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¹ Artigo orientado pelo Profº. Drº. Marcos Silva da Silveira, da Universidade Federal do Paraná. [email protected] ² Professora de História do Colégio Estadual Santo Agostinho Ensino Fundamental e Médio. Curitiba PR. PDE 2009. [email protected] A NATURALIZAÇÃO DOS EDUCADORES FRENTE AOS PROBLEMAS ETNICORRACIAIS, A DISCRIMINAÇÃO E A DESIGUALDADE RACIAL Marcos silva da Silveira ¹ Veroni Salete Del Ré² RESUMO Este artigo é o resultado de estudos, pesquisas e reflexões, do dia a dia de educadores, acerca de ações sobre a Lei 10639/03 e, com vistas a elaborar práticas, subsidiando os (as) Trabalhadores em Educação, em sala de aula e fora dela, a construir e reconstruir conceitos, deixando assim de ser um mero reprodutor de conteúdos e de ideologias, possibilitando aos educando afro-descendentes o resgate de sua identidade étnico respeitando a diversidade étnica, a história e a cultura negra no Brasil. Ensinar a História e a Cultura Africana e Afro Brasileira, não é mais uma questão de vontade pessoal e de interesse particular, mas sim, uma questão curricular de caráter obrigatório que envolve toda a comunidade escolar, não apenas como instrumento de orientação para o combate a discriminação, mas também, como Leis Afirmativas, no sentido de que reconhecem a escola como um espaço de formação de cidadãos e afirmam a relevância de que a escola deve promover a necessária valorização das matrizes culturais que fizeram do Brasil um país rico, múltiplo e plural que somos. Para avançar na direção da constituição de relações sociais justas e igualitárias, a educação, necessariamente necessita desvelar e superar as ideologias de dominação fundadoras da realidade brasileira, entre elas, a ideologia de dominação racial.

A NATURALIZAÇÃO DOS EDUCADORES FRENTE AOS ......do Paraná. [email protected] ² Professora de História do Colégio Estadual Santo Agostinho – Ensino Fundamental e Médio

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¹ Artigo orientado pelo Profº. Drº. Marcos Silva da Silveira, da Universidade Federal

do Paraná. [email protected]

² Professora de História do Colégio Estadual Santo Agostinho – Ensino Fundamental e

Médio. Curitiba – PR. PDE 2009. [email protected]

A NATURALIZAÇÃO DOS EDUCADORES FRENTE AOS PROBLEMAS ETNICORRACIAIS, A DISCRIMINAÇÃO E A DESIGUALDADE RACIAL

Marcos silva da Silveira ¹

Veroni Salete Del Ré²

RESUMO

Este artigo é o resultado de estudos, pesquisas e reflexões, do dia a

dia de educadores, acerca de ações sobre a Lei 10639/03 e, com vistas a

elaborar práticas, subsidiando os (as) Trabalhadores em Educação, em sala

de aula e fora dela, a construir e reconstruir conceitos, deixando assim de ser

um mero reprodutor de conteúdos e de ideologias, possibilitando aos

educando afro-descendentes o resgate de sua identidade étnico respeitando

a diversidade étnica, a história e a cultura negra no Brasil.

Ensinar a História e a Cultura Africana e Afro Brasileira, não é mais

uma questão de vontade pessoal e de interesse particular, mas sim, uma

questão curricular de caráter obrigatório que envolve toda a comunidade

escolar, não apenas como instrumento de orientação para o combate a

discriminação, mas também, como Leis Afirmativas, no sentido de que

reconhecem a escola como um espaço de formação de cidadãos e afirmam a

relevância de que a escola deve promover a necessária valorização das

matrizes culturais que fizeram do Brasil um país rico, múltiplo e plural que

somos.

Para avançar na direção da constituição de relações sociais justas e

igualitárias, a educação, necessariamente necessita desvelar e superar as

ideologias de dominação fundadoras da realidade brasileira, entre elas, a

ideologia de dominação racial.

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ABSTRACT

This article is the result of studies, research and reflections, the daily lives of

educators, about actions on the Law 10639/03 and Affirmative Action, with a

view to developing practical, subsidizing (as) Education Workers in room

classroom and beyond, to construct and reconstruct concepts, hence no

longer a mere player content and ideologies, enabling educating african

descent the rescue of his ethnic identity while respecting the ethnic diversity,

history and black culture in Brazil.

Teaching the History and Culture African and Afro Brazilian, is no longer a

matter of personal will and of particular interest, but rather a question of

mandatory curriculum that involves the entire school community, not only as a

guiding tool for combating discrimination But, like Affirmative Acts, in the

sense that recognize the school as a training citizens and affirm the

importance that schools should promote the necessary appreciation of the

cultural matrix that made Brazil a rich country, multiple and plural are.

To move toward the establishment of fair and equal social relations, education,

necessarily need to reveal and overcome the ideological domination of the

founders of Brazilian reality, among them the ideology of racial domination.

Palavras-chaves: Preconceito; Desigualdade Étnica Racial; Democracia

Racial; Lei 10639/03.

INTRODUÇÃO

Em janeiro de 2003, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina a Lei

N.º 10.639/03 que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e

Afro Brasileira nos estabelecimentos da educação básica no Brasil, e,

posteriormente, a Lei N.º 11645/2008, que dá a mesma orientação à temática

Indígena.

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Embora a Constituição Brasileira de 1988, afirme que todos os brasileiros

são iguais e têm os mesmos direitos perante a Lei, os dados oficiais

comprovam que isso não é uma realidade com relação aos negros e pardos.

