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8 A OCUPAÇÃO DO SOLO, A COBERTURA VEGETAL E AS CHUVAS NO MUNICÍPIO DE ANANINDEUA Hugo Albuquerque Ferreira (Geógrafo) [email protected] Profa.Dra. Odete Cardoso de Oliveira Santos (UFPA) [email protected] RESUMO O presente trabalho discute a forma como se deu o processo de ocupação do município de Ananindeua, traduzida pela urbanização ocorrida de forma rápida e desordenada em sua porção centro-sul, além das atividades econômicas observadas em sua área rural como projetos agrícolas, desmatamentos e queimadas, no norte do município. De posse do conhecimento desse processo de ocupação e conseqüente cobertura do solo, analisou-se sua interação com as chuvas, bem como suas influências na pluviosidade ao longo do período de 1994 a 2008. Para esse trabalho recorreu-se às imagens do satélite LANDSAT 5 de 21/06/1994 e 14/08/2008, aos softwares ENVI E ArcGis e para quantificação das chuvas recorreu-se às informações dos pluviogramas referentes ao período de 1994 a 2008, obtidas na Estação Pluviográfica da Universidade Federal do Pará, localizada no Distrito Industrial do referido município. Palavras-chave- chuvas, ocupação do solo, planejamento ambiental ABSTRACT This article discusses how was the process of occupying the city of Ananindeua, translated by urbanization occurred quickly and disorderly in his mid-south, beyond the economic activities found in his rural area and agricultural projects, deforestation and burning in the northern municipality. In possession of knowledge of this process of occupation and consequent soil cover, is considered its interaction with the rains, and their influence on rainfall over the period 1994 to 2008. For this work appealed to the LANDSAT 5 satellite picture of 21/06/1994 and 14/08/2008, the software ENVI And Arcgis and used for quantification of rain to the pluviogramas information from the period 1994 to 2008, precipitation obtained at the Federal University of Pará, located in the Industrial District of the city. Keywords- rainfall, soil occupation, environmental planning 1 – INTRODUÇÃO As precipitações atmosféricas têm suas relações diretas com as taxas de umidade do ar, e são espacial e temporalmente variáveis na troposfera, uma vez que dependem da superfície fornecedora dessa umidade, que podem ser os oceanos, mares, rios, solo e vegetação (HESS 1999). As áreas que sofreram o processo de retirada de sua cobertura vegetal apresentam implicações em seus regimes de chuva, e conseqüentemente modificações em sua

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A OCUPAÇÃO DO SOLO, A COBERTURA VEGETAL E AS CHUVAS NO MUNICÍPIO DE ANANINDEUA

Hugo Albuquerque Ferreira (Geógrafo)

[email protected] Profa.Dra. Odete Cardoso de Oliveira Santos (UFPA)

[email protected]

RESUMO O presente trabalho discute a forma como se deu o processo de ocupação do município de Ananindeua, traduzida pela urbanização ocorrida de forma rápida e desordenada em sua porção centro-sul, além das atividades econômicas observadas em sua área rural como projetos agrícolas, desmatamentos e queimadas, no norte do município. De posse do conhecimento desse processo de ocupação e conseqüente cobertura do solo, analisou-se sua interação com as chuvas, bem como suas influências na pluviosidade ao longo do período de 1994 a 2008. Para esse trabalho recorreu-se às imagens do satélite LANDSAT 5 de 21/06/1994 e 14/08/2008, aos softwares ENVI E ArcGis e para quantificação das chuvas recorreu-se às informações dos pluviogramas referentes ao período de 1994 a 2008, obtidas na Estação Pluviográfica da Universidade Federal do Pará, localizada no Distrito Industrial do referido município. Palavras-chave- chuvas, ocupação do solo, planejamento ambiental ABSTRACT This article discusses how was the process of occupying the city of Ananindeua, translated by urbanization occurred quickly and disorderly in his mid-south, beyond the economic activities found in his rural area and agricultural projects, deforestation and burning in the northern municipality. In possession of knowledge of this process of occupation and consequent soil cover, is considered its interaction with the rains, and their influence on rainfall over the period 1994 to 2008. For this work appealed to the LANDSAT 5 satellite picture of 21/06/1994 and 14/08/2008, the software ENVI And Arcgis and used for quantification of rain to the pluviogramas information from the period 1994 to 2008, precipitation obtained at the Federal University of Pará, located in the Industrial District of the city. Keywords- rainfall, soil occupation, environmental planning 1 – INTRODUÇÃO As precipitações atmosféricas têm suas relações diretas com as taxas de umidade do ar, e são espacial e temporalmente variáveis na troposfera, uma vez que dependem da superfície fornecedora dessa umidade, que podem ser os oceanos, mares, rios, solo e vegetação (HESS 1999). As áreas que sofreram o processo de retirada de sua cobertura vegetal apresentam implicações em seus regimes de chuva, e conseqüentemente modificações em sua

