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A NECESSIDADE DE RELATIVIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE NO PROCESS O ELETRÔNICO COMO GARANTIA DA DIGNIDADE DA PESS OA HUMANA L'IM PORTANCE DE LA RELATIVISATION DU PRINCIPE DE LA PUBLICITÉ DANS LE PROCèS ÉLECTRONIQUE COMME GARANTIE DE LA DIGNITÉ DE LA PERSONNE HUMAINE Vívian Brasil e Silva RESUMO A finalidade do presente artigo é realizar uma abordagem no conflito entre o princípio da publicidade e a dignidade da pessoa humana, demonstrando-se a importância da proporcionalidade a fim de se atingir a melhor solução. Como forma de não ferir o que foi conquistado através da Constituição Federal de 1988, é imperioso o debate acerca da aplicação integral de certos princípios que se encontram nesse documento. Afinal, com a Lei do Processo Eletrônico, a divulgação dos atos processuais estaria restrita aos profissionais que possuíssem a certificação digital. Assim, em um primeiro momento, a publicidade processual, que é vista como regra pela Constituição Republicana, poderia parecer abolida ou mitigada pela implantação do sistema eletrônico. Todavia, para que não se fira a dignidade da pessoa humana, expondo o indivíduo que vê sua querela sujeita a uma simples busca na rede online, conclui-se que o legislador deve se preocupar em realizar uma relativização principiológica, tendo continuamente como foco o resguardo dos direitos e garantias individuais de forma máxima. PALAVRAS -CHAVES: Princípio da Publicidade. Dignidade da Pessoa Humana. Relativização Principiológica. RESUME Le but qu’on se propose d’atteindre c’est d’apprecier un conflit entre le principe de la publicité et celui de la dignité de La personnne humaine. L’importance de la proporcionnalité y serait démontrée dans le sens de rencontrer la meilleure solution. Tout en évitant ce qui, même au hasard, puisse blesser n’importe quoi, obtenu grâce à la “Constituição Federal de 1988”, ce qui compte ici c’est le débat sur l’application intégrale de certains principes qui se trouvent dans ce document. Enfin, selon la Loi du Procès Électronique, la diffusion des dossiers serait restreinte aus profissionnels portant le certifict digital. De cette façon, dans un premier moment, la publicité, qui est vue comme une règle par la “Constituição Republicana”, pourrait sembler abolie ou mitiguée par l’implantation du système électronique. Néanmoins pour que ne soit pas blessée la dignité de la personne humaine, en exposant l’individu qui voit sa querelle sujette à une simple recherche dans le résaut online, on conclut que le législateur doit se soucier de réaliser une relativisation des principes, ayant continuellement comme finalité la garantie suprême des droits individueles. MOT-CLES: Principe de la Publicité. Dignité de la Personne Humaine. Rélativisation des Principes Logiques. INTRODUÇÃO O tema que se traz à baila diz respeito ao Princípio da Publicidade quando da utilização dos meios eletrônicos. A discussão se pauta pela necessidade da relativização do princípio supramencionado, para que se assegure o respeito a fundamentos que absolutamente não podem ser violados, em respeito ao ser humano e seus direitos e garantias fundamentais. O mecanismo em questão é imperioso, pois a esfera íntima e privada do indivíduo não pode estar exposta a uma simples busca na Internet. A virtualização do processo, em um primeiro momento, pode levar à errônea conclusão de que, em respeito à Constituição Republicana, todos os atos processuais seriam públicos na rede online, o que pode vir a trazer inúmeros prejuízos ao ser humano, detentor de dignidade, conforme se verá nos tópicos seguintes. Expressamente, a Carta Constitucional assegura o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, conforme apresentado, in verbis: "Art. 1°. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana". 3965

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A NECESSIDADE DE RELATIVIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE NO PROCESS O ELETRÔNICO COMO GARANTIA DA DIGNIDADE DA PESS OA HUMANA L'IM PORTANCE DE LA RELATIVISATION DU PRINCIPE DE LA PUBLICITÉ DANS LE PROCèS ÉLECTRONIQUE COMME GARANTIE DE LA DIGNITÉ DE LA PERSONNE HUMAINE

Vívian Brasil e Silva RESUMO A finalidade do presente artigo é realizar uma abordagem no conflito entre o princípio da publicidade e a dignidade da pessoa humana, demonstrando-se a importância da proporcionalidade a fim de se atingir a melhor solução. Como forma de não ferir o que foi conquistado através da Constituição Federal de 1988, é imperioso o debate acerca da aplicação integral de certos princípios que se encontram nesse documento. Afinal, com a Lei do Processo Eletrônico, a divulgação dos atos processuais estaria restrita aos profissionais que possuíssem a certificação digital. Assim, em um primeiro momento, a publicidade processual, que é vista como regra pela Constituição Republicana, poderia parecer abolida ou mitigada pela implantação do sistema eletrônico. Todavia, para que não se fira a dignidade da pessoa humana, expondo o indivíduo que vê sua querela sujeita a uma simples busca na rede online, conclui-se que o legislador deve se preocupar em realizar uma relativização principiológica, tendo continuamente como foco o resguardo dos direitos e garantias individuais de forma máxima. PALAVRAS -CHAVES: Princípio da Publicidade. Dignidade da Pessoa Humana. Relativização Principiológica. RESUME Le but qu’on se propose d’atteindre c’est d’apprecier un conflit entre le principe de la publicité et celui de la dignité de La personnne humaine. L’importance de la proporcionnalité y serait démontrée dans le sens de rencontrer la meilleure solution. Tout en évitant ce qui, même au hasard, puisse blesser n’importe quoi, obtenu grâce à la “Constituição Federal de 1988”, ce qui compte ici c’est le débat sur l’application intégrale de certains principes qui se trouvent dans ce document. Enfin, selon la Loi du Procès Électronique, la diffusion des dossiers serait restreinte aus profissionnels portant le certifict digital. De cette façon, dans un premier moment, la publicité, qui est vue comme une règle par la “Constituição Republicana”, pourrait sembler abolie ou mitiguée par l’implantation du système électronique. Néanmoins pour que ne soit pas blessée la dignité de la personne humaine, en exposant l’individu qui voit sa querelle sujette à une simple recherche dans le résaut online, on conclut que le législateur doit se soucier de réaliser une relativisation des principes, ayant continuellement comme finalité la garantie suprême des droits individueles. MOT-CLES: Principe de la Publicité. Dignité de la Personne Humaine. Rélativisation des Principes Logiques. INTRODUÇÃO O tema que se traz à baila diz respeito ao Princípio da Publicidade quando da utilização dos meios eletrônicos. A discussão se pauta pela necessidade da relativização do princípio supramencionado, para que se assegure o respeito a fundamentos que absolutamente não podem ser violados, em respeito ao ser humano e seus direitos e garantias fundamentais. O mecanismo em questão é imperioso, pois a esfera íntima e privada do indivíduo não pode estar exposta a uma simples busca na Internet. A virtualização do processo, em um primeiro momento, pode levar à errônea conclusão de que, em respeito à Constituição Republicana, todos os atos processuais seriam públicos na rede online, o que pode vir a trazer inúmeros prejuízos ao ser humano, detentor de dignidade, conforme se verá nos tópicos seguintes. Expressamente, a Carta Constitucional assegura o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, conforme apresentado, in verbis: "Art. 1°. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana".

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Destarte, apresenta-se essencial a busca pela indispensável relativização da publicidade, mas de forma que não se comprometa asua função precípua, que é dotar de legalidade o processo por técnica de revelação transparente das atividades imparciais doEstado. Logo, não se discute a sua atenuação, mas o seu redimensionamento.

Nos casos de antinomia, ou seja, de conflito aparente de normas positivadas, recorre-se à estrutura hierárquica do processolegislativo, buscando-se aquela que tem maior nível, ou, não sendo possível, utilizando-se o critério cronológico, de maiorespecialidade, entre outros. Contudo, ao se discutir a colidência de princípios tutelados, percebe-se que a aplicação dessesrecursos mostra-se inviável, pois os princípios possuem caráter geral, pertinente a todos os dispositivos legais.

