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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATUARAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSUCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO PROESP ANDRÉA CURTISS ALVARENGA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE CARIACICA E SEU PAPEL NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA VITÓRIA 2006

A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

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Page 1: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATUARAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO –PROESP

ANDRÉA CURTISS ALVARENGA

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE CARIACICA E SEU PAPEL NA REGIÃO METROPOLITANA DA

GRANDE VITÓRIA

VITÓRIA 2006

Page 2: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

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ANDRÉA CURTISS ALVARENGA

A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE CARIACICA E SEU PAPEL NA REGIÃO METROPOLITANA DA

GRANDE VITÓRIA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Ciências Humanas e Desenvolvimento Regional do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Ciências Humanas e Desenvolvimento Regional. Orientadora: Profª DRª Ana Lucy O. Freire

VITÓRIA

2006

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ANDRÉA CURTISS ALVARENGA

A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE CARIACICA E SEU PAPEL NA REGIÃO METROPOLITANA DA

GRANDE VITÓRIA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Ciências Humanas e Desenvolvimento Regional do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Ciências Humanas e Desenvolvimento Regional.

Aprovada em junho de 2006.

COMISSÃO EXAMINADORA Profª Drª Ana Lucy Oliveira Freire. Universidade Federal do Espírito Santo Orientadora

Prof. Dr. Cláudio Luiz Zanotelli Universidade Federal do Espírito Santo __________________________________________________Prof. Ms. Maurício Sogame Universidade Federal do Espírito Santo

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3

Aos meus pais, Affonso e Mara e à minha filha Manuela, pelo

carinho e paciência, me incentivando sempre nos meus

estudos.

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4

AGRADECIMENTOS

Ao grupo de professores da Pós-Graduação por ter-nos mostrado uma nova maneira

de “ver” a cidade e seus conflitos, com uma visão dentro ciências humanas e a

filosofia.

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“Não basta sair da escola como um bom arquiteto, importa

também conhecer o mundo em que vive”.

OSCAR NIEMEYER (1995)

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6

Resumo.

Este trabalho pretende abordar a relação dos municípios que compõem as regiões

metropolitanas, no caso o município, Cariacica-ES. Entender qual é papel de Cariacica dentro do

contexto de um mundo economicamente globalizado, e regionalizado. De forma sucinta,

pretendemos ver os temas da Cidade e o Urbanismo; a Cidade Metrópole e seu processo de

periferização; a Globalização e a Cidade nos detendo na leitura da Identidade no Mundo

Globalizado, priorizando a visão dentro da área da arquitetura –urbanismo passando por

referencias nas áreas da geografia urbana e cultural, sociologia, filosofia e direito urbano, com

o afã de termos um embasamento teórico multidisciplinar da leitura da cidade e da região

metropolitana. Faremos um breve referencial histórico sobre o objeto em questão, Cariacica, e

finalizar com as análises sobre a regionalização de um espaço urbano dentro de uma nova

ordem sócio-econômica e cultural.

Palavras-chave: Cidade; Urbanismo; Região Metropolitana, Globalização e Identidade.

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7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 08

2 A CIDADE.................................................................................................................... 09

2.1 A CIDADE E O URBANISMO................................................................................... 09

2.2 A CIDADEMETRÓPOLE E A PERIFERIZAÇÃO DOS AGLOMERADOS

URBANOS......................................................................................................................

14

2.3 A CIDADE E A GLOBALIZAÇÃO.............................................................................. 17

2.3.1 A identidade no mundo globalizado.................................................................... 20

3 DIVISÃO EM REGIÕES E REGIONALIZAÇÃO.......................................................... 24

4 REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA................................................. 27

5 CARIACICA................................................................................................................. 33

5.1 CARACTERIZAÇÃO................................................................................................... 33

5.2 DADOS DO MUNICÍPIO............................................................................................. 35

5.3 BREVE HISTÓRICO................................................................................................... 38

5.4 CARIACICA E A DIVISÃO EM REGIÕES.................................................................. 40

6 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 48

7 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 49

ANEXOS...................................................................................................................... 53

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1.-. Introdução.

O arquiteto tem sob sua responsabilidade poderosos instrumentos condicionadores e, ao gerar espaços coletivos ou individuais, estará sempre interferindo, por gerações, na vida das pessoas (CASÉ, 1988, p. 02).

O presente artigo busca uma reflexão sobre o estudo do espaço urbano, a cidade

como um todo e a divisão de territórios em regiões e suas aplicações e implicações

socioeconômicas, culturais e nas identidades local e global.

Sabemos que discutir a divisão de um território em regiões hoje, em um mundo

globalizado, onde as relações não mais se dividem e separam, é como andar na

contra mão do processo histórico da globalização. As relações entre os territórios não

se fragmentam, mas se entrelaçam e intercambiam em sistemas de redes, em uma

constante tensão entre o local e o global, na tentativa de manter a identidade local

como diferenciação e ao mesmo tempo estar inserido no mundo.

Trataremos de forma sucinta dos temas como a Cidade e o Urbanismo; a Cidade

Metrópole e seu processo de periferização; a Globalização e a Cidade nos detendo na

leitura da Identidade no Mundo Globalizado, com a visão de profissionais de diferentes

áreas, priorizando a da arquitetura–urbanismo; com o afã de termos um embasamento

para a entender o papel de Cariacica na Região Metropolitana da Grande Vitória.

Tomando Cariacica como objeto de estudo, e tendo os conceitos acima mencionados,

este estudo pretende apresentar a cidade como parte da Região Metropolitana da

Grande Vitória, um breve histórico, caracterizar o município e mostrar a divisão

regional como facilitador da gestão pública e comunitária nas políticas sócias

participativas, nos interesses econômicos local , metropolitano e global.

Essa pesquisa foi direcionada pela orientação qualitativa de investigação, sendo

especificamente documental e bibliográfica. Segundo Gil (1996), este tipo de

investigação advém de materiais já elaborados cientificamente e a partir dessa

premissa foram tomados como fontes livros de referências e publicações periódicas

das áreas da arquitetura-urbanismo; geografia; sociologia; filosofia e direito urbano.

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2.-. A Cidade

2.1.-. A Cidade e o Urbanismo.

“A cidade é fruto do trabalho coletivo de uma sociedade. Nela esta materializada a história de um povo, suas relações sociais, políticas, econômicas e religiosas. Sua existência ao longo do tempo é determinada pela necessidade humana de se agregar, de se inter-relacionar, de se organizar em torno do bem estar comum; de produzir e trocar bens e serviços; de criar cultura e arte; de manifestar sentimentos e anseios que só se concretizam na diversidade que a vida urbana proporciona. Todos buscamos uma cidade mais justa e mais democrática, que possa de alguma forma, responder a realização dos nossos sonhos”. (Estatuto da Cidade. Guia para implementação pelos municípios e cidadãos, 2001. p.9).

1

O estudo das cidades é tema de múltiplas disciplinas, e dentro da geografia urbana

existem diferentes linhas de pensamento com relação à formação das cidades, sendo

a mais forte até a década de 60 a que a vincula à existência de uma ou mais funções

urbanas, (Carlos, 2001.p.56) onde as cidades podem ser:

(...) industrial caso do ABCD paulista (...);cultural e aqui temos, segundo alguns autores, a subdivisão entre:a)religiosas (...);b)cidades universitárias(...).c)cidades-museus(...) e ainda as cidades cujas a origem ligam-se às atividades comerciais, administrativas ou políticas, as capitais de estados ou pais, ou as que têm origem em estações de águas, lugar de veraneio ou sanatórios.(idem)

Carlos (2001) refuta tais conceitos, assim como o que diz que o surgimento das

cidades vem a partir das “vilas” e seu aumento populacional, e defende o caráter

histórico da formação das cidades quando afirma que:

(...) a cidade tem origem histórica: nasce num determinado momento da história da humanidade e se constitui ao longo do processo histórico, assumindo formas e conteúdos diversos.(idem).

E continua sua afirmação defendendo que a cidade é fruto do trabalho coletivo da

humanidade e do transcorrer da história específica de cada lugar, cada cultura

definindo assim, sua função.

A cidade é uma realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo do processo histórico e que ganha

1 O Estatuto da Cidade - Lei Federal 10.257/2001- é considerado um dos maiores avanços legislativos dos

últimos anos por sua proposta do direito à cidade, da defesa da função social da cidade da propriedade e

da democratização da gestão urbana dentro do desenvolvimento sustentável dos municípios. Constitui na

regulamentação de política urbana da Constituição Federal de 1988 (artigos 182 e183) (Governo Federal,

2001)

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materialização concreta, diferenciada, em função de determinações históricas específicas.(idem, p.57)

Para Santos (1997), na história ocidental tendo a Europa como berço da cidade

moderna, estas surgem como aglomerados onde se reuniam os homens livres,

aqueles que não trabalhavam nas terras dos senhores feudais, a cidade aparece como

o lugar do trabalho livre.(p.53)

A cidade aparece então, como uma semente de liberdade; gera produções históricas e sociais que contribuem para o desmantelamento do feudalismo. Representa a possibilidade do homem livre, da liberdade de escolha (...)(p.53)

Na América Latina, as cidades pré-colombianas datam 2 dois mil anos atrás (Sarno,

2004. p.1), antes mesmo da colonização européia no nosso continente. Quando o

colonizador europeu chega à América Latina, aqui já existiam centros organizados

semelhantes à nossas cidades modernas, com traçados urbanos, obras arquitetônicas

e serviram como centro políticos e da estrutura social e organização econômica da

época. (idem).