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pluviosidade como um todo. Isso porque há uma direta tendência à compatibilização auto-reguladora entre as características da vegetação com as da pluviosidade (Hess, 1999). Segundo Corrêa (2007) uma parcela importante das chuvas da Amazônia é alimentada pela evapotranspiração dos seus ecossistemas, pois a evapotranspiração média anual corresponde a 55-60% da precipitação. Izard e Guyot (1980) afirmam que além da evapotranspiração, outra importante fonte de umidade são os transportes horizontais de ar úmido, o que nos permite dizer que nem toda a evapotranspiração gerada na Amazônia é convertida em chuvas na própria região. Ainda sobre os transportes horizontais de ar úmido, Corrêa (2007) ressalta que no período chuvoso, a taxa de precipitação é geralmente maior que o dobro da taxa de evapotranspiração, o que implica em dizer que a maior parte da umidade necessária para formar as chuvas, é proveniente de fora da região amazônica, muito provavelmente do oceano Atlântico através dos ventos alíseos que sopram predominantemente de leste. O município de Ananindeua, localizado no Nordeste do Estado do Pará (Figura 1), compondo a região metropolitana de Belém, assim como muitos outros, cresce com o passar dos anos, especialmente em virtude do inchaço urbano de Belém (Santos e Ferreira, 2007), que contribui para a expansão de forma acelerada e desordenada da ocupação urbana desse município, alimentado ainda pela instalação do Distrito Industrial com sua diversificação de tipos de indústrias. Portanto, paralelamente a isso, observou-se uma significativa redução em sua cobertura vegetal, modificando substancialmente a paisagem natural de Ananindeua, com possíveis implicações nas variáveis climáticas, repercutindo conseqüentemente no comportamento das chuvas nesse município.

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Figura 1 – Localização do município de Ananindeua, e do Distrito Industrial de Ananindeua (Pará).

1.1 – Objetivo Geral:

Analisar o processo de ocupação e uso do solo no município de Ananindeua, a partir

de uma perspectiva sistêmica, com repercussões na cobertura vegetal bem como suas

possíveis influências nas chuvas.

1.2 – Objetivos Específicos

- Determinar a cobertura vegetal e ampliação da área urbana em 1994.

-Determinar a cobertura vegetal e ampliação da área urbana em 2008.

-Determinar os valores pluviométricos de 1994 a 2008.

-Analisar os valores pluviométricos de 1994 a 2008.

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2 - METODOLOGIA

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, inicialmente recorreu-se aos dados

pluviométricos obtidos no pluviógrafo da marca Hidromec, da Estação Pluviográfica da

Faculdade de Geografia e Cartografia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da

Universidade Federal do Pará (Figuras 2 e 3), localizada no Distrito Industrial de Ananindeua.

Figura 2:: Figura 3:

Fez-se a leitura dos pluviogramas, (diagrama onde as chuvas são registradas em mm,

(Figura 4) para o período de 1994 a 2008. Obteve-se desse modo os valores mensais e anuais

para o período acima mencionado.

Estação Pluviográfica da FGC/IFCH/UFPA, Distrito Industrial de Ananindeua, Município de Ananindeua. Foto: FERREIRA, H. A (Janeiro, 2009).

Placa de identificação da Estação. Foto: FERREIRA, H. A (Janeiro, 2009).

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Figura 4:

Com esses valores compôs-se um gráfico, usando o software Excel. Construiu-se o

histograma de chuvas com as médias mensais para os quinze anos de dados coletados.

Para determinação da cobertura vegetal do município, usou-se imagens do satélite

LANDSAT 5 / TM de órbita-ponto 223-061 com passagens nas datas de 21/06/1994 e

14/08/2008, adquiridas através do site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A

carta base utilizada para georreferenciamento das imagens foi da Divisão do Serviço

geográfico (DSG), no formato Mrsid. O sistema de projeção cartográfica foi UTM (Universal

Transversa de Mercartor), fuso 22S, Datum WGS-84. O programa utilizado para

georeferenciamento foi o ENVI 4.5, onde foram coletados 16 pontos de controle para a

correção geométrica das imagens.

