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NOVEMBRO 2018 VOZ DO CAMPO ENTREVISTA 10 A nossa filosofia base é que o agricultor tenha rendimento NOVEMBRO 2018 VOZ DO CAMPO

A nossa filosofia base é que o agricultor tenha rendimento · para o outro, por isso temos promovido jornadas, os ... Politécnico de Beja e com a Universidade de Évora. O mesmo

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ENTREVISTA

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A nossa filosofiabase é que o agricultortenha rendimento

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Antes de ser presidente da Associação deBeneficiários do Roxo António Parreira já eraagricultor. Conheceu a par e passo a evolução doregadio português, particularmente oAproveitamento Hidroagrícola do Roxo que celebraeste ano o 50.º aniversário.António Parreira continua a ser agricultor e com osseus semelhantes partilha muitas preocupações quevão estar em cima na mesa nas XI Jornadas doRegadio que a Fenareg realiza anualmente e esteano vão acontecer em Aljustrel associadas àscomemorações do cinquentenário doAproveitamento.Nos dias 15 e 16 de novembro vai debater-se agestão dos perímetros de rega, preço da água,rendimento das culturas mas também o que vai sero regadio no futuro, as grandes preocupações querdos agricultores que formam a Associação deBeneficiários do Roxo quer de todos os outrosregantes a nível nacional.

Qual o primeiro sentimento que tem quando pensa nos 50anos do Aproveitamento Hidroagrícola do Roxo?Estes marco releva o trabalho feito durante este período eé possível ver que houve uma grande evolução desde oinício dessa atividade até aos dias de hoje, a par tambémdo que foi a própria evolução do país.Encaro estes 50 anos com uma grande responsabilidade evejo como muito positivo o trabalho realizado, o que nosprojeta para um trabalho ainda mais responsável nospróximos anos para os quais existem grande projetos.

Falando da Associação de Beneficiários do Roxo, quais osprincipais marcos desde a sua fundação?O primeiro grande marco foi logo depois da construção dabarragem, em 1968, quando um problema no paredãoobrigou ao seu esvaziamento e reparação (1974). Foi ummarco importante para todos porque reforçou-se asegurança da barragem.Merece destaque também quando se deu a ligação entreAlqueva e o Roxo, em 2010 e mais tarde, em 2016 quando aágua de Alqueva chegou pela primeira vez ao Roxo. Opróximo marco é o da regulação da entrada de água emAlqueva, porque vai encarecer o preço da água junto dosagricultores. É preciso conjugar todos os fatores paraapresentar ao agricultor um preço de água compatível comos seus rendimentos e com as suas culturas.

Com 50 anos de atividade, em que estado se encontra operímetro em termos de infraestruturas (…)?Tem havido três grandes preocupações: conservar operímetro, modernizá-lo e por fim tentar fazer uma gestãomuito criteriosa da água.Dentro destas considerações podemos dizer que temosum perímetro que foi bem conservado, que está a sermodernizado (só de 2010 até agora já foram investidoscerca de 28 milhões de euros, embora houvesse projetosaprovados para muito mais mas que por falta de verbas

não puderam ser executados ) e há projeção para que nofuturo mais venha a ser feito nesse sentido.

Com quantos hectares conta o perímetro?Em números redondos, quando se iniciou tinha cerca decinco mil hectares e hoje são cerca de oito mil, crescimentofruto da ligação a Alqueva que permitiu a construção doBloco de Rega de Aljustrel. Também pelo facto de termoságua de Alqueva hoje é possível satisfazer as necessidadesde água dos agricultores, quando no passado a Barragemdo Roxo tinha problemas de água, muitas vezes insuficientepara as necessidades da agricultura.

Como se caracterizam os agricultores/ regantes?Na área de influência da associação existe uma zona depequena propriedade e que até é bastante significativaque coexiste com outra com parcelas ligeiramente maiores,sem que haja muita grande propriedade.É a pequena propriedade que tem mais dificuldades em“sobreviver” num mundo tão competitivo porque logo àpartida fica limitada em termos do investimento necessáriopara ser rentável. E é precisamente aqui que a Associaçãotem centrado alguns dos seus esforços.Falando do tecido empresarial, existem as grandesmultinacionais instaladas com olival, amendoal, fruticultura(…) até ao pequeno agricultor que tem uma pequenaparcela de dois ou três hectares.

