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A evolução histórica internacional dos Direitos Humanos e a questão da relativização da soberania estatal por Ingrid Zanella Andrade Campos RESUMO Este trabalho analisa a evolução dos direitos humanos, notadamente no âmbito internacional. Através de uma correlação entre as etapas de desenvolvimento dos direitos humanos considera o reconhecimento do abalo ao princípio da soberania estatal absoluta juntamente com a sua proteção jurídica internacional. Alude o papel do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, como órgão internacional detentor do dever de proteção dos direitos humanos no plano macrossistêmico. Explicita o crescente temor da ocorrência de violações aos direitos humanos e suas repercussões mundiais, e a legitimação internacional em defender e promover o respeito aos direitos humanos, em face da impossibilidade do Estado-Nação. Dessa forma, como a problemática dos direitos humanos tornou-se uma questão planetária, devendo ser assegurado por todos os povos. Palavras-chave: DIREITOS HUMANOS; RECONHECIMENTO INTERNACIONAL; SOBERANIA. ABSTRACT This work analyzes the evolution of the human rights, strongly in the international scale. Through a correlation between the processes of development of the human rights considers the recognition of a shake it the principle of the absolute sovereignty with its international legal protection. It alludes the paper of the Advice of Human Rights of the United Nations, as an international agency detainer of the duty of protection of the human rights in the international plan. Explicit the increasing fear of the occurrence of violations of the human rights and its world-wide repercussions, and the international legitimation in defending and promoting the respect to the human rights, in face of the impossibility of State-Union. In that way, as the problematic one of the human rights became a planetary question, having to be assured by all the peoples. Key-Words: HUMAN RIGHTS; INTERNATIONAL RECOGNITION; SOVEREIGNTY.

A evolução histórica internacional dos Direitos Humanos e a questão da relativização da soberania estatal

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A evolução histórica internacional dos Direitos Humanos e a questão da relativização da soberania estatal

por Ingrid Zanella Andrade Campos

RESUMO

Este trabalho analisa a evolução dos direitos humanos, notadamente no âmbito internacional. Através de uma correlação entre as etapas de desenvolvimento dos direitos humanos considera o reconhecimento do abalo ao princípio da soberania estatal absoluta juntamente com a sua proteção jurídica internacional. Alude o papel do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, como órgão internacional detentor do dever de proteção dos direitos humanos no plano macrossistêmico. Explicita o crescente temor da ocorrência de violações aos direitos humanos e suas repercussões mundiais, e a legitimação internacional em defender e promover o respeito aos direitos humanos, em face da impossibilidade do Estado-Nação. Dessa forma, como a problemática dos direitos humanos tornou-se uma questão planetária, devendo ser assegurado por todos os povos.

Palavras-chave:

DIREITOS HUMANOS; RECONHECIMENTO INTERNACIONAL; SOBERANIA.

ABSTRACT

This work analyzes the evolution of the human rights, strongly in the international scale. Through a correlation between the processes of development of the human rights considers the recognition of a shake it the principle of the absolute sovereignty with its international legal protection. It alludes the paper of the Advice of Human Rights of the United Nations, as an international agency detainer of the duty of protection of the human rights in the international plan. Explicit the increasing fear of the occurrence of violations of the human rights and its world-wide repercussions, and the international legitimation in defending and promoting the respect to the human rights, in face of the impossibility of State-Union. In that way, as the problematic one of the human rights became a planetary question, having to be assured by all the peoples.

Key-Words:

HUMAN RIGHTS; INTERNATIONAL RECOGNITION; SOVEREIGNTY.

INTRODUÇÃO

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, elaborada pela Assembléia Geral, órgão da Organização das Nações Unidas – ONU, afirma que sem liberdade não há igualdade possível e, por sua vez, sem igualdade não há efetiva liberdade. Defende os Direitos humanos por sua a natureza indivisível, inter-relacionada e interdependente. Enfatiza o alcance universal dos direitos humanos, que devem ser observados independentemente da adversidade cultural, política, econômica e religiosa de cada sociedade.

O fenômeno da internacionalização dos direitos humanos obteve grande ênfase através das atrocidades cometidas, juntamente com a falta de controle estatal em garantir a eficácia desses direitos, e resguardar a dignidade humana.

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Quando os direitos humanos deixaram de ser considerados matéria de exclusiva jurisdição dos Estados soberanos e passaram a estar inseridos entre as prerrogativas da sociedade internacional1, a sua defesa passou a ocorrer independentemente das limitações territoriais impostas pelo Estado.2

A partir da criação da Organização das Nações Unidas - ONU, em 24 de outubro 1945, os direitos humanos passaram a fazer parte do interesse da sociedade internacional. Procurava-se dissolver a idéia de que os direitos humanos deveriam ser interpretados de forma diferente dentro de cada tradição cultural, étnica ou religiosa, pois são direitos universais.

A ONU não definia de forma precisa os direitos humanos, apesar de defendê-los, nitidamente, em seu preâmbulo, e em vários outros artigos, como no artigo 55 onde há referência ao respeito universal, a condições de progressos, não delimitando de fato o que seriam esses direitos.3

Por sua vez, a Declaração Universal dos Direitos Humanos elencou os direitos dos indivíduos de forma mais precisa, universal e indivisível. De certa forma, foi a interpretação autorizada pela ONU. Contudo, esse documento não possui força jurídica, jus cogens. Deve-se destacar que essa Declaração engloba uma universalização cultural e acarreta em um reexame da soberania absoluta do Estado.

Para a proteção e força aos direitos contidos na Declaração Universal dos Direitos do Homem foram criados, em 1966, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, no âmbito da ONU.

Atualmente, os direitos humanos se encontram estabelecidos em várias gerações. Porém, esses direitos são reconhecidos de forma universal e inseparável. O maior problema, não é reconhecê-los, pois isto a necessidade humana já o fez. O necessário é criar formas de efetivá-los, protegê-los, tornando-os eficazes.

A preocupação acerca da proteção ambiental, por causa da finitude de recursos naturais e da poluição dos recursos renováveis é reconhecida atualmente como matéria de preocupação global. Como afirma, Elida Séguin, “A Comunidade Internacional sistemicamente tem procurado compor interesses ambientais, através de tratados e convenções, mas esbarra na questão doutrinaria que defende a autonomia das duas ordens jurídicas- a interna e a internacional.”4

No que concerne à proteção dos direitos humanos de terceira geração, o meio ambiente sadio, é necessário que haja uma base jurídica internacional capaz de assegurar a proteção dos recursos naturais de interesse da humanidade e os direitos inerentes à própria preservação e a vida do homem.

Hoje, a humanidade depara-se com problemas comuns e preocupantes, diante de um mundo globalizado, os danos podem ser sentidos não apenas onde ocorrem, mas até causar desastres ecológicos com efeitos catastróficos incalculáveis e até irremediáveis, atingindo mais de um Estado. Portanto, o ordenamento jurídico internacional deve estar preparado para enfrentar e harmonizar os impasses criados por essas questões novas, imprevisíveis e preocupantes.

Em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo. No intuito de propor medidas tendentes a propiciar uma educação ambiental, com um sistema informativo sobre a ação do homem no meio ambiente, para um futuro saudável. 5

Em 1987, publicava-se o relatório Brundtland com preocupações acerca da poluição do meio ambiente. Com a proposta do “desenvolvimento sustentável” propôs uma modificação na política interna e internacional dos Estados, a fim de que se criem vínculos entre as economias nacionais.6

Em junho de 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. A Agenda 21 contou com a participação de 170 países. Contém

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medidas de prevenção e repressão de infrações ao meio ambiente. É vista como um programa a ser seguido e respeitado.7

Entre esses marcos ocorreu uma série de tratados e convenções. Destaca-se que não faltam normas com o objetivo de preservar os direitos humanos. Já que a manutenção de um mundo harmonioso atual e futuro é uma prioridade nacional e internacional. O que manca são meios coercitivos e eficazes para garantir a aplicabilidade dessas convenções.

