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UNIVERSIDADE DE SOROCABA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE PEDAGOGIA Jessika Lenes De Vasconcelos Costa A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Sorocaba/SP 2015

A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA · PDF fileauxílio para o desenvolvimento psicomotor da criança, uma vez que um bom ... A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade define

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UNIVERSIDADE DE SOROCABA

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

CURSO DE PEDAGOGIA

Jessika Lenes De Vasconcelos Costa

A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Sorocaba/SP

2015

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Jessika Lenes De Vasconcelos Costa

A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

exigência parcial para obtenção do Diploma de Graduação

em Pedagogia, da Universidade de Sorocaba.

Orientador: Professora Dra. Alda Regina Tognini

Romaguera

Sorocaba/SP

2015

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Jessika Lenes De Vasconcelos Costa

A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito

parcial para obtenção do Diploma de Graduação em

Pedagogia, da Universidade de Sorocaba.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Orientadora Alda Regina Tognini Romaguera

Universidade de Sorocaba

Sorocaba/SP

2015

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Dedico este trabalho ao Augusto e Guilherme Gardel, motivo de

inspiração para trilhar esta jornada.

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Agradecimentos

Agradeço a Deus que até aqui me ajudou e me deu forças para prosseguir até o fim.

Aos meus pais por investirem na minha educação, e por não me deixarem desistir.

Aos meus irmãos pelo apoio e incentivo durante este processo.

A Ana Beatriz que abriu os meus olhos e me incentivou a lutar e correr atrás daquilo que me

completa, ou seja, a música.

Agradeço as minhas queridas professoras do Conservatório de Tatuí, por compartilharem

seus conhecimentos, despertando em mim o desejo de pesquisar e me aprofundar mais e

mais na área da musicalização. Obrigada especialmente a professora Isabel Campos por ter

me ajudado a chegar ao tema deste trabalho, por estar sempre disposta a ouvir e a

esclarecer qualquer dúvida, obrigada pelas palavras de animo e por sempre me incentivar.

A Cordélia Correa, pela sua amizade, apoio e cuidado para comigo durante esta jornada.

A Aline, Carol e Larissa, pela parceria durante estes três anos e meio, compartilhando os

bons e maus momentos ao longo desta caminhada.

Agradeço a Dra. Mariana Leme, por me acompanhar desde o começo neste processo, por

me incentivar e me ajudar a superar os obstáculos que surgiram durante esta caminhada,

que não desistiu de mim e não me deixou desistir.

Agradeço a minha orientadora Alda Romaguera.

A todos os professores que fizeram parte da minha formação.

A amiga Thais Bannwart, que me socorreu nas horas mais difíceis, e que com toda a

paciência e amor do mundo, me ajudou a superar obstáculos, e a estruturar este trabalho,

sem você não teria conseguido, obrigada por acreditar em mim e me ajudar até o fim!

A minha querida companheira de curso Elisabeth Pavanelli Galvão, que se tornou uma

amiga muito especial, e que também contribuiu para a realização deste trabalho, fornecendo

material sobre o assunto, e me apresentou a professora Viviane Louro, uma das autoras que

usei como base de pesquisa para este trabalho.

E por fim agradeço a professora Viviane Louro, por todo o seu conhecimento compartilhado

em seus livros, e curso de ‘’Música e Inclusão pela visão da Psicomotricidade’’. Foi muito

emocionante fazer este curso, abriu a minha mente para conhecer ainda mais sobre esse

mundo maravilhoso da psicomotricidade!

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Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntas as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

Rubem Alves

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RESUMO

Em busca da relação entre a música e a psicomotricidade, este trabalho tem

como questões: qual importância a música tem no desenvolvimento da

psicomotricidade? Por que a psicomotricidade é importante na educação

musical? Por que o ensino da música na educação infantil? O objetivo deste

estudo reside em demonstrar a influência da música como ferramenta de

auxílio para o desenvolvimento psicomotor da criança, uma vez que um bom

desenvolvimento motor é fundamental para aquisição de outras habilidades

importantes. Constituindo assim uma base para o desenvolvimento da criança

em outras áreas, como a cognitiva, a afetiva-emocional, e a motora.

Palavras chaves: Psicomotricidade. Música. Educação musical.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8

1. PSICOMOTRICIDADE .................................................................................... 11

1.2 A psicomotricidade sobre a perspectiva de LE BOULCH. .............................. 12

1.3 O desenvolvimento da psicomotricidade na educação infantil. ........................... 12

2. O USO DA MÚSICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL. ...................... 15

3. A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE AUXILIO PARA O DESENVOLVIMENTO

DA PSICOMOTRICIDADE. ....................................................................................... 19

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 26

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso, elaborado como exigência do

componente curricular Prática de Pesquisa III, do curso de Pedagogia da

Universidade de Sorocaba, tem como tema A música no desenvolvimento

psicomotor da criança na Educação Infantil.

Desde que a lei 11.769 foi sancionada em 18 de agosto de 2008, torna-

se obrigatório o ensino da música como conteúdo do componente curricular

no ensino básico e fundamental da música nas escolas. Com certeza foi um

grande ganho para a área musical no Brasil. Desde então a educação musical

e a busca pela educação musical, tem crescido no Brasil. Mas ao mesmo

tempo em que a demanda do ensino da música é grande, percebi que existe

uma lacuna nesta área, pois há falta de professores preparados para ensinar

música, de professores que tenham licenciatura em música, sendo que

muitas vezes há professores sem nenhuma orientação musical para trabalhar

este conteúdo na escola, e a falta de recursos para introduzir a música. Em

decorrência disto vê-se infelizmente um grande número de alunos que

acabam se frustrando com o que é oferecido como música e com isto

podendo diminuir ou perder o interesse pela música.

