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1 A Música e a sua inserção na Educação: desafios e possibilidades 1 Eunice Souza de Morais Pereira 2 Resumo: Este trabalho tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre a importância da música como componente curricular nas instituições escolares. A princípio ele traz uma retrospectiva histórica e uma abordagem dos aspectos legais, os quais aparecem seguidos por uma discussão com a finalidade de compreender a importância da percepção estética para o desenvolvimento da sensibilidade do indivíduo. Para isso, leva-se em consideração as experiências vividas, assim como a padronização do ―gosto‖ e alguns fatores geradores. Dentro desse contexto, busca-se por meio da música estimular à sua apreciação e ao seu fazer musical, além de percebê-la como uma forma de proporcionar e de estimular os aspectos cognitivo, afetivo e social. Para tanto, está pautado em embasamentos teóricos a partir de autores como: Abbagnano (2000); Aranha e Martins (2005); Duarte Jr (2003); Ferreira (2009); Fusari e Ferraz (2001); Beyer e Kebach (2009); Nogueira (2003); Loureiro (2003); Schafer (1991) e outros. Ademais, fundamenta-se em documentos que legalizam, normatizam e direcionam o trabalho pedagógico, sendo estes de extrema importância para o enriquecimento desta pesquisa. Palavras chave: Música. Componente curricular. Desenvolvimento. Introdução Este artigo demonstra que, a música sempre ocupou lugar de destaque na vida do ser humano. No Brasil, sua formação se deu com a mistura de ritmos europeus, indígenas e africanos, no entanto, outras influências perpassaram pela formação da música brasileira. O presente estudo visa analisar os aspectos históricos e a trajetória musical ao longo dos anos no Brasil. Menciona os aspectos legais para a inserção da música como componente curricular, sendo este de suma importância para compreendê-la dentro deste contexto. Assim sendo, busca refletir sobre a educação estética, e como esta pode desenvolver a sensibilidade e a criatividade a partir da educação musical. Além disso, propõe uma discussão sobre a importância da música para o desenvolvimento da aprendizagem, logo, sugere no decorrer deste trabalho algumas sugestões metodológicas ao se trabalhar com a música em sala de aula. 1 Artigo Científico apresentado ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob a orientação da Professora Ms Milna Martins Arantes como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Pedagogia. 2 Aluna concluinte do curso de Pedagogia, da Faculdade Alfredo Nasser em Aparecida de Goiânia GO. 2011/1.

A Música e a sua inserção na Educação: 1 - unifan.edu.br Pedagogia Eunice Souza... · que o ensino de música, em virtude de seu potencial formador, dentro de um processo de

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A Música e a sua inserção na Educação: desafios e possibilidades1

Eunice Souza de Morais Pereira2

Resumo: Este trabalho tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre a importância da

música como componente curricular nas instituições escolares. A princípio ele traz uma

retrospectiva histórica e uma abordagem dos aspectos legais, os quais aparecem seguidos por

uma discussão com a finalidade de compreender a importância da percepção estética para o

desenvolvimento da sensibilidade do indivíduo. Para isso, leva-se em consideração as

experiências vividas, assim como a padronização do ―gosto‖ e alguns fatores geradores.

Dentro desse contexto, busca-se por meio da música estimular à sua apreciação e ao seu fazer

musical, além de percebê-la como uma forma de proporcionar e de estimular os aspectos

cognitivo, afetivo e social. Para tanto, está pautado em embasamentos teóricos a partir de

autores como: Abbagnano (2000); Aranha e Martins (2005); Duarte Jr (2003); Ferreira

(2009); Fusari e Ferraz (2001); Beyer e Kebach (2009); Nogueira (2003); Loureiro (2003);

Schafer (1991) e outros. Ademais, fundamenta-se em documentos que legalizam, normatizam

e direcionam o trabalho pedagógico, sendo estes de extrema importância para o

enriquecimento desta pesquisa.

Palavras chave: Música. Componente curricular. Desenvolvimento.

Introdução

Este artigo demonstra que, a música sempre ocupou lugar de destaque na vida do ser

humano. No Brasil, sua formação se deu com a mistura de ritmos europeus, indígenas e

africanos, no entanto, outras influências perpassaram pela formação da música brasileira.

O presente estudo visa analisar os aspectos históricos e a trajetória musical ao longo

dos anos no Brasil. Menciona os aspectos legais para a inserção da música como componente

curricular, sendo este de suma importância para compreendê-la dentro deste contexto. Assim

sendo, busca refletir sobre a educação estética, e como esta pode desenvolver a sensibilidade

e a criatividade a partir da educação musical. Além disso, propõe uma discussão sobre a

importância da música para o desenvolvimento da aprendizagem, logo, sugere no decorrer

deste trabalho algumas sugestões metodológicas ao se trabalhar com a música em sala de aula.

1 Artigo Científico apresentado ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob a orientação

da Professora Ms Milna Martins Arantes como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Pedagogia.

2 Aluna concluinte do curso de Pedagogia, da Faculdade Alfredo Nasser em Aparecida de Goiânia – GO. 2011/1.

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Pode-se dizer que em muitos momentos históricos do país a música desempenhou uma

função nacionalista e meramente disciplinar. Na maioria deles era dada ênfase apenas às

técnicas, sendo que neste caso desvalorizava-se o processo. A arte musical pôde fazer parte de

um processo de controle e de persuasão, e desse modo, ela passou a ser difundida por todo o

país.

No entanto, somente com a promulgação da Lei 11.769/08, que trouxe uma alteração

no artigo 26 § 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/96), que o ensino de música

torna-se obrigatório como componente curricular (disciplina), nas instituições escolares.

Diante desse contexto, algumas reflexões são consideradas pertinentes ao desenvolvimento

deste estudo: Como entender o universo musical, sendo este tão amplo, rico e prazeroso?

Como as experiências musicais podem estimular a percepção estética, ou seja, como refletir

sobre o belo? Os fatores culturais influenciam ou não para a formação do gosto musical? Qual

sua importância para a aprendizagem do indivíduo? E quanto à apreciação e o fazer musical,

que sugestões metodológicas seriam as mais adequadas ao utilizar a música em sala de aula?

Todas essas são questões que devem ser levadas em conta, ao trabalhar com a educação

musical. Além disso, ela exige um amplo conhecimento musical por parte do professor.

Visto dessa forma, este trabalho proporciona uma discussão sobre a educação musical

levando em consideração a sua importância para o desenvolvimento integral do aluno. Para

tanto, cabe, novamente ressaltar que a música da qual se trata esta pesquisa é considerada

como componente curricular. E como tal, torna-se importante discutir no decorrer desta

pesquisa algumas questões relevantes, assim sendo, esta pesquisa enfatiza as possibilidades

para se trabalhar com a educação musical, além de promover uma reflexão sobre os desafios

para a sua implantação.

História e aspectos legais da inserção da música na educação brasileira

Para que se possa haver uma melhor compreensão da inserção da música no Brasil, a

seguir serão mencionados alguns pontos principais de sua trajetória ao longo dos anos. A

princípio não se pode desconsiderar a importância religiosa, social e moral que ela

desempenhou, com a intenção de proporcionar a aquisição de hábitos e valores, algo

fundamental para o exercício da cidadania. Também considerou-se importante fazer um

retrocesso nos aspectos legais que estabeleceram a música como indispensável para a

formação do educando.