Ademais, os princípios existem a fim de orientar o legislador na sua função de criar um ordenamento jurídico capaz de trazersegurança e estabilidade à sociedade. Afinal, foi com este intuito que, segundo os contratualistas, os homens abriram mão de sualiberdade. De acordo com a lição e Canotilho (1997, p. 859-860), "a defesa da constituição pressupõe a existência de garantias daconstituição, isto é, de meios e institutos destinados a assegurar a observância, aplicação, estabilidade e conservação da leifundamental".

Portanto, o Estado vai se utilizar destas regras não escritas, de caráter geral, a fim de que seu agente - o juiz - quando do exercícioda sua função judicante, possa usá-las como vetores orientativos. Segundo Immanuel Kant (1986, p. 68):

O homem é, duma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário destaou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas acções, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem aoutros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como um fim. (grifo original).

Do texto supratranscrito, conclui-se que o Estado existe em razão das pessoas, como possuidoras de direitos fundamentais e, porconseguinte, de dignidade. Não ocorre o contrário, pois o ser humano tem sua finalidade precípua, não sendo meio de atividadeestatal.

Por se mostrar como princípio supremo e, por conseguinte, matriz do Estado Democrático de Direito, quando a dignidade dapessoa humana conflita com outro princípio, é idiossincrática a ponderação e a aplicação deste no que lhe couber. Conformeleciona Guilherme Marinoni (2008, p. 55):

Quando há colisão de princípios, um deve ceder diante do outro, conforme as circunstâncias do caso concreto. De modo quenão há como se declarar a invalidade do princípio de menor peso, uma vez que ele prossegue íntegro e válido no ordenamento,podendo merecer prevalência, em face do mesmo princípio que o precedeu, diante de outra situação concreta. (grifo original).

Imperioso destacar que tal redimensionamento principiológico deverá ser realizado com a máxima cautela. Como destacam Cintra,Dinarmarco e Pellegrini (2004, p. 70), "toda precaução há de ser tomada contra a exasperação do princípio da publicidade. Osmodernos canais de comunicação de massa podem representar um perigo tão grande como o próprio segredo".

Por estar disposto em diversos dispositivos legais, sendo amplamente utilizado, não se pode olvidar a importância do Princípioda Publicidade. Todavia, mais do que garantir a transparência no atuar do Estado, é idiossincrático assegurar a preservação dosdireitos de personalidade dos indivíduos, o que se deu com o advento da Constituição Federal de 1988. Segundo Maria HelenaDiniz (2002, p. 135), estes se conceituam como:

Direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivoou morto, corpo alheio vivo ou morto, partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade depensamento, autoria científica, artística e literária); e a sua integridade moral (honra, recato, segredo profissional e doméstico,identidade pessoa, familiar e social).

Dessa forma, os direitos de personalidade apresentam-se como sendo subjetivos, intransferíveis e perpétuos, não podendo,portanto ser violados. Para tanto, deve-se discutir acerca do redimensionamento do princípio da publicidade, conforme segueadiante.

1 O princípio da publicidade

A publicidade mostra-se como princípio norteador do Estado Democrático de Direito. Afinal, não se pode falar em sua existência

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caso não se perceba a garantia de certos vetores norteadores, como a liberdade, a igualdade e a legalidade em sua essência. SegundoMoraes dos Santos (2008, p. 174), "Na democracia, ao revés, a coisa pública é gerida às claras, aos olhos de quem quiser ver".Contudo, para que tais valores sejam assegurados, faz-se essencial que a população, por meio da divulgação dos atos da gerênciaestatal, possa fiscalizar e controlar o exercício das funções legislativa, executiva e judiciária.

Assim, a ideia de publicidade em muito se confunde com o conceito de transparência, propiciando o efetivo controle da legalidadee legitimidade dos atos da Administração Pública, do Poder Judiciário e dos legisladores.

Porém, em casos especialíssimos, a publicidade deverá ser limitada, como forma de garantir direitos fundamentais; ou seja, ocoletivo será sacrificado, em partes, a fim de que um bem individual seja protegido. Para tanto, deve-se usar da máxima cautelapara evitar que um dos pilares do Estado Democrático de Direito venha a ruir, dando vazão à construção de um EstadoDespótico, em que os governantes praticam atos de poder às ocultas, escudados pelo sigilo e pela ausência de fiscalização.

1.1 Conceito

Anterior à exposição das razões pelas quais se faz necessária a relativização do princípio em tela, mostra-se idiossincráticoapresentar considerações acerca deste. Afinal, a publicidade deve estar presente em toda a atuação estatal, como forma deassegurar o acesso da população aos atos que estão sendo realizados pelos órgãos públicos. De acordo com Portanova (2005,p.167), "a abertura para o conhecimento público não é uma qualidade só do processo, mas de todo e qualquer sistema de direitoque não se embase na força, na exceção e no autoritarismo. A democracia não se compraz com o secreto, com o que não énotório".

Além disso, a publicidade se subdivide em duas categorias: a) quanto à forma, que pode ser mediata ou passiva (todos os sujeitosalcançam por meio de certidões ou informes), imediata ou ativa (acessíveis ao público de maneira geral); b) quanto ao alcance, quepode ser geral ou absoluta (todos tem acesso às informações processuais), interna ou restrita (adstrita às partes).

Com o surgimento da Informática e da Internet, o Estado procurou utilizá-las a seu favor, como forma de expandir a publicidadeno que tange a sua atuação. Um exemplo disso é o Portal da Transparência, que tem como desiderato disponibilizar ao cidadão aexecução financeira dos programas do governo em âmbito federal. Ademais, pode-se acompanhar a transferência de recursos paraEstados, Distrito Federal e municípios, assim como diretamente para cidadãos, bem como os gastos do próprio Governo Federal.

Apesar de remontar desde o período romano, somente no pós Segunda Guerra Mundial é que a publicidade evoluiu. A vontade dese implantar um Estado voltado para o bem-estar social, trazendo maiores benesses à população, faz com que a divulgação doatuar estatal ganhe maior respaldo. Segundo Almada (2006, p. 46):

Em virtude da implantação do Estado Social e como o objetivo de serem afugentadas as horrorosas lembranças do nazismo, é queos institutos processuais passaram a espelhar os ideais da democracia, assumindo o conceito de publicidade a noção detransparência externa e controlabilidade popular.

Desta forma, a publicidade torna-se pressuposto necessário para a democracia, tendo em vista que esta se mostra como o canal decomunicação entre o Governo e os governados. A Constituição Federal, em seu texto normativo, apresenta, ipsis litteris:

Art. 5º. [...]

LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...];

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados osseguintes princípios:

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena denulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, emcasos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;(grifou-se).

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Todos os dispositivos supracitados remetem ao Princípio da Publicidade, largamente explorado na Carta Magna, demonstrando asua importância na atuação estatal. Para Cintra, Dinamarco e Pellegrini (2004, p. 69), "o princípio da publicidade do processoconstitui uma preciosa garantia do indivíduo no tocante ao exercício da jurisdição" Afinal, o Estado Democrático de Direitonecessita que os cidadãos tenham conhecimento de seus atos normativos, pois, ao contrário, não haveria meios daqueles sedefenderem dos atos arbitrários, caso fossem estes secretos.

Além da Constituição Federal, a publicidade encontra-se dispersa em outros dispositivos legais, tais como a lei nº 11.419/06. Acomunicação dos atos processuais já foi explanada no presente trabalho, mas, quanto à divulgação dos documentos digitalizados,deve-se citar o Art. 11, § 6º, in verbis:

Art. 11 [...]

§ 6º Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico somente estarão disponíveis para acesso por meio da redeexterna para suas respectivas partes processuais e para o Ministério Público, respeitado o disposto em lei para as situações desigilo e de segredo de justiça.

Desta forma, a Lei do Processo Eletrônico mostra-se consoante às normas constitucionalmente previstas. Afinal, o interesseprivado não poderá se sobrepor ao interesse público com o fim único de preservação da publicidade.

Mais do que dispositivo constitucional, a publicidade é preceito universal, como baluarte norteador da efetivação dos direitoshumanos. Sua importância é tamanha que existe, inclusive, previsão na Declaração Universal dos Direitos dos Homens, em seuArt. 10, que versa que "todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunalindependente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele"(grifou-se).

Portanto, é inegável sua importância tanto para o Estado como para a sociedade, que se utiliza da divulgação dos atos estataispara fiscalizar o primeiro, conforme será explanada no tópico a seguir.

