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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A NATUREZA JURÍDICA DA PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PROMULGAÇÃO DA LEI 8.987/95. DINORÁ WALTHER Itajaí, 02 de maio de 2010.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS

CURSO DE DIREITO

A NATUREZA JURÍDICA DA PERMISSÃO DE SERVIÇO

PÚBLICO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PROMULGAÇÃO

DA LEI 8.987/95.

DINORÁ WALTHER

Itajaí, 02 de maio de 2010.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS

CURSO DE DIREITO

A NATUREZA JURÍDICA DA PERMISSÃO DE SERVIÇO

PÚBLICO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PROMULGAÇÃO

DA LEI 8.987/95.

DINORÁ WALTHER

Monografia submetida à Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do

grau de Bacharel em Direito.

Orientador: M.Sc. José Everton da Silva

Itajaí/SC, 02 de maio de 2010.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente, agradeço a Deus pela Sua

presença constante em minha vida, por cada

minuto de força e esperança que Ele alimentou

em mim nestes cinco maravilhosos anos junto à

Univali, proporcionando-me gratas experiências

com pessoas inesquecíveis. Não poderia deixar

de agradecer aos meus amados e competentes

professores, que me conduziram bravamente por

este caminho, em especial Maria Eugênia

Furtado, Thaís Vandresen, Natan Ben-Hur Braga

e, sobretudo, José Everton da Silva, meu

professor e orientador; referências profissionais

de extrema competência, ética e seriedade

profissional. E, de maneira muito particular e mais

que especial, agradeço eternamente ao meu

amado marido Dr. Oswaldo Motta Júnior, meu

grande amigo e meu mestre particular na área do

Direito e ao meu querido filho Lucas Walther

Motta, que lutaram e sofreram juntamente comigo

para que este momento se concretizasse, os

quais, inúmeras vezes, privando-se da minha

companhia, abdicaram de suas necessidades,

embarcando também neste sonho, que ora, torna-

se real, enchendo, certamente, de orgulho, meus

pais, in memoriam, que sempre primaram pela

minha excelência em todas as áreas; razão pela

qual, alimento sonhos e projetos ainda maiores.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra científica aos meus finados pais,

meu avô, meu marido e meu filho, minha irmã e

sobrinho, que são verdadeiros presentes de Deus,

extremamente valiosos para minha vida e,

especialmente, ao meu amado Senhor e Salvador

Jesus Cristo, “porque dele, por Ele e para Ele

são todas as coisas”. (Rm 11:36).

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando

a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca

Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do

mesmo.

Itajaí, 02 de maio de 2010 .

Dinorá Walther

Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Dinorá

Walther, sob o título “A natureza jurídica da Permissão de Serviço Público: uma

análise a partir da promulgação da Lei 8.987/95”, foi submetida em 11 de junho de

2010 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. José

Everton da Silva (Orientador) e Rafael Padilha dos Santos (Examinador), e

aprovada com a nota .

Itajaí, 11 de junho de 2010

M.Sr. José Everton da Silva

Orientador e Presidente da Banca

Professor Antônio Augusto Lapa

Coordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do

seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Administração Pública

“Conjunto de atividades do Estado que auxiliam as instituições políticas de cúpula

no exercício de funções de governo, que organizam a realização de finalidades

públicas postas por tais instituições e que produzem serviços, bens e utilidades

para a população”.1

Concentração

“Quando, mesmo subdividida em órgãos, os mesmos não são dotados de poder

ou competência, mas limitados a informar e a executar”.2

Centralização

“O Estado atua diretamente por meio dos seus órgãos, isto é, das unidades que

são simples repartições interiores de sua pessoa e que por isto dele não se

distinguem. Consistem, portanto, em meras distribuições internas de plexos de

competência, ou seja, em ‘descentralizações’ administrativas”.3

Desconcentração

“Consiste na retirada de competências do órgão máximo da hierarquia

administrativa para outros órgãos da mesma entidade governamental de acordo

com a sua estrutura organizacional”.4

1 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 42. 2 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. Atualizado de acordo com a Emenda Constitucional n. 41/03. 6. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 54. 3 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 20 ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 137. 4 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo, 2007, p. 54.

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Descentralização

“Pressupõe a existência de, pelo menos, duas entidades jurídicas: a entidade

centralizada e a pessoa à qual se delega a prestação de certo serviço público ou

o desempenho de certa atividade”.5

Serviços Públicos

“Toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente

ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às

necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente público”.6

Atos Administrativos

“Declaração do Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um

concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas públicas,

manifestada mediante providências jurídicas complementares da lei a título de lhe

dar cumprimento, e sujeitas a controle de legitimidade por órgão jurisdicional”.7

Delegação

“Atribuição que o Poder Público passa a um particular para realização de um

serviço público”. 8

Concessão

“É ato administrativo, discricionário ou vinculado, mediante o qual a Administração

Pública outorga aos administradores um “status”, uma honraria, ou ainda, faculta-

lhes o exercício de uma atividade material”.9

Autorização

“É o ato administrativo discricionário, mediante o qual a Administração Pública

5 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de Direito Administrativo positivo. 2007, p. 54. 6 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 94. 7 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 2006, p. 358. 8 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 341. 9 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 86.

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outorga a alguém, que para isso se interesse, o direito de realizar certa atividade

material que sem ela lhe seria vedada”.10

Permissão

“É ato administrativo, vinculado ou discricionário, segundo o qual a Administração

Pública outorga a alguém, para que isso se interesse, o direito de prestar um

serviço público ou de usar, em caráter privativo, um bem público”.11

10 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 2006, p. 86. 11 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 2006, p. 85-86.

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SUMÁRIO

RESUMO ......................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ................................................................................. 13

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.............................................................16

1.1 DIREITO ADMINISTRATIVO .......................................................................... 16

1.1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ...................................................................... 16

1.1.2 CONCEITO.......................................................................................................18

1.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................18

1.2.1 CONCEITO.......................................................................................................19

1.2.2 PRINCÍPIOS......................................................................................................20 1.2.2.1 Princípio da Legalidade.......................................................................................21 1.2.2.2 Princípio da Impessoalidade...............................................................................21 1.2.2.3 Princípio da Moralidade.......................................................................................21 1.2.2.4 Princípio da Publicidade.....................................................................................22 1.2.2.5 Princípio da Eficiência.........................................................................................23

1.2.3 CLASSIFICAÇÃO...............................................................................................23 1.2.3.1 Administração Direta...........................................................................................24 1.2.3.2 Administração Indireta........................................................................................24

1.2.4 MODO DE ATUAÇÃO..........................................................................................24 1.2.4.1 Desconcentração.................................................................................................25 1.2.4.2 Descentralização..................................................................................................25 1.2.4.3 Delegação.............................................................................................................26 CAPÍTULO 2 .................................................................................... 29

SERVIÇOS PÚBLICOS......................................................................28

2.1 SERVIÇOS PÚBLICOS .................................................................................. 29

2.1.1 CONCEITO.......................................................................................................28

2.1.2 PRINCÍPIOS......................................................................................................29 2.1.1.1 Princípio da Continuidade do Serviço Público.................................................30 2.1.2.2 Princípio da Qualidade e da Eficiência..............................................................30 2.1.2.3 Princípio da Modicidade......................................................................................31 2.1.2.4 Princípio da Igualdade dos Usuários.................................................................31 2.1.2.5 Princípio da Supremacia do Interesse Público.................................................32

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2.1.2.6 Princípio da Legalidade.......................................................................................32 2.1.2.7 Princípio da Mutabilidade do Regime Jurídico.................................................33 2.1.2.8 Princípio da Transparência do Serviço Público................................................34

2.1.3 CLASSIFICAÇÃO...............................................................................................34 2.1.3.1 Serviços Públicos propriamente ditos...............................................................35 2.1.3.2 Serviços de Utilidade Pública.............................................................................35 2.1.3.3 Serviços Próprios................................................................................................36 2.1.3.4 Serviços Impróprios............................................................................................36 2.1.3.5 Serviços Administrativos....................................................................................37 2.1.3.6 Serviço Público Comercial ou Industrial...........................................................37 2.1.3.7 Uti Universi...........................................................................................................38 2.1.1.1 Uti Singuli.............................................................................................................38

2.2 ATOS ADMINISTRATIVOS ............................................................................ 39

2.2.1 CONCEITO.......................................................................................................39

2.2.2 CLASSIFICAÇÃO...............................................................................................40 2.2.2.1Quanto ao destinatário.........................................................................................40

2.2.2.1.1 Individuais...............................................................................................41 2.2.2.1.2 Gerais......................................................................................................41 2.2.2.2 Quanto ao alcance...............................................................................................41 2.2.2.2.1 atos internos............................................................................................41 2.2.2.2.2 atos externos...........................................................................................41 2.2.2.3 Quanto ao objeto..................................................................................................42 2.2.2.3.1 atos de império........................................................................................42 2.2.2.3.2 atos de gestão.........................................................................................42 2.2.2.3.3 atos de expediente..................................................................................42 2.2.2.4 Quanto ao regramento.........................................................................................43

2.2.2.4.1 atos discricionários..................................................................................43 2.2.2.4.2 atos vinculados.......................................................................................43 2.2.2.5 Quanto à formação..............................................................................................43 2.2.2.6 Quanto ao conteúdo e quanto à forma..............................................................44 2.2.2.7 Quanto à eficácia.................................................................................................44 2.2.2.8 Quanto à exequibilidade......................................................................................45 2.2.2.9 Quanto à retratabilidade......................................................................................45 2.2.2.10 Quanto à executoriedade ou modo de execução...........................................46 2.2.2.11 Quanto ao objetivo visado pela Administração..............................................46 2.2.2.12 Quanto à normatividade....................................................................................47 2.2.2.13 Quanto aos atos executivos.............................................................................47 2.2.2.14 Quanto ao aspecto orgânico.............................................................................47 2.2.2.15 Quanto às declarações de vontade..................................................................47

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2.3 SERVIÇOS DELEGADOS .............................................................................. 49

2.4 PRECARIEDADE ........................................................................................... 49

2.5 ATOS E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ................................................. 51

2.6 AUTORIZAÇÃO................ .............................................................................. 53

2.7 CONCESSÃO..................................................................................................56

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 63

PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO ............................................. 63

3.1 CONCEITO......................................................................................................62

3.2 ATOS DISCRICIONÁRIOS..............................................................................63

3.3 ATOS PRECÁRIOS.........................................................................................64

3.4 DIFERENÇAS ENTRE PERMISSÃO E CONCESSÃO..................................65

3.5 LICITAÇÃO......................................................................................................67

3.6 CONTRATO ADMINISTRATIVO.....................................................................68

3.7 PERMISSÃO CONDICIONADA......................................................................70

3.8 NATUREZA JURÍDICA DA PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO..............71 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................77

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 84

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RESUMO

A previsão legal contida no artigo 175 da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, regulado pela Lei 8.987/95, é razão de insegurança no mundo

jurídico, visto que, após a sua promulgação, a Permissão passou a se comportar,

quanto a sua natureza jurídica, ora como um ato unilateral de caráter precário, ora

como contrato, e como tal, com as pertinentes razões de segurança jurídica. Tal

indefinição remeteu a questionamentos, dentre eles: Qual é a natureza jurídica da

Permissão de Serviço Público, a partir da promulgação da Lei 8.987/95? Qual o

conceito jurídico de Permissão de Serviço Público: ato unilateral ou contrato?

Quais as mudanças ocasionadas pela promulgação da lei 8.987/95, em relação à

Permissão? Qual o entendimento jurídico, doutrinário e jurisprudencial a respeito

da natureza jurídica da Permissão? Existe a possibilidade do Instituto da

Permissão estar se tornando um Instituto de natureza híbrida, ou mesmo, de estar

em vias de extinção tácita? Diante de tais modificações legislativas, há

possibilidade de utilização da nomenclatura da Permissão em detrimento da

Concessão? Tanto na doutrina quanto na jurisprudência, há divergência de

entendimentos no que tange a Natureza Jurídica do Instituto. No entanto,

doutrinadores de peso e a maioria do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo

Tribunal Federal, consideram que a partir da vigência da Lei 8.987/95, Permissão

de Serviço Público, nada difere de Concessão de Serviço Público, pois adquiriu a

natureza jurídica de Contrato Administrativo, não havendo de se falar mais em

precariedade, restando apenas aguardar a formalização da extinção do referido

Instituto via Emenda Constitucional, uma vez que se tornou alvo de insegurança

jurídica, incompatível com a Administração Pública.

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INTRODUÇÃO

Esta monografia nasceu da necessidade de se verificar as

alterações promovidas pelo advento da Lei n˚ 8.987/95, norma regulamentadora

do artigo constitucional n˚ 175 e sua repercussão no ordenamento jurídico

brasileiro, que resultou, entre o ano de 2007 e 2008, na elaboração de um artigo

científico - por esta acadêmica, em conjunto com o acadêmico Samuel Borges

Gomes, sob a orientação do M.Sc. José Everton da Silva, em exigência aos

requisitos necessários à obtenção da bolsa de pesquisa do artigo 170 da

Constituição Estadual de Santa Catarina – publicado em site jurídico12, em CD e

Livro de Resumos do VIII Seminário de Iniciação Científica da Univali13, ambos no

ano de 2009, bem como nos Anais de Concurso de Artigos Científicos do Cejurps

de 2009, com publicação prevista para o ano de 2010 -, que abordou a temática

em questão, no sentido de verificar possíveis mudanças quanto a precariedade,

unilateralidade e discricionariedade até então atribuídas ao Instituto, vez que,

tornou-se, a partir de então, alvo de questionamentos.

Portanto, tem-se como objeto da presente Monografia,

analisar a possível alteração promovida pela Lei n˚ 8.987/95, no que toca a

natureza jurídica da Permissão de Serviço Público.

O objetivo Institucional é a confecção de monografia como

requisito para a obtenção do título de Bacharel de Direito pela UNIVALI; o objetivo

geral, é a análise da Permissão dos Serviços Públicos, após a promulgação da lei

n˚ 8.987/95; o objetivo específico é a realização de um estudo sobre o tema em

foco, buscando na legislação, doutrina e decisões dos Tribunais Pátrios, possíveis

respostas aos seguintes questionamentos advindos do referido texto legal: O

12 BRASIL. Jurid. Jornal de detalhe e doutrina. Disponível em: www.jurid.com.br/new/jengine.exe/cpag?p=jornaldetalhedoutrina&id=68368&id_cliente. Acesso em 03 mar. 2009. 13 WALTHER, Dinorá; SILVA, José Everton da. A Natureza Jurídica da Permissão de Serviço Público: uma análise a partir da promulgação da lei 8.987/95. In VIII Seminário de Iniciação Científica: Livro de resumos 2009. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2009, p. 126.

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14

Instituto da Permissão deixa de existir em virtude das mudanças preceituadas na

Lei nº 8.987/95? Há possibilidade de se estar diante de um instituto híbrido? Está,

a Permissão de Serviços Públicos, em vias de extinção ou tacitamente extinta,

ante sua imprecisão legal? Há possibilidade de utilização da nomenclatura da

Permissão em detrimento da Concessão?

Para tanto, no Capítulo 1, principia-se com a Administração

Pública, elaborando-se um breve estudo a respeito de sua origem e evolução

histórica, bem como seu conceito e princípios fundantes, sua classificação,

aprofundando-se, a partir de então, na temática dos Serviços Públicos,

abrangendo-se, neste aspecto, sua definição, princípios, espécies e classificação.

No Capítulo 2, tratando-se da diferenciação dos Atos e

Contratos Administrativos, alcançando sua conceituação, classificação,

englobando, os serviços delegados, mais precisamente, a Autorização e a

Concessão de Serviços Públicos, com suas pertinentes definições, bem como sua

natureza jurídica (ato administrativo / contrato administrativo).

No Capítulo 3, tratando-se do Instituto da Permissão de

Serviço Público, buscar-se-á a sua conceituação e natureza jurídica, após a

promulgação da Lei n˚ 8.987/95, a fim de verificar se as alterações legais

trouxeram, ou não, imprecisões legislativas, visto que fora atribuída à Permissão

de Serviço Público características que lhe são incompatíveis, ou seja, típicas da

Concessão, interpretando-se o texto legal (artigos 2˚, IV, e 40 da Lei 8.987/95) e o

texto constitucional (artigo 175), que levanta dúvidas sobre sua natureza jurídica.

Trata-se, portanto, de uma questão importante, analisar a

temática que gira em torno das alterações promovidas pelo advento da Lei n˚

8.987/95, que colocaram em dúvida a natureza jurídica da Permissão de Serviço

Público, buscando-se possíveis respostas aos questionamentos até então não

supridos de forma satisfatória, para que uma eventual indefinição legal, ou

dissensão doutrinário-jurisprudencial, não acarrete danos às partes envolvidas.

Para responder aos questionamentos da presente

monografia, foram levantadas as seguintes hipóteses:

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15

Hipótese 1: A Permissão não deixa de existir em virtude das

mudanças preceituadas na Lei nº 8.987/95, por se tratar de preceito

constitucional; assim, somente poderá ser extinto por Emenda Constitucional.

Hipótese 2: Não há possibilidade de se estar diante de um

instituto híbrido, pois, apesar da Lei 8.987/95 atribuir a esta traços característicos

de Concessão, a Lei não a exclui e nem a equipara expressamente à Concessão.