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A música brasileira se formou a partir da mistura de elementos europeus, africanos e

indígenas, trazidos respectivamente por colonizadores portugueses, escravos e pelos nativos

que habitavam o chamado Novo Mundo. Outras influências foram se somando ao longo da

história, estabelecendo uma enorme variedade de estilos musicais (FUSARI; FERRAZ,

2001).

De acordo com Fusari e Ferraz (2001), quando os jesuítas chegaram ao Brasil, um dos

recursos utilizados por eles para catequizar os indígenas foi a música, pois perceberam que

eles possuíam muita afinidade com esta forma de expressão. No entanto, a espontaneidade

musical indígena começou a ser destruída, cedendo espaço de maneira imposta pelos

colonizadores as novas culturas, dentre elas, a musical.

Para Fusari e Ferraz (2001, p. 133),

A música do indígena tinha a cor do cotidiano. A todo ritual haveria de existir uma

musicalidade muito específica. Os fatos exigiam uma celebração e assim a música

entrava como componente natural deste mesmo ritual. Mas se o rito indígena levaria

uma carga musical, os colonizadores também celebraram a ocupação do solo

brasileiro com seu ritual de fé cristã, através do ofício da santa missa. Esta também

não estaria desprovida de um forte componente musical: os hinos. Confrontavam-se,

pois, neste momento, os dois ritos.

Como as autoras afirmam no trecho citado acima, a princípio nota-se um confronto

entre os dois estilos musicais – o europeu e o indígena, porém, o estilo europeu se sobressai.

Até porque o índio se sensibilizava perante a música, não importando a ele o estilo que fosse.

E, como os europeus estavam com o objetivo de impor a sua cultura, eles ousaram em

reproduzir os seus próprios gostos e costumes, afinal de contas, estavam conseguindo o

resultado almejado.

Conforme Fusari e Ferraz (2001), a música sofreu influências dos negros, quando aqui

chegaram como escravos. O negro contribuiu significativamente com a formação da música

brasileira, até chegou a determinar um ritmo ao longo do tempo. Alguns fatores contribuíram

para que a cultura musical africana se despontasse. Em meio à escravidão o negro ainda

conseguia manter uma postura persistente, conseguindo se sobressair às ameaças, às

imposições e a tantas outras humilhações sofridas. Fusari e Ferraz (2001) enfatizam que

durante os trabalhos escravos realizados, eles estavam sempre falando e cantando. A aptidão

negra pela música era perceptível, não entoavam apenas os seus próprios ritmos, mas faziam

parte e manejavam instrumentos musicais do homem branco.

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No entanto, há uma necessidade de entender o contexto da época, porque senão o

fizer, pode-se haver uma contradição entre o trabalho escravo e a participação do negro como

músico. Essa atuação naquela época foi necessária, pois, segundo Fusari e Ferraz (2001) a

corte portuguesa precisava criar ―um ambiente‖ parecido com o que eles estavam

acostumados, e os negros foram apenas aproveitados como músico. Não se pode deixar de

mencionar que as atividades artísticas eram organizadas e mantidas para a igreja. E que na

maioria das vezes tinham um cunho religioso.

Quando os negros foram trazidos para o Brasil, trouxeram consigo vários

instrumentos, os quais tinham a intenção de propiciar algumas lembranças de ―sua terra‖.

Loureiro (2003, p. 46) afirma que ―chegando ao Brasil como escravos, os negros trouxeram

consigo instrumentos de percussão como o ganzá, a cuíca, o atabaque, porém cantavam e

dançavam embebidos pelos sons e ritmos de sua pátria distante‖.

Como se pode perceber, os negros contribuíram significativamente com a cultura

brasileira. O legado musical deixado por eles influencia hoje na riqueza e na diversidade,

fazendo parte da identidade brasileira, que ao longo dos anos, vem construindo e inovando

sua história.

Mais tarde, com a chegada da família real ao Brasil, a música deixou de se restringir à

religião e estendeu-se ao teatro. Para Loureiro (2003, p.47)

A presença da corte no Brasil estimula o desenvolvimento de um processo de modernização, sobretudo no Rio de Janeiro, sede do governo real. Nesse quadro

surgiram algumas instituições no campo cultural, tais como academias militares, a

Biblioteca Real, cursos superiores e a escola Nacional de Belas-Artes. A atividade

musical ganha, assim, uma nova expressão.

Mas de acordo com a autora acima citada, este processo de modernização entra em

crise com a volta de D. João VI a Portugal. A Capela Real – orquestra de música erudita -

perde sua força e, consequentemente, entra em declínio. Logo este, não foi um momento

propício para a arte. No entanto, o número de professores particulares aumentou

significativamente, restringindo-se, portanto, o conhecimento musical à classe média-alta, e

com uma predominância do piano, sendo que o estudo desse instrumento reservava-se

principalmente às moças.

Conforme afirma Loureiro (2003), com a Proclamação da Independência, em 1822, a

educação passa a ocupar um lugar de destaque nos debates, e passam a considerar a sua

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importância para o desenvolvimento do país. Então, houve uma necessidade de uma

preparação de professores, logo, o currículo com tal objetivo passa a englobar várias

disciplinas, dentre elas, a música. Segundo a autora, a música tinha a função eminentemente

disciplinar, ela afirma ainda que, ―o que importava para a escola era utilizar o canto como

forma de controle e integração dos alunos; desse modo, pouca ênfase era dada aos aspectos

musicais‖ (LOUREIRO, 2003, p. 49).

Os planos social, político e econômico do país, de acordo com Loureiro (2003)

sofreram inúmeras mudanças com a culminação da Proclamação da República no final do

século XIX. Uma nova fase no ensino das Artes é apontada. Segunda a autora, neste período a

vida musical amplia-se e diversifica-se, embora houvesse o predomínio da valorização das

obras de compositores europeus durante os concertos.

Mais tarde, com base na filosofia de John Dewey com a proposta da Escola

Nova, Anísio Teixeira formula e torna a arte acessível para todos. Assim, afirma Loureiro

(2003, p. 53):

A nova escola, capaz de formar o cidadão brasileiro para a sociedade industrial em

vias de implantação no país, alicerçando-se nos princípios da Escola Nova, afirma a

importância da arte na educação para o desenvolvimento da imaginação, intuição e

da inteligência da criança e recomendava a livre expressão infantil.

Segundo a autora, com a intenção de valorizar a cultura popular, Mário de Andrade em

1920, traz um novo enfoque para a música, enfatizando sua função social, e contou com o

apoio de Heitor Villa-Lobos. Foi um momento histórico importante para a formação da

identidade brasileira. Este foi um contexto fundamental, politicamente falando, pois a música

se tornou um forte instrumento na Era Vargas, a qual pôde ser utilizada para criar uma boa

imagem política voltando-se para a exaltação da nacionalidade. Em decorrência disso, a

música nesse momento era alvo de crítica, pelo fato de estar servindo de meio para formar e

implantar ordens políticas.