Segundo o Mapa de exclusão educacional, Divulgado pelo Ministério da

Educação e Desporto em 2003, os brancos tem quatro vezes mais acesso ao

ensino superior do que os negros, pardos e indígenas.

O Brasil é a segunda maior nação negra do mundo. No entanto, ainda

pesa a herança de três séculos e meio de escravização e de um longo

período de invisibilidade, que se traduz em preconceito, discriminação e

exclusão social.

Em 2003, para garantir o acesso dos negros ao ensino superior, algumas

instituições públicas de ensino superior, passaram a destinar cotas de suas

vagas a estudantes negros. A decisão causou polêmica. Alguns setores da

sociedade se opuseram a ela; outros se mostraram favoráveis.

Por que uma lei para fazer valer conteúdo tão fundamental na história,

especialmente na história nacional? O fato é que ao longo da nossa história,

antigos historiadores trataram indevidamente, ou ignoraram a participação

africana em nossa formação, influenciados por preconceitos originários da

sociedade escravista, entre os quais os ideais de branqueamento da

população brasileira nutridos, desde meados do século XIX, por boa parte das

elites nacionais.

Essa ideologia foi tão forte que mesmo a intelectualidade mais

progressista custou a reconhecer a questão africana na nossa história.

Acreditava-se que a luta dos africanos deveria ser estudada dentro da “luta

dos dominados”, ou seja, segundo a sua condição de trabalhadores

explorados.

Assim, num processo de ensino aprendizagem da História Africana, o

grande desafio é enfrentar os preconceitos adquiridos ao longo da história, de

“desinformação” sobre o continente Africano, pois normalmente as

informações apresentaram e apresentam caráter racista, alienante e restritivo.

Um desafio frente á implementação da Lei 10639/2003 é a integração

da teoria-prática. O abismo entre o que dizem os livros, o que se fala, e o que

de fato, acontece no cotidiano escolar é tão grande, que muitas vezes chega

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a ser uma utopia, uma esperança. É desafiante, pois, estamos falando de

diversidade, diferenças, de visões predominantes de mundo, muitas vezes

antagônicas.

Igualdade pressupõe semelhanças e diferenças, e não contempla a

inferioridade, que é a marca do preconceito e da discriminação racial. O que

se evidencia é a falta de oportunidade e de acesso, e não a falta de

capacidade e de competências. Sabe-se que a aprendizagem na escola não

deveria se restringir apenas aos conteúdos dos programas curriculares, pois

como cita Arroyo (2007, p.23)

O ordenamento curricular não é neutro, é condicionado por essa pluralidade

de imagens sociais que nos chegam de fora. Imagens sociais de crianças,

adolescentes, jovens ou adultos nas hierarquias sociais, raciais ou de gênero,

no campo e na cidade ou nas ruas e morros. Essas imagens sociais são a

matéria-prima com que configuramos as imagens e protótipos de alunos.

Os currículos deverão incluir “o estudo da história da África e dos africanos, a

luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da

sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,

econômica e política (...)”.

Proporcionar ao educando a aprendizagem contínua, é função social

do/a professor/a e da escola na busca de uma sociedade justa e igualitária e

se torna inconcebível que a "naturalização" das desigualdades etnicorraciais

atinja de modo eficiente e de proporções gigantescas, o sistema educacional.

Portanto os/as professores/as, através de sua atuação em sala devem

refletir que “faz parte igualmente do pensar certa a rejeição mais decidida

qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de gênero

ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.”

(FREIRE, p.39, 1997).

Faz-se necessário, portanto, analisar como se dá a abordagem das

questões étnicas na prática do docente, através da implementação da Lei

10639/03 e 11645/08, que trata sobre a obrigatoriedade do Ensino de

História, Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena na Educação Básica e

suas diretrizes.

Para possibilitar esse desvelamento, este artigo, propõe elencar

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referenciais e princípios que podem nortear na construção da “Pedagogia da

Diversidade”, contribuindo para a Educação das Relações entre Negros e

Brancos, para que estas possam construir-se de forma harmônica, em clima

de respeito.

Neste sentido, este Artigo tem a pretensão e a intenção de mostrar que

a educação é uma ferramenta importante para a superação do nefasto mito

da democracia racial brasileira. Mito este que ao "naturalizar" o racismo,

configura-se como um instrumento eficaz para a manutenção das diferenças

sociais etnicorraciais no país. Por isso faz-se necessário debater o porquê da

“naturalização dos educadores frente aos problemas etnicorraciais, a

discriminação e a desigualdade racial”?

Pretende-se, que o cumprimento da Lei 10639/03 não se dê apenas

como uma obrigação legal. As atividades pedagógicas que objetivam

desenvolver um processo de desnaturalização das manifestações de cunho

racial no interior da escola e na comunidade.

REFLEXÕES SOBRE ALGUNS CONCEITOS

O IBGE é um dos órgãos oficias do Brasil que trabalha com censo de

cor no Brasil. O IBGE não trabalha com categoria de raça, nem descendência.

Trabalha apenas com a cor: branco, preto, pardo, amarelo e com a categoria

indígena para identificar os indígenas. Os negros são, portanto, a soma dos

“pretos”, mais “pardos”.

Exemplo: O Brasil é a segunda nação negra do mundo. 50,6% da

população são de negros. Destes, a maioria se auto-declara como sendo

“pardos”.

NEGRO:

Construída fora do Continente Africano na diáspora para caracterizar

a diferença do outro. Uma espécie de marca.

