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Ano II — Nº 70 24 a 31 de Janeiro de 2014 Domingo — 25 de Janeiro de 2014 3º Domingo do Tempo Comum Ciclo “A” do Ano Litúrgico Liturgia Liturgia 1ª: Is 8, 23b-9,3 – Sl: 26 (27) - 2ª: 1Cor 1, 10-13.17 Evangelho: Mt 4, 12-23 “A mim faz-me bem poder fazer o meu percurso por este mundo sentindo-me acolhido, fortalecido, perdoado e salvo pelo Deus revelado em Jesus.” Equipe de Produção IPDM C om imensa alegria, apresentamos a todos vocês, ami- gos e amigas do IPDM o nosso primeiro informativo de 2014. Porém, não poderíamos fazê-lo sem antes agradecer a todos que nos enviaram mensagens de apoio para que continuássemos em nossa jornada. Muito obrigado! Retomando nossas atividades, trazemos para vocês diferentes reflexões sobre o Evangelho deste domingo. A primeira delas, proposta pelo Padre Alberto Maggi, mostra-nos o chamado de Jesus aos seus primeiros discípulos. Maggi, direciona sua refle- xão para um fato de grande relevância: “Jesus para começar sua comunidade, ou melhor, o grupo com o qual vai inaugurar este “Reino de Deus”, não vai em busca de monges - na época existiam os Essênios - não chama os piedosos, os fariseus, nem mesmo chama os membros do clero, os sacerdotes, nem chama os podero- sos, os ricos - como os saduceus - e tampouco chama os teólogos, os escribas.... Não! Chama pessoas normais, os pescadores”. Veja a reflexão na íntegra na página 2. Na página 3, Edmilson Schinelo mostra-nos que “o evange- lho de Mateus quer proclamar: o Reino de Deus chegou! A instala- ção desse reinado começa pelo território de gente desprezada, a Galileia dos pagãos”. Padre José Antonio Pagola, por sua vez, nos diz: “No Evan- gelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que desperta a nos- sa responsabilidade. Não poderemos fazer grandes coisas, mas sabemos que temos de contribuir para uma vida mais digna e mais ditosa para todos pensando sobre tudo nos mais necessita- dos e indefesos”. Leia mais na página 4. Ainda na página 4, trazemos para vocês, a maravilhosa refle- xão de Padre João Batista Libânio para o próximo Domingo, 02 de fevereiro na qual ele nos fala sobre a apresentação do Me- nino Jesus no Templo e o profundo significado desse gesto por parte de Maria e José. “Não podemos tolerar que milhares de pessoas morram de fome todos os dias, embora haja disponíveis quantida- des enormes de alimentos, que muitas vezes simplesmente são desperdiçados”. Com estas palavras, Papa Francisco transmite seu forte recado para os líderes de governos reunidos em Davos para Forum Econômico Mundial. O texto completo da mensagem de sua santidade está na página 5. Na página 6, você encontrará o pequeno, mas profundo arti- go escrito pelo jornalista italiano Pedro Miguel Lamet discor- rendo sobre a simplicidade do Papa Francisco e a importância dela para os dias atuais. Ainda na página 6, Padre Libânio nos apresenta sus bri- lhante argumentação teológica sob o título “A Pedagogia de Je- sus frente ao Corporativismo”. Libânio, com a eloquência que lhe é peculiar, mostra-nos com muita propriedade: “O amor vence o individualismo porque nos leva a sair de nós mesmos. Supera o corporativismo porque não entende a reunião das pessoas como corpo compacto e preparado para combater e vencer outros gru- pos, mas convivência comunitária aberta a todo que quer associar -se.” Leonardo Boff, escreve sobre os “rolezinhos” que estão acontecendo em diversas regiões, refletindo a partir do título proposto para seu artigo, que chama diretamente nossa aten- ção, pois envolve a toda a sociedade: “Os Rolezinhos nos acu- sam: somos uma sociedade injusta e segregacionista”. Veja o artigo na íntegra na página 7. A página 8 traz para vocês a programação completa do pri- meiro grande evento apoiado pelo IPDM em 2014: A 13ª Sema- na Teológica que acontecerá entre os dias 10 e 14 de fevereiro na Paróquia São Francisco de Ermelino Matarazzo. Veja o pro- grama completo e os nomes dos assessores que estarão presen- tes. Vale apena participar desse evento. A página 9 apresenta a agenda de reuniões do IPDM para os meses de fevereiro e março. Anote em sua agenda e venha parti- cipar, teremos imenso prazer em receber você em nossa casa. Por fim, ainda na página 9, deixamos para todos os endere- ços eletrônicos que recomendamos para pesquisas e estudos. Tenham todos ótima leitura.

“A mim faz-me bem poder fazer o meu percurso por este ... · mais ditosa para todos pensando sobre tudo nos mais necessita- ... Porém, Cafarnaum era uma cidade de frontei-ra, um

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Page 1: “A mim faz-me bem poder fazer o meu percurso por este ... · mais ditosa para todos pensando sobre tudo nos mais necessita- ... Porém, Cafarnaum era uma cidade de frontei-ra, um

Ano II — Nº 70 24 a 31 de Janeiro de 2014

Domingo — 25 de Janeiro de 2014

3º Domingo do Tempo Comum

Ciclo “A” do Ano Litúrgico

L i t u r g i a

L i t u r g i a

1ª: Is 8, 23b-9,3 – Sl: 26 (27) - 2ª: 1Cor 1, 10-13.17

Evangelho: Mt 4, 12-23

“A mim faz-me bem poder fazer o meu percurso por este mundo sentindo-me

acolhido, fortalecido, perdoado e salvo pelo Deus revelado em Jesus.”

Equipe de Produção IPDM

C om imensa alegria, apresentamos a todos vocês, ami-

gos e amigas do IPDM o nosso primeiro informativo de

2014.

Porém, não poderíamos fazê-lo sem antes agradecer a todos

que nos enviaram mensagens de apoio para que continuássemos

em nossa jornada. Muito obrigado!

Retomando nossas atividades, trazemos para vocês diferentes

reflexões sobre o Evangelho deste domingo. A primeira delas,

proposta pelo Padre Alberto Maggi, mostra-nos o chamado de

Jesus aos seus primeiros discípulos. Maggi, direciona sua refle-

xão para um fato de grande relevância: “Jesus para começar sua

comunidade, ou melhor, o grupo com o qual vai inaugurar este

“Reino de Deus”, não vai em busca de monges - na época existiam

os Essênios - não chama os piedosos, os fariseus, nem mesmo

chama os membros do clero, os sacerdotes, nem chama os podero-

sos, os ricos - como os saduceus - e tampouco chama os teólogos,

os escribas.... Não! Chama pessoas normais, os pescadores”. Veja

a reflexão na íntegra na página 2.