Loureiro (2003, p. 55) ressalta que

O clima de nacionalismo dominante no país, a partir da Revolução de 30, fez com

que o ensino de música, em virtude de seu potencial formador, dentro de um

processo de controle e persuasão social, crescesse em importância nas escolas,

passando a ser considerado um dos principais veículos de exaltação da

nacionalidade, o que veio determinar sua difusão por todo o país.

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A música neste momento histórico passa a ser utilizada como meio de exaltação à

Pátria, e o então Presidente da República Getúlio Vargas torna o canto orfeônico3 obrigatório

nas escolas públicas. Para isso, assinou o decreto n° 18.890, de 18 de abril de 1932, dessa

forma, ele proporcionaria a divulgação do seu regime (LOUREIRO, 2003).

De acordo com Loureiro (2003), já em 1941, baseando-se na importância musical,

embora restrita à classe dominante, surge a primeira instituição educativa musical, no Rio de

Janeiro, o Conservatório Musical do Rio de Janeiro, atualmente Escola de Música da UFRJ, a

qual funcionou precariamente por falta de recursos financeiros.

A década de 30, como afirma Loureiro (2003) foi marcada por inúmeras

transformações no Brasil política, social e econômica. O canto orfeônico, implantado por

Villa-Lobos, ocupava seu espaço principalmente nas escolas públicas de todo o país. No

entanto, de acordo com os PCNs-artes (1997), após estes 30 anos, o canto orfeônico foi

substituído pela Educação Musical, criada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Brasileira/1961, a qual entra em vigor depois de meados de 60.

Segundo a autora, o principal motivo dessa decadência era o fato de o país estar

caminhando rumo a uma democratização, sendo assim, tudo aquilo que caracterizasse um

regime autoritário deveria ser eliminado (LOUREIRO, 2003).

Com o declínio do movimento modernista, outras formas artísticas começam a surgir

enfatizando a criatividade. O que se buscava nesse contexto eram formas de expressão que

privilegiassem mais o processo e menos o produto. Segundo Loureiro (2003, p. 65),

Dentre seus princípios fundamentais estavam à crença no potencial de criatividade

existente em todo o ser humano, o respeito à liberdade de expressão do educando e a

consciência de que a prática da atividade artística é fator relevante para o

desenvolvimento equilibrado da personalidade do educando, contribuindo também

para uma inter-relação harmoniosa entre as pessoas e os grupos humanos.

Para a autora, os anos 60 se despontavam com uma nova visão artística, na qual o

aluno tornara-se o centro do processo ensino aprendizagem. Essa concepção incorporou

propostas da Escola Nova, que, utilizando a arte como expressão, ela chega às ruas,

aproximando-se das massas e inevitavelmente misturando as linguagens artísticas.

3 O Canto Orfeônico tornou-se muito popular na França, o “canto coletivo” era uma atividade obrigatória nas

escolas municipais de Paris, pois suas mensagens tinham o objetivo de tentar incutir comportamentos nos seus

praticantes e espectadores [...]. Este se tornou um útil instrumento para objetivos sociais e político-ideológicos,

atendendo a necessidade do momento político-social que a França vivenciava no século XIX. E dessa forma, ele

também fez parte desse momento histórico vivenciado no Brasil.

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Porém, mesmo tendo conseguido espaços, dentre tantas lutas, com o Golpe Militar, a

música sofre um novo abalo. O autoritarismo é retomado, com as ideias de desenvolvimento

do país, houve uma modificação nos currículos escolares. A música passa novamente a ser

veículo de exaltação à pátria, no entanto, foram vários os desafios encontrados, um deles

deve-se ao fato da escassez de profissionais qualificados. O ensino de música nos

conservatórios se encontrava elitizado, havendo também o predomínio de técnicas e

conteúdos descontextualizados. Além disso, priorizavam-se aqueles que demonstravam

talento para a música, e cujas atividades relacionavam-se a meras repetições. Para Loureiro

(2003, p. 73), ―[...] ênfase demasiada a técnica. [...] desvalorizando o ―fazer sonoro‖ em

detrimento da repetição de exercícios cuja função única está centralizada no virtuosismo de

alguns poucos considerados portadores de dom e de talento para a prática musical‖.

Segundo Fusari e Ferraz (2001), no início da década de 70, quando a Educação

Artística foi introduzida, houve enormes problemas. Alguns professores estavam presos a

meras técnicas desprovidas de cientificismo, e, além disso, estavam despreparados e

utilizavam metodologias inadequadas ao contexto. Para as autoras, com a reforma da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692/71, se estabelecia apenas a Educação

Artística no currículo escolar, mas esta, como dito anteriormente, se transformara em ―meras

atividades artísticas‖. Assim fica explícita a forma como era tratada esta disciplina, Fusari e

Ferraz (2001, p. 41- 42), postulam que,

o Parecer n° 540/77: ―não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem

contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses‖. Ainda no

mesmo parecer fala-se na importância do ―processo‖ de trabalho e estimulação da

livre expressão. Contraditoriamente a essa diretriz um tanto escolanovista, os

professores de Educação Artística, assim como os das demais disciplinas, deveriam

explicitar os planejamentos de suas aulas com planos de cursos onde objetivos,

conteúdos, métodos e avaliações deveriam estar bem claros e organizados.

Como ficou explícito no trecho citado acima, mesmo tendo sido obrigatório o ensino

das artes com a promulgação da reforma da Lei 5.692/71, houve uma contradição entre a

necessidade do aprendizado artístico por parte dos alunos e a falta de conhecimento para se

ensinar por parte dos professores. Já que as escolas não contavam com profissionais

capacitados para exercer tal função. Sem normas, sem planejamento, as atividades eram

escolhidas pelos alunos, na prática predominava apenas o espontaneísmo, não havia uma

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preocupação metodológica, com isso, passou-se a ideia de que a disciplina não havia conteúdo

e estava longe do cientificismo.

Sendo assim, para Fusari e Ferraz (2001), as atividades se relacionavam à

espontaneidade e improviso, ficando à parte nesse processo o expressar através da arte. Isso

perdurou durante longos anos, tornando-se questões de discussões em encontros nacionais e

internacionais.

Dessa forma, a Educação Artística, antes assim chamada, não pôde alcançar seus

objetivos, que a princípio estavam voltados para a ampliação do universo sonoro dos alunos.

Não se pode deixar de mencionar que essa Arte da qual se trata a Lei em discussão, englobou

áreas artísticas como: música, teatro, artes plásticas e a dança. E a música, que é a arte da qual

se trata esta pesquisa ficou às margens do conhecimento, dividindo o espaço restrito com as

demais áreas, pois, até então, a área de atuação era facultativa à instituição de ensino. Pode-se

inferir, portanto que, todos estes problemas citados contribuíram para a má qualidade do

ensino da Arte e, consequentemente, para o ensino da música no Brasil.

Mesmo com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/

96), a área de atuação do ensino das artes ainda continuou facultativa às escolas. O artigo 26

da LDB/96, § 2°, fala da obrigatoriedade do ensino das artes na educação básica para o

desenvolvimento cultural dos alunos, porém, não deixa explícita a área de atuação. E assim, a

música continuou ausente dos espaços escolares.