No Brasil, não existiram as cidades pré-colombianas como as das civilizações Maias,

Asteca e Incas, e a colonização portuguesa se faz dentro de outra lógica, não como a

das colônias espanholas no resto da América Latina.

A Coroa portuguesa implantou no Brasil quinze capitanias que consistiam em dividir o

território em enormes extensões de terra que foram entregues a nobres ou homens

abastados que se tornavam verdadeiros senhores feudais (Sarno, 2004. p.2). Nas

capitanias fundaram os portos por onde escoavam as riquezas enviadas à Europa.

Foram esses portos as primeiras cidades do Brasil, localizadas no litoral e cumpriam

dupla função: a de defesa do território das invasões e da pirataria e a comercial.

A cidade é objeto de estudo do urbanismo e, sendo esta muito mais do que uma

aglomeração de pessoas e construções e, sim o espaço onde se desenvolvem o

capital econômico, as relações sociais, a vida política, os bens culturais e a identidade

de um povo, fazem-se com que o urbanismo, quanto ciências (ou técnica) tenha um

caráter multidisciplinar. O urbanismo junto com as ciências humanas, a filosofia, a arte

e a engenharia (técnica) são ferramentas que em um trabalho multidisciplinar servem

aos estudos e as intervenções nas cidades. Não cabe mais somente aos arquitetos-

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urbanistas e aos engenheiros o planejamento e a organização dos espaços urbanos

como eram defendidos no início do século XX, na Carta de Atenas.2

Os espaços das cidades foram estruturados a partir dos processos econômicos e

sociais formando as com divisões territoriais que correspondem aos processos

históricos de um povo. Como cita o Estatuto da Cidade, a cidade é fruto do trabalho

coletivo, a historia de vidas humanas materializada em um espaço.

Como fruto de um processo coletivo, as cidades têm suas particularidades formadas

pela sua própria história e as relações humanas que ali se desenvolveram. Carlos

(2001.p.57) afirma que a dimensão histórica é fundamental para a compreensão da

natureza da cidade.

As cidades muitas vezes são fruto de organização espontânea de aglomerados

humanos, dados pelo fluxo de mercadorias e pessoas configurando as estruturas

sociais, econômicas e culturais do território. Esses territórios se transformam, pois as

cidades são espaços vivos e em constantes mudanças. A meado do século XIX o

crescimento desordenado das cidades e o caos, principalmente nas condições de

habitação e salubridade, levaram à necessidade de criar uma forma de organizar estes

espaços, surgindo o urbanismo.

Falar de cidades não quer necessariamente falar de urbanismo. O conceito de

urbanismo surge quando as sociedades se tornam urbanas, ou seja, a partir da

revolução industrial, nascendo assim a ciência (ou técnica)3 que estuda a organização

e intervenção no espaço ocupado pelas vilas, burgos ou cites, agora urbano.

2 A Carta de Atenas, documento final do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – 1933,

manifesto que trata da necessidade de se pensar em cidades mais humanas, cidades que “testemunharam

a desordem do maquinismo”. Documento com forte apelo à necessidade de se planejar cidades menos

mecânicas, mais humanas, mas dentro de um pensamento tecnocrata e desenvolvimentista, marcado

pelos urbanistas da época, seguidores do pensamento da arquitetura moderna, onde o papel do urbanista é

o do ser”todo poderoso” que em sua prancheta defina os espaços a serem traçados e planejados dentro das

cidades, e que as soluções de todo caos estariam resolvidos com um bom planejamento urbano. Carta de

Atenas: Documento Final do CIAM-Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – Atenas,

novembro de 1933.

Site visitado em dez/05 : http://www.mp.sp.gov.br/caouma/docstextos/urb/atenas-33.htm

3 O Urbanismo ora é considerado como ciência ora como técnica, é o campo de conhecimento que tem a

cidade como objeto de estudo e intervenção. Surge na Europa no final do século XIX e foi introduzido no

Brasil no início do século XX, culminando com a elaboração do plano do Rio de Janeiro. Na década de

1950, o urbanismo passa a ser encarado como uma questão de desenvolvimento enfrentado a dualidade

“campo x cidade”; “integrantes x marginais”. O urbanismo tem sua maior evidência nos anos 50 no

pensamento da cidade ideal. Foi ferramenta utilizada pelo tecnoburocratismo desenvolvimentista, que no

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Lefebvre (1999) defende que a sociedade urbana só aparece a partir da

industrialização, pois não esta somente vinculada aos aglomerados e cidades pré-

existentes e sim às relações de produção e relações sociais, e o urbanismo, quanto

conceito e ciências, nasce com a sociedade urbana.

Denominaremos “sociedade urbana” a sociedade que resulta da urbanização completa, hoje virtual, amanha real. (...) Com efeito, freqüentemente se designa por essas palavras, “sociedade urbana”, qualquer cidade ou cité; a cité grega, a cidade oriental ou medieval, a cidade comercial ou industrial, a pequena cidade ou a megalópolis. Numa extrema confusão, esquece-se ou se coloca entre parênteses as relações sociais (as relações de produção) das quais cada tipo de urbano é solidário.(...) Essa sociedade urbana só pode ser concebida ao final de um processo no curso do qual explodem as antigas formas urbanas, herdadas de transformações descontínuas. (Lefebvre, 1999. p.15)

Sobre a discussão do conceito de urbanismo, Argan (1998. p.211)) afirma que a

discussão da essência do urbanismo não tem sentido que este sendo nova disciplina

que pressupõe ao esquematísmo, não tem por que estar submetida a uma categoria,

se é arte ou ciências. Ressalta que o que distingue o urbanismo de outras disciplinas é

não ser estático e, embora trabalhe no plano do planejamento e do projeto, o objeto é

sempre a existência humana como existência social (p.212). E conceitua urbanismo

dentro de um quadro amplo e multidisciplinar.

Sem dúvida, a nova disciplina formou-se, como sempre acontece, utilizando materiais da cultura precedente. Podemos dizer, por tanto, que tem um componente científico, no sentido tradicional do termo, porque efetua análises rigorosas sobre a condição demográfica, econômica, produtiva, sanitária, tecnológica dos agregados sociais; tem componente sociológico, porque estuda as estruturas sociais e seus desenvolvimentos previsíveis; tem um componente político, porque influi sobre esses desenvolvimentos orientado-os em certas direções; tem um componente histórico , porque considera as situações sociais na dupla perspectiva do passado e do futuro; e tem, enfim, um componente estético, porque termina sempre na determinação de estruturas formais.(idem,p.211)

É importante ressaltar que historicamente as ações de intervenção no espaço urbano

muitas vezes estão voltadas para a dominação e o poder político pelas elites,

causando a segregação sócio-espacial, transformando as cidades modernas em

final da década de 1970 quando não se prende mais à cidade ideal e sim a eficiência sobre a cidade já

existente e passa também a se preocupar com a política urbana centralizada nas mãos do Estado.(Sarno,

2004, p.6) .

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palcos vivos da exclusão e a discriminação sócio-econômica e cultural. Cabe aos

urbanistas, independentemente de sua formação, arquiteto, geógrafo, sociólogo, ao

intervir no espaço urbano ter como premissa o bem coletivo da sociedade urbana.

O urbanismo é entendido hoje como uma ciência, uma técnica e uma arte ao mesmo tempo, cujo objetivo é a organização do espaço urbano, visando ao bem-estar coletivo, realizado por legislação, planejamento e execução de obras públicas que permitam o desempenho harmônico e progressivo das funções urbanas elementares: habitação, trabalho, recreação circulação no espaço urbano.(Sarno, 2004. p.7)

2.2.-.A Cidade Metrópole e a Periferização dos Aglomerados Urbanos.

Nas grandes Cidades hoje, é fácil identificar territórios diferenciados:

ali é o bairro das mansões e palacetes, acolá o centro de negócios,

adiante o bairro boêmio onde rola a vida noturna, mais à frente o

distrito industrial, ou ainda o bairro proletário.(...) É como se a cidade

fosse um imenso quebra-cabeças, feito de peças diferenciadas, onde

cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais. É a

este movimento de separação das classes sociais e funções no

espaço urbano que os estudiosos da cidade chamam de segregação

espacial. (Rolnik, 1988.p.40)

As cidades vêm seguindo a lógica da desigualdade capitalista, estampando-se por

meio de uma verdadeira segregação socioespacial. Entendemos que a segregação,

tanto social quanto espacial, é uma característica importante das cidades. As regras

que organizam o espaço urbano são basicamente padrões de diferenciação social e

de separação. (Caldeira, 2000.p.211).