Na página 3, Edmilson Schinelo mostra-nos que “o evange-

lho de Mateus quer proclamar: o Reino de Deus chegou! A instala-

ção desse reinado começa pelo território de gente desprezada, a

Galileia dos pagãos”.

Padre José Antonio Pagola, por sua vez, nos diz: “No Evan-

gelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que desperta a nos-

sa responsabilidade. Não poderemos fazer grandes coisas, mas

sabemos que temos de contribuir para uma vida mais digna e

mais ditosa para todos pensando sobre tudo nos mais necessita-

dos e indefesos”. Leia mais na página 4.

Ainda na página 4, trazemos para vocês, a maravilhosa refle-

xão de Padre João Batista Libânio para o próximo Domingo,

02 de fevereiro na qual ele nos fala sobre a apresentação do Me-

nino Jesus no Templo e o profundo significado desse gesto por

parte de Maria e José.

“Não podemos tolerar que milhares de pessoas morram

de fome todos os dias, embora haja disponíveis quantida-des enormes de alimentos, que muitas vezes simplesmente

são desperdiçados”. Com estas palavras, Papa Francisco

transmite seu forte recado para os líderes de governos reunidos

em Davos para Forum Econômico Mundial. O texto completo da

mensagem de sua santidade está na página 5.

Na página 6, você encontrará o pequeno, mas profundo arti-

go escrito pelo jornalista italiano Pedro Miguel Lamet discor-

rendo sobre a simplicidade do Papa Francisco e a importância

dela para os dias atuais.

Ainda na página 6, Padre Libânio nos apresenta sus bri-

lhante argumentação teológica sob o título “A Pedagogia de Je-

sus frente ao Corporativismo”. Libânio, com a eloquência que lhe

é peculiar, mostra-nos com muita propriedade: “O amor vence o

individualismo porque nos leva a sair de nós mesmos. Supera o

corporativismo porque não entende a reunião das pessoas como

corpo compacto e preparado para combater e vencer outros gru-

pos, mas convivência comunitária aberta a todo que quer associar

-se.”

Leonardo Boff, escreve sobre os “rolezinhos” que estão

acontecendo em diversas regiões, refletindo a partir do título

proposto para seu artigo, que chama diretamente nossa aten-

ção, pois envolve a toda a sociedade: “Os Rolezinhos nos acu-

sam: somos uma sociedade injusta e segregacionista”. Veja

o artigo na íntegra na página 7.

A página 8 traz para vocês a programação completa do pri-

meiro grande evento apoiado pelo IPDM em 2014: A 13ª Sema-

na Teológica que acontecerá entre os dias 10 e 14 de fevereiro

na Paróquia São Francisco de Ermelino Matarazzo. Veja o pro-

grama completo e os nomes dos assessores que estarão presen-

tes. Vale apena participar desse evento.

A página 9 apresenta a agenda de reuniões do IPDM para os

meses de fevereiro e março. Anote em sua agenda e venha parti-

cipar, teremos imenso prazer em receber você em nossa casa.

Por fim, ainda na página 9, deixamos para todos os endere-

ços eletrônicos que recomendamos para pesquisas e estudos.

Tenham todos ótima leitura.

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Padre Alberto Maggi—OSM

O evangelista Mateus apresenta, nesta passagem, o começo da atividade de Jesus. “Ao saber que João tinha sido preso, Jesus

voltou para a Galileia”. Quando Jesus soube que João tinha sido preso e que, portanto, o ar estava pesado e era difícil viver na Judéia, voltou para

o norte, na Galileia, região que, como veremos, era bastante desprezada. “Deixou Nazaré” - sua cidade natal – “e foi morar em Cafarnaum...”.

É interessante o fato que nem Nazaré, nem Cafarnaum são mencionadas no Antigo Testamento. Porém, Cafarnaum era uma cidade de frontei-

ra, um importante posto de alfândega. O evangelista acrescenta, “... que fica às margens do mar".

Mas na realidade é um lago. Por que o evangelista fala de mar? Porque com este subterfúgio, substituindo lago com mar, o evangelista quer

nos dar uma indicação teológica: o mar era o que separava Israel dos pagãos, mas, sobretudo, na história, o mar foi o que o povo de Israel tinha

atravessado para escapar da escravidão do Egito. Portanto, indicava a plena libertação. A chave geral da interpretação do evangelista está na te-

mática do Êxodo e Jesus é o novo Moisés que vem para libertar seu povo.

E aqui o evangelista vê, na atividade de Jesus e na escolha de subir à Galileia, a Mas, o que se entende por "Reino do Céu?”. Jesus não fala de

um reino no céu, isto é no além, no outro mundo. “Reino do Céu” - expressão que encontramos apenas no Evangelho de Mateus - indica o “Reino

de Deus”.

Mateus, que escreve para uma comunidade de judeus, evita usar a palavra "Deus", quando lhe for possível. Em outras palavras, para não ofen-

der a sensibilidade dos seus leitores, quando possível, utiliza substitutos. Um deles é “céu”. Portanto, “o Reino do céu” não significa o além, mas o

“Reino de Deus”, quer dizer, Deus se torna o rei do povo. Quer dizer, se permite a Deus de governar o Seu povo. Portanto, a conversão, a mudan-

ça da própria existência, significa permitir esta realização do “Reino do céu”, que se tornará realidade, aqui na terra, com a vivência da primeira

Bem-aventurança.

O reino do céu - o Reino de Deus - não cai do alto, mas requer a cooperação dos seres humanos. “Jesus andava à beira do mar da Galileia”.

Retorna mais uma vez essa palavra, mar.

O evangelista escreve que Jesus viu Simão e André. Esses dois personagens têm nomes gregos: isso significa que eles vêm de uma família

bastante aberta. Simão em particular, é conhecido por sua teimosia.

Ele, de fato, tem um apelido: "pedra" que significa a sua obstinação e a

sua dureza, termos que serão revelados ao longo do Evangelho.

"Estavam lançando a rede no mar, pois eram pescadores”. O evan-

gelista se refere à profecia de Ezequiel, capítulo 47, versículo 10: “o

tempo do Messias será um tempo de fartura para os pescadores”.

Jesus disse-lhes: “Segui-me”. É interessante: Jesus para começar

sua comunidade, ou melhor, o grupo com o qual vai inaugurar este

“Reino de Deus”, não vai em busca de monges - na época existiam os

Essênios - não chama os piedosos, os fariseus, nem mesmo chama os

membros do clero, os sacerdotes, nem chama os poderosos, os ricos -

como os saduceus - e tampouco chama os teólogos, os escribas....

Não! Chama pessoas normais, os pescadores.

Ele diz: “eu farei de vos pescadores de homens”. Historicamente é

interessante lembrar que esse título, que significava a missão confiada

a eles por Jesus, será cedo abandonado pela igreja. No lugar de

“pescadores”, preferiram ser chamados de “pastores”, título que Jesus

não deu a ninguém. Ele é o “único Pastor”. Ser “Pescadores de homens” é o que Jesus pede aos seus para fazer.