Embora persistam algumas contradições das legislações estabelecidas ao longo dos

anos no Brasil, há um documento que normatiza e traz uma compreensão do ensino das artes

nos anos iniciais do Ensino Fundamental, trata-se dos Parâmetros Curriculares Nacionais:

Arte (1997). Este proporciona um auxílio na execução do trabalho pedagógico e tem como

objetivo ―apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como

cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres‖ (PCNs –

ARTES, 1997, p. 08).

Tal documento é composto por quatro linguagens artísticas – Artes Visuais, Dança,

Música e Teatro, além de um histórico. Portanto, apenas a música encontra-se em destaque

nesta pesquisa. Segundo os PCNs - artes (1997, p. 54)

[...] para que a aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de

cidadãos é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente

como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de

aula.

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Considera-se então que é necessário um olhar crítico, voltado para as leis que

normatizam a real prática da música em sala de aula, tendo em vista que estas não surgiram

por um mero acaso, mas como frutos de inúmeras lutas e desafios. Além do mais, percebe-se

dentro desse contexto, a preocupação originada a partir de estudiosos comprometidos com

uma educação em que não alcançassem apenas alguns, mas que esta formação fizesse parte da

escolarização de todos ou pelo menos que atingisse um maior número de pessoas. Até porque

seria ignorância pensar ―num todo‖ neste caso, embora, todos os envolvidos precisam se

sentir responsáveis e compromissados em buscar uma melhor maneira de se trazer a educação

musical para a escola, de forma planejada, organizada e contextualizada.

Destaca-se ainda outro documento, o Referencial Curricular para a Educação Infantil

(RCNEI, 1998). Tendo em vista que a Educação Infantil é considerada a primeira etapa da

Educação Básica, pode-se afirmar que a elaboração deste documento, cujo objetivo é nortear

atividades referentes a crianças de zero a seis anos, além de propiciar reflexões sobre a

realização do trabalho do professor. Convém ressaltar que o volume 3 deste documento traz

questões relevantes voltados para o trabalho pedagógico, dentre elas, a música.

Pode-se afirmar que há décadas a educação musical enfrenta desafios para a sua

implantação, pois, as artes ocupavam apenas lugar de mera ―atividade educativa‖, mas, não

como disciplina. Como dito anteriormente, a LDB/96 a estabelece como obrigatória, no

entanto, à instituição é facultativa a área de atuação.

No ano de 2008, foi sancionada pelo Governo Federal a lei 11.769, que torna

obrigatório o ensino de música na educação básica. Para se adequarem à nova legislação os

estabelecimentos puderam contar com um prazo de 3 anos, a partir da data de sua

promulgação. Essa alteração no § 2º do artigo 26 da LDB/96 deixa bem claro que existe uma

preocupação com o desenvolvimento cultural e social dos alunos, priorizando as expressões

regionais. Pode-se considerar que esta foi uma conquista, embora, esta seja uma área

desprovida de profissionais realmente qualificados e comprometidos com a formação musical

voltada para a sensibilidade.

Provavelmente a implementação da música deverá ocorrer gradativamente, portanto,

todos deverão se empenhar nessa luta e serem conscientes de sua necessidade. É importante

percebê-la como uma forma de propiciar um ambiente estimulador para a valorização da auto-

estima, sensibilidade e ampliação do conhecimento.

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Dentro do contexto atual, ainda se pode perceber a desvalorização musical, com

olhares discriminatórios nos dias de hoje, menções a ela com descaso e como ―passa tempo‖.

Tais atitudes podem estar relacionadas ao passado, regimes autoritários e ideológicos, estes

marcos históricos deixaram cicatrizes profundas para a educação brasileira.

Diante da exposição do contexto histórico e aspectos legais mencionados acima,

entende-se que houve uma evolução considerável. Principalmente considerando o fato de a

música ter sido incluída como componente curricular - disciplina. Tendo em vista que, por

mais que ela tenha desempenhado uma função nacionalista, hoje, a música está conseguindo

ocupar o seu real espaço, embora, vários desafios ainda persistam. E como tal, a seguir serão

discutidos aspectos que enfatizam a sua importância para o aprendizado incluindo a estética

musical.

Arte, música e percepção estética: algumas reflexões

Diante da ideia de procurar entender e compreender a música, sabendo que esta é uma

das formas de expressão artística, veio à tona a necessidade de buscar entender este universo,

tendo em vista que esta é uma temática ignorada por muitos, talvez pelo desconhecimento de

sua importância. De acordo com Duarte Jr (2003), a apreciação musical surge de um

aprendizado e não daquilo que muitos pensam ser ―um dom‖, ou mesmo suposições como:

―aquela pessoa nasceu para a música‖. De acordo com o autor, o gosto pela arte surge a partir

da experiência, ou seja, do contato pessoa-objeto.

Duarte Jr (2003, p. 90) destaca ainda que à ―medida que vamos nos tornando

familiarizados com os códigos estéticos, nossa própria maneira de sentir vai se refinando, isto

é, tornamo-nos progressivamente mais sensíveis as sutilezas de nossa vida interior‖.

Nesse sentido, considera-se importante ressaltar o significado da palavra estética. De

acordo com o Dicionário de Filosofia, ―esse termo designa-se a ciência (filosófica) da arte e

do belo‖ (ABBAGNANO, 2000, p. 367). Para tanto, convém relacionar esta questão, com o

que Duarte Jr (2003) afirma ao longo de sua obra, que o ―belo‖ pode ser belo para um e pode

não ser para o outro. Ou seja, a experiência estética provoca no indivíduo uma reflexão sobre

o belo. Nesse caso, o contato com a diversidade artística se torna fundamental.

Para o Duarte Jr (2003), a apreciação artística, e precisamente neste caso a apreciação

musical, como dito anteriormente, se dá através das experiências. Mas, como seria esta

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experiência estética? Diante de estudos realizados, esta estética a que se refere este texto

relaciona-se ao belo, porém esta beleza não está ligada a algo padronizado e muito menos

aquilo que possa ser quantificado. Para se compreender esta questão, há uma necessidade de

trazer para a discussão, de maneira bastante sucinta, a subjetividade. Como esta é uma

temática muito ampla, aqui não será discutida de forma minuciosa, até porque este não é o

objetivo desta pesquisa.

Pode-se dizer que a subjetividade não nasce com a pessoa, ou seja, ela não pode ser

considerada inata, visto que é adquirida. O ser humano, em contato com o objeto de

conhecimento começa a desenvolver a sua maneira própria de entender o ―seu mundo e o

outro‖. A forma como ele lida com determinadas situações é individual, embora, perpasse

pelas influências do meio social no qual está inserido. E neste caso, essa subjetividade pode

ser entendida como algo que cada pessoa possui, ou mesmo um sentimento demonstrado por

ela em determinadas circunstâncias ou diante de um fato conhecido ou desconhecido.