A sociedade contemporânea apresenta uma série de características marcantes, dentre as quais: o consumismo exacerbado, como símbolo de status; o crescimento econômico com agravamento dos problemas ambientais, como o aumento da miséria e exclusão social, concentração da renda em mãos de uma minoria, poluição e destruição dos bens naturais, que asseveram a incapacidade do Estado-Nação de atender seus compromissos em relação ao bem-estar social.

Das situações acima elencadas, o agravamento dos problemas no âmbito mundial, vem provocando reação em diversos segmentos da sociedade, preocupados com o destino da humanidade, em razão de hoje já se ter uma maior compreensão sobre os efeitos das ações humanos na biosfera, em vista da concepção do planeta Terra como um sistema único e interligado. Não como se esquivar de tecer o meio ambiente, como direito humano.

O Programa Ambiental da ONU (PNUMA) estima grandes danos ao ambiente, alguns sofridos atualmente como a desertificação, a fragilidade ecológica, a escassez de água, a poluição, a erosão, a perda de zonas vegetativas, o aquecimento global, dentre vários outros.8 Todos esses danos são violações direitas aos direitos humanos, e o reconhecimento internacional não foi traçado apenas como meio idealista.

O bem-estar humano, atualmente, é a função principal do Estado. Os problemas atuais, ratificam que o Estado não é capaz de solucioná-los sozinho. Essas crises ultrapassam o poder e o interesse estatal. Os efeitos do desrespeito aos direitos humanos são um risco para as gerações futuras.

Nesse contexto, não se fala em territórios ou países, e sim em indivíduos, seres humanos. Não se pode dividir as pessoas já que quando se trata de direitos humanos, todos são cidadãos internacionais, portadores de direitos e deveres.

Como pesquisa introdutória, não é o seu objetivo esgotar a matéria, mas analisar as bases doutrinarias e legais do tema abordado e, quem sabe, o seu produto servir de contribuição para o desenvolvimento de políticas internacionais de segurança pública, principalmente no que tange aos direitos humanos.

A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos nasceram da necessidade dos cidadãos em serem titulares de certos direitos em relação a seu Estado soberano e, posteriormente, em relação à sociedade internacional. Desenvolveram-se sempre com as necessidades impostas pelos indivíduos em determinadas épocas com o intuito de resguarda a dignidade humana, concebida como fundamento dos direitos humanos.

A primeira fase se consagrou a partir da Revolução Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789). Fase que enfatizou como fundamentais os direitos de liberdade, igualdade e propriedade. Decerto que muitos doutrinadores, como Celso Mello, defendem que o início dessa fase primordial, encontra-se nas Cartas de Direitos, na Inglaterra, as Bill of Rights, no século XVII.9

Em 26 de agosto de 1789 foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, pela Assembléia Nacional. Fato marcante, pois não só, utopicamente, como legalmente, o homem estava sendo visto como portador de direitos, e não apenas de deveres. A partir deste marco, o Estado não era

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mais o único sujeito de direitos dentro do âmbito internacional. Sendo, inclusive, o primeiro passo para uma legitimação das aspirações populares, e para uma limitação do poder soberano do Estado.

Georges Lefebvre, marcante historiador da época, sobre a Declaração de 1789, afirmou que “Proclamando a liberdade, a igualdade e a soberania, a Declaração foi o atestado de óbito do Antigo Regime destruído pela Revolução.” 10 Os Direitos do Homem estavam se firmando, com ênfase nos direitos civis e políticos, ou seja, a liberdade.

A Declaração em questão serviu como fundamento e embasamento aos Direitos do homem. Sobre esta, “deve ser acolhida como a maior prova histórica até hoje dado do consensus omnium gentium sobre um determinado sistema de valores.”11

A Declaração de 1789 era composta por 17 artigos, os três primeiros referem-se à condição natural dos indivíduos que precede a formação da sociedade civil, à finalidade da sociedade política do estado de natureza, e ao princípio da legitimidade do poder que cabe à nação.

Essa fase primordial consagrava uma ótica contratual liberal, pela qual os direitos humanos se reduziam aos direitos à liberdade, à segurança, e à propriedade, complementados pela resistência à opressão. Decerto que foi uma resposta aos excessos do regime absolutista, na tentativa de impor controle e limites à abusiva atuação do Estado.12

De fato, a Revolução ficou conhecida como a burguesa, pois consagrava o direito à propriedade como “um direito inviolável e sagrado”. Não é estranho tal valoração, pois naquela época dava-se muita importância à propriedade; havia violações de ordem, predominantemente, patrimonial. Já a liberdade era definida como “o direito de poder fazer tudo o que não prejudique os outros”.

Por mais que sejam diferentes as realidades, por maior que seja o desenvolvimento humano em todos os sentidos, a Declaração de 1789 conseguiu ser um fato histórico merecedor de destaque, pois que até os dias atuais, os direitos, elencados nessa, ainda são defendidos.

De acordo com José Afonso da Silva,

“O texto da Declaração de 1789 é de estilo lapidar, elegante, sintético, preciso e escorreito, que, em dezessete artigos, proclama os princípios da liberdade, da igualdade, da propriedade e da legitimidade e as garantias individuais liberais que ainda se encontram nas Declarações contemporâneas, salvas as liberdade de reunião e de associação que ela desconhecia, firmando que estava em uma rigorosa concepção individualista”.13

Bobbio, por sua vez, sobre a teoria individualista, entende que esta foi de suma importância, pois colocava o indivíduo singular, com valor em si mesmo, em primeiro lugar, pondo o Estado em segundo lugar. E não como costumava ser defendido pela teoria Orgânica, a qual defendia a sociedade como um todo, acima de tudo. Desta forma, o Estado seria feito pelo indivíduo, e não este feito pelo Estado.14

É notório que essa teoria dava a devida importância ao ser humano, de um forma mostrando que o Estado deve estar em funcionamento para esse, e não vice-versa. Destacando-se como meio determinante dos direitos consagrados nessa fase, sendo o alicerce da Declaração. Nas palavras de Bobbio, “o individualismo é a base filosófica da democracia: uma cabeça, um voto”.15 É através da concepção individualista que nasceu a democracia moderna, o “poder do povo”. “Ainda que a democracia repousa na soberania não do povo, mas dos cidadãos”.16 No sentido de que o cidadão, como individuo único, portador de direitos pode participar das tomadas de decisões do seu Estado, participar da sociedade, defender-se e a seus ideais e interesses.

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Com esta concepção, o indivíduo foi elevado perante a sociedade internacional, abrindo espaço entre os Estados soberanos, que até então eram os únicos sujeitos de direitos. John Locke defendia que a doutrina dos Direitos Naturais pressupõe uma concepção individualista da sociedade. Esta teoria conseguiu dar aos direitos do homem as forças necessárias para se firmarem, adquirindo, direitos para os cidadãos, do Estado e do mundo.17 De acordo coma Bobbio, “E como seria possível dizer que eles são invioláveis se não houvesse o pressuposto de que, axiologicamente, o indivíduo é superior à sociedade de que faz parte”. 18

Com o desenvolvimento humano, os direitos adquiridos na primeira fase já eram insuficientes para garantir uma sobrevivência harmoniosa, em outras palavras, a paz. A igualdade já adquiria complementação em seu conceito.

Após a Revolução Industrial, no início do séc. XX, desenvolveu-se a segunda fase dos Direitos do Homem, a dos Direitos Sociais. Tendo como objetivo reafirmar os direitos da primeira geração e ampliá-los a determinadas classes menos favorecidas.

Foram defendidas as condições de trabalho, direitos da família, das crianças, das minorias étnicas e religiosa, do bem-estar, em síntese os direitos econômicos e sócias, enfatizando a igualdade. O que ocorreu foi a passagem da consideração do individuo humano uti singulus, que foi o primeiro sujeito ao qual se atribuíram direitos naturais (ou morais), para sujeitos diferentes do indivíduo, ou seja, toda a humanidade em seu conjunto.19

Os Direitos do homem, como seus titulares, são inconstantes. Por isso, muitas vezes seria errôneo defendê-los como fundamentais, ou muito menos absolutos, pois o que é fundamental numa época não o será em outra, muito menos, o que é fundamental para uns não o é para outros.

