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A Paisagem Agrária da Região de Alcobaça

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A Paisagem Agrria da Regio de Alcobaa: continuidade e ruptura do quadro produtivo ao longo do sculo XIX.

Antnio Valrio Maduro Doutorando em Histria Contempornea pela Universidade de Coimbra

Frei Manuel dos Santos na Descrio do Real Mosteiro de Alcobaa fala da autosuficincia dos Coutos de Alcobaa. Refere o cronista que: Se fechassem com hum muro as mesmas terras, e coutos, tem dentro em si, sem haver necessidade de sahir fora, quanto he necessrio, e se pode desejar para delicia, e alimento da vida humana: carnes, gados, caa de todo o gnero, lacticnios, peixe; pam, vinhos e azeites, legumes () 1. Esta ideia de prodigalidade e abastana remete ilusoriamente para um mundo fechado sobre si prprio, mas a vida deste domnio mostra uma forte relao de mercado. Das terras de Alcobaa exportavam-se, sobretudo pela Barra de S. Martinho, muitos milheiros de fruta de caroo para Lisboa e outras comarcas, muitos moios de trigo, cevada e feijo branco com destino feira de Vila Franca e capital, pipas de vinho para Leiria, Santarm e Tomar. Volumosas tambm eram as produes de azeite, milho grosso, entre outros gneros agrcolas2. Leite de Vasconcelos, impressionado pela notvel capacidade de administrao e ordenamento do territrio dos monges cistercienses de Alcobaa, sustenta mesmo que () as povoaes dos Coutos () constituam verdadeiramente uma regio uma sub-diviso geogrfica da Estremadura Cistagana3. A arquitectura agrcola setecentista conduzida por Cister responde a um plano e a uma estratgia bem definida. Merc de obras vultuosas arrasam matagais e florestas, secam pauis, domesticam as linhas de gua, contribuindo decisivamente para a ampliao da renda da terra e definio de reas culturais. No extenso e rido plaino da beira Serra dos Candeeiros a primitiva mata de carvalhos vai cedendo passo ao olival. Estas fruteiras numa disciplina geomtrica tomam gradualmente conta do espao. Seguindo de perto os critrios da agronomia clssica buscam-se orientaes solares benficas e estabelecem-se compassos precisos de plantao, distanciando o tancho de nove em nove metros, contra dezassete metros das outras fileiras. Assegurava-se, assim, o quinho de terra imprescindvel para a boa frutificao e funda, evitava-se o ensombramento, facilitavam-se os1

SANTOS, Frei Manuel dos. (1979). Descrio do Real Mosteiro de Alcobaa (Alcobaciana:3).

(Leitura, introduo e notas por Aires Augusto Nascimento). Alcobaa, Adepa, p.20.2

B.N.L., cd.1490, fl.44. VASCONCELOS, Jos Leite de. (1980). Etnografia Portuguesa, Vol. II Lisboa, Imprensa Nacional

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Casa da Moeda, p.500.

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trabalhos da vareja, apanha e frete da safra e aprestava-se o solo para as lavouras de po, ao dar campo livre ao ferro dos arados e charruas. Olivais como o da Granja de Val Ventos (com cerca de 60.000 ps) ou do Santssimo Sacramento da Ataja (com 17.000 a 18.000) revelam a escala deste feito4. Em Val Ventos chegaram a almudar setenta pipas de azeite, exibindo as pias de pedra5, em que se albergava este leo, uma capacidade superior a 166 pipas (garantindo, assim, flego de arrecadao a foros e maquias, dificuldades de escoamento da produo e mesmo responder aos desafios de novos povoamentos)6. A par dos progressos verificados na olivicultura, a engenharia hidrulica conquista as terras de campo. Graas a um complexo sistema de valas de drenagem e regadio mobiliza-se para a arte agrcola o solo outrora submerso pela Lagoa da Pederneira. As aquosas e frteis terras da Maiorga e Valado recebem o milho grosso, cereal que pela sua excelncia produtiva (segundo Frei Manuel de Figueiredo de um alqueire lanado ao solo podiam esperar-se entre trinta a trinta e dois7) provoca uma verdadeira revoluo no domnio da cerealicultura. O po de milho conhecido por broa substitui o trigo (com fraca taxa de extraco) na alimentao das classes populares8. A difuso do mas reflecte-se nas penses devidas por arrendamento e aforamento de terras e meios de produo, nas doaes em gneros s igrejas e capelas. O sucesso da gramnea leva ao abandono dos milhos midos, convoca uma reestruturao do espao da debulha ao adoptar a eira quadrangular (de pedra) em detrimento da eira redonda (de terra) afecta matriz mediterrnica, introduz o malho como alfaia de debulha (quando o trigo requeria trilhos e