No Brasil os africanos e seus descendentes eram chamados de

“pretos”, de “negros”, mas também de “cidadãos de cor”. Segundo José

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Correia Leite o termo “preto” historicamente era utilizado pelos escravocratas

para designar os “escravos dóceis e gentis” e o “negro” para os negros que

resistiam à escravidão (revoltosos fujões).

Quem é Negro?

É aquele que é socialmente reconhecido como negro.

São os pretos e os pardos por sua ascendência africana e que se identificam

com grupo étnico afro brasileiro;

Quem é o Branco?

São os brasileiros com ascendência européia e que se identificam

principalmente com o grupo europeu;

Quem é Pardo?

São os brasileiros com ascendência africana e européia e que se identificam

principalmente como afro brasileiro;

Esta categoria, apesar de utilizada há décadas pelo IBGE, era praticamente

inexistente no imaginário das pessoas. Atualmente, em função dos

programas de ações afirmativas elas estão aparecendo mais.

PRETO:

Atualmente é uma categoria de cor utilizada pelo IBGE, em que os

“negros” estão incluídos. Historicamente o termo tinha relação direta com a

identificação genérica do escravizado que não resistia (dócil, trabalhador,

ordeiro). Ainda é possível identificar estas categorias em “comunidades

negras ou tradicionais”;

Quem é Preto?

São brasileiros com ascendência africana e que se identificam principalmente

com os afros brasileiros;

“Vem cá minha preta!!!” (sentido carinhoso)

“A coisa ta preta!!!” (sentido pejorativo)

Quem é Amarelo?

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São os brasileiros com ascendências oriental/asiática e que se identificam

com esse grupo;

Quem é Indígena?

São os brasileiros nativos e aqueles com ascendência indígena e que se

identificam com esse grupo.

AFROBRASILEIRO:

Surge na década de 70 e é difundido na década de 80. Está

vinculado à origem e a cultura africana e ao território de nascimento do

indivíduo, marcando, portanto, uma situação sócio-cultural e com viés

identitário.

Deste modo, o afro-brasileiro é alguém caracterizado não somente

pelo fenótipo, mas também pela cultura que porta consigo. Cultura esta

originada na África ou por seus descendentes na diáspora imposta pela

escravidão.

AFRODESCEDENTE:

Surge no séc. XX no bojo do Movimento Social Negro e tem mais

visibilidade a partir do ano de 2001 (Conferência Mundial de Combate ao

Racismo) em que vários países ao discordar do termo “negro” acordaram que

a categoria mais aceita para fins de ações afirmativas e reparações é a de

AFRODESCENDENTE. Neste contexto é que o Estatuto da Igualdade que

trabalha com a categoria “afrodescendente” assim como os diversos

programas de ações afirmativas voltados para negros no mercado de trabalho

e na universidade.

Exemplo: O Edital do Programa de Cotas Raciais da UFPR assegura

que os interessados em ingressar por cotas raciais devem “se auto-declarar

como sendo AFRODESCENDENTES, ser „preto‟ ou „pardo‟, conforme o IBGE,

e apresentar características fenotípicas que o identifique o tipo „negro‟”. O

termo “afrodescendente” substitui o termo “negro” em função de como o país

juridicamente compreende o termo desde 2001.

RACISMO:

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Comportamento hostil e de menosprezo em relação a grupos humanos

entendidos como “inferiores” por outros grupos que se consideram

“superiores”. O racismo se pauta pelas características físicas e culturais

que identificam um grupo.

Surge na sociedade ocidental do século XVIII quando se procurava bases

“científicas” para explicar as diferenças entre os seres humanos e justificar a

dominação colonial expansionista.

Durante o século XIX o racismo fixou-se como uma doutrina, uma ideologia

(formulação teórica e política) de dominação.

Justificou a escravização dos povos africanos e o massacre dos judeus na

Segunda Guerra Mundial.

INTOLERÂNCIA:

Falta de respeito em relação às praticas e crenças alheias, que por

serem diferente das nossas são tidas como “erradas” e sem direito de existir.

A intolerância pode produzir-se pela rejeição ou exclusão de pessoas

por causa da sua crença religiosa, orientação sexual, ou mesmo de

vestimenta ou corte de cabelo.

XENOFOBIA:

Termo de origem grega que significa: “medo ou aversão ao

estrangeiro”.

Alimenta-se de estereótipos e preconceitos em relação aos que são

considerados estrangeiros (desconhecidos).

Traduz-se muitas vezes na rejeição, na violência.

Exemplo: no Brasil, estrangeiros europeus recebem melhor tratamento do que

estrangeiros africanos.

PRECONCEITO:

É uma idéia que fazemos de uma pessoa, grupo ou indivíduo sem a

conhecermos bem.

Um tipo de sentimento ou opinião irrefletida, (Idéia pré-concebida). O

preconceito procura justificar o injustificável, ou seja, o tratamento desigual e

a discriminação.

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Exemplo: “Fernando não sabe lavar roupa muito bem, porque homem não é

bom nestas coisas”.

DISCRIMINAÇÃO:

É a conduta que viola direitos das pessoas com base em critérios

como raça, sexo, idade, orientação sexual, religião, etc.

A discriminação é a materialização do racismo, do preconceito e do

estereótipo.

MARGINALIZAÇÃO:

O conceito de marginalização está vinculado aos processos de

exclusão do outro promovido por um indivíduo ou grupo social.

Marginalizar é colocar a margem da vida social, dos centros decisórios, na

periferia do sistema e das relações cotidianas existente na sociedade.