Cançado Trindade 20 afirma que os direitos não se sucedem e assim como Bobbio, entende que se acumulam e se fortalecem, sendo de fato indivisíveis. Por certo que os direitos humanos se multiplicam até hoje. As necessidades, e os interesses do ser humano conseguem ser mais instáveis que o próprio homem. Nos dias atuais, além da preocupação com direitos que nos sejam necessários para o hoje, há a emergente preocupação com direitos que possam nos permitir viver de forma nobre no futuro e próximo amanhã.

No contexto de mudanças se fez notar os constantes atos de violação do equilíbrio ambiental e a degradação do meio ambiente. Assim, se desenvolve a terceira fase dos direitos do homem, ainda mal definida e sedenta de uma proteção, tanto de cunho nacional, como internacional. Essa fase marcava o advento do direito da “solidariedade”, buscando um desenvolvimento juntamente com a paz.

Os direitos da terceira geração, ou os direitos da fraternidade, como conhecidos, podem se constituir em cinco modalidades, ou seja, o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação.

Já se cogita, atualmente, em uma quarta fase. Difícil será cessar a ampliação desses direitos considerados humanos, já que a própria humanidade não pára.

Sobre esse novo período imperioso se faz lembrar o Bobbio:

“Emergiram hoje os chamados Direitos de Terceira Geração, que constituem uma categoria, para dizer a verdade, ainda excessivamente heterogênea e vaga, o que nos impede de compreender do que efetivamente se trata. O mais importante deles é o reinvidicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num ambiente não poluído. Mas já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de Direitos da Quarta Geração, referentes a efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada individuo”.21

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Dessa forma, os direitos humanos vão evoluindo e crescendo em números. Tudo que o homem faz, ou tudo que evolui, em todos os âmbitos, precisa de normas para não permitir que o homem se torne o lobo do próprio homem, como entendia Hobbes.

A história certamente mostra que a partir da valoração do homem como ser singular, fez-se necessário preservar a coletividade. O exercício do direito por si só, já estipula direitos concomitantemente com deveres. A vida em sociedade requer que condutas sejam ponderadas, para que certas regalias individuais não sejam capazes de transcender os direitos humanos e coletivos.

Procurar esclarecer tal ponto pode parecer até corriqueiro e banal. Contudo, atualmente, temas relativos ao meio ambiente, à preservação de recursos naturais, ou preocupações com as novas gerações, são tidos como uma busca de um respeito não só necessário, como fundamental, para que seja possível a manutenção da vida em todo o planeta.

Implica afirmar que para que seja garantido os direitos humanos, seria cabível a retomada do conceito de certos outros direitos, tidos como fundamentais. Bobbio entende que não se pode instituir um direito em favor de uma categoria de pessoas, sem suprimir um direito de outras categorias de pessoas.22

O SURGIMENTO DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (1945)

O fenômeno histórico dos direitos humanos teve como precedentes de internacionalização o Direito Humanitário, tido como a constituição dos direitos humanos na lei da guerra, a Liga das Nações e, em 1919, a Organização Internacional do Trabalho (OIT).23

O ponto crucial que aparece em destaque nesses é o fato de que todos procuravam relativizar a soberania estatal, que já não lograva ser mais absoluta, pois se transformou na concorrente direta dos direitos humanos. Nessa época ocorreu um forte abalo no equilíbrio do pode] 7r.

A Liga das Nações (1920-1945), criada após a Primeira Guerra Mundial, além de buscar a promoção da paz, reforçava os direitos humanos. O Pacto da Liga (1920) continha dispositivos que limitavam a soberania dos Estados, elevando o respeito aos direitos humanos. Como se pode notar nitidamente em seu art. 23, onde se defende condições de trabalho eqüitativas e humanas, um respeito a populações indígenas, com o tráfico de mulheres e crianças. Ainda os destacava como prioridade e objetivo de todos os membros da sociedade internacional.24

Desde a época da Liga das Nações, já se cogitava a possibilidade de uma intervenção pela proteção aos direitos humanos. De forma tênue, o art. 13 do Pacto da Liga refere-se a soluções diplomáticas de conflitos, contudo, defende uma possibilidade de uma solução arbitral. Com aplicação de medidas necessárias para assegurar os efeitos da sentença do Tribunal de arbitragem.25

A Liga tinha como objetivo promover a cooperação, a paz, e a segurança internacional. Condenava as agressões externas, defendia a integridade territorial e a independência política. Dava ênfase ao desarmamento, à segurança coletiva e procurava a resolução pacífica das disputas.26

Como a Liga não conseguiu prevenir a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), fracassou, e foi dissolvida na sua 21º sessão. Desta forma, surgiu a idéia de uma nova organização, que foi aventada pelo Presidente norte-americano Franklin Roosevelt e pelo Primeiro Ministro Wiston Churchill, na Carta do Atlântico, de 26 de agosto de 1941.27

A Organização das Nações Unidas (1945) surgiu como sucessora da Liga, de fato com mais autoridade, e pode demarcar o surgimento de uma nova ordem internacional. Em 26 de junho de 1945, a Carta das Nações Unidas foi complementada e aceita em uma Conferência Internacional, em São Francisco, onde

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51 Estados estavam representadas. Entrou em vigor em 24 de outubro de 1945. Foi o documento fundante da ONU.

Após a Segunda Guerra, os direitos humanos vão sofrendo a universalização no intuito de permitir que os indivíduos se tornem “cidadãos do mundo”. Ainda sofreram uma multiplicação, pois aumentou a quantidade de bens merecedores de tutela, e porque o homem começava a ser visto na especificidade ou na concreticidade de suas diversas maneiras de ser em sociedade.28

A criação da ONU foi o marco que realmente deu aos direitos humanos um status internacional, dignos de interesse e preocupações. 29 A Carta iniciou o processo de proteção aos direitos humanos, e inclusive, seu reconhecimento mundial.

Simone Rodrigues defende que,

“a Carta foi a peça central na proclamação de princípios e valores a serem compartilhados pela sociedade internacional, demarcando como pilares do sistema internacional a igualdade soberana, a integridade territorial, a independência política dos Estados, a autodeterminação dos povos, a não-intervenção nos assuntos internos, a resolução pacífica dos conflitos, a abstenção da ameaça ou uso da força, o cumprimento das obrigações internacionais, a cooperação internacional e o respeito e a promoção dos direitos humanos e liberdades fundamentais sem discriminação.” 30

A ONU foi organizada em diversos órgãos. Onde se destaca a Assembléia Geral, o Conselho de Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela e o Secretariado. Ainda podendo ser criados outros órgãos, quando for necessário.31

Com a Carta, os direitos humanos foram promovidos no âmbito internacional. Essa foi capaz, de provocar nos Estados-membros o reconhecimento de que a proteção aos direitos humanos não podia mais estar limitada à territorialidade estatal. Não podiam se vincular apenas ao interesse interno, estavam dentro da proteção internacional. Os direitos humanos, após a Carta, eram interesse de toda a comunidade internacional. “Se tornando cada vez menos matéria de jurisdição doméstica dos Estados”.32

A Carta de 1945 adotou uma linguagem vaga e imprecisa para os direitos humanos. Não os definia. Era enfática, contudo, na proteção que devia se ter com os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Sendo os seus dispositivos obrigatórios, pois, os direitos humanos eram uma finalidade da ONU.

Diversos artigos da Carta da ONU referem-se aos direitos humanos. onde pode se destacar o preâmbulo; o artigo 1º, alínea 3º; artigo 13, alínea 1º, letra b; artigo 55, letra c; artigo 56; artigo 62, alínea 2º; artigo 68 e artigo 76, letra c.33

Torna-se necessária uma análise mais delicada da Carta. Em seu preâmbulo, encontram-se direitos humanos como a igualdade, a dignidade do ser humano, a busca por um progresso social e por melhores condições de vida; como os objetivos que são a manutenção da paz e da segurança internacionais, e a resolução pacífica de conflitos.34

Nos artigos supra citados encontram-se a promoção e o estímulo ao respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. Como a promoção de estudos e recomendações, pela Assembléia Geral, para que possa haver o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. Condições de estabilidade e bem-estar, baseados nos princípios da igualdade de direitos e autodeterminação dos povos eram o objetivo.35

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É possível ainda ver claramente em outros artigos uma proteção e respeito aos direitos humanos, entre as funções dos órgãos da ONU, ou como objetivos e até aspirações. Contudo o conteúdo dessas expressões não foi claramente definido para que se realmente pudesse cobrar algo mais concreto.

