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A MORTE NÃO É O FIM

A morte não é o fim - 14.10.11 · Os passageiros davam gritos de alegria quando Joel fazia ma-nobras arriscadas ou ultrapassagens na avenida em alta velocidade. – Vamos,

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A morte não é o fim

Assis Azevedo

espírito: João mAriA

“perdA” de pessoAs AmAdAs

A morte não é o fim

3ª edição20.001 a 25.000 exemplares

Dezembro/2011

Capa: Rogério MotaPlanejamento gráfico: Equipe “O Clarim”

(Propriedade do Centro Espírita O Clarim). Fone: (0xx16) 3382-1066 – Fax: (0xx16) 3382-1647C.G.C. 52313780/0001-23 – Inscr. Est. 441002767116Rua Rui Barbosa, 1070 – Cx. Postal, 09CEP 15990-903 – Matão, SPhttp://[email protected]

A morte não é o fim“perdA” de pessoAs AmAdAs

Dados para catalogação na editora

133.91 Azevedo, Assis (médium psicógrafo)João Maria (espírito) A morte não é o fim1ª edição: Maio/2006 – 10.000 exemplares Matão/SP: Casa Editora “O Clarim”360 páginas – 14 x 21 cm

ISBN – 85-7357-075-X CDD – 133.9

Índice para catálogo sistemático:

133.9 Espiritismo133.901 Filosofia e Teoria133.91 Mediunidade133.92 Fenômenos Físicos133.93 Fenômenos Psíquicos

Impresso no BrasilPresita en Brazilo

AgrAdecimentos

Agradecemos pela valiosa colaboração que nos permitiu a edição desta obra:

Revisão: Hiêda Rodrigues da Silva

E aos nossos funcionários.

Casa Editora O Clarim– Maio de 2006 –

índice

CAPÍTULO ICAPÍTULO IICAPÍTULO IIICAPÍTULO IVCAPÍTULO VCAPÍTULO VICAPÍTULO VIICAPÍTULO VIIICAPÍTULO IXCAPÍTULO XCAPÍTULO XICAPÍTULO XIICAPÍTULO XIIICAPÍTULO XIVCAPÍTULO XVCAPÍTULO XVICAPÍTULO XVIICAPÍTULO XVIIICAPÍTULO XIXCAPÍTULO XXCAPÍTULO XXI

CAPÍTULO XXIICAPÍTULO XXIII

O PASSEIO .................................................... 11O DESESPERO ............................................. 25IMORTALIDADE DO ESPÍRITO ................ 39VIDA APÓS VIDA ........................................ 53COLÔNIA ESPIRITUAL LUZ ETERNA ..... 67SOCORRO ESPIRITUAL ............................. 81EMERGÊNCIA.............................................. 95UNIDOS PELA DOR ...................................111O DESPERTAR ............................................127O RESGATE DE ROBERTO .......................141O V ANEXO .................................................155UM CASO PARA ESTUDO .........................169A TRANSFERÊNCIA ..................................185A VOLTA DE ALBERTINHO ......................201RECORDAÇÕES .........................................223INTUIÇÃO DE MULHER ...........................237TOMAZ E JOEL ...........................................251LUTANDO POR UMA EXISTÊNCIA ........265LÍGIA ............................................................279ROBERTO, PAULINHO E JOEL ................293ELUCIDAÇÕES SOBRE A REENCARNAÇÃO ..................................309O SONHO .....................................................323NOVAS EXISTÊNCIAS ..............................339

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cAPítULo io PAsseio

O carro rodava em alta velocidade, atravessando as ruas da grande cidade, passando em sinais fechados, ziguezagueando entre os demais carros que trafegavam àquela hora, fazendo ultrapas-sagens arriscadas e proibidas. O carro, tipo caminhonete, último modelo, sempre pedia mais e mais aceleração, pois seu motor era muito potente.

O motorista era um rapaz magro, moreno, cabelos desgrenhados, altura mediana, com óculos escuros, vestido com uma bermuda de surfista e uma camiseta que deixava à vista várias tatuagens nos braços, pernas, costa e peito. Ele carregava no lado esquerdo da boca um cigarro.

Os passageiros davam gritos de alegria quando Joel fazia ma-nobras arriscadas ou ultrapassagens na avenida em alta velocidade.