(...) o processo de produção do espaço urbano é desigual – isso se evidencia claramente

através do uso do solo – e decorre do acesso diferenciado da sociedade à propriedade privada

e da estratégia das empresas que produzem sobre o solo, o que faz surgir a segregação

espacial. (Carlos, 1994, p.12)

Os processos migratórios criados pela industrialização fizeram com que no Brasil, as

cidades cada vez mais se converteram em molas propulsoras do crescimento

econômico. Estes crescimentos acelerados junto à especulação imobiliária geraram

problemas historicamente injustos, permitindo urbanizações ambientalmente relapsas,

socialmente excludentes, de periferização das populações de baixa renda e

condomínios de luxo para as classes mais ricas, criando as “cidades de muros”.

(Caldeira, 2000) Estas mesmas cidades, se podem chamar de cidades a esses

aglomerados que possuem mais de 50% de informalidade urbanísticas, são alguns

dos fatores que geram o estopim para a violência urbana. A informalidade esta

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demarcada pelo aumento da miséria, marginalização e a falta dos direitos à cidadania

e a urbanidade, demarcando a exclusão dos que estão fora dos “muros”.

A partir dos anos 70, o processo de urbanização alcança novo patamar, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto do ponto de vista qualitativo. Desde a revolução urbana brasileira, consecutiva à revolução demográfica dos anos 50, tivemos primeiro, uma urbanização aglomerada, com o aumento do número – e da população respectiva – dos núcleos com mais de 20.000 habitantes e, em seguida, uma urbanização concentrada, com a multiplicação de cidades de tamanho intermédio, para alcançarmos, depois, o estágio da metropolização, com o aumento considerável do número de cidades milionárias e de grandes médias (em torno de meio milhão de habitantes). (Santos, 1996, p. 69)

Os impactos, fruto do desenvolvimento econômico acelerado, causam aumentos

descontrolados nas malhas urbanas e em muitos casos unindo os centros urbanos de

municípios vizinhos. Essas uniões de centros urbanos vizinhos formam grandes

aglomerados dependentes uns dos outros, criando as Regiões Metropolitanas. O

avanço nas áreas fora do limite periférico é denominado de periferização. Estas

periferias caracterizam-se, muitas vezes pela concentração de população de baixa

renda, e pela carência de infra-estrutura básica para o seu desenvolvimento. Podendo

afirmar que o processo de expansão de grandes cidades geralmente produz exclusão

e segregação (Caldeira, 2000) e o espaço que se interagem provocando diferentes

formas de valorização e comercialização do solo urbano um novo mapeamento do

processo de crescimento urbano.

Nas Regiões Metropolitanas as cidades sedes, ou pólo, as áreas desocupadas

prontamente se esgotam ou a especulação imobiliária as supervalorizam, expulsando

para as cidades menores e vizinhas a população de menos poder aquisitivo

contribuindo com o agravamento das diferenças sociais e econômica entre a cidade

pólo e as cidades periféricas. Observa-se que embora as cidades menores

desempenham um papel importante para o desenvolvimento da Região Metropolitana

são pouco ou quase em nada recompensadas por isso, além de servirem de cidades

dormitórios, arrecadam poucos impostos e sem mantém sempre às margens

econômica.

Essa periferização hoje tem criado características singulares, pois o mercado explora

tais contingências e produz segregação, por exemplo, quando expande a oferta de

condomínios fechados de estremo luxo para as classes mais abastadas e promove

loteamentos de baixa renda. Rolnik (1988) lembra que a segregação nas cidades não

esta só nos condomínios fechados, na cidade de muros (Caldeiras, 2000), mas

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também nos locais de trabalho, no transporte público, na falta de acessibilidade e

mobilidade de parte da população, segregação urbana de raça, faixa etária e classes

sociais, assim como na regionalização da cidade por funções, ao criar os bairros

residenciais, a região de comercio, regiões industriais etc

A segregação é manifesta também no caso dos condomínios fechados – muros de verdade, além de controles eletrônicos zelam pela segurança dos moradores, o que significa o controle minucioso das trocas daquele lugar com O exterior. Além de um recorte de classe, raça ou faixa etária, a segregação também se expressa através da separação dos locais de trabalho em relação aos locais de moradia. A cena clássica cotidiana das grandes massas se deslocando nos transportes coletivos superlotados ou no trânsito engarrafado são a expressão mais acabada desta separação - diariamente ternos que percorrer grandes distâncias para ir trabalhar ou estudar. Com isto, bairros inteiros das cidades ficam completamente desertos de dia, os bairros-dormitórios, assim como algumas regiões comerciais e bancárias parecem cenários ou cidades-fantasmas para quem a percorre à noite.

Estes bairros–dormitórios muitas vezes estão localizados em outras cidades que

compõe as Regiões Metropolitanas, transformando o translado diário da casa-trabalho

(e/ou estudo), trabalho-casa, verdadeiras viagens, assim como os serviços essências

de saúde e educação, são geralmente ofertados em locais distantes, muitas vezes em

municípios diferentes.

As periferias se difundem, e nelas alojam-se tanto investimentos econômicos que

requerem maiores espaços, tais como indústrias e depósitos de armazenagem, quanto

assentamentos residenciais de segmentos de baixa renda assim como os

condomínios residenciais de baixa densidade voltados às classes média e alta, hoje

tão em voga no Brasil.

No Brasil, o processo de urbanização mais recente, a partir da década de 80, é

marcado pela heterogeneidade da ocupação das regiões periféricas e os recursos

públicos têm sido canalizados prioritariamente em direção ao desenvolvimento da

parte rica da cidade. Neste processo, tão contraditório, leva grande parte dos

moradores das periferias pobres à exclusão dos direitos sociais básicos ao trabalho, à

saúde e à educação de qualidade, assim como o direito à moradia digna,

equipamentos públicos e infra-estrutura urbana, o que significou, na prática, um déficit

de cidadania e de governabilidade.

Uma característica fundamental do processo de urbanização foi, portanto, a assimetria entre a localização e as condições sociais, fazendo do ambiente construído espaço privilegiado de expressão

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das desigualdades sociais, com a permanente pressão dos mais

pobres em direção às piores localizações. (Hughes)4

Essa exclusão urbana é denominada por Bindé (apud MAYOR,1999. p. 15), como

“apartheid urbano social” , como se refere à segregação espacial das cidades, às

fronteiras, muitas vezes imateriais, das metrópoles. Tais fronteiras podem ser, como

no Rio de Janeiro, demarcadas por meio de muros nos condomínios próximos das

favelas, ou pela distância, onde os subúrbios ricos e pobres ficam longe dos centros

das cidades e distantes espacialmente uns dos outros. A apartheid social tornou-se

um novo modelo de desenvolvimento urbano, marcado pelo predomínio dos

condomínios fechados, e periferização dos loteamentos das classes baixas.

Bindé (apud MAYOR,1999) no 5° Seminário Agenda do Milênio, realizado no Rio de

Janeiro em 1999, apontou como solução para as grandes cidades, um cuidadoso e

eficiente planejamento urbano e de compromisso com a democracia efetiva, não

reduzida à “democracia local”, que empurra a violência apenas para fora do “quintal”,

mas a construção de cidades democráticas e mais igualitárias.

2.3.-.A Cidade e a Globalização.

No contexto da globalização não há só transformações sócio-econômicas, mas

também a universalização na distribuição física e urbanística das cidades. As relações

afetivas, de identidade, da memória cultural são levadas a uma padronização,

tornando os espaços urbanos parecidos .Independente do local, cidade, país em que

estivermos, temos as mesmas unidades formais, como se os gostos, as tradições, as

culturas fossem iguais em todo o mundo, como se a subjetividade tivesse entrado no

reino de nomadismo generalizado (Guattari; 1992, p 169). As grandes metrópoles com

seus edifícios novos, suas vias expressas, suas favelas são muito parecidas em

qualquer lugar do planeta.

Como resultado de uma industrialização que dura pelo menos dois séculos, a cidade

global, a metrópole do final desse milênio, representa uma concentração

4 site :http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392004000400011&script=sci_arttext&tlng=pt

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descontrolada da população num mesmo local. Acredita se que nas próximas

décadas teremos 80% da população mundial vivendo nos grandes aglomerados

urbanos. No Brasil em 50 anos de capitalismo já alcançou essa triste estatística,

estimando que hoje 82% da população viva em aglomerados urbanos.

Latouche (1994.p.73) afirma que o processo de globalização conduz a uma

organização urbana que destrói o vínculo antigo com o espaço, e quando se

desvincula o homem de seu espaço, seu território, provoca uma ruptura na base

cultural dentro de um processo de desenraizamento, que representa a perda da

identidade cultural.

A perversidade da mundialização em curso é notada por Milton Santos, que assinala:

A concentração e centralização da economia e do poder político, cultura de massa, cientificização da burocracia, centralização agravada das decisões e da informação, tudo isso forma a base de um acirramento das desigualdades entre países e entre classes sociais, assim como da opressão e desintegração do indivíduo. (Santos; 1997, p 17).