O que significa “pescadores de homens”? Enquanto pescar o peixe significa puxar o peixe para fora de seu habitat natural e assim dar-lhe a

morte, “pescar os homens” significa puxar os homens para fora da água - água é símbolo do mal e da morte - para salvá-los, para dar-lhes vida.

Portanto, eis proposta de Jesus: sigam-me, venham atrás de mim para comunicar vida a toda a humanidade! “Eles, imediatamente, deixaram as

redes e o seguiram”.

Logo em seguida, há a chamada de outros dois irmãos, Tiago e João. Eles têm nomes judaicos, nomes de hebreus. Veremos, mais tarde, no

curso do evangelho as atitudes deles que refletem os nomes deles. Aqui o evangelista enfatiza que há a presença do pai, Zebedeu.

Jesus os chama. “Eles deixaram imediatamente a barca e o pai, e seguiram a Jesus”.

Para seguir Jesus é preciso abandonar o pai! O pai indica a autoridade e para seguir a Jesus é necessário abandonar o pai. Porque o único Pai,

na comunidade dos fiéis, é o Pai que está nos céus, que não governa os seres humanos promulgando leis que eles devem observar, mas comuni-

cando-lhes a sua própria capacidade de Amor.

“Jesus andava por toda a Galileia” - portanto nesta região desprezada - “ensinando em suas sinagogas, pregando o evangelho do Reino...".

O evangelista usa dois verbos diferentes para indicar a ação de Jesus. Nas sinagogas “ensinava”. Ensinar significa tirar algo do patrimônio do

Antigo Testamento para propô-lo novamente. Portanto, nas sinagogas Jesus toma o que é a riqueza do povo contida no Antigo Testamento e a

propõe de novo. Porém, para proclamar “o Evangelho do Reino”, Jesus não ensina, mas “prega”, “anuncia”.

Portanto, são dois verbos diferentes. Quando se dirige aos judeus, Jesus ensina; quando se dirige a pessoas infiéis ou fora da lei, isto é, aos

não judeus, Jesus prega e anuncia. E isso significa colher o novo sem a necessidade de ir e retomar o velho.

Outra coisa importante: pela primeira vez, neste evangelho, aparece o termo "Evangelho" que significa “Boa Notícia”. E qual é esta “boa notí-

cia”? A Boa Notícia é a do Reino.

De fato, Jesus não se limita a falar, mas age. Como? “Curando todo tipo de doença e enfermidade do povo”. Precisa observar que a tradução

mais certa é “no povo”. Portanto doença e enfermidade “do povo” e “no povo”. Quer dizer, Jesus liberta o povo daqueles obstáculos que impedem

a acolhida da Sua mensagem: plenitude de vida do povo e no povo.

E assim começa a se espalhar a missão de Jesus que é um novo, continuo e incessante Êxodo.

http://www.studibiblici.it

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O evangelho proposto para este domingo pelo lecionário ecumênico* é o texto de Mt 4,12-17. Esse bloco

de versículos é precedido pela narrativa das tentações (Mt 4,1-11) e tem como sequência o chamado dos pri-

meiros discípulos (Mt 4,18-22). Trata-se do início da pregação de Jesus na Galileia, cuja frase central é o cha-

mado à mudança de vida: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” (Mt 4,17).

O trecho possui uma estrutura bastante simples: no início, a informação de que Jesus, ao saber da prisão de João Batista, foi

morar em Cafarnaum; em seguida, uma citação do livro do profeta Isaías; e, por último, o convite de Jesus à conversão.

Voltou para a Galileia e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum

Jesus já foi confirmado no batismo, junto às águas do rio Jordão (Mt 4,17); venceu a crise das tentações, no deserto da Ju-

deia (Mt 4,1-11). De acordo com a narrativa de Mateus, está pronto para iniciar sua missão. Entretanto, ao saber da prisão de

seu precursor, retorna para a Galileia. É lá que vai reunir o grupo inicial e lançar seu “programa de governo” no Reino dos Céus,

resumido nas Bem-aventuranças (Mt 5,1-12).

Do ponto de vista teológico, isso é significativo. Mais do que um nome próprio, “galileia” em hebraico significa “distrito”,

“província”. Por isso, em muitos textos, vem acompanhada de um adjetivo: Galileia das Nações, Galileia dos Gentios. Trata-se de

uma região pejorativamente chamada pelos judeus do Sul de “distrito dos pagãos”, em hebraico, galil há-goym, território de

gente estrangeira e pagã.

Estando na Galileia, Jesus deixa o povoado de Nazaré (em alguns manuscritos chamada de Nazara) e vai morar na cidade de

Cafarnaum, situada às margens do lago de Genezaré, também chamado de Mar de Tiberíades. O evangelho de Marcos confirma

a informação (Mc 2,1). Possivelmente, Jesus passou a morar na casa da família de Pedro (Mc 1,29-31; Mt 8,14-15).

Em Cafarnaum, havia uma alfândega, local de cobrança de impostos (cf. Mt 9,9). Possivelmente, era também local de resis-

tência de muita gente “fora da lei” que se rebelava contra os abusos do império romano. Aliás, resistência e rebeliões eram mar-

ca presente em quase toda a Galileia.

O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz

Com certa liberdade, na hora de copiar o texto, Mateus faz uso das palavras de Isaías (Is 8,23-9,1) para legitimar o início da

missão de Jesus na Galileia: “... para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Terra de Zabulon, Terra de Neftali, ca-

minho do Mar, região além do Jordão, Galileia das nações...”.

Ao dominar a Palestina, o império assírio fez conquistas gradativas. Antes de destruir a Samaria (721 a.C.), conquistou e

oprimiu os territórios citados por Isaías. Controlando a Estrada do Mar, o rei Tiglath-Pileser (Teglat-Falasar III) anexou as regi-

ões de Zabulon, Neftali e a Transjordânia (Guilead). A Galileia foi anexada também, como podemos ler em 2Rs 15,29. Isso se

deu em 732 a.C. Como aconteceu com a Samaria (2Rs 17), o povo foi deportado e gente de outras províncias foi instalada no

local. A região passa a ser vista como “galileia de pa-

gãos”, distrito de outras nações. Para o povo pobre e so-

frido, parecia restar somente “jazer nas trevas”.

Algumas Bíblias preferem traduzir “andar nas tre-

vas” ou “viver nas trevas”. A expressão, entretanto, é

mais forte: o jazido é o túmulo, nele não se vive, a con-

dição é de morte. Isaías quer reforçar o contraste: quem

está morto nas trevas vê uma grande luz! O sol raiou

para quem jazia na região sombria da morte (Is 9,1; Mt

4,16).