1.2 A fiscalização pela sociedade

O princípio da publicidade, como já explicado, tem como finalidade a divulgação de todos os atos e negócios do Estado, com ointento de que estes se tornem de conhecimento de toda a sociedade, em razão do agir estatal, continuamente motivado pelointeresse público. Esta última expressão possui difícil conceituação, sendo vista por uns como tudo aquilo que não é do interessede um só ou de um grupo de indivíduos; por outros, como a atuação estatal voltada para garantir a viabilidade da vida emsociedade.

Apesar da discussão, é sabido que uma das funções primordiais da publicidade é a fiscalização dos atos da Administração Públicae do Poder Judiciário pela sociedade. Afinal, o Estado existe em função dos indivíduos, sendo um servidor público e, como tal,deve "satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade ou simples conveniências do Estado." (LOPESMEIRELLES, 2003, p. 319). Assim, a prestação estatal está condicionada à fiscalização da coletividade, como forma de verificarse os serviços públicos estão sendo prestados de forma a suprir as expectativas da sociedade.

Tal policiamento se dá por diversos meios, como a análise dos gastos públicos pela Administração, assim como dos atosprocessuais, a fim de se verificar a ocorrência de ilegalidades, de arbitrariedades ou de abusos de poder por aqueles que são,precipuamente, servidores públicos e, como tais, têm o dever de conservar e melhor gerir a res publica. A ConstituiçãoRepublicana, por sua vez, oferece diversas garantias como forma de assegurar a maior aplicação do princípio da publicidade, deacordo com o transcrito abaixo:

Art. 5º [...]

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ougeral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível àsegurança da sociedade e do Estado;

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

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b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Assim, nota-se que a publicidade é uma garantia democrática, em que se permite a participação da população como forma defiscalizar a atuação dos agentes públicos. Mais do que isso, é o cidadão quem possui o direito de perceber se o poder exercidopelos representantes do povo está dentro dos padrões estabelecidos em lei e o dever de analisar se o Estado, ao gerenciar a vidaem coletividade, fá-lo com a devida moralidade, imparcialidade, entre outros. Já que todo o poder emana do povo, este se mostracomo titular da reivindicação da transparência por parte do Estado. Segundo Bobbio (1997, p.10), "pode-se definir a democraciadas maneiras as diversas, mas não existe definição que possa deixar de incluir em seus conotativos a visibilidade ou transparênciado poder".

Como se pode notar, a publicidade é requisito essencial para a concretização da eficácia e da moralidade. Aquela não ocorresomente sobre a divulgação oficial dos atos, mas também no que tange à conduta interna dos seus agentes, que devem serhonestos e probos.

A publicidade dos atos processuais oferece maior segurança jurídica ao que é realizado pelo Poder Judiciário, sendo umainestimável garantia do indivíduo no tocante ao exercício jurisdicional. Segundo Cintra, Dinamarco e Grinover (2004, p. 69):

A presença do público nas audiências e a possibilidade do exame dos autos por qualquer pessoa representam o mais seguroinstrumento de fiscalização popular sobre a obra dos magistrados, promotores públicos e advogados. Em última análise, o povo éo juiz dos juízes. E a responsabilidade das decisões judiciais assume outra dimensão, quando tais decisões hão de ser tomadas emaudiência públicas, na presença do povo.

Assim, a inspeção social assegura independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade dos servidores do PoderJudiciário, que possuem conhecimento que qualquer ato equivocado e irresponsável seu será alvo do julgamento da população.

Contudo, apesar de amplamente protegida em nosso ordenamento jurídico pátrio, os próprios dispositivos legais criaramsituações excepcionais em que a publicidade será mitigada, como forma de se proteger bens jurídicos de maior prevalência tendoem vista o exame do caso concreto, conforme o tópico a seguir.

1.3 Exceções à publicidade

Conforme já foi explanado, a publicidade é considerada como um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Contudo, hásituações em que esta deverá ser mitigada como forma de impedir a violação da dignidade da pessoa humana. Afinal, háinformações, sejam elas processuais ou presentes em bancos de dados, que devem ser sigilosas, a fim de não expordesnecessariamente os indivíduos.

A própria Carta Magna, em seu Art. 5º, LX, restringe a publicidade em duas situações: com o fito de se defender o interessepúblico ou o direito à intimidade. Por força do imperativo de ordem social, há ocasiões em que o interesse público demanda quenão ocorra a divulgação dos atos estatais. Em relação ao direito à intimidade, ao se atenuar a publicidade, segundo Portanova(2005, p.169), busca-se "evitar a curiosidade geral, as consequências desastrosas, a perturbação da ordem, a apreensão do povo, oalarme, o tumulto, o apavoramento, a marca negativa e a afronta à dignidade das pessoas físicas e jurídicas, sejam de direitoprivado ou público". Desta forma, o que se busca é preservar o indivíduo, para que este não tenha a sua esfera íntima invadidacontra a sua vontade.

A Constituição Federal ainda oferece guarida, em alguns artigos, para a realização de diversos procedimentos em que ocorrerãovotações secretas pelos membros do Congresso Nacional, tais como os Arts. 52, III, IV, XI; 119, I, entre outros. Contudo, hádoutrinadores que consideram tais dispositivos inconstitucionais por ferirem preceitos básicos da Lei Maior.

Como se mostra notório, "o caráter público é a regra, o segredo a exceção, e mesmo assim é uma exceção que não deve fazer aregra valer menos, já que o segredo é justificável apenas se limitado no tempo, não diferindo de todas as medidas de exceção"(BOBBIO, 1997, p. 86). Assim, até mesmo uma das garantias da publicidade de informações e dados, ou seja, o habeas dataencontrará limitações com o desiderato de evitar afronta à dignidade da pessoa humana. Afinal, tal writ só será concedido para a

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pessoa do impetrante, não considerando, portanto, informações de terceiros. A intenção do legislador constitucional é evitar atransferência e a comercialização de dados de outras pessoas, preservando-lhes.

Ademais, não se pode olvidar a legislação infraconstitucional que, no Código de Processo Civil, assim como a Lei Maior, trata emdiversos dispositivos acerca da publicidade:

Art. 155 - Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os processos:

I - em que o exigir o interesse público;

II - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda demenores.

Parágrafo único. O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. Oterceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário epartilha resultante do desquite.

[...]

Art. 444. A audiência será pública; nos casos de que trata o artigo 155, realizar-se-á a portas fechadas.

Como se pode concluir, o Código Buzaid pretende que o maior número de atos processuais sejam públicos. Segundo Nery Júnior(2004, p. 210), "o Art. 155 do CPC, portanto, estabeleceu a regra da publicidade e as exceções nele contidas estão em perfeitaconsonância com o comando emergente do Art. 5º, n. LX", enumerando casos em que a divulgação mostra-se impossível poradentrar em uma esfera tão íntima quanto o Direito de Família. Ademais, o juiz poderá determinar o segredo em situações quejulgar serem convenientes, de acordo com o seu entendimento, como, por exemplo, a defesa nacional, a ordem pública, entreoutros assuntos. Nas situações descritas, o Direito procura, ao máximo, proteger a identidade e as informações dos envolvidos.

Concluindo, mais do que se mostrar como mera previsão legal, as exceções à publicidade são uma necessidade a fim de manter aharmonização constitucional. Afinal, possuir normas conflitantes dentro de um mesmo sistema jurídico é ter a certeza daineficácia e da insegurança deste. Assim, a publicidade é redimensionada, sem perder seu status constitucional, com o intento deresguardar a dignidade da pessoa humana, abordada no tópico a ser citado.

2 A dignidade da pessoa humana

Desde os primórdios, os indivíduos agruparam-se com o propósito de proteger-se do frio, das enchentes, das secas e de outrosfenômenos climáticos. Inicialmente em famílias, estas se reuniram a fim de formarem clãs, depois comunidades, cidades e, empós,Estados.

Primeiramente, tais Estados não possuíam noção da importância da publicidade dos seus atos, sejam estes de gerência ou dedecisões judiciais. Ao contrário, a única divulgação que ocorria era de informações dos governados, para que os chefes dosEstados Despóticos tivessem conhecimento acerca de uma revolta popular que pudesse vir a ocorrer. Muitos destesutilizavam-se dos chamados "olhos e ouvidos do rei", que tinham o papel de fiscalização da vida da população. Invadindo a esferaprivada de cada indivíduo, o Estado, personificado na figura de seu governante, violava a dignidade de cada cidadão.