– Vamos, colega, bota essa geringonça para andar! – gritava um.– Não posso acreditar que o grande Joel está perdendo suas

qualidades de grande motorista – provocava outro.– Passa essa garrafa para cá, cara – pedia outro.– Calma, amigo! Deixe-me tomar a minha, enquanto ainda

tem – dizia outro.Os passageiros da caminhonete compunha-se de quatros jovens,

três rapazes com idade variando entre os dezessete e vinte anos, e uma bela moça, morena, alta, com dezoito anos, namorada de Joel.

– Vamos mais rápido, Joel! As meninas só vão esperar até às dez horas!

– Calma, Rosa Maria! Ainda está cedo – respondeu o namorado.

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Roberto, um rapaz nu da cintura para cima, branco, de cabelos, compridos, cheio de tatuagens, com algumas correntes de prata e ouro no pescoço, levou uma garrafa à boca e tomou um gole da bebida. Rindo, pediu ao amigo:

– Passa para cá esse negócio! Vou dar um “tapa”, para ficar mais esperto!

– Cuidado, Roberto, para não apagar logo. Ainda temos três dias pela frente – chamou a atenção, um amigo de feições simpáticas, de cor branca, altura média e corpo “sarado”, como se referem os jovens à nova moda de cultuar o corpo.

– Não se preocupe, Albertinho. Sou duro na queda. Albertinho, com dezessete anos, era o mais educado, e, embora,

estivesse meio eufórico por causa da bebida que já ingerira, ainda mantinha-se controlado.

O carro enveredou por umas ruas estreitas e desembocou no-vamente numa bela avenida, chegando a desenvolver quase cento e oitenta quilômetros por hora.

– Vá mais devagar, Joel! Já estamos chegando na casa das meninas – pediu Rosa Maria.

– Deixa comigo, amor.De repente o rapaz fez uma curva fechada e entrou numa ala-

meda, estacionando em frente a uma bela mansão.Joel pulou do carro, correu para as duas moças que estavam de

pé, cumprimentou-as e perguntou:– Vocês estão prontas?– Vocês é que estão atrasados! – disse uma delas.As moças tinham entre quinze e dezessete anos, ambas loiras,

bonitas e apresentando aspectos alegres, próprios dos jovens.Rosa abraçou as amigas e depois disse:– Entrem logo no carro! Temos que viajar umas duas horas para

chegarmos na casa de praia.– Diana vai se sentar ao meu lado – disse Albertinho, referindo-se

à sua mais nova namorada.

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Roberto, que estava sempre rindo, olhou para a outra moça e disse:– Bem, Clarice, só lhe resta ir ao meu lado.– Ainda bem, cara, que me restou o lugar que eu estava desejando.

Roberto riu e disse:– Então, entre! Vamos, Joel, bota essa carroça para andar!Após colocarem no porta-malas do carro as bagagens, Joel

acelerou o carro e partiu em direção à rodovia que os levariam à praia, que ficava a cento e cinqüenta quilômetros dali.

O carro deslizava no asfalto, sempre ultrapassando os veículos que trafegavam naquela perigosa rodovia estadual a uma veloci-dade alucinante.

Os passageiros começaram a cantar e a falar alto. Já haviam bebido muito e o barulho do carro e do vento fazia com que eles aumentassem as vozes para se fazerem ouvir.

– Cuidado, Joel, vá mais devagar – pediu Rosa Maria.– Deixe comigo! Quem está comigo, está com Deus!– É isso aí, Joel! Bota essa carroça para voar! – disse, às gar-

galhadas, Roberto.Após uma hora e alguns minutos, o carro entrou numa pequena

cidade ensolarada do litoral, onde podia se observar vários carros chegando para passar o feriadão. Joel dirigiu mais um pouco e entrou na garagem de um casarão típico de praia. Saiu do carro e gritou: – Pessoal, vamos descer e aproveitar a vida!

Rosa Maria também gritou:– Coloquem a bagagem para dentro e vamos dividir as tarefas!Albertinho fitou a moça e disse:– É isso aí, irmã! Bote moral na galera!– Tome cuidado com sua vida, Albertinho – alertou Rosa Maria.Joel abraçou a moça e disse:– A Rosa precisa tomar alguma coisa forte para deixar essa

seriedade.– Você sabe muito bem que não bebo e nem uso nada que em-

bote os meus sentidos.