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A.H.M.F., Mosteiro de Alcobaa, cx.2193, Mapa demonstrativo dos bens pertencentes ao

supprimido Convento de S. Bernardo de Alcobaa, Seus Valores, e Rendimentos. Anno de 1834; A.H.M.F., Mosteiro de Alcobaa, cx.2193, Autos de Descrio dos Bens de Raiz do Mosteiro de Alcobaa, fl.35v.5

No territrio alcobacense a arte oleira dos potes e talhas era preterida pelas pias dos canteiros

que, embora mais dispendiosas, garantiam uma maior capacidade de reserva, evitavam os acidentes frequentes dos recipientes de barro e mantinham as propriedades organolpticas do leo.6

Sobre a histria de vida do olival monstico, veja-se: MADURO, Antnio. (2002). A Produo de

Azeite nas Terras de Alcobaa. Economia, Tecnologia e Relaes Sociais Sculos XVII a XX, (Terrenos e Perspectivas:2). Caldas da Rainha, Associao de Municpios do Oeste/Museu Regional do Oeste, pp.32-56.7 8

B.N.L, cd.1490, fl.43. Sobre o consumo de cereais no territrio dos coutos antes da divulgao do mas, veja-se:

GONALVES, Iria. (2000). Do Po Quotidiano nas Terras de Alcobaa (sculos XIV e XV) . In: Actas Cister, Espaos, Territrios, Paisagens, Vol.I, p.23.

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p de gado), multiplica as reas de seca e armazenamento (tulhas, espigueiros), d supremacia ao nmero de pedras segundeiras, face s alveiras ou trigueiras nos engenhos de moagem9. O acrscimo da superfcie cultivada acarretou, todavia, alguns dissabores. A supresso progressiva dos baldios, para alm de emagrecer as pastagens disponveis para os rebanhos e gado maior, condenou a agricultura mngua de adubos provenientes dos matos apodrecidos10. A economia agrria de Antigo Regime ( semelhana das agriculturas tradicionais do mundo actual) dependia, quase exclusivamente, do corte e roa de matos utilizados como fertilizantes, pelo que era fundamental encontrar um equilbrio entre reas de cultivo e incultos11. Esta realidade travou a emancipao global do pousio, a opo por novos afolhamentos e ter contribudo para um decrscimo da capacidade produtiva da terra. O afastamento de Cister no se materializou numa ruptura com o passado. A transferncia das Quintas e Granjas do Mosteiro para um nmero restrito de proprietrios deu continuidade ao modelo de explorao da terra, ao mosaico cultural dos cereais e fruteiras, perpetuou as condies e imposies dos arrendamentos e, na prtica, manteve o monoplio dos meios de transformao da produo agrcola. As grandes linhas estruturantes da poltica agronmica cisterciense de que j falmos, nomeadamente a plantao de olival nas faldas serranas e o desenvolvimento da mancha de regadio foram igualmente acarinhadas.

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Sobre o reflexo da adopo do mas na agricultura portuguesa, veja-se: RIBEIRO, Orlando.