Conforme Kebach e Silveira (2009, p.146-147)

Quando escutamos música, ou melhor, quando realizamos uma escuta realmente

ativa, em que toda a nossa atenção está voltada para os aspectos gerais de

determinada música, tendemos a associar estes elementos organizados sonoramente

a experiências passadas, ao nosso estado atual no que diz respeito ao emocional. A

atribuição de significados, de sentimentos, a percepção de alguns aspectos da

linguagem musical e não de outros, de alguns instrumentos musicais e não de outros,

depende da subjetividade do ouvinte. A objetivação (ou não) desses aspectos

depende do nível de construções cognitivas que o sujeito já realizou até o momento

desta apreciação, ou seja, daquilo que ele já conhece sobre música. Em termos de

estruturação progressiva dos elementos da linguagem musical, a atividade de

apreciação musical é de extrema relevância. [...] As artes parecem desempenhar um

papel importante como espaço de expressão da subjetividade humana.

Diante disso, a apreciação artística torna-se fundamental, pois, pôde-se perceber que o

gosto pelas ―coisas‖ não nasce junto com o indivíduo, mas ele é capaz de aprender e

internalizar conceitos e desenvolver uma visão crítica sobre o meio em que ele está inserido.

E como as autoras afirmaram no trecho citado acima através da música, o indivíduo é capaz

de demonstrar a sua subjetividade e mesmo relacioná-la a experiências passadas. Para isso, é

necessário um conhecimento prévio, ou seja, a pessoa precisa ter informações anteriores

acerca dos demais aspectos musicais.

Abbagnano (2000) afirma que ―gosto‖ é a capacidade de julgar as obras de arte de

certo estilo. Há uma tendência na sociedade de padronizar / uniformizar o gosto, seja em um

determinado tempo ou mesmo em um determinado grupo. Para Adorno (1986, apud

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BERTONI, 2011), essa padronização está relacionada à influência dos veículos de

comunicação. As influências midiáticas estimulam o consumo padronizado, e o indivíduo

para não se sentir excluído de seu meio, passa a consumir aquilo que lhe é imposto.

Por conseguinte, a pessoa, de forma alienada, inconscientemente, começa a fazer parte

dessa uniformização. O autor considera esta uma ―necessidade social‖. Embora, também

considere ilusória esta situação, pois, para ele a busca de uma ―identidade coletiva‖ acaba por

fortalecer a marginalização cultural da maioria da população (ADORNO, 1986, apud

BERTONI, 2001).

No entanto, não se considera necessário mencionar ou mesmo distinguir uma música

―boa ou ruim‖, mas a intenção é identificar e discutir o gosto, e como este pode ser

desenvolvido. É importante considerar que são várias as possibilidades de interpretações de

uma obra de arte, e neste caso, não se dá importância à uniformidade, mas às várias

experiências vividas.

Para Duarte Jr. (2003, p. 13-14):

[...] a beleza é uma maneira de nos relacionarmos com o mundo. Não tem haver com

formas, medidas, proporções, tonalidades e arranjos pretensamente ideais que

definem algo como belo. Acabou-se o tempo em que os estudos estéticos ditavam

regras de beleza.

Como afirmou o autor, a beleza é a forma de se relacionar com o mundo que está

intrinsecamente relacionada ao sentimento de cada ser humano. Ele afirma ainda que ela não é

uma qualidade objetiva, uma vez que, aquilo que é belo para um pode não ser para o outro.

Dessa forma, compreende-se que a beleza se encontra na relação sujeito e o objeto, sendo que

a beleza perceptível vem ―do interior‖ de cada pessoa, vinculadas as experiências estéticas

vivenciadas ou não.

Diante da discussão em evidência, é fundamental, após ter procurado entender o que é

a experiência estética e como cada um a internaliza, compreender como a arte tal como

concebemos aqui entra nesta questão. Pode-se dizer que a arte é uma forma de expressão do

ser humano. De acordo com Duarte Júnior (2003), a música é uma arte dinâmica, o que

significa que ela vai sendo construída ao longo do tempo.

Para Aranha e Martins (2005), a arte é simbólica, ela não mostra a realidade em si,

mas representa como as coisas poderiam ser. Segundo as autoras, ao criar uma obra de arte, o

artista procura fazer uma ―leitura de mundo‖, não querendo dizer que o mundo seja assim,

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mas que poderia ser e/ou não ser. Dentro desse contexto, a arte é uma representação de

mundo, além de proporcionar um pensamento crítico, que vai além da imaginação humana.

Para isso, a sensibilidade artística é fundamental, assim como citado anteriormente, o contato

e as experiências adquiridas são peças importantes para o desenvolvimento de uma visão

ampla da realidade.

Aranha e Martins (2005, p. 134) afirmam que:

O que se intui na arte, é uma dupla realidade: a realidade da natureza e da vida

humana. Toda grande obra de arte nos permite uma nova aproximação e uma nova

interpretação da natureza e da vida. Mas esta interpretação só é possível em termos

de intuição, não de conceitos; em termos de forma sensível e não de signos

abstratos. Quando perdemos estas formas sensíveis de vista, perdemos a base da

experiência estética.

A partir de uma percepção sensível é que se dá a imaginação criativa, pois a realidade

é alterada. Para que isso ocorra dessa forma, a experiência estética se torna imprescindível e

fundamental, pois esta é uma atitude que exige treino por parte do artista e do observador da

obra de arte. Sobre a importância da arte, Fusari e Ferraz (2001, p. 37) afirmam que:

[...] a importância da arte na educação consiste em se garantir: a) uma aprendizagem

que acompanhe o desenvolvimento natural do indivíduo não só em seus aspectos

intelectuais, mas também sociais, emocionais, perceptivos, físicos e psicológicos; b)

diferentes métodos de ensino (e não um único) para desenvolver, de forma livre e

flexível, a sensibilidade e a conscientização de todos os sentidos (ver, sentir, ouvir,

cheirar, provar), realizando assim uma interação do sujeito com o seu meio e c)

formas construtivas de auto-expressão e auto-identificação dos sentimentos,

emoções e pensamentos dos indivíduos a partir de suas próprias experiências

pessoais, para que eles, bem-ajustados, vivam cooperativamente e contribuam de

forma criadora para a sociedade.

Além da importância da arte, procurou-se entender a experiência estética, e como o

indivíduo pode adquiri-la. Deve-se levar em consideração, também, que o comportamento da

pessoa em relação a uma obra de arte é subjetivo. Pode-se dizer que, diante de uma

apresentação artística, a reação do espectador vai depender de uma sensibilidade adquirida,

que está relacionada aos contatos e experiências obtidas anteriormente com as várias

manifestações da arte. Embora, os fatores culturais influenciem comportamentos sociais, neste

caso, cabe à escola romper com paradigmas impostos, pois a familiaridade com a arte, de

acordo com Aranha e Martins (2005), só podem ser ampliadas a partir do contato com as

várias manifestações da arte. Dessa forma, faz-se necessário proporcionar aos alunos o

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desenvolvimento da sensibilidade e da criatividade, haja vista que o homem tem a

necessidade de enriquecer a imaginação e a formação global da personalidade

Oriol e Parra (1979, p. 10 apud LOUREIRO, 2003, p. 113) consideram que

O ideal de homem plenamente apto para a vida não tem por que estar orientado

estritamente pelos valores profissionais e econômicos, mas há de incluir também sua

preparação para o humanitário, o universal, o ético, o social e o artístico, porque

também o homem atual necessita viver de acordo com esses valores. Quanto mais

completa for a formação da pessoa, mais disposição ela terá para resolver os

múltiplos problemas que uma sociedade em contínuo processo de mudança possa

apresentar. (sic)

Diante da realidade em que as pessoas estão inseridas atualmente, exige-se cada vez

mais indivíduos criativos, e à escola cabe a função de perceber e compreender quais são as

novas habilidades exigidas. E conhecer o grande leque de possibilidades que as artes podem

favorecer para o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos, é uma das formas de estimular

as várias inteligências desse ser em formação.