Hipótese 3: A Permissão de Serviço Público está fadada à

extinção, ante a imprecisão do texto legal quanto a sua natureza jurídica, vez que

a torna alvo de desuso, por implicitamente torná-la uma espécie de Concessão.

Hipótese 4: Não há possibilidade de utilização da

nomenclatura da Permissão em detrimento da Concessão, pois acarretaria uma

insegurança jurídica, não compatível com a Administração Pública.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais serão apresentados os pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o tema, a fim de incentivar uma futura e necessária alteração legislativa.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação14 foi utilizado o Método Indutivo15, a fim de se obter um panorama

do tema proposto, objetivando extrair conclusões a respeito da problemática

gerada pela imprecisão do texto da Lei 8.987/95, amparando-se nos

entendimentos jurídicos e doutrinários até então levantados; na Fase de

Tratamento de Dados o Método Cartesiano16 e, o Relatório dos Resultados

expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas

14 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007, p. 101.

15 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica, p. 104.

16 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 22-26.

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16

diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente17, da

Categoria18, do Conceito Operacional19 e da Pesquisa Bibliográfica20.

17 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica, p. 62.

18 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica, p. 31.

19 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica, p. 45.

20 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica, p. 239.

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17

Capítulo 1

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.1 DIREITO ADMINISTRATIVO

Inicialmente, é salutar que se façam alguns breves

comentários a respeito da origem e evolução histórica do Direito Administrativo e

da própria Administração em si, para, após, adentrar-se na questão da

Administração Pública, propriamente dita.

1.1.1 Origem e Evolução Histórica

Toshio Mukai21, atenta para a necessidade de se esclarecer

quando e como nasceu a disciplina do Direito Administrativo, alertando para o fato

de não ser pacífica a concepção doutrinária a respeito, tendo em vista duas

correntes intelectuais distintas:

[...] uma postula que existiu Direito Administrativo em toda civilização (antes do Estado constitucional) que teve um mínimo de organização para a prestação de serviços públicos (Jèze, Goodnow); outra postula que o Direito Administrativo é produto específico do denominado Estado de Direito, portanto seu nascimento e batismo se deram com a Revolução Francesa. Esta segunda corrente é clara em Prosper Weil22, o qual observa que o Direito Administrativo emerge do nada, entre a Revolução de 1789 e o fim do Segundo Império, esboçando-se então em traços dominantes daquilo que Hauriou denominou “regime administrativo”: a criação de uma jurisprudência administrativa especializada e a sujeição da Administração a regras diferentes das do direito privado. É assim que o Direito Administrativo “data unicamente do último terço do século passado”23. Esta corrente falava até no Direito Administrativo inexistente ou desconhecido, referindo-se à sua possível existência anteriormente à Revolução Francesa. [...] Esse direito específico, por paradoxal que seja, não foi nem será fruto do direito positivo, mas da jurisprudência e da

21 MUKAI, Toshio. Direito administrativo sistematizado. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 3-4. 22 WEIL, Prosper. Direito administrativo. 5. ed., trad. Port. Maria da Glória Ferreira Pinto, Coimbra, Almedina, 1977, p.11. 23 WEIL, Prosper. Direito administrativo. 1977, p.11.

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doutrina, e, por isso mesmo, sempre refletiu as filosofias políticas imperantes. Dessa forma, descobrir a mentalidade que regeu o momento histórico é desvendar o porquê dos conceitos e institutos do Direito Administrativo.

Já, Odete Medauar24 cita ser corrente entre os autores

franceses, italianos e pátrios, atribuir à lei do 28 pluviose do ano VIII (1800),

denominada constituição administrativa napoleânica, o nascimento do direito

administrativo, “[...] a qual pela primeira vez deu à Administração francesa uma

organização juridicamente garantida e exteriormente obrigatória”,25 lei esta, regida

pelos princípios da hierarquização e centralização, a qual trata a respeito da

organização administrativa e solução de conflitos contra a Administração,

perdurando “[...] até há pouco na França e nos Estados que o adotaram”; surgiu a

partir de então “[...] manuais e obras (Romagnosi, na Itália, em 1814; Macarel, na

França, em 1818), criou-se a cátedra de direito público e administrativo em Paris

(1819) e a disciplina tomou impulso”.

Luís Henrique Martins dos Anjos26 tece algumas

considerações relativas ao tema, destacando que

Para uma melhor compreensão sobre a evolução do Direito Administrativo, é mister focar a análise com maior precisão sobre o seu objeto, precisando as mudanças nele ocorridas, tendo como pano de fundo a construção do Estado de Direito27. A partir do

24 MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. 2. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 14-16. 25 Zanobini. Corso di diritto amministrativo. Milano: Giuffrè, 1958. vol. I, p. 41. Entre os franceses: Rivero. Droit administratif. 10. ed. Paris:Dalloz, 1983. p. 21. Entre os administrativistas pátrios: Cretella Júnior. Tratado de direito administrativo. Rio de Janeiro:Forense. vol. I, p. 239; Sérgio de Andréa Ferreira. Direito administrativo didático. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 33. Prosper Weil prefere situar a origem do direito administrativo entre a Revolução de 1789 e o fim do Segundo Império (1870) (Le droit administratif. Paris: PUF, 1971. p. 9) in MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. 2003, p. 14. 26 ANJOS, Luís Henrique Martins dos; ANJOS, Walter Jone dos. Manual de Direito Administrativo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 28. 27 NOVAIS, (j.) Reis. O Estado de Direito. Coimbra, Coimbra, 1987(8). FORSTHOFF, Ernest. Stato di Diritto in Transformazione. Milano, Giuffrè, 1973. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra, Almedina, 1993, p. 348 a 395. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: RT, 1991, p. 99 a 108. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. O Estado de Direito, o Judiciário e a Nova Constituição. RDA, São Paulo, v. 160, p. 63-76, abr./jun. 1985 e, O Estado no Limiar do Novo Século, RDA, São Paulo, v. 217, p. 81-90, jul./set. 1999. BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.

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estudo da evolução28 do Direito Administrativo desde o seu nascimento, em conjunto com o Estado de Direito, até os dias atuais, verifica-se que o seu conteúdo tem variado no tempo (de época para época) e no espaço (de cultura para cultura, de país para país) e que vários têm sido os critérios adotados para sua conceituação.

Assim sendo, já devidamente tratada da origem e evolução

histórica do Direito Administrativo, partir-se-á para a sua análise conceitual.

1.1.2 Conceito

Em relação ao conceito de Direito Administrativo, este pode

ser dividido em três correntes: dualista (“prega a aplicação do Direito

Administrativo a uma parte da atuação estatal, sendo a outra regia pelo direito

privado”), intermediária (“emprega a denominação Direito Administrativo a todo

direito aplicável à Administração, seja ele de cunho público ou privado”) e unitária

(“advoga a existência de um só direito aplicável à Administração, que é o Direito

Administrativo, rejeitando a idéia da aplicação do direito privado às atividades do

Estado”), sendo esta última, a teoria adotada por Toshio Mukai29, por entender ser

a mais adequada aos dias atuais, pois responde “[...] às necessidades racionais e

científicas ditadas pela imperiosidade de adaptação do direito às novas atividades

exercidas pelo Estado.”

1.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

De acordo com Temístocles Brandão Cavalcanti30, a maioria

dos autores (Fritz Fleiner, Otto Mayer, Adolf Merkl) considera “como de esfera da

Administração toda atividade que não estiver compreendida dentro da legislação

e da justiça”. Por isso, considera que “quando se fala em Administração, deve-se

compreender todos os órgãos que executam os serviços do Estado, excluídos

apenas o Legislativo e o Judiciário”.

28 FORSTHOFF, Ernest. Tratado de Derecho Administrativo. Madri, Instituto de Estudios Políticos, 1958, p. 35-119. In ANJOS, Luís Henrique Martins dos; ANJOS, Walter Jone dos. Manual de Direito Administrativo. 2001, p. 28. 29 MUKAI, Toshio. Direito administrativo sistematizado. 1999, p. 10. 30 CAVALCANTI, Temístocles Brandão. Curso de direito administrativo. 10. ed. São Paulo: Freitas Bastos, p. 170-172. In MUKAI, Toshio. Direito administrativo sistematizado. 1999, p. 19.

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1.2.1 Conceito

Quanto à Administração Pública, no concernente ao seu

conceito, este é tido por Odete Medauar31, como de difícil precisão, pois “[...] se

deixa descrever, mas não se deixa definir, sobretudo ante sua complexidade e o

caráter multiforme de suas atuações”, descrevendo-a como:

[...] um conjunto de atividades do Estado que auxiliam as instituições políticas de cúpula no exercício de funções de governo, que organizam a realização de finalidades públicas postas por tais instituições e que produzem serviços, bens e utilidades para a população [...]. Na verdade, apresenta-se difícil a caracterização objetiva da Administração Pública, daí por vezes se buscar o modo residual de identificá-la: conjunto de atividades que não se enquadram na legislação, nem na jurisdição. [...] Sob o ângulo organizacional, Administração Pública representa o conjunto de órgãos e entes estatais que produzem serviços, bens e utilidades para a população, coadjuvando as instituições políticas de cúpula no exercício das funções de governo. Nesse enfoque, predomina a visão de uma estrutura ou aparelhamento articulado, destinado à realização de tais atividades; pensa-se, por exemplo, em ministérios, secretarias, departamentos, coordenadorias etc32.

José Cretella Júnior33 entende que a Administração Pública

não se trata única e exclusivamente de “Governo, Poder Executivo, a complexa

máquina administrativa, o pessoal que a movimenta (ótica formal), como também

a atividade desenvolvida por esse aparelhamento (ótica material), [...]”, ou seja, “é

a atividade que o Estado desenvolve por meio de seus órgãos, para a

consecução do interesse público (ótica formal e material)”.

Edimur Ferreira de Faria34 interpreta-a como um órgão

estatal, que tem a incumbência constitucional, da prestação de segurança pública

e de serviços públicos, sendo que, este último, pode ser prestado por terceiros,

por meio de delegação, ou seja, quando ocorre, por exemplo, a Concessão ou

Permissão de Serviços Públicos, objeto da presente pesquisa.

31 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 43. 32 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 42. 33 CRETELLA JÚNIOR, José. Manual de direito administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1979, p. 17. 34 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 42.

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21

1.2.2 Princípios

Inicialmente, impende definir o que vem a ser princípio; para

tanto, extrai-se da lavra de Lúcia Valle Figueiredo35 a definição de princípios

gerais de Direito, que sob sua perspectiva, trata-se de “normas gerais, abstratas,

não necessariamente positivadas expressamente, porém às quais todo

ordenamentos jurídico, [...], em sentido material, deve respeitar”, chamando à

colação André Lalande36, que entende ser o “[...] conjunto das proposições

diretivas, características, às quais todo o desenvolvimento ulterior deve ser

subordinado. [...] Despertam sobretudo a idéia do que é primeiro em importância,

e, na ordem do consenso, do que é fundamental”.

A Administração Pública, de acordo com Petrônio Braz37,

“constitui-se de um conjunto de princípios informativos, conceitos e normas de

estrutura e de funcionamento que disciplinam as suas atividades”; assim, pode-se

dizer que ela é regida por princípios constitucionais, legais, e até mesmo,

doutrinários, sendo que, abraçando a hierarquia das normas, destaca-se que a

Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, em seu artigo 37,

elencou quatro princípios básicos, que abrangem a esfera federal, estadual,

distrital e municipal, dentre eles, o princípio da legalidade, impessoalidade,

moralidade e publicidade e, posteriormente, com o acréscimo do princípio da

eficiência, inserido pela Emenda Constitucional n. 19/98, e demais princípios,

adiante esposados.

1.2.2.1 Princípio da legalidade

Considerado o mais importante de todos, este princípio,

segundo Edimur Ferreira de Faria38, “[...] é de observância obrigatória em

qualquer atividade do homem, independentemente de ter ou não relação com a

35 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 3. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 35-36. 36 André Lalande, Vocabulaire Téchnique et Critique de la langue Philosophique, verbete “Principe”, acepção D. in FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 35. 37 BRAZ, Petrônio. Atos Administrativos. São Paulo: Editora de Direito Ltda, 2004, p. 43. 38 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 45.

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Administração pública”, sendo, definido por José Cretella Júnior39, como “[...] a

qualidade daquilo que é conforme à lei. [...] Exprime então a conformidade ao

direito e é sinônimo de regularidade jurídica”, o qual “qualifica o Estado-de-Direito,

dando-lhe identidade própria, impondo a eficácia de todo ato administrativo à

vontade da lei, sujeitando a Administração Pública ao Direito”, de acordo com

Petrônio Braz40.

1.2.2.2 Princípio da impessoalidade

Este princípio denota a imparcialidade, ausência de

favoritismo ou discriminação, ou seja, a neutralidade e objetividade na conduta, já

que, o agente público, na concepção de Edimur Ferreira Faria41, nada mais é que

um “[...] administrador de bens alheios”.

Impessoalidade, sob o prisma de Massimo Severo

Giannini42, na tradução de Lúcia Valle Figueiredo43, “impõe a cada autoridade

pública, no exercício da atividade administrativa, a consideração, de modo

objetivo, dos vários interesses públicos e privados a avaliar”, ressaltando que “a

impessoalidade pode levar à igualdade, mas com ela não se confunde”.44

1.2.2.3 Princípio da moralidade

Baseado no princípio da legalidade, este princípio rege a

boa administração e o zelo da coisa pública, o que, sob o prisma de Cármen

Lúcia Antunes Rocha45, “[...] adentra o reino da finalidade de garantia da

realização dos valores expressos na idéia do Bem e da Honestidade, que se

pretendem ver realizados segundo o direito legítimo.”

39 CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição da República de 1988, v. IV, p. 2143. 40 BRAZ, Petrônio. Atos Administrativos. 2004, p. 45. 41 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 46. 42 Massimo Severo Giannini, Diritto Amministrativo, 3. ed. v. I, 1993, pp. 91-92. In FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 57. 43 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 57. 44 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 58. 45 ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais da administração pública. Belo Horizonte: Del Rey, 1994, p. 193.

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Para Hely Lopes Meirelles46, “[...] a moral administrativa,

juntamente com a sua legalidade e a finalidade, constituem pressupostos de

validade, sem os quais toda atividade pública será ilegítima.”

Extraindo-se dos ensinamentos de Celso Antônio Bandeira

de Mello47, tem-se que a moral administrativa está diretamente ligada à conduta

dos agentes público, que deverão atentar para os princípios éticos, sob pena de,

não os observando, acarretar ou configurar a ilicitude.

1.2.2.4 Princípio da publicidade

Este princípio é tido como administrativo e remete à

transparência dos atos da Administração Pública por entender-se que os seus

administrados - a sociedade -, deve ter conhecimento amplo do que está sendo

feito por parte do Poder Público, sendo definido por José Eduardo Martins

Cardoso48, por

[...] aquele que exige, nas formas admitidas em Direito, e dentro dos limites constitucionalmente estabelecidos, a obrigatória divulgação dos atos da Administração Pública, com o objetivo de permitir seu conhecimento e controle pelos órgãos estatais competentes e por toda a sociedade.

Assim, tem-se que a forma adequada de se dar a publicidade

aos atos da Administração Pública, será indicado pela lei, de acordo com cada

caso concreto.

1.2.2.5 Princípio da eficiência

Este princípio, introduzido pela Emenda constitucional nº 19,

remete ao compromisso que a Administração Pública tem de fazer acontecer,

com racionalidade, para conseguir os melhores resultados, com os meios mais

escassos e menor custo, ou seja, fazer o melhor com o menor recurso possível,

46 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 16 ed. São Paulo: RT, 1991, p. 80. 47 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 59. 48 CARDOZO, José Eduardo Martins. Princípios Constitucionais da Administração Pública (de acordo com a Emenda Constitucional n.º 19/98). In MORAES, Alexandre. Os 10 anos da Constituição Federal. São Paulo: Atlas, 1999, p. 159.

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brilhantemente ressaltado por Hely Lopes Meirelles49, como aquele que

[...] exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.

Na mesma esteira, observa José Eduardo Martins Cardoso50

que, o princípio da eficiência, pode ser definido como aquele que “determina aos

órgãos e pessoas da Administração Direta e Indireta que, [...] tenham uma ação

instrumental adequada, [...] de modo que possa alcançar o melhor resultado

quantitativo e qualitativo possível", atendendo as necessidades da sociedade.

1.2.3 Classificação

A Administração Pública está dividida, verticalmente, em

Administração Federal, Administração Estadual, Administração do Distrito Federal

e Administração Municipal. Horizontalmente, com a vigência do Decreto-Lei51 n˚

200, de 25/02/1967 (Reforma Administrativa), em seu artigo 4˚, repartiu-se a

Administração em Administração Direta e Administração Indireta, extraindo-se do

a seguinte redação:

Art. 4º - A administração federal compreende: I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: a) Autarquias; b) Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista. d) fundações públicas. (Incluído pela Lei nº 7.596, de 1987)

49 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 2006, p. 96. 50 CARDOZO, José Eduardo Martins. Princípios Constitucionais da Administração Pública (de acordo com a Emenda Constitucional n.º 19/98). In MORAES, Alexandre. Os 10 anos da Constituição Federal. São Paulo: Atlas, 1999, p.166-167. 51 BRASIL. Decreto-Lei n˚ 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a reforma administrativa e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 fev. 1967. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del0200.htm>. Acesso em 16 out. 2009.