A partir de observações do meu cotidiano como auxiliar de sala, pude

perceber que através de brincadeiras musicais, as crianças gravavam com

mais facilidade letras de canções folclóricas e que, com naturalidade,

começaram a desenvolver ritmo, percepção espacial, conhecimento do

esquema corporal, através da exploração do ambiente onde se encontravam,

tanto na sala de aula, quanto no parque ou quadra da escola, com a ajuda da

música e brincadeiras musicais. Comecei a pesquisar músicas que tivessem o

mesmo pulso na marcação de ritmo, e com a ajuda de um tambor ou violão

cantava e tocava as músicas para as crianças, marcando o ritmo da música

somente no instrumento deixando assim livre a exploração, interpretação e

vivência das músicas apresentadas. Foi quando percebi que a partir da

segunda ou terceira vez cantada ou tocada uma música, as crianças

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passavam a sentir o ritmo e assim, marcar o pulso de cada música cada um

do seu jeito, enquanto uns batiam palmas outros marcavam o ritmo batendo

os pés, outros dançavam, pulavam, cada um buscava a forma de se

expressar na qual se sentia mais cômodo ou feliz. Isso para mim era

fantástico, foi quando passei a estudar mais sobre a música e a criança; me

matriculei no curso de Musicalização Infantil no Conservatório de Música de

Tatuí. Além do Conservatório, comecei a pesquisar e fazer cursos específicos

na área da musicalização com grandes educadores musicais em diferentes

cidades em São Paulo. A partir destes cursos e pesquisas, pude compreender

melhor o universo musical e os inúmeros benefícios que a música oferece.

Entre estes benefícios me chamou bastante a atenção a influência que

a música pode ter no desenvolvimento da psicomotricidade na criança.

Portanto, para este trabalho, escolhi falar sobre a psicomotricidade e como a

música pode auxiliar no desenvolvimento desta.

No levantamento bibliográfico que fiz através de artigos científicos e

livros, encontrei a música, dança e movimento como uma das formas de

estimular o desenvolvimento da psicomotricidade na criança. Por isso nesta

pesquisa tratarei de relacionar como a música pode auxiliar no

desenvolvimento da psicomotricidade na criança e como uma

psicomotricidade bem desenvolvida contribui para o ensino da música.

A educação musical na idade escolar deve ser, antes de tudo, uma

experiência ativa de confrontação com o meio, a música deve despertar a

curiosidade, o encanto pela beleza. E o que é a beleza? É poder construir

juntos os processos do conhecimento com a criança, respeitando os seus

conhecimentos; aprender a fazer juntos e aprender de formas diferentes,

tendo em mente que cada criança é um indivíduo único e que cada uma tem o

seu tempo e jeito de conhecer, de aprender, de ser e de conviver com o meio

em que vive e se relaciona. Dessa maneira, esse ensino segue uma

perspectiva de uma verdadeira preparação para a vida que se deve inscrever

no papel de escola, e os métodos pedagógicos renovados devem, por

conseguinte, tender a ajudar a criança a desenvolver-se da melhor maneira

possível, a tirar o melhor partido de todos os seus recursos, preparando para

a vida social.

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Espera-se, por meio deste trabalho, que a escola e professores

possam ter um conhecimento mais amplo sobre a psicomotricidade e como

esta pode interagir com a educação musical, e ainda como a educação

musical pode auxiliar no desenvolvimento da psicomotricidade na criança.

Dando assim um leque maior de ferramentas e didáticas diferentes que possa

auxiliá-los no ensino da música, que facilite e respeite o desenvolvimento da

criança, e que ela possa ter acesso a um ensino rico em cultura e

informações de qualidade.

Em busca da relação entre a música e a psicomotricidade, esta

pesquisa foi realizada tendo como questões: qual importância a música tem

no desenvolvimento da psicomotricidade? Por que a psicomotricidade é

importante na educação musical? Por que o ensino da música na educação

infantil? Sendo assim, o objetivo deste estudo reside em demonstrar a

influência da música como ferramenta de auxílio para o desenvolvimento

psicomotor da criança, uma vez que um bom desenvolvimento motor é

fundamental para aquisição de outras habilidades importantes. Constituindo

assim uma base para o desenvolvimento da criança em outras áreas, como

cognitiva, afetiva-emocional e motora.

Esta pesquisa está organizada em três partes. No primeiro capítulo foi

abordada a psicomotricidade utilizando os conceitos de Le Boulch (1982).

No segundo capítulo discutiu-se o uso da música no contexto da

Educação Infantil, sobre a perspectiva de Le Boulch (1982) e o pedagogo

musical Dalcroze na releitura de Fonterrada (2008).

No terceiro capítulo foi apresentado como a música pode auxiliar no

desenvolvimento da psicomotricidade e algumas propostas pedagógicas que

podem ser trabalhadas para auxiliar no desenvolvimento psicomotor da

criança, baseado nos conceitos de Louro (2006).