Para a mentalidade da época de Isaias, o contraste

da escuridão com o nascer do sol era muitas vezes usa-

do para falar da chegada do rei (cf. 2Sm 23,3-4). Nos

rituais da dinastia egípcia, por exemplo, a aparição do

faraó no trono, mostrando-se magnífico para o povo, era

celebrada como o nascer do sol. Ao escolher esse texto,

o evangelho de Mateus quer proclamar: o Reino de Deus

chegou! A instalação desse reinado começa pelo territó-

rio de gente desprezada, a Galileia dos pagãos. E é o

próprio Jesus que anuncia a sua chegada (Mt 4,17)

Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus!

Como já foi dito, o versículo 17 contém a frase principal do texto. A maioria das traduções faz uso do termo “arrependei-

vos”, o que é correto. Entretanto, a palavra “arrependimento” nem sempre expressa o profundo sentido do verbo utilizado pelo

texto original. O verbo grego é metanoien. É mais do que um arrependimento, é uma mudança no jeito de viver, de pensar e de

sentir. É mudança de rumo, conversão. Metanoia é a experiência da borboleta: saída do casulo, rompimento com todas as cas-

cas, metamorfose! Só assim é possível experimentar o Reino.

Como Mateus escreve para grupos mais ligados ao judaísmo, evita pronunciar o nome de Deus. Por isso não fala de Reino de

YWHW, Reino de Deus. Substitui pela expressão “Reino dos Céus”. O evangelho de Marcos, que possivelmente serviu de base

para o texto de Mateus, assim manteve a frase de Jesus: “Cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo, convertei-vos e

crede no Evangelho” (Mc 1,15). O conteúdo da mensagem é o mesmo! Portanto, deve-se evitar a transferência do projeto do

Reino somente para o além, mas contribuir com ele de modo que se torne realidade em nosso meio.

A nós permanece o desafio de percebermos a proximidade do Reino e aderirmos a ele. Que sejamos capazes de, cotidiana-

mente, realizarmos nossa conversão.

Edmilson Schinelo

Em: www.cebi.org.br

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Nesta festa da Sagrada Família, logo depois do Natal, ouvimos esse Evangelho na sua forma resumida, porque ele condensa bem

os temas da celebração de hoje.

Pelo nascimento, Maria deu Jesus ao mundo. Nenhuma mãe da à luz um filho para si, por isso a expressão em português é bonita: “Dar à Luz” - à luz do mundo”, da história, da vida. Neste momento, a criança já não é mais dela. Em toda a tradição, luz sempre indicou coisa de Deus, de tal maneira que a palavra latina dies significa o momento da luz. Quando a mãe gera um filho, o faz como um grande presente par huma-nidade. Cada um de nós pode se considerar como um grande presente de nossas mães para o mundo. Maria, sendo mãe, deu Jesus de presente para todos nós. Passados alguns dias, novamente ela toma o Menino e faz outro gesto, não mais para nós, não para o mundo, mas para o Pai. Ela se separa duas vezes de Jesus. Que tremenda renuncia para uma mãe! Entrega Jesus à humanidade e ao Pai! Quando a missa ainda era em latim, começava com uma frase bonita: “...um Menino nos foi dado!”

Na visão patriarcal, o filho primogênito tinha obrigação de continuar a família, e é esse primogênito que Maria leva ao Templo, sem sequer imaginar que vida teria aquela criança. Quando Maria entregou Jesus ao Pai, ela apenas vislumbrava o significado do seu gesto. No Templo o velho Simeão disse que ela passaria por tribulações, coisa que qualquer velho Simeão poderia dizer a qualquer mãe. Qual mãe não passou ou passará por tribulações por seus filhos? São doenças, noites mal dormidas quando ainda crianças; na adolescência, são noite passadas acompanhando barulho de freadas, de chaves girando nas fechadu-ras, sobressaltos em telefonemas. Assim também foi com Maria.

Jesus foi uma criança original, diferente, e quanto mais original e diferente é o filho mais as mães sofrem. Por isso, Lucas, quando quer resumir as atribulações de Maria em relação a Jesus, coloca uma cena típica: o seu desaparecimento quando da viagem da família a Jerusalém, por ocasião dos seus doze anos. Assim são todas as mães que so-frem tantas vezes procurando os filhos que lhes escapam das mãos, seja porque procu-ram novos caminhos, ou porque desfizeram laços afetivos.

Portanto, família não é essa coisa bonita dos poetas para se declamar na escola pri-mária. É o lugar do sofrimento e da dor, mas também das grandes alegrias. Sempre repi-to esta frase, que para mim, cada vez em maior clareza: a família é o lugar das grandes alegria, mas também é o lugar dos maiores sofrimentos. Assim somos nós e sempre se-remos. Essa é a condição humana, que nunca conseguira equilibrar todas as nossas rela-ções, todas as nossas afetividades e interesses, tudo aquilo que entra no jogo da família.

Maria leva seu Filho para casa, e o Evangelho diz que Ele crescia em estatura, isto é, em saúde, que é o primeiro cuidado da família. Crescia também sem sabedoria, e eu acho graça, pois sabedoria parece coisa própria de velho. Como eu gosto muito de eti-mologia, fui atrás da palavra. Sabedoria vem de sabor e de saber—saber da boca. Sabe-doria é saborear as próprias experiências. Marfa e José ensinaram Jesus a saborear a vida. Como seria bom se os pais ensinassem seus filhos a senti-rem o gosto de uma brincadeira sadia com os coleguinhas, as alegria de brincar, de estudar, de conviver, de partilhar! Nesse aspecto é preciso muito cuidado para cobrir as nossas crianças com sorrisos, para que elas cresçam em sabedoria. Jesus também crescia em graça. Todos nós sabemos que Deus tem paixão pelas crianças. Todos podem condená-las, menos Deus. Javé nunca rejeitou ninguém, muito menos uma criança. Como Jesus, que as nossas crianças cresçam sempre envolvidas pelo amor infinito de Deus.

Nós sempre imaginamos que Jesus, Maria e José vivam num bangalô bonitinho, que Jesus vivia cheirosinho, com cabelos cacheados e desodorante francês, mas estudos modernos nos revelam algo bem diferente. Certamente, vivam em casas modestas de apenas um cômodo, ao lado de outras fa-mílias e parentes próximos. Jesus não terá morado sozinho—o Evangelho cita pelo menos sete nomes de parentes. Pelo contrário, viva rodeado de parentes, como ainda é comum no nosso interior, em meio a conflitos familiares, invejas e disputas. Temos que ter esta compreensão da vida de Jesus bem próxima, para concluirmos que Deus quis entrar no mundo. O Pai não pode vir, porque é infinito. Por isso, mandou-nos o Filho trazendo todos o seu amor de pai, toda a sua grandeza, toda a sua revelação através de seus gestos, sua linguagem, sua maneira de ser e de se comportar. Que esse mistério nos toque e nos converta. Amém.