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Roberto começou a rir alto, enquanto abraçava e beijava Clarice. Ele falou brincando:

– Vamos respeitar minha irmãzinha! Quase que ela não aceita vir com a gente.

Rosa Maria era irmã de Roberto, ambos filhos de um casal de médicos famosos.

– Ela só veio, porque a mamãe insistiu muito – falou o irmão.Joel, que estava meio tonto de beber a todo instante, disse:– Não sei que graça tem aquela religião para enfeitiçar tanto a Rosa.– Joel, vamos fazer alguma coisa para almoçarmos e deixe de

falar daquilo que você desconhece, certo?– Ok.Após arrumarem de qualquer jeito a bagagem na casa, alguns

correram para o mar.Rosa Maria ficou limpando a cozinha e tentando fazer alguma

coisa para comerem. Após algumas horas, a turma voltou gritando e rindo, uns já

bêbados e outros “chapados”, tendo estes usado algum tipo de entorpecente.

Roberto começou a cantar e a tocar seu violão, sendo acompa-nhado pelos demais.

Joel quase não se agüentava em pé e ria por qualquer motivo. Ele chegou perto de Rosa e beijou-a, tentando fazer uma carícia mais ousada, sendo imediatamente impedido por ela.

– Não, Joel! Você sabe muito bem que não sou disso!– Acho que vou procurar outra menina para “ficar”! Você é

metida à santa!– Quando você estiver bom, vamos conversar.– Deixa, cara! Você sabe muito bem que ela é espírita e não

aceita certas coisas – disse Albertinho.Joel era filho de pais separados. O pai era empresário e quase

não o via. Sua mãe era psicóloga e, no momento, estava namorando outro homem que ele não gostava.

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Roberto continuava cantando, acompanhado pelas garotas, Diana e Clarice.

Albertinho estava fumando um “baseado”. Quando olhou para o lado viu Rosa observando-o.

Rosa pediu carinhosamente ao rapaz:– Meu amigo, não faça isso. Fico triste quando o vejo nesse

estado, pois sei que você tem um coração muito bom.– Cara, não sei mais o que fazer desta vida.– Aquela garota não lhe merece – e fez um gesto com o queixo

em direção à Diana.– Você é muito pura, Rosinha. Acho que não mereço ser seu amigo.– Levante-se e venha comer alguma coisa.– Depois...Rosa Maria começou a chorar. Ela amava aquele rapaz e não

gostava de vê-lo naquela situação. Ela só namorava o Joel, porque sabia que o Albertinho era apaixonado pela bela Diana.

Roberto, alegre e meio bêbado, chamou a irmã:– Rosa, venha aqui!A irmã aproximou-se e perguntou:– O que houve, Roberto?– Tome pelo menos um pouco de vinho para descontrair.– Obrigado, meu irmão. A alegria não está fora e, sim, dentro

de nós. Estou muito bem assim. Mas não tenho nada contra vocês, divirtam-se e não liguem para mim.

Roberto começou a rir.A irmã dele foi para dentro de casa, pegou um livro e leu um

trecho do que estava escrito, pensando: “Meu Deus, perdoe meus amigos! Eles são pessoas inocentes e boas”. Neste momento ela ouviu alguém falar ao seu íntimo:

– Minha irmãzinha, prepare-se! Chegou a hora!Rosa ficou pensativa: “O que é isso? Será que estou sendo avi-

sada de alguma coisa?”. De repente ela ficou muito triste, porém, sacudiu a cabeça e disse em voz alta:

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– Estou pensando besteira! Por isso é que o seu Antônio João, presidente do meu centro, diz que devemos tomar muito cuidado com determinadas manifestações mediúnicas.

Rosa Maria era espírita e pertencia à mocidade do Centro Espí-rita que freqüentava. Além de ser uma evangelizadora, era médium e sempre foi uma excelente trabalhadora, sendo amiga e simpática com todo mundo que a conhecia.

Os pais dela adoravam-na e sonhavam com o dia que ela se formaria em Medicina, pois Rosa havia passado no vestibular naquele ano e por isso eles fizeram questão que ela se divertisse um pouco naquele feriado.