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1. PSICOMOTRICIDADE

1.1 DEFINIÇÃO

Grande parte do desenvolvimento humano acontece nos primeiros anos de

vida, por meio da coordenação das ações sensório-motoras, percebendo-se,

relacionando e construindo uma imagem interna do mundo exterior. Este

desenvolvimento depende das vivências que o ser humano trava com o mundo

externo. A relação corpo-movimento-sentidos é crucial para o amadurecimento

global do homem, e para que ele se reconheça e conheça como ser no mundo.

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade define a mesma como:

A Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo o estudo do homem através do seu corpo em movimento em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, em que o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade e sua socialização. (www.psicomotricidade.com.br/etica.htm)

Louro (2006), explica de forma mais clara que a psicomotricidade é a relação

entre os aspectos psicológicos, motores e cognitivos no desenvolvimento do ser

humano desde a fecundação até o fim de sua vida. É a relação entre o querer fazer

(psicológico); saber fazer (cognição); e poder fazer (capacidade motora). Essa ideia

apresentada por Louro (2006), foi o referencial deste trabalho.

De uma forma mais didática Louro (2006) descreve o PSI (Psicológico), CO

(cognitivo), (emocional) (intelectual), MOTRIC (físico), IDADE (fases do

desenvolvimento).

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1.2 A PSICOMOTRICIDADE SOBRE A PERSPECTIVA DE LE

BOULCH.

Jean Le Boulch em seu livro “O desenvolvimento psicomotor do nascimento

até 6 anos” (1982), ressalta a importância da psicomotricidade na Educação Infantil.

A criança desde o seu nascimento possui habilidades a serem desenvolvidas, e para

que estas sejam desenvolvidas é necessário que haja um intercâmbio entre os

processos orgânicos com o meio inter-humano.“A importância da relação é geral. Na

primeira infância, a qualidade desta relação tem uma influencia determinante na

orientação do temperamento e da personalidade.” (LE BOULCH, 1982, p.27).

Para Le Boulch (1982) a educação psicomotora deve ser praticada desde a

mais tenra idade, pois quando conduzida propriamente ajuda a prevenir

inadaptações difíceis de corrigir uma vez já estruturadas. É na Educação Infantil que

a psicomotricidade proporciona a criança o conhecimento de seu corpo, lateralidade,

a situar-se no espaço temporal, coordenar seus gestos e movimentos, pois ela é

indispensável para a formação de base da criança.

Portanto a educação psicomotora deve assegurar o desenvolvimento

funcional considerando as possibilidades da criança, e auxiliar a expandir a

afetividade e equilíbrio da criança por meio do intercambio com o ambiente humano,

Le Boulch (1982).

1.3 O DESENVOLVIMENTO DA PSICOMOTRICIDADE NA

EDUCAÇÃO INFANTIL.

Considerando que o desenvolvimento da psicomotricidade está presente na

criança desde o momento que nasce, de acordo com Le Boulch (1982), a evolução

do desenvolvimento psicomotor acontece através do intercâmbio dos processos

orgânicos com o meio humano. À medida que a criança se relaciona com outras

pessoas, vai construindo os seus conhecimentos e se conhecendo pouco a pouco.

Sobre a perspectiva de Le Boulch (1982), o desenvolvimento psicomotor se

divide em três etapas: “Corpo vivido”, “corpo percebido” e “corpo representado”.

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Primeira etapa: “corpo vivido” até os 3 anos. Nesta etapa a criança ainda não

se percebe como o “eu” e se confunde com o espaço em que vive. Corresponde a

fase da inteligência sensório-motora de Piaget. Com o amadurecimento do sistema

cognitivo, a criança passa pouco a pouco através de experiências vividas a se

diferenciar do meio em que vive. Nesta fase sente grande necessidade de se

movimentar, como pular, correr, brincar e é através dos movimentos que a criança

vai desenvolvendo e ampliando sua experiência motora. Le Boulch (1982) conclui

esta etapa dizendo que, no estágio do “corpo vivido” a criança por meio de

experiências emocionais do corpo e do espaço, adquire praxias que permitem que a

criança sinta o seu corpo como um objeto total no mecanismo da relação.

Segunda etapa: “corpo percebido” de 3 anos aos 6 anos. Nesta a fase a

criança já tem um melhor controle sobre o seu corpo, passa a desenvolver e a

organizar seu esquema corporal. O amadurecimento da função de interiorização

auxilia a criança na sua percepção de seu próprio corpo e espaço. A criança passa a

aprimorar seus movimentos e coordenação, associa seu corpo com os objetos do

meio em que convive. Graças às experiências vividas na fase anterior consegue ter

uma representação mental dos elementos e do espaço. Seu corpo passa a ser seu

ponto de referência para se situar no espaço e situar os objetos em seu espaço e

tempo. Le Boulch (1982), caracteriza o final desta fase como pré-operatório de Jean

Piaget.

Terceira etapa: “corpo representado” dos 7 aos 12 anos. Está etapa não será

abordada aqui, pois o objetivo deste tema é falar sobre as etapas na Educação

Infantil até os 6 anos de idade.

Schinca (1991), em seu livro “Psicomotricidade, ritmo e expressão corporal”

ressalta a importância de desenvolver a psicomotricidade da criança de uma forma

equilibrada; a psicomotricidade, quando bem desenvolvida, auxilia a criança a

enfrentar exigências que as aprendizagens escolares supõem. As experiências

vividas pela criança a partir do seu próprio corpo como interação do cognitivo e

emocional possibilitam uma percepção diferente do mundo. Quando é permitido que

a criança vivencie estes momentos, ela terá conceitos diferentes a partir de

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experiências vivenciadas e exploradas por meio do seu corpo, estas vivências

deixam uma impressão mais profunda que os conhecimentos meramente racionais.