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Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administração Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade. (Renumerado pela Lei nº 7.596, de 1987).

1.2.3.1. Em relação à Administração Direta, pode-se dizer que esta consiste no

“conjunto dos órgãos integrados na estrutura da chefia do Executivo e na

estrutura dos órgãos auxiliares da chefia do Executivo”52, tendo esta

Administração, uma ligação hierárquica entre seus órgãos, que parte do chefe do

Executivo.

1.2.3.2. A Administração Indireta, de onde deriva o Instituto da Permissão de

Serviços Públicos, diferentemente da Administração Direta, “compreende as

entidades dotadas de personalidade jurídica própria53”, indicadas no artigo 4º,

inciso II, do Decreto-lei nº 200/67, dentre as quais, estão as Autarquias, Empresas

Públicas, Sociedades de Economia Mista, e Fundações Públicas. Mencionada

Administração, sob o prisma de Edimur Ferreira de Faria54, é constituída por

“entes públicos dotados de personalidade jurídica própria, criados ou mantidos

pelo Estado para prestarem serviços públicos ou de interesse públicos

delegáveis, ou ainda, em certos casos, atuarem no campo econômico”.

1.2.4. Modo de Atuação

Quando a Administração Pública encontra-se impossibilitada

de atuar diretamente em algumas de suas atividades, de modo que, se as fizesse

por intermédio de uma única autoridade ou setor, comprometeria a sua eficiência,

ela delega atribuições aos seus órgãos, por meio de descentralização ou

desconcentração.

Odete Medauar55 entende que, tanto a descentralização

quanto a desconcentração, “[...] ligam-se a uma idéia geral de transferência de

atribuições de um centro para a periferia. Em sentido inverso, ou seja, a

52 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 59. 53 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 65. 54 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 58. 55 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 49.

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transferência de tarefas da periferia para o centro, significa concentração e

centralização”, porém, atenta para uma diferença no uso técnico, do conceito

destas categorias.

1.2.4.1. Desconcentração

Odete Medauar56 enfatiza que as categorias

“descentralização” e “desconcentração” são distintas, ressaltando que, ocorre a

desconcentração, quando:

[...] atividades são distribuídas de um centro para setores periféricos ou de escalões superiores para escalões inferiores, dentro da mesma entidade ou da mesma pessoa jurídica. [...] A distribuição de atividades mediante desconcentração implica a permanência de vínculos de hierarquia entre os órgãos envolvidos.

Edimur Ferreira de Faria, em consonância com a

doutrinadora supramencionada, leciona que a desconcentração consiste na

“repartição de competência ou poder entre órgãos da mesma entidade

centralizada.”57

1.2.4.2. Descentralização

Quanto à descentralização, esta, é caracterizada, segundo

Odeter Medauar58, quando há “transferência de poderes de decisão em matérias

específicas a entes dotados de personalidade jurídica própria. [...] Implica, assim,

a transferência de atividade decisória e não meramente administrativa.”

Sendo assim, compactuando com esse entendimento, Celso

Antônio Bandeira de Mello59, afirma que

[...] na descentralização o Estado atua indiretamente, pois o faz através de outras pessoas, seres juridicamente distintos dele, ainda quando sejam criaturas suas e por isso mesmo se

56 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 50. 57 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 55. 58 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 57. 59 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direto Administrativo. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 96.

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constituam [...], em parcelas personalizadas da totalidade do aparelho administrativo estatal.

Desta forma, quando ocorrem fatores que inviabilizam tais

atividades, a Administração Pública descentraliza os Serviços Públicos,

distribuindo entre seus órgãos públicos60 atribuições específicas, também

denominadas de competências, as quais são definidas por Odete Medauar61

como sendo “aptidão legal conferida a um órgão ou autoridade para realizar

determinadas atividades”, não podendo, ditos órgãos atuar, senão em nome da

pessoa jurídica da qual fazem parte.

1.2.4.3. Delegação

Por delegação entende-se a atribuição que o Poder Público

passa a um particular para realização de um serviço público62.

As mencionadas atribuições aos referidos órgãos são feitas

por meio de delegação que, em regra, “fundamenta-se na necessidade de conferir

mais agilidade e rapidez na tomada de decisões e no intuito de liberar a

autoridade ou órgão superior de tarefas rotineiras e repetitivas”63, sem, no

entanto, isentar o delegado das responsabilidades de atos ou medidas que lhe

competem.

Estas tarefas, ou melhor dizendo, atividades que a

Administração Pública desempenha direta ou indiretamente, são chamadas de

Serviço Público, mais especificamente, aquelas que referentes à “atividade

prestacional, em que o poder público propicia algo necessário à vida coletiva, [...]

que deve utilizar seus poderes, bens e agentes, seus atos e contratos para

60 “[...] unidades de atuação, que englobam um conjunto de pessoas e meios materiais ordenados para realizar uma atribuição predeterminada”. MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 51. 61 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 51. 62 “Há delegação quando o Estado confere por contrato (concessão ou consórcio público) ou ato unilateral (permissão ou autorização), unicamente a execução de serviço, para que o delegado preste ao público em seu nome e por sua conta e risco, nas condições regulamentares e sob controle estatal”. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 341. 63 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 55.

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28

realizá-lo de modo eficiente”64, os quais serão tratados de forma mais específica

no capítulo seguinte.

64 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 313-314.

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29

Capítulo 2

SERVIÇOS PÚBLICOS

2.1 SERVIÇOS PÚBLICOS

Faz-se necessário conceituar a idéia de Serviço Público,

visto ser basilar para qualquer entendimento posterior da matéria, já que sua

definição, a partir de uma leitura constitucional, deu causa a diversas correntes,

uma vez que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

[...] não chega a ser precisa na utilização dessa nomenclatura, ora se referindo a serviços públicos em sentido apenas econômico, como atividades da titularidade do Estado que podem dar lucro (ex., art. 145, II, e 175), ora como sinônimo de Administração Pública (ex., art. 37), ora para tratar da saúde prestada pelo Estado (ex., art. 198). Outras vezes se refere apenas a “serviços” (ex., art. 21) e a “serviços de relevância pública (ex., arts. 129 e 197). 65

2.1.1. Conceito

Em se tratando de conceito, propriamente dito, na ótica de

Edimur Ferreira de Faria66, é tarefa difícil, porém, define-o como todo serviço em

que “[...] o Estado, por meio de normas jurídicas próprias, diz ser. Dispondo a lei

que determinado serviço é público ou de interesse público, não há dúvida de que

ele é público, ainda que prestado por particular em virtude de delegação.”

Utilizando-se da conceituação ampla, abrangente e genérica

de Serviço Público, extraídas dos ensinamentos de Edmir Netto de Araújo67,

65 ARAGÃO, Alexandre Santos. Conceito de serviços públicos no direito positivo brasileiro, in CARVALHO FILHO, Carlos Henrique. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 11-14. 66 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 435. 67 ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de direito administrativo. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 101.

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autores estrangeiros68 e boa parte dos autores brasileiros69, tem-se como “toda

atividade exercida pelo Estado, através de seus Poderes (Legislativo, Executivo e

Judiciário) para a realização direta ou indireta de suas finalidades”70.

Porém, em sentido estrito, Maria Sylvia Zanella Di Pietro71

entende ser “[...] toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a

exerça diretamente ou por meio de seus delegados”, objetivando “[...] satisfazer

necessidades essenciais ou secundárias da coletividade, ou simples

conveniências do Estado”72, podendo ainda ser traduzido por

[...] toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente pelos administrados, que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de Direito Público – portanto, consagrador de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais – instituído em favor dos interesses definidos como públicos no sistema normativo.73

Ditos Serviços são regidos por princípios, assim como o

Direito Administrativo e a Administração Pública, a seguir relacionados.

2.1.2. Princípios

Os Serviços Públicos são prestados, com a observância de

alguns princípios básicos que os regem, dentre os quais, podem ser citados

como os principais, o princípio da continuidade, da qualidade e eficiência, da

modicidade, e da igualdade, que serão estudados individualmente a seguir, e,

dentro da perspectiva jurídica de alguns doutrinadores, incluem-se, também neste

rol, o princípio da supremacia do interesse público, da legalidade, da

mutabilidade, e da transparência, os quais serão igualmente interpretados.

68 Léon Duguit, Manuel de droit constitutionnel, Paris, Alberto Fontemoing Editeur, 1911; Roger Bonnard, Precis de droit administratif, Paris, Sirey, 1953. 69 José Cretella Jr., Administração indireta brasileira, Rio de Janeiro, Forense, 1990, p. 73 e 74; Lúcia Valles Figueiredo, Curso, cit., p. 58 e 59; Mário Masagão, Curso, cit., p. 252., dentre outros. 70 ARAÚJO, Edimir Netto de. Responsabilidade do Estado por ato jurisdicional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981, p. 45. 71 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 94. 72 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 1991, p. 290. 73 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 2007, p. 605.

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2.1.2.1. Princípio da Continuidade do Serviço Público

Para melhor compreensão deste princípio, deve-se ter em

mente, que a Administração Pública, dentre o rol de suas atividades, elege

algumas para exercer unicamente, outras para exercer concomitantemente à

iniciativa particular e ainda outras que permite exercer, não tendo interesse em

exercer por si, delegando-as a terceiros.

Nesta lógica tem-se que este princípio vem basicamente

assegurar que os serviços públicos devem ser de funcionamento contínuo, sendo

direito dos administrados evitar que eles sejam suspensos ou interrompidos, o

que, sob o prisma de Maria Sylvia Zanella Di Pietro74, traduz-se no fato de que “o

Serviço Público não pode parar.”

Este princípio é denominado por Odete Medauar75, como

Princípio do funcionamento contínuo, por indicar, “a continuidade e regularidade

entre as condições o serviço adequado”, devendo ser “prestados continuamente

e, em alguns casos, ininterruptamente”, de acordo com Edimur Ferreira de

Faria.76

2.1.2.2. Princípio da qualidade e da eficiência

Este princípio é denominado por Odete Medauar77 como o

princípio do funcionamento eficiente, baseado no fato de que o “serviço público

deve ser o melhor possível”.

Portanto, os Serviços Públicos devem ter boa qualidade e

ser fornecido de maneira eficiente quando se tratar de pessoas encarregadas

para tal fim, as quais devem prestá-los com a devida presteza. De igual forma, os

equipamentos e máquinas para tal destinação, devem ser seguros, e estar em

perfeitas condições de uso.78

74 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 99. 75 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 316. 76 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 436. 77 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 317. 78 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 436.

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2.1.2.3. Princípio da modicidade

Este princípio, como trata Edimur Ferreira de Faria79, diz

respeito aos preços e condições a que serão prestados os serviços Públicos, a

saber:

Os serviços, quando onerosos, devem ser oferecidos a preços módicos, isto é, preços compatíveis com as condições financeiras do destinatário do serviço. O preço público ou tarifa deve ser estabelecido de modo a remunerar o capital investido, necessário à remuneração dos serviços, com lucro quando o serviço for prestado por terceiros.

2.1.2.4. Princípio da Igualdade dos Usuários

Remete à idéia de inaceitabilidade do tratamento

discriminatório entre os usuários de um serviço público, ou seja, todos, sem

distinção, devem receber o mesmo tratamento ou a mesma igualdade na

prestação pública, com a ressalva de que, segundo leciona Maria Sylvia Zanella

Di Pietro80, “a pessoa satisfaça às condições legais”.

Odete Medauar81 trata este princípio com a denominação de

“funcionamento equitativo ou igualdade de todos perante o serviço público ou

paridade de tratamento”, o que por si só já remete à idéia de ausência de

distinção.

Poder-se-ia dizer que, em regra, os serviços prestados

devem ser iguais para todos os usuários aptos a receber dito serviço, no entanto,

algumas exceções tornam-se plausíveis, como por exemplo, em um hospital

público, por uma questão de emergência, os pacientes mais graves serem

prioritariamente atendidos em detrimento daqueles em situação mais favorável;

entendimento compartilhado por Edimur Ferreira de Faria82, ao enfatizar que:

Os serviços devem ser prestados nas mesmas condições para todos, sem discriminação, de modo que qualquer interessado

79 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 437. 80 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 100. 81 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 316. 82 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 437.

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possa ter acesso ao serviço em igualdade de condições com os demais usuários, ressalvados os casos dos deficientes que necessitam de adaptações, a cargo do prestador do serviço, para que possam usufruir do serviço sem muitas dificuldades.

2.1.2.5. Princípio da Supremacia do Interesse Público

Este princípio, também conhecido como Supremacia do

Poder Público, não só é válido aos serviços administrativos, mas a todo ato da

Administração em geral, de acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello.83

Basicamente, têm-se aqui que a Administração Pública nada

mais é do que um representante do coletivo, tendo por função, bem administrar e

zelar pelo que é público e de todos; sendo assim, justamente, por se tratar da

coletividade, seus interesses se sobrepõem aos interesses dos particulares.

Pode-se dizer que é o principal basilar pelo qual a

Administração possui “prerrogativas” ou “vantagens” nos contratos

administrativos, sendo também o fundamento para as “cláusulas exorbitantes”84,

como se verificará a seguir.

2.1.2.6. Princípio da Legalidade

Igualmente tal princípio não tem sua envergadura apenas no

tocante aos serviços públicos, mas também na Administração em Geral.

Ao contrário da máxima constitucional consagrada no art. 5°,

II, de nossa Carta Magna que diz que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de

fazer alguma coisa senão em virtude de lei - traduzido no fato de que ao particular

é lícito fazer o que desejar, salvo proibição legal -, a Administração Pública, só

pode fazer o que a lei lhe permite, ou seja, está vinculada às diretrizes legais e

83 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 2007, p 657. 84 “Cláusulas exorbitantes são, pois, as que excedem do Direito Comum para consignar uma vantagem ou uma restrição à Administração ou ao contratado. A cláusula exorbitante não seria licita num contrato privado, porque desigualaria as partes na execução do avençado, mas é absolutamente válida no contrato administrativo, desde que, decorrente da lei ou dos princípios que regem a atividade a atividade administrativa, porque visa a estabelecer uma prerrogativa em favor de uma das partes para o perfeito atendimento do interesse público, que se sobrepõe sempre aos interesses particulares”. (MEIRELLES, 2006. p. 213)

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seus fundamentos, sendo proibido ao Administrador ir contra ou a mais do que a

lei estipula.

Além de vinculado, o ato pode ser concomitantemente

discricionário, uma vez que, para Hely Lopes Meirelles85, “discrição é liberdade de

ação dentro dos limites legais; arbítrio é ação contrária ou excedente da lei”, ou

ainda, “Atos discricionários são os que a Administração pode ratificar com

liberdade de escolha de seu conteúdo, de seu destinatário, de sua conveniência,

de sua oportunidade e do modo de sua realização”, pois tornar-se-ia impossível

para o Administrador não ter uma margem de liberdade de ação, visto que, o

princípio da legalidade o vincula ao que a lei determina.

Exemplo clássico é o poder de revogação dos atos

unilaterais que a Administração possui, por oportunidade e conveniência, desde

que bem fundamentados, ressaltando ainda, que tais questões serão mais

pormenorizadamente analisadas adiante.

2.1.2.7. Princípio da Mutabilidade do Regime Jurídico

Também conhecido como princípio da Adaptabilidade,

novamente recorrendo-se às palavras de Maria Sylvia Zanella Di Pietro86, tem-se

que:

O princípio da mutabilidade do regime jurídico ou da flexibilidade dos meios aos fins autoriza mudanças no regime de execução do serviço para adaptá-lo ao interesse público, que é sempre variável no tempo. Em decorrência disso, nem os serviços públicos, nem os usuários dos serviços públicos, nem os contratados pela administração tem direito adquirido à manutenção de determinado regime jurídico; o estatuto dos funcionários pode ser alterado, os contratos também podem ser alterado ou mesmo rescindidos unilateralmente para atender ao interesse público.

Em harmonia com este entendimento, Odete Medauar87

ensina que este princípio, tratado em sua doutrina como a possibilidade de

modificar o modo de execução, “tem a função de adaptar a prestação do serviço

85 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 168. 86 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 100. 87 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 317.

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público a exigências novas, da própria vida coletiva e de modernas tecnologias. A

aplicação mais usualmente citada desse princípio é a modificação unilateral do

contrato administrativo”.

2.1.2.8. Princípio da Transparência do Serviço Público

Acredita-se que esse é um princípio derivado do próprio

princípio de publicidade dos atos públicos, visto que, por este, têm-se que todo

ato emanado do Poder Público deve ter caráter de publicidade, ou seja, acessível

a todos, transparentemente, traduzido por Celso Antônio Bandeira de Mello88

como “[...] impositivo da liberação a mais ampla possível ao público em geral do

conhecimento de tudo o que concerne ao serviço e à sua prestação.”

2.1.3. Classificação

Os Serviços Públicos classificam-se de diversas formas, de

acordo com a sua natureza e tipo, ressaltando-se que, a exemplo dos princípios,

há inúmeras classificações com nomenclaturas diferentes, tratando-se, no entanto

da mesma espécie.