Além do sistema das Nações Unidas de proteção aos direitos humanos, existem os sistemas regionais: o Sistema Europeu (Convenção Européia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, de 1950), o Sistema Interamericano (Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969), o Sistema Africano (Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos, de 1981) e o Sistema Árabe (Carta Árabe dos Direitos Humanos, de 1994).

A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (1948) E SEUS EFEITOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS

Em 10 de dezembro de 1948, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, consolidando “a afirmação de uma ética universal ao consagrar um consenso sobre valores de cunho universal a serem perseguidos”.36

No dizer de Bobbio,

“a Declaração afirma os direitos de forma universal, no sentido de que os destinatários dos princípios nela contidos não são mais os cidadãos dste ou daquele Estado, mas todos os homens; e positiva no sentido de que põe em movimento um processo em cujo final os direitos do homem deverão ser não mais apenas proclamados ou apenas idealmente reconhecidos, porém efetivamente protegidos até mesmo contra o próprio Estado”.37

Dessa forma toda a nação vai criando valores comuns. A divergência cultural entre os Estados se atenua diante da importância dos direitos humanos universais. Inclusive, com o desenvolvimento humano e social a idéia de Estado-nação vai decaindo, devido à miscigenação entre os povos, uma multiplicação de culturas dentro de um mesmo Estado. Ocorrendo uma universalização cultural, o que acarreta um reexame da soberania absoluta do Estado.

René Casin, considerado um dos pais da Declaração, afirma:

“Esta Declaração se caracteriza, primeiramente, por sua amplitude, compreende um conjunto de direitos e faculdades sem as quais um ser humano não pode desenvolver sua personalidade física, moral e intelectual. Sua segunda característica é a universalidade: é aplicável a todas as pessoas de todos os países, raças, religiões e sexos, seja qual for o regime político dos territórios nos quais incide.”38

Decerto, a Declaração de 1948 é tida como inovadora, pois elencava tanto direitos civis e políticos, art. 3º a 21, como direitos sociais, econômicos e culturais, art. 22 a 28.39 Demonstrando que os direitos humanos não devem se ater a gerações ou fases. Essa é uma visão ultrapassada, pois os direitos do homem não se dividem, nem muito menos se sucedem, e sim se complementam e se acumulam. Se firmando como uma unidade interdependente e indivisível.

Há resistências em reconhecer força jurídica vinculante à Declaração, pois não é um tratado, ou acordo internacional, e sim uma resolução da Assembléia Geral. Contudo, para muitos doutrinadores essa teria sim força vinculante, na media em que é a interpretação autorizada da expressão direitos humanos, constate na Carta da ONU; ainda os princípios contidos na Declaração são os princípios gerais do direito, e que essa integra o direito costumeiro internacional.40

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É notório que todas as tendências contemporâneas procuram unir os povos em busca de um bem maior. As diferenças entre culturas, étinas, religiões, classe sociais, não possuem o poder de privar o homem do direito de ser digno, livre e auto determinável.

A busca para definir os direitos humanos possui amplas diretrizes. É, de fato, caloroso saber que todos têm o direito à liberdade, à igualdade, à vida, à segurança pessoal, à uma vida privada, à uma propriedade, ao trabalho, ao repouso e ao lazer, a um padrão de vida que assegure o bem-estar e à saúde, à instrução, como vários outros. Inclusive o art. 6º da Declaração defende que “toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante à lei”.41

Decerto que já não se encontra mais definição cabível para a palavra “pessoa”. Certamente todos os seres humanos são pessoas dignas dos direitos elencados na Declaração de 1948. Entretanto, a realidade é outra. Apenas poucos indivíduos possuem realmente o direito de usufruir de tais direitos. Alguns dos vários direitos estão apenas estampados em um papel como direitos exigíveis e infelizmente utópicos.

É necessário, como afirma Bobbio, “ler a Declaração Universal e depois olhar em torno de si.”42 Falta muito para que os direitos do homem sejam realmente invioláveis e inalienáveis, para que, inclusive, sejam respeitados como fundamentais. Atualmente, a necessidade da proteção aos direitos humanos é gritante. Será longo o caminho para que seja possível desfrutar da condição de “pessoa” descrita na Declaração.

OS DOIS GRANDES PACTOS INTERNACIONAIS DE 1966

A idéia de que os Direitos Civis e Políticos eram auto-aplicáveis43 e passíveis de cobrança imediata fez com que fossem formulados dois Pactos de Direitos Humanos, para garantir uma maior eficácia, pois os direitos sociais, econômicos e culturais eram reconhecidos como programáticos.

Nesse contexto, desenvolve-se o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966), que apenas entrou em vigor em 1976, quando obteve o número de ratificações necessárias (35 Estados). Reconhecendo um catálogo de direitos ainda mais extenso que o da própria Declaração de 1948.44

Por conter normas auto-aplicáveis consagrava em seu preâmbulo a obrigação imediata dos Estados membros de respeitar, assegurar e promover o respeito universal e efetivo dos direitos e das liberdades fundamentais. Defendia os direitos humanos, de forma universal e indivisível, como decorrentes da dignidade inerente à pessoa humana.45

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos consagrava, em seus 47 artigos (divididos em 5 partes), entre outros direitos, os seguintes: o direito de autodeterminação; de dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais; proibição de discriminação racial; direito à vida; proibição de tortura e tratamento cruel; proibição à escravidão, trabalho forçado e tráfico de escravos; direito à liberdade e a segurança pessoal; que todas as pessoas são iguais perante os Tribunais; direito à liberdade de circulação; à liberdade de pensamento, de consciência, de religião, de expressão; proibição de propaganda em favor da guerra; direito à livre associação; proteção da família e das crianças. Como vários outros.46

Como exceção à cobrança imediata do estabelecido no Pacto, encontra-se o art. 4º, onde permite-se a derrogação temporária dos direitos, das obrigações, desde que haja situações excepcionais e sejam proclamadas oficialmente, ficando proibido qualquer forma de discriminação. Essa derrogação não se aplica a certos direitos como à vida, à proibição de tortura e de qualquer forma de tratamento cruel, desumano ou degradante, à liberdade, entre outros, elencados no art. 4º-2 do Pacto.47

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Encontra-se, ainda, limitações aos direitos de reunião e o de associação, desde que prevista em lei, para o interesse da segurança nacional, da ordem pública, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas (art. 21 e 22 do Pacto).

O Pacto estabeleceu que todos os Estados membros devem enviar relatórios informando as medidas adotadas para tornar efetivos os direitos reconhecidos e sobre o progresso alcançado no gozo desses. Constituindo, ainda, um Comitê de Direitos Humanos, o órgão para fiscalizar a aplicação dos artigos do Pacto e apurar eventuais denuncias de violação.48

Além de estabelecer os relatórios obrigatórios, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, estabeleceu um mecanismo opcional como outro meio de proteção aos direitos humanos, as comunicações interestatais. Permitindo que todo Estado-parte poderá declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê de Direitos Humanos para receber e examinar as comunicações em que um Estado parte alegue que um outro não vem cumprindo as obrigações que lhe são impostas pelo Pacto. Contudo, a eficácia da comunicação fica limitada à elaboração de uma declaração de ambos os Estados, reconhecendo a competência do Comitê.