Foram criados novos símbolos e signos desvalidos de valores culturais, dados pela

imposição de uma globalização cultural. A identidade global não tem lembranças, não

tem passado.

O espaço deixa de ser só material e simbólico, passamos a viver o “espaço virtual”

que os meios de comunicação, a internet transportam para a realidade, desprovida de

significados históricos desterritorizam as relações humanas. (Maia.2003).

A globalização por meio da mídia influencia os hábitos coletivos de uma comunidade,

de um povo. Alguns espaços vão se tornando iguais, não importa o local, a região ou

mesmo o país. Virilo (1995) em “O Espaço Crítico” diz que não importa estarmos no

aeroporto de Paris, ou Nova Iorque ou mesmo Rio de Janeiro, os espaços construídos

são muito semelhantes e as pessoas se vestem e agem da mesma forma. As cidades

se assemelham assim como os costumes. As mesmas marcas comerciais, mesmas

comidas, mesmas vestes, os hábitos do homem pós-moderno globalizado unifica os

gostos e em uma co-relação de forças, o local e o global se chocam e se unem.

Também Guattari, denuncia a falsa homogeneização do mercado na mundialização.

Ressalta em seu livro Caosmose (1992), que hoje as desigualdades deixou de ser

entre os centros urbanos e suas periferias, passando a estar presente até nas malhas

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urbanas informatizadas que separam as imensas zonas residenciais de classes

médias e as zonas de habitat subdesenvolvido. Criando novos desenhos urbanos,

cada vez mais excludentes.

Guattari aconselha que o arquiteto e o urbanista sejam:

O artista polissêmico, polifônico, que o arquiteto e o urbanista devem se tornar, trabalha com uma matéria humana que não é universal, com projetos individuais e coletivos que evoluem cada vez mais rápido e cuja singularidade –inclusive estética- deve ser atualizada através de uma verdadeira maiêutica, implicando, em particular, procedimentos de análise institucional e de exploração das formas coletivas do inconsciente. Nessas condições, o projeto deve ser considerado em seu movimento, em sua dialética.(Guattari; 1992, p176)

No nosso mundo globalizado economicamente, onde não existem mais fronteiras para

as grandes indústrias, os avanços tecnológicos e a comunicação, vivem-se à

aproximação de troca das mais variadas culturas. As subjetividades constituem-se na

miscelânea de costumes, culturas e hábitos, independentes do lugar geográfico de

origem.

Dado o avanço tecnológico na industria, agricultura e comunicações poder-se-ia

acreditar no surgimento de um novo sujeito histórico mais consciente e humanitário

devido à aproximação dos diferentes “mundos”. Esperar-se-ia homens conhecedores

das necessidades e costumes dos diferentes países. Mas não é o que se presencia.

Essa mesma globalização que integra as diferentes culturas, quebrando fronteiras

recria um mundo universal fragmentando as identidades independentes do país e da

cultura, promovendo o desaparecimento de identidades locais, para dar lugar a

identidades globalizadas flexíveis e mutáveis ao sabor do mercado.

Sobre globalização Rolnik (1997, p.19) esclarece,

A globalização da economia e os avanços tecnológicos, especialmente a mídia eletrônica, aproximam universos de toda espécie, situados em qualquer ponto do planeta, numa variabilidade e numa densificação cada vez maiores. As subjetividades, independentes de sua morada, tendem a ser povoadas por afetos dessa profusão cambiante de universos; uma constante mestiçagem de forças delineia cartografias mutáveis e coloca em cheque seus habituais contornos.

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19

2.3.1.-. A identidade no mundo globalizado.

Quando se referem ao conceito de identidade, os autores empregam expressões distintas como imagem, representação e conceito de si: em geral, referem-se a conteúdos como conjunto de traços, de imagens, de sentimentos que o individuo reconhece como fazendo parte dele próprio.(Jacques,1998.p.159)

Todas as manifestações culturais trazem intrínseco o tema da identidade, como algo

que nos faça reconhecer de um lugar, de uma cultura, de uma época, que possamos

responder a pergunta “quem és” a que a identidade remete. Portanto, a identidade é

tema de estudo da filosofia, a antropologia, a sociologia e a psicologia. (Jacques,

1998)

Identidade é um conceito crucial, porque funciona como articulador, como ponto de ligação entre os discursos e as práticas que procuram interpelar-nos, falar-nos ou colocar-nos no nosso lugar enquanto sujeitos sociais de discursos particulares, por outro lado, e por outro, os processos que produzem a subjetividade, que nos constroem como sujeitos que podem falar e ser falados.(Hall. apud Mendes.2002.p.503)

O que nos leva a crer que a identidade é, portanto formada socialmente e em grupo

organizados, que se reconhecem e se inter-relacionam em um processo de constante

construção como afirma Calhoun. (apud Mendes ,2002)

A identidade é socialmente distribuída, construída e reconstruída nas interações sociais. As identidades serão, assim, construções relativamente estáveis num processo contínuo de atividade social .(p. 504).

As identidades são construídas através de acontecimentos em territórios, que geram

uma história comum, geralmente de luta e enfrentamento. E assim os povos vão

legitimando suas diferenças, seus rituais, seus hábitos e costumes. (Canclini, 1995)

A identidade e a subjetividade podem ser entendidas como tudo aquilo que pertence

ao pensamento e ao desejo humano em composição dialética com o mundo físico, à

natureza dos objetos, o material, a objetividade. Com isso podemos observar o

homem e seu pensamento através do tempo reconhecendo o sujeito de cada

momento histórico e o mundo objetivo e material, através da história da humanidade

em um constante movimento dinâmico e dialético.

Uma pessoa é síntese do particular e do universal, ou seja, sua individualidade se constitui, necessariamente, na relação objetiva com o seu meio físico, geográfico, histórico e social que irão, através de suas ações, desenvolver o psiquismo humano constituído,

Page 21: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

20

fundamentalmente, pelas categorias: consciência, atividade e afetividade (Lane, 2002 , p.12).

Dentro deste contexto social, isto é, da intensificação dos movimentos econômicos,

políticos, culturais e simbólicos em âmbito mundial, deve-se questionar se os

indivíduos vêem aumentadas as possibilidades para elaboração de suas identidades.

Por outro lado existem movimentos que tratam de demarcar essas diferenças,

assegurando a identidade cultural local. Assim, pode-se viver numa sociedade

globalizada onde as igualdades convivem com as diferenças, a tradição e a cultura

local. As identidades locais por um lado e a ameaça de pulverização total de toda e

qualquer identidade coletiva por outro. Assim para Guatttari (1992, p. 62) a

subjetividade entrou no reino de um nomadismo generalizado, pois com a

globalização, se esta perdendo a referencia de território, desta forma[...]O ser humano

contemporâneo é fundamentalmente desterritorizado[...]. Tanto faz estar em qualquer

lugar do planeta que se estará ouvindo as mesmas músicas, vendo os mesmos

slongs, assistindo os mesmos filmes e programas televisivos e vestindo as mesmas

roupas, ou seja, os símbolos e signos passam a ser universais e desprovidos de

valores.

Lasch (1986, p.23) afirma:

A identidade tornou-se incerta e problemática, não porque as pessoas ocupem mais posições sociais fixas – uma explicação baseada no senso comum que incorpora inadvertidamente a equação moderna entre identidade e papel social-, mas porque elas não mais habitam um mundo que exista independentemente delas.

A arquitetura, como parte da cultura de um povo, é defendida por Botta (apud

WAMBIER, 1998, P. 04), arquiteto suíço e uns dos maiores nomes da arquitetura

atual, ao dizer que a arquitetura tem que ter um senso do passado, que não pode

nascer do “nada” para um “nada”, existe uma história, defende que o arquiteto trabalha

com a memória, de um povo, de uma cultura, da civilização, sua identidade.

[...] A arquitetura não é um fungo, que nasce do nada. Vem da luta do passado. Quando faço uma catedral, uma igreja, ela vem de mil, 2 mil anos de história. O território sobre o qual trabalha o arquiteto é o da memória. Acho que não fazemos mais que reinterpretar o que já foi feito. Com a sensibilidade do nosso tempo. Com a tecnologia do nosso tempo. Com as imagens do nosso tempo. [...]

Em sua entrevista Botta (apud WAMBIER, 1998) critica a arquitetura globalizada que,

segundo ele, é sem identidade, onde cada prédio, cada edificação pode ser “qualquer

coisa” e defende a arquitetura da identidade destacando que a globalização é a

arquitetura do fim da identidade. É a homogeneização. A morte. A fabrica é igual à

Page 22: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

21

casa, a igreja ao escritório , tudo igual. É a morte da variedade. Botta (apud AMBIER,

1998, p. 04) afirma que arquitetura é um produto cultural e que deve obedecer às leis

do mercado, mas preservando sua autonomia por ser expressão humana. E finaliza

criticando a arquitetura pós-moderna, ao afirmar que [...] é tudo muito frágil, efêmero,

descartável.