Para eliminação de ruídos, aplicou-se o filtro majoritário 3x3.

As classificações de uso do solo foram identificadas com o auxilio da Profª Dra. Odete

Santos.

Após este procedimento, realizou-se a primeira classificação, através de interpretação

visual de acordo com o comportamento espectral de cada pixel, aonde se chegou a uma

classificação final gerada com as seguintes classes: (1) água, (2) floresta ombrófila densa,

Interior do pluviógrafo em funcionamento, marca HIDROMEC, onde se visualisa o pluviograma.Foto: FERREIRA, H.A (Outubro, 2007).

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(3) floresta ombrófila aluvial, (4) solo exposto, (5) comunidades rurais, (6) área urbana e (7)

nuvem + sombra de nuvem.

Todavia, a partir das dúvidas levantadas pela referida professora, realizou-se um

estudo de campo, quando “in loco” concluiu-se que as áreas identificadas como floresta

ombrófila aluvial, era na verdade áreas de mangue.

Para se conhecer o crescimento da população urbana em detrimento da população

rural, recorreu-se aos dados do recenseamento populacional realizado pelo IBGE em 2007.

Determinou-se os coeficientes da população urbana e rural em relação a população total.

Calculou-se o coeficiente de aumento da população urbana em relação a rural, e com essas

informações, preparou-se uma tabela calculando-se o coeficiente urbano (αu) e rural (αr)

formados a partir de:

αu = ______POPULAÇÃO URBANA______ X100

POPULAÇÃO TOTAL DO MUNICÍPIO

αr = ______POPULAÇÃO RURAL______ X100

POPULAÇÃO TOTAL DO MUNICÍPIO

obtendo-se dessa forma o coeficiente de aumento da população rural e urbana do município.

Posteriormente fez-se o trabalho de campo para confirmação das informações obtidas na

imagem, quando in loco concluiu-se os diversos tipos de uso do solo existente, as quais foram

quantificadas e inseridas em uma tabela.

Preparou-se então o mapa de uso do solo para 1994 e para 2008 na escala de 1:50.000.

3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com sua configuração geográfica, o município de Ananindeua é formado por

uma região continental urbanizada, mais precisamente em sua porção centro-sul, e uma região

insular rural, a norte do município (figura 5). Estas duas regiões são delimitadas umas das

outras pelo rio Maguari, que apresenta em seu baixo curso uma forma de canal que se pode

considerar como do tipo anastomozado (Christofoletti, 1980), que organiza a

disposição das terras desse município.

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Figura 5 – Mapa de distribuição dos usos do solo e cobertura vegetal do município de Ananindeua, no qual se

visualiza o percurso descrito pelo rio Maguari, a norte do município. Estabelecida originalmente a partir de uma parada ou estação da estrada de ferro Belém-

Bragança no lugar onde hoje se encontra instalada sua sede municipal, o município de

Ananindeua sofreu a partir daí um progressivo dinamismo em seu povoamento, sendo

reconhecido como freguesia em meados do século XIX e mais tarde como Distrito de Belém

(IBGE 2000), sendo que o Distrito Industrial localizado em seu interior recebe todas as

influências das alterações ocorridas nesse município como um todo, quer seja direta ou

indiretamente.

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3.1 – Área Continental

O município de Ananindeua teve quase que toda sua área continental tomada pela

urbanização, o equivalente em 2008, a 5.142,86 ha de área urbanizada (IBGE, 2007). A

expansão da área urbana se deu em um contexto demográfico par e passo a ela, o que não

implica em dizer que esta urbanização conseguiu atender a demanda populacional

satisfatoriamente.