– Está ficando maluca, mana?Rosa voltou-se e viu Roberto com os olhos vermelhos, falando

com dificuldade. Ela abraçou o irmão, beijou-lhe a face e disse:– Roberto, tome cuidado. Estou muito angustiada, acho que

prevendo alguma coisa ruim.– Bobagem, minha irmã!Ambos ficaram calados. Roberto sentou-se numa cadeira,

colocou a cabeça entre as mãos e começou a chorar.Rosa ficou aflita e com pena dele. Ela aproximou-se e começou

a abraçá-lo, perguntando:– O que houve, meu irmão?– Será que o papai gosta de mim?– Claro que gosta, Roberto! Como você pode pensar isso do

nosso pai?– Eu amo meu pai, mas ele nunca me deu atenção. – Deixe de bobagem! O papai é um homem muito ocupado,

talvez apenas lhe falte tempo para conversar.– Rosa, então por que ele vive conversando com você?– Impressão sua.Roberto ficou em silêncio. Depois disse:– Acho que eu seria muito feliz se um dia ele me desse um

pouco de atenção.

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Rosa Maria ficou calada, pensando: “Realmente eu nunca vi o papai conversando com o Roberto, embora a mamãe se desdobre em dar atenção para ele”.

Roberto passou a mão no rosto, enxugando as lágrimas e levantou-se, dizendo:

– Mana, esqueça isso e vamos aproveitar o nosso feriado.Enquanto Roberto deixava a sala, Rosa ficou pensando, quando

ouviu uma voz:– Minha filha, vocês vão voltar. Ela pensou: “Acho que vou para o meu quarto fazer uma prece.

Estou meio perturbada”.O feriadão foi passando. Durante esses dias, naquela pequena

cidade do litoral, muita bebida foi consumida e rolou muita droga e sexo. Aqueles jovens não conheciam outra coisa, a não ser o lado que a vida apresenta com insistência, principalmente, através da mídia.

Rosa sempre conversava com Joel e tentava mostrar o lado certo da vida, porém, o rapaz estava completamente confuso e em conflito com o que a vida apresentava.

Ele sempre contra-argumentava:– Rosa, vamos aproveitar essa vida, enquanto somos jovens!– Aproveitar a vida não é isso o que você pensa.– Os meus pais me ensinaram, através dos exemplos que vi, que

não devemos perder tempo com essas asneiras que você chama de religião. O que interessa é gozar o que a vida nos dá, o resto não vale a pena.

Rosa ficou em silêncio. Ela pensava: “Ele tem razão. Foi criado num ambiente onde sempre viu o lado fácil da vida e não poderia pensar diferente”.

Na última noite que passariam naquele lugar, eles foram convi-dados para participarem de uma “festinha” numa casa muito grande, onde havia duas piscinas – propriedade de um grande empresário conhecido na cidade deles.

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Quando chegaram no local onde haveria a “festinha”, eles fica-ram logo à vontade entre os vários adolescentes e alguns adultos que estavam presentes.

Uma moça muito bonita e bronzeada veio recebê-los.– Sejam bem-vindos! Fiquem à vontade, pois a casa é de vocês.

Meu nome é Marta.A “galera do Joel”, assim era conhecida pela rapaziada o pessoal

que acompanhava aquele rapaz simpático, que topava qualquer parada. Ele identificou-se e a partir daquele momento já fazia parte da turma que entraria no “embalo”.

Rosa Maria tomava refrigerante e não estava se sentido bem. Ela acompanhou a turma somente para atender ao pedido do namorado.

Ela começou a observar que aqueles jovens estavam ingerindo muita bebida alcoólica e se drogando, enquanto num som de alta potência tocava um rock pesado que atiçava os sentidos inferiores deles.

Quase duas horas da madrugada, alguém gritou:– Pessoal, tem alguém passando mal!Todos correram e viram na margem da piscina um rapaz deitado

no chão, enquanto outro tentava reanimá-lo, fazendo respiração boca-a-boca, pois o mesmo tivera o começo de uma parada cardíaca, provocada pelo elevado consumo de bebidas e drogas.

Rosa também correu, para tentar ajudar, e surpreendeu-se: o rapaz era o Albertinho. Ela começou a chorar e a fazer mentalmente uma prece: “Meu Deus, não deixe que essa criatura morra! Ele é tão jovem e não sabe o que está fazendo!”. Depois se aproximou e ajudou a reanimá-lo.

Albertinho já estava melhor e procurou repousar numa cadeira de praia.

