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1 A NECESSIDADE DE CONSERVAÇÀO DE ÁREAS NATURAIS PARA A PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOENÇAS E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DAS POPULAÇÕES BRASILEIRAS Marcia Chame Fundação Oswaldo Cruz Programa Instucional Biodiversidade & Saúde Mariana Scheneider Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância Sanitária Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador Texto de apoio à moção da Comissão Nacional de Biodiversidade CONABIO a ser encaminhada ao Senado Federal para subsídios às discussões sobre as mudanças no Código Florestal Brasileiro, em discussão. Em 04 de junho de 2011 A perda de habitats, a fragmentação, a conversão de ecossistemas tropicais em agricultura, pastagem, áreas de ocupações humanas ou simplesmente áreas abertas e abandonadas aumentam a emergência e incidência de doenças transmitidas por vetores e patógenos (Ostfeld & Logiudice, 2003; Keesing et al., 2010, MacKensie, 2009; 2010). A capacidade de adaptação e colonização de vírus, bactérias, protozários, fungos, helmintos e vetores não devem ser subestimadas. As transformações ambientais beneficiam muitas destas espécies, com impactos significativos para a saúde humana e animal. Um dos maiores benefícios da conservação da biodiversidade é o controle de doenças. Nos ambientes nos quais o número de espécies é grande, a presença de muitos hospedeiros e vetores diminui a chance daqueles competentes se manterem e transmitirem um patógeno (Ostfeld & Keesing, 2000; Peixoto & Abramson, 2006; Dearing & Dizney, 2010). Espécies de hospedeiros e vetores incompetentes têm o poder de dispersar o patógeno no ambiente criando o “efeito de diluição” (Schmidt & Ostfeld, 2001; Yahnke et al.,2001; Armién et al., 2009, Mills, 2006; Dizney & Ruedas 2009, Johnson & Thieltges, 2010), um dos mais importantes serviços ambientais das áreas naturais. A substituição de habitats naturais promove a dispersão de doenças para os ambientes antrópicos e as reservas legais e áreas de preservação permanente contribuem para a manutenção dos ciclos silvestres das doenças nos seus habitats naturais. Na Amazônia brasileira a transformação da floresta em monoculturas de açaí, tratadas como “atividades sustentáveis”, produz a maior causa da emergência de doença de Chagas por transmissão oral (alimento contaminado), com mais de 100 casos novos anualmente registrados (Ministério da Saúde MS, 2005; Nobrega et al. 2009). Os barbeiros se abrigam naturalmente em palmeiras e por isso, são atraídos para os açaizais. No

A NECESSIDADE DE CONSERVAÇÀO DE ÁREAS NATURAIS PARA A PREVENÇÃO E ... · Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador ... aumento de algumas espécies

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A NECESSIDADE DE CONSERVAÇÀO DE ÁREAS NATURAIS PARA A

PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOENÇAS E MELHORIA DA QUALIDADE DE

VIDA DAS POPULAÇÕES BRASILEIRAS

Marcia Chame

Fundação Oswaldo Cruz

Programa Instucional Biodiversidade & Saúde

Mariana Scheneider

Ministério da Saúde

Secretaria de Vigilância Sanitária

Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador

Texto de apoio à moção da Comissão Nacional de Biodiversidade – CONABIO a ser

encaminhada ao Senado Federal para subsídios às discussões sobre as mudanças no

Código Florestal Brasileiro, em discussão.

Em 04 de junho de 2011

A perda de habitats, a fragmentação, a conversão de ecossistemas tropicais em

agricultura, pastagem, áreas de ocupações humanas ou simplesmente áreas abertas e

abandonadas aumentam a emergência e incidência de doenças transmitidas por

vetores e patógenos (Ostfeld & Logiudice, 2003; Keesing et al., 2010, MacKensie, 2009;

2010). A capacidade de adaptação e colonização de vírus, bactérias, protozários, fungos,

helmintos e vetores não devem ser subestimadas. As transformações ambientais beneficiam

muitas destas espécies, com impactos significativos para a saúde humana e animal.