É mister frisar que existem serviços em que a Administração

Pública é obrigada a prestar e não o pode delegar; aqueles que a Administração é

obrigada a prestar, podendo fazê-lo através de delegação ou concomitantemente

a iniciativa privada e, aqueles que ela não vê interesse em exercê-lo, por entender

que não haveria motivo para intervenção estatal nesse quesito, sendo a privada

suficiente, como exemplo, a reprodução de filmagens cinematográficas para fins

de lazer.

Utilizando-se, então, de um critério focado na análise

posterior de Concessão, Permissão e Autorização, elencar-se-á a classificação

adotada por Hely Lopes Meirelles, Reinaldo Moreira Bruno, Edmir Netto de

Araújo, por ser a mais comum na doutrina e as mais importante ou necessária

para a análise da matéria em foco, a qual seja, “Serviços Públicos e de Utilidade

Pública, próprios e impróprios do Estado, administrativos e industriais, ‘uti

88 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 2007, p. 657.

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universi’ e ‘uti singuli’”89, uma vez que, como bem leciona Hely Lopes Meirelles90

“a atribuição primordial da Administração Pública é oferecer utilidades aos

administrados, não se justificando sua presença senão para prestar serviços à

coletividade”.

2.1.3.1. Serviços Públicos propriamente ditos

São assim classificados pelo seu caráter de essencialidade

e necessidade, a exemplo da segurança nacional, saúde pública, entre outros, e

por esta razão, o Estado exerce seu Poder de Império, o qual decorre da

supremacia do interesse público sobre o privado.91

Hely Lopes Meirelles92 menciona em sua obra, quanto aos

Serviços Públicos propriamente ditos, que estes são:

[...] os que a Administração presta diretamente à comunidade, por reconhecer a sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado. Por isso mesmo, tais serviços são considerados privativos do Poder Público, no sentido de que só a Administração deve prestá-los, sem delegação a terceiros, mesmo porque geralmente exigem atos de império e medidas compulsórias em relação aos administrados. Exemplos desses serviços são os de defesa nacional, os de polícia, os de preservação de saúde pública.

Nesse sentido, pode-se afirmar que tratam-se de serviços

indelegáveis, ou seja, somente a Administração Pública os presta.

2.1.3.2. Serviços de Utilidade Pública

Em relação aos Serviços de Utilidade Pública, Edmir Netto

de Araújo93 entende tratar-se dos serviços em que

[...] o Estado, reconhecendo sua conveniência (não necessidade nem essencialidade) para a Administração, os presta diretamente ou aquiesce sejam prestados por terceiros (concessão,

89 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 331. 90 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 329. 91 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 293. 92 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 330. 93 ARAÚJO, Edmir Netto. Curso de direito administrativo. 2009, p. 103.

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permissão, autorização), nas condições regulamentadas e sob seu controle, por conta e risco dos prestadores.

Esta classificação visa unicamente distinguir aqueles

serviços em que a Administração é obrigada a prestá-los (serviços públicos

propriamente ditos) daqueles que a Administração reconhece a sua importância e

deseja fornecê-los, delegando, no entanto, a execução dos serviços, como é o

caso, a exemplo da Permissão para transportes coletivos.

2.1.3.3. Serviços Próprios

Estes serviços são indelegáveis, gratuitos ou de baixa

remuneração, que devem ficar à disposição da sociedade, por serem vinculados

às atribuições do Estado, tais como, segurança e saúde pública, onde a

Administração exerce seu Poder de Império,94 colhendo-se da renomada doutrina

de Hely Lopes Meirelles95, o seguinte conceito:

Serviços próprios do Estado são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do Poder Público (segurança, policia, higiene e saúde pública, etc.) e para a execução dos quais a Administração usa da sua supremacia sobre os administrados. Por esta razão, só devem ser prestados por órgãos ou entidades públicas, sem delegação a particulares.

Em suma, estes serviços não são passíveis de delegação,

uma vez que é atribuição da Administração Pública, prestá-los.

2.1.3.4. Serviços Impróprios

Não são tidos por Reinaldo Moreira Bruno96 como

essenciais, porém são rentáveis e visam satisfazer os interesses comuns da

sociedade, a exemplo das instituições financeiras, despachantes, etc. Na

concepção de Hely Lopes Meirelles97, Serviços Públicos Impróprios podem ser

definidos como:

94 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 293. 95 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 330. 96 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 293. 97 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 330.

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[...] os que não afetam substancialmente as necessidades da comunidade, mas satisfazem interesses comuns entre os membros, e, por isso, a administração, presta remuneradamente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações governamentais), ou delega sua prestação a concessionários, permissionários ou autorizatários. Esses serviços, normalmente, são rentáveis e podem ser realizados com ou sem privilégio (não confundir com monopólio), mas sempre sob regulamento e controle do poder público competente.

Neste tocante, extrai-se que os Serviços Impróprios são

passíveis de delegação por meio de Concessão, Permissão ou Autorização, por

sua execução não ser exclusiva da Administração Pública.

2.1.3.5. Serviços Administrativos

Caracterizam-se desta forma, por atenderem a própria

Administração, internamente, e apresentarem natureza preparatória para outros

serviços que a esta prestará, como por exemplo, os órgãos oficiais de imprensa,

entre tantos outros.98

Sob o prisma de Hely Lopes Meirelles, “são os que a

Administração Pública executa para atender às suas necessidades internas ou

preparar outros serviços que serão prestados ao público”99, entendimento

compartilhado também por Edmir Netto de Araújo100.

2.1.3.6. Serviço Público Comercial ou Industrial

Sob a ótica de Hely Lopes Meirelles101, o serviço público

comercial ou industrial, “é aquele que a Administração Pública executa, direta ou

indiretamente, para atender às necessidades coletivas de ordem econômica”, ou seja,

compete, prioritariamente, à iniciativa privada, porém, a Administração poderá

prestá-los nos termos do artigo 173 da Constituição da República Federativa do

98 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 293-294. 99 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 321. 100 ARAÚJO, Edmir Netto. Curso de direito administrativo. 2009, p. 102. 101 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 2003, p. 321.

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Brasil de 1988, em caso de interesse público relevante, gerando renda com as

cobranças de tarifas.102

2.1.3.7 Uti universi

O destinatário dos Serviços Públicos pode ser uma

coletividade, um cidadão, ou ainda, um grupo identificado de tomadores de

serviços, de modo que a coletividade é tratada por uti universi, em virtude de seu

tomador ser indeterminado, já que é oferecido a uma sociedade, enquanto que

quando oferecido individualmente é tido por uti singuli; classificação esta, que

determina a gratuidade ou remuneração dos serviços, pelo usuário.

Em síntese, pode-se dizer que Serviços Gerais ou Uti

universi, são prestados pela Administração Pública à usuário indeterminados

visando o atendimento à coletividade, ou seja, “prestados à coletividade, mas

usufruído apenas indiretamente pelos indivíduos”103, como por exemplo, a polícia,

iluminação pública, entre outros, os quais, não há viabilidade para a cobrança dos

serviços, por mera impossibilidade material de dividi-lo104.

2.1.3.8. Uti singuli

Já os Serviços Individuais ou Uti singuli, são prestados pela

Administração, porém, com usuários determinados, como por exemplo, a água, a

energia elétrica domiciliar, entre outros. Estes serviços, segundo Maria Sylvia

Zanella Di Pietro105, têm por finalidade a satisfação individual e direta das

necessidades dos cidadãos, onde há possibilidade da individualização dos

serviços, e, portanto, da cobrança dos tributos, de acordo com Reinaldo Moreira

Bruno106, o que não ocorre com os serviços uti universi.

Ressalta-se que foram extraídas apenas algumas

classificações dos Serviços Públicos, por serem consideradas as mais 102 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 294. 103 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 103. 104 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 292. 105 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 103. 106 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 292.

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importantes pelos doutrinadores referenciados e, sobretudo, as mais apropriadas

para o andamento da pesquisa, alertando-se que o rol de classificação

apresentado, não se resume às supramencionadas.

2.2. ATOS ADMINISTRATIVOS

Considera-se difícil estabelecer um conceito de ato

administrativo, visto imperar a subjetividade, o que pode acarretar divergências de

opiniões no que tange à sua definição, a qual não é unívoca até o momento. 107

2.2.1. Conceito

Apesar da mencionada dificuldade externada por Edimur

Ferreira de Faria108, o mesmo faz um apanhado de oito conceitos distintos, de

autores109 estrangeiros e nacionais, quais sejam, respectivamente, Marcelo

Caetano, Jean Rivero, Andrés Sena Rojas, Otto Mayer, Miguel Seabra Fagundes,

Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Hely Lopes Meirelles e Celso Antônio

Bandeira de Mello, que resume no seguinte conceito:

[...] Ato administrativo é a declaração unilateral da Administração Pública, manifestada por agente competente, com vistas ao interesse público, criando, mantendo, modificando ou extinguindo relações jurídicas ou ainda impondo deveres ao administrado e a si própria, com força de imperatividade.

Maria Zanella Di Pietro define Atos Administrativos como “a

declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos

imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de direito público e sujeita

107 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p.256-257. 108 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 259. 109 CAETANO, Marcelo. Manual de direito administrativo. 4. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1956, p. 390; RIVERO, Jean. Direito administrativo. Trad. Rogério C. Soares. Coimbra: Almedina, 1981, p.103; ROJAS, André Sena. Derecho administrativo. 5. ed. México: Galve, 1972 t. II, p. 246; MAYER, Otto. Derecho administrativo alemán. Buenos Aires: Depalma,1945, t. I, p. 82; FAGUNDES, Miguel Seabra. O controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1984, p. 21-24; MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: RT, 1991, p. 126; BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 173. In FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 259.

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a controle pelo Poder Judiciário”110, traduzido por Edmir Neto de Araújo111, como

[...] a declaração de vontade do estado, nessa qualidade, exteriorizada por agente competente e no exercício de suas funções, visando a produção de efeitos jurídicos conformes ao interesse público, com ela objetivados, determinados ou admitidos pelo ordenamentos jurídico em matéria administrativa.

2.2.2. Classificação

Os Atos Administrativos estão doutrinariamente classificados

quanto ao destinatário, ao alcance, ao objeto, ao regramento, à formação, ao

conteúdo, à eficácia, à exeqüibilidade, à retratabilidade, à executoriedade, ao

objetivo visado pela administração, à normatividade, aos atos executivos, ao

aspecto orgânico e, quanto às declarações de vontade, de acordo com um

compilado de critérios colhidos dos autores administrativistas brasileiros mais

significativos, destacando-se entre eles, Hely Lopes Meirelles112, José Cretella

Júnior113, Celso Antônio Bandeira de Mello114 e Diogo de Figueiredo Moreira

Neto115, sintetizados na Obra de Edmir Neto de Araújo116, da seguinte forma.

2.2.2.1. Quanto ao destinatário

Quanto a esta classificação, de acordo com a visão de

Reinaldo Moreira Bruno117, os Atos Administrativos podem ser individuais ou

gerais, coadunando com os ensinamentos de Diógenes Gasparini118, que os

define da seguinte maneira:

110 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 185. 111 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 451. 112 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 1991, p. 153. 113 CRETELA JÚNIOR, José. Curso de direito administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 250 e s. 114 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 362 e s. 115 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1989, p. 113 e s. 116 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 451. 117 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 144. 118 GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 14. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 79- 80.

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2.2.2.1.1. Individuais

Diz respeito aos que têm destinatários certos, determinados,

explicitados (nominados), deixando claro a quem se destinam, podendo o ato ser

singular (o destinatário nominado é um só), ou plural (vários destinatários)119, o

que significa dizer que, independentemente de serem muitos os destinatários, os

efeitos do ato são individualizados, a exemplo da portaria de nomeação de

servidor, entre outros.120

2.2.2.1.2. Gerais

Extrai-se da lavra de Edimur Ferreira de Faria121, que estes

Atos destinam-se a pessoas inespecificadas, que fazem parte de uma

coletividade com um certo interesse, a exemplo do “ato que dissolve um comício

político, por estar sendo realizado na véspera das eleições”.

2.2.2.2 Quanto ao alcance

Estão divididos em atos internos, que dizem respeito a

estrutura interna da administração e, os externos, que destinam-se ao público em

geral.122

2.2.2.2.1. Atos Internos

São os que “produzem efeitos somente no âmbito interno da

administração (atos domésticos), e têm por finalidade disciplinar serviços, orientar

servidores etc”, a exemplo da instrução normativa, alertando-se que estes atos

não geram efeitos jurídicos, nem atingem a esfera do particular, podendo ser

revogados a qualquer tempo, de acordo com a conveniência do Poder Público.123

2.2.2.2.2 Atos externos

Exige a publicidade para se ter eficácia, uma vez que

119 GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 2009, p. 79. 120 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 144. 121 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 272. 122 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 455. 123 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 273.

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atingem os administrados de forma geral, a exemplo do “decreto que estabelece

tarifa de transporte coletivo, editais de concurso público e licitação – entre

outros”124.

2.2.2.3. Quanto ao objeto

Estes podem ser divididos em atos de império, atos de

gestão e atos de expediente, segundo a classificação de Edmir Netto de

Araújo125, como segue:

2.2.2.3.1. Atos de império

Tratam-se dos atos em que o Estado coloca os interesses

do Poder Pública em posição de supramacia sobre o particular, os quais, de

acordo com Maria Sylvia Zanella Di Pietro126

Seriam os praticados pela Administração com todas as

prerrogativas e privilégios de autoridade e impostos unilateral e coercitivamente

ao particular independentemente de autorização judicial, sendo regidos por um

direito especial exorbitante do direito comum, porque os particulares não podem

praticar atos semelhantes, a não ser por delegação do poder público.

2.2.2.3.2. Atos de gestão

Os atos de gestão, por sua vez, são aqueles em que o há

gerenciamento dos negócios públicos, sobre os quais, não há necessidade de

atual imperativamente, podendo ser editados, inclusive, por provocação de

particulares, desde que haja interesse no resultado, a exemplo das licenças para

servidores realizarem cursos, entre outras.127

2.2.2.3.3. Ato de expediente

São os atos realizados pela Administração que visam dar

prosseguimento ao processo, quando inexiste decisão, objetivando dar

124 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 145. 125 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 455. 126 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 208-209. 127 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 275.

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andamento na tramitação de documentos internos, como informações prestadas

em pareceres técnicos, por exemplo.128

2.2.2.4. Quanto ao regramento

Trata de atos discricionários (liberdade do agente para a

prática dos atos) e vinculados (não há margem de liberdade para a

administração), adiante explanados, sob a ótica de Diogenes Gasparini129, como

segue.

2.2.2.4.1. Atos discricionários

São os “atos praticados pela Administração Pública com

certa margem de liberdade”, a exemplo da permissão de uso de bem público, que

será levado em conta o interesse público diante da solicitação do particular, de

forma legal.

2.2.2.4.2. Atos vinculados

Ao contrário da discricionariedade, a vinculação remete a

Administração pública à ausência de subjetividade em suas ações, uma vez que a

lei, “em tese, encarrega-se de prescrever, com detalhes, se, quando e como a

Administração Pública deve agir”, ou seja, “prescreve o procedimento a ser

tomado pela Administração Pública”.

2.2.2.5. Quanto à formação

Quanto à formação, Edimur Ferreira de Faria130 ensina que

os Atos Administrativos podem ser Unilaterais ou Bilaterais, traduzidos no fato de

que quando são emanados de uma só parte, ou seja, são “editados pela

Administração Pública, sem a concorrência de vontade de outra pessoa pública

ou privada na elaboração do ato”, tais atos são tidos unilaterais quanto à sua

formação, a exemplo da licença para construir. No entanto, quando há um acordo

bilateral na formação do instrumento jurídico, decorrentes da vontade das partes,

128 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 145. 129 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 2009, p. 80. 130 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 275.

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tem-se o ato administrativo bilateral quanto à sua formação; portanto, ato bilateral

ou negócio jurídico não é sinônimo de ato administrativo, a exemplo dos

contratos.

2.2.2.6. Quanto ao conteúdo e quanto à forma

Edmir Netto de Araújo131 explica que alguns autores

equiparam a classificação quanto ao conteúdo, ao seu objeto, pelo fato de que

“aquilo sobre o que o ato efetivamente dispõe, serão atos constitutivos, extintivos,

declaratórios, alienativos, modificativos e abdicativos de direito ou de situações

jurídicas e de fato”.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro132, destaca que quanto a

classificação dos Atos Administrativos, mais especificamente na que diz respeito

ao seu conteúdo, podem ser Atos Administrativos Negociais (autorização, licença,

admissão e permissão), Atos de Controle (aprovação e homologação) e Atos

Enunciativos (parecer e visto). Já no tangente a Categoria Forma, destaca-se o

“decreto, a portaria, a resolução, a circular, o despacho e o alvará”.

2.2.2.7. Quanto à eficácia

Os atos administrativos, de acordo com os ensinamentos do

professor Hely Lopes Meirelles133, classificam-se, quanto à eficácia, em válido,

nulo e inexistente. O ato válido denota a regularidade e obediência às normas, por

se tratar de atos provindos de autoridade competente, obedecidos os requisitos

necessários, podendo, entretanto, não ser exeqüível quando pendente de

condição suspensiva ou termo não verificado. O ato nulo, por sua vez, é o ato

eivado de vício insanável, pela “ausência ou defeito substancial em seus

elementos constitutivos ou no procedimento formativo”, podendo ser explícito

(expresso em lei) ou virtual (por infringir princípio do Direito Público). Por fim, o

ato inexistente, é aparentemente regular, porém, não chega a se aperfeiçoar

como ato administrativo, sendo imprestável, por se tratar de ato ilícito.

