A Origem Do Diabo

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A origem do diaboNas religies crist, judaica e islmica, o mal encarna a figura de um indivduo que se ope a Deus e busca atormentar a vida de todos os seguidores de tais religies.Para muitos especialistas, o desenvolvimento da figura diablica fruto das vrias dualidades que permeiam o cotidiano do homem. O belo e o feio, a sorte e o azar, o certo e o errado, a vida e a morte compem jogos em que um lado assume significao positiva e o outro, necessariamente, uma posio completamente negativa. Dessa forma, no se enganem aqueles que acreditam que o universo demonaco seja um trao singular s trs religies anteriormente citadas.No sculo VI a.C., o profeta persa Zoroastro realizou a descrio de um ser chamado Arim. Segundo as suas palavras, Arim era o prncipe das trevas e travava uma eterna luta contra Mazda, o prncipe da luz. Segundo historiadores, esse valor da religiosidade persa acabou sendo incorporado pelos hebreus durante o famoso Cativeiro da Babilnia. Naquele instante, a interao com a cultura estrangeira deu origem ao satan, termo que em sua traduo literal significa acusador ou adversrio.Em um primeiro momento, o demnio hebraico no assume a postura estritamente aterrorizante que reconhecemos no cristianismo. Em vrias passagens do Velho Testamento, ele surge como uma espcie de colaborador que recebe a autoridade divina para punir ou testar os fiis seguidores de Jav. O sofrimento de J, que perdeu todas as suas terras e ficou adoentado, exemplifica esse tipo de postura que o demnio assume inicialmente no texto bblico.Por volta do sculo II a.C. a figura do demnio aparece em alguns textos apcrifos da tradio religiosa judaica. Se assumir uma feio muito bem definida, os demnios so apresentados como seres malignos que desorientam os indivduos e os levam a cometerem atos deplorveis. No final das contas, o lado mais sombrio do imaginrio religioso judaico esteve concentrado em descries sobre o fim dos tempos. A fama do diabo apareceu mais tarde, com o aparecimento da religio crist.Chegando aos textos do Novo Testamento, autores como So Joo e So Paulo dedicam linhas e mais linhas em terrveis batalhas em que o Diabo trava uma intensa guerra contra Deus. Nesse instante, de criaturas efmeras e indefinidas, os demnios passam a fazer parte de uma legio de seres espirituais malignos chefiados por um lder supremo. Em uma dessas batalhas, podemos destacar uma descrio em que Lcifer e um tero dos anjos so expulsos dos cus.

No incio do cristianismo, vrios cristos acreditavam que o demnio assumia a feio dos gladiadores e lees que os trucidavam nas arenas romanas. Somente no sculo IV, um conclio na cidade de Toledo descreveu minuciosamente o Diabo como um ser composto por chifres, pele preta ou avermelhada, com rabo e portador de um tridente. A partir de ento, os relatos sobre experincias demonacas ganhavam fora em uma nova leva de narrativas.Assim, a figura do demnio assumia formas e logo seria portador de uma gnese individualizada. Em 1215, o Conclio de Latro determinou que o Diabo e os demnios eram criaturas criadas por Deus que, por conta de suas opes particulares, preferiram se desviar da autoridade divina. Nesse contexto, ao mesmo tempo em que o inimigo se tornava claramente reconhecido, outras histrias falavam sobre pessoas que se entregavam ao temvel lado da obscurido.De acordo com pesquisas mais recentes, a disseminao dos cultos aos demnios surgem justamente no efervescente sculo XIV. Em alguns pases da Europa, a ordem dos Luciferinos pregava a ideia de que o escolhido de Deus era Lcifer, por esse ter sido primordialmente designado como o anjo de luz. Na Itlia, uma seita conhecida como La Vecchia Religione (A velha religio) organizava missas onde o po consagrado era oferecido para os ratos e porcos.Na Idade Moderna, o demnio era o maior acusado de conduzir as pessoas a praticar os atos herticos combatidos pela Santa Inquisio. Manuais de exorcismo detalhavam ricamente as manifestaes e formas de se expulsar o capeta. Em vrios casos, reforando o ideal de fragilidade da condio feminina, as freiras apareciam em pblico tomadas por demnios, pronunciando vrias ofensas contra Deus e os homens santificados pela Igreja.Aps o Iluminismo, vemos que a preocupao com o demnio ganha uma nfase menor mediante a disseminao das explicaes cientficas, principalmente no campo mdico. No final do sculo XIX, a literatura romntica passou a incorpor-lo como um ser que representa a capacidade de o homem raciocinar livremente. Um dos mais conhecidos exemplos dessa outra significao aparece na obra O Fausto, escrito pelo alemo Johann Wolfgang Von Goethe.No sculo passado, a relao entre o demnio e o poder de constar padres acabou sendo sistematicamente explorado na criao de boatos sobre artistas e celeridades do campo musical. Em meio exploso dos meios de comunicao, a demonizao de certos conjuntos musicais e artistas se transformaram em um caminho certo para a fama, seja ela positiva ou negativa. Afinal de contas, nada mais avesso ao diabo que a prpria banalizao.Atualmente, a descrena no diabo acaba alimentando um interessante debate entre os pensadores da cultura. Para alguns destes, acreditar no diabo algo fundamental para que a sociedade reforce os seus limites ticos e morais. Desconstruir uma imagem do mal pode levar as pessoas a simplesmente ignorarem os comportamentos hediondos. No fim das contas, acreditar nas foras malignas no deixa de ser uma forma de reforo s qualidades positivas do indivduo.