Em termos das culturas o que é que pode ser destacado?O que é que no passado seria impensável produzir-se e hojese faz?A cultura principal, que projetou toda a região, e foi muitoimportante do ponto de vista social e económico, foi acultura do tomate que permitiu mesmo a instalação daindústria na região. Essa cultura sofreu um grande revés ese chegaram a ser produzidos na ordem dos dois milhectares, nesta última campanha não foram mais de 40.»

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Quem veio ocupar estes terrenos que foram ficandodisponíveis foi sobretudo o olival, seguido do amendoalque está agora a despertar muito interesse e já está aocupar uma área significativa. Foram sendo introduzidasalgumas espécies novas (na região) como as fruteiras, oscitrinos, a romã, as frutas de caroço (…), mas que requeremoutro tipo de estruturas para se desenvolverem e sobreisso a Associação tem estado empenhada em criar ascondições para que se criem ou associações ou empresasque possam apoiar os agricultores a nível de estruturas decomercialização (transformação, conservação …).

Quer com isto dizer que a Associação está com um papelmuito ativo junto dos agricultores?É o que tentamos. Tentamos chegar junto dos agricultorese perceber o quanto antes quais os constrangimentos quepoderão ter no futuro e procurar as soluções antes mesmode acontecerem.Um bom exemplo disto é a empresa criada por via daAssociação, a Campos do Roxo, para se dedicar à amêndoa- uma organização de produtores. A Associação foiimpulsionadora desta empresa, integra-a mas com umaquota muito reduzida.

Há previsões para quando a indústria da amêndoa irá entrarem funcionamento?Este ano, em que os agricultores ainda produziram pouco,já fez a receção e começou a trabalhar a amêndoa aindaem casca. Está a dar os primeiros passos.

Que outros projetos estão a ser desenvolvidos nestemomento?Toda a nossa atividade se baseia na filosofia de que oagricultor tem de obter rendimento com as suas culturas.Para isso tem de escoar os seus produtos e a preçoscompatíveis, ganhando dinheiro. Só assim é que consegue

pagar a água que consome e que se prevê que no futurovenha a ser cada vez mais cara.A primeira preocupação de todas é fazer uma gestãocriteriosa do perímetro de rega e da água, de modo a fazê-la chegar ao agricultor com o preço mais baixo possível.Esta é a primeira preocupação para que o agricultor possair buscar mais-valias do seu produto.A nível interno criámos o SIAR - Serviço Integrado deApoio ao Regante - no âmbito do qual, a partir das leiturasno terreno é feito o aconselhamento ao agricultor emtermos de rega, de modo a que este possa potenciar assuas produções ao máximo e ao mesmo tempo possareduzir os seus custos. Ou, por outras palavras, que nãogaste água desnecessariamente nem água a menos edepois tenha quebras de produção que também podemser fatais.

E qual tem sido a adesão dos agricultores a estes conceitosdo uso eficiente da água (…)?São conceitos que não são assimilados de um momentopara o outro, por isso temos promovido jornadas, osagricultores têm visto o que se passa com os seus colegasque já têm esses equipamentos instalados (...) e a partirdaí têm vindo a aderir e evoluir.Preocupada com essa evolução a Associação está a criarplataformas online onde são facultadas informações aosagricultores sobre estes assuntos, nomeadamenteinformação de satélite que possa indicar os pontos ondehá excesso ou deficiência de água ou mesmo definir ospontos exatos onde devem ser instaladas as sondas (…).

Como é os agricultores estão a preparar-se para asalterações do clima, nomeadamente grandes períodos deseca (…)?Preparado completamente ninguém está até porque setrata de algo que não acontece constantemente. Temos é

O olival e o amendoal têm ocupado os terrenos que outrora produziam tomate de indústria

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de ter algum conhecimento sobre estes fenómenos, iratuando onde é possível, porque evitar é impossível.Para nós o mais importante, e que foi o grande marco, foitermos água suficiente para podermos dizer ao agricultorque podia fazer as culturas que entendesse porque não lhefaltaria água. A partir do momento em que há águadisponível, o trabalho junto do agricultor é incentivá-lo aque conduza bem essa água, que conduza bem as suasculturas de modo a não perturbar o ambiente, daí que aAssociação tenha avançado com um projeto com o InstitutoPolitécnico de Beja e com a Universidade de Évora. Omesmo passa pela monitorização da qualidade do solo eda água, desde a barragem até ao final do perímetro derega, ao longo de vários pontos, de forma que a atividadeagrícola não se torne incompatível com o meio ambiente eassim se garanta uma agricultura de continuidade.