131 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 455. 132DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 214. 133 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 2006, p. 173-175.

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Edmir Netto de Araújo134 acrescenta que os atos podem

ainda ser anuláveis quando as irregularidades podem ser sanadas, ou seja,

convalidadas.

2.2.2.8. Quanto à exeqüibilidade

Diz respeito aos atos administrativos perfeitos, imperfeitos,

pendentes e consumados, os quais Maria Sylvia Zanella Di Pietro135 define como

sendo perfeito, “aquele que está em condições de produzir efeitos jurídicos,

porque já completou todo o seu ciclo de formação”, enquanto que o imperfeito é

tratado pela autora como o inverso, ou seja, “não está apto a produzir efeitos

jurídicos”, a exemplo de quando falta a publicação, homologação, entre outros.

Por ato pendente, entende a mesma autora136 que são os

que estão sujeitos a “condição ou termo para que comece a produzir efeitos”, já

tendo, no entanto, completado seu ciclo de formação, enquanto que o ato

consumado, trata-se daquele que “já exauriu seus efeitos”, tornando-se definitivo,

não cabendo impugnação, mas tão somente, responsabilidade administrativa ou

criminal em caso de ato ilícito ou responsabilidade civil do Estado, quando houver

dano a terceiros.

2.2.2.9. Quanto à retratabilidade

Estão dizem respeito aos atos revogáveis - quando por

oportunidade, conveniência ou justiça, a administração pública revoga-os com

efeito ex nunc -, e irrevogáveis, uma vez que são vinculados, por gerarem direitos

subjetivos, por terem produzido todos os seus efeitos, ou ainda por terem feito

coisa julgada administrativa (prescrição, esgotamento dos recursos

administrativos, e decisões favoráveis em processo administrativo ao

interessado)137.

134 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 456. 135 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 213. 136 Maria Sylvia Zanella Di Pietro. 137 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 456.

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2.2.2.10. Quanto à executoriedade ou modo de execução

Extrai-se da lavra de Edmir Netto de Araújo138 que, em

relação a esta classificação, os atos podem ser auto-executórios, que “são regra,

não dependendo da concordância de terceiros ou participação de outro poder

para sua execução e operacionalidade, e não auto-executórios, matéria de direito

estrito, em que por norma específica dependam dessas participações”.

2.2.2.11. Quanto ao objetivo visado pela Administração

Em relação a esta classificação, tem-se que o ato

administrativo, pode ser principal, complementar, intermediário ou preparatório,

ato-condição e ato de jurisdição ou jurisdicional, conforme leciona Hely Lopes

Meirelles,139 sintetizados no fato de que o ato principal dá a idéia de encerramento

da manifestação da vontade final da Administração, enquanto que o ato

complementar ratifica ou aprova o ato principal a fim de torná-lo exeqüível. Já o

ato intermediário ou preparatório, conforme o próprio nome diz, é o ato que

“concorre para a formação de um ato principal e final”, sendo autônomo em

relação aos demais, podendo ser impugnado isoladamente em procedimento

administrativo, a exemplo do edital. O ato-condição diz respeito ao ato que “se

antepõe a outro para permitir sua realização”, sendo considerado um “ato-meio

para a realização de um ato-fim”, sendo que sua ausência enseja a invalidade do

ato final, por ser matéria de legalidade, a exemplo da concorrência, que é ato-

condição dos contratos administrativos.

Por fim, o ato de jurisdição ou jurisdicional, ainda na visão do

mesmo autor140, consiste no ato que “contém decisão sobre matéria

controvertida”, sem que produza coisa julgada no sentido processual, porém,

“quando proferido em instância final torna-se imodificável pela Administração”.

138 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 456. 139 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 2006, p. 176-177. 140 Hey Lopes Meirelles.

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2.2.2.12. Quanto à normatividade

Podem ser executivos e normativos. Os executivos denotam

atos concretos, enquanto que os normativos que tanto podem disciplinar

comportamentos e situações jurídicas a determinada legislação, abstratamente,

ou de forma mais concreta e individualizada, destinados a “atestar ou certificar

situações jurídicas ou ainda emitir opiniões técnicas ou jurídicas”141

2.2.2.13. Quanto aos atos executivos

Inclui-se os atos punitivos - “pelos quais a autoridade

competente no uso de seu poder disciplinar ou de polícia, aplica sanções a quem

infringe as normas legais do regime jurídico pertinente à respectiva relação

jurídica” -, e os atos negociais, tida por Edmir Netto de Araújo142 como “atos que

criam situações jurídica nova, inexistente antes da declaração de vontade” a

exemplo dos contratos e convênios.

2.2.2.14. Quanto ao aspecto orgânico

Ainda alicerçando-se nos entendimentos de Edmir Netto de

Araújo143, tem-se que a edição dos atos administrativos pode ser formal e

material. Denominam-se formais, quando emanados da Administração ou órgãos

dos Poderes Legislativo ou Judiciário; enquanto que os materiais contém matéria

administrativa em concreto, a exemplo das leis, decretos legislativos, etc, as quais

“revestem-se de roupagem diversa da dos atos administrativos quanto à forma e

procedimentos”.

2.2.2.15. Quanto às declarações de vontade

Ainda na visão de Edmir Netto de Araújo144, esta

classificação encontra-se enquadrada nas classificações precedentes, e envolve

o número das partes que manifestam e declaram sua vontade, podendo ser

141 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 457. 142 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 457. 143 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 457-458. 144 ARAÚJO, Edmir Netto, de. Curso de direito administrativo. 2009, p. 458-460.

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unilateral, bilateral e multilateral, bem como, na classificação quanto à

composição da vontade, que pode ser simples ou complexa, de acordo com

Diógenes Gasparini145, o qual sob este particular ainda atenta para o fato de que

os atos administrativos podem ser negociais ou meros atos, sendo que estes

“exteriorizam apenas um conhecimento, cujos efeitos decorrem diretamente da

lei”, enquanto que aqueles “são os atos que se preordenam a produzir um dado

resultado jurídico” a exemplo do ato que admite um doente num hospital

municipal.

Classificados os Atos Administrativos, direcionar-se-á o

estudo ao foco da pesquisa, a fim de definir a natureza jurídica da Permissão,

após a promulgação da Lei 8.987/95, estabelecendo, para tanto, uma

comparação entre AUTORIZAÇÃO, CONCESSÃO E PERMISSÃO de Serviços

Públicos, salientando-se que a Concessão não é considerada um Ato

Administrativo, mas sim, um Contrato Administrativo, o qual também será alvo

desta pesquisa, para efeito de esclarecimento da dúvida que paira no ar: por

conta de tais mudanças na legislação, há possibilidade de se estar diante de um

novo modelo de Permissão, sua extinção, ou ainda, de ter este instituto, adquirido

uma natureza híbrida, já que possui traços característicos da Concessão de

Serviços Públicos?

Toda esta problemática, gira em torno da questão da

precariedade e necessidade de licitação pública para a Permissão de Serviços

Públicos, devidamente formalizada mediante contrato de adesão, de acordo com

a alteração legal promovida pela Lei 8.987/95.

Para tanto, é salutar que se defina, de maneira objetiva, o

que vem a ser Delegação, Precariedade, Atos e Contratos Administrativos,

Autorização, Concessão e Permissão, na ótica do ordenamento jurídico brasileiro,

à luz da doutrina dominante, ressaltando, porém, que a Permissão será tratada

em momento oportuno.

145 GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 2009, p. 82.

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2.3. SERVIÇOS DELEGADOS

Os Serviços Públicos são de competência e

responsabilidade da Administração Pública, porém, podem ser delegados a um

ente diverso do Público, por conveniência da própria Administração.

Para que a execução destes Serviços seja efetivada por

terceiro(s), é necessário que a Administração Pública atribua a este(s), por meio

de delegação, a incumbência de tal execução, ficando, no entanto, a

Administração, responsável pela fiscalização da prestação adequada dos ditos

Serviços Públicos.

Assim sendo, entende-se por Delegação a “atribuição que o

Poder Público passa a um particular para realização de um serviço público”146, o

qual ocorre somente em relação a transferência da execução, por parte deste

particular, dos mencionados serviços.

Esta delegação pode, ou não, ter caráter precário; motivo de

grande desconforto, quando se trata da questão da Permissão de Serviços

Públicos, o qual, pelas mudanças trazidas pela Lei nº 8.987/95, impõe-se a

licitação, porém, mantém-se a precariedade do contrato estabelecido de forma

unilateral.

2.4. PRECARIEDADE

A mencionada precariedade possibilita a alteração no

contrato, ou até mesmo sua revogação, sem que, no entanto, gere qualquer

direito adquirido ou haja a obrigatoriedade de indenização por parte do Estado,

nos casos das Autorizações; já em relação às Permissões levadas a termo,

podem gerar direito à indenização, mesmo sendo ela de caráter precário, de

acordo com José Maria Pinheiro Madeira147.

146 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 341 147 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Administração pública. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 225.

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Atualmente, o termo Precariedade ainda permanece no

conceito de Permissão; porém, por conta do prazo estipulado nos contratos de

Permissão, a presença da precariedade tornou-se quase inexistente, visto que,

“não há mais a diferença que existia entre permissão e concessão. Na tentativa

de fazer uma distinção, o legislador prescreveu na Lei 8.987/ 95 tratar-se de

delegação a título precário, sem, contudo, obter êxito”.148

A existência do termo “precariedade”, no corpo da lei

referida, gera divergências, uma vez que para Reinaldo Moreira Bruno149, Maria

Sylvia Zanella Di Pietro150, Celso Antônio Bandeira de Mello151 e Diógenes

Gasparini152, por exemplo, não há de se falar em precariedade da Permissão de

Serviços Públicos, uma vez que o artigo 175, caput, da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, cumulado com o artigo 62 do Estatuto das

Licitações bem como, ao artigo 40 da Lei 8.987/95, atribuem a obrigação da

formalização de contrato entre a Administração Pública e o vencedor da licitação,

em tudo igualando-se à concessão e, portanto, igualmente revestida das

garantias contratuais.

Tem-se ainda, de acordo com os ensinamentos de Edimur

Ferreira de Faria, que:

Embora prevista a possibilidade de o poder permitente revogar a permissão unilateralmente, esse direito não é absoluto. A revogação parece não poder acontecer sem que se verifiquem motivos de relevante interesse público supervenientes, devidamente justificados e demonstrados. Mesmo nessa condição, o poder permitente sujeitar-se-á ao pagamento de indenização ao permitente pelas conseqüências danosas que sofrer em virtude do ato revogatório, precedido de processo

148 BRASIL. Jurisway. Curso on line. Disponível em: <http://www. Jurisway.org.br/v2/cursoonline>. Acesso em 21 jul. 2008. 149 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 309. 150 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 217. 151 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 754. 152 GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 8. ed. São Paulo, 2003, p. 306.

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administrativo próprio por força do ar. 5º da Constituição da República, salvo nos casos de força maior e caso fortuito.153

No entanto, Sérgio de Andréa Ferreira154, Luciano Benévolo

de Andrade155, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello156, Diogo de Figueiredo

Moreira Neto157 e Hely Lopes Meirelles158, defendem a tese da permanência da

precariedade da Permissão de Serviço Público, mesmo após a promulgação da

Lei 8.987/95, justamente em função da própria definição legal que traz em seu

texto.

2.5. ATOS E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

É importante salientar que há distinção entre Atos e

Contratos Administrativos. Sob a ótica de Régis Fernandes de Oliveira159, o

contrato decorre da vontade convergente para que o vínculo jurídico se configure,

onde são estabelecidas obrigações recíprocas e deveres correlatos, ao passo

que, no ato administrativo, apesar da existência de atos que, para a sua

formação, requeiram a provocação do administrado, este é unilateral, e não gera

obrigações comutativas.

Para Odete Medauar160, “a origem do ato administrativo vem

explicada também como continuidade ou adaptação da figura do actum principis

do Estado de polícia, pois as idéias de separação dos poderes e Estado de Direito

seriam insuficientes para criá-lo”. No entanto, para fins de conceito, descreve-o

153 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 468. 154 FERREIRA, Sérgio de Andréa. Direito administrativo didático. Rio de Janeiro: Est. Gráficos Borsói, 1979, p. 246. 155 ANDRADE, Luciano Benévolo de. Curso Moderno de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 83. 156 BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Princípios Gerais de direito administrativo. v. I. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 559. 157 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1974, p. 348. 158 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 403-406. 159 OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Ato Administrativo. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 54-55. 160 MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. 2003, p. 202-203.

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como “[...] manifestação unilateral de vontade que declara, reconhece, modifica e

extingue direitos em matéria administrativa.”

Maria Sylvia Zanella Di Pietro161 expõe brilhantemente uma

definição de Ato Administrativo, afirmando ser o mesmo, “a declaração do Estado

ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com

observância da lei, sob regime jurídico de direito público e sujeita a controle pelo

poder Judiciário”, sintetizado por Lucia Valle Figueiredo162 como

[...] Norma concreta, emanada pelo Estado, ou por quem esteja no exercício da função administrativa, que tem por finalidade criar, modificar, extinguir ou declarar relações jurídicas entre este (o Estado) e o administrado, suscetível de ser contrastada pelo poder Judiciário.

No entanto, a respeito da definição de Contrato

Administrativo, Maria Sylvia Zanella Di Pietro163 diz tratar-se de um contrato

“reservado para designar tão-somente os ajustes que a Administração, nessa

qualidade, celebra com pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, para a

consecução de fins públicos, segundo regime jurídico de direito público”,

destacando três correntes164 distintas, adiante explanadas:

Uma corrente nega a existência do contrato administrativo,

argumentando que o mesmo não observa o princípio da igualdade entre as partes

(em função da supremacia da Administração sobre o particular), o da autonomia

da vontade (em função do princípio da legalidade) e o da força obrigatória das

convenções (em função do princípio da indisponibilidade do interesse público),

características marcantes dos chamados contratos.

Outra corrente defende que todos os contratos celebrados

pela Administração, são contratos administrativos, não existindo, portanto, nesta

visão, o contrato de direito privado, visto que com a participação da Administração

pública, haverá interferência do regime jurídico administrativo, no que diz respeito

161 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 185. 162 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 124. 163 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 237. 164 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 237-239.

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à competência, à forma, ao procedimento e à finalidade.

A terceira e última corrente, adotada pela maioria dos

administrativistas brasileiros, admite a existência do contrato administrativo, o

qual diferencia-se do contrato de direito privado, por estar caracterizado pelos

critérios: 1) subjetivo ou orgânico, onde a Administração com poder de império na

relação jurídica contratual; 2) pelo objeto do contrato administrativo, que sempre

será a organização e o funcionamento dos serviços públicos; 3) pela finalidade

pública, para que não incida em desvio de poder; 4) pelo procedimento de

contratação; 5) e, por último, pela presença de cláusulas exorbitantes do direito

comum, que visa assegurar a supremacia da Administração.

Diogenes Gasparini165, conceituado doutrinador na área do

Direito Administrativo, leciona a respeito de Atos e Contratos Administrativos, que:

Ainda que seja a agência executiva uma autarquia ou uma fundação pública, seus atos são atos administrativos e observam na sua prática o regime desses provimentos. Os contratos são administrativos e como tal estão regulados pela Lei federal n. 8.666/93, chamada de lei federal das Licitações e Contratos da Administração Pública. Como regra sua celebração depende de licitação. São assim não porque são atos e contratos de agência executiva, mas porque são atos e contratos de autarquia ou fundação governamental.

Neste contexto, inclui-se a Concessão e a Permissão de

Serviços Públicos, - descartando-se, desde já, a necessidade de licitação para a

Autorização de uso de bem público, adiante tratada -, o que, antes da reforma

legal, também era dispensada para a Permissão de serviços Públicos, tornando-a,

atualmente, semelhante à Concessão no seu aspecto prático.

2.6. AUTORIZAÇÃO

A Autorização, segundo leciona Edimur Ferreira de Faria,

apesar de, assim como a Permissão, possuir caráter de precariedade, não é

tratada pela Lei 8.987/95, que regulamentou as concessões e as permissões,

nem tão pouco pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em

165 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 2006, p. 339.

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seu artigo 175, como forma de delegação de serviço público; ao contrário,

regulamenta o dito artigo constitucional, que a delegação de Serviços Públicos,

dá-se por meio de concessão ou permissão, não mencionando assim, nada em

relação à autorização.166

No entanto, o termo delegação se dá por oposição a

outorga; delegação no sentido de transferência a terceiro da execução do serviço

e não da titularidade, que no caso da outorga, significa a transferência dos dois.

Quem classifica, portanto, a autorização neste meio é a

doutrina, como se constatará adiante, pois se a Administração Pública transfere a

execução de um serviço público a terceiro, em princípio se enquadra na regra

geral, ou seja, delegação, através de ato de natureza administrativa, carregado de

poder de polícia, mas não amparado pelos textos legais acima mencionados.

Volnei Ivo Carlin, define-a como um “ato administrativo

unilateral e discricionário, pelo qual a Administração consentirá, em caráter

precário, o desempenho e a exploração de serviço público pelo particular ou

utilização do bem público pelo particular,”167 a exemplo da autorização para a

pesquisa e lavra de recursos naturais.

