales de certificado

    correspondentes ao ms de junho, por exemplo, estavam acondicionados em uma caixa depapelo, presos por elstico e separados por dias do ms, a fim de que todo o lote fosseencaminhado para a microfilmagem, enquanto os mesmos tales correspondentes ao ms de

    julho passado ainda no estavam sequer separados para a microfilmagem. Identifica-se ofensaao item 43.6 do Captulo XIX das Normas de Servio da Corregedoria Geral da Justia,porquanto as notificaes, depois de cumpridas, so entregues s partes sem que o registrotenha se aperfeioado com a necessria averbao da certido de cumprimento. Segundoinformes, esse critrio seria adotado por todos os demais servios de idntica natureza nestaCapital; m) Do indicador, conforme exame realizado, no constam as anotaes referentes saverbaes microfilmadas, o que desatende os itens 16 a 18 do Captulo XIX das Normas deServio da Corregedoria Geral da Justia, resultando na insatisfatoriedade e falta decompleitude do livro elaborado, pois, para localizao dos microfilmes referentes saverbaes, foi necessria a consulta a um caderno no oficial manuscrito, guardado por

    funcionrio encarregado do setor; p) No se averbam ou anotam, nos atos constitutivos depessoas jurdicas, as alteraes posteriores de contratos sociais, embora, de modo inverdico einexplicvel, conste tal circunstncia do microfilme; So Paulo, 30 de agosto de 1996. MRCIOMARTINS BONILHA Corregedor Geral da Justia".

    (27) Art. 5 do Dec.1.799/96.

    (28) Art. 5 do Dec. 1.799/96, 1 e 3.

    (29) Art. 5 do Dec. 1.799/96, 2 . A vedao legal de utilizao de filmes atualizveis deveser entendida no contexto da garantia de indelebilidade dos registros microgrficos preocupao que permeia a discusso acerca dos registros informticos, j que o medium

    eletrnico mais vulnervel adulterao dos dados originalmente gravados. Voltaremos aotema mais adiante.

    (30) Art. 6 do Dec. 1.799/96, nico. Essa disposio legal atina com a necessidade de provermeios de recuperao segura do original microfilmado. muito comum nos servios de registrode imveis a microfilmagem de plantas que no podem ser inteiramente microfilmadas.Quando ento a microfilmagem se d parcelarmente, muitas vezes no se d a devidaimportncia ao armazenamento adequado das partes, o que impede a recuperao segura dodocumento.

    (31) Lei 6.015/73, Art. 25 - "Os papis referentes ao servio do registro sero arquivados emcartrio mediante utilizao de processos racionais que facilitem as buscas, facultada autilizao de microfilmagem e de outros meios de reproduo autorizados em lei". Cfr. anda oart. 141 - "Sem prejuzo no disposto no art. 161, ao oficial facultado efetuar o registro pormeio de microfilmagem, desde que, por lanamentos remissivos, com meno ao protocolo, ao

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    nome dos contratantes, data e natureza dos documentos apresentados, sejam osmicrofilmes havidos como partes integrantes dos livros de registros, os seus termos de aberturae encerramento."

    (32) Sobre o tema do registro por meio de microfilmagem, sumamente importante a brechaaberta pela legislao para o registro direto de ttulos e documentos. To importante que,

    acaso tenha sido o ttulo ou documento lanado no protocolo e no microfilmado, tido oregistro por inexistente: "Na verdade, como nos Cartrios de Registro de Ttulos e Documentosque utilizem o sistema de microfilmagem, o registro do documento recepcionado se d com aefetivao desta, a sua falta leva necessariamente afirmao de que no havia sido feitoaquele registro que constava do ndice (art. 141 da Lei de Registros Pblicos)." [...] "Naverdade a inexistncia do microfilme fere a segurana que deve cercar a atividade registral,comprometendo todo o sistema, assentado no princpio da f pblica. (Parecer oferecido pelomagistrado Marcelo Martins Berthe no Processo CG 1.714/94, da Egrgia Corregedoria Geralda Justia de So Paulo). O registro em ttulos e documentos registro integral favorece amais rpida e profunda transformao tecnolgica que os servios registrais congneres deregistro civil de pessoas jurdicas e especialmente registro imobilirio, e isto por um motivosimples: a interveno do registrador de ttulos e documentos cinge-se, praticamente, qualificao do ttulo e o deferimento do registro. O sistema no de "inscrio", que

    pressupe o joeiramento dos dados com relevncia e transcendncia jurdicas a dar suporte aoregistro essa atividade verdadeiramente criativa do registro de segurana jurdica, como jps de relevo Jos Manuel Garca Garca. No por acaso, os registros de ttulos e documentosbrasileiros so luminares em termos de modernizao tecnolgica dos seus servios e noser surpresa se for esse o servio registral, seguido do notarial, os primeiros a adotarem, comvantagem e quando houver lei especfica o sistema de digitalizao de documentos.Contudo, guisa de concluso, vale fazer aqui a referncia advertncia de Kioitsi Chicuta deque o registro de ttulos e documentos como um registro de segurana jurdica, no prescindeda qualificao dos ttulos que neles ingressam.

    (33) Ceneviva, Walter. op. cit. p. 37, nota.

    (34) arg. do art. 1 da Lei 5433/68.

    (35) A referncia expresso "papel", ao invs de documento ou ttulo, conforme seja o caso, farta no texto da Lei 6.015/73. Cfr. arts. 25, 26, 132, 143, 146 ("apresentado o tt