Rosa Maria estava bastante preocupada. A “festa” havia se transformado numa orgia, onde se observavam algumas pessoas caídas, outras falando coisas sem nexo e o sexo era algo normal

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para aquelas criaturas. A droga corria de mão em mão, enfim, aqueles filhos de Deus estavam totalmente dominados pelas forças do mal.

A moça pensava: “Meu Deus, por que essas criaturas estão tão perturbadas a ponto de esquecerem o Senhor?”.

Rosa saiu à procura dos companheiros e os convidou a irem embora.

Joel já não sabia o que estava fazendo ao ser convidado para ir embora, mas pediu com a voz meio embolada:

– Rosa, vamos ficar mais um pouco?– Não, vamos embora! Já chega por hoje! Além disso, não

esqueça que amanhã você vai dirigir.– Rosa, você é muito careta. Logo agora que a festa está no auge

você quer ir embora – falou Diana, bêbada e quase nua, abraçada a Roberto.

– Diana, já chega! Vamos embora!Diana se acalmou e olhando para Roberto, disse:– Tudo bem, garota.Assim, Rosa conseguiu levar os amigos para casa. Alguns dei-

taram de qualquer jeito e outros ficaram ao relento – ninguém tinha noção do que estava acontecendo.

O sol começou a mostrar os seus primeiros raios, anunciando um novo dia.

Quase ao meio-dia, alguns dos adolescentes levantaram-se com dificuldade e tentaram tomar alguma coisa para curar a ressaca.

Rosa Maria gritou para que todos ouvissem:– Na cozinha tem café, suco, queijo e outras coisas, para quem

quiser melhorar da ressaca. Não esqueçam que logo mais, às de-zesseis horas, vamos retornar para casa.

Albertinho, ainda tonto, disse:– Eu vou ficar por aqui, depois vou embora.Rosa disse imediatamente:– Você vai voltar conosco. Viemos juntos e juntos voltaremos.– OK, patroa!

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O pessoal, aos poucos, foi melhorando e começou a fazer uma faxina na casa, para deixá-la limpa como encontraram, sempre comandados por Rosa, que dizia:

– Mesmo a casa sendo dos meus pais, é nosso dever entregá-la como recebemos.

As horas passaram e todos já estavam preparados para retornarem às suas casas.

Rosa aproximou-se de Joel e perguntou:– Você está em condições de dirigir?– Claro, amor. Já estou novinho.Roberto aproveitou a conversa e disse:– Caso você não esteja em condições, pode deixar comigo, pois

já estou dirigindo bem.– Acho melhor o Joel dirigir, já que o carro é dele – disse Rosa.Mais ou menos às dezesseis horas o carro partiu, levando aqueles

jovens de volta às suas casas.Rosa Maria não parava de orar. Seu peito estava apertado e,

quase chorando, ela se perguntava mentalmente: “Meu Jesus, o que está acontecendo comigo? Que sensação estranha!”. Ela ouvia alguém dizer:

– Minha filha, o seu tempo terminou. Agora, volte. Essas criaturas que estão com você são de sua inteira responsabilidade.

Rosa meditou e pediu:– Joel, por favor, pare o carro.Joel estranhou a atitude da namorada, mesmo assim procurou

um acostamento e estacionou o carro, perguntando:– O que houve, Rosa?– Não estou me sentindo bem!– Então, vamos esperar até que você melhore.Após alguns minutos, Rosa, que estava sentada no acostamento

fitando o vazio, levantou-se e disse:– Vamos, estou melhor.O carro partiu.

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Joel falou para Rosa:– Daqui a vinte quilômetros tem um lugar legal. Vamos fazer

um lanche, enquanto você se recupera.– Não se preocupe, Joel.Logo depois o carro estacionou num lugar onde havia um bar

coberto de palha. Joel saiu do carro e disse:– Pessoal, vamos demorar por aqui uns dez minutos, enquanto

a Rosa melhora um pouco mais.Rosa Maria se distanciou dos amigos e sentou-se numa pedra

que ficava afastada do bar. Ela começou a pensar: “Por que estou com medo? Será que vai acontecer alguma coisa no caminho?”. De repente ela sentiu um abraço envolvê-la, enquanto alguém falava:

– O que você tem, minha amiga?Ela viu que era o Albertinho e respondeu:– Não se preocupe, Alberto.– Estou preocupado com você. – Por quê?– Porque eu a amo como a uma irmã. Será que isso não é

suficiente?Rosa Maria ficou decepcionada. Ela esperava que ele a amasse

de verdade.– Alberto, nunca vou esquecer você. Acho que se nesta vida

houve um desencontro entre nós foi porque assim Deus quis.– Que papo é esse, cara? Será que você está adivinhando algo

de ruim?– Esqueça, amigo. Acho que não estou boa da cabeça.– Estou me sentindo esquisito, como se estivesse com frio.– Talvez seja por causa do porre que você tomou ontem.– Pode ser.Rosa levantou-se e disse:– Vamos indo! Todos entraram no carro e tomaram o caminho de casa.