Em 1970, Ananindeua contava com 22.527 habitantes, dos quais 2.923 viviam na área

urbana. Com a instalação do Distrito Industrial, ainda na década de 80, a imigração se

acentuou contribuindo para que esse quadro fosse revestido, de tal forma que em 2007 a

população urbana saltou para 512.624 habitantes, em detrimento da população rural estimada

em 1.230 habitantes (Tabela 1). Tabela 1 – Crescimento populacional de Ananindeua. Fonte: (IBGE, 2007) . Elaborado por FERREIRA, H. A e SANTOS, O.C de O

Ano Total Urbana Rural αu

(%) αr

(%) αu/ αr

(%)

1970 22.527 2.923 19.604 12,97 87,02 15

1980 65.878 6.847 59.031 10 90 12

1991 88.151 74.051 14.100 84 16 5

1996 341.257 95.630 254.627 28 75 38

1997 363.476 101.856 261.620 28 72 39

1998 382.192 107.102 275.092 28 72 39

1999 400.940 112.355 288.585 28 72 39

2000 393.569 392.627 942 100 0 417

2001 410.234 409.252 982 100 0 417

2002 423.325 422.312 1.013 100 0,24 417

2003 437.135 436.089 1.046 100 0 417

2004 468.463 467.342 1.121 99,76 0 417

2005 482.170 481.017 1.154 99,76 0 417

2006 498.095 496.903 1.192 99,76 0 417

2007 513.884 512.654 1.230 99,76 0 417 Santos e Ferreira (2008) observaram que esse aumento populacional não obedeceu a

um planejamento, visto que bairros surgiram por causa das invasões urbanas, alastrando-se

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para as áreas periféricas, fatos estes que até hoje acontecem. De acordo com as figuras 5 e 6,

visualiza-se a expansão da urbanização, ocupando a área central e sul de Ananindeua.

3.2– A Urbanização e as chuvas

Em sua área urbana e continental, Ananindeua passou por um complexo rearranjo

espacial, causado prioritariamente pelo inchaço urbano de Belém, que polariza o município,

implicando em um processo de urbanização que se deu de forma rápida e desordenada.

Figura 6 – Distribuição dos tipos de uso do solo do município de Ananindeua, onde se visualiza o aumento da

área urbana.

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Tabela 2: Quantificações das classes de uso e cobertura do solo

Diante dessas descrições, é de fundamental necessidade para a viabilização da qualidade

ambiental, o conhecimento das características climáticas da área de estudo, sendo que as

pluviais ganham especial destaque em função da importância que apresentam para o

planejamento ambiental, já que são de grande valia, no ambiente urbano, para o estudo de

escoamento superficial e para utilização em projetos de esgotos e galerias pluviais e para a

rede de drenagem dos canais urbanos de um modo geral.

Sendo assim, considerando-se o período de 1994 a 2008, totalizando 15 anos (Figura 7),

tem-se para a área do Distrito Industrial de Ananindeua a média pluviométrica de 2709,4 mm

anuais.

Ao longo desse período ocorreram 3.124 eventos de chuva de variadas quantidades,

dos quais 83,2% precipitaram entre os meses de dezembro a maio, que é o período chuvoso,

com uma maior concentração no mês de abril, em torno de 17,9%. No período menos

chuvoso, junho a novembro, os eventos totalizaram 16,8%.

Classes 1994 (ha) 2008 (ha)

Área Urbana 3.993.027 5.142.870

Capoeira alta 3.188.767 2.897.990

Capoeira baixa 2.495,267 1.875.420

Floresta ombrófila aluvial 105.701 105.701

Comunidades rurais 9.627 25.700

Floresta ombrófila densa 25.168.695 25.155.845

Mangue 35.365.455 35.352.605

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Na área continental, as chuvas vão de 413,3mm a 140.9mm com concentração no

período que vai de janeiro a maio.

Superfícies de solo nu e compactado, além dos materiais que compõem a infra-

estrutura urbana, diminuem a infiltração contribuindo para o aumento do escoamento

superficial. Portanto a construção de uma drenagem secundária, inadequada ou incompatível

com as características do quadro físico-natural da área, sobrecarrega a macrodrenagem (rios,

igarapés ou outros cursos d’ água) provocando além das enchentes e alagamentos nos trechos

mais baixos (figura 8), doenças de vetor hídrico (Santos e Ferreira, 2008).

Figura 7 - Distribuição mensal das chuvas no Distrito Industrial de Ananindeua para o período de 1994 a 2008, onde observa-se os meses mais chuvosos e os meses menos chuvosos.

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Figura 8 – Área alagada, Distrito Industrial de Ananindeua, município de Ananindeua. Foto: FERREIRA, H.A. (Maio, 2008). O cenário de desordem é a realidade em que se encontra a população urbana de

Ananindeua, sendo essa desordem acentuada ainda mais no período chuvoso, em virtude dos

impactos pluviais próprios desse período.