Santos (1986) afirma que o sujeito pós-moderno perdeu o senso de continuidade

histórica, importando o “aqui e agora”, descartando o passado e o futuro. Para este

autor vivem-se todos os problemas do momento, do mundo atual, das guerras e das

crises econômicas, mas fora do contexto histórico, sem uma visão historicista. O que

importa é o momento, o hoje, o presente. Como a identidade esta ligada a um

passado, a uma história, esta passa a ser efêmera e passageira.

No processo histórico as culturas e as identidades se mesclam, dando lugar a novos

significados e valores, pois identidade não é estática, é cambiante e mutável, sofrendo

modificações de acordo com o espaço/ território e os processos de mudanças

comportamentais de uma época. Mas não é o que assistimos hoje com a globalização,

pois esta não propõe uma cultura de mestiçagem, não existe uma junção das culturas.

A globalização trás em seu princípio que uma cultura se imponha sobre as outras, é a

quebra de paradigmas, das tradições culturais. (Filho, 2001,p17) .Não se compartilha

se subjuga.

Hoje o que assistimos é uma colonização e de forma bem mais “sutil”, mas não menos

cruel, pois não existe a dominação do país “colônia” em nome do “desenvolvimento”, a

economia liberal–capitalista e ocidental globalizante, trás a desculturação como

ferramenta, assim como as conversões religiosas, que não respeitam as religiões e

crenças locais, impondo-se às culturais existentes, como afirma Latouche (1994). Cria-

se o que define como a desculturação, que vem em conjunto com o

subdesenvolvimento, e é usado com os mecanismos da globalização econômica que

trás consigo a expansão cultural avassaladora do mundo ocidental, hoje hegemônico

economicamente.

Em “Gaúchos” e Baianos no “Novo” Nordeste: Entre a Globalização Econômica e a

Reinvenção das Identidades Territoriais, Haesbaert (1996) analisa o papel da mídia no

processo de desculturação, onde vemos como a televisão e a rádio com os meios de

comunicação trazendo as informações mais longínquas de forma imediatas, modifica

as relações de tempo –espaço, modificando a escala de problemas, deslocando o

Page 23: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

22

espaço – tempo local imediato e cotidiano para uma outra relação, ao que autor

chama de “ditadura do momento” e de “império da velocidade” este processo de

desterritorização imposto pela modernização arrasadora.

No nosso mundo globalizado economicamente, onde não existem mais fronteiras para

as grandes indústrias, os avanços tecnológicos e a comunicação, vivem-se a

aproximação de troca das mais variadas culturas. As identidades constituem-se na

miscelânea de costumes, culturas e hábitos, independentes do lugar geográfico de

origem.

Não é tão simples assim: é que a mesma globalização que intensifica as misturas e pulveriza as identidades implica também na produção de kits de perfis-padrão de acordo com cada órbita do mercado para serem consumidos pelas subjetividades, independentemente de contexto geográfico, nacional, cultural etc. Identidades locais fixas desaparecem para dar lugar a identidades globalizadas flexíveis, que mudam ao sabor dos movimentos do mercado e com igual velocidade. (Rolnik, 1997, p.20)

Os meios de comunicações são cada vez mais velozes e divulgados e forma massiva

fatos, artes, culturas a qualquer rincão do mundo e fazem com que a mídia seja um

dos fatores do enfraquecimento das identidades regionais e locais.

O que era antes uma manifestação cultural se torna na era globalizada, uma cultura de

mídia, espetáculo multimídia transnacional, sendo o que antes era local ou regional

tornar-se global, desprovendo assim de seus antigos significados para entrar na era da

massificação mundializada. O multiculturalismo funciona como mercado, influenciando

os hábitos coletivos de um povo, e as diferenças regionais se impondo em todo o

mundo.

3.-.Divisão em regiões e regionalização.

[...] nossa definição de região terá de ser extremamente geral, podemos dizer que uma região é uma área delimitada de acordo com certos critérios; teremos regiões diferentes, segundo os critérios que decidirmos utilizar.[...] (Friedmann apud Pieruccini, 2001.p.50)

No texto não existe a proposta de discutir os vários conceitos de regiões e

regionalização, conceitos esses que são amplos e largamente debatidos na geografia

dentro das diferentes escolas -geógrafos físicos, darwinista e neo-lamarckiana,

possibilismo geográfico; Nova Geografia, a disciplina adota o positivismo; geografia

Page 24: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

23

crítica ou radical, e a geografia humanista5- senão dentro de uma pesquisa

documental chegar a um fator comum na exposição das diretrizes tomadas para a

formulação da divisão regional de um município, no nosso caso, Cariacica.

A regionalização e as regiões são objetos de estudo de geógrafos, urbanistas e todos

que trabalhem com espaço físico e social, pois se entende que se relacionam ao

conceito de espaço como um produto da sociedade (Pontes apud Pieruccini, 2001) e

esta subjugada ao capital e à dinâmica econômica do capitalismo.

É um conceito subjetivo e dinâmico, pois trabalha com fatores como a identidade,

história, cultura, fator social, espaço físico-geográfico, desenvolvimento econômico,

entre outros que determinam a espacialidade e a divisão em sub-unidades por certas

especializações em determinado momento histórico- econômico e social.

Para Friedmann (apud Pieruccini, 2001) podem-se ter dois critérios que determinam

uma análise regional que são eles: critérios de homogeneidade e critérios de

interação. Para o critério de homogeneidade, as regiões são concebidas de acordo

suas características como, clima, vegetação, topografia, solos, hidrografia, tipo de

agricultura, cultura, entre outros. O critério de interação é defendido como aquele que

as regiões delimitam-se com base a ação recíproca das atividades sociais e

econômicas, para as regiões urbanas, o que interessa são as interações das

atividades sociais e econômicas, não, necessariamente, levando-se em conta as

fronteiras políticas. (idem)

Num Brasil 80% urbanizado, não se pode discutir desenvolvimento regional dissociado

do desenvolvimento urbano. E vice-versa. É necessário pensar como se articulam

"regional" e "urbano" hoje, num contexto social diversamente urbanizado como o

brasileiro, espalhado/concentrado em espaço territorial tão amplo e diferenciado -

física, social e culturalmente.

A região é um quadro arbitrário, definido com propósitos políticos, econômicos ou administrativos. Sua identificação, delimitação e construção estão ligados à noção de diferenciação de áreas, ao reconhecimento de que o território é constituído por lugares com ampla diversidade de relações econômicas, sociais , naturais e políticas. Por outro lado, a qualificação, a distinção entre as regiões, não decorre apenas de sua especialização funcional, mas também da

5 Site visitado 04/06.

http://www.sociedadenatureza.ig.ufu.br/include/getdoc.php?id=86&article=58&mode=pdf.

Page 25: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

24

quantidade e da densidade das relações que caracterizam essas funções (Leite. 1994. apud Gasparetto)

6

A organização espacial e a divisão do município em regiões são produto da sociedade

servindo como suporte nos processos sociais, econômicos, culturais e ferramenta

fundamental na gestão do poder público assim como para as definições das atividades

econômicas.

A região continua a existir, mas com um nível de complexidade jamais visto pelo homem. Agora, nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, de invidualização e regionalização. (Santos, 1999: apud Haesbaert)

Mais da metade da população brasileira está concentrada em metrópoles,

aglomerações urbanas e, centros regionais maiores e menores. Para cada caso a

referência de região é distinta. Habituamo-nos a pensar "região" como algo composto

de meio urbano e meio rural; entretanto, há regiões, hoje, quase que exclusivamente

urbanas. Qual é a região de referência das metrópoles - o espaço nacional? o

Sudeste, o Nordeste? qual? os Estados? Ou seria a Região Metropolitana da Grande

Vitória uma região ela mesma? Pois, dentro dela, cada cidade que a compõe apesar

de tudo continua mantendo uma identidade sócio-cultural própria, e suas divisões

regionais.

Quando pensamos no Estado do Espírito Santo e em sua divisão em regiões hoje

dividida em: a região sul-que abrange os municípios costeiros do sul do estado; região

serrana - que esta composta pelos municípios serranos ao leste do estado incluindo as

cidades do maciço do Caparaó ate a divisa com Minas Gerais; a região da Grande

Vitória – onde esta a capital do estado e cidades vizinhas, sendo única região

metropolitana do estado; e a região norte-composta pelos municípios ao norte do

estado ate a divisa com a Bahia. Salvo a Região Metropolitana da Grande Vitória,

podemos afirmar que esta divisão foi realizada em um momento histórico em que as

atividades econômicas do estado ainda não estavam voltadas para as atividades do

petróleo, e sim para fundamentalmente para as atividades agrícolas (principalmente o

café).

6 Site vistado em 03/06: http://www.socio-estatistica.com.br/diferentes.htm.

Page 26: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

25

Com a chegada de grandes empreendimentos voltados para a extração do petróleo

encontrado nas costas dos estado, hoje não seria o momento de pensar em outra

organização espacial das regiões?