Segundo Galeffi (1977, apud Fusari e Ferraz 2001, p. 61), ―[...] a educação estética

assemelha-se profundamente com a educação intelectual, principalmente por aprofundar o

interesse cognoscitivo e desenvolver o processo de percepção e capacidade de observação‖.

Dá-se aí a importância de se trabalhar com a educação estética, pois ela é capaz de

proporcionar ao educando o desenvolvimento de outras potencialidades.

Para isso, a escola, como lócus de conhecimento, deve propiciar aos seus educandos

maneiras de estimular o aprendizado, utilizando-se das mais variadas manifestações da arte.

Embora, em alguns tópicos discutiu-se de maneira concisa, a seguir serão mencionados com

mais detalhe sua importância para a questão cognitiva, afetiva e social do indivíduo. Logo,

destacam-se determinadas atitudes que poderão favorecer e estimular este processo.

Contribuição da música na formação humana: desenvolvimento e aprendizagem cognitiva,

afetiva e social

Nogueira (2003) considera a música uma linguagem universal, visto que, está presente

nas mais diversas culturas. A importância da música para o desenvolvimento da criança

envolve não apenas o cognitivo, mas, também, o afetivo e o social. De acordo com Snyders

(1992, apud NOGUEIRA, 2003), ―nunca uma geração viveu tão intensamente a música como

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as atuais‖. Como prova dessa citação, pode-se levar em consideração as mais diversas

ocasiões em que se ouve a música. Ela está presente nas comemorações, no cotidiano das

pessoas, enfim, a música faz parte do dia-a-dia de muitos.

Portanto, a música é um fator cultural, já que toda criança está imersa não apenas

naquela cultura a qual pertence sua família, mas, também, no meio social no qual ela cresce.

Nogueira (2003) ressalta que o desenvolvimento de uma criança indígena é diferente do

desenvolvimento de uma criança branca, influenciadas por suas respectivas músicas. Assim,

como é diferente o desenvolvimento daquela que é influenciada pela música, daquela criança

que não é.

Segundo a autora citada acima, várias pesquisas confirmam a importância da música

para o desenvolvimento da criança. Muitas pesquisas comprovaram que o bebê, mesmo ainda

dentro do útero materno, reage a estímulos sonoros. Além disso, a música tem a capacidade

de propiciar o estímulo cerebral, e para isso, o indivíduo não tem a necessidade de saber

cantar ou tocar um instrumento, mas, mesmo através da apreciação, esses estímulos são

bastante claros.

Para Nogueira (2003), a prática desta arte possibilita à criança o desenvolvimento da

aprendizagem cognitiva em diversos campos de atuação, como: raciocínio-lógico, memória e

outros. Visto dessa forma, estimular a musicalização é fundamental para o aprendizado, neste

caso, vivenciar os diferentes sons torna-se importante, tanto aqueles que podem ser notados

como aqueles que não. Schafer (1991) afirma que o ―mundo‖ está rodeado de sons, tantos os

agradáveis como os que não são, no entanto, é preciso abrir os ouvidos para os sons com a

intenção de ouvi-los.

Com relação ao desenvolvimento afetivo da criança, Nogueira (2003) evidencia, algo

que as pessoas já imaginavam no passado como ao colocar uma música serena para um bebê,

ele tende a se tornar mais calmo, colocá-lo ao lado esquerdo junto ao peito, também. De

acordo com pesquisas, enfatizando o segundo exemplo citado, a criança nessa posição ouve as

batidas do coração, e para ela, este já era um som conhecido, quando estava no útero materno.

Além desse fato, outros foram comprovados em estudos realizados, com a intenção de

verificar o grau de abrangência musical. Constatou-se que pessoas que tinham uma prática

musical apresentavam um desenvolvimento significativo, particularmente em regiões

responsáveis pela audição, visão e coordenação motora. E assim, a música passou a ser

apontada como uma das áreas mais importantes a serem trabalhadas durante a infância. Não

importando se este contato musical seja por meio de aprendizagem instrumental, ou se apenas

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pela apreciação. Platão afirmou que a música é a ginástica da alma. E como tal deve ser

exercitada (NOGUEIRA, 2003).

Segundo Nogueira (2003), a música é capaz de acionar partes do cérebro que estão

relacionadas com estados de euforia. A autora ressalta que pesquisas comprovaram a eficácia

em tratamentos hospitalares, os quais utilizaram a música como elemento fundamental com o

objetivo de controlar a ansiedade dos pacientes. Segundo a autora, conhecimentos

anteriormente mencionados apenas no senso comum (sabedoria popular) migraram-se para o

conhecimento científico, devido às comprovações científicas.

A música possibilita à criança sentir-se componente do grupo, ou seja, através das

canções de ninar, brincadeiras cantadas e outras que fazem parte da sua realidade, ela é

inserida na sua própria cultura. Através dessa arte, a criança internaliza comportamentos

sociais como aprendizado de regras, respeito com outro etc. Nogueira (2003) destaca que as

cantigas populares transmitidas de geração para geração, tratam de temas como amor, disputa,

tristeza e que, segundo a autora, são temas que provavelmente serão no futuro enfrentados por

estas crianças. Para ela, os resultados educativos proporcionados por estas experiências não

serão encontrados em nenhum outro brinquedo sofisticado. A autora considera a educação

musical uma preparação para a vida e, além disso, ela é o meio de comunicação e expressão

mais presente no meio dos jovens.

Dentro desse contexto, algumas práticas pedagógicas precisam ser repensadas. Nesse

caso, algumas metodologias serão sugeridas a partir de documentos e embasamentos teóricos

que direcionam tal ação, a fim de permitir a melhor compreensão desses aspectos.

Para tanto, algumas discussões referentes à formação do professor serão feitas durante

este estudo. Assim sendo, reflexões teóricas foram relevantes para que se possa compreender

tal conhecimento, haja vista, que este trabalho em vários momentos enfatiza algumas formas

adequadas para desenvolver tal ação, além disso, consideram tal discussão como um desafio.

A importância da música em sala de aula: o fazer e a apreciação musical

Considerando-se a relevância de reflexão acerca das práticas musicais em sala de aula,

é importante analisar uma citação de Koellreutter (1990, p. 6 apud LOUREIRO, 2003, p.