Exemplo: os negros geralmente estão concentrados nas periferias das

cidades, ganham (fazendo o mesmo serviço) menos que um branco.

GRUPO ÉTNICO:

Conjunto de indivíduos que se percebem e são percebidos como

formando um grupo humano distinto de outros com os quais interagem em

relações sociais contraditórias, geradoras de identidades coletivas que irão se

basear na construção de auto-identificação cultural, através de diversos

elementos, como língua, religião e costumes comuns.

Exemplo: Índios: Guarani # Kaingang

Negros: Bantus # Sudanês

Brancos # Negros

DESAFIOS PARA A IMPEMENTAÇÃO DA LEI 10639/2003:

Uma das saídas para o fim das desigualdades educacionais do Brasil

está em enfrentar as desigualdades raciais que estão presentes no ambiente

escolar. A Educação não tem cor, e é possível combater o preconceito racial

que existe, sim, na escola, através de projetos e discussões. Está em nossas

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mãos, enquanto educadores comprometidos com o sucesso das crianças

negras e brancas, como alunos (as) e cidadãos, defensoras dos seus direitos.

Percebemos que a temática sobre a Igualdade Racial, das

Africanidades, das Relações etnicorraciais, ganha visibilidade significativa no

cenário Nacional.

Assim, quero destacar a tensão existente entre o reconhecimento, a

necessidade, a priorização e a ação. A discussão e a ação dos/as

professores/as, no cotidiano escolar, tem sido uma demanda reprimida da

sociedade brasileira, referente às questões dos negros.

Há uma grande distância e um longo caminho, com muitos obstáculos

a percorrer, entre a intenção e a ação, como a realidade social e histórica da

população negra; O silêncio, o sorriso e a conivência ainda são ações

pedagógicas, cúmplice do racismo; A disposição afetiva, política e pedagógica

é muito tímida, para enfrentar a ignorância acerca da temática;

“Os negros educadores e educadoras, são humanos

e não super-humanos. Como quaisquer pessoas,

possuem personalidades diversas. Há negros

educadores e educadoras, que jamais lutarão pela

liberdade. Há outros que procuraram obter com a luta

vantagens pessoais. E há os que colaborarão com os

opressores”.

Dr. Martin Luther King Jr.

Poderemos dizer que esta diversidade, também se faz presente no

pensamento pedagógico relacionado à aplicação e implementação da lei

10639/2003. É diverso, plural, amplo como é presença negra, afrodescendente

neste país e como anuncia a própria lei que altera a nossa lei maior da

educação, a lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Que passa a vigorar

acrescida dos seguintes artigos:

“Art. 26-A - Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e

particulares, torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro brasileiro e

Africana e Indígena.”

“§1°. O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o

estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a

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cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,

resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e

política, pertinentes à História do Brasil.

§2º– Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro brasileiro serão

ministrados no âmbito de todo currículo escolar, em especial, nas áreas

Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.

Como então, iremos ensinar Cultura? Como ensinar modo de ver, de

ser e compreender o mundo? Como formar docentes para o ensino

fundamental e médio, que sejam mais multiculturais, potentes para a nossa

brasilidade, incluindo os afrodescendentes, indígenas, européia, oriental,

árabe, judaica, mulçumana, japonesa, etc.

Ainda que, a temática das relações etnicorraciais seja uma

obrigatoriedade legal no que se refere aos currículos básicos, a História e

Cultura Africana e Afro Brasileiro e Indígena ainda não fazem parte da

identidade da escola, do seu currículo oficial, do seu projeto político

pedagógico.

Existem educadores que não percebem mais tratam de forma

diferenciada seus/as alunos/as de pele mais escura. São mais exigentes, são

mais rigorosos. Não reconhecem os progressos desses estudantes, pelo

contrario, estereotipam negativamente seu desempenho escolar.

Temos uma responsabilidade com a educação dos estudantes que, nos

dias atuais, por si só, já é um imenso desafio. Educar para a igualdade onde a

diversidade se anuncia e denuncia sua exclusão, onde a muticulturalidade

passa a ter um novo sentido de positividade, onde grupos historicamente

excluídos da cidadania exigem visibilidade e reconhecimento.

Embora saibamos que existem práticas docentes que se abrem num

leque de possibilidades e caminhos para o ensino da história e cultura Afro

Brasileira, sobretudo quando se destaca que seus conteúdos serão

ministrados no âmbito de todo o currículo escolar.

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ROMPENDO COM O SILÊNCIO NO COTIDIANO DA

ESCOLA E DOS/AS EDUCADORES/AS

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se pode aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.” (Nelson Mandela)

O educador enfrenta no cotidiano da escola, as mais diversas

situações de conflito, porque então é tão difícil debater e encaminhar as

questões de racismo, quando elas acontecem? Como se dá a abordagem das

questões étnicas na prática do docente, através da obrigatoriedade do Ensino

de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica

implantada desde 2003?

A efetivação da Lei 10639/2003, no ambiente escolar, ainda têm sido

tímida, o que tem preocupado os intelectuais e gestores envolvidos com a

temática na educação.

Várias razões têm sido apresentadas pelos educadores para justificar

as dificuldades para a alteração da abordagem dada ao negro no currículo

escolar.

Entre elas, a falta de conteúdos previstos nas Leis, nos currículos de

formação inicial dos (as) professores (as), investimento ainda insuficiente na

formação continuada dos educadores, e a pequena disponibilidade de livros e

materiais didáticos sobre a temática nas escolas.