Tendo o estado do Espírito Santo como exemplo, em palestra ministrada pelo

Professor Dr.Roberto Garcia Simões7, ele propôs uma reestruturação das regiões do

estado em acordo com a nova ordem econômica do estado. A proposta seria re-dividir

as regiões em: região costeira, pois estas estariam sendo beneficiadas diretamente

pelos royets provenientes da extração do petróleo; região central-ligada à agricultura;

região serrana – onde as atividades estariam voltadas para o agro-turismo, e o turismo

de montanha. Esta seria, sem dúvida, uma forma de divisão em regiões com base

puramente econômica e voltada para o mercado globalizado, pois a os grandes

empreendimentos como o petróleo, associados a outros já existentes como a

siderurgia da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Companhia Siderúrgica de

Tubarão e Belgo-Mineira, hoje Acerlor, Samarco, e a Aracruz Celulose, são empresas

que estão voltadas para o mercado internacional, ou seja, dentro de uma nova

estrutura de regionalização, que adota o sistema de cidades mundiais, um novo

conceito de regionalização.

No mundo globalizado as questões urbanas e questões regionais tornaram um outro

paradigma, pois o conceito de cidades mundiais se identifica dentro de uma rede

especial de cidades, em que as metrópoles que a constituem são desvinculadas das

respectivas redes urbanas nacionais - portanto abstraindo a idéia de pertencimento

das cidades a regiões e a um espaço geográfico contínuo. Dada essa nova ordem

global, hoje as discussões de regiões, mesmo dentro de um pequeno contesto como

um município, tem que passar necessariamente pelos aspectos econômicos.

7 Professor Dr. Roberto Simões-UFES. Nota da palestra ministrada no evento “Reunião Metropolitana”

preparatória para as 2ª Conferencia da Cidade – Serra – ES - 14 /07/05

Page 27: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

26

4.-. Região Metropolitana da Grande Vitória.

Foto 1. site http://www.mges-brasil.org/ visitado 05/06

O Espírito Santo teve um destaque dentro do panorama histórico e econômico

nacional a partir da década dos anos 70, com a implantação do Porto de Tubarões na

capital , Aracruz Celulose no norte e a Samarco mineradora ao sul do estado, pois ate

então o estado se mantinha quase sempre a margem e a reboque do panorama

nacional . (Vargas)8. O estado sofre partir dessa data mudanças no seu padrão

econômico, passando de agro-exportador (café) para se tornar industrial –exportador,

ocorrendo com isso grandes mudanças socioeconômicas na região da capital, Vitória,

inserindo-a no contexto mundial e da economia globalizada.

As mudanças socioeconômicas que ocorrem na cidade trazem um novo padrão

urbanístico para Vitória, padrão esses que comportaram a instalação de complexos

industriais, mas também o crescimento de demanda por áreas residenciais. Existe

uma elevada migração de diferentes origens, os que vem compor o quadro técnico

8 VARGAS, P. Grande Vitória: Desenvolvimento e Metropolização. Site visitado 05/06.

www.mges-brasil.org/textos/grande_vitoria_metropolizacao.pdf

Page 28: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

27

das empresas que aqui se instalaram assim como há de trabalhadores menos

especializados, estes últimos começam a se instalar nas cidades periféricas da capital

onde os espaços urbanos são menos valorizados. Vargas9 lembra que,

Novas áreas do território se fizeram necessárias não apenas para dar

lugar às plantas industriais, mas também para suportar o aumento

quantitativo e diferenciado de habitações para atender ao

crescimento populacional, assim como para os novos patamares de

comercio, serviços e circulação urbana. Foram introduzidos novos

vetores que reestruturaram a expansão da malha urbana,

representados pelas áreas funcionais portuárias, industriais, de

armazenagem e de transportes, e também pelas áreas

habitacionais.(idem)

O crescimento da malha urbana e a interdependência das cidades periféricas,onde se

concentram as atividades produtivas e as novas regiões habitacionais, dão lugar a um

rápido processo de urbanização envolvendo a capital e os municípios vizinhos, dando

lugar à formação da chamada Região Metropolitana de Vitória.(idem)

Fonte site: http://www.ippur.ufrj.br/observatorio/metrodata/ibrm/ibrm_vitoria.htm vistado 05/06

Page 29: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

28

Vitória e as cidades circundantes já vinham mantendo características das regiões

metropolitanas, mas somente em 22 de junho de 2001 que a Região Metropolitana da

Grande Vitória (RMGV) é instituída pela Lei Complementar N.º 204, com a finalidade

de manter a organização, planejamento e execução de funções públicas de interesse

comum, no âmbito metropolitano, e esta composta pelos municípios de Cariacica,

Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória. A Região Metropolitana da

Grande Vitória ocupa uma área total de 2.286,54 km2, e o possui 46,45 % da

população total do estado – Censo 2000/IBGE, por ser o principal pólo industrial do

estado.

Com o crescimento do aglomerado urbano e as vias em eixos estruturantes (a 2ª e a

3ª ponte,vias estaduais como a rodovia Carlos Lindenberg- Vila Velha; rodovia ES-

040 José Sette - Cariacica, entre outras) o sistema de transporte coletivo

metropolitano -Sistema Transcol-, e a descentralização das atividades comerciais

(pólos como Gloria- Vila Velha, Campo Grande- Cariacica, Laranjeiras- Serra) e

produtivas da capital, a região metropolitana esta consolidada, mas as diferenças em

receita per capita entre os municípios são enormes. Vitória detêm o índice de receita

muito mais elevado que os municípios vizinhos, que por sua vez funcionaram ,e ainda

cumprem essa função de cidade-dormitório.

Page 30: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

29

A concentração de renda se dá de forma desigual, e excludente, cabendo a Vitória a

população mais rica do estado e da RMGV.

Em Vitória, 25% das famílias detêm 58% da renda, enquanto em Serra, 27% da renda

está concentrada em apenas 7% das famílias. Em Cariacica, somente 6% acumulam

23% da renda da cidade; em Vila Velha, 16% concentram 46% da renda local

produzida e em Viana 4% das famílias detêm 18% da renda da cidade. (Vargas)

Observamos que na RMGV a maioria dos municípios ainda mantém uma área e

atividades rurais expressivas, como : Cariacica, Viana, Fundão, Guarapari e Serra, e a

concentração populacional se dá nas proximidades da divisa com Vitória (caso de

Cariacica , Vila Velha e Serra principalmente).

Page 31: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

30

Vitória por ser uma ilha e sua área não ser muito grande, detêm também a maior

densidade populacional, como mostra o quadro a seguir.(IBGE: censo 2000)

Pelo que podemos constatar nos dados levantados, existe uma grande disparidade

entre os municípios que compõe a Região Metropolitana da Grande Vitória, repetindo

o que acontece com as regiões metropolitanas do país, cidade muito rica que tem com

vizinhas outras muito pobres e carentes de urbanidade, onde se alojam as populações

de baixa renda.

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31

Page 33: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

32

5.-. Cariacica.

Os municípios em geral enfrentam muitas dificuldades com a gestão

cotidiana dos processos de ocupação e crescimento urbano: desde

problemas ambientais decorrentes de ocupação indevida, tensões em

torno do solo urbano envolvendo diferentes classes sociais, conflitos

relativos à convivência de usos (como indústrias poluentes e bairros

residenciais), até a proliferação de ocupações irregulares e em

situação de risco. (Cymbalista)9

Foto 2. Vista aérea de Vitória, Vila Velha e Cariacica. Site: http://www.mges-brasil.org/ visitado 05/06

5.1.-.Caracterização.

Cariacica é um dos municípios que compõe a região metropolitana da Grande Vitória.

Dada sua localização espacial é por seu território que passam várias vias estruturais

federal e estaduais, fazendo a interligação entre o sul e o norte do país e a ligação do

leste e do sul do estado com a capital, Vitória. O município é cortado por duas grandes

rodovias federais (BR 262 e BR 101),e uma rodovia estadual (ES- 040), que lhe

9 CYMBALISTA, Renato. Idéias para a Ação Municipal. Desenvolvimento Urbano.

http://polis.org.br/banco_de_experiencias_interna.asp?codigo=59.

Page 34: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

33

proporciona uma peculiaridade, a de ser um espaço de “passagem”. Ainda em seu

território passam duas ferrovias de empresas privadas – Companhia Vale do Rio

Doce, que liga Cariacica (Estação Nolasco) à Belo Horizonte, no estado de Minas

Gerais e da Belgo-Mineira.

Fonte. IPES

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34

Dentro do contexto econômico, Cariacica a partir dos anos 70, tornou-se

fundamentalmente uma cidade dormitório, pois dentro do processo de industrialização

e com a implantação de grandes empresas no estado, em sua grande maioria se

instalaram em municípios vizinhos, Vitória e Serra principalmente, cabendo a Cariacica

a função coadjuvante em todo o processo de crescimento econômico.