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Joel, a cada momento, aumentava a velocidade da caminhoneta, que sempre pedia mais aceleração.

Rosa Maria falou para o namorado:– Vá devagar, Joel. Não precisa correr tanto, pois antes das

dezoito horas chegaremos em casa.– Deixe comigo! Eu sei o que estou fazendo.A maioria dos passageiros dormia, talvez cansada pelas noites

mal-dormidas e pelo efeito das bebidas e entorpecentes que con-sumiram durante aqueles dias.

O carro sempre fazia ultrapassagens e entrava em curvas pe-rigosas, obedecendo à vontade do motorista, que estava ansioso e com os reflexos diminuídos pelos efeitos da bebida consumida na noite anterior.

Rosa Maria estava com o olhar fixo na estrada e continuava sentindo o mesmo mal-estar, quando viu o carro encostar atrás de um ônibus de turistas e observou que o Joel tentava ultrapassar o veículo e não conseguia. Ela pegou o braço do rapaz e pediu:

– Joel, pelo amor de Deus, tome cuidado!– Rosa, deixe comigo! Estou tentando ganhar tempo, todavia,

esse ônibus anda muito devagar e, além disso, na frente dele, vai outro ônibus na mesma velocidade. Assim não vamos chegar nunca!

– Não precisa pressa. Só faça a ultrapassagem com segurança.– Certo, boneca.Joel ficou dirigindo com calma, atrás do ônibus, e quando

apareceu uma reta bem conservada, própria para motoristas im-prudentes desenvolverem altas velocidades, mesmo estando cheia de lombadas perigosas, ele gritou:

– Agora, vou mostrar à essas lesmas como se faz!– Cuidado, Joel – alertou a namorada.O motorista jogou o carro para a esquerda e viu uma fila de car-

ros vindo em sentido contrário, então ele voltou para trás do ônibus, deixando-os passarem. Após alguns minutos ele jogou o carro nova-mente para a esquerda e como não viu nenhum carro pensou: “É ago-ra ou nunca!”. E imediatamente começou a fazer a ultrapassagem.

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Ultrapassou o primeiro ônibus, olhou para a reta e viu que estava limpa e pensou: “Passo o outro!”. E assim fez, mas pensou: “Vou aproveitar e passar esses carros velhos. Depois fico livre”. Assim fez, mas quando ia terminar de ultrapassar o último carro, apa-receu na sua frente, repentinamente, em sentido contrário, outra caminhoneta na mesma velocidade ou mais. Joel pensou: “Estou perdido!”. Ele tentou jogar o carro para trás do carro que estava na sua frente, mas não conseguiu: os motoristas dos carros não deram passagem, pois não havia acostamento suficiente, e mesmo assim não deu tempo para isso, acontecendo tudo em frações de segundos.

Joel soltou o volante e botou a mão no rosto.Rosa gritou:– Meu Deus!A turma acordou e gritou. Os gritos se confundiram com um

barulho que ninguém sabia distinguir.O carro de Joel pegou na lateral da outra caminhoneta, que vinha

na contra-mão, a uma velocidade acima de cento e cinqüenta quilô-metros por hora, após as tentativas de brecar para dominar o veículo.

Ambos se chocaram e se desgovernaram, caindo num pequeno barranco.

Silêncio.Os motoristas dos carros que trafegavam naquela hora pararam

e correram para tentar salvar alguém. Eles comentavam ao olhar o estado em que ficaram os dois carros.

– Pelo estado dos carros ninguém conseguiu sobreviver!– Os carros estão acabados!– Vamos ligar para polícia rodoviária!Uma das pessoas que estava averiguando de perto os carros aci-

dentados com a esperança de salvar alguém, disse categoricamente:– Acho que estão todos mortos.