A psicomotricidade possibilita, a partir da vivência do corpo no espaço e no

tempo, desenvolver a consciência de si mesmo como ser íntegro, capaz de sentir,

expressar, compartilhar experiências e comunicar-se com os demais.

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2. O USO DA MÚSICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Na Educação Infantil existem inúmeras possibilidades de trabalhar a música e

os seus benefícios. Uma destas possibilidades é o ritmo, que permite trabalhar a

psicomotricidade da criança, expressão, e criatividade. É importante que o educador

possibilite que a criança tenha acesso a exploração de novos ritmos, dando espaço

e desafiando para que os seus alunos criem novos ritmos, reinventem ritmos de

músicas ou brincadeiras musicais já conhecidas.

Em sua metodologia Le Boulch (1982), diz que o trabalho do ritmo na

Educação Infantil é de permitir a facilitação dos ritmos espontâneos e trabalhar a

percepção de temporalidade de seus próprios movimentos e dos sons de natureza

musical ou os emitidos pela voz humana. A atenção e esforço exigido para que isto

possa se desenvolver é grande e de uma função mental importante, a memória

imediata. A memória imediata permite memorizar as estruturas rítmicas e pode

restituí-las graças à representação mental dos dados temporais. Le Boulch (1982)

ressalta que até os 6 anos é mais favorável desenvolver este tipo de percepção e

que é fundamental de que ela seja desenvolvida na Educação Infantil, para evitar

insuficiências na vida adulta, como ter um desenvolvimento psicomotor normal, mas

ter uma percepção temporal fraca. Destaca ser essencial favorecer a expressão dos

ritmos corporais espontâneos e possibilitando sincronizá-los a suportes sonoros

adaptados e também favorecer o educar a percepção auditiva dos ritmos,

particularmente a de estruturas rítmicas.

Le Boulch (1982) menciona a importância de que as cirandas e danças

cantadas façam parte no desenvolvimento psicomotor da criança.

Além de ter grande valor, o folclore infantil, transmitido de geração a geração, mantém a tradição pitoresca, a simplicidade, a carga afetiva e contribui para a educação rítmica e a formação musical das crianças pequenas. Em particular, as crianças que tem dificuldades em coordenação global encontrarão um suporte privilegiado para alcançar, com o movimento, uma certa harmonia e um certo bem estar, fontes de prazer. Com efeito, o caráter coletivo destas danças, a participação da professora, o canto que acompanha, fazem com que cada criança possa participar ativamente, com alegria geral, e encontre, nesta atividade, uma segurança e uma situação favorável à expressão motora liberada. (LE BOULCH, 1992, p. 181-182).

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Na mesma linha de pensamento, o educador musical Émile-Jaques Dalcroze

destaca a importância de que a música seja introduzida à criança desde a mais

tenra idade, pois reconhece o corpo e a voz do bebê como seus primeiros

instrumentos musicais, daí a necessidade de estimular as ações musicais.

Em seu livro “De tramas e fios” Marisa Fonterrada (2008) apresenta

diferentes educadores musicais, sobre suas metodologias e influências na educação

musical. Entre tantos educadores musicais optei por falar um pouco sobre o

pedagogo musical Dalcroze, pois sua forma de pensamento e ensino é o que mais

se assemelha a forma de ensino e pensamento de Le Boulch.

Dalcroze se destacou por desenvolver um sistema educacional que prioriza o

ensino da música junto ao movimento corporal. Seu sistema partia do movimento

corporal, percepção de espaço, exploração do próprio corpo e espaço.

Rezende (2006), afirma que:

Jaques Dalcroze é o pedagogo musical mais referenciado quando o assunto tratado é uso do corpo para o fazer musical. Sua vivência enquanto educador o fez perceber que a expressão corporal contribui muito para comunicar problemas motores, psíquicos e emocionais. Por isso criara a Eurritmia que é a prática corporal que permite o individuo a conquistar capacidades como as de melhor: concentração, resposta do corpo a ações cerebrais e de relação entre o consciente e o inconsciente visando aguçar a capacidade criativa. Ele defendia que o indivíduo aprendia melhor algum conteúdo quando este era vivenciado corporalmente, criando assim uma imagem cerebral que sempre era utilizada quando o individuo estava numa pratica musical. (REZENDE, 2006, p.93)

Em seu sistema de Educação Musical, Dalcroze visava fornecer instrumentos

para o desenvolvimento integral da pessoa, por meio da música e do movimento.

Buscava desenvolver a escuta ativa, a voz cantada, o movimento corporal e o uso

do espaço. Dalcroze enfatizou o fato de o corpo e a voz serem os primeiros

instrumentos musicais do bebê, a importância de estimular desde a mais tenra idade

as ações das crianças da maneira mais eficiente possível.

Em sua proposta de ensino, a escuta e os aspectos psicomotores como

instrumentos de compreensão/ação/sensibilidade musicais estão interligados.