(1987). Portugal, o Mediterrneo e o Atlntico, Lisboa, Livraria S da Costa, pp.115-118; RIBEIRO, Orlando; LAUTENSACH, Herman; DAVEAU, Suzanne. (1991a). Geografia de Portugal IV A Vida Econmica e Social. Lisboa, Edies Joo S da Costa, p.1009; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim. (1983a). Alfaia Agrcola Portuguesa Lisboa, Instituto Nacional de Investigao Cientfica, pp.20-23; PINA-CABRAL, Joo de. (1989). Filhos de Ado, Filhas de Eva. A Viso do Mundo Camponesa do Alto Minho. Lisboa, Publicaes D. Quixote, pp.35-36; CALDAS, Eugnio de Castro. (1998). A Agricultura na Histria de Portugal. Lisboa, E.P.N., pp.177-178.10

Sobre as polticas e prticas de aniquilamento dos baldios, veja-se: NETO, Margarida Sobral.

(1981). A Populao de Mira e a Desamortizao dos Baldios na segunda metade do Sculo XIX. In: Revista Portuguesa de Histria, Vol. XIX, pp.15-58; ABEL, Marlia. (1988). Os Baldios Portugueses em Perodo de Transio (1820-1910). In: Revista de Histria, Vol. VIII, Porto, pp.339-343; CAVACO, Cludio. (1999). O Bombarral e os seus baldios na segunda metade do sculo XIX. Bombarral, Museu Municipal; BRANDO, Maria de Ftima; ROWLAND, Robert. (1980). Histria da propriedade e da comunidade rural: questes de mtodo. In: Anlise Social, XVI, 61-62, pp.173-210.11

ESTABROOK, George. (1998). Maintenance of Fertility of Shale Soils in a Tradicional Agricultural

Systems in a Central Interior Portugal. In: Journal of Ethnobiology, 14, 1, pp.15-33.

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A agenda liberal teve poucos reflexos nas condies materiais e sociais de produo. A anlise dos contratos agrrios (arrendamento e aforamento) mostra que o quotidiano campons pouco ou nada se modificou. Para alm da questo da renda e suas oscilaes conjunturais, aos rendeiros endossado um sem nmero de obrigaes e vexaes. Determina-se o quadro de produo em funo do foro e logo os afolhamentos e rotaes; as lavouras e adubao; o exerccio dos granjeios de apoio e operaes fecundantes, arrogando-se o senhorio ao direito de vigiar a boa execuo dos trabalhos. Pede-se a reserva, em regime de exclusividade,,,,, da relva dos pomares e olivais para o gado do senhorio; interdita-se a cultura de po para seco nas terras de vinha e pomar; ordena-se, sem qualquer tipo de compensao ou reparo, que metam milheiros de bacelo, chantem tanches para rejuvenescer o olival, rvores de fruto como maceiras, pessegueiros, laranjeiras, etc; manda-se que abram poos, assentem eiras, levantem cmodos e reparem infra-estruturas agrcolas, conduzam a expensas prprias o cereal do foro para os celeiros e tulhas dos senhorios, vigiem matas, pinhais, lagares de azeite A letra dos contratos exibe uma maior virulncia denunciando com agudeza as relaes de poder e dignidade social. O olival continuou a ser a cultura de eleio. Aproveitando o termo do ordenamento senhorial e uma conjuntura favorvel supresso dos baldios, os camponeses multiplicaram as tomadias nas terras comuns para meter ps de oliveira. Esta onda de apropriaes tem o seu auge nas dcadas de sessenta e setenta do sculo XIX, passando, posteriormente, a Cmara a controlar a gesto dos baldios, ao aforar ou vender grande parte destas terras. Como resultado deste movimento popular o olival estendeu-se como uma mancha em papel mata-borro. A matriz de explorao do olival campesino no comunga, todavia, dos preceitos que os cistercienses dedicaram a esta cultura. A exiguidade do solo arrancado e prontamente murado delimita naturalmente o nmero de indivduos (da que a documentao reconhea o ttulo de olival a pouco mais do que uma dezena de rvores), mas a vontade do campons em possuir mais fruteiras reduz os intervalos de plantao, diminuindo, assim, o cubo de terra vital, acresce, ainda, m regra de plantao a falta de conhecimentos que permitam uma assistncia cultural ajustada, complexo de factores que se traduzem num ndice de produo seguramente mais modesto12. No campo das tecnologias de transformao no se assiste a qualquer inovao digna de nota. Ao nvel dos sistemas de moagem o motor hidrulico continua a assegurar o grosso da moenda relegando o motor elico (modelo de torre de madeira ou pedra) para uma posio12