Com quantos agricultores estão a trabalhar?São cerca de 500 beneficiários, com uma pequenatendência de as pequenas áreas se aglutinarem.

Falou do marco importante que foi a ligação entre Alquevae Roxo. Como é que tem sido a forma de trabalhar?Não podemos dizer que tenha sido fácil e por váriosmotivos, até porque Alqueva é dirigido pela EDIA, uma

A primeirapreocupaçãode todas é fazeruma gestão criteriosado perímetrode rega e da água

empresa que até aqui esteve muito vocacionada para aquestão da obra, que foi bem feita e mais cedo até do queestava previsto. Atingiram-se os 120 mil hectares deAlqueva muito rapidamente e vai agora aumentar mais 50mil.Relativamente à gestão da rede secundária, que é o queestá mais próximo do agricultor, tem havido algumaconfusão porque alguns desses blocos de rega são geridospela EDIA, outros pela Associação. Acontece haveragricultores cuja propriedade tem uma parte regada pelaágua de uma entidade e outra parte pela da outra, sendoobrigado a falar com duas entidades diferentes, que porvezes têm princípios diferentes. Não tem sido fácil e aindaé necessário dialogar muito para se chegar a umaconvergência porque é para o agricultor que têm de sercriadas as boas condições para que produza cada vez maise melhor. As associações têm de ter esta noção e trabalharneste sentido.

E a recente Associação de Regantes e Beneficiários deAlqueva, que vantagens pode trazer para o AproveitamentoHidroagrícola do Roxo?Para já ainda não é percetível qual a vantagem que aAssociação e os seus associados poderão ter desta novaestrutura.

Evolução no AproveitamentoHidroagrícola do Roxo

2007 - 2017

2017 2007Culturas

3 000

2 500

2 000

1 500

1 000

500

0

ha

Amendoal Arroz Milho Olival Figueira

Áreas regadas6 200

5 200

4 200

3 200

2 200

1 200

2002007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

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Outra preocupação é criar algumaautonomia em termos energéticospara reduzir os custos da água“

Como vê o investimento que o Governo tem vindoa anunciar para o regadio nacional?Investimento é sempre bom sinal e se for no regadio aindamelhor porque o futuro da nossa economia passa por aí.Mas esse investimento tem de ser bem enquadrado.

Falando nas Jornadas do Regadio nas quais a ABROXO seassociou à Fenareg, quais serão os grandes temas em cimada mesa?Gestão dos perímetros de rega, preço da água, rendimentodas culturas é um dos temas que aliás foi objeto de um estudoque a Fenareg encomendou, em conjunto com a FAABA, comobjetivo de criar modelos que no futuro possam vir a sercolocados em prática. O outro tema dominante derivatambém de um estudo encomendado pela Fenareg sobre oque seria o plano de regadio depois de 2020, que representauma preocupação de todos. As Jornadas perspetivamdesenvolver uma discussão à volta destes dois temas.

As jornadas serão palco das comemorações dos 50 anos doAproveitamento Hidroagrícola, como vão ser essascelebrações?Está a ser preparado um grande convívio com osagricultores e com todas as entidades que colaboram nesteramo da água que permita mostrar o que se fez neste meioséculo. Para o dia 16 está programada uma visita ao

perímetro de rega do Roxo, um almoço convívio que esperacontar com a presença do Ministro da Agricultura e todosem conjunto falarem sobre o que é o regadio.

Olhando para o futuro, o que é que gostava de ver maisdesenvolvido no regadio?Gostava que houvesse culturas extremamente rentáveis,que tirassem partido da água utilizada. Que em termos demercado essas culturas fossem extremamente apetecíveise rentáveis para os agricultores e que fossem uma mais-valia para o país, principalmente em termos deexportações. Gostava que as regiões de regadio pudesseminverter a situação de despovoamento (como acontece noRoxo), que fixassem gente nova e criassem dinamismo emtermos de futuro e tudo com base na agricultura de regadio.

Que outras grandes apostas tem a Associação?O nosso grande projeto em termos de futuro eratransformarmos uma zona de perímetro de rega gravítico(e esses perímetros foram dimensionados por quotas enas quotas mais altas já não havia rega) num perímetro derega de pressão. Tal permitiria alargar a área regada emodernizá-la. Outra preocupação é criar algumaautonomia em termos energéticos. Este ano já foi montadauma central fotovoltaica, há uma mini-hídrica em projeto(…) para reduzir os custos também no preço da água.

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