Em 16 de dezembro de 1966, foi elaborado um Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o qual adicionava o mecanismo das petições individuais enviadas por vítimas de violações de direitos humanos. As quais eram recebidas e examinadas pelo Comitê de Direitos Humanos, pois o Protocolo reconhecia sua competência para julgar, obrigar o Estado a reparara a violação e adotar medidas necessárias para promover o respeito ao Pacto. De fato, esse mecanismo de petições só pode ser admitido se o Estado violador tiver ratificado tanto o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos como o Protocolo Facultativo. Até 24 de novembro de 2004 cento e quatro Estados haviam ratificado o Protocolo Facultativo ao Pacto.49

Certamente que são marcantes os avanços trazidos com o Pacto Internacional de 1966. Ao instituir as formas de controle, comunicação, fiscalização, com os relatórios obrigatórios ou as petições individuais. Infelizmente na maioria das vezes esses mecanismos ficam vinculados à vontade soberana do Estado. Além da decisão do Comitê de Direitos Humanos não possuir força coercitiva, obrigatória ou vinculante, mesmo quando há o reconhecimento de sua competência pelos Estados- parte.

As sanções pertinentes às violações de direitos humanos ainda são as mesmas contidas na Carta das Nações Unidas (1945). O que de fato ocorre é o Power of Embarrassment, já que a ONU não pode determinar as ações internas dos Estados, pode, no entanto, embaraçar e causar constrangimento político e moral ao Estado violador. Esses constrangimentos podem causar situações políticas delicadas e crises econômicas latentes.50Decerto que a falta de sanções mais eficazes não acompanhou o crescimento dos direitos humanos.

Pode-se ler no preâmbulo do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966) que: “Compreendendo que o individuo, por ter deveres para com seus semelhantes, e para com a coletividade a que pertence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente Pacto.” 51 É notório que o indivíduo tem o dever e poder, estabelecido no Pacto em questão, de ser ouvido e de lutar por seus direitos.

Então como se pode restringir à eficácia desse direito à vontade do Estado soberano? Há uma contradição ao se sobrepor a vontade do Estado soberano ao exercício de um direito humano.

A história evoluiu com o intuito de o ser humano ser cidadão nacional e internacional, portador de direitos e deveres nos dois planos. Com o advento do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos como um dos marcos de proteção dos direitos humanos, limitou a eficácia de mecanismos de proteção a temores de cunho político dos Estados. Ora não está correndo um retrocesso na colocação do indivíduo no plano internacional?

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O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), é composto por um preâmbulo e 25 artigos, divididos em quatro partes. Da mesma forma entrou em vigor dez anos após sua elaboração em 1976, quando obteve a ratificação de 35 Estados. Ampliava e aperfeiçoava os direitos econômicos, sociais e culturais inscritos na Declaração de 1948.

Tinha como maior objetivo incorporar os dispositivos da Declaração Universal de 1948, sob a forma de preceitos juridicamente obrigatórios e vinculantes. Instituindo obrigações de todos os Estados membros e sua correlata responsabilização, no plano internacional, determinando a responsabilização internacional em caso de violações.52

Esse Pacto diferenciava-se do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos por elencar deveres para os Estados, e não diretamente para os indivíduos, por suas normas serem de realização progressiva, e não imediata. Constitui direitos condicionados à presente atuação do Estado, que necessitam de recursos econômicos e incentivos estatais.

A obrigação de progressividade na implementação dos direitos econômico, sociais e culturais, decorre da chamada cláusula de proibição do retrocesso social, na medida em que é vedado aos Estados retroceder no campo de implementação do direitos.53

O Pacto estabelece, entre outros direitos, os seguintes: o direito à autodeterminação e em conseqüência os povos podem estabelecer livremente sua condição política e o seu desenvolvimento econômico, social e cultural; os povos podem ainda dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais; direito ao trabalho; direito à uma remuneração justa e eqüitativa e que dê ao homem e a sua família condições dignas de existência; direito de fundar se filiar a sindicatos; direito à previdência social; proteção e assistência à família, inclusive alimentação, vestuário e moradia adequados, e uma melhora continua das condições de existência; uma melhora nos métodos de produção, conservação e distribuição de alimentos; direito de toda pessoa ao mais alto nível possível de saúde física e mental; direito à criação, à participação na vida cultural; sendo proibida a discriminação racial, dentre outros.54

O presente Pacto também determina o sistema de Relatórios a serem encaminhados pelos Estados partes como instrumento de monitoramento e supervisão, para assegurar a observância dos direitos reconhecidos. Contudo, em nenhum momento, se refere à comunicação interestatal e às comunicações individuais. 55

A eficácia das normas do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, possui um dilema grande por suas normas serem violadas devido a sua natureza programática. Isso ocorre por não haver iniciativas estatais como deveria e não haver participação pública capaz de responder aos problemas sociais. Por suas normas não serem exigíveis, muitos doutrinadores entendem que são meras aspirações, afastando-se cada vez mais do âmbito de direitos humanos.56

De fato o que ocorre é que não foi notado que a dignidade humana não pode prosperar dentro de ambientes degradantes. Não foi percebido que a desigualdade social, a pobreza, a falta se assistência aos necessitados são violações gritantes aos direitos humanos. Estes são indivisíveis e interdependentes, então como pode apenas certos direitos serem respeitados e isso não abalar a eficácia de outros?

Os artigos do citado Pacto de 1966 devem ser interpretados em conjunto, de forma clara e precisa. Não é permitida a aplicação de normas, contidas nesse pacto, no sentido de se reconhecer práticas ou atos que destruam os direitos ou liberdades fundamentais. Não é admitida qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos reconhecidos ou vigentes em qualquer país.

II CONFERÊNCIA MUNDIAL DOS DIREITOS HUMANOS (1993)

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A Primeira Conferência Mundial dos Direitos Humanos foi realizada em Teerã (Irã), em 28 de novembro de 1943 e estendeu até 1º de dezembro no ano de 1968, registrando em seus documentos a universalidade dos direitos humanos, mediante sobretudo a ênfase na sua indivisibilidade. Foi o primeiro dos acordos firmados entre as superpotências durante a Segunda Guerra Mundial.57

Nela, reuniram-se os três dos maiores estadistas da época. Representando os Estados Unidos, se fazia presente Franklin Delano Roosevelt; falando em nome do Império Britânico, achava-se o primeiro-ministro Winston Churchill; e, por último, Joseph Stalin, ditador da URSS.

A Segunda Conferência (junho/1993), realizada em Viena, foi convocada pela Assembléia Geral. Onde participaram delegações de 171 países e oitocentas Organizações Não-Governamentais. Procurava-se coordenar os múltiplos instrumentos de proteção aos direitos humanos e torná-los mais eficazes.58

A partir da Segunda Conferência, foi elaborada a Declaração de Viena de 1993, onde claramente se referiu ao suporte internacional à promoção e ao fortalecimento da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos. Realçando a importância da inter-relação entre esses, como interdependentes e que se reforçam mutuamente. A democracia se relaciona com a totalidade dos direitos humanos. E o desenvolvimento foi reconhecido como direito humano fundamental, devendo ser concretizado através de cooperações internacionais.59

A Declaração de Viena reafirmou, de forma precisa, a universalidade, indivisibilidade e a interdependência dos direitos humanos, afastando a idéia de competência exclusiva dos Estados soberanos, e os levando para o âmbito internacional de competência e proteção.

Ao afirmar a universalidade dos direitos humanos abdicou do relativismo cultural, ou seja, consagrou a idéia de que os direitos humanos não podem ser interpretados de forma diferente em cada Estado. Não podendo se abalar pelas diferenças culturais, étnicas, ou religiosas. E essas diferenças não podem servir de desculpas para violações, afinal o gênero humano é um só.

Sobre esse tema, Simone Rodrigues, afirma que:

“Ao assinarem a Declaração de Viena, os Estados se comprometeram em eleger a proteção e promoção dos direitos humanos como primeira responsabilidade de todos os governos, independente da perspectiva particular de sua cultura, cabendo à sociedade internacional fiscalizar o seu cumprimento”60

A idéia de que os direitos humanos não podem se ater à soberania estatal, desenvolve a não aceitação do sofrimento humano, de abusos, inclusive tendo nessas violações um retrocesso social e econômico. A sociedade internacional deve fazer prevalecer o respeito aos direitos humanos, mesmo quando os Estados usam da prerrogativa da soberania de seu território para a violação e desrespeito.