Fonterrada (2008), comenta:

O sistema Dalcroze parte do ser humano e do movimento corporal estático ou em deslocamento, para chegar à compreensão, fruição, conscientização e expressão musicais. A música não é um objeto externo, mas pertence, ao mesmo tempo, ao fora e ao dentro do corpo. O corpo expressa a música,

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mas também transforma-se em ouvido, transmutando-se na própria música. No momento em que isso ocorre, música e movimento deixam de ser entidades diversas e separadas, passando a constituir, em sua integração com o homem, uma unidade. Esse é o modelo pelo qual Dalcroze supera o dualismo em sua busca pelo todo. (FONTERRADA, 2008, pg. 133).

Similar a Le Boulch, o ponto principal do sistema proposto por Dalcroze, partia

do movimento corporal, da exploração do espaço e do próprio corpo, que buscava a

comunicação e o contato com outros corpos e com o ambiente. Parte da natureza

motriz do sentido rítmico e que o conhecimento necessita ser afastado de seu

caráter usual de experiência puramente intelectual para alojar-se no corpo do

indivíduo e em sua experiência vivida.

Partindo dessa ideia, o sistema dalcroziano se organiza em atividades e

movimentos que buscam desenvolver ações corporais básicas, necessárias ao

ensino musical. Visando trabalhar a escuta ativa, a sensibilidade motora, o sentido

rítmico e a expressão.

Movimentos como andar, correr, pular, arrastar-se, deslocar-se em diferentes

direções de forma livre ou seguindo um determinado ritmo são algumas das formas

que Dalcroze usa em suas propostas para estimular o movimento. As estruturas

musicais são abordadas nas atividades, de modo que a escuta leve com que as

pessoas expressem o que ouvem por meio dos movimentos.

Sobre as propostas de Dalcroze, Fonterrada comenta:

Os exercícios corporais visam, especificamente, combinar e/ou alternar movimentos, dissocia-los, estimular a concentração, a memoria e a audição interior, promover a rápida reação corporal a um estimulo sonoro ou explorar o espaço em diferentes direções, planos e trajetórias, objetivos que continuam atuais, ainda mais se se pensar na expressão e na estrutura corporais como maneiras de suplantar as estereotipias postas hoje ao alcance da população.(FONTERRADA, 2008, pg. 135)

Entre seus objetivos, Dalcroze buscava com que o aluno pudesse

familiarizar-se com os elementos da linguagem musical, através do movimento

corporal. Primeiro o aluno vivencia corporalmente o ritmo, canta a melodia, para

depois realizar as anotações do ritmo e da melodia. Outra finalidade do método de

Dalcroze é a de despertar no aluno o desejo de expressar-se após ter desenvolvido

suas faculdades emotivas e sua imaginação.

Os princípios fundamentais de Dalcroze podem dividir-se em três partes:

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Experiência sensorial e motora: É a primeira forma de compreensão

musical. Trata-se de uma educação musical de base, que ao mesmo tempo,

desenvolve a educação da sensibilidade e da motricidade, através da agudeza do

ouvido, da sensibilidade nervosa, do sentido rítmico e da faculdade de exteriorizar

espontaneamente as sensações emotivas.

Conhecimento intelectual: O conhecimento intelectual se introduz uma vez

adquirida a experiência sensorial e motora.

Educação rítmica e musical: Esta consiste na educação da pessoa, que

proporciona uma coordenação maior de suas faculdades corporais e mentais e

facilita amplamente suas possibilidades de consciência e ação. A improvisação está

consagrada a esta consciência pessoal e seus meios de expressão.

As ideias de Émile-Jaques Dalcroze além de influenciar os educadores de seu

tempo, ainda hoje servem de fundamento na formação de professores de música de

competência internacionalmente reconhecidos.

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3. A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE AUXÍLIO PARA O

DESENVOLVIMENTO DA PSICOMOTRICIDADE.

Entre diversos pedagogos musicais, abordo alguns exemplos de atividades

pedagógicas musicais propostas por Viviane Louro (2006), que tem como uma de

suas influências Dalcroze e seu sistema de ensino, presente nas atividades

propostas por ela em seu livro “Educação Musical e Deficiências Propostas

Pedagógicas”.

Antes de falar sobre as atividades e como a música pode ser usada como

ferramenta de auxílio para o desenvolvimento da psicomotricidade, Louro (2006) faz

algumas observações sobre a postura e conhecimentos básicos que o professor

necessita possuir ao ensinar música.

Entre eles é importante que o professor tenha conhecimentos sobre os

assuntos que constroem o fazer musical como um todo, aspectos teóricos da

música, questões históricas, estéticas, estilísticas e instrumentais sobre vários

métodos de ensino de sua disciplina. Ser consciente de que a música não é um

saber dissociado e contempla várias possibilidades de se relacionar com todos os

aspectos do conhecimento. O professor deve tomar conhecimento também do

processo de desenvolvimento e aprendizagem, compreender os aspectos da

psicomotricidade.

Costa (1998), afirma que o professor:

[...]precisa saber que o objetivo maior é sensibilizar o estudante ao mundo que o rodeia, dando meios a ele de crescer, criar, perceber, desabrochar todas as suas potencialidades. Pensando e trabalhando desta forma, o professor terá condições de, por meio da música, transformar a personalidade de seu aluno, tornando-o uma pessoa

mais participativa, autêntica e livre. (COSTA apud LOURO, 1998, p. 34)

Portanto, é importante que o professor tenha conhecimento que exerce um

papel importante como agente transformador, pois a música por si só não faz

diferença, mas a maneira como o professor a introduz e os métodos que usa para o

ensino da música é que fazem a diferença, podendo assim se tornar ferramenta de

auxílio, facilitando o desenvolvimento da psicomotricidade na criança da forma mais

natural possível.