Contudo, nenhuma época como a hodierna reclamou tanto o respeito e a proteção à dignidade da pessoa humana, tendo em vista afacilidade da violação da intimidade dos seres humanos. A publicidade de imagens, dados, informações processuais eadministrativas devem ser limitadas como forma de promoção do supracitado fundamento, sob pena de desrespeito a direitohumanos fundamentais.

2.1 Histórico

O reconhecimento e a proteção da dignidade da pessoa humana é fruto da evolução de diversas ciências, tais como o Direito e aFilosofia. Suas raízes históricas remontam à Antiguidade. Platão narra, no mito de Pitágoras, que Zeus enviou Hermes para darrespeito (aido) e direito (diké) a todos os seres humanos, pois, sem estes valores, os seres humanos não poderiam serreconhecidos desta forma e, portanto, não poderiam viver como pessoas.

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Porém, mostra-se importante ressaltar que a sua positivação é breve, iniciando-se com uma referência no Art. 151, inciso I, daConstituição alemã de Weimar de 1919, que versava: "a ordem da vida econômica precisa corresponder aos princípios da justiça,visando assegurar uma existência humanamente digna para todos." (grifou-se).

Depois da Segunda Guerra Mundial, o instituto da dignidade da pessoa humana vai encontrar-se em inúmeros textos de DireitoInternacional, Declaração dos Direitos Humanos e Constituições. A Declaração Universal da Organização das Nações Unidas(ONU), de 1948, versa que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos." (grifou-se). Logo, faz-semister o reconhecimento da dimensão social da dignidade como valor de cada pessoa e de todas as pessoas, tendo em vista queelas são iguais em dignidade e direitos.

Isso se deu como resultado, ou melhor, reação, às infindáveis violações aos direitos humanos ocorridas durante o conflito,praticadas em face dos judeus, que foram torturados, saqueados, e tiveram suas vidas ceifadas por conta da intolerância. Afinal, ésabido que se negava capacidade jurídica aos judeus e a outras parcelas da população alemã com base na legislação racial.

2.2 Conceito

Contudo, apesar de sua essencialidade e do comparecimento maciço em diversos dispositivos legais, mostra-se uma árdua tarefaobter uma conceituação clara acerca da dignidade. Tal dificuldade reside, principalmente, pelo fato de aquela estar presente namaioria esmagadora dos indivíduos, sendo o valor que identifica o ser humano como tal, revelando-se, daí, o seu sentidoontológico.

Apesar de não existir consenso acerca de sua definição, cada indivíduo possui o conhecimento de quando sua dignidade foiviolada. Portanto, a conceituação de dignidade se dá, mais facilmente, de forma negativa, a partir de suas possíveis violações,ainda que seja impossível taxá-las integralmente. Apenas citando exemplos, a dignidade se dá para que ocorra a proibição datortura, a proteção contra a prisão arbitrária, a proteção da honra, do embrião, entre outros valores. Nas palavras de StephanKirste (2009, p. 180), "Respeito pela dignidade humana significa, então, tratar o outro de forma a evitar situações em que esteconsidere a sua dignidade aviltada. Integridade e respeito por si próprio podem ser, portanto, o resultado deste conceito dedignidade". Contudo, tal abordagem negativa não oferece os critérios e valores que devem ser sopesados a fim de esclarecer quaiscomportamentos, ações e omissões desrespeitosas infringem a dignidade humana ou não.

A dignidade mostra-se como fundamento irrenunciável e inalienável, pois não se concebe a ideia de o ser humano abrir mão desta,por ser um valor absoluto. Caracterizando-se como algo intrínseco ao homem, até mesmo aqueles que cometem crimes a possuem,pois devem ser tratados como seres humanos.

Desta forma, o ordenamento jurídico mostra-se obrigado a zelar pelo seu reconhecimento e proteção, pois a coletividade devereceber igual respeito por parte do Estado e da comunidade, até mesmo como forma de assegurar esta dignidade. SegundoWolfgang Sarlet (2009, p. 27), "a dignidade deve ser analisada como um "produto do reconhecimento da essencial unicidade decada pessoa humana e do fato de esta ser credora de um dever de igual respeito e proteção no âmbito da comunidade humana".

Assim, conclui-se que a dignidade da pessoa humana possui dupla dimensão: a defensiva, ou negativa, segundo a qual a dignidadeé limite para os atos estatais, não podendo estes reduzir o ser humano à condição de mero objeto, violando o valor que lheindividualiza como homem; e a dimensão positiva, sendo uma tarefa do Estado, por meio de medidas positivas, a promoção e orespeito da dignidade.

Trazendo a lume a matéria que é tratada, qual seja, a publicidade, compreende-se que, tendo em vista a dignidade da pessoahumana ser valor que não pode ser violado, aquela deve ser relativizada a fim de não trazer maiores prejuízos. A proteção dadignidade, além de ser um direito, mostra-se como um dever de todo cidadão de não invadir a esfera íntima do outro ser humano, eaté mesmo, evitar que isso ocorra como forma de promoção do valor em pauta.

2.3 A Dignidade Humana segundo Immanuel Kant

Em consonância com o pensamento Kantiano, o homem é o fim ou a matéria para a realização de todas as máximas moldadas deacordo com a lei moral. Logo, independentemente de qualquer norma de cunho religioso, a humanidade já possui o respeito àdignidade humana intrinsecamente em sua razão, sendo aquela, portanto, um valor ético-filosófico. Contudo, a positivação do

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referido princípio se faz necessária, segundo Habermas (1997, p. 148- 150):

a constituição da forma jurídica torna-se necessária a fim de compensar déficits que resultam da decomposição da eticidadetradicional. Pois a moral autônoma, apoiada apenas em argumentos racionais, só se responsabiliza por juízos corretos eequitativos. [...] A transferência de saber para o agir é incerta devido à fragilidade e ao nível extremo de abstração de umaauto-regulação arriscada do sujeito que age moralmente, especialmente devido à improbabilidade de processos de socializaçãocapazes de promover competências tão pretensiosas. Uma moral dependente de um substrato de estruturas da personalidadeficaria limitada em sua eficácia, caso não pudesse atingir os motivos dos agentes por um outro caminho, que não o dainternalização, ou seja, o da institucionalização de um sistema jurídico que complementa a moral da razão do ponto de vista daeficácia para a ação. (grifo original).

Do trecho, nota-se a essencialidade da positivação da dignidade pela necessidade de sua efetivação, que não pode estar sujeitaapenas a simples mandamento moral. É o poder coativo, próprio do Direito, que impede o indivíduo de realizar ou de se abster deuma ação que possa violar a dignidade sua ou alheia, tendo em vista a obrigatoriedade imposta legalmente de forma complementar.No entender de Kant, o direito mostra-se tridimensionalmente: não se apresenta primariamente à vontade livre, mas ao arbítriodos destinatários; abrange uma relação interpessoal; e, por fim, possui autorização para a coerção, em que um está autorizado autilizá-la contra o outro indivíduo em caso de abuso. Desta maneira, a moralidade acaba por possuir uma relação deveras íntimacom a legalidade, o valor moral com o jurídico, entre outros.

Os seres humanos, em sua totalidade, possuem uma natureza empírica e outra racional. Como ser racional que é, o humano tem acapacidade - ou deve ser concebido como a possuindo - de moldar sua ação segundos os imperativos éticos. Ao bem-agir, fá-lo-áem conformidade com o restante da humanidade, sendo, portanto, livre. Em suma, liberdade mostra-se como autonomia, tendo odiscernimento dos deveres morais que a lei impõe. Partindo do conceito fundamental da lei da liberdade moral, Kant extrai destaas leis jurídicas. A liberdade é restrita ao seres humanos, sendo a dignidade, portanto, fruto da autonomia. Kant (1986, p. 223)diferencia claramente pessoas e coisas no trecho retro transcrito:

Os seres cuja existência depende não em verdade da nossa vontade, mas da natureza, têm, contudo, se são seres irracionais,apenas um valor relativo como meios, e por isso se chamam coisas, ao passo que os seres racionais se chamam pessoas, porque asua natureza os distingue já como fins em si mesmos, quer dizer, como algo que não pode ser empregado como simples meio eque, por conseguinte, limita nessa medida todo o arbítrio (e é um objeto do respeito).