Um dos maiores benefícios da conservação da biodiversidade é o controle de

doenças. Nos ambientes nos quais o número de espécies é grande, a presença de muitos

hospedeiros e vetores diminui a chance daqueles competentes se manterem e transmitirem

um patógeno (Ostfeld & Keesing, 2000; Peixoto & Abramson, 2006; Dearing & Dizney,

2010). Espécies de hospedeiros e vetores incompetentes têm o poder de dispersar o

patógeno no ambiente criando o “efeito de diluição” (Schmidt & Ostfeld, 2001; Yahnke et

al.,2001; Armién et al., 2009, Mills, 2006; Dizney & Ruedas 2009, Johnson & Thieltges,

2010), um dos mais importantes serviços ambientais das áreas naturais.

A substituição de habitats naturais promove a dispersão de doenças para os

ambientes antrópicos e as reservas legais e áreas de preservação permanente

contribuem para a manutenção dos ciclos silvestres das doenças nos seus habitats

naturais. Na Amazônia brasileira a transformação da floresta em monoculturas de açaí,

tratadas como “atividades sustentáveis”, produz a maior causa da emergência de doença de

Chagas por transmissão oral (alimento contaminado), com mais de 100 casos novos

anualmente registrados (Ministério da Saúde MS, 2005; Nobrega et al. 2009). Os barbeiros

se abrigam naturalmente em palmeiras e por isso, são atraídos para os açaizais. No

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processamento do açaí podem ser triturados junto com a polpa na qual o Trypanosoma

cruzi permanece resfriado até o consumo. Como os barbeiros se alimentam de sangue dos

animais silvestre que foram suprimidos destas áreas, buscam o sangue das pessoas e

animais domésticos que habitam e trabalham nos açaizais, transpondo o ciclo silvestre para

o domicílio humano (Araújo et al., 2009; Varella et al., 2009).

Os custos da doença de Chagas são altos, 30% das pessoas infectadas desenvolvem

patologias cardíacas e digestivas graves com a necessidade de implante de marcapassos e

transplantes cardíacos. De 1975 a 1995 o governo brasileiro investiu US$420 milhões no

controle da doença de Chagas, com retorno de US$3 bilhões, US$7.16 para cada dólar

investido (Akhavan, 2000). Estes custos familiares e econômicos podem ser minizados com

a preservação das áreas naturais e sua fauna nativa. As reservas legais de cada propriedade

e áreas de proteção permanente devem ser entendidas como bem preventivo de doenças.

Com a perda de ecossistemas naturais perdem-se primeiramente os grandes e

médios predadores que controlam a incidência de doenças (Packer et al., 2003;

Ostfeld & Holdt, 2004). A presença de predadores diminui a circulação e os contatos entre

pequenos hospedeiros, consequentemente diminuindo a dispersão de muitas doenças

(Dizney & Ruedas, 2009). No Brasil, além das transformações ambientais que promovem o

aumento das espécies de roedores oportunistas que também se adaptam com facilidade ao

peridomicílio (Mills & Childs, 1998; Mills, 2006), a perda de predadores determina o

aumento de algumas espécies de roedores que são os hospedeiros naturais de

HANTAVIRUS (Abramson & Peixoto, 2006), que nas Américas produz a Síndrome

Pulmonar hemorrágica com 40 a 60% de mortalidade (Costa et al., 2002). Quanto maior a

diversidade de roedores, menor é incidência de roedores infectados por Hantavirus (Mills et

al. 2005). Os surtos desta infecção pulmonar aguda e grave ocorrem nas áreas de grandes

impactos antrópicos, nas quais a biodiversidade foi suprimida. Vários tipos de Hantavirus

já foram diagnosticados no Brasil (Lemos et al., 2004; Suzuki, 2004, Rosa et al., 2005;

Figueiredo et al., 2009; Oliveira et al., 2009, 2011) e de 1993 a 2009, 1171 casos com 461

mortes foram registrados (MS, 2009).

A febre maculosa é uma infecção aguda causada pela bactéria Rickettsia rickettsii,

transmitida pela picada do carrapato infectado. Esta doença vem aumentando desde 1996

no Brasil, embora a maioria dos casos não sejam diagnosticados. A taxa de mortalidade é

de 20% e o vetor mais comum é o carrapato estrela, o Amblyomma cajennense, que infesta

galinhas, cavalos, bois, cães e porcos e animais silvestres como capivaras, gambás, tatus,

cobras e canídeos silvestres. Para infectar o homem basta que os carrapatos fiquem aderidos

a ele por 4 a 6 horas. Os casos de febre maculosa ocorridos no sudeste do Brasil em

2005 (Figura 1) exemplificam os efeitos da perda e redução das populações de

mamíferos de médio e grande porte nos pequenos fragmentos e unidades de

conservação de Mata Atlântica remanescentes, da mesma forma como ocorre com a

doença de Lyme nos EUA.