3.3 – Área rural Em relação à área rural e insular (Figuras 5 e 6), a cobertura do solo ainda se dá pela

vegetação, que é caracterizada por floresta secundária em vários estágios de desenvolvimento,

fato este decorrente do desmatamento e das atividades realizadas pelo homem no local.

Nas áreas próximas ás margens dos rios, sujeitas à inundação, a predominância é de área

de mangue (Figura 9), favorecida pelo tipo de solo, caracteristicamente salinoso, que é

propício à formação de manguezais, com abundância de vegetais da espécie rizóphoras.

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Figura 9: Área de mangue com espécies vegetais do tipo rizóphoras, típica desse ecossistema. Foto: FERREIRA, H.A (Fevereiro, 2009)

Todavia há a ocorrência em alguns trechos ao longo das margens dos rios, de outras

características vegetacionais que não as de mangue, que se traduzem como reflexo das

alterações provocadas pelas atividades humanas praticadas na área.

Como exemplo dessas atividades, existe a implantação de um projeto realizado pelo

INCRA, que objetiva a plantação de mudas de açaí (Figura 10).

Essas mudas, por serem espécies vegetais higrófilas, se desenvolvem e se disseminam

facilmente em terreno baixos e bastante úmidos, porém, apresentam implicações negativas na

área, em virtude de suas características ecológicas, descaracterizado as áreas de mangue

existentes no local.

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Figura 10: Placa de identificação do projeto de plantação de mudas de açaí realizado pelo INCRA. Foto

FERREIRA, H.A (Ferreira, 2009).

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Outra prática comumente realizada no município são os desmatamentos e queimadas

para a utilização de madeira nas carvoarias (Figura 10) existentes em quantidade considerável

no local. Segundo o IBGE (2007), baseado em imagens LANDSAT-TM, o desmatamento em

1986, alcançou 78,03%, o equivalente em 2008 a 30.842.87 há, o que corresponde a 82,04%.

Figura 11: Utilização de madeira proveniente de desmatamentos em uma carvoaria. Prática altamente nociva ao

meio ambiente como um todo. Foto: FERREIRA, H.A (Fevereiro, 2009).

Devido às influências diretamente antrópicas na ecologia do manguezal, atualmente a

área apresenta-se como um mangue antopomorfizado.

Essas práticas humanas imprimem no ambiente, alterações ao longo do tempo que se

sucede em cadeia, justificando os vários estágios observados nas características de vegetação,

tais como em outras características do solo e seu tipo de cobertura de um modo geral, sendo

que estas alterações projetar-se-ão para o futuro originando novos ambientes.

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4 - CONCLUSÃO

O processo de ocupação e uso do solo em Ananindeua implica inevitavelmente na sua

forma de cobertura, repercutindo diretamente em seu ambiente climático, e sendo também por

ele influenciado. O município sofreu nos últimos anos, um complexo e significativo processo

de transformação ocasionado, em grande parte, pelas formas de uso e ocupação do solo que se

deu de modo indevido, e na maioria das vezes não sustentável.

A intensidade e a forma como se deu sua urbanização na área continental, além das

atividades econômicas e o desmatamento, praticados na região das ilhas, compõem, portanto,

as particularidades da ocupação desse município. No entanto, esta ocupação se deu em um

quadro pluviométrico em que, de um modo geral as chuvas se distribuíram, no período de

1994 a 2008, em uma média pluviométrica anual de 2709,4 mm, sem variação brusca de um

ano para outro, com o período chuvoso de dezembro a maio e o menos chuvoso de junho a

novembro.

No processo de exploração do município como um todo, devem-se levar em

consideração as características do quadro físico-natural, de modo que a dinâmica da natureza

seja respeitada diante de sua interação com as atividades antrópicas.

Logo, se faz necessário a implantação de projetos que visem uma reforma urbana no

município com vistas a uma reformulação em grande parte de seu quadro sanitário,

sistematizando suas obras de saneamento de acordo com as particularidades ambientais da

área.

Para que não ocorra grande destruição da cobertura vegetal ainda existente na região

das ilhas, torna de fundamental importância a implantação de Áreas de Proteção Ambiental

(APAs) em trechos que ainda não foram desmatados, na porção norte de Ananindeua, ou que

ainda não sofreram impactos diretos das atividades humanas realizadas no município,

viabilizando, portanto, um planejamento ambiental focado na ocupação do solo de modo mais

racional e sustentável, visando desse modo, a garantia de uma qualidade ambiental satisfatória

para o futuro.

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5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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