Com o crescimento econômico do estado e a implantação de grandes empresas na

capital e município vizinhos, como a CST, CVRD, entre outras, um grande contingente

de migrantes vindos principalmente de Minas Gerais, Bahia e interior do Espírito Santo

a procura de trabalho, e terminam por ocupar território do município de Cariacica pelas

suas características: proximidade da capital; terrenos de loteamentos baratos (o

paraíso das imobiliárias) já que não existia no município uma política urbana que

coibisse tais práticas e grandes vazios urbanos que foram ocupados formando

grandes loteamentos irregulares.

5.2.-.Dados do município.

Segundo dados do IBGE-2000, Cariacica tinha 324.285 habitantes, sendo que em

áreas urbanas somavam 312.980, e nas áreas rurais 11.305 habitantes

respectivamente. Constata-se que 96,51% da população de Cariacica reside na área

urbana, e observa-se a mancha urbana nos mapas, ocupando quase a metade do

município. O município possui 274 km², sendo que a área rural representa 46%,

126km e a urbana 54% com 148 km. Mesmo tendo quase a metade de sua área ainda

rural, maioria da população se aglomera no espaço urbano.

Page 36: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

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Mapa da mancha urbana

Fonte. Site http://www.mges-brasil.org/ visitado 04/06

Page 37: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

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Localização Geográfica Área Terrestre (Km²)

Distância da Sede à Capital (Km)

Altitude da Sede (m)

Latitude (s) Longitude (W.Gr)

Área equivalente ao Território Estadual (%)

285,80 15 65 20°15’51” 40°25’12” 0,60

Fonte: IDAF – IPES – Instituto Jones dos Santos Neves

Cariacica faz divisa ao norte com os municípios de Santa Leopoldina e Serra; ao

sul,Viana e Vila Velha, ao leste com Vitória e Vila Velha e ao oeste com Domingo

Martins.

Fonte : PMC

Cariacica possui dois distritos: Sede, composto pelos bairros ao norte e noroeste, e

Itaquarí, localizado ao sul e sudeste do município respectivamente.

O relevo de cariacica é acidentado sendo maciço Mochuara sua principal montanha. O

Mochuara é uma montanha de granito de 724m de altura e desde de 1990 faz parte

Page 38: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

37

do Parque Municipal do Mochuara, instituído por decreto municipal. (Dec. nº 103 de

27.04.90) mesmo decreto que institui O Monte Mochuara como patrimônio histórico-

paisagístico.

Foto 2 cedida pela Prefeitura Municipal de Cariacica

Encontra-se também dentro do território do município a Reserva Biológica Estadual de

Duas Bocas ocupando 2,91 ha de área.

A bacia hidrográfica de Cariacica tem como principais rios: Formate, Bubú, Duas

Bocas e Santa Maria da Vitória.

5.3.-. Breve Histórico

O Espírito Santo foi uma das capitanias hereditárias, fruto do parcelamento em glebas

e doadas pela Coroa portuguesa, e “desde o período colonial apresentou-se como

uma capitania pobre” (Campos, 1996) e de difícil colonização já que a população

nativa estava composta principalmente por índios botocudos e aimorés,

conhecidamente guerreiras e bravias. Vieram para o Espírito Santo a principio

sessenta pessoas. Posteriormente chegam os jesuítas com a formação das fazendas

que entre outros cultivos, tinham a cana como principal produção.

Page 39: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

38

No século XVIII o Espírito Santo fica fora da rota do ciclo do ouro, cabendo a esta

parte do território à frente de defesa da costa, impendido a penetração às zonas

mineiras. O Espírito Santo passa longo período de estagnação, e ate a metade do

século XIX só possui uma pequena faixa litorânea ocupada.

A colonização do território de Cariacica pelos jesuítas, se dá efetivamente em 1974,

com a implantação de engenhos e fazendas do cultivo da cana, algodão e cereais,

fazendas essas localizadas onde hoje conhecemos como Itapoca, Caçaroca,

Maricarã, Roça Velha e Ibiapaba.

A partir da segunda metade do século XIX, com o incremento da produção cafeeira no

Brasil, e a política de “branqueamento” decretada como meta pelo governo, com o afã

de “eliminar os estigmas das raças inferiores” (Ortiz-1991), chegam os imigrantes

europeus que vem para substituir a mão de obra negra e escrava.

No interior do estado do Espírito Santo existiam muitas terras devolutas no para onde

foram mandados os imigrantes europeus, mas não como colonos a diferença do

estado de São Paulo, senão como pequenos proprietários de terra para o cultivo do

café.

No nosso caso, em Cariacica conforme o relatório do Instituto Jones dos Santos

Neves (1984) vemos que:

(...) é somente a partir da segunda metade do século XIX, com a vinda de portugueses, que traziam os africanos como mão-de-obra escrava, atraídos pelas concessões de sesmarias. E, 1865, chegam também as famílias alemãs, provenientes de Santa Leopoldina e Vila Isabel, fixando-se em Biriricas e Pau Amarelo. Essa população ocupa-se na agricultura, principalmente no plantio de café. (p.8)

É elevada a Freguesia, em 1837 e oficializando o nome de Cariacica.

Com o crescimento populacional advindo da forte colonização das terás pelos

europeus, em 25 de novembro, por Decreto-Lei Estadual nª 57, passa a ser Vila de

Cariacica.

A cidade cresce às margens do da capital Vitória, e em função desta proximidade. Já

em 1938 tem-se notícia do primeiro loteamento do município, que naquela época

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39

recebeu o nome de Hugolándia, situado onde hoje é o bairro Jardim América, nas

divisas com os municípios de Vila Velha e Vitória.

Cariacica é elevada a cidade em 11 de novembro de 1938, pelo Decreto-Lei Estadual

nº 9.941 e como cidade tem desde então dois distritos: Cariacica (sede) e Itaquarí. E

nessa época a maioria da população, 72,98% vivia em zonas rurais e a ocupação

fundamental era a agricultura com o cultivo do café.

A expansão urbana ocorre a partir da década de 40, nas regiões de Itaquari e Jardim

América, com a inauguração da Companhia Vale do Rio Doce, corta o município com

suas ferrovias e inaugura as oficinas de carros de vagões em Itacibá, a estação de

Flexal e Vasco Coutinho. Em 1948, é traçada de forma rudimentar a estrada que liga

Vitória ao Rio de Janeiro, cortando o território de Cariacica.

5.4.-. Cariacica e a divisão em regiões.

Cariacica, o município que não possui um histórico com relação a sua organização

espacial. As definições de seus bairros não são demarcadas por bases cartográficas e

legitimadas por decretos, são localidades denominadas pela população e acatados

pelo poder público, o que não lhes dá a legalidade, e sua regionalização institucional é

inexistente. Não existe um estudo da divisão territorial do município que auxilie como

ferramenta para a administração pública municipal, estadual e federal, instituições

públicas e privadas, concessionárias e ate mesmo para a própria comunidade de

Cariacica, para a implantação de uma política de desenvolvimento urbano

sustentável.

Sabendo que o município é um espaço vivo e em constante movimento, a delimitação

espacial e definição de regiões não são definitivas e fechadas, portanto o estudo

proposto não é um trabalho fechado.

Nesses termos, torna-se importante o posicionamento de Rogério HAESBAERT, tendo

em vista que ele parte para a redefinição do conceito de região no contexto atual do

processo de globalização. Seu ponto de partida é a constatação de que:

[...] a diversidade territorial do mundo contemporâneo é resultado de duas grandes tendências ou lógicas sócio-espaciais, uma decorrente mais dos processos de diferenciação/singularização, outra dos

Page 41: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

40

processos de desigualização, padronizadores (mas nem por isso homogeneizantes).(Cunha.2000)·

Realizar um estudo da divisão espacial do município de Cariacica, e utilizando os

critérios como: a relação histórica afetiva da criação das áreas loteadas; critérios

geográficos e de meios físicos existentes, ou criados pelo homem; as necessidades e

interesses econômicos, administrativos dos poderes públicos, concessionárias,

autarquias prestadoras de serviços e instituições e principalmente as necessidades de

preservação ambiental de seu território, entre outras que a pesquisa indique.

[...]entende-se que a região e a regionalização relacionam-se ao conceito de espaço como um produto da sociedade.O suporte de uma sociedade e de uma economia, e como tal, o referido é objeto de apropriação e lugar onde se desenvolvem as estratégias dos grupos sociais.(Pieruccini,2001.p.49)

10

Acredita-se que para entender o processo de formação, como espaço geográfico e

urbano, a cultura e a identidade do município de Cariacica, objeto de nossa pesquisa,

deva-se remeter a um breve histórico da conformação do estado do Espírito Santo

como um todo e Cariacica como um dos municípios que compõe o que hoje se

conhece como Região Metropolitana da Grande Vitória e, saber quais foram esses

moradores que povoaram esse município e suas culturas de origem.

Como herança cultural de seus habitantes, que em grande maioria provêem de

regiões rurais, faz com que uma das características de Cariacica é que mesmo nos

aglomerados urbanos a população tem um modo semelhante que tinha no meio rural,

com criação de animais como cavalo, vacas, cabritos, que fazem parte da paisagem

de vários bairros da cidade.