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Figura 1: Número de casos de Febre Maculosa confirmados e notificados no SINAN por

100.000 habitantes (ha), segundo as regiões político-administrativas brasileiras durante o

período de 2001 a 2008.

Fonte: Sistema de Informação dos Agravos de Notificação (SINAN)

(http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/)

Na região amazônica o número de casos de mordeduras de morcegos em

homens aumentou nove vezes nas áreas de maior desmatamento, entre os anos de

2003 (852 casos) e 2004 (8.258 casos) (MS, 2006). No Pará, estado brasileiro com maior

taxa de desmatamento, o número de casos saltou de 383 em 2003, para 7.640 em 2004 e

mais de 15.000 casos em 2005. No Maranhão foram reportados 108 casos de mordeduras

em 2004 e 1100 casos em 2005. Cerca de 20 pessoas morreram de raiva em 2004. Esse

aumento relaciona-se a perda das espécies nativas que naturalmente são fontes de alimentos

das espécies hematófagas e a oferta de alimento humano, principalmente nos garimpos.

Apesar do aumento das freqüências de mordeduras houve queda do número de casos de

raiva sem que, no entanto, os desmatamentos tenham diminuído. Isso indica que de certa

forma há um processo de imunização das pessoas provavelmente pela repetição da

mordedura de morcegos (Schneider et al., 2001) (Figura 2).

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Figura 2: Número de casos de Raiva confirmados e notificados no SINAN por 100.000

habitantes (ha), segundo as regiões político-administrativas brasileiras durante o período de

2001 a 2008.

Atividades humanas como o deflorestamento e o desenvolvimento da

agricultura são forças motrizes importantes para a emergência das

LEISHMANIOSES (Weigle et al. 1993). As transformações desenvolvimentistas dos

territórios aumentam a incidência das formas cutânea e visceral da Leishmaniose (Desjeux,

2001), especialmente nas áreas de abertura de estrada e nas residências humanas

implantadas ao longo destes empreendimentos possibilitando a adaptação de hospedeiros e

vetores ao peridomicílio (Patz et al. 2000). No Brasil, de 1980 a 2003, 51.222 casos foram

notificados oficialmente (MS, 2005). A leishmaniose visceral é endêmica em 19 estados,

com taxa de mortalidade de 10% (Queiroz et al. 2004; Maia-Elkhoury et al., 2008) e

diversos surtos foram notificados de 1981 a 1990. Em Manaus, uma área de expansão

urbana não estruturada que avançou sobre a floresta trouxe o ciclo zoonótico de Leishmania

(V). guyanensis para a população (Barret & Senra 1989).

A supressão vegetal e a destruição de habitats aumentam ainda

consideravelmente o número de casos de acidentes com animais peçonhentos como

serpentes, escorpiões, aranhas, lagartas, abelhas e peixes (MS,2008). O perfil de

ocorrência de serpentes e outros animais peçonhentos em regiões alteradas promovem a

ampliação da distribuição destas sobre ambientes favoráveis, como no caso das cascavéis

em São Paulo (Bastos et al. 2005). Há ainda o impacto da introdução e translocação de

espécies exóticas invasoras, como os de escorpiões levados em materiais de construção

para obras de grandes empreendimentos, como o Projeto de Integração do São Francisco, e

que podem gerar riscos para a saúde humana (MS, 2008).

A supressão vegetal e a destruição de habitats aumentam ainda

consideravelmente o número de casos de acidentes com animais peçonhentos como

serpentes, escorpiões, aranhas, lagartas, abelhas e peixes (MS,2008). O perfil de

ocorrência de serpentes e outros animais peçonhentos em regiões alteradas promovem a

ampliação da distribuição destas sobre ambientes favoráveis, como no caso das cascavéis

em São Paulo (Bastos et al. 2005). Há ainda o impacto da introdução e translocação de

espécies exóticas invasoras, como os de escorpiões levados em materiais de construção

para obras de grandes empreendimentos, como o Projeto de Integração do São Francisco, e

que podem gerar riscos para a saúde humana (MS, 2008).

Estudos ecológicos na Amazônia correlacionam o desmatamento, as grandes

hidrelétricas, as ocupações humanas, a presença do mosquito vetor - Anopheles

darlingi ao aumento do risco de malária (Vasconcelos et al. 2006; Vittor et al., 2009).