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Louro (2006), afirma que o desenvolvimento da psicomotricidade é essencial

para a construção de conceitos e aquisição da aprendizagem. Sem o suporte

psicomotor o pensamento não pode ter acesso aos símbolos e à abstração.

As vivências e estímulos são essenciais nos primeiros anos de vida para o

processo de aprendizagem. Sem estímulos e vivências, não se adquire a

aprendizagem.

É essencial que a criança tenha vivências como: perceber e tocar no seu

corpo; estímulos auditivos, visuais, tátil-sinestésicos; rolar, engatinhar, correr, pular,

cantar (LOURO, 2006).

Para Louro (2006), no desenvolvimento psicomotor encontram-se os

seguintes aspectos:

Tônus: É o organizador de toda atividade: contração e alongamento dos

músculos, estado de tensão/distensão das vísceras. A função tônica é muito

importante na tomada de consciência de si. Pois é através do corpo e o movimento

que a pessoa percebe a si e ao mundo, se expressa, experimenta sensações e

diferentes situações. É importante o controle da função tônica para que o sujeito

disponha das possibilidades de evasão, relaxamento, tanto em repouso como em

ação.

Esquema e Imagem Corporal: elemento básico e indispensável para a

formação da personalidade. É o saber identificar e nomear as diferentes partes do

corpo, é a maneira de perceber o seu próprio corpo através de sensações. É uma

prática que evolui com a exploração, imitação e vivência, é a noção tridimensional

que temos de nós mesmos. A imagem corporal é a figuração mental que temos do

nosso corpo, é o modelo pelo qual o corpo se apresenta para nós.

Equilíbrio: base primordial de toda coordenação geral, e toda ação

diferenciada dos membros superiores e do centro de gravidade. Combinação das

ações musculares com o propósito de sustentar o corpo sobre uma base. Divide-se

em dois tipos: equilíbrio estático que são os movimentos sem locomoção como ficar

em pé ou na ponta dos pés; equilíbrio dinâmico: são os movimentos com locomoção,

andar, marchar, correr, pular.

Noção Espacial: conhecimento do mundo exterior, partindo primeiro do

conhecimento do eu, e assim com relação a outros objetos, pessoas em posição

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estática ou em movimento. Desenvolve-se através dos primeiros movimentos que

atuam no campo espacial limitado pelos seus deslocamentos, com o tempo e

vivência a criança passa a criar seu próprio campo espacial e espaço interno

subjetivo.

Noção Temporal: capacidade de situar-se em função da sucessão dos

acontecimentos, antes, durante e depois; consciência de duração: longos e curtos;

capacidade de diferenciar ritmos regulares e irregulares e noções de tempo: lento e

rápido.

Lateralidade: eixo imaginário que divide o corpo em duas partes

semelhantes; consciência de direção – direita e esquerda.

Lateralização: dominância lateral da pessoa, construída por dados

neurológicos (hemisfério cerebral dominante) e hábitos sociais (destro/canhoto).

Portanto é importante que a criança vivencie seu corpo e receba estímulo

devido, pois a ausência destes pode comprometer o desenvolvimento psicomotor,

apresentando sérios problemas na construção de seu esquema corporal, temporal,

espacial, lateralização, coordenação motora, postura, entre outros.

Consequentemente tais déficits poderão prejudicar o desenvolvimento da

aprendizagem e a aquisição de habilidades.

Rotular uma criança com déficit de atenção, ou algum outro déficit tem se

tornado cada vez mais comum. Muitas vezes uma criança que não teve os estímulos

necessários ou não vivenciou o seu corpo devidamente, isto pode contribuir para

uma dificuldade de aprendizagem.

Por isso o professor necessita possuir os conhecimentos devido as diferentes

etapas no desenvolvimento da psicomotricidade na criança. Sendo assim estará

consciente dos estímulos necessários que a criança necessita, e refletir como

poderá melhor auxiliar neste processo.

Sobre este aspecto Louro (2006), conceitua:

Quantas vezes um professor de música se depara com um aluno inteligente, com as funções intactas, que enxerga e ouve bem, mas que, por algum motivo não consegue compreender conceitos musicais simples, distinguir intervalos melódicos, possui grande dificuldade rítmica ou mesmo total falta de coordenação motora ao instrumento? Tudo isso, entre outros problemas, pode ser falta de uma estimulação, pode ser um problema psicomotor. [...] Quantos alunos de música desistem pelo meio do caminho crendo-se incapazes de aprender música, quando na verdade, o problema

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pode ser do professor que não consegue perceber e trabalhar suas dificuldades, ou mesmo, do sistema educacional, baseado em padrões predeterminados de eficiência, que exige um determinado desempenho para que esse aluno possa usufruir da aprendizagem musical?! Por esse motivo, os professores precisam estar atentos sobre questões que envolvem o fazer musical, sendo que desses fatores, a psicomotricidade é essencial. (LOURO, 2006, p. 62)

E onde entra a aprendizagem musical? Pois bem, para tocar uma música ou

canta-la ou até mesmo para compreender uma música, se depende totalmente de

fatores psicomotores.