Estas são algumas das justificativas apresentadas em quase todas as

discussões sobre o tema.

Entretanto, em que pese às razões apresentadas acima, o

entendimento é de que, uma das principais dificuldades a ser superada para a

efetivação da Lei, é o fato das construções ideológicas sustentadoras do

racismo brasileiro estar presentes ainda hoje, no conjunto da sociedade

brasileira.

Soma-se a estas dificuldades, a necessidade de entendimento de que

a Lei 10639/2003, foi fruto de um longo processo de debate e estudos, com

setores da sociedade, interessada nesta discussão.

Falar das Leis 10639/2003 e da Lei 11645/2008 em uma entrevista

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com colegas de trabalho, foi um desafio difícil, pois a constatação inicial é de

que estas ainda não conseguiram trazer alterações significativas nas práticas

escolares. A comprovação esta no trabalho de pesquisa realizada com

professores/as de todas as disciplinas, e funcionários (as) do Colégio

Estadual Santo Agostinho, periferia de Curitiba, que atende cerca de 1.300

estudantes, distribuídos entre o ensino fundamental e o ensino médio, nos

três períodos. Os profissionais da educação, em sua maioria, fazem parte do

Quadro Próprio do Magistério (QPM), e do Quadro dos Funcionários da

Educação Básica (QFEB).

O colégio conta aproximadamente com 70 professores (as), 10

funcionários (as) agente educacional II e 12 funcionários (as) agente

educacional I. Ao todo, foram apresentadas 15 questões, divididas em dois

blocos de perguntas;

O primeiro bloco era para identificação dos (as) educadores, como

nome, tempo de serviço no magistério, tempo de serviço na escola e

disciplina e/ou função.

O segundo bloco era sobre as Leis 10639/2003 e 11645/2008, para

verificação do conhecimento dos educadores sobre elas e sua ação diante de

situações de preconceito e discriminação.

Entre elas destacam-se:

Dos que responderam o questionário, sobre à auto declaração 82%

se identificaram como branco 12% se identificaram como negro e 06 % como

Pardo. Interessante observar que há mais professores/as e funcionários/as

pardos do que realmente os que se auto declararam.

Sobre o conhecimento e do que se trata a Lei, 71% dos entrevistados,

afirmaram saber do que se tratavam, os outros 29% afirmaram não ter

conhecimento dos mesmos. Isto significa que quase 30% dos educadores não

leram ou não se informaram sobre os documentos oficiais do MEC ou da

SEED/PR sobre a Lei 10639/2003. Nessa mesma pesquisa, 40% dos

entrevistados, afirmaram ter recebido da Secretaria de Estado da Educação

os Cadernos Temáticos sobre História e Cultura Afrobrasileira, porque então

há tantos educadores declarando que não sabem como trabalhar com a Lei?

O que realmente há nos espaços de discussão sobre a Lei?

Em relação à abordagem da Temática, sobre as Leis 10639/03 e

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11645/08, 52% responderam que avaliam sua prática cotidiana e reflete sobre

os valores e conceitos que traz introjetados sobre o povo e a cultura negra e

indígena; 24% responderam que tem participado de formação e buscado

informações sobre as questões raciais; e Outros 24% responderam: “Não ter

conhecimento suficiente sobre o assunto.

Quando perguntado como deve ser estudada a cultura Negra e Indígena:

47% dos entrevistados afirmaram que deve ser um tema presente na

Proposta Pedagógica da escola, 29% acham que deve ser assunto de aula

quando surge algum fato na imprensa, 12% afirma que deve ser estudada

como rico folclore do Brasil, e 12% deram respostas próprias, como exemplo:

“Se fala mais do Negro do que no Índio”; “Que se deve priorizar temas como o

preconceito de quaisquer espécies, de cor, nível social, econômico, de crença

e de orientação sexual”; ou “Que há pouco tempo atrás, era tratado apenas

dentro de um conteúdo escolar, agora esta havendo mudanças e a cultura

esta sendo trabalhada de forma mais ampla e difundida em todos os âmbitos,

tanto na escola como fora dela”. Constatamos que as ações realizadas pela

SEED/PR, até aqui, ainda não conseguiram trazer alterações significativas

nas práticas pedagógicas dos educadores.

Em relação as desigualdade e discriminação na sala de aula: 72%

afirmaram aproveitar o momento para conscientização dos/as alunos/as,

quanto à luta contra todas as formas de injustiça social; outros 22% afirmaram

que são temas para reflexão com todos/as os/as alunos/as; e 6% que as

desigualdades sempre existirão que é uma situação sócia cultural e que as

discriminações estão embutidas nas ações, representações, que são

determinantes das desigualdades;

Os educadores também foram indagados sobre as diferenças culturais

dos/as nossos/as alunos/as, 60% afirmaram que serve como reflexão para

rever posturas preconceituosas e comparações hierarquizadas, os outros 40%

responderam que são mostradas como diversidade cultural.