Padre João Batista Libânio S.J.

Padre José Antonio Pagola

O primeiro escritor que recolheu a atuação e a mensagem de Jesus resumiu-a toda dizendo que Jesus proclamava a “Boa

Nova de Deus”. Mais tarde, os demais evangelistas empregam o mesmo termo grego (euanggelion) e expressam a mesma

convicção: no Deus anunciado por Jesus as pessoas encontravam algo “novo” e “bom”.

Há ainda nesse Evangelho algo que possa ser lido, no meio da nossa sociedade indiferente e descrente, como algo novo e

bom para o homem e a mulher dos nossos dias? Algo que se possa encontrar no Deus anunciado por Jesus e que nos propor-

ciona facilmente a ciência, a técnica ou o progresso? Como é possível viver a fé em Deus nos nossos dias?

No Evangelho de Jesus os crentes, encontramo-nos com um Deus desde que podemos sentir e viver a vida como uma oferenda que tem a sua

origem no mistério último da realidade que é Amor. Para mim é bom sentir-nos sós e perdidos na existência, nem em mãos do destino ou do azar.

Tenho Alguém a quem posso agradecer a vida.

No Evangelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que, apesar das nossas ignorâncias, nos dá força para defender a nossa liberdade sem

terminar escravos de qualquer ídolo; para não viver sempre a meias nem ser uns “vivedores”; para ir aprendendo formas novas e mais humanas

de trabalhar e de disfrutar, de sofrer e de amar. Para mim é bom poder contar com a força da minha pequena fé nesse Deus.

No Evangelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que desperta a nossa responsabilidade para nos desentendermos dos outros. Não po-

deremos fazer grandes coisas, mas sabemos que temos de contribuir para uma vida mais digna e mais ditosa para todos pensando sobre tudo nos

mais necessitados e indefesos. Para mim é bom acreditar num Deus que me pregunta com frequência que faço pelos meus irmãos.

No Evangelho de Jesus encontramo-nos com um Deus que nos ajuda a entrever que o mal, a injustiça e a morte não têm a última palavra. Um

dia tudo o que aqui não pôde ser, o que ficou a meias, os nossos anseios maiores e os nossos desejos mais íntimos alcançarão em Deus a sua

plenitude. A mim faz-me bem viver e esperar a minha morte com esta confiança.

Certamente, cada um de nós tem de decidir como quer viver e como quer morrer. Cada um tem de escutar a sua própria verdade. Para mim

não é o mesmo acreditar em Deus que não acreditar. A mim faz-me bem poder fazer o meu percurso por este mundo sentindo-me acolhido,

fortalecido, perdoado e salvo pelo Deus revelado em Jesus.

Em: www.eclesalia.wordpress.com

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Ao Professor Klaus Schwab

Presidente executivo do World Economic Forum

Agradeço imensamente o seu gentil convite para me dirigir ao encontro anual do World

Economic Forum, que, como de costume, se realizará em Davos-Klosters no final do cor-

rente mês. Confiando que o encontro será ocasião para uma reflexão mais profunda sobre

as causas da crise económica que atingiu todo o mundo nos últimos anos, gostaria de ofe-

recer algumas considerações na esperança de que possam enriquecer os debates do Fó-

rum e fornecer um contributo útil para o seu importante trabalho.

O nosso tempo é caracterizado por mudanças notáveis e progressos significativos em

diversos âmbitos, com consequências importantes para a vida dos homens. Com efeito,

«devem ser louvados os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exem-

plo no âmbito da saúde, da educação e da comunicação» (Evangelii gaudium, 52), assim como em muitos outros contextos da ação hu-

mana, e é preciso reconhecer o papel fundamental que a classe empresarial moderna desempenhou em tais mudanças epocais, esti-

mulando e desenvolvendo os enormes recursos da inteligência humana. Contudo, os sucessos alcançados, apesar de terem reduzido a

pobreza para um grande número de pessoas, com frequência levam também a uma difundida exclusão social. De facto, a maior parte

dos homens e mulheres do nosso tempo ainda continua a viver uma precariedade diária, com consequências muitas vezes dramáticas.

Nesta sede, desejo evocar a importância que têm as diversas instâncias políticas e económicas na promoção de uma abordagem in-

clusiva, que tenha em consideração a dignidade de cada pessoa humana e o bem comum. Trata-se de uma preocupação que deveria

caracterizar todas as escolhas políticas e económicas, mas às vezes parece só um acréscimo para completar o discurso. Quantos têm

incumbências nesses âmbitos possuem uma responsabilidade específica em relação aos outros, particularmente aqueles que são mais

frágeis, débeis e indefesos. Não podemos tolerar que milhares de pessoas morram de fome todos os dias, embora haja disponíveis

quantidades enormes de alimentos, que muitas vezes simplesmente são desperdiçados. Ao mesmo tempo, não podemos ficar

indiferentes diante dos numerosos prófugos em busca de condições de vida minimamente dignas, que além de não receber aco-

lhimento, muitas vezes encontram a morte em viagens desumanas. Estou convicto de que estas palavras são fortes, até dramáti-

cas, contudo elas pretendem acentuar, mas também desafiar, a capacidade que essa assembleia tem de influir. Com efeito, aqueles que

com o próprio empenho e habilidade profissional, foram capazes de criar inovação e favorecer o bem-estar de muitas pessoas, podem

oferecer um ulterior contributo, pondo a própria competência ao serviço de quantos ainda vivem na indigência.

Portanto, é preciso um renovado, profundo e amplo sentido de responsabilidade por parte de todos. «A vocação de um empresário —

de facto — é um trabalho nobre, se se deixa interrogar por um significado mais amplo da vida» (Evangelii gaudium, 203). Isto permite

que muitos homens e mulheres sirvam com mais eficácia o bem comum e tornem os bens deste mundo mais acessíveis a todos. Toda-

via, o crescimento na igualdade exige algo mais do que o crescimento económico, embora o pressuponha. Antes de tudo, requer «uma

visão transcendente da pessoa» (Bento XVI, Caritas in veritate, 11), porque «sem a perspectiva de uma vida eterna, o progresso humano

neste mundo permanece sem respiro» (ibid.). Por outro lado, requer decisões, mecanismos e processos que visem uma distribuição

mais equilibrada das riquezas, a criação de oportunidades de trabalho e uma promoção integral dos pobres que não seja mero assis-

tencialismo.