Le Boulch (1982) enfatiza, “A utilização rítmica da linguagem e do canto

contribuem para consolidar os ritmos motores espontâneos da criança, cuja

estabilidade é paralela a um bom equilíbrio tônico-emocional. “ (LE BOULCH, 1982,

p.110)

A música e a psicomotricidade tem muito em comum; precisamos do conjunto

psicomotor para aprender música e a música é uma das ferramentas mais eficientes

para nosso desenvolvimento psicomotor. Louro (2012)

Relvas (2007) sobre a música e a psicomotricidade conceitua;

A psicomotricidade e a educação musical, [...] devem possibilitar vivencias e descobertas, constituindo-se em uma experiência concreta. [...] A educação musical contribui para o desenvolvimento harmonioso, com isso, facilita na educação psicomotora, trabalhando o aluno, fazendo-o tomar consciência do seu corpo na lateralidade, situando-se no espaço, ter domínio de tempo, coordenar gestos e movimentos, sendo praticada desde as mais tenras idades, sempre adaptada ao nível do grupo, porque é por meio dessas experimentações e relações com o outro que o ser humano se descobre e

vai se formando pouco a pouco. (RELVAS apud Louro (2012, p.107).

As metodologias mais utilizadas na educação musical infantil são baseadas

em exercícios e jogos que visam desenvolver aspectos do desenvolvimento

psicomotor da criança. A musicalização é estimulação psicomotora a todo instante,

ela trabalha todos os aspectos psicomotores necessários, entre outras coisas, para

uma boa aprendizagem, seja esta musical ou outras. Para Louro (2006), as práticas

comuns das atividades pedagógicas envolvem: andar pela sala na pulsação da

música (tônus, equilíbrio dinâmico, consciência têmporo-espacial); exploração de

sons ambientais (estimulação auditiva, importantíssima para o desenvolvimento

psicomotor), percussão corporal (esquema corporal, noção espacial, tônus,

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lateralidade); jogos de improvisação (estimulação da criatividade, expressão e

conceitos); imitações de movimentos com o corpo (estimulação visual, coordenação

motora, esquema corporal); tocar instrumentos de percussão ou outros (tônus,

lateralização, orientação espacial, temporal e esquema corporal); montar pequenos

grupos instrumentais (tônus, equilíbrio estático, consciência espacial e lateralizacão);

cantar (estimulação do aparelho fonador (tônus), articulação, respiração, afinação,

esquema corporal). (LOURO, 2006, p. 60).

Em suas propostas de atividades pedagógicas, Louro (2006) mesclou as

metodologias de diferentes educadores musicais, entre eles encontram-se as

metodologias de ensino de Dalcroze. Baseou-se nos princípios da psicomotricidade,

que destaca ser essencial no processo de desenvolvimento e aprendizagem de

todos. Portanto todas as atividades propostas por esta autora passam primeiro pela

vivência corporal, antes da utilização dos jogos e formalização dos símbolos e

conceitos. Em suas atividades usa como principio básico as propriedades do som:

Altura: diferença entre os sons graves e agudos. Duração: discriminação do

“tamanho do som”. Sons curtos e longos. Intensidade: sons fortes e fracos. Timbre:

particularidade de cada som.

Trago como exemplo algumas das atividades propostas pela autora.

Encontram-se publicadas em seus livros: ‘’Educação Musical e Deficiências

Propostas Pedagógicas’’ (2006) e ‘’Fundamentos da Aprendizagem Musical da

pessoa com deficiência’’ (2012).

Atividade 1

Andar pelo espaço

O que a atividade trabalha: Foco, atenção, pulsação, ritmo, noção de corpo no

espaço físico, consciência corporal, comunicação visual, coordenação motora,

noção de tempo, esquema corporal, tônus, equilíbrio, criatividade, integração com o

grupo.

Material necessário: sala ampla e um aparelho de som.

Descrição da atividade: solicita-se aos alunos que caminhem aleatoriamente

pela sala. Com esta ação já é possível estimular várias relativas ao ‘’corpo no

espaço’’. O grupo deve se preocupar em ocupar todos os espaços da sala da

maneira mais homogênea possível, evitando deixar grandes espaços vazios, ou

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então devem se juntar em um único lugar. Caminhar normal e constante, os braços

estendidos ao longo do corpo e os pés bem firmes a cada passo. Uma variação para

se inserir a música no contexto desse exercício é a seguinte: com um instrumento de

percussão grave (surdo, bumbo), marcar um pulso contínuo. Cada passo dos alunos

deve ser simultâneo a cada pulso. Ao longo do exercício pode-se variar a

velocidade, orientando-se os alunos para que estejam atentos ao som,

sincronizando os passos aos pulsos rítmicos. Outras sugestões que a autora da

enquanto adaptações da mesma atividade são: que quando a música parar, os

alunos parem em duplas, façam em grupos formas geométricas. Enfim cabe ao

educador e sua criatividade para elaborar diferentes adaptações para a mesma

atividade.

Atividade 2

Equilibrando

Materiais necessários: sala ampla, aparelho de som, bastões.

O que a atividade trabalha: atenção, tônus, comunicação visual, equilíbrio,

freio inibitório, foco, coordenação motora, noção de espaço.

Descrição da atividade: a atividade consiste em separar os alunos em duplas

e dar um bastão para cada dupla, a dupla tem que segurar o bastão com a palma da

mão entre os dois, enquanto a música toca eles tem que ir andando pela sala sem

deixar o bastão cair, sempre pressionando o bastão na palma do companheiro, sem

deixar o bastão cair.