Como se depreende, o ser humano é objeto de respeito, não sendo um sentimento recebido, mas algo que se produz por simesmo, através da razão. É um sentimento moral, tendo em vista que independe de sensibilidade. Somente o indivíduo pode seralvo de respeito; quanto aos animais ou às coisas, estas podem suscitar amor, receio, mas jamais respeito.

Às coisas pode-se atribuir preço, sendo, portanto, passíveis de substituição. Contudo, segundo Kant, quando algo está acima dequalquer preço, mostrando-se impossível a sua troca por equivalente, caracteriza-se a dignidade. Como a pessoa é o único ser quenão possui preço e, enquanto dotada de moralidade, será ela a titular da dignidade.

Assim, o respeito a si e à coletividade tem nascente na própria razão, e que somente por motivos de efetivação positivou-se.Kant procurou entender a lei moral que existe nos seres racionais e que os direcionava no sentido de dizer o que era ou nãocorreto, como um norte julgador de suas ações ou omissões. Porém, a moral não é uma repetição do direito e vice-versa. O queexiste entre eles é uma relação de complementação recíproca, pois o ordenamento jurídico só será legítimo quando não contrariarprincípios morais que, segundo o doutrinador em tela, são inerentes aos seres humanos, únicos dotados de racionalidade.

Conclui-se, com o doutrinador alemão, que se algo pode ter em sua existência um valor absoluto, independentemente, tal coisa é ohomem ou, genericamente, o ser racional. Este existe não como meio para a execução de qualquer vontade. Ao contrário, suasações se dirigem a ele mesmo e a outros seres racionais sendo, portanto, o fim. Portanto, o agir do homem em busca do bemsupremo, versado pelo filósofo alemão, está voltado para a consecução dos seus fins e, entre eles, encontra-se a dignidade dapessoa humana, objeto de respeito que é.

3 A publicidade na Internet

A publicidade é considerada um dos instrumentos de busca da transparência. Afinal, com a divulgação de atos processuais ouadministrativos, qualquer cidadão poderá observar melhor a forma como o Estado é gerido e a maneira que os jurisdicionados

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resolvem suas lides, podendo vir a impugnar atos que não sejam dotados de legalidade, permitidos por lei, entre outras situações.

A Internet, por sua vez, amplia a divulgação daquilo que é publicado, tornando-se a maior e mais poderosa ferramenta dedivulgação de textos e imagens. Contudo, aquela não pode ser entendida como nascente inesgotável de benesses à sociedade,sendo útil ao trabalho, ao lazer e às atividades intelectuais.

A evolução da Informática propiciou o aumento da velocidade com que o conhecimento se alastra no ciberespaço, mas nemsempre essa velocidade de divulgação é benéfica. Ademais, uma das características marcantes da tecnologia consiste na quebra debarreiras geofísicas, ou seja, a integração dos povos, o que prejudica a aplicação da lei no espaço.

Segundo Almeida Filho (2008, p. 33)., "a concepção de sociedade, ao menos quando estamos diante de tecnologias avançadas,ampliou, em muito, a idéia de território". Desta forma, a ideia de jurisdição e jurisprudência deverá ser repensada nesta nova fasede desenvolvimento informático, sob pena de não haver normas regulamentadoras a fim de realizar a pacificação social. Afinal,ainda que dados sejam disponibilizados em determinado país, estes podem ser acessados em país diversos. Desta forma, comoum Estado poderá impedir a violação de direitos em seu território, já não se concebe o ciberespaço como um Estado?

Destarte, a Internet, ainda que aproxime as nações e facilite a comunicação, também se apresenta como responsável por umapublicidade excessiva que poderá se mostrar danosa. Muitos indivíduos, ao possuírem seus dados expostos, acabam por terviolados direitos não menos importantes do que o princípio republicano em pauta, o que gera direito de indenização. Ainda queprevistos na Constituição, os direitos da personalidade, inerentes a todo e qualquer indivíduo, são desobedecidos em razão deuma falsa ideia de que, como, em regra, o público se sobrepõe ao privado, tem-se direito de invadir a esfera intelectual e moral doser humano com o fito de prestar informações à sociedade.

Sobre alguns direitos da personalidade e suas implicações, passa-se ao tema adiante.

3.1 O direito à intimidade

Hodiernamente, o direito à intimidade mostra-se como um dos direitos fundamentais mais amplamente violados. Afinal, acontínua exposição da vida pessoal em sítios de relacionamentos, a publicação de fotos e vídeos de forma não autorizada levam asociedade a refletir até que ponto este direito de personalidade é resguardado. Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2003, p. 172):

O direito de estar só, de se isolar, de exercer as sua idiossincrassias se vê hoje, muitas vezes, ameaçado pelo avanço tecnológico,pelas fotografias obtidas com teleobjetivas de longo alcance, pelas minicâmeras, pelos grampeamentos telefônicos, pelos abusoscometidos na Internet e por outros expedientes que se prestam a esse fim.

Assim, mostra-se necessário que o legislador constitucional e o ordinário se voltem para o resguardo de tal direito. O Art. 5º daConstituição Federal, comumente conhecida como "Constituição Cidadã", resguarda diversos direitos e garantias fundamentaisque foram bravamente conquistados após diversos anos em que a sociedade brasileira sofreu com a ditadura militar e, entre eles,encontra-se a intimidade. Nas palavras de Rosana Mion Gonçalves (2007, online):

O constituinte de 1988 inseriu o direito à intimidade no rol dos direitos e garantias fundamentais, sob a influência da então recentecircunstância histórica do regime militar, visando, portanto, a preservação das liberdades individuais. Naquela ocasião eramgritantes as violações à privacidade dos cidadãos e criar um dispositivo com a característica da inalterabilidade pelo legislador,visando protegê-la, era de fundamental importância.

Devido ao período de grande instabilidade que passava à época da promulgação da Constituição de 1988, reclamava de uma maiorproteção a essa liberdade individual. Afinal, os brasileiros tiveram suas vidas intensamente vasculhadas pelo Governo que, com ofito de evitar a manifestação da liberdade de expressão, procurava buscar todos os dados possíveis sobre seus governados. Isso sedava através do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Defesa Interna (DOI-CODI), que se apresentava comoo órgão de inteligência e repressão quando da ditadura militar.

O direito à intimidade mostra-se, enquanto garantia, como o direito de preservação integral de sua vida na esfera privada e íntima.Já como direito é um mecanismo de exigir do Estado a reparação civil ou penal pela sua violação. Assim, cabe ao indivíduoresguardá-la e ao Estado protegê-la. A Lei Maior, que o considera cláusula pétrea, não podendo ser modificada prejudicialmenteainda que por Emenda Constitucional, assegura em seu Art. 5º, X, ipsis litteris:

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeirosresidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo danomaterial ou moral decorrente de sua violação; (grifou-se).

Desse modo, nota-se que o direito à intimidade não se mostra como um direito menos importante do que os outros elencados naLei Maior e que, quando este for violado, garante-se o direito de se pleitear, em juízo, indenização por danos morais/materiais.Segundo jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Responsabilidade civil. Indenização. Dano moral. Lei de Imprensa. Divulgação não autorizada de fotos de acidenteautomobilístico fatal. Violação aos direitos da personalidade. Ação procedente. Preliminar de não conhecimento do recursorejeitada. Art. 57, § 69 da Lei de Imprensa não recepcionado pela Constituição Federal. Alegação de cerceamento de defesa. Nãoocorrência. Desnecessidade de d ilação probatória. Alegação de decadência rejeitada. Art. 56 da Lei de Imprensa não recepcionadopela Constituição Federal. Mérito. Abuso na difusão das fotos do acidente automobilístico que vitimou o pai e marido dasautoras. Divulgação sensacionalista, sem conteúdo informativo e não autorizada de Fotografias do corpo desfigurado no acidente.Violação aos direitos da intimidade e privacidade da família. Falta de conteúdo informativo. Excesso punível. Dano moral in reipsa. Violação aos direitos da personalidade. Não impugnação do quantum indenizatório. Recurso conhecido e desprovido (TJSP,2ª Câmara, Ministro Relator A Satini Teodoro, Data do Julgamento: 29/4/2008).