Também foi solicitado aos entrevistados, sobre as Cotas Raciais se eram a

favor ou contra e por que: 64% dos entrevistados afirmaram ser a favor, com

as seguintes justificativas: “Oportunidade de maior acesso à educação,

podendo se diminuir as desigualdades existentes”; “Ainda precisamos do

sistema de cotas para se deixar mais humano o processo de entrada nas

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Universidades”; “Mas acredita que ainda é uma solução que discrimina o

negro”; “Porque acredita que uma pessoa que tenha um diploma universitário

pode melhorar sua condição econômica e a da sua família, servir de exemplo

e incentivo a outras pessoas excluídas que se sentem incapazes de mudar de

vida através da educação”; “O Brasil tem uma dívida histórica com os negros

desde a escravidão”; “Uma iniciativa em incluir os alunos negros e de escolas

públicas nas instituições superiores, como forma de amenizar a desigualdade

educacional e social que sempre assolou o país”; “Está mais do que na hora

de fazer um resgate histórico dos nativos indígenas e dos negros que tiveram

que atravessar o Atlântico de uma maneira forçada”; “Sou a favor, mas é algo

tratado com polêmica”;

71% afirmaram que “sim”, com diferentes justificativas, entre elas,

destacamos: “É um direito tem que se lutar para mantê-lo”; “Se fosse o meu

caso”; “Deve-se aproveitar as oportunidades, mas esclareceria que de certa

maneira vai gerar discriminação quanto ao seu potencial”; “Principalmente por

sentir a dificuldade pelo meu direito de estudar, quando muitos parentes não

conseguiram devido a situação de pobreza e falta de investimento do país e

do Estado, na época. Hoje, com o sistema de cotas para negros e alunos de

escolas pública a desigualdade começa a diminuir‟; “Devemos acreditar, lutar

e buscar o melhor como cidadão”; “As cotas vem de encontro de soluções de

ação afirmativa e não como forma de discriminar determinados grupos

sociais”; “se ele se encaixar em alguma não teria problema em incentivá-lo”;

“É um direito do meu filho ter um acesso pela dívida histórica que temos com

a formação do nosso povo”; “Desde que se dedique e aproveite a

oportunidade dada”; Outros 29% responderam que “não”. Alguns e algumas

não justificaram, outros justificaram da seguinte forma: “Ele deve lutar para

entrar na Universidade assim como todos fazem. As cotas apresentam uma

espécie de muleta para pessoas que não estão doentes”. “Eles devem passar

pela capacidade intelectual, não porque são deficientes, negros, índios, etc.

Acho que colocar as cotas é uma forma de discriminar o ensino

aprendizagem”; “Nem que eu fosse negra. Bem ao contrário, incentivaria

meus filhos a manterem-se bem informados e atualizados em todos os

assuntos justamente para não precisarem das cotas. Ninguém é melhor que

ninguém, e ninguém têm as mesmas habilidades. Mesmo com as cotas

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muitos ficam de fora e esse resto de cotista que sobra como é que fica?”

“Porque se privilegiou um cotista e não o outro. Dá pra sentir a fragilidade da

coisa. Já conheci muita gente que morava lá no meio do mato, sem qualquer

recurso e eram pessoas cultas. Correram atrás, não ficaram de

menosprezando”. “O que deveria ser levado a sério não é um

“vestibularzinho” e sim uma boa formação. Isso explica porque há muitos

profissionais formados em determinada área exercendo função diferente”. “A

raiz do problema não está na cota, está nos primeiros passos de uma criança

em casa e nas escolas. Quem, o que e como estamos formando?” “A nossa

antiga 8ª F falou por si. Será que se pagássemos para aqueles garotos o

curso positivo e mais uma boa mesada para se manterem eles realmente se

esforçariam para aprender? Eis a questão”.

O mesmo questionário foi aplicado aos professores e professoras, do

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE - 2009/2010, da disciplina

de história, no dia 10/05/2003, dentro do projeto “Negro Que Te Quero

Negro”, sobre a implementação da lei 10639/2003, e a política de cotas,

como ação afirmativa.É importante dizer que esta pesquisa foi realizada

somente com os/as educadores/as da disciplina de História de Curitiba e

Região Metropolitana.

Em relação à abordagem da Temática, sobre as Leis 10639/03 e

11645/08, OBS: Nessa questão os entrevistados responderam mais do que

uma alternativa; 54% responderam que reavaliam sua prática cotidiana e

reflete sobre os valores e conceitos que traz introjetados sobre o povo e a

cultura negra e indígena; 35% responderam que tem participado de formação

e buscado informações sobre as questões raciais; 11% optaram por outras

respostas: por exemplo:“Não ter conhecimento suficiente sobre o assunto”; “A

base legal da educação nos da suporte para desenvolver o processo ensino

aprendizagem; Contextualiza o ritual do candomblé, as músicas de Rita

Ribeiro, Bethânia, Elis Regina, Elza Soares, Chico Buarque, Vinícius de

Moraes e ai nosso educando entende que do Candomblé nasce a melhor

cultura do Brasil; Sobre as situações de desigualdade e discriminação na sala

de aula, 54% afirmaram aproveitar o momento para conscientização dos (as)

alunos (as), quanto a luta contra todas as formas de injustiça social; 31%

afirmaram que são temas para reflexão com todos (as) os (as) alunos (as);

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9% Deram outras respostas: “Como já foi relatado que só acontecerá o início

do enfrentamento e correção desse racismo quando os movimentos negros

assumirem a bandeira do Candomblé e da Umbanda, pois é nela que o

racismo é mais violento”. “Devemos trabalhar valores que dêem capacidade

intelectual aos nossos alunos de agir no meio em que vive para transformá-

lo”; “Essa questão é bastante delicada, mas é um bom momento para debater

todas as formas de discriminação”; “Em qualquer momento que se fizer

necessário ou relacionados ao temas trabalhados”. 6% não responderam a

questão.