A indivisibilidade pôs fim á errônea hierarquia entre os direitos humanos, desmistificando a sua divisão em classes, pois mesmo que o seu desenvolvimento tenha se dado em gerações, são interdependentes e devem ser interpretados de forma eqüitativa.

A Declaração de Viena consagra certos direitos a serem citados, de forma sucinta, como: a promoção e a proteção aos direitos humanos como prioridades da comunidade internacional; que os direitos humanos têm origem na dignidade e valor inerente à pessoa humana, devendo esta ser a principal beneficiária; que o estímulo e respeito aos direitos e liberdades fundamentais são responsabilidade de todos os Estados; condições de paz, democracia, justiça, igualdade, desenvolvimento, melhores padrões de vida e solidariedade; repúdio a discriminação e violência às mulheres; reconhece que a comunidade internacional deve conceber formas e meios para obter a realização dos direitos humanos e evitar violações; reconhece os direitos humanos como universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados; busca melhores condições de paz e segurança e o desenvolvimento social e econômico;

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defende que a democracia, o desenvolvimento e o respeito aos direitos e liberdades fundamentais são conceitos interdependentes; direito ao desenvolvimento; enfatizou a correlação do desenvolvimento com as necessidades ambientais e de desenvolvimento de gerações presentes e futuras, entre outros.61

Decerto, a Declaração de Viena (1993) trouxe grandes avanços á proteção dos direitos humanos por atribuir funções de proteção que eram privativas do Estado à comunidade internacional; por reconhecer o direito ao desenvolvimento, e a necessidade de proteção dos recursos naturais, juntamente com uma preocupação com as gerações futuras.

Os institutos de proteção analisados neste capítulo, reconheceram e defenderam os direitos humanos como prioridades. Entretanto, não foi criado ou definido um mecanismo eficaz de se frear abusos. Infelizmente, comunicações ou cooperações internacionais, que ainda não ocorrem de forma regular e devida, por si só não logram êxito.

Apesar da preocupação em proteger os direitos humanos, até agora, só se cogitam idealizações. Nada está garantido de forma concreta, ora se não existem meios obrigatórios e de força vinculante, cada Estado continuará promovendo seus interesses econômicos e políticos particulares.

O CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS

A Comissão de Direitos Humanos, criada em 1946, pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC), em cumprimento ao disposto no art. 68 da Carta da ONU: "O Conselho Econômico e Social criará comissões para os assuntos econômicos e sociais e a proteção dos direitos do homem, assim como outras comissões que forem necessárias para o desempenho de suas funções."

Constitui-se como órgão de proteção não convencional de direitos humanos, pois não possui convenções específicas sobre o direito violado, não há ratificação pelo Estado-violador de uma convenção determinada e até de forte opinião pública favorável à adoção de medidas de combate à violação, envolvem medidas urgentes de proteção de caráter essencialmente preventivo. 62

É composta por 53 Estados que se reúnem apenas durante seis semanas, de março a abril, em Genebra, na Suíça; detém competência para atuar em quaisquer questões relacionadas aos Direitos Humanos e não possui caráter deliberativo, por isso examina propostas de resoluções que eram submetidas ao ECOSOC para futura aprovação.

O período intervencionista da Comissão de Direitos Humanos da ONU teve sua atividade iniciada em 1967 em virtude de um chamado dos países de Terceiro Mundo, que haviam-se tornado independentes e estavam mobilizados na luta contra o apartheid e o colonialismo e, logo após, em 1969, quando Israel ocupa territórios árabes.

Em 1967, além de elaborar projetos para convenções internacionais, assumiu a função de apreciar casos específicos de violações aos direitos humanos. Através de resoluções do ECOSOC, recebeu autorização para receber comunicações encaminhadas por indivíduos, grupos de indivíduos ou órgãos não-governamentais, “A Comissão recebe, em média, 50.000 reclamações por ano”, 63 e para designar relatores temáticos ou grupos de trabalhos com a missão de examinar determinadas violações de direitos humanos.64

Em casos de urgência humanitária, a Comissão pode se reunir, desde que a maioria de sues integrantes concorde, insta salientar que até o ano de 2005 só haviam ocorrido cinco encontros. Inclusive, de acordo com o relatório da Comissão sobre a situação de algum país no desrespeito aos direitos humanos, o CSNU poderia ser acionado para votar uma ação militar, para restabelecer a paz e a dignidade.

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A Comissão foi vítima de acirradas críticas, entre elas estava o fato de haverem poucas reuniões anuais de seus membros, ou por estar vinculada a interesses políticos, e ter perdido seus propósitos e objetivos. Por isso o ex-Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, defendeu uma urgente reforma para que pudessem ser realizadas as promessas que já haviam feitas, concretizá-las, tornado a Comissão mais democrática e forte, aumentando, assim, sua credibilidade.65

Neste contexto, em 19 de junho de 2006, foi inaugurado o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, através de uma proposta do Secretário-Geral que foi aprovada pela Assembléia Geral, para substituir a Comissão de Direitos Humanos, com o objetivo de reforçar a promoção e proteção aos direitos humanos, resguardar a legitimidade perdida.

De acordo com Annan, “Este Consejo representa una gran oportunidad para las Naciones Unidas y para la humanidad de renovar la lucha por los derechos humanos. Les ruego que no la desperdicien”.66

O Conselho, sediado em Genebra, Suíça, é composto por 47 membros, que diferente dos membros da Comissão67, devem competir por assentos e os candidatos bem sucedidos precisam conseguir o apoio da maioria dos Estados-membros, em uma votação secreta e individual, sendo eleitos por um período de três anos.68

O Conselho detém a possibilidade de examinar a atuação de todos os 192 Estados-membros das Nações Unidas. Reúne-se ao longo do ano (três sessões, com duração de cada 10 semanas cada), com o intuito de dar ênfase a iniciativas preventivas, para evitar que situações de tensão se transformem em crises, e responder, rapidamente, a novas crises na área dos direitos humanos, podendo, além disso, ser convocado para tratar de situações urgentes e realizar sessões extraordinárias.69

Deve assumir o mesmo papel da Comissão, no que se refere ao trabalho do Alto Comissariado, e poderá ser elevado à categoria de órgão principal pelos Estados-membros.

O Conselho é órgão subsidiário da Assembléia Geral, devendo prestar contas diretamente a todos os Estados-membros da ONU, onde a Assembléia Geral contém o direito de suspender os direitos e privilégios de qualquer membro do Conselho, desde que haja cometido, continuamente, violações flagrantes e sistemáticas dos direitos humanos, durante o mandato, e que a suspensão seja aprovada por uma maioria de dois terços dos votos da Assembléia Geral.70

O Conselho tem como certos objetivos:

“O Conselho será responsável por promover o respeito universal e a proteção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais para todos. Para isso, analisará as violações de direitos, promoverá assistência e educação na área dos direitos humanos, ajudará a desenvolver o direito internacional nesta esfera, analisará a atuação dos Estados-membros, se esforçará para evitar abusos, responderá a situações de emergência e servirá de fórum internacional para o diálogo sobre questões de direitos humanos.”71

Para que haja efetivas mudanças, todos os membros do Conselho devem estar comprometidos com as necessidades reais da sociedade, desvinculando-se de matérias políticas e influências de super-potências. Para que, de fato, possa exercer com transparência e efetividade a proteção dos direitos do homem, e pôr fim a desconfiança refletida na Comissão. O Conselho, atualmente, é o órgão que detém primordial papel no âmbito de direitos humanos. Insta salientar que, de acordo com João Baptista Herkenhoff,

“Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da

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sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir”.72

O ESTADO E A SOBERANIA

Ao longo deste trabalho, foi desenvolvida a idéia de que a soberania estatal deve ser violada para que fossem garantidos e preservados os direitos humanos, uma vez em que as necessidades da sociedade, juntamente com o conceito de soberania, são instáveis.

Na época da Convenção de Haia (1899/1907), com a Liga das Nações e logo após com o surgimento da ONU (1945), o principal objetivo internacional era a manutenção da paz e segurança internacional, com base no princípio da não-intervenção. Assim, todo Estado seria autônomo na administração de assuntos internos e possuiria o direito de conduzir a política interna, enfatizando a soberania estatal absoluta.