Assim, nota-se que numa sociedade que, cada vez mais, utiliza-se de meios virtuais como forma de realizar transações bancárias,comércio, mecanismos de compra e venda, entre outros, a busca pela preservação da intimidade e a não-exposição de dadospessoais mostra-se uma tarefa árdua. Todavia, o Direito não pode restar alheio à evolução tecnológica, que se apresenta comoaliada na conquista da celeridade e eficácia jurisdicional, caso os recursos criados sejam bem empregados.

Porém, não se pode olvidar que, com a adoção da Lei do Processo Eletrônico, a publicidade, que já encontra previsão em diversosartigos do ordenamento jurídico, poderá majorar de forma exacerbada, indo de encontro, portanto, com o direito à intimidade.Desta forma, conclui-se que a lei em comento possui diversas virtudes, mas que podem se tornar ínfimas em relação aosproblemas que poderá ocasionar. Na inteligência de Chaves Júnior, Siqueira Mendes, Souza Cunha (2009, online) :

Verifica-se, a partir daí, que quanto maior a publicidade empregada, menor estará resguardado o direito à intimidade; de outrabanda, a garantia do direito à intimidade tende a restringir a aplicação do princípio da publicidade. São, portanto, valoresantinômicos. Dessa reflexão nasce um latente paradoxo: por um lado a maior agilidade da justiça, principalmente no que se refereaos atos por ela praticados; por outro, a exposição das facetas da lides em um instrumento de fácil acesso ao público e que cadavez mais abrange o cotidiano da população em geral. (grifo original).

Logo, a publicidade, que é vista como fonte de transparência dos atos estatais, ou melhor, como garantia do cidadão de que aspersecuções judiciais e administrativas respeitam o princípio da legalidade, pode-se encontrar deveras cristalina a ponto de revelara intimidade dos litigantes.

Assim sendo, como forma de evitar a divulgação de dados dos litigantes, o CNJ decidiu que apenas os advogados e as partesteriam acesso aos autos digitais, conforme se mostra abaixo:

PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. QUESTÃO DE ORDEM. DIREITO DE VISTA DOSPROCESSOS DIGITAIS. INCIDÊNCIA DA RESTRIÇÃO DO ART. 11, § 6º, DA LEI Nº 11.419/2006. Nos processos digitais,o acesso à íntegra dos autos é limitado às partes, constituindo mais uma exceção à regra geral de liberdade de acesso dosadvogados aos processos, independentemente de procuração. Questão de ordem resolvida no sentido da edição de enunciadoadministrativo para uniformizar a orientação de acesso restrito dos autos eletrônicos às partes cadastradas e seus respectivosadvogados. (Procedimento de Controle Administrativo n. 2007.1000000393-2, Relator Conselheiro Antônio Umberto de SouzaJunior).

Desta forma, dada a evolução tecnológica, caso não se restringisse a publicidade, comprometer-se-ia seriamente o direito à

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intimidade, que, segundo Ricardo Bezerra (2008, online), "é de grande relevo psíquico e se destina a resguardar a privacidade emseus múltiplos aspectos: pessoais, familiares e negociais". Os princípios devem ser sopesados em aparente oposição,buscando-se uma solução, já que entre eles não há qualquer hierarquia.

Mas a publicidade na grande rede não é a preocupação principal no que tange ao processo eletrônico. Afinal, esta poderia ocorreraté mesmo no processo convencional. O temor é a divulgação em larga escala, que poderia atingir toda a coletividade. Assim,mostra-se imprescindível a ponderação principiológica, objeto de estudo do presente capítulo. Esta, inclusive, é a orientação daSuprema Corte:

[...] Os direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto. Não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantiasque se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio deconvivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivasdas prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatutoconstitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas - e considerado o substrato ético queas informa - permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade dointeresse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode serexercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros (STF, Plenário, MS 23.452,Relator Ministro Celso de Melo, DJ 12/05/2000).

Assim, mais do que discutir a divulgação exacerbada de dados através da adoção do processo eletrônico, faz-se mister analisar emquais casos é necessária a tramitação do processo em segredo de justiça, como forma de impedir a interferência na intimidade e aviolação do interesse social. Assim, limitar-se-iam as liberdades públicas e preservar-se-iam outras liberdades individuais, semque, para tanto, exclua-se um ou outro direito.

3.2 O direito ao esquecimento

A hodierna dificuldade em se preservar a privacidade é fruto do uso generalizado da informática. Afinal, inúmeras são asvantagens trazidas pelo uso do computador, tais como transações comerciais, pagamento de contas, facilidade na comunicaçãocom outras pessoas, entre outros. Segundo o Comitê Gestor de Internet no Brasil (CETIC), somente 30% dos brasileiros tiveramalgum problema de segurança na Internet. Ademais, o Brasil se encontra como um dos líderes no ranking mundial no acesso àInternet. Isso mostra que, apesar da aparente vulnerabilidade, o país faz bastante uso da tecnologia no cotidiano.

Contudo, atualmente, tornou-se possível seguir os passos dos indivíduos que utilizam a Internet, a seu pedido ou contra suavontade. Afinal, muitos sítios criam bancos de dados que, ao serem invadidos, podem disponibilizar as informações nelescontidas. Dessa forma, a fim de evitar abusivas intromissões, faz-se mister a regulação do uso das informações pessoais.

Como se percebe, a própria norma constitucional garante a limitação da publicidade quando da defesa da privacidade,demonstrando, portanto, a valoração que se atribui aos direitos de personalidade. O Estado, como ente que existe em função dapessoa humana, deve assegurar a pacificação social aliada ao respeito dos direitos e garantias fundamentais.

Portanto, no que se refere à utilização dos meios eletrônicos para a realização de atos processuais, mostra-se imprescindível arelativização da publicidade. Afinal, os mecanismos de buscas utilizados na Internet propiciam que, em poucos segundos,colham-se informações a respeito de um cidadão. A virtualização processual despreocupada com a limitação da publicidadepermitiria a violação da intimidade e da vida privada, desrespeitando, portanto, preceito constitucional.

Contemporaneamente, os mecanismos que realizam buscas na Internet são robóticos, ou seja, eles disponibilizam todos os sítiosrelacionados ao que foi pedido. Além disso, muitos links ficam presentes por tempo indeterminado, sem que haja nenhumcontrole efetivo na divulgação das informações.

Assim, fere-se uma das espécies do gênero direito à personalidade: o direito ao esquecimento, que se define como a obrigação deque os dados permitam a identificação de seus titulares apenas pelo período necessário para se alcançar sua finalidade. O Estadoesquece os dados, pois a liça já foi dirimida; os indivíduos, como forma de preservação da dignidade da pessoa humana; e asociedade, devido ao fim maior da jurisdição ter sido alcançado: a pacificação social.

A adoção dos meios eletrônicos sem atentar-se para a publicação de atos processuais protelaria ou impossibilitaria a efetividade

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do esquecimento. Através de uma simples pesquisa na Internet, descobrir-se-iam dados, informações acerca dos cidadãosenvolvidos em litígios, o que poderia gerar transtornos no cotidiano das partes.

Um exemplo a ser citado é o processo nº 2006.002.05508, que tramitou na 28º Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro. Osdemandados, que eram as empresas Yahoo! e Google, foram obrigadas a retirar o nome do Autor, Robson Pacheco Pereira de suasbuscas robóticas.

O demandado havia sido indiciado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática por interceptação ilegal de dadostelemáticos, mas não chegou a ser denunciado pelo Parquet por falta de provas. Contudo, as notícias referentes ao casocontinuaram a ser veiculadas na Internet, e o policial responsável pela investigação chegou a declarar que, indubitavelmente, oindivíduo era o autor do delito em tela. No acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, obrigou que a ré"dispunha diariamente de um funcionário seu para que diariamente verifique se o termo Robson Pacheco Pereira apareça noresultado das pesquisas com a sua ferramenta de busca na web". Dessa forma, constrangem-se tais empresas a melhor controlar asinformações que disponibilizam em seus buscadores, pois o ajuizamento de ações semelhantes pode lhes trazer bastantesprejuízos.

Ademais, o uso da mídia convencional já traz efeitos negativos para aqueles que têm sua vida exposta. Contudo, as informações,paulatinamente, serão esquecidas. Já a Internet não oferece tal beneficio tendo em vista que toda pesquisa que for feita remeteráad eternum ao que foi buscado. Segundo Almeida Filho, "vigorando o Processo Eletrônico, entendemos que o princípio dapublicidade deve ser repensado, porque o direito ao esquecimento, como uma das garantias ao direito da personalidade, não estaránão a salvo" (2008, p. 84).