Os educadores também foram indagados sobre as diferenças culturais dos

(as) nossos (as) alunos (as), 56% afirmaram que serve como reflexão para

rever posturas preconceituosas e comparações hierarquizadas, os outros 32%

responderam que são mostradas como diversidade cultural; 12% Deram

outras respostas, como por exemplo: “Como uma das belezas do Brasil, sem

preconceito em relação a qualquer desigualdade”;

Sobre as Cotas Raciais, como Política Afirmativa, você é a favor ou contra.

Por que. 71% dos entrevistados afirmaram ser a favor, com as seguintes

justificativas: “Para corrigir uma injustiça histórica”; “Pois elas representam a

vitória da luta dos movimentos sociais e hoje proporciona comparações do

antes (da Lei) e do depois (da Lei). Principalmente em seu caráter de ser

avaliados os resultados de cada 10 anos no Plano Decenal.” “Como forma de

minimamente reparar uma injustiça histórica para com as populações Afro

descendentes que não teriam outra oportuidade”; “As cotas raciais tem

demonstrado resultados práticos com o acréscimo de oportunidades de

crescimento intelectual aos negros e isto trará impactos sociais para a

sociedade”; “Considero uma forma de incluir uma etnia que se percebe como

cidadão de direito e uma forma de reparar as injustiças sociais”; “Sou a favor,

como penso ser a opinião dos demais colegas; É um direito que deve ser

conscientizado por nós em sala para que o aluno faça uso dessa Lei e use

como afirmação”; “Entender que há uma divida histórica a ser resgatada e

como forma de reduzir as desigualdades sociais”; “Porque o candidato passa

primeiro por uma avaliação de conhecimento em condição de igualdade a

todos, para depois entrar nas cotas”; “Ajudam e garantem o direito a

universidade dos excluídos ”; “Uma divida social que toda a sociedade

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brasileira tem para com o negro”; “Para que haja mais igualdade” 23%

Afirmaram ser contra as cotas. Com as seguintes justificativa: “A escola

pública é igual para todos. Deve ser meta (intenção) que a qualidade

aconteça nas escolas públicas”; “Acredito que é facilitar o caminho de

ingresso na universidade e todos tem capacidade de conquistar uma vaga.

Para isso a escola pública precisa de qualidade”; “As cotas raciais, acredito

que o mais terrível discurso é a racial, foi o que causou maiores danos a

humanidade, e é no mínimo perigoso usar esta via para promover resgate

social”. “Estude para passar”; “Gostaria que disputasse a vaga de igual para

igual”; “Meus filhos estudam em escola pública, vivem a diversidade, quando

chegar a hora do vestibular espero que estejam aptos a tomarem suas

decisões, que tenham noção do que lhes convém”; “Sempre converso com os

alunos a respeito das várias oportunidades nas universidades. Todos têm

condições independente de cotas. Querer é poder”; 6% Afirmaram que não

saberiam opinar”; 75% Responderam que “sim” com as seguintes

justificativas: “É uma oportunidade de acesso e também de dar visibilidade ao

grupo discriminado, abrindo oportunidade de discussão e mobilização da

sociedade”; Tenho filha que estuda na UFPR pelas cotas”; “Se existe direito

adquirido porque não usufruí-lo”; “Para prestigiar a conquista e valorizar a

oportunidade que se abre”; “Como uma atitude de Cidadania na participação e

na vida social”. “Não há desmérito entrar numa universidade por cotas”;

“Desde que seja uma participação justa e honesta”; “Quem realmente precisa.

Acho que o sistema de cota deveria ser ligado com o financeiro. Conheço

pessoas que passaram pelas cotas e estudaram no Colégio Bom Jesus”;

“Meu filho está no sistema de “bolsista” no particular, somente agora no

ensino médio e tem informação sobre seu direito na participação como cotista,

em breve, para sua formação. Também divulgo isso em sala”; “Por entender

que há uma divida histórica e como forma de reduzir as desigualdades

sociais”; “Pois a sociedade não divulga o sistema de cota”; “É um direito

conquistado por luta sociais. A Lei é uma conquista!”; “É uma oportunidade de

ingresso no 3º grau, sem discriminação. É INCLUSÃO, É DIREITO É

JUSTIÇA!”; “Se fosse o caso, seria”; “Deve-se aproveitar a lei no máximo, já

que ela existe”. “Desde que fosse um direito seu e o beneficio como cidadão

incluso numa sociedade igualitária num futuro próximo”; “Se estiver

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enquadrado”; “Já fiz muito, já divulguei e já tive alunos freqüentando cursos

de engenharia, eletrônica, agronomia, engenharia de computação e

arquitetura”.

Assim, a educação deve ter como horizonte:

O reconhecimento do problema racial como uma das formas de

dominação de classe no Brasil; O respeito às origens históricas e

manifestações culturais e religiosas das etnias dos/as estudantes presentes

no cotidiano escolar;

O resgate da história de luta e resistência do/a negro/a, indígena e de outros

segmentos étnicos historicamente discriminados na constituição da sociedade

brasileira; ação constante sobre o racismo no cotidiano escolar;

A constituição de relações saudáveis entre a população negra e branca

repudiando todas as atitudes preconceituosas no ambiente escolar;

Que o ensino de história do Brasil valorize a cultura, a religião da população

negra e afrodescendente e traga de forma crítica a participação de todas as

etnias constituintes da sociedade brasileira;

A superação dos estereótipos presentes especialmente em livros didáticos

que levam a uma visão de inferioridade dos/as negros/as e dos

afrodescendentes e indígenas brasileiros;

O reconhecimento e a valorização da história de resistência dos/as negros/s

como constituintes da história de resistência do conjunto dos/as

trabalhadores/as;