Atividade 3

O mestre mandou

Materiais necessários: bambolês, sala ampla e um aparelho de som.

O que a atividade trabalha: prontidão, concentração, atenção, organização do

corpo, classificação de cores, tônus, frio inibitório, equilíbrio, agilidade de

pensamento e decodificação, foco.

Descrição da atividade: Colocar bambolês de diferentes cores espalhados

pela sala, colocar uma música e pedir para que os alunos caminhem pela sala,

quando a música parar, o professor deve escolher uma cor de bambolê, e os alunos

devem correr ou caminhar para a cor de bambolê escolhida pelo professor.

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Atividade 4

Esculturas sonoras

Materiais necessários: massinha

O que atividade trabalha: criatividade, praxia fina, concentração, atenção,

tônus.

Descrição da atividade: a atividade consiste em dar um pedaço de massinha

para cada aluno, peça para que o aluno construa um personagem, para que lhe de

um nome e que invente um som para o personagem que criou.

Estes são apenas alguns exemplos de atividades pedagógicas musicais

propostas pela autora. A finalidade destes exemplos, não é dar uma receita pronta,

nem tampouco defender uma metodologia certa. Pois a ideia principal defendida

pelos os autores que neste trabalho foram mencionados, é justamente de que não

existe uma metodologia pronta e perfeita para trabalhar a música como ferramenta

de auxílio no desenvolvimento psicomotor da criança, mas que é necessário que o

educador possa respeitar a individualidade de cada criança como sujeito único no

universo e na sua forma de aprender. Sendo assim é dever do educador, conhecer

bem os seus alunos, refletir sobre as necessidades específicas destes, para que

assim possa planejar, adaptar e criar atividades que vão de encontro a sua realidade

e suas necessidades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para este trabalho foi feito um levantamento bibliográfico, através de livros e

artigos científicos.

Teve por objetivo apontar a relação entre a educação musical e a

psicomotricidade. É importante ter uma psicomotricidade bem desenvolvida para o

fazer musical? Como a educação musical pode influenciar no desenvolvimento

psicomotor na primeira infância. A criança necessita de estímulos para o seu

desenvolvimento psicomotor. Entre estes estímulos encontra-se a música como

ferramenta de auxílio para um bom desenvolvimento psicomotor.

A lei não exige a música como uma disciplina necessária, mas somente os

conteúdos musicais, sendo assim qualquer professor pode introduzir estes

conteúdos dentro ou fora do horário de aula. Conheço vários pedagogos que não

possuem nenhum conhecimento musical, ou dos benefícios que a música

proporciona para o desenvolvimento da criança, sendo que o pedagogo é

responsável por introduzir a música na Educação Infantil. Ao mesmo tempo conheço

excelentes professores de música que não possuem os conhecimentos básicos

sobre as diferentes etapas do desenvolvimento da criança, e que apenas aplicam os

seus conhecimentos musicais.

É necessário repensar os conhecimentos que estão sendo passados aos

futuros educadores. Estão aptos para ensinar música na escola, ou seja, possuem

os conhecimentos básicos de música para aplicar este conteúdo, uma vez que o

ensino da música na escola tornou-se obrigatório? Se a música é tão importante e

pode ser utilizada como ferramenta de auxílio para o desenvolvimento psicomotor da

criança na educação infantil, por que as faculdades de Pedagogia não incluem este

conteúdo em suas grades curriculares?

Se o movimento é essencial para que a criança possa ter um bom

desenvolvimento psicomotor, as escolas possuem espaços amplos no qual a criança

possa andar, correr, pular, se arrastar pelo chão?

O educador precisa refletir no momento de planejar suas atividades para

escolher se as propostas de atividades musicais irão proporcionar a criança, a livre

expressão corporal, exploração e conhecimento do seu próprio corpo, respeitando o

tempo e espaço de cada criança, permitindo que a criança por meio das atividades,

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possa ter acesso a exploração do espaço onde se encontra e de diferentes espaços,

acrescentando conhecimentos e vivencias para criança.

Para Brito (2003), para a criança fazer música não significa seguir regras ou

observar características, mas sim vivenciar o momento, aprender. Nesse sentido,

importa, prioritariamente, a criança, o sujeito da experiência, e não a música, como

muitas situações de ensino musical insistem em considerar. A educação musical não

deve visar a formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim a formação

integral das crianças de hoje.

É importante como educadores refletirmos e nos policiarmos em estar

preocupados somente com o “resultado” final, ou seja, de aplicar um conteúdo

simplesmente porque é obrigatório, que acabamos perdendo o processo e muitas

vezes pulando etapas, pelo qual a criança passou ou precisou vivenciar para chegar

no resultado almejado. Quando digo perdendo, me refiro a dificuldades e obstáculos

que a criança conseguiu superar ao decorrer do percurso, tanto como novidades que

a criança trouxe, emoções, reações, sentimentos que sentiu e teve no decorrer das

atividades. Por isso, para além de cumprir uma legislação, o uso da música na

educação infantil deve ser coerente com a discussão que este trabalho de conclusão

de curso propôs. Sendo que a música é um estímulo de extrema importância para o

desenvolvimento da criança na primeira infância e que, se negligenciada poderá ter

impactos no desenvolvimento psicomotor e emocional da criança.

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