Diferentemente de como são divulgados, os grandes empreendimentos implantados com o

objetivo de estabelecer o desenvolvimento regional são os responsáveis pelo aumento da

MALÁRIA E ESQUSITOSOMOSE, maiores problemas de saúde e desenvolvimento

econômico em mais de 100 países (Guimarães et al., 1997; Patz et al., 2004, Meneguzzi et

al. 2009). Nestas regiões a taxa de malária é 278 vezes maior do que nas áreas florestadas

(Afrane et al., 2006). No Brasil, em 2006, 99,5% dos casos de malária notificados

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ocorreram nas regiões endêmicas da Amazônia (MS, 2007), mas milhares de casos são

descritos para Itaipu Binacional (Couto, 1996) e outras hidrelétricas. Plantas hidrelétricas e

projetos de irrigação criam novos habitats e condições que permitem o estabelecimento de

hospedeiros e vetores de inúmeras doenças (Guimarães et al., 2004; Fernadez & Thiengo,

2002, Silva-Nunes, 2010). Projetos de irrigação promovem a alteração da biodiversidade e

a redução da corrente das águas favorecendo o molusco Biomphalaria (Tundisi et al. 2005)

hospedeiros do Schitosoma mansoni. Estas alterações no equilíbrio e na dinâmica dos

ecossistemas juntamente com o aumento do fluxo migratório e assentamento de grande

contingente de pessoas, sem imunidade, cria cenário crítico a saúde local (Guimarães et al.

2004; Vasconcelos et al., 2006) e aumentam o risco de introdução de doenças de veiculação

hídrica (Tundisi & Barbosa, 1995), dentre elas as doenças diarréicas agudas (DDAs). No

município de Cabrobó, da área de influência do Projeto de Integração do Rio São Francisco

(PISF), houve um aumento de 25% no número de casos de doenças diarréicas de 2008 a

outubro de 2010 (Fonte: SMS Cabrobó). Vale destacar que patógenos de veiculação hídrica

são, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os principais causadores de

mortalidade e doenças em países de menor renda.

A perda das espécies impossibilita ou reduz o uso de recursos para o

desenvolvimento de insumos para a saúde. Uma síntese realizada das drogas

desenvolvidas a partir de 1950 (Newman et al. 2007) (Figura 3) mostra a dominância do

desenvolvimento de novas drogas para o tratamento de doenças humanas a partir da

biodiversidade ou ainda da inspiração que moléculas naturais trazem à produção de drogas

sintéticas ou semi-sintéticas. A perda dessas espécies limita para sempre os estudos e uso

somente às espécies remanescentes e diminuem as possibilidades de inspiração dos

cientistas para a construção de moléculas sintéticas. Há ainda o impacto sobre a utilização

para produção de cosméticos e alimentos.

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Figura 3: Todas as entidades químicas novas organizadas pela fonte/ano (N )

1184).

N= Produto natural; ND= Derivado de um produto natural, usualmente uma

modificação semisintética; S= Droga totalmente sintética, frequentemente

encontrada por varredura aleatória/modificação de um agente existente; NM =

Mímico de um produto natural; S* = Feito por síntese total, mas a

“pharmacophere” foi obtida ou é a partir de um produto natural.

É fundamental mobilizar o setor produtivo para implementação das ações

relacionadas ao desenvolvimento de insumos para a saúde a partir da biodiversidade,

comprometendo-os a estimular nacionalmente a conservação das espécies in situ, o

desenvolvimento técnico - cientifico nacional, a buscar a repartição justa e equitativa

de benefícios dentro do país e a coibir a evasão ou contrabando dos recursos naturais

brasileiros para países desenvolvidos, onde são prospectados e onde os medicamentos

são desenvolvidos. O entendimento da importância da conservação da biodiversidade e a

valoração da manutenção de suas espécies pode evitar situações como a do medicamento

CAPTOPRIL, um inibidor da enzima conversora de angiotensina, utilizado em tratamento

de hipertensão arterial, que teve como protótipo um polipeptídeo isolado do veneno de

serpente brasileira, Bothrops jararaca, comercializado por multinacionais farmacêuticas,