No Brasil, a privacidade de dados encontra-se regulamentada no Decreto nº. 3.505, de 13 de junho de 2000 que, em seu art. 1º,versa:

Art. 1º. Fica instituída a Política de Segurança da Informação nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, que temcomo pressupostos básicos:

I - assegurar a garantia ao direito individual e coletivo das pessoas, à inviolabilidade da sua intimidade e ao sigilo dacorrespondência e das comunicações, nos temos previstos na Constituição;

IV - uso soberano de mecanismos de segurança da informação, com o domínio de tecnologias sensíveis e duais;

V - criação, desenvolvimento e manutenção de mentalidade de segurança da informação;

VI - capacitação científico-tecnológica do País para uso da criptografia na segurança e defesa do Estado; e

VII - conscientização dos órgãos e das entidades da Administração Pública Federal sobre a importância das informaçõesprocessadas e sobre o risco da sua vulnerabilidade.

Apesar de voltada para a proteção de dados das pessoas, o decreto somente se refere aos órgãos da Administração PúblicaFederal, ficando excluídas outras esferas do Poder e outrem que venha a violar o direito à intimidade. Isso mostra a carência, emnosso país, de uma legislação voltada exclusivamente ao direito material eletrônico, tendo como foco o sigilo, a segurança, orespeito à vida privada, entre outros direitos.

Segundo Almeida Filho (2008, p. 85), "para a idealização de uma teoria, ou ao menos uma política para os atos processuais pormeios eletrônicos, é necessário que tenhamos em mente questões como segurança, sigilo e respeito à intimidade e à vidaprivada." (grifo original). Somente com um dispositivo legal eficaz, que venha a proteger os termos supracitados, pode-sepreservar a dignidade da pessoa humana em sua plenitude.

4 A relativização do princípio da publicidade como uma solução de proporcionalidade para a preservação da dignidadeda pessoa humana

Assim como o direito à personalidade não pode ser alvo de uma possível conduta indecorosa do Poder Judiciário, a transparênciaprocessual é essencial para que se garanta a existência de um Estado Democrático de Direito, em que o povo, como titular dopoder e afim das atividades estatais, seja o maior fiscal da atuação dos servidores públicos. De acordo com André Ramos Tavares

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e Celso Ribeiro Bastos (2000, p. 166), "a qualidade dos serviços da justiça, que é um serviço público fundamental, deve serconstantemente aferida pela própria justiça e por seus clientes".

Contudo, para que não haja excessos na divulgação de dados referentes aos processos ou restrição abusiva dos atos processuais,faz-se mister relativizar o princípio da publicidade. Afinal, a doutrina, também considerada fonte do Direito, já assegura, mesmoantes da implantação do procedimento virtual, que a proporcionalidade na aplicação dos princípios e direitos diante do casoconcreto é condição sine qua non para que estes convivam equilibradamente. Esse procedimento é necessário para que aConstituição Federal tenha maior dinamismo e capacidade de interpretação diversa àquela dada à lei quando de sua criação. Deacordo com Pappen da Silva (2005, online):

A aplicação do princípio da proporcionalidade repousa, portanto, na necessidade de construir-se o Direito pelautilização da norma positivada de forma coerente, harmonizando, sempre que possível, os vários interesses antagônicos quecoadjuvam uma mesma relação jurídica. Quando ocorre uma colisão de princípios é preciso verificar qual deles possuimaior peso diante das circunstâncias concretas, implicando regras cujo estabelecimento depende de uma ponderação. Odever de proporcionalidade, deste modo, deve ser resultante de uma decorrência coesa do caráter principal das normas. Assim, oprincípio da proporcionalidade representa a exata medida em que deve agir o Estado, em suas funções específicas. Destemodo, este não deve agir com demasia, da mesma forma que não pode agir de modo insuficiente na realização de seus objetivos.Além da força de limitação da intervenção do Estado o princípio de proporcionalidade também está relacionado à proteçãosubstancial do indivíduo. Ocorrerá violação ao princípio da proporcionalidade sempre que o administrador, tendo dois valoreslegítimos a sopesar, priorizar um a partir do sacrifício exagerado do outro. (grifou-se).

O princípio da proporcionalidade, portanto, conceitua-se como a análise por parte do operador jurídico do caso em concreto, emconfronto com a norma a ser aplicada, a fim de adequá-la à realidade e ao tempo presente. Assim, apesar de não se encontrarprevisto na Constituição Federal, o princípio trazido à baila encontra-se intimamente ligado à evolução dos direitos e garantiasindividuais, sendo seu desiderato garantir a plena fruição destes, que não podem ser violados a qualquer custo. Entre eles,obviamente, encontra-se a dignidade da pessoa humana, fundamentada em princípios morais e éticos, servindo de sustentáculopara todos os demais direitos e garantias do ser humano.

Apesar de os direitos tratados serem tidos como fundamentais, estes não são absolutos. Além disso, a análise do caso concreto, afim de que se pondere que direito deve ser mitigado, é tida como um dos maiores desafios postos aos magistradoscontemporâneos. Ao lecionar sobre o princípio da proporcionalidade, que é visto como a melhor solução para a relativizaçãoprincipiológica, Pellegrini (2009, online) assevera:

A referida proporcionalidade deve ser entendida como justo equilíbrio entre os meios empregados e os fins a seremalcançados. Assim, segundo a doutrina, a proporcionalidade deve levar em conta os seguintes dados: (i) adequação, ou seja, aaptidão da medida para atingir os objetivos pretendidos; (ii) necessidade, como exigência de limitar um direito para protegeroutro, igualmente relevante; (iii) proporcionalidade estrita, como ponderação da relação existente entre os meios e os fins, ouseja, restrição imposta (que não deve aniquilar o direito) e a vantagem conseguida, o que importa na (iv) não- excessividade".

Logo, mostra-se essencial a aplicação da proporcionalidade como meio de se encontrar a justa prestação jurisdicional. Aadequação consiste na promoção de um processo justo e rápido, mas sem se ferir a privacidade; já a necessidade se dá pelaimportância de se proteger outro direito; a proporcionalidade estrita mostra-se como a busca do equilíbrio entre ônus (a restrição)e o bônus (a proteção de outro direito); e, por fim, a não-excessividade, a fim de que não se transforme o processo eletrônico emtribunal de exceção em nascente de abusos de autoridade.

Todavia, há uma grande preocupação no que concerne ao excesso de poder atribuído ao magistrado, já que este é quem realiza avaloração dos princípios questionados. Se a aplicação da publicidade processual, em determinados casos, deverá ser relativizadapara o emprego de outros direitos e garantias, que se faça sob a égide da legalidade, para que se possa evitar pronunciamentosarbitrários por parte do Poder Judiciário. De acordo com Almeida Filho (2008, p. 82)., "o texto legal e a doutrina já relativizam apublicidade dos atos processuais e a nossa intenção é procurar critérios objetivos e constitucionais que não deixem ao arbítrio dosmagistrados ou ao dissabor dos jurisdicionados a relativização". Dessa forma, evita-se que o magistrado cometa desmandos queatentem à supremacia do interesse público, focado na pacificação social.

Assim, tendo em vista que não existem normas referentes à relativização da publicidade, o princípio da proporcionalidade

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mostra-se como o melhor escopo para a conciliação entre o princípio da publicidade e dos direitos fundamentais em voga. Afinal,não se pode violar a publicidade, que se mostra como inexorável regra geral, tendo em vista que se fomentaria um Estadoautoritário, assim como não é permitido violar direitos da personalidade. Outrossim, a limitação da publicidade não importa emtribunal de exceção, mas sim forma de garantia de direitos constitucionalmente previstos. Para tanto, faz-se mister a utilização derecursos tecnológicos para este fim, como a anonimização e a utilização de pseudônimos, conforme se verá nos seguintes tópicos.