Estou convicto de que a partir de tal abertura à transcendência poderia formar-se uma nova mentalidade política e empresarial, ca-

paz de guiar todas as ações económicas e financeiras na óptica de uma ética verdadeiramente humana. A comunidade empresarial in-

ternacional pode contar com muitos homens e mulheres de grande honestidade e integridade pessoal, cujo trabalho é inspirado e guia-

do por elevados ideais de justiça, generosidade e solicitude pelo autêntico desenvolvimento da família humana. Por conseguinte, exorto

-vos a haurir destes grandes recursos morais e humanos, e a enfrentar este desafio com determinação e clarividência. Sem ignorar, na-

turalmente, a especificidade científica e profissional de cada contexto, peço-vos que façais de modo que a riqueza esteja ao serviço da

humanidade e não a governe.

Senhor Presidente, queridos amigos!

Confiando que nestas minhas breves palavras possais encontrar um sinal de solicitude pastoral e um contributo construtivo a fim

de que as vossas atividades sejam cada vez mais nobres e fecundas, desejo renovar os meus votos pelo feliz êxito do encontro, enquan-

to invoco a bênção divina sobre Vossa Excelência, sobre os participantes no Fórum, e também sobre as vossas famílias e atividades.

Vaticano - Janeiro de 2014

Na vida há situações tão sedutoras que até perdemos a noção do tempo, como aconteceu outrora com aquele povo que escuta-

va Jesus... Caminharam com rapidez, escutaram com interesse e nem perceberam que as horas tinham passado... O que fazer?

Despedi-los é a situação mais fácil e descomprometida: Virem-se e que cada um cuide de si!

Jesus surpreende os discípulos com outra demanda: Quantos pães tendes?... O que vocês têm pa-

ra partilhar?... As perguntas de Jesus são diretas e mexem com o coração, pois provavelmente te-

mos muito mais do que gostaríamos de partilhar. Mas, só assim o nosso individualismo se quebra

e seremos mais humanos e melhores cristãos. A partilha humaniza e cristianiza.

Jesus nos pede compartilhar o que somos e temos. Muito? Pouco? O que você puder fazer,

faça-o com alegria! E assim foi! Todos compartilharam o pouco que tinham e ficaram saciados e

felizes. Quantos pães tendes? Numa sociedade consumista como a nossa o convite está feito.

Quem compartilhar o que é e tem será muito mais feliz. Eu tenho sentido isso algumas vezes e

visto muito mais! Sem partilha não há realização.

Uma pergunta: Você é feliz

(Mc 6,38)

Pe. J. Ramón F. de la Cigoña, SJ

Em: www.arquidiocesebh.org.br

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Em: www.arquidiocesebh.org.br

Os extremos fascinam. Olhamos para as mais altas montanhas dos Andes e dos Alpes, e como gostaría-

mos estar lá em cima e contemplar as maravilhas cá em baixo. O fundo do mar exerce semelhante atração.

Andaríamos felizes no meio a belezas nunca vistas. Mas eles encerram enormes riscos, daí que a prudência

não nos aconselha ir até o fim. Pelo contrário, muitos terminam em desastre total. Por isso, os antigos nos deixaram a sabedoria

do dito: in medio stat virtus – no meio está a virtude.

Oscilamos, no tempo presente, entre os extremos do individualismo e do corporativismo. O primeiro põe o indivíduo no centro

e faz tudo girar em torno dele. Vale distinguir individuo de pessoa. Esta diz abertura e relação ao outro. Estou aqui aberto a você!

Indivíduo, pelo contrário, acentua a si próprio e a diferença em

relação ao outro. “Não sou você”.

O corporativismo salta para o lado oposto. Não existo. Sou o

grupo. Anulo-me no corpo a que me integro. Perco a minha

identidade na ideologia, no interesse, no programa da corpora-

ção, qualquer que ela seja. Como os extremos, sob certo senti-

do, se encontram, o corporativismo se aproxima do individua-

lismo do grupo. Existe ele e não se interessa pelos outros. An-

tes, considera-os, com frequência, em adversário a ser vencido.

Haja vista as concorrências corporativistas.

Jesus vai em outra direção. Nem individualismo, nem cor-

porativismo, mas comunidade. Onde está a diferença? Na co-

munidade, cada um permanece na sua identidade, liberdade e

consciência. Assim se distancia do corporativismo. Por outro

lado, entende a liberdade como relação com outra liberdade.

Tanto mais livres somos quanto mais nos pomos em comu-

nhão, contato, convivência com outras liberdades. Elas se enri-

quecem mutuamente.

Liberdade solitária na Ilha de Robinson Crusoé não se realiza. A lenda (ou fato) das duas crianças educadas por lobas – Amala

e Kamala – que mantiveram hábitos animais de andar de quatro, de ter melhor visão de noite, de uivar para a lua e careciam de

gestos humanos mínimos como andar sobre os dois pés, sorrir, falar, tipo de alimentação. Em todo caso, a criança se socializa no

meio em que vive e aí aprende hábitos humanos. Quando a socialização se faz em meios perversos, violentos, sem relações huma-

nas, preparamos monstros. A pedagogia de Jesus centra-se no amor, no reconhecimento do outro na sua diferença e originalida-

de. A acolhida terna, generosa e festiva do pai que recebe o filho que o abandonou e gastou-lhe a herança recebida traduz o cora-

ção da pedagogia de Jesus: misericórdia, bondade, perdão, alegria pela vida e regeneração do outro. Diferente do irmão que não

quis participar da festa. O amor vence o individualismo porque nos leva a sair de nós mesmos. Supera o corporativismo porque

não entende a reunião das pessoas como corpo compacto e preparado para combater e vencer outros grupos, mas convivência co-

munitária aberta a todo que quer associar-se. Os cristãos da comunidade primitiva aprenderam muito bem de modo que os pa-

gãos se diziam mutuamente: vejam como eles se amam!

Padre João Batista Libânio S.J.

OLHAR do TEÓLOGO

A sacralização dos homens

da Igreja sempre foi mais prejudicial do

que benéfica. Recordo que quando eu era

criança, jogando futebol no pátio do colé-

gio, a batina de um dos irmãos de La Sal-

le, que participava do jogo, levantou-se e suas calças foram vistas. Um garoto gritou: “Ah vá, veja, existe um homem por baixo!”.

Aquela frase me fez refletir, porque quase acreditávamos que por baixo os padres eram sólidos como as imagens do presépio. Com a proliferação de no-

tícias sobre fragilidades de homens e mulheres da Igreja, não acredito que essa sacralização, hoje, tenha muito êxi-

to.

Embora existam coletivos que parecem querer ressuscitá-la com um absurdo retorno ao padre distanciado,

protegido por seu papel, com o ouro dos ornamentos e sua batina, mais próximo a um guru da tribo do que a um ir-

mão, um membro da comunidade que os reúne diante do Senhor.

Certamente, não é essa a atitude do papa Francisco. Desde o primeiro momento, esforçou-se em falar a lingua-

gem da rua, evitar excesso de vestimentas e proteções de todo tipo, demonstrando-se um homem normal, que sorri,

cansa-se e se emociona.