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rendendo de 3-5 bilhões de dólares anuais (Calixto, 2003). Soma-se a esse exemplo, tantos

outras possibilidades como um metabólito extraído da planta Ouratea exasperma que

demonstrou ser um potente inibidor de células cancerosas e outro metabólito secundário,

extraído das folhas e raízes da planta Harpalyce brasiliana que demonstrou ter atividade

antivírus HIV. O estudo “Estrutura de mercado do segmento de fitoterápicos no contexto

atual da indústria farmacêutica brasileira” publicado pelo Ministério da Saúde em

(Freitas, 2007) identificou para o ano de 2006, 103 laboratórios comercializando 367

medicamentos fitoterápicos para 529 produtos analisados, referentes a 53 classes

terapêuticas. Do total de empresas produtoras 4,85%, ou seja, cinco empresas detinham

52,3% do faturamento do segmento e sete empresas, ou 6,85% do total de empresas

atuantes no setor, comercializaram 50,7% do total de apresentações de fitoterápicos, em

2006. Neste ano, as 20 maiores empresas venderam aproximadamente R$460.000.000,00

(quatrocentos e sessenta milhões de reais), o equivalente a 84,7% do total faturado pelo

segmento. O laboratório de maior representatividade é o Altana Pharma, de capital alemão,

seguido pelos laboratórios Farmasa e Marjan. O estudo revelou que no mercado nacional os

investimentos em P&D são marginais, incipientes e restritos a reduzido número de

empresas, pois são realizados nas empresas sede dos laboratórios, no país de origem.

Quando comparado aos preços dos medicamentos tradicionais, houve uma elevação dos

preços médios dos fitoterápicos de 2003 a 2006. O faturamento do segmento de

fitoterápicos brasileiro no período de novembro de 2003 a outubro de 2006, de R$

1.840.228.655 com a venda de 122.696.549 unidades farmacêuticas, ou embalagens de

medicamento, embora tenha havido pequeno declínio em 2006. Esses dados merecem uma

avaliação cuidadosa do ponto vista estratégico do país. A maior parte da produção, geração

de renda e emprego concentra-se no sudeste, e longe das maiores reservas de

biodiversidade do país. O segmento utiliza, na maior parte de sua produção, espécies

oriundas de outros países, com ínfimo aproveitamento das espécies brasileiras. Também

aproveita, sem repartir adequadamente, os benefícios dos conhecimentos tradicionais

associados ao uso da biodiversidade que são perdidos para sempre. O planejamento do

desenvolvimento nacional deve, portanto, considerar nos seus modelos atuais, já

ultrapassados, insustentáveis ambientalmente e geradores de concentração de poder e renda,

a vocação biológica e o conhecimento tradicional existente nas áreas prioritárias para

conservação da biodiversidade para que as regiões passem do passado ao futuro, por meio

da implantação da cadeia produtiva gerada pelo uso biotecnológico da biodiversidade. O

risco da perda dessa oportunidade é evidente uma vez que para a obtenção de um

medicamento sintético são gastos cerca de US$ 500 milhões, enquanto grande parte das

plantas medicinais encontra-se associada a valores culturais e de uso imediato pelas

populações de baixa renda, necessitando de investimento consideravelmente menor, para se

chegar a um produto comercializável. No mundo, nos últimos anos o estudo da seqüência

genômica de uma série de microorganismos produziu uma dúzia de arranjos

biossintéticospara cada um dos organismos estudados (Newman et al., 2007). Vale lembrar,

adicionalmente que o tesouro também está nas pequenas moléculas, particularmente nos

organismos marinhos e microrganismos (Newman & Hill, 2006).

Os exemplos citados dos impactos gerados pela perda da biodiversidade e da

degradação ambiental sobre a saúde são pequenos frente aos inúmeros já compilados

pelo setor. A eles somam-se os impactos dos contaminantes químicos de todas as naturezas

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e as injustiças sócio-ambientais que são mais graves onde a perda da biodiversidade já

ocorreu.

Não nos faltam exemplos de que ações predatórias à biodiversidade causam doenças e

agravam a miséria da população brasileira. Quem paga por essas injustiças são

justamente os mais desassistidos, embora muitas vezes a destruição de ambientes naturais

seja alardeada como necessária ao crescimento econômico. Temos a convicção de que o

desenvolvimento que trará qualidade de vida para todos é fortemente dependente da

conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Novos modelos de

desenvolvimento adequados às nossas realidades devem ser gerados com a clareza de que

ecossistemas conservados fazem bem à saúde.

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