Assiste-se esta globalização em Cariacica é um município que tem, ainda uma zona

rural, tanto pela sua paisagem como pelo modo de vida de seus habitantes, que vivem

a dualidade urbana - rural, e que a urbanização e industrialização faça parte de suas

vidas.

Latouche (1994) critica a urbanização que com o crescimento das cidades que vivem

da exploração das riquezas vai criando a ruptura da base camponesa e rural com a

cidade e o meio urbano. A urbanização destrói o vínculo com o espaço enquanto lugar

afetivo. Promovem o crescimento desordenado do espaço urbano, criando a

10

Site: http://www.unioeste.br/projetos/oraculus/PMOP/capitulos/Capitulo_02.pdf

Page 42: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

41

favelização e a exclusão. Nas cidades se pratica a industrialização da cultura, do

consumo, é o “fim da cultura e o triunfo da civilização”.

Foto 4 Cedida pela PMC

Dentro da proposta da divisão territorial, não se pode deixar de contemplar diferentes

culturas que compõe a sociedade do município de Cariacica, assim como os fatores

geográficos físicos, sócio-econômicos; históricos afetivos, entre outros com o afã de

obter a divisão que correspondam às necessidades da comunidade, da administração

pública e do desenvolvimento econômico do município.

Mesmo dentro de uma cultura racista e excludente, o mestiço é mais que uma

realidade concreta no final do século XIX é uma necessidade social, e a partir desse

mestiço, é que se constroem a identidade nacional. Os “novos” europeus que aqui

chegaram (pois os portugueses já estavam “aclimatados”) trouxeram suas culturas e

costumes mesclando com as culturas locais e a africana. A sociedade brasileira é,

portanto uma sociedade de cultura mestiça, e Cariacica é município mestiço.

Dentro desta nossa mestiçagem pode-se ressaltar a mistura e identidades não mais

entre as três raças que formam a cultura brasileira, mas sim a que nos faz sermos

todos brasileiros e ao mesmo tempo diferentes.

Como diferentes?

Page 43: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

42

Em um país como Brasil de dimensão territorial continental, existem várias

identidades, vários “brasis”. Todos “brasis” com uma forte miscigenação, mas todas

“genuinamente brasileiras”.

Em Cariacica esses vários “brasis” se fazem presente com a migração de mineiros,

baianos, sulistas e capixabas do interior do estado, que vem à capital a procura de

trabalho. Encontra-se esta mescla cultural principalmente em bairros de baixa renda

onde a presença de migrantes é mais acentuada.

Cariacica vive a dicotomia entre o urbano e o rural, caracterizado pela ocupação das

residências, sendo na sua maioria casas de ate 3 pavimentos, ou seja , não é uma

cidade vertical, pois existe ainda a valorização do espaço do quintal com a horta, e

pequenos animais. Aliás, não só pequenos animais, pois é comum encontrar nos

espaços urbanos, cavalos, jumentos e vacas.

Foto 5 cedida pela PMC

Hoje Cariacica conta com uma divisão em regiões que foi realizada com bases à

proximidade geográfica dos bairros que as compõem e, interesses políticos das

associações comunitárias e lideranças populares. Não se pode esquecer a força

política que as regiões representam nas eleições, principalmente municipais, e que o

apoio a esse ou àquele vereador, muitas vezes é feito dentro desse espaço urbano-

geográfico, mas muito mais político.

Page 44: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

43

As regiões existentes em Cariacica são as 13 (trezes) regiões que o poder publico

também trabalha, principalmente através do Orçamento Participativo. São doze

regiões urbanas e uma região rural. Mas este se deve não pela área que o meio rural

ocupa no município, quase 50% da área total, onde aproximadamente 96,51% da

população de Cariacica reside em área urbana.

Cariacica pelos dados do Orçamento Participativo, que são fornecidos pelas

lideranças e pela comunidade, possui 288 bairros, o que entra em contradição com os

188 bairros cadastrados na Prefeitura Municipal. (ver em quadro anexo). Esta

contradição entre os números apresentados reflete a realidade da cidade, onde a

informalidade e a irregularidade predominam, existindo inúmeros de “bairros” e

loteamentos que não são regulares. Também se constata que o que a população

denomina de “bairro” muitas vezes são loteamentos (ilegais) e não um bairro. Não

existe por parte pode público uma definição do que é um bairro e o que é um

loteamento.

Foto 6 cedida pela PMC

Ao analisar as regiões como estão propostas, foram constatadas algumas

divergências entre os bairros que as compõem elas são em sua maioria: realidade

socioeconômica, histórico, na formação dos bairros e, as barreiras físicas e

geográficas.

Page 45: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

44

As regiões em Cariacica obedecem mais aos interesses da comunidade e contam com

apoio do poder público, que vem utilizando-a como forma de gestão. É necessário

rever a regionalização existente, o que será feito junto com as discussões na

elaboração do Plano Diretor Municipal,. Desta forma se legitimará o uso e a ocupação

do solo municipal, onde as regiões têm um peso considerável nas definições do que

se quer propor de crescimento (ou inibir) para os diferentes espaços do município, de

forma sustentável.

Como Cariacica esta localizada estrategicamente entre os portos de Capuaba (Vila

Velha) e Tubarão (Serra), e já estão sendo realizadas as obras da rodovia estadual

que ligará a rodovia Darly santos (Vila Velha) ao trevo da BR 262 com a BR 101(em

Cariacica). O que se vislumbra é o incremento na área econômica e o uso dos

espaços vazios de Cariacica como áreas retro-portuárias.

Page 46: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

45

Fonte Site : http://www.mges-brasil.org/ visitado 05/06

Dentro desta mentalidade econômica, destaca-se também a construção da ferrovia

Norte –Sul de propriedade da Companhia Vale do Rio Doce 11, que mais uma vez

cortará e segregará o espaço urbano da cidade.

Na área rural, próximo ao maciço do Mochuara passará o gasoduto da BR-Petrobrás

que interligará os dutos da produção de gás do Espírito Santo ao sul do país. A faixa

de domínio do gasoduto é de aproximadamente de 20 metros de largura e por quase

toda extensão do município. Nesta faixa de domínio não são permitidas obras e nem

11

A CVRD não fornece o traçado da ferrovia o que nos leva a uma suposição de onde esta deverá passar.

Page 47: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

46

plantios de vegetação de médio e grande porte, sedimentando também o espaço rural

de Cariacica.

Cariacica sofre todos os impactos do incremento econômico na região, sem que com

isso tenha quaisquer contrapartidas que venham proporcionar benefícios à população

do município. A imposição do poder econômico e globalizado sobrepõe ate ao poder

público municipal.

Page 48: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

47

6.-. Conclusão.

Vivemos em um momento em que a formação de regiões esta sendo debatida, em

todas as escalas. Fala-se em Regiões e Regionalização , onde grupos de paises se

unificam com o afã de se fortalecerem economicamente frente a outras regiões, como

exemplo Comunidade Comum Européia, o Mercosul e a ALCA. Ao mesmo tempo as

discussões da eficácia deste zoneamento também tem enfrentado oposições à

ideologia globalizada. Vemos o acirramento do racismo, das diferenças e o confronto

de identidades.

Sabe-se que a regionalização e a divisão em regiões, responde principalmente aos

interesses da economia globalizada, onde as diferenças não são tratadas, criando

muitas vezes, não uma união e uma igualdade entre os que compõem a região, mas

sim um abismo cultural e social, por não se contar com a realidade local.

“[...] Urbanismo brasileiro (entendido como planejamento e regulação urbanística) não tem comprometimento com a realidade concreta, mas com uma ordem que diz respeito a uma parte da cidade apenas...”, e assim se percebe o Urbanismo como instrumento de dominação e de idealização de uma cidade “moldada” aos interesses as elites, e isto se faz através da busca por uma modernização cidade e aplicação de zoneamento funcional das atividades, através de uma normatização do espaço urbano ( MARICATO apud SOUZA, 2003)

As cidades hoje são espaços de domínio das elites e do poder econômico. Enquanto

não existir uma nova ordem de estar nas cidades e estas se tornaram cada dia mais

excludente e divididas

O urbanismo deveria deixar de ser realizadas em “pranchetas”, puramente por

técnicos e urbanistas. As cidades têm que ser debatidas, discutidas e definidas as

diretrizes de seus crescimentos por todos àqueles que ela usufruem, de forma

participativa, par a que assim todos possam se apropriar do espaço urbano.

No caso de Cariacica, entende-se que a re-estruturação da cidade deverão passar

por um processo de discussão participativo, onde os diferentes atores sociais possam

estar presente, sem a participação efetiva não existirá a apropriação do espaço.

“A nova cidadania.surge como uma forma de definição da idéia de direitos, onde o cidadão passa a ter o direito de ter direitos. Incluindo o surgimento de direitos como a autonomia sobre o próprio corpo, a moradia e a proteção ambiental, direitos indispensáveis numa sociedade moderna, mas que não vigoram dentro do nosso Estado. (Vieira e Bredariol; 1998, p 29)

Page 49: A organização Espacial de Cariacica e seu Papel na RMGV

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