Por exemplo, o papa Francisco acaba de afirmar ter “sofrimentos” como um “homem qualquer”, com uma vida

com “coisas boas como ruins”.

Disse isso durante um encontro privado, mantido nesse fim de semana, em Roma, com cem refugiados

na Paróquia salesiana do Sagrado Coração de Jesus. Uma afirmação que despontou nos meios de comunicação

italianos.

“Cada um de nós tem a sua própria história. Quando eu penso na minha, vejo muitas coisas boas e muitas coisas

ruins”, comentou no domingo, Dia Internacional do Migrante. Na igreja, o papa Bergoglio confessou para cinco pes-

soas, entre elas um refugiado e um mendigo que estavam entre os mais de cem com os quais manteve um encontro

privado, em uma sala de oração junto à basílica. Francisco incentivou essas pessoas a “compartilhar as coisas bo-

as” quando se encontrarem “em família” e a contar, além disso, como estão superando as coisas ruins.

“Compartilhem também a fé que receberam de seus pais, que sempre os ajudará a seguir adiante. Aqueles que são

cristãos, com a Bíblia, e os que são muçulmanos, com o Alcorão”, disse. Francisco finalizou a visita aos refugiados

agradecendo-lhes a acolhida, após afirmar que entre eles se sentiu “como em casa”. “Posso fazer visitas educadas e de protocolo, mas não há esse calor”,

disse aos refugiados.

Que maravilha ouvir da boca de um papa que ele sofre, que em sua vida, como na de qualquer homem da rua, há de tudo, coisa boa, ruim e regular!

Suponho que aqueles que querem enganar a si mesmos, fixando-se na mistificação, pensem que isso desvaloriza a figura do papa, como se o externo fos-

se mais importante que a atitude interior. Inclusive, para alguns o aparecer como ser humano resulta em algo “fajuto”, que tira a magnificência e a dignidade

do pontífice de Roma, como se a parafernália estivesse mais perto do evangelho do que a humildade. No fundo, continuarão preferindo o papa-rei em detri-

mento daquele que se parece com Jesus de Nazaré, que pisa a poeira da estrada e que se identifica com os pobres e pequenos das bem-aventuranças.

Pedro Miguel Lamet

PARA R E F L E T I R...

Em: www.ihu.unisinos.br

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O fenômeno dos centenas de rolezinhos que ocuparam shoppings centers no Rio e em São Paulo suscitou as

mais disparatadas interpretações. Algumas, dos acólitos da sociedade neoliberal do consumo que identificam cidada-

nia com capacidade de consumir, geralmente nos jornalões da mídia comercial, nem merecem consideração. São de

uma indigência analítica de fazer vergonha.

Mas houve outras análises que foram ao cerne da questão como a do jornalista Mauro Santayana do JB on-line e as de três especialistas que

avaliaram a irrupção dos rolês na visibilidade pública e o elemento explosivo que contém. Refiro-me à Valquíria Padilha, professora de sociologia

na USP de Ribeirão Preto: ”Shopping Center: a catedral das mercadorias” (Boitempo 2006), ao sociólogo da Universidade Federal de Juiz de Fora,

Jessé Souza,”Ralé brasileira: quem é e como vive (UFMG 2009) e de Rosa Pinheiro Machado, cientista social com um artigo "Etnografia do Role-

zinho” no Zero Hora de 18/1/2014. Os três deram entrevistas esclarecedoras.

Eu por minha parte interpreto da seguinte forma tal irrupção:

Em primeiro lugar, são jovens pobres, das grandes periferias, sem espaços de lazer e de cultura, penalizados por serviços públicos ausentes

ou muito ruins como saúde, escola, infraestrutura sanitária, transporte, lazer e segurança. Veem televisão cujas propagandas os seduzem para

um consumo que nunca vão poder realizar. E sabem manejar computadores e entrar nas redes sociais para articular encontros. Seria ridículo exi-

gir deles que teoricamente tematizem sua insatisfação. Mas sentem na pele o quanto nossa sociedade é malvada porque exclui, despreza e man-

tém os filhos e filhas da pobreza na invisibilidade forçada. O que se esconde por trás de sua irrupção? O fato de não serem incluídos no contrato

social. Não adianta termos uma “constituição cidadã” que neste aspecto é apenas retórica, pois implementou muito pouco do que prometeu em

vista da inclusão social. Eles es-

tão fora, não contam, nem se-

quer servem de carvão para o

consumo de nossa fábrica social

(Darcy Ribeiro). Estar incluído no

contrato social significa ver ga-

rantidos os serviços básicos: sa-

úde, educação, moradia, trans-

porte, cultura, lazer e segurança.

Quase nada disso funciona nas

periferias. O que eles estão di-

zendo com suas penetrações nos

bunkers do consumo? “Oia nóis

na fita”; “nóis não tamo parado”;

”nóis tamo aqui para zo-

ar” (incomodar). Eles estão com

seu comportamento rompendo

as barreiras do apartheid social.

É uma denúncia de um país altamente injusto (eticamente), dos mais desiguais do mundo (socialmente), organizado sobre um grave pecado so-

cial pois contradiz o projeto de Deus (teologicamente). Nossa sociedade é conservadora e nossas elites altamente insensíveis à paixão de seus

semelhantes e por isso cínicas. Continuamos uma Belíndia: uma Bélgica rica dentro de uma Índia pobre. Tudo isso os rolezinhos denun-

ciam, por atos e menos por palavras.

Em segundo lugar, eles denunciam a nossa maior chaga: a desigualdade social cujo verdadeiro nome é injustiça histórica e social. Releva,

no entanto, constatar que com as políticas sociais do governo do PT a desigualdade diminuiu, pois segundo o IPEA os 10% mais pobres tiveram

entre 2001-2011 um crescimento de renda acumulado de 91,2% enquanto a parte mais rica cresceu 16,6%. Mas esta diferença não atingiu a ra-

iz do problema pois o que supera a desigualdade é uma infraestrutura social de saúde, escola, transporte, cultura e lazer que funcione e acessí-

vel a todos. Não é suficiente transferir renda; tem que criar oportunidades e oferecer serviços, coisa que não foi o foco principal no Ministério de

Desenvolvimento Social. O “Atlas da Exclusão Social” de Márcio Poschmann (Cortez 2004) nos mostra que há cerca de 60 milhões de famí-

lias, das quais cinco mil famílias extensas detém 45% da rique-

za nacional. Democracia sem igualdade, que é seu pressu-

posto, é farsa e retórica. Os rolezinhos denunciam essa

contradição.

Eles entram no “paraíso das mercadorias” vis-

tas virtualmente na TV para vê-las realmente e senti-las nas

mãos. Eis o sacrilégio insuportável pelos donos do shoppings.