É uma das modalidades de prestação de Serviço Público, na

qual “[...] a Administração transfere a execução de serviços públicos a

particulares”168, analisada e conceituada, sob o prisma de José Afonso da Silva,

como sendo, portanto, um ato administrativo, caracterizado pela unilateralidade,

discricionariedade e precariedade, o qual se destina à execução do serviço

público, bem como administração por parte de um particular no tocante a

utilização de bens públicos.169

166 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 469-47. 167 CARLIN, Volnei Ivo. Direito Administrativo: doutrina e jurisprudência e direito comparado. 3. ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005, p. 188. 168 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 2007, p. 326. 169 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 725.

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Diogenes Gasparini170 não discrepa ao lecionar que a

Autorização, expressão muitas vezes utilizada com o sentido de regime de

permissão, é um ato administrativo discricionário pelo qual a Administração

Pública, por meio de outorga, dá ao interessado o direito de realizar certa

atividade, não obrigando o Poder Público a agir conforme o requerido, mesmo

que o interessado tenha atendido ao legalmente estabelecido.

Benedicto de Tolosa Filho171 trata a Autorização como “ato

administrativo vinculado e precário, através do qual a Administração Pública

permite ao administrado a realização de determinada atividade” atentando-se

para o fato de que sem a Autorização, também denominada por consentimento,

tais atos seriam legalmente proibidos.172

A Autorização é também caracterizada pela instabilidade ou

emergencialidade, a qual é destinada a atender ao interesse público, de acordo

com os ensinamentos de Diógenes Gasparini173 e Reinaldo Moreira Bruno174,

sendo formalizada por ato administrativo, veiculado por portaria ou decreto,

precedido de licitação175, sendo, porém, dispensável o certame licitatório para o

deferimento da autorização de permissão de uso de bem público, ou seja,

[...] é o ato administrativo discricionário e precário, pelo qual a Administração consente que um particular utilize privativamente um bem público. Pode incidir sobre qualquer tipo de bem. De regra, o prazo de uso é curto; poucas e simples são suas normas disciplinadoras; independe de autorização legislativa e licitação; pode ser revogada a qualquer tempo176.

José Maria Pinheiro Madeira177 ressalta a extrema

170 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 2006, p. 86. 171 TOLOSA FILHO, Benedicto de. Direito administrativo: noções fundamentais. São Paulo: Iglu, 1999, p. 114. 172 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 215. 173 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 2006, p. 309-310. 174 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito Administrativo. 2005, p. 309-310. 175 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 2006, p. 405. 176 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 8. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 290-291. 177 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Administração Pública. 2008, p. 225.

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precariedade da Autorização, quando ratifica que ela pode ser revogada a

qualquer tempo, sem que isso gere direito adquirido ao autorizatário, nem mesmo

direito a indenização.

Há várias acepções para Autorização, ou seja, em um

primeiro sentido, a Administração Pública concede Autorização, com as

características dela peculiares, já mencionadas pelos doutrinadores e

referenciadas nesta pesquisa, faculta ao particular o direito de desempenhar

atividade material ou a prática, da qual, não seria permitida senão por via de

autorização. Na segunda acepção, o Poder Público, por meio de Autorização,

concederia ao particular, o direito, a título precário, de uso privativo de bem

público, chamada de autorização de uso. Na terceira acepção, ainda mantendo a

precariedade, unilaterilidade e discricionariedade, o Poder Público delega ao

particular, a autorização de serviço público, tratada como uma modalidade de

delegação, de competência da União, assim como a concessão e a permissão,

entendimento este, reformulado pela doutrina, segundo Maria Sylvia Zanella Di

Pietro178, a qual define, de maneira mais abrangente, a Categoria Autorização,

como sendo:

[...] Ato administrativo unilateral, discricionário e precário, pelo qual a Administração faculta ao particular o uso de bem público (autorização de uso), ou a prestação de serviço público (autorização de serviço público), ou o desempenho de atividade material, ou a prática de ato que, sem esse consentimento, seriam legalmente proibidos (autorização como ato de polícia).

Definição esta, completamente diversa da Concessão,

sobretudo, pelo fato desta não se tratar de Ato Administrativo, unilateral e

precário, como a Autorização, mas sim, de Contrato Administrativo, como se

constatará a seguir.

2.7. CONCESSÃO

A Concessão, classificada pela Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 como uma das formas de Serviços Delegados,

178 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 215-216.

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surgiu, conforme leciona Arnoldo Wald179, em meio a um déficit de infra-estrutura

do governo onde, buscou-se uma saída para a solução dos problemas gerados

por ele, sobretudo no campo econômico do país, no que tange o seu progresso,

onde seriam utilizados, por conta da Concessão, os

[...] recursos privados, sem endividamento estatal, nem emissão de papel-moeda, ficando por conta dos usuários a remuneração e o reembolso do capital do investidor. Resolviam-se, assim, os problemas decorrentes dos gargalos de estrangulamento da nossa economia. Mas, de um lado, o concessionário que passou a substituir o Estado, na qualidade de operador, não podia atuar com total liberdade em relação ao serviço público, que tinha suas próprias normas. Por outro lado, também o estado devia dar ao empresário que estava investindo na concessão, determinadas garantias. Era preciso encontrar um equilíbrio entre ambos os interesses, incumbência essa dada à agência reguladora, cabendo-lhe encontrar as fórmulas adequadas, mediante a elaboração do direito regulatório.

Quanto sua definição doutrinária, na concepção de Diogenes

Gasparini180, considera-se Concessão, todo

[...] contrato administrativo pelo qual a Administração Pública transfere, sob condições, a execução e exploração de certo serviço público que lhe é privativo a um particular que para isso manifeste o interesse e que será remunerado adequadamente mediante a cobrança, dos usuários, de tarifa previamente por ela aprovada.

Porém, “não existe uniformidade de pensamento entre os

doutrinadores na definição do instituto da concessão”181.

Marçal Justen Filho182 define-a como um instrumento que vai

além da manifestação da atividade administrativa do Estado, o qual tem a função

de implementação de certas políticas públicas, que visa proporcionar a realização

de valores constitucionais fundamentais.

179 WALD, Arnoldo. O Direito da regulação, os contratos de longo prazo e o equilíbrio econômico-financeiro. In Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 15. 180 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 2006, p. 360. 181 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 271. 182 JUSTEN FILHO, Marçal. Teoria das concessões de serviço público. São Paulo: Dialética, 2003, p. 58.

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Na ótica de Benedicto de Tolosa Filho183, “[...] é o ato

administrativo através do qual a Administração Pública concede ao administrado

um status, uma honraria ou permite o exercício de atividade material”.

Lúcia Valle Figueiredo184 entende ser uma “espécie de

contrato administrativo por meio do qual o Poder Público concedente transfere o

exercício de determinados serviços ao concessionário, pessoa jurídica privada,

para que os execute em seu nome, por sua conta e risco”, o qual dependerá de

“procedimento licitatório, cuja validade vai condicionar a validade do contrato”;

contrato este que possui caráter inviolável, de acordo com Arnoldo Wald185,

alertando que foi a Constituição Federal de 1988 que deu à Concessão o caráter

contratual, o que limita o poder da autoridade e impõe “deveres estritos e direitos

específicos ao concessionário”, a exemplo do que ocorre com a prestação de

serviços para o fornecimento de energia elétrica.

Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro186, a Concessão pode

ser analisada por três correntes distintas, cada qual com sua acepção a respeito

do tema em questão: A primeira corrente, - a qual não tem muita aceitação no

ordenamento jurídico brasileiro -, segue a doutrina italiana, que define concessão

em sentido amplo, abrangendo qualquer tipo de ato, unilateral ou bilateral, pelo

qual a Administração outorga direito ou poderes ao particular. A segunda acepção

distingue concessão translativa (“[...] os direitos derivados dessa concessão são

próprios do Estado, porém transferidos ao concessionário” a exemplo das

“concessões de serviço público e de obra pública, as concessões patrocinadas e

as concessões administrativas, estas últimas quando tiverem por objeto a

prestação de serviço público”), da constitutiva (“quando, com base em um poder

mais amplo, o Estado constitui, em favor do concessionário, um poder menos

amplo”), admitindo a concessão de serviço público, a de obra pública e a de uso

de bem público, aderida por doutrinadores brasileiros, dentre eles, José Cretella

183 TOLOSA FILHO, Benedicto de. Direito administrativo: noções fundamentais. 1999, p. 115. 184 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 82. 185 WALD, Arnoldo; MORAES, Luiza Rangel de; WALD, Alexandre de Mendonça. O direito de parceria e a nova lei das concessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996, p. 38. 186 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 271-273.

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Júnior, Themístocles Brandão Cavalcanti, Guimarães Menegale, Edmir Netto de

Araújo, Hely Lopes Meirelles. A terceira acepção, mais restrita, considera a

concessão de serviços públicos, por meio de delegação, aderida pelos

doutrinadores Manoel de Oliveira Franco Sobrinho e Mário Masagão.

Marçal Justen Filho187 alerta para o fato de haverem

algumas figuras no mundo jurídico com características similares à concessão,

advertindo que “a manifestação mais simples e superficial de diferenciação entre

concessão de serviço público e concessão de uso de bem público, refere-se ao

objeto sobre o qual versam, traduzido nas próprias denominações", enfatizando

que a concessão de serviços públicos, delegada temporariamente a um particular,

- que presta serviço público por sua conta e risco -, parte do interesse público e

privado, em atender às necessidades coletivas de grande relevância. Já a

concessão de uso de bem público, tem o condão de atribuir temporariamente a

um particular, por meio de delegação, o direito exclusivo de usar e fruir de certos

bens públicos.

Quando se trata do objeto da concessão, Maria Sylvia

Zanella Di Pietro188 destaca que há várias modalidades que sujeitas a regime

jurídico parcialmente diferenciados, como por exemplo, a concessão de serviço

público (regida pela lei 8.987/95, onde a remuneração decorre do pagamento de

tarifa pelo usuário ou de outra forma derivada da própria exploração do serviço); a

concessão patrocinada (disciplinada pela Lei 11.079/04, em parceria público-

privada, conjugando a tarifa paga pelo usuário e a contraprestação do concedente

ao concessionário); a concessão administrativa (disciplinada pela lei 11.079/04,

onde a remuneração é feita por contraprestação pelo parceiro público ao privado,

pela prestação de serviço de que a Administração seja usuária direta ou

indiretamente); a concessão de obra pública (nas modalidades previstas nas leis

8.987/95 e 11.079/95); e, por fim, a concessão de uso de bem público

(disciplinada por legislação esparsa; pode ou não haver exploração do bem), o

que faz com que, dentro deste contexto jurídico, haja também, várias correntes

187 JUSTEN FILHO, Marçal. Teoria das concessões de serviço público. 2003, p. 105. 188 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 273-275.

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doutrinárias que analisam de maneiras diferentes a natureza jurídica da

concessão, sendo mais cabível, atribuir à concessão, a natureza de contrato

administrativo, uma vez que estão

[...] presentes todos os elementos caracterizadores de um contrato: acordo de vontades sobre um determinado objeto; interesses contraditórios e reciprocamente condicionantes; efeitos jurídicos para ambas as partes.

Nesta caracterização189 de concessão constata-se a

presença da Administração Pública como Poder Público (garante a supremacia do

público sobre o particular, em forma de cláusulas exorbitantes, de privilégio ou de

prerrogativas), a finalidade pública (interesse público que a Administração tem

que ter em vista, sob pena de desvio de poder), a obediência à forma prescrita em

lei (observância às normas prescritas em lei, em relação à forma), o procedimento

legal (obediência ao estabelecido em lei, em relação a determinados

procedimentos obrigatórios para a celebração de contratos), a natureza de

contrato de adesão (unilateralidade da fixação das cláusulas contratuais), a

natureza intuiti personae (contratos são firmados em razão de condições pessoais

do contratado), a presença de cláusulas exorbitantes (cláusulas que colocam a

Administração em posição de supremacia sobre o contratado) e a mutabilidade

(confere à Administração o poder de, unilateralmente, alterar as cláusulas ou

rescindir o contrato antes do prazo estabelecido, por motivo de interesse público),

concernentes às características do contrato administrativo, que consiste em um

189 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 247-260.

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Acordo de vontades opostas, realizado “intuitu personae”, consensual, comutativo e sinalagmático, do qual participa a Administração Pública, para a produção de obrigações que envolvam finalidade pública, ou não contrariem o interesse público, contendo explícita ou implicitamente cláusulas de privilégio que o submetem a regime jurídico de direito administrativo, informado por princípios publicísticos, colocando a Administração em posição de supremacia no ajuste.190

Arnoldo Wald191, levanta a seguinte questão a respeito da

supremacia do interesse público sobre o privado, ante ao eventual

descumprimento contratual, o qual poderá acarretar ruptura de credibilidade,

inclusive à própria coletividade, como segue:

[...] Se a idéia básica do princípio da supremacia do interesse público é o atendimento do interesse de toda a coletividade ou do maior número de interessados, há de se reconhecer que tal princípio não é promovido pelo descumprimento dos contratos de concessão.

Desta forma, diante de todo o exposto, torna-se possível

fazer uma análise acerca da relação estreita que se pode estar, tacitamente,

estabelecendo entre Concessão e Permissão de Serviços Públicos, de modo a se

questionar, se não está, indubitavelmente, nascendo um novo Instituto; estando a

Permissão passando por uma modificação prática; ou, se o instituto da Permissão

está literalmente morrendo em sua prática.

Para tanto, analisar-se-á, minuciosamente, o instituto da

Permissão de Serviço Público, abordando sua definição legal e doutrinária, para

que, somente após, seja possível, ou não, dirimir as questões ora suscitadas,

baseando-se na letra da Lei Maior, na Lei 8.987/95, nos entendimentos

doutrinários e jurisprudenciais, no tocante à sua natureza jurídica, a fim de que, se

possível, sejam sanados todos e quaisquer questionamentos oriundos da

mencionada imprecisão legal, que causa tamanha insegurança jurídica no

universo do Direito Administrativo.

190 ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de direito administrativo. 2009.p. 646. 191 WALD, Arnoldo; GAENSLY, Marina. Concessão de rodovias e os princípios da supremacia do interesse público, da modicidade tarifária e do equilíbrio enocômico-financeiro do contrato. In Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 19.

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Capítulo 3

PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

Instituto inerente ao Direito Administrativo Pátrio, a

Permissão de Serviços Públicos, prevista no artigo 175 da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, regulada pela Lei n˚ 8.987/95, tem as

seguintes conceituações doutrinárias.

3.1. CONCEITO

Na lição de Hely Lopes Meirelles192 tem-se que:

Permissão é o ato administrativo negocial, discricionário e precário pelo qual o Poder Público faculta ao particular a execução de serviços de interesse coletivo, ou o uso especial de bens públicos, a título gratuito ou remunerado, nas condições estabelecidas pela administração. Não se confunde com a concessão, nem com a autorização: a concessão é contrato administrativo bilateral; a autorização é ato administrativo unilateral.

Para Benedicto de Tolosa Filho193, a Permissão consiste no

ato administrativo, discricionário ou vinculado, que “outorga para a prestação de

serviços públicos a administrados ou o direito de usar em caráter privativo o bem

público”.

Obviamente para melhor compreensão do conceito supra,

mister se faz relembrar e analisar outras elementares do Direito Administrativo

Brasileiro.

Ato Administrativo pode ser considerado como um ato

jurídico, no entanto emanado da Administração Pública e seus agentes, eivado de

interesse público, ou seja, nada mais é do que todo ato “que tenha por fim

192 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2006, p. 188. 193 TOLOSA FILHO, Benedicto de. Direito administrativo: noções fundamentais. 1999, p. 114.

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imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou

impor obrigações aos administrados ou a si própria”194; no entanto, ao contrário

do ato jurídico lato sensu, este possui como característica eminente ao Direito

Administrativo a noção de interesse público.

Basicamente, apenas a título de elucidação, tem-se por

interesse público, a qualidade em que a Administração deve reger-se em prol das

necessidades da coletividade, visto sua existência advir apenas para servir ao

coletivo, a sociedade, portanto devendo nortear-se não pelos interesses privados

dos administradores ou correlatos, mas sim em prol do que é melhor a

coletividade.

Dissecando o conceito trazido pelo ilustre doutrinador Hely

Lopes Meirelles, tem-se que além de um ato administrativo, a permissão o é na

modalidade discricionária e precária.

3.2. ATOS DISCRICIONÁRIOS OU VINCULADOS

Como já visto, na Administração Pública os atos podem ser

discricionários ou vinculados, salientando-se que “no conceito não cabe qualquer

distinção. Não cabe porque não há distinção entre atos vinculados e

discricionários na estática da norma. Assim, a doutrina incumbiu-se de fazer a

diferenciação” 195.

Para esclarecer melhor esta questão, por atos vinculados,

Celso Antônio Bandeira de Mello196 ensina que são aqueles que sua consecução

por parte do Administrador, dar-se-á de modo completamente fiel a prescrição

legal, não dando margem a discricionariedade do Agente Público, ou nas suas

palavras, são

[...] aqueles que a administração pratica sob a égide da disposição legal que predetermina antecipadamente e de modo

194 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 2006, p. 149. 195 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 163. 196 DE MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 2007, p. 359.

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completo o comportamento único a ser obrigatoriamente adotado perante a situação descrita em termos de objetividade absoluta.