115):

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[...] a arte, e a música em particular, deverão ser o meio de preservação e

fortalecimento da comunicação pessoa a pessoa. [...] E a educação musical deve

transformar-se num instrumento de progresso, de soerguimento da personalidade e

do estímulo à criatividade. (sic)

Loureiro (2003) afirma que um dos grandes problemas enfrentados pela área da

educação musical é a falta de sistematização do ensino de música. Sendo assim, a autora

aborda pontos como, por exemplo, o desconhecimento de tal área pelo professor.

De acordo com o Referencial Curricular para a Educação Infantil (RCNEI, 1998), a

música tem sido utilizada de forma estereotipada e mecânica, inculcando nos alunos apenas

repetições, com o objetivo de atender a vários outros propósitos, como a formação de hábitos,

atitudes e comportamentos. Este documento aponta que ―isso reforça o aspecto mecânico e a

imitação, deixando pouco ou nenhum espaço às atividades de criação ou às questões ligadas à

percepção e conhecimento das possibilidades e qualidades expressivas dos sons‖ (RCNEI,

1998, p. 47).

Para Loureiro (2003), ao transformar a música em atividade lúdica, o professor deixa

de alcançar através dela seu real objetivo. A autora aponta que a educação musical vai além

dessa prática pedagógica. E ressalta que discussões sobre a importância da música perpassam

por outras áreas de conhecimento, como a sociologia, a psicologia, a etnomusicologia, a

filosofia. Análises envolvendo tais disciplinas contribuíram para auxiliar nas reflexões da

necessidade de incluir a música como componente curricular.

E para que a música possa desempenhar tal função, é fundamental repensar a postura

da escola e do professor – mediador – quanto às práticas pedagógicas que podem ou não

contribuir para o desenvolvimento da criança. Assim como a música pode estimular o

aprendizado quando trabalhada de maneira consciente, ou seja, com práticas que

proporcionem a criatividade do aluno, ela também pode causar prejuízos ao educando, além

daqueles causados à própria Educação Musical.

Entende-se que um importante ponto de partida para estimular a educação musical, e

neste caso à musicalização, é proporcionar à criança desde os seus primeiros anos de vida o

contato com os mais variados sons. Como Schafer (1991) menciona que é fundamental

instigar a percepção dos sons do ―mundo‖, ou seja, aqueles sons que fazem parte do cotidiano

de cada um. Para isso, deve-se estar atento e respeitar a faixa etária de cada criança.

Conforme o RCNEI (1998, p. 52),

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A expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela ênfase nos aspectos

intuitivo e afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As

crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto

brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e

dramatizam situações sonoras diversas, conferindo ―personalidade‖ e significados

simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical.

Aos poucos esse processo de desenvolvimento da criança amplia-se cada vez mais ao

estimulá-la. É comum que ela comece a improvisar algumas canções a partir de histórias

ouvidas e em outras atividades como as brincadeiras, por exemplo, quando a criança sozinha

inventa longas canções.

Como já foi citada anteriormente, a fase de desenvolvimento da criança deve ser

respeitada e os conteúdos a serem trabalhados nessa faixa etária deverão priorizar a

possibilidade de desenvolver a comunicação e expressão por meio dessa linguagem. Segundo

o RCNEI (1998, p. 57) os conteúdos deverão abranger:

• a exploração de materiais e a escuta de obras musicais para propiciar o contato e

experiências com a matéria-prima da linguagem musical: o som (e suas qualidades)

e o silêncio;

• a vivência da organização dos sons e silêncios em linguagem musical pelo fazer e

pelo contato com obras diversas;

• a reflexão sobre a música como produto cultural do ser humano é importante forma

de conhecer e representar o mundo.

Ao seguir esta proposta de trabalho, é relevante que o professor realmente domine esta

área. Deve ser consciente de que a letra da música trabalhada é acessível à faixa etária, os

excessos de gestos podem comprometer a realização musical. Nesse caso, contradiz a

integração da expressão musical e corporal. Além disso, são inúmeros os sons que podem ser

trabalhados em sala de aula. Essa percepção pode ser explorada a partir de vários objetos

utilizados pelas crianças, ou mesmo aqueles confeccionados com o auxílio do educador.

A presença do silêncio como elemento complementar ao som é essencial à

organização musical. O silêncio valoriza o som, cria expectativa e é, também,

música. [...] Ouvir e classificar os sons quanto à altura, valendo-se das vozes dos

animais, dos objetos e máquinas, dos instrumentos musicais, comparando,

estabelecendo relações e, principalmente, lidando com essas informações em

contextos de realizações musicais pode acrescentar, enriquecer e transformar a

experiência musical das crianças. (BRASIL, 1998, p. 59)

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São várias as possibilidades que podem ser exploradas com a intenção de ampliar o

universo sonoro das crianças de zero a seis anos, ou seja, Educação Infantil, embora, alguns

cuidados devam ser tomados, principalmente saber que muitos repertórios ―infantis‖ não

trazem contribuições para o conhecimento da criança. Tendo em vista que muitas delas têm a

intenção de padronizar o gosto, isto é, muitas delas são veiculadas pela mídia, produzidas pela

indústria cultural. Sobre este assunto, anteriormente apresentou-se nesta pesquisa reflexões

acerca da uniformização do gosto embasadas em algumas teorias de Adorno.

De acordo com o RCNEI (1998), as regiões do país são muito ricas em produções

musicais, segundo este documento, ao professor cabe a função de resgatar os valores musicais

de sua cultura. Entretanto, afirma que a linguagem musical de outros países deve ser

apresentada aos alunos. E esta linguagem deve ser percebida como uma maneira de interpretar

o mundo, e que esta traz em sua forma a marca de um povo, e de uma determinada época.

Segundo Loureiro (2003), a música tem a função de promover o desenvolvimento do

ser humano. Para isso, os espaços precisam ser abertos para a liberdade de criação, pois estas

crianças são agentes ativos de seu processo de aprendizado, e como tal, necessita de ações

próprias sobre o material sonoro. A educação na sociedade contemporânea é justificada pela

função de

[...] promover o desenvolvimento do ser humano, não por meio do adestramento e

da alienação, mas por meio da conscientização da interdependência entre corpo e a

mente, entre a razão e a sensibilidade, entre a ciência e a estética. (LOUREIRO,

2003, p. 142)

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN-Artes, 1997), ―as

composições, improvisações e interpretações são os produtos da música‖. Estas composições

podem partir do simples silêncio unindo-o aos sons do meio como a fala, sons produzidos

pelo próprio corpo como – batida das mãos, batida dos pés - materiais disponíveis que

possam produzir sons, e outros. Os momentos de interpretações musicais são fundamentais,

pois este é um espaço reservado para dar significado à linguagem musical, além de

desenvolver o conhecimento em música.