Com a de Declaração de 1948, o indivíduo adquire notável papel no âmbito internacional, posicionando-se acima da soberania estatal. O que de fato ocorreu, foi que o bem-estar humano e questões morais e sociais entraram no círculo de preocupação internacional, diante do fato de que o Estado sozinho não seria capaz de solucionar crises referentes aos direitos humanos, sobretudo no âmbito das questões ecológicas.

A noção de “Guerra justa”, (bellum justum), foi desenvolvida, primeiramente, pelos festiales73, sendo posteriormente adotada pela Teologia cristã e pelo direito Canônico. Santo Agostinho, em sua obra De Civitate Dei Contra Paganos, reviveu a ideologia da bellum justum 74, como a necessidade de se proteger inocentes que não possuem meios de defesa, estimulou a ocorrência de intervenções internacionais, abalando a idéia da intocável soberania, para defesa de seres humanos expostos a situações degradantes, como uma obrigação cristã.75

A “guerra justa”, de acordo com Santo Agostinho (De Civitate Dei Contra Paganos), foi asseverada por São Tomás de Aquino, que pressupõe a existência de três requisitos, a saber: deve ser conduzida pela autoridade central do soberano (auctoritas principis), ter como elemento objetivo causa justa, Intenções corretas de promover o bem e evitar o mal (intentio recta).76

O conceito moderno de “guerra justa” pode ser dado por Hans Kelsen, onde a guerra “é permitida apenas como reação contra um ato ilegal, um delito, e somente direcionada ao Estado responsável por este delito.”77

A partir de séc. XX, a “guerra justa” foi renovada pela Intervenção Humanitária, como a medida necessária para assegurar a efetivação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. A Carta da ONU estabelece que apenas o CSNU (Capítulo VII, da Carta da ONU) detém o poder de ação de força contra os Estados violadores. 78

Todos esses entendimentos desenvolvidos ao longo da história corroboraram pelo enfraquecimento da soberania intocável estatal, demonstrando que certos pontos, como os direitos humanos, não constituem matéria exclusiva de cada Estado. Como já se reconheceu a legitimidade internacional sobre este assunto, não há como se cogitar que haveria interferência em assuntos exclusivos dos Estados.

Os efeitos das constantes violações aos direitos humanos não conhecem barreiras territoriais e políticas, pelo contrário espalham as diferenças, fermentam o ódio, a violência, a destruição, degradações territoriais, riscos ao meio ambiente e até às gerações vindouras.

A Carta das Nações Unidas apresenta diversos princípios de cunho idealista, como a eqüidade dos Estados, as formas de cooperações internacionais, a não-intervenção, a resolução pacífica de conflitos, dentre outros. Contudo, na realidade os interesses políticos de super-potências tendem a influenciar a

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desenvoltura internacional, manipulando-a. Dessa forma, a soberania acaba por incentivar os desrespeitos aos direitos humanos, distanciando os objetivos e propósitos internacionais estabelecidos pela Carta da ONU.

Para o Direito Internacional, soberania é um conceito equalizador, permitindo que os governos se auto-organizem, onde o Estado detém o monopólio legal do uso da força sobre a população que se encontra em seu território. Contudo, “o fato é que a idéia da soberania tem sido freqüentemente usada de forma a atender as conveniências dos principais atores da política internacional”. 79

Procura-se defender que a soberania não condiz mais com o conceito de absoluta. Na medida em que, o Estado não possui o direito de permanecer protegido pelo preceito dessa para praticar violações aos direitos humanos, o Estado deve ser reconhecido como servente do seu povo.80

A luta pelo poder indica um importante empecilho para a prevalência do bem-estar social e coletivo. De acordo com André Regis, “os Estados mais fortes buscam o poder, enquanto os mais fracos procuram defender-se contra potenciais ameaças dos mais fortes”. 81 As relações de interesses políticos e econômicos constituem uma ameaça à proteção aos direitos humanos. Como a história demonstra, são sempre os países do Terceiro Mundo que são alvos de intervenções por parte das grandes potências, buscando na soberania a forma primordial de preservação. 82

Destaca-se que, a partir da criação de um Direito Internacional, os traços invioláveis da soberania já começaram a se dissipar, onde a renuncia ou a transferência parcial da soberania para um organismo internacional, no caso a ONU, traria a governança democrática, por meio do estabelecimento do comunitarismo.83

Atualmente, a humanidade e os recursos limitados não podem mais se limitar à idéia da não interferência estatal. Cançado Trindade entende que os direitos humanos não constituem “competência nacional exclusiva” ou domínio reservado dos Estados, sendo esses dogmas do passado, onde os tratados e os pactos internacionais de direitos humanos, já analisados, devem ser interpretados de forma inovadora, com proteção internacional, estabelecendo limites ao voluntarismo estatal, reconhecendo que “o Estado existe para o ser humano, e não vice-versa.” 84

O Estado deve proteger e servir seus cidadãos, as matérias de “exclusiva jurisdição estatal” já constituem parte do interesse internacional, enfraquecendo a soberania. O ser humano como cidadão nacional e internacional é prioridade, onde, de acordo com Simone Rodrigues, “os indivíduos adquirem uma espécie de ‘cidadania transnacional’. Com isto, não estão vinculados à jurisdição estatal, quebrando a soberania, já que são prioridades da ordem internacional”.85

Para André Regis, o conceito de soberania continua latente, na medida em que as intervenções internacionais ocorridas foram em Estados falidos, que já não mais existem, ou exercem qualquer autoridade ou controle perante à população, não sendo, inclusive, necessário o consentimento do Estado falido sobre a intervenção.86 Dessa forma, os países fortes e desenvolvidos não sofrem ameaças de intervenção, mantendo a soberania como meio de impunidade, e praticando crimes humanitários.

A soberania encontra-se limitada em nome do respeito e da proteção ao ser humano, da preocupação com a dignidade humana, da preservação da vida no planeta, com recursos limitados. Entretanto, pode-se afirmar ainda que a soberania por vezes é desrespeitada para a prevalência de interesses políticos particulares.

As violações aos direitos humanos são gritantes e necessitam de soluções macrossistêmicas, já que são reconhecidos no plano nacional e internacional. Assim, não constituem matéria exclusiva dos Estados, possuem respaldo global. Com a noção de primazia necessária dos direitos humanos, não há como alegar a restrição territorial à sua aplicação ou respeito. A defesa internacional aos direitos humanos, por si só, encarregou de enfraquecer a soberania absoluta.

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RESULTADOS E PERSPECTIVAS

O presente trabalho buscou traçar a evolução dos direitos humanos, analisando as fases de desenvolvimento juntamente com a valoração do indivíduo, até este se tornar cidadão do mundo.

Com o surgimento da ONU, em 1945, como sucessora da Liga das Nações, firmou-se o status internacional dos direitos humanos. A Carta da ONU detém uma linguagem imprecisa, asseverando a necessidade do desenvolvimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948, solidificou o papel do indivíduo como sujeito de direito erga omnes. Foi consolidada com o intuito de estabelecer um padrão comum para todos os povos e nações, com a universalização dos Direitos Humanos. Esta Declaração consolidou a preocupação internacional com a proteção dos direitos humanos, visando-se o indivíduo em si, como ser humano, e não como cidadão de cada Estado.

Contudo, a Declaração de 1948, por muitos doutrinadores, não teve sua força jurídica reconhecida. Para suprir a ausência de coercibilidade jurídica internacional desenvolveu-se o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos em 1966.

A II Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena, 1993, reconheceu a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência dos direitos humanos definidos pela Declaração Universal; a necessidade de um desenvolvimento econômico, da proteção dos recursos naturais e da preservação das gerações humanas futuras. E, reafirmou o compromisso dos Estados na proteção dos direitos humanos.

Destacou-se o papel do Conselho de Direitos Humanos que substituiu a Comissão de Direitos Humanos, em 2006, através de uma reforma visando asseverar a proteção e promoção aos direitos humanos. Constituí-se como órgão de suma importância, com a responsabilidade de analisar as violações e a atuação dos Estados, no âmbito dos direitos humanos.