4.1 A anonimização

A técnica em pauta é utilizada, como já dito, como forma de se preservar a intimidade e a privacidade daqueles envolvidos na lide.Sobre o assunto, Roberto de Paula (2009, p. 147) conceitua anonimização como:

A referida técnica consiste em ocultar informações identificadoras dos litigantes em processo judicial, seja pela utilização de umacrônimo formado pelas iniciais de seu nome, ou pela utilização de pseudônimos substitutivos da real identificação dos litigantes,conforme se tem utilizado significativamente nos países afetos ao sistema jurídico do Common Law.

Destarte, conforme foi dito, é idiossincrático que sejam anonimizados todo o conjunto de dados que possibilitem a identificaçãodos sujeitos, tais como endereço, profissão, local de trabalho, entre outros. Contudo, para a aplicação de tal técnica, mostra-senecessário o estudo do caso concreto, a fim de que não a deturpe por utilizá-la em casos desnecessários.

A anonimização não afeta o princípio da transparência judicial. Na realidade, esta demonstra o respeito que o Poder Judiciáriopossui pela direito à intimidade das pessoas, ao preservá-las de uma exposição desnecessária de seus dados. Afinal, paraterceiros, o que basta saber dos atos processuais é a forma em que eles ocorreram, tornando desnecessária a identificação dosenvolvidos, sua opção sexual, cor origem política ou religiosa. Assim, após o trânsito em julgado, poder-se-ia lançar na Internet ocumprimento da sentença, assim como a marcha processual, desde que não se exponha a identidade dos litigantes.

A publicidade não seria violada, apenas relativizada, como se mostra necessário fazer, diante de todas as considerações mostradasno presente trabalho; a dignidade da pessoa humana, por sua vez, apresenta-se imaculada, uma vez o que o Estado, servidorpúblico por excelência, ainda que tenha que prestar contas à sociedade, sua maior fiscalizadora, não o faz divulgando a vida deseus jurisdicionados.

Todavia, infelizmente, a matéria é tratada de forma incipiente no Brasil. A fim de proteger dados pessoais, os magistradosescolhem, equivocadamente, restringir por completo o acesso a informações processuais mínimas, como o andamento dos feitosque tramitam sob segredo de justiça. Segundo Moraes dos Santos (2008, p.190), "de fato, se a regra é a publicidade, esta deve serassegurada sempre que for possível, limitando-se o sigilo apenas ao que for indispensável". Assim, se há documentos que sãosigilosos, que o juiz determine que estes sejam desentranhados do restante do processo. Isso ocorre com freqüência em execuções,quando existem informações obtidas perante os cadastros fiscais e bancários do executado. Deve-se impedir que tais cártulassejam de acesso irrestrito, ao público em geral; mas nem por tal motivo, deve-se por todo o processo em sigilo. Porém, narealidade, até que se implante uma política pública de proteção de dados, faz-se necessário limitar o acesso dos atos até mesmo àspartes e aos seus procuradores.

Contrariamente, na Europa, a proteção de dados encontra-se bastante evoluída. Em muitos países, anonimiza-se os envolvidos emcrimes graves e em delitos ambientais. Em Portugal, por exemplo, a Comissão Nacional de Proteção de Dados deliberou que"devem ser obrigatoriamente anonimizados os tratamentos automatizados de dados pessoais, no âmbito de processos-crime,acções de investigação de paternidade, regulações do poder paternal, acções de divórcio e outros acórdãos em que haja informaçãoidentificada ou identificável que respeite à intimidade da vida privada." (online). Desta forma, protege-se informaçõesextremamente sensíveis, que não deviam ser divulgadas em proteção à vida privada e aos dados pessoais, direitos albergados naConstituição lusitana.

Inclusive, o ordenamento português conta com a Lei nº 67, de 24 de Setembro de 1998, denominada Lei da Protecção de DadosPessoais, que, em seu Art. 2º, diz que "o tratamento de dados pessoais deve processar-se de forma transparente e no estritorespeito pela reserva da vida privada, bem como pelos direitos, liberdades e garantias fundamentais". Destarte, percebe-se apreocupação do legislador em defender os direitos da personalidade, assim como aqueles outros que possuem previsãoconstitucional.

Todavia, a anonimização não se mostra como a única alternativa para a relativização da publicidade. Outrossim, a utilização de

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pseudônimos é uma técnica para se preservar a intimidade, conforme se verá.

4.2 A utilização de pseudônimos

O pseudônimo conceitua-se como um termo substitutivo para a real identificação que, no caso em estudo, seria dos litigantes emprocesso judicial. No Brasil, como se utiliza o sistema jurídico do Civil Law, não se mostrou necessária a sua adoção, pois ajurisprudência é fonte subsidiária do Direito.

Contudo, em outros países, utiliza-se pseudônimos a fim de proteger as informações que possam identificar os litigantes. Paísescomo a Venezuela o fizeram com o fito de proteger os autores de ações contra o Estado que demandavam o recebimento deremédios para o tratamento do vírus HIV/AIDS. Afinal, é sabido o preconceito e o despertar de opiniões negativas acerca dosportadores da síndrome, o que pode lhes trazer conseqüências desastrosas.

Desta forma, percebe-se que, a utilização dos pseudônimos não poderá ser motivada apenas por vergonha, mas também deveexistir fundado receio de uma execração pública advinda dos elementos constitutivos da sua demanda.

CONCLUSÃO

Dada à tecnologia desenvolvida pela sociedade hodierna, a publicidade alcançou escalas nunca dantes imaginadas, o que vem a ferirum fundamento, ou melhor, um pilar do Estado Democrático de Direito em que se sedimenta a República brasileira: a dignidade dapessoa humana. A evolução tecnológica em muito repercutiu na ciência do Direito, pois, para alcançar a efetividade, esta seapresenta intimamente ligada às mutações sócio-tecnológicas, operando uma verdadeira revolução no mundo jurídico. Mas apossibilidade de se invadir a esfera íntima de outro indivíduo tornou-se tão simples que a divulgação de dados, imagens einformações deve ser limitada pela ciência jurídica como forma de proteger o indivíduo. Afinal, este não é obrigado a sofrer umaviolação tão profunda em seu direito com o intuito de, supostamente, assegurar que a população não tolere a censura e o silêncio.

Afinal, o ordenamento jurídico só se apresenta como legítimo quando não contraria princípios morais. Entretanto, é imperiosoressaltar que entre eles não há relação de hierarquização, mas de complementação recíproca. As normas morais regulam relaçõesinterpessoais e conflitos entre pessoas naturais, que se reconhecem reciprocamente como membros de uma comunidade concreta.Já as normas jurídicas regulam relações interpessoais e conflitos entre atores que se reconhecem como membros de umacomunidade abstrata, fruto de uma ficção jurídica. Assim, a dignidade, antes de estar contida na Lei Maior, é valor moralintrínseco a todo ser humano, não podendo ser maculado. Aquela se apresenta como direito difuso, pois pertence a cada um serhumano e a toda a humanidade, transcendendo valores individuais.

Portanto, o que se permite obter é a evolução tecno-científica desde que respeitados valores e concepções anteriores a talprogresso. Nota-se que o Direito, como ciência dinâmica e interdisciplinar que é, não pode reter seu desenvolvimento, sob penade perecer as suas conquistas. Porém, a máxima cautela deve ser tomada, a fim de que não se destrua a sua base sólida. A ideia de"sociedade digital" e de quebra de barreiras geofísicas é uma realidade, sendo latente a necessidade de se regularizar tal situaçãoatravés de um possível Direito da Informática. Mas valores anteriores a isso, construídos ao longo de séculos não podem serdesconsiderados, tachados de desatualizados.

A Constituição de 1988, fruto das conquistas de uma sociedade deveras massacrada pelos efeitos das décadas de ditadura militar,mostra-se afim com os propósitos da Lei do Processo Eletrônico. Assim como a Lei Maior, o dispositivo legal em pauta buscameios de garantir a efetivação dos direitos fundamentais individuais e sociais, tendo sempre a noção da essencialidade de semanter um equilíbrio entre os princípios, buscando alternativas de não se extinguir ou mitigar desnecessariamente um destes.

A necessidade de atualizar a ciência do Direito na mesma rapidez das evoluções sociais é inquestionável. Entretanto nada semostra mais atual do que os princípios cujos conceitos foram lapidados ao longo dos séculos, juntamente com a ideia de que setem da ciência jurídica. Em meio a uma sociedade em que a violação de direitos tornou-se tão fácil, fazem-se necessários estudos afim de impedir a edição de leis plenas de letras, mas vazias de conteúdo.

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