Eles não sabem dialogar, chamam logo a polícia para bater e

fecham as portas a esses bárbaros. Sim, bem o viu T. Todorov

em seu livro “Os novos bárbaros”: os marginalizados do mundo

inteiro estão saindo da margem e indo rumo ao centro para sus-

citar a má consciência dos “consumidores felizes” e lhes dizer:

esta ordem é ordem na desordem. Ela os faz frustrados e infeli-

zes, tomados de medo, medo dos próprios semelhantes que so-

mos nós.

Por fim, os rolezinhos não querem apenas consumir. Não

são animaizinhos famintos. Eles tem fome sim, mas fome de reconhecimento, de acolhida na sociedade, de lazer, de cultura e de mostrar o que

sabem: cantar, dançar, criar poemas críticos, celebrar a convivência humana. E querem trabalhar para ganhar sua vida. Tudo isso lhes é nega-

do, porque, por serem pobres, negros, mestiços sem olhos azuis e cabelos loiros, são desprezados e mantidos longe, na mar-

gem.

Esse tipo de sociedade pode ser chamada ainda de humana e civilizada? Ou é uma forma travestida de barbárie? Esta última lhe convém

mais. Os rolezinhos mexeram numa pedra que começou a rolar. Só parará se houver mudanças.

PARA R E F L E T I R . . .

Em: www.leonardoboff.wordpress.com

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Campanha da Fraternidade de 2014 “É para a Liberdade que Cristo nos Libertou”(Gl 5,1) Tema:

Frei João Xerri - OP - Ordem Dominicana Assessor:

Evangelho de Mateus: Como Mateus utiliza a pregação de Jesus num ambiente rural para atingir o povo na grande cidade.

Tema:

Professora Ana Flora Anderson - Biblista, leciona em várias faculdades de Teologia. Assessora:

Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”: Sua importância e significado para a Igreja e o mundo de hoje.

Tema:

Padre Júlio Lancellotti - Vigário Episcopal do Povo de Rua. Paróquia São Miguel Arcanjo. Assessor:

O Sínodo das Famílias A participação das Comunidades. O que isso representa para a Igreja?

Tema:

Padre Antonio Manzatto - Professor de Teologia da PUC-SP Assessor:

MISSA DE ENCERRAMENTO

Celebração da Santa Missa pelos Padres do Setor Pastoral

Ermelino Matarazzo

Todas as Paróquias e Comunidades do Setor estarão presentes.

Rua Miguel Rachid, 997 - Ermelino Matarazzo - São Paulo - SP - Fone: 2546-4254

Paróquia São Francisco de Assis - 2546-4254

Messias - [email protected] - 99263-0776 - Waldir - [email protected] - 97655-0829

Deise - [email protected] - 98868-2884 - Maurinho - [email protected] - 97265-4085

I N F O R M A Ç Õ E S

ENTRADA FRANCA - SERÃO FORNECIDOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO

Papa Francisco

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PADRES - RELIGIOSOS - RELIGIOSAS - AGENTES DE PASTORAL

As reuniões entre os padres, religiosos, religiosas e Agentes de Pastoral serão realizadas sempre na última Sexta-Feira dos meses

pares. A próxima será realizada no dia

21 de Fevereiro de 2014

As reuniões serão realizadas sempre às 9h30 no CIFA

Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Itaquera - Rua Flores do Piauí, 182 - Centro de Itaquera

COORDENAÇÃO AMPLIADA

Os membros da Coordenação Ampliada do IPDM realizarão suas reuniões bimestrais sempre nas 3ªs Terças-Feiras dos meses impares.

A próxima será realizada no dia

18 de Março de 2014

As reuniões são realizadas sempre às 20h00 na Paróquia São Francisco de Assis da Vila Guilhermina

Praça Porto Ferreira, 48 - Próximo ao Metro Guilhermina - Esperança

Os endereços eletrônicos abaixo indicados contêm riquíssimo material para estudos e pesquisas.

Por certo, poderão contribuir muito para o aprendizado de todos nos mais diversos seguimentos.

www.adital.org.br - Esta página oferece artigos/opiniões sobre movimentos sociais, política, igrejas e religiões, mulheres, direitos huma-

nos dentre outros. O site oferece ainda uma edição diária especial voltada aos jovens. Ao se cadastrar você passa a receber as duas versões

diárias.

www.amaivos.com.br - Um dos maiores portais com temas relacionados à cultura, religião e sociedade da internet na América Latina,

em conteúdos, audiência e serviços on-line.

www.cebi.org.br - Centro de estudos bíblicos, ecumênico voltado para a área de formação abrangendo diversos seguimentos tais como:

estudo bíblico, gênero, espiritualidade, cidadania, ecologia, intercâmbio e educação popular.

www.cnbb.org.br - Página oficial da CNBB disponibiliza notícias da Igreja no Brasil, além de documentos da Igreja e da própria Conferên-

cia.

www.ihu.unisinos.br - Mantido pelo Instituto Humanitas Unisinos o site aborda cinco grandes eixos orientadores de sua reflexão e ação,

os quais constituem-se em referenciais inter e retro relacionados, capazes de facilitar a elaboração de atividades transdisciplinares: Ética, Tra-

balho, Sociedade Sustentável, Mulheres: sujeito sociocultural, e Teologia Pública.

www.jblibanio.com.br - Página oficial do Padre João Batista Libânio com todo material produzido por ele.

www.mundomissao.com.br - Mantida pelo PIME aborda, sobretudo, questões relacionadas às missões em todo o mundo.

www.religiondigital.com - Site espanhol abordando questões da Igreja em todo o mundo, além de tratar de questões sobre educação,

religiosidade e formação humana.

www.cartamaior.com.br - Site com conteúdo amplo sobre arte e cultura, economia, política, internacional, movimentos sociais, educação

e direitos humanos dentre outros.

www.nossasaopaulo.org.br - Página oficial da Rede Nossa São Paulo. Aborda questões de grande importância nas esferas político-

administrativas dos municípios com destaque à cidade de São Paulo.

www.pastoralfp.com - Página oficial da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo. Pagina atualíssima, mantém informações

diárias sobre as movimentações políticas-sociais em São Paulo e no Brasil.

www.vidapastoralfp.com - Disponibilizado ao público pela Paulus editora o site da revista Vida Pastoral torna acessível um vasto acervo

de artigos da revista classificados por áreas temáticas. Excelente fonte de pesquisa.

www.paulus.com.br – A Paulus disponibiliza a Bíblia Sagrada edição Pastoral online/pdf.

www.consciencia.net— Acervo Paulo Freire completo disponível neste endereço.

www.news.va/pt - Pronunciamentos do Papa Francisco diretamente do Vaticano.

Ajude-nos a enriquecer nossa relação de endereços. Envie-nos suas sugestões de páginas que possam

contribuir como nossos estudos e crescimento. Teremos prazer em publicar em nossa relação.