Por sua vez, os atos discricionários, conforme se extrai da

lição de Lúcia Valle Figueiredo197, são os “[...] atos em que o administrador tem

opções diferentes, pois se qualquer delas for escolhida, haverá cumprimento da

norma legal”, ou seja, embora o Agente Público esteja ligado a legalidade e

prescrição da norma, esta lhe possibilita uma margem subjetiva, onde este pode

escolher o melhor caminho a seguir, obviamente ainda ligados pelos princípios

inerentes ao Direito Administrativo, a exemplo do interesse público, já que

consiste na “[...] competência-dever de o administrador, [...] após a interpretação,

valorar, dentro de critério de razoabilidade e afastado de seus próprios ‘standards’

ou ideologias [...], dos princípios e valores do ordenamento”, qual a melhor forma

para a prestação do serviço, observados os preceitos legais.

3.3. ATOS PRECÁRIOS

Ato Precário por sua vez, são os atos que não vinculam o

Poder Público a direitos e deveres com terceiros, ou seja, podem ser revogados a

qualquer momento e motivo pela Administração Pública, sem lhe trazer ônus,

como menciona Celso Antônio Bandeira de Mello198, ao lecionar que a

precariedade consiste no poder que a Administração dispõe, “[...] para,

flexivelmente, estabelecer alterações ou encerrá-la, a qualquer tempo, desde que

fundadas razões de interesse público o aconselhem, sem obrigação de indenizar

o permissionário”.

Até aqui, tem-se, em suma que, a Permissão trata-se de um

ato jurídico emanado do Poder Público (ato administrativo), a cargo do Agente

Público, dentro de sua subjetividade e norteado pelos princípios legais, que visa o

interesse público, sem a obrigatoriedade e, prescrição sem margem de atuação

legal (discricionário), podendo a qualquer momento ser revogado ou desfeito pela

197 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 164-172. 198 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 754.

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Administração Pública, sem caracterizar ônus à Administração ou direito a

terceiros (Precário).

A possibilidade de a Administração Pública atribuir a

terceiros serviços de interesse coletivo, ou uso especial de bens públicos, é

inicialmente mencionada no artigo 175 da nossa própria Carta Magna, a qual

regulamenta que cabe ao Poder Público diretamente a execução dos serviços

públicos ou então sua execução por meio do regime de concessão ou permissão.

Existem, no entanto, serviços que são privativos do Poder

Público, ou seja, não podem ser repassados a terceiros sob pena de grave

ameaça ao interesse público, ante a sua essencialidade e necessidade para a

coletividade, chamados de serviços públicos propriamente ditos199, como por

exemplo, o Poder de Polícia, não sendo plausível passar esta competência a um

particular, visto que o que move são interesses próprios, ao contrário da

Administração Pública que é movida pelo interesse público.

Já por exemplo serviços de saúde, embora obviamente de

interesse público visto a coletividade ter interesse em ver-se amparado por

serviços médicos e ligados a saúde, não necessita do Poder Soberano do Estado,

assim, obviamente o Estado tem interesse em propiciar tais serviços a sociedade,

no entanto não necessita exercê-lo em caráter privativo, podendo delegar a

terceiros, mediante concessão, permissão ou autorização sua realização.

3.4. DIFERENÇA ENTRE PERMISSÃO E CONCESSÃO

Recorrendo novamente a doutrina, tem-se os seguintes

conceitos de permissão e concessão para fins de se estabelecer diferenças

claras:

A permissão de serviço público é, tradicionalmente, considerada como ato unilateral, discricionário e precário, pelo qual o poder público transfere a outrem a execução de um serviço público, para

199 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. 2005, p. 293.

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que o exerça em seu próprio nome e por sua conta e risco, mediante tarifa paga pelo usuário [...].200

Concessão de serviço público é a transferência pelo Poder Público ao particular da prestação de serviços públicos, mediante concorrência e formalização via contrato por tempo determinado. A delegatária pode ser pessoa jurídica ou consórcio de empresas que tenham competência para a realização do objeto da concessão.201

Desta forma, ambos os Institutos, tratam da atribuição de

serviço público a terceiro, no entanto a diferença primordial entre eles é, em tese,

que um é considerado ato unilateral, discricionário e precário (Permissão),

enquanto que o outro é bilateral, assegurado direito por contrato (Concessão);

contrato esse, que está pautado em princípios, dentre eles, o princípio da

autonomia da vontade, que consiste no fato de que “[...] o direito deve proteger o

indivíduo que contratou, garantindo que, uma vontade validamente exarada, seja

fonte de obrigação para ele”, o qual, “no ato de sua firmatura, não deveria

apresentar vícios, tais como, dolo, erro, fraude, a fim de não “macular a livre

manifestação volitiva”, conforme se extrai dos ensinamentos de Lucíola F. L.

Nerilo202.

Tal diferença é essencial, uma vez que na permissão, por

ser considerado ato precário e unilateral, pode ser revogado a qualquer momento,

sem ônus algum à administração, enquanto que na concessão, por tratar-se de

ato bilateral e ligado a contrato, este faz com que o terceiro adquira direitos

perante a Administração Pública.

Portanto em modo simplista, a Permissão é delegada a

terceiro pela Administração de modo a ser revogada sem ônus a Administração,

bastando a conveniência desta, enquanto que a Concessão, não se fala em

revogação, mas em destrato (por se tratar de contrato e não de ato), e em que

pese poder ser revogada em prol da coletividade, tendo em vista as

200 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 330. 201 FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de direito administrativo positivo. 2007, p. 440. 202 NERILO, Lucíola F. L. A responsabilidade civil pelo descumprimento da clausulo geral de boa-fé nos contratos. In Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 69.

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características do contrato administrativo, tais como o poder de império e

mutabilidade dos mesmos, ainda acarretará ônus e direitos ao terceiro, ou ainda

nas palavras de Celso Antonio Bandeira de Mello, “o estado, em principio, valer-

se-ia da permissão justamente quando não desejasse constituir o particular em

direito contra ele, mas apenas em face de terceiro”,203 o que levou Celso Ribeiro

Bastos204 a registrar que “boa parte da doutrina ressalta que há certa

promiscuidade destes institutos em determinadas utilizações práticas que são

feitas”.

Sob este prisma, as permissões seriam utilizadas em

determinadas modalidades, e concessões em outras, no entanto, o art. 175 da

CRFB/88 instituiu que para ambos é necessária a realização de licitação pública,

a qual é definida por Figueiredo205 como “procedimento administrativo formal que

visa a selecionar o melhor contratante para a Administração, que lhe deverá

prestar serviços, construir-lhe obras ou fornecer-lhe bens.”

3.5. LICITAÇÃO

Licitação nas palavras de Celso Antonio Bandeira de

Mello206:

[...] é um certame que as entidades governamentais devem promover e no qual abrem disputa entre os interessados em com elas travar determinadas relações de conteúdo patrimonial, para escolher a proposta mais vantajosa às conveniências públicas.

Hely Lopes Meirelles207 entende ser um “[...] procedimento

administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta mais

vantajosa para o contrato de seu interesse”.

203 DE MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 2007, p. 732. 204 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito administrativo. 3. ed. São Paulo:Saraiva, 1999, p.187. 205 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 402. 206 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 2006, p. 503.

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3.6. CONTRATO ADMINISTRATIVO

Ocorre, portanto, por força de lei, que toda licitação

envolverá a elaboração de um contrato com o licitante vencedor, incluindo-se

neste tocante, a Permissão, que, em tese, é um ato, e não um contrato

administrativo.

Ademais, a Lei 8.987/95, em seu art. 40, assim dispõe:

Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada mediante contrato de adesão, que observará os termos desta Lei, das demais normas pertinentes e do edital de licitação, inclusive quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato pelo poder concedente. (negritou-se).

Ao preceituar tal exigência (contrato), a lei causou uma

problemática em torno da natureza jurídica da Permissão, uma vez que, o termo

“contrato”, de acordo com a lição de Orlando Gomes208, define-se por um,

“negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, que sujeita as partes à observância de

conduta idônea à satisfação dos interesses que regularam”, ou ainda, como “um

acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir,

resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos”, sob a ótica de

Caio Mário da Silva Pereira209.

Celebrado o contrato, em analogia ao Direito Civil, as partes

revestem-se de direitos e obrigações, provenientes deste vínculo contratual, por

força do Princípio da Força Obrigatória dos Contratos, também denominado por

“Pacta Sunt Servanda, princípio da força obrigatória ou vinculante dos contratos

em relação aos contratantes, princípio da obrigatoriedade da convenção, princípio

da intangibilidade, princípio da obrigatoriedade dos contratos”210.

207 MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e Contrato Administrativo. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 23. 208 GOMES, Orlando. Contratos. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 10. 209 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. III, p. 2. 210 GUSMÃO, Diogo Ribeiro de. Da promessa (ou compromisso) de compra e venda como instrumento garantidor da aquisição de imóvel . Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1019, 16 abr. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8255>. Acesso em: 29 mar. 2010.

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Como se trata de relação com a Administração Pública, os

contratos com ela celebrados são administrativos, sendo definidos por Edmir

Netto de Araújo211, como

Acordo de vontades opostas, realizado “intuitu personae”, consensual, comutativo e sinalagmático, do qual participa a Administração Pública, para a produção de obrigações que envolvam finalidade pública, ou não contrariem o interesse público, contendo explícita ou implicitamente cláusulas de privilégio que o submetem a regime jurídico de direito administrativo, informado por princípios publicísticos, colocando a Administração em posição de supremacia no ajuste.

Ocorre aqui uma problemática jurídica, uma vez que sempre

se teve que a permissão era ato administrativo unilateral, precário, o que não

condiz, no entanto, com a elaboração do contrato e os dispostos acima, uma vez

que, um contrato liga ambas as partes, atribuindo a elas, direitos e obrigações,

exigindo, entre uma de suas características, tempo de vigência, incorrendo em

penalidades qualquer das partes que rescindi-lo antes do término do mesmo.

Logo surge a pergunta: adquirindo estas características por

força de lei, uma vez que esta vincula os atos administrativos e esta dispõe que

mesmo as permissões teriam que ser realizadas com contrato e precedidas de

licitação (o que de certa forma retira o caráter de discricionariedade do Agente

Público), tornar-se-ia igual a Concessão, passando a existir dois institutos com

mesma nomenclatura e mesmos efeitos no mundo jurídico?

Em sendo afirmativa a resposta, uma das duas deveria ser

extinta, uma vez que não faria sentido a diferenciação de nomenclatura, visto

tratarem-se da mesma coisa, razão pela qual Lucia Valle Figueiredo212 afirma não

ver “diferença no real, efetivo, regime jurídico de uma e outra quando se tratar de

serviço público”, parecendo-lhe que a “permissão passou a ser instituto ineficaz,

pois com as características de precariedade, temos a autorização de serviço

público”, acrescentando ainda, que a Permissão deve ser “ato bilateral, precedido

de licitação, e jamais poderia ter natureza precária, exatamente porque deverá ser

211 ARAÚJO, Edmir Netto. Curso de direito administrativo. 2009, p.646. 212 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 1998, p. 94.

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objeto de contrato, ainda que de adesão, [...] sobretudo se alocados grandes

capitais”.

3.7. PERMISSÃO CONDICIONADA

Hely Lopes Meirelles213 considera que existe uma outra

modalidade de Permissão, denominada permissão condicionada, salientando que

ela “[...] é, em princípio, discricionária e precária, mas admite condições e prazos

para exploração do serviço, a fim de garantir rentabilidade e assegurar a

recuperação do investimento do permissionário, visando atrair a iniciativa

privada”, a qual, de acordo com Toshio Mukai214, é aceita hoje pela doutrina

(Carlos Pinto Coelho Motta, Caio Tácito, J. H. Meirelles Teixeira), sendo

considerada como “a única modalidade de permissão acolhida pela lei 8.987/95”,

ou seja, admite-se a Permissão em que o Poder Público autolimita sua

discricionariedade no que tange a revogação a qualquer tempo, na medida em

que fixa prazo de vigência, bem como assegura vantagens ao permissionário,

reduzindo, inclusive, a precariedade do ato, que é uma das condições previstas

em lei para a sua outorga, sob o prisma de Hely Lopes Meirelles215. No entanto,

contradiz-se, o Autor, neste tocante, no que ele mesmo afirma: “O poder de

modificação unilateral do contrato administrativo constitui preceito de ordem

pública, não podendo a administração renunciar previamente à faculdade de

exercê-lo”.

Tal contradição reside no fato de Hely Lopes Meirelles

admitir, em um momento, que o poder público limite o seu poder de modificação

unilateral do contrato (e porque não rescisão?) – Permissão Condicionada e em

outro momento, asseverar que é vedado ao Poder Público renunciar a faculdade

de exercer tal direito, por ser preceito de ordem pública; o que parece sábio, pois

está ligado diretamente aos princípios basilares da Administração como

supremacia do bem público e poder de império, uma vez que

213 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 350-351. 214 MUKAI, Toshio. Direito administrativo sistematizado. 1999, p. 477. 215 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 2006, p. 189-214.

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Bastam que se leiam os princípios para saber o que um ato deve conter. A exação da conduta administrativa está precisamente no conhecimento dos princípios. Não respeitados, os atos ficam amorais nos efeitos e na eficácia, deixando margem a medidas recursais que venha a resguardar interesses ou direitos ameaçados.216

Em outras palavras, não há como haver permissão

condicionada, pois a Administração não poderia renunciar o direito de, caso

necessário, utilizar uma de suas prerrogativas, que é a rescisão unilateral do

contrato, ou no caso, revogação do ato administrativo.

Ademais, existindo a concessão, qual a razão para se criar a

figura da permissão condicionada? Uma vez que, desejando-se dar direitos ao

particular, levando-se em conta o dispêndio de investimentos econômicos e

passar a sensação jurídica óbvia para obras ou prestações dispendiosas, não

haveria porque existir tal permissão, já que já existe a concessão.

3.8. NATUREZA JURÍDICA DA PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

Celso Antonio Bandeira de Mello217 assim trata da

problemática, ao mencionar que o instituto da permissão de serviço público, “vem-

se esgarçando e perdendo os contornos que tradicionalmente se lhe

reconheciam”, ou seja, “permissão de serviço púbico, segundo o conceito

tradicionalmente acolhido na doutrina, é ato unilateral” - uma vez que o artigo 175,

parágrafo único, inciso I, da Constituição Cidadã ao tratar de concessões e

Permissões, menciona o termo contrato, que na visão do doutrinador, o fez com

“[...] imprecisão técnica de redação, pois a expressão, obviamente, só pode estar

reportada as concessões, embora, do modo que esteja posta a linguagem

normativa, abarcasse ambas” -, bem como “[...] é precário, intuitu personae,

através do qual o Poder Público transfere a alguém o desempenho de um serviço

de sua alçada, proporcionando, à moda do que faz na concessão, a possibilidade

de cobrança de tarifas dos usuários”, o que, no seu entendimento, a concessão e

216 FRANCO SOBRINHO, Manoel de Oliveira. O princípio constitucional da moralidade administrativa. 2. ed. Curitiba: Genesis, 1993. 178 p., p 12. 217 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio de Mello. Curso de direito administrativo. 2006, p. 731-739.

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permissão confundiram-se de tal modo que esta última deixou de existir, ou nas

suas palavras “por tudo igualar-se à concessão, não havendo dois institutos, mas

um só,” já que a “precariedade poderá servir para distinguir a permissão da

concessão, desde que seja entendida como contrato sem prazo estabelecido218”,

o que não se admite, pois “não podem ser outorgadas permissões suscetíveis de

perdurar ad aeternum219”.

Lúcia Valle Fernandes220 é da mesma idéia assim

lecionando sobre o tema:

A implementação de serviços públicos, de natureza continuada, de serviços que postulem continuidade, pois, em sua forma clássica tal como a configura a doutrina brasileira, a permissão é unilateral e precária. Deve ser ato bilateral, precedido de licitação e jamais poderia ter natureza precária [...] sobretudo se alocados grandes capitais. Sustenta–se que, já no passado, não parece existir diferença entre o regime jurídico de permissão e concessão de serviço público – desde a constituição de 1988 não sendo mais possível a precariedade, pois foi colocada pari passu com a concessão de serviço público.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro221 igualmente parece

compartilhar a mesma idéia, qual seja, que a permissão trata-se de um instituto

que veio perdendo suas características e encontra-se praticamente em desuso,

pois vejamos:

[...] a fixação de prazo aproxima de tal forma a permissão da concessão que quase desaparecem as diferenças entre os dois institutos. Em muitos casos, nota-se que a administração celebra verdadeiro contrato de concessão sob o nome de permissão. Isso ocorre porque a precariedade inerente à permissão, com possibilidade de revogação a qualquer momento, sem indenização plenamente admissível quando se trata de permissão de uso de bem público (sem maiores gastos para o permissionário), é inteiramente inadequada quando se cuida de prestação de serviço público. Trata-se de empreendimento que, como qualquer envolve gastos; de modo que dificilmente alguém se interessará, sem ter

218 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 2008, p. 287. 219 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio de Mello. Curso de direito administrativo. 2008, p. 759. 220 FERNANDES, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 8. ed. São Paulo: Editores, 2006, p. 120-123. 221 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2008, p. 104.