A oferta de formação continuada para professores/as, e funcionários/as, tendo

em vista a necessidade de uma educação antirracista, não-discriminatória e

não preconceituosa, que reconheça e valorize a identidade etnicorracial

presente no ambiente escolar, a fim de que os/as estudantes possam se

reconhecer, se valorizar e se identificar como negros/as e ou

afrodescendentes ou indígenas;

Implementação no Paraná:

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A Instrução nº 017/06 SUED/SEED estabelece alguns pontos significativos

no que diz respeito à implementação da Lei nº10.693/03 nas Escolas

Públicas do Paraná. São eles:

Garantir, no Projeto Político Pedagógico, que a organização dos

conteúdos de todas as disciplinas da matriz curricular contemple,

obrigatoriamente, ao longo do ano letivo, a Educação das Relações

Etnicorraciais e Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, na

perspectiva de proporcionar aos alunos uma educação compatível com

uma sociedade democrática, multicultural e pluriétnica;

Registrar, no requerimento da matricula do aluno o seu pertencimento

étnico-racial, garantindo-se o registro da sua auto declaração;

Compor Equipe Multidisciplinar, que poderá envolver direção, equipe

pedagógica, professores e funcionários, para orientar e auxiliar o

desenvolvimento de ações relativas à educação das Relações Étnico-

Raciais e ao Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, ao

longo do período letivo.

Portanto, precisamos superar no campo do currículo:

O negro a partir da escravidão; Que o Negro/a não seja fonte histórica

somente a partir da, e tão somente a escravidão.

Visão da África como continente primitivo e selvagem: Desconstruir no

imaginário dos/as educandos e dos/as educadores “essa África Selvagem

e Primitiva”; Como salienta professor Henrique Cunha Junior, “A África não

é uma selva tropical, nem o mais distantes dos continentes (...)”.

Os negros foram escravizados por que eram mais dóceis; Mostrar a

Resistência e a Luta dos Negros/as contra a Escravização.

O fim da escravidão como uma dádiva da Princesa Isabel;

Recuperar valores positivos da população negra, fugindo do folclorismo;

Trabalhar com os escritores, artistas negros no país, suas contribuições

para a humanidade como: A Arquitetura e a Medicina desde o Egito; As

Tecnologias trazidas para o país, como ferro, mineração, cana-de-açúcar,

café, algodão etc.

Cuidado com os textos e imagens nos livros didáticos que trazem reflexos

da ideologia de dominação racial;

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Consideração Final

Segundo, Kabengele Munanga, em seu livro “O Negro No Brasil Hoje”

nos faz refletir acerca de “Quem Somos?” “De Onde Viemos?” “Para Onde

Vamos? Perguntas que as pessoas fazem para conhecer a si e reconhecer os

outros para definir-se para identificar-se, para criar sentimento de

pertencimento a um ou vários grupos, para conhecer a realidade presente,

passada e projetar-se para o futuro”.

Neste sentido, poderemos caracterizar o Brasil como um País de vários

contrastes sociais e desigualdades, por causa da má distribuição de renda, ou

ainda, por suas características socioculturais, como um país com grande

diversidade cultural em termos religiosos, artísticos, musicais, culinários, entre

outros tantos aspectos.

Aprender e conhecer sobre o Brasil e sobre o povo brasileiro é

aprender a conhecer a história e a cultura de vários povos que aqui se

encontraram e contribuíram com suas bagagens e memórias na construção

deste país e na produção da identidade brasileira.

Criar espaços nos quais seja possível apresentar e discutir os pleitos

das comunidades negras, indígenas e diversas, propondo neles que seja

assumida a responsabilidade pela construção e divulgação das relações

étnicas raciais positivas como forma de enfrentamento e superação de

preconceitos, exclusão, ódio e segregação e de valorização dos contrastes

das diferenças buscando, além disso, construir formas de convivência

dialógica das diferentes identidades culturais.

Enfrentar hoje o desafio de assumir a identidade racial negra no Brasil, um

país considerado com diferenças sociais, culturais, raciais e étnicas, é um

processo difícil e sofrido. Sendo assim é de fundamental importância que se

resgate uma imagem positiva do homem negro e da mulher negra, para que

as crianças e adolescentes se projetem nessa imagem e se percebam com

possibilidades de uma vida melhor com oportunidades iguais a todos e a

todas.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394 de 20 de novembro de 1996. Congresso Nacional – Brasília.

BRASIL. LEI N. 10639 de 9 de janeiro de 2003. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos.

BRASIL. Ministério da Educação. MEC – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília. Outubro. 2004.

CARONE, Iray. e SILVA BENTO, Maria Aparecida. Psicologia Social do Racismo. Estudo sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ. Editora Vozes. 3ª Edição. 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra S/A, 1997.

JACCOUD, Luciana. (Organizadora) A construção de uma Política de Promoção da Igualdade Racial: Uma análise dos últimos 20 Anos. Brasília, DF. IPEA. 2009.

MUNANGA, Kabengele. e GOMES, Nilma Lino. O Negro no Brasil Hoje. São Paulo. Global Editora e Distribuidora Ltda. 2006.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: Inserção dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos escolares - Curitiba: SEED-PR, 2005.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.

Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: História e cultura

afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais - Curitiba:

SEED-PR, 2006.

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THEODORO Mário. (organizador) As Políticas Públicas e a Desigualdade Racial

no Brasil 120 Anos Após a Abolição. Brasília, DF. IPEA. 2º Edição. 2008.