Portanto, de maneira exaustiva conclui-se que o princípio da soberania absoluta encontra-se abalado a partir da noção de que a proteção de direitos do homem não se atém à jurisdição doméstica dos Estados soberanos. Na medida em que o Estado deve proteger a sua população, e promover o respeito aos direitos humanos, sendo esses, inclusive, dever e interesse internacional. À sociedade internacional foi dada legitimidade para agir prol da defesa dos direitos humanos reconhecidos e imprescindíveis para a manutenção da vida digna no planeta. Não podendo essa se esquivar da obrigação estabelecida ao longo das etapas históricas.

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NOTAS DE RODAPÉ

1 Para Celso Melo a sociedade internacional existe desde a mais remota antiguidade. Essa surgiu de acordo com a necessidade dos Estados em estabelecer relações continuas entre si, e para isso são

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necessárias normas comuns às coletividades. Para a concepção positivista a sociedade internacional teria se formado através de acordos de vontades; para a jusnaturalista o homem só se realiza em sociedade, sendo a internacional a sua forma mais ampla. A comunidade internacional teria, por sua vez, formação natural, vontade orgânica e os indivíduos participariam de maneira mais profunda. Apesar desse doutrinador defender a existência de uma sociedade internacional, a denominação não se dá de maneira uniforme entre os doutrinadores, pos isso não existe nomenclatura errada. Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 12º ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. 1v. p. 44/48.

2 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária no Pós-Guerra Fria. Rio de Janeiro: Editora Renovar ,2000. p. 61.

3 A CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br/documentos_carta.php. Acesso em: 10 mar. 2007.

4 Cf. SEGUIN, Elida. O Direito Ambiental. Nossa Casa Planetária. Rio de Janeiro: Editora Forense: 2000. p.43.

5 Cf. SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente. Emergência, Obrigações e Responsabilidades. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2001. p. 50.

6 Cf. SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente. Emergência, Obrigações e Responsabilidades. Op. cit. p. 50.

7 Cf. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: http//www.mma.gov.br. Acesso em: 10 mar 2007.

8 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária no Pós-Guerra Fria. Op.cit. p.08.

9Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 12º ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. 1v. p. 821.

10 Georges Lefebvre apud Bobbio. Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 10º ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p.85.

11 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op. cit. p. 27

12 Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. Op.cit. p.130/132.

13 Cf. SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 22º ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003. p.158.

14 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op.cit. p.61.

15 Ibidem, p.61

16 Ibidem p.119.

17 Ibidem, p. 93.

18 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op.cit. p.102.

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19 Ibidem, p.69.

20 Cf. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Porto Alegre:Sérgio Antonio Fabris, 1999. pp. 200/206.

21 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op.cit. p.06.

22 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op.cit. p.42.

23 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. São Paulo: Savaiva, 2006. p. 107.

24Cf. PACTO DA SOCIEDADE DAS NAÇÕES. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 30 mar 2007.

25 PACTO DA SOCIEDADE DAS NAÇÕES. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 20 mar. 2007.

26 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.110.

27 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária de Pós-Guerra Fria. Op. cit. p. 25.

28 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op.cit. p.68.

29 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária de Pós-Guerra Fria. Op. cit. p.26.

30 Ibidem, p.45.

31 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. P.124-126.

32 Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. Op.cit. p.822.

33 Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. Op.cit. p.821. E Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. P.128.

34 Cf. A CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org./documentos_carta.php. Acesso em: 31 mar 2007.

35 Cf. A CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org./documentos_carta.php. Acesso em: 31 mar 2007.

36 CF. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. P.130.

37 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op.cit. p.30.

38 René Casin apud Piovesan. Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.130/131.

39 Cf. A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 30 mar. 2007.

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40 CF. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.137/138.

41 Cf. A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 30 mar. 2007.

42 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Op.cit. p.45.

43 De acordo com Piovesan, os países Ocidentais defendiam que os direitos civis e políticos eram passíveis de cobrança imediata, independente do país. Esse entendimento foi de encontro com os países Socialistas, que defendiam que a feitura de dois Pactos distintos iria diminuir a importância dos direitos sociais,econômicos e culturais. CF. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.155.

44 CF. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.155.

45 Cf. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 04 abr 2007.

46 Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. Op.cit. p. 825.

47 Cf. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLITICOS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 04 abr. 2007.

48 Cf. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLITICOS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 04 abr. 2007.

49 Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. Op.cit. p. 826.

50 CF. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.166.

51 Cf. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 04 abr. 2007.

52 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.168.

53 Ibidem, p.172.

54 Cf. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. Op.cit. p. 823.

55 Cf. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS. Disponível em: http//www.onu-brasil.org.br. Acesso em: 04 abr. de 2007.

56 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.176.

57 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária de Pós-Guerra Fria. Op.cit.. p. 68.

58 Ibidem.

59 Cf. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Op. cit.. pp. 204/206.

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60 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária de Pós-Guerra Fria. Op. cit. p. 69.

61 Cf. DECLARAÇÃO E PROGRAMA DE AÇÃO DE VIENA (1993). Disponível em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/viena.htm http. Acesso em: 10 abr. 2007.

62 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. pp. 210/218.

63 Ibidem, p. 215.

64 Ibidem, p. 217.

65 Cf. MEDEIROS, Marcelo. ONU busca mais proteção para direitos humanos. Disponível em: http://www.lainsignia.org/2005/abril/int_001.htm. Acesso em: 09 mai. 2007.

66Cf. Annan inaugura Consejo de Derechos Humanos con llamado a iniciar “nueva era”. Disponível em: http://www.un.org/spanish/News/fullstorynews.asp?newsID=7138&criteria1=ConsejoDH&criteria2=Annan. Acesso em: 09 mai. 2007.

67 Os membros da Comissão eram escolhidos longe do público e eleitos por aclamação.

68 Cf. Entenda o novo Conselho de Direitos Humanos. Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br/view_news.php?id=4215. Acesso em: 10 mai. 2007.

69 Ibidem.

70 Cf. Entenda o novo Conselho de Direitos Humanos. Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br/view_news.php?id=4215. Acesso em: 10 mai. 2007.

71 Ibidem.

72 Cf. HERKENHOFF, João Baptista. Curso de Direitos Humanos: gênese dos direitos humanos. São Paulo: Acadêmia, 1994. 3v. p. 30.

73 De acordo com Yoram, “Os festiales eram corporações de sacerdotes encarregados de uma série de obrigações, algumas delas referentes ao início da guerra”. Cf. DINSTEIN, Yoram. Guerra, Agressão e Legítima Defesa. São Paulo: Manole, 2004. 3 ed. p. 87.

74 Cf. DINSTEIN, Yoram. Guerra, Agressão e Legítima Defesa. Op. cit. pp. 87/89.

75 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária no Pós-Guerra Fria. Op.cit. p.94.

76 Cf. CASTRO, Thales. Palestra de Direito Internacional – UNICAP. Direito Internacional da Segurança Coletiva e o papel do Conselho de Segurança da ONU. Realizada em: 22 mai. 2007.

77 Hans Kelsen apud Yoram. Cf. DINSTEIN, Yoram. Guerra, Agressão e Legítima Defesa. Op. cit. p. 89.

78 Cf. DINSTEIN, Yoram. Guerra, Agressão e Legítima Defesa. Op. cit. pp. 98/100.

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79 Cf. REGIS, André. Intervenções nem sempre humanitárias: O Realismo nas Relações Internacionais. Op.cit. p.79.

80 Ibidem, p. 84/85.

81 Ibidem, p. 83.

82 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária no Pós-Guerra Fria. Op.cit. p. 102.

83 Cf. CASTRO, Thales. Conselho de Segurança da ONU: Unipolaridade, consensos e tendências. Op. cit. p. 45.

84 Cf. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Op. cit. pp. 185/194.

85 Cf. RODRIGUES, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos. A prática da Intervenção Humanitária no Pós-Guerra Fria. Op.cit. p. 91.

86 Cf. REGIS, André. Intervenções nem sempre humanitárias: O Realismo nas Relações Internacionais. Op.cit. pp. 89/91.