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as garantias de respeito ao equilíbrio econômico-financeiro, somente assegurado pelo contrato com prazo estabelecido [...] as permissões com prazo, desnaturam o instituto, e daí, também, o fato de já haver quem impugne o caráter de permissão de determinados atos que a lei assim denomina, até que por fim, seja extinto o instituto.

Tal posicionamento levou Bruno Jobert222 a alertar que,

diante dos fatos, a imagem que se tem do Estado, pode tornar-se contraditória,

uma vez que:

Ora se lembra a máquina centralizada, impondo a todos os mesmos comportamentos, ora a visão do funcionário ineficiente; ora a vontade totalitária do estado, ora a anarquia dos serviços; ora o Estado mudo, que não garante segurança alguma, ora o Estado com proteção que incomoda.

Não poderia ser mais apropriada tal colocação, ante o clima

de insegurança jurídica gerado por imprecisões legislativas, onde, em tese, jamais

poderia ocorrer, ou seja, a Administração Pública, em todos os seus

desdobramentos, deve transmitir a devida segurança jurídica, em obediência a

todos os seus princípios fundantes; o que não está ocorrendo em relação à

utilização do Instituto da Permissão, após a promulgação da Lei 8.987/95, que

regulamentou o artigo 175 da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988.

Diante disso, Celso Antônio Bandeira de Mello223 atenta para

o fato de que a doutrina vem se posicionando de forma a classificar a Natureza

Jurídica da Permissão de Serviços Públicos, como ato administrativo,

discricionário e precário para alguns, com uma normação excepcional, no caso da

permissão com prazo (Hely Lopes Meirelles, Diogo Figueiredo Moreira Neto, José

Cretella Júnior e Diogenes Gasparini), enquanto que para outros, tem-se que em

tudo igualou-se a concessão (Lúcia Valle Figueiredo, José Horácio Meirelles

Teixeira, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Maria Sylvia Zanella Di Pietro,

Celso Antônio Bandeira de Mello, Meirelles Teixeira e Ivan Barbosa Rigolin).

222 JOBERT, Bruno. L’État em action – L’apport dês politiques publiques. In MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. 2003, p. 75. 223 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 2008, p. 755-758.

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Tal insegurança jurídica, já há décadas comporta

questionamentos nas vias judiciais, no que tange a interpretação da Natureza

Jurídica da Permissão, no intuito de se alcançar entendimento diverso ao

doutrinário, a ponto de, em 1969, anterior, portanto, a promulgação da

Constituição brasileira vigente, Miguel Reale224, elaborar um parecer com o

seguinte posicionamento:

Poder-se-ia dizer que a Permissão se constitui como se fora autorização e é exercida como se fora concessão, o que explica que nossos legisladores ora impreguem um vocábulo, ora outro, ou os dois, indiferentemente, demonstrando a falta de clara determinação conceitual.

Para melhor posicionar esta questão, tratou-se de verificar o

entendimento dos Tribunais Pátrios, a fim de se buscar uma solução para tal

questionamento, e o que se encontrou foi também, uma divergência de

interpretação do tema em questão, diante da incoerência legal e constitucional.

O Supremo Tribunal Federal225, em análise a Ação Direita de

Inconstitucionalidade n˚ 1.491-DF, julgou, em sua apertada maioria, pelo

afastamento de “qualquer distinção conceitual entre permissão e concessão, ao

conferir àquela o caráter contratual desta”226, ou seja, ambas tem a mesma

natureza jurídica de contrato administrativo.

Não obstante a isso, o mesmo Supremo Tribunal Federal,

em análise à natureza jurídica da Permissão de Serviço Público, em Recurso

Extraordinário n˚183180-4, onde a União buscava a descaracterização da

Concessão delegada à empresa Transbrasil Linhas Aéreas, no intuito de não

concedê-la o equilíbrio econômico a qual tinha direito, sob a alegação de que se

tratava de uma Permissão de Serviços Públicos, e não de Concessão, julgou

224 REALE, Miguel. Permissão de serviço municipal de transporte coletivo urbano. Revista dos Tribunais, 1988, p. 7-13. 225 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Disponível em <http://www.stf.gov.br.> Acesso em 10 nov. 2009. 226 BRASIL. Estudo de administrativo. Disponível em <http:// www.estudodeadministrativo.com.br/infformativo-116.php>. acesso em 06 abr. 2010.

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tratar-se de uma Concessão, levando-se em conta, sua natureza jurídica

(concessão), e não a sua nomenclatura (Permissão).227

Em análise e julgamento de Recurso Especial n. 982909/SP,

(2007/0215702-2), Relatora Ministra Denise Arruda, julgado em 06 de agosto de

2009, o Superior Tribunal de Justiça228 teve o seguinte entendimento e decisão

unânime a respeito da temática em foco:

227 BRASIL. Consultoria Legislativa do Senado Federal: Coordenação de estudos. Disponível em <http://www.senado.gov.br/conleg/textos_discussão/texto42-victorcarvalhopinto.pdf>. Acesso em 06 abr. 2010. 228 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Jurisprudências. Disponível em <http.: www.stj.gov.br. Acesso em 06 abr. 2010.

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RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE PÚBLICO. PERMISSÃO. TARIFAS DEFICITÁRIAS. EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO. REAJUSTE. INDENIZAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. 1. [...] 2. À empresa recorrente, após devido procedimento licitatório, foi outorgada permissão para a prestação de serviço de transporte coletivo no Município de Campinas/SP. Ao verificar a defasagem no valor das tarifas de transporte e, por conseguinte, o desequilíbrio econômico-financeiro no ajuste firmado, requereu, administrativa e, após, judicialmente, o reajuste tarifário e o pagamento de indenização em virtude dos prejuízos decorrentes de tarifas deficitárias. 3. O Superior Tribunal de Justiça, examinando a possibilidade de reajuste tarifário para as empresas permissionárias de serviço de transporte coletivo, entendeu que esse tipo de permissão possui natureza contratual, concluindo, assim, pela aplicabilidade da cláusula do equilíbrio econômico-financeiro previsto para os contratos administrativos (REsp 821.008/MG, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de 2.10.2006; REsp 120.113/MG, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 14.8.2000). 4. Embora a permissionária, em tese, possua direito à aplicabilidade da cláusula do equilíbrio econômico-financeiro prevista para os contratos administrativos, [...] não houve comprovação do efetivo prejuízo e do rompimento do referido equilíbrio econômico-financeiro do contrato, o que impossibilita a revisão tarifária e a indenização pretendida pela recorrente. 5. O julgamento da pretensão recursal – seja para reconhecer o direito ao reajuste tarifário, seja para analisar a ocorrência de rompimento do equilíbrio econômico-financeiro – pressupõe, necessariamente, o reexame dos aspectos fáticos da lide e das cláusulas contratuais –, atividade cognitiva vedada na via do recurso especial (Súmulas 5 e 7 do STJ). 6. Recurso especial desprovido. (negritou-se)

Desta feita, diante da interpretação jurisprudencial do

Supremo Tribunal Federal, aliado aos entendimentos doutrinários apresentados,

em contraste com o corpo da Norma Legal n˚ 8.987/95 e, sobretudo, levando-se

em conta o teor do artigo 175 da Constituição da República do Brasil de 1988,

pode-se considerar que, apesar da lacuna legal e seu conseqüente

desdobramento, ou seja, insegurança jurídica (ato administrativo precário ou

contrato?) e o caos instalado por conta disso, a Permissão de Serviço Público em

tudo iguala-se a Concessão de Serviço Público, não havendo motivo algum de

sua utilização, senão para justificar o interesse por parte da Administração

Pública, em não garantir os direitos e consequente segurança jurídica inerente ao

contrato, atribuindo-lhe, por mera conveniência, um caráter precário,

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discricionário e unilateral; o que não mais se vislumbra face todo o exposto e

fundamentado pela doutrina, jurisprudência e pela própria Lei regulamentadora, n˚

9.897/95, em obediência ao preceito constitucional do artigo 175, que estabelece

a exigência de licitação e elaboração do competente contrato para a Concessão

e Permissão de Serviços Públicos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia nasceu da necessidade de se verificar as

possíveis alterações promovidas pelo advento da Lei n˚ 8.987/95 e sua

repercussão no ordenamento jurídico brasileiro, tendo como objeto de pesquisa, a

natureza jurídica da Permissão de Serviço Público após a promulgação da

referida Lei, no tocante a uma possível mudança no que diz respeito à

precariedade, unilateralidade e discricionariedade, até então atribuídas ao

mencionado Instituto, vez que, a partir da exigência constitucional de elaboração

de contrato, após pertinente processo licitatório em consonância ao artigo 40 da

Lei 8.987/95 que igualmente obriga a realização de contrato de adesão, os

requisitos da precariedade e unilateralidade do Instituto ora mencionado, tornou-

se alvo de questionamentos.

Objetivou-se, portanto, analisar a sua natureza jurídica, sob

a ótica legal, doutrinária e jurisprudencial, buscando-se possíveis respostas aos

seguintes questionamentos advindos da problemática gerada pelo advento do

referido texto legal: O Instituto da Permissão deixa de existir em virtude das

mudanças preceituadas na Lei nº 8.987/95? Há possibilidade de se estar diante

de um instituto híbrido? Está, a Permissão de Serviços Públicos, em vias de

extinção ou tacitamente extinta, ante sua imprecisão legal? Há possibilidade de

utilização da nomenclatura da Permissão em detrimento da Concessão?

Para tanto, no Capítulo 1, tratou-se da origem e evolução

histórica da Administração Pública, seu conceito e princípios norteadores, sua

classificação.

No Capítulo 2, abordou-se a questão dos Serviços Públicos,

com sua definição, princípios, espécies e classificação, Atos e Contratos

Administrativos no tocante a sua conceituação e classificação, os serviços

delegados, mais precisamente, a Autorização e a Concessão de Serviços

Públicos, com suas definições e natureza jurídica.

No Capítulo 3, tratou-se da conceituação e natureza

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jurídica da Permissão de Serviços Públicos, após a promulgação da Lei n˚

8.987/95, a qual trouxe alterações que desaguaram em imprecisões legislativas e

consequente insegurança jurídica, visto que fora atribuída a esta, características

que lhe são incompatíveis, ou seja, típicas da Concessão, como a existência de

termo ou prazo de duração, vinculando o poder Público à obrigação contratual,

resultando em ônus, no caso de descumprimento deste, colocando em dúvida sua

natureza jurídica (ato ou contrato administrativo?).

Por força disso, tornou-se uma questão de grande relevância

delimitar a posição doutrinária e jurisprudencial sobre o tema, com o intuito de

dirimir os questionamentos advindos da promulgação da referida lei, até então

não supridos de forma satisfatória, a fim de que a mencionada indefinição legal e

dissensão doutrinário-jurisprudencial, não acarrete danos às partes envolvidas,

uma vez que a segurança jurídica é um pressuposto essencial para as relações

que envolvem a Administração Pública, em observância a todos os seus

princípios basilares, os quais, se não forem respeitados, afetará a moralidade dos

atos, refletindo em seus efeitos e eficácia; o que se busca evitar.

No entanto, referido posicionamento entre renomados

doutrinadores, e até mesmo do próprio Supremo Tribunal Federal, não é unânime.

Parte considera que a Permissão ainda é considerada um

Ato Administrativo unilateral, precário e discricionário, defendendo que a lei trouxe

em seu corpo uma modalidade nova de Permissão de Serviços Públicos -

Permissão Condicionada ou Permissão Qualificada -, com prazo de vigência e

devidas seguranças jurídicas comuns à Concessão, sem, no entanto, deixar de

considerá-la precária, ou seja, apenas reduziu-se a precariedade e

discricionariedade da Administração em relação ao particular, o que, após o

presente estudo, considerou-se que fere de morte o Princípio da Legalidade e o

Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado.

Por outro lado, boa parte dos doutrinadores de peso e a

maioria do Supremo Tribunal Federal, consideram que após a vigência da Lei n˚

8.987/95, a Concessão e a Permissão de Serviço Público, por tudo se igualar,

tornaram-se um só Instituto, visto que este adquiriu a natureza jurídica daquele,

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ou seja, Contrato Administrativo, tendo em vista a ausência de interpretação

precisa que se deve extrair do texto legal (artigos 2˚, IV, e 40 da Lei 8.987/95), e

do texto constitucional (artigo 175); o que faz com que se coloque em xeque a

precariedade e unilateralidade do ato administrativo - Permissão.

Quanto às hipóteses levantadas para uma possível resposta

aos questionamentos levantados na presente monografia, tem-se que:

Hipótese 1: Confirmada. A Permissão de Serviço Público

não deixa de existir em virtude das mudanças preceituadas na Lei nº 8.987/95,

uma vez que sua extinção dependerá de previsão legal expressa, o que não se

vislumbra a curto prazo, visto tratar-se de preceito constitucional; assim sendo,

somente uma Emenda Constitucional poderá extingui-lo, já que a referida lei veio

apenas regulamentá-lo, apenas podendo ser alterada via promulgação de outra

lei que a retifique.

Hipótese 2: Não confirmada. Diante do exposto, tem-se que

a Permissão de Serviços Públicos tornou-se um instituto de natureza híbrida (ora

se comporta como ato, ora como contrato), vez que, apesar da Lei 8.987/95,

estabelecer a existência de dois Institutos distintos, a mesma dá margem à

interpretação diversa, quando atribui a esta, características compatíveis à

Concessão e, portanto, tacitamente equipara os Institutos, sobretudo, quando

estabelece a obrigatoriedade de licitação e sua formalização por contrato; o que

na prática se verifica, quando da utilização da nomenclatura da Permissão em

detrimento da Concessão, de forma conveniente por parte da Administração

Pública, quando não pretende dar garantias ao particular.

Hipótese 3: Confirmada. A Permissão de Serviço Público

está fadada à extinção, ante a imprecisão legal no tocante à sua natureza jurídica,

oriunda das mudanças ocasionadas pela Lei 8.987/95, que a torna alvo de desuso

por torná-la uma espécie de Concessão, não havendo, portanto, razão da

existência de dois institutos idênticos, com nomenclaturas distintas, uma vez que

a segurança jurídica das relações que envolvem a Administração Pública é um

pressuposto essencial para o cumprimento dos atos e contratos administrativos,

os quais devem estar eivados dos princípios basilares da Administração, por

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razões óbvias: que particular arriscaria seu investimento - que via de regra, nas

Permissões não são de pequena monta – em um Instituto impreciso que,

dependendo da interpretação que se der ao texto legal, oferece ou não, garantias

ao particular, ante a sua precariedade ou ausência dela?

Hipótese 4: Confirmada. Não há possibilidade de utilização

da nomenclatura da Permissão em detrimento da Concessão, quando por

interesse da Administração Pública por mera conveniência desta, pois tal prática

só aumentaria a insegurança jurídica já instaurada pelo advento da referida Lei, a

exemplo da criação doutrinária da permissão condicionada ou qualificada, que

igualmente, não há de prosperar, pois atribui à Permissão características típicas

da Concessão, ou seja, contrato com prazo de vigência, garantias, redução da

precariedade e discricionariedade da Administração Pública, contrariando,

inclusive, seus princípios fundantes, pois é característica própria dos contratos

realizados pela Administração que esta tenha direito as cláusulas exorbitantes,

fruto do poder de Império do Estado, o que não torna diferente de uma rescisão

contratual de Concessão por fatos de interesse público, implicando igualmente

nos mesmos ônus; fato que se constata, ante tal prática discutida, inclusive, nas

vias judiciais, sendo vedado, no entanto, pelo Supremo Tribunal Federal.

Denota-se, diante das questões expendidas, que a doutrina

e a jurisprudência se dividem quanto a sua natureza jurídica, tendo, no entanto,

como posicionamento majoritário do Supremo Tribunal Federal, que a Permissão

de Serviço Público, atualmente, nada difere da Concessão.

A doutrina somente é unânime em considerar confusa a

interpretação que se deve ter do texto legal que trata da Permissão, mais

precisamente quanto a sua natureza jurídica, restando aos Tribunais o rumo da

solução para cada caso concreto, vez que o mencionado Instituto, tornou-se uma

verdadeira colcha de retalhos, ante a tentativa frustrada de se regulamentar o

artigo constitucional n˚ 175, atribuindo à Permissão de Serviço Público,

características inerentes à Concessão, ou seja, infelizmente, fazendo uso das

palavras de Celso Antonio Bandeira de Mello, trata-se de um “verdadeiro samba

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do criolo doido”, um instituto abolido e transformado em algo que não é por meras

imprecisões legislativas.

Por fim, o que se tem, de fato, é um desconforto e uma

insegurança em torno do mencionado Instituto, especialmente quanto a sua

natureza jurídica, a qual não há mais de se falar em ato precário e revogável a

qualquer tempo quando a Administração Pública está ligada a um terceiro por

meio de contrato, com tempo de vigência e penalidades contratuais em caso de

inadimplemento e rescisão antes do seu término, que a torna equivalente à

Concessão, o que o faz cair em desuso ante a inaceitável insegurança jurídica

instaurada, bem como cai por terra sua polêmica “precariedade”, face à toda

problemática expendida.

Encerra-se, portanto, o presente Relatório de Pesquisa, com

os pontos conclusivos já destacados, a fim de estimular à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre a natureza jurídica da Permissão dos Serviços

Públicos após a promulgação da Lei n˚ 8.987/95, de modo a incentivar uma

futura, necessária e urgente alteração legislativa.

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