Há necessidade de se compreender as diferenças entre composição e interpretação. Por

exemplo, em uma canção

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elementos como melodia ou letra fazem parte da composição, mas a canção só se faz

presente pela interpretação, com todos os demais elementos: instrumentos, arranjos

em sua concepção formal, arranjos de base com seus padrões rítmicos,

características interpretativas, improvisações, etc. (PCN-ARTE, 1997, p. 54)

A improvisação está entre a composição e a interpretação. Todos esses momentos são

considerados propícios para estimular a imaginação, a criatividade e a sensibilidade, tendo

em vista que a criança está imersa em meios em que a variedade de estímulos sonoros chega

facilmente até elas. Compete ao professor ser consciente dessa realidade, e buscar maneiras

de aceitar o novo e não ficar alheio às transformações. É importante utilizar-se de recursos

que possam enriquecer o conhecimento e ampliar o pensamento crítico, visto que, são várias

as novidades, com variados estilos, com produções que chamam a atenção da criança. E estes

fazem parte da realidade desses alunos, e neste caso, necessitam conhecê-lo, com a intenção

de analisar e ampliar a criticidade (LOUREIRO, 2003).

Para Souza (1996, p. 26 apud LOUREIRO, 2003, p. 171), ―o significado musical é

construído culturalmente, em dadas condições contextuais, e ignorá-las pode implicar a

projeção de preconceitos e distorções‖. Assim como reservar o fazer musical à grande minoria

é privilegiar apenas uma classe, ou seja, aquela que possui uma educação cultural distinta e

elitista, da maioria que não a possui, são mecanismos que aumentam a exclusão.

Segundo a Constituição Federal (1988),

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o

saber;

Nesse caso, negar o aprendizado musical a uma grande parcela da sociedade contradiz

a própria Constituição Federal (1988), que tem como um de seus princípios a igualdade de

condições e liberdade de participar como agente ativo em seu processo de aprendizagem.

Quanto ao professor de música, considerou-se importante refletir sobre a sua

formação, tendo em vista o lugar que a música passou a ocupar compondo o currículo escolar

como disciplina, e como tal necessita ser trabalhada tanto a sua teoria quanto a sua prática,

evidenciando quais competências incumbem ao professor dessa área.

Segundo Schafer (1991), a música deve ser ensinada por pessoas qualificadas. O autor

rejeita a ideia de que o professor deve ser uma espécie de herói, e que ele deve ser eficiente e

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dominar várias disciplinas. Para ele, ―é preferível poucas coisas boas a muitas de má

qualidade‖ (SCHAFER, 1991, p. 304).

Esta é uma questão que envolve políticas públicas de administração escolar. Loureiro

(2003) alerta quanto à importância do investimento por parte das universidades na formação

do professor. Para a autora, não importa apenas que o educador goste de música, mas, que ele

tenha o mínimo de conhecimento para que possa conduzir esta aula. Para ela, ―ser professor é

permitir-se parar, refletir e refazer. Não existe um caminho pronto, uma forma infalível‖

(LOUREIRO, 2003, p. 202). Embora o gostar da música seja importante, ser um professor de

música não se resume apenas nesta questão. Uma vez que não há uma fórmula pronta, mas

existem meios que direcionam o trabalho pedagógico, trata-se dos embasamentos teóricos que

direcionam esta tarefa.

Considerações finais

Verificou-se durante esta pesquisa, que a música é capaz de estimular várias áreas do

conhecimento. Ela combina expressão de ideias, sentimentos, valores culturais e também

facilita a comunicação do indivíduo consigo mesmo e com o seu meio. Nesse caso, é

considerada como facilitadora do processo de aprendizagem. Assim, pode-se afirmar que a

educação musical estimula o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e estético, permite ao

indivíduo vivenciar experiências sensíveis, consideradas de extrema relevância no contexto

escolar.

Porém, ficou retratado neste estudo, que a inserção da música no Brasil, passou por

vários momentos difíceis e contraditórios no decorrer dos anos. Prova disso, é que foi apenas

com a sanção da Lei 11.769/08, que a educação musical foi realmente reconhecida como

componente curricular. Outrora, ela tivesse sido sempre utilizada de forma estereotipada

(mecânica e persuasiva). Entretanto, é fundamental perceber que a educação musical é capaz

de promover o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade do educando. Vista assim, é

importante que o professor não fique alheio as inúmeras possibilidades de se trabalhar com a

educação musical.

Dessa forma, encarar como um desafio a função de professor, se torna uma meta que

envolve ser criativo, ser acessível às transformações e fazer parte delas. Como dito

anteriormente, não existe uma fórmula pronta ou método para que o educador musical o siga

rigorosamente. Mas há os conhecimentos do meio em que ele está inserido, como a sua

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cultura, os gostos predominantes, estes últimos influenciados pela mídia ou não, se tornam

aliados para o desenvolvimento de seus próprios métodos.

Entretanto, cabe ressaltar que mesmo reconhecendo o leque de possibilidades para se

trabalhar com a educação musical, alguns fatores, como principalmente a falta de

profissionais qualificados, se tornam um desafio para a sua real inserção. Pois, este trabalho

deixa claro que, para que haja uma verdadeira educação musical, é necessário que o professor

seja conhecedor dessa área. Caso não ocorra de tal maneira, a educação musical poderá

continuar exercendo a função que sempre ocupou, ou seja, ―meras atividades‖ educativas.

Neste caso, também ocupando um lugar, como: forma de controlar, disciplinar, esta última,

no sentido de obediência, e ainda, sobretudo como ―passa tempo‖. Dessa forma, o processo

da educação musical e como tal, componente curricular obrigatório, implantada a partir da Lei

11.769/08 deixa de alcançar sua finalidade.

Diante da exposição desta pesquisa, percebe-se que a Arte, e neste caso, a educação

musical sempre foi colocada como ―menos‖ importante que as demais disciplinas. Sendo

assim, um dos vários problemas que poderão ser enfrentados para a efetivação da música

como componente curricular, além daqueles já mencionados anteriormente, estará relacionado

ao fator – professor unidocente, ou seja, além de o educador ministrar todos os conteúdos das

outras disciplinas, deverá ministrar as aulas de música. Ficou explicito no decorrer deste

artigo que, mesmo que tenha sido legalizado o ensino de música no Brasil, percebe-se que,

existem políticas públicas de administração escolar descomprometidas com esta questão.

Pois, em momento algum, houve uma legalização quanto à formação do professor desta área.

Sendo assim, o ensino de música poderá apenas ser um ―fazer de conta‖. Quanto à educação,

no sentido global da palavra, esta deveria ser prioritária, e ainda deveria estar para todos, não

apenas para um pequeno grupo, considerados elitizados.

Abstract: This paper aims to provide a reflection on the importance of music as a curricular

component in schools. The principle provides a historical background and legal aspects, the

latter followed by a discussion whit the aim of understanding the importance of aesthetic

perception to the development of the individual’s sensitivity. With this context, we seek to

encourage trough music appreciation and music making. In addition to perceiving it as a way

to provide and stimulate the cognitive, affective and social. For this purpose, relied on

theoretical grounds of: Abbagnano (2000); Aranha and Martins (2005); Duarte Jr (2003);

Ferreira (2009) Fusari and Ferraz (2001); Kebach and Beyer (2009); Nogueira (2003):

Loureiro (2003); Schafer (1991) and others. Moreover, is based in documents that legalize,

regulate and direct the educational work were key to enhancing this research.

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Keywords: Music. Curricular component. Development.

Referências

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coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da tradução e tradução dos novos textos Ivone

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