Sobre a expanso do olival campons, veja-se: MADURO, Antnio. (2002). A Produo de Azeite

nas Terras de Alcobaa. Economia, Tecnologia e Relaes Sociais Sculos XVII a XX, pp.57-69. Veja-se tambm: GUERRA, Paulo. (1944). A Cultura da Oliveira no Macio Jurssico de Aire e Candeeiros. Relatrio Final do Curso de Engenheiro Agrnomo do Instituto Superior de Agronomia (doc. polic.), pp.37-42; RIBEIRO, Orlando. (1979). Significado Econmico, Expanso e Declnio da Oliveira em Portugal. In: Boletim do Instituto do Azeite e Produtos Oleaginosos, VII, 2, pp.66-70.

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subalterna e complementar. Os moinhos de rodzio que na maior parte dos Estados da Europa ocidental j tinham sido preteridos a favor da azenha, mais evoluda e eficaz, continuam em Portugal, e em particular no territrio alcobacense, a deter uma posio dominante13. Com a queda do regime senhorial a democratizao da actividade de moagem multiplica os engenhos no viso dos montes e no leito das ribeiras e o moleiro adquire o estatuto de proprietrio. Em Alcobaa, no curto perodo de apenas duas dcadas, a fazer f numa estatstica de 1862, o nmero de unidades movidas a gua quase quadruplicaram e as tocadas a vento quintuplicaram14. Contudo, a sua capacidade de laborao est limitada ao nmero de pedras (uma m ou quanto muito um par) e s fontes energticas que as tocam. Os moinhos elicos apenas podiam trabalhar com segurana e rentabilidade entre os meses de Julho a Outubro e, mesmo entre este perodo, era usual o vento suo impedir o trabalho das velas na parte da manh. Por seu turno, os moinhos hidrulicos, instalados em ribeiras e riachos ou correntes de encosta, no se aventuravam a laborar mais de trs a quatro meses num ano. No Inverno, o leito de cheia alagava o engenho ou fazia pejar a roda, e no Vero, o magro curso de gua limitava a moenda gua retida nas presas, quando no retinha de vez a pedra andadeira (alveira ou segundeira). Os grandes edifcios de moagem do Mosteiro (que chegam a albergar entre trs a quatro casais de ms a trabalhar ininterruptamente ao longo do ano15) transitam para as mos de alguns notveis locais que, efectivamente, controlam a nobre actividade de reduzir o cereal a farinha16. A modernidade teima em no chegar. Poucas so as intervenes que estas unidades de maior vulto13

Veja-se: OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim. (1983b).

Tecnologia Tradicional Portuguesa. Sistemas de Moagem. Lisboa, INIC, p.77; DIAS, Jorge. (1993a). Moinhos Portugueses. In: Estudos de Antropologia, Vol.II, p.211.14

O relatrio camarrio de 1839 mencionava apenas 40 moinhos de gua e 17 de vento. A.D.L.,

Governo Civil, Actividades Econmicas, Agricultura, cx.8 (1834-1854), Reflexes sobre a industria agricula do Concelho de Alcobaa (18 de Outubro de 1839) .15

Exceptua-se os perodos dedicados laborao dos lagares de azeite ou de outro meio de O proprietrio Bernardo Pereira de Sousa toma conta do conjunto de Chiqueda, nomeadamente

produo acoplado aos moinhos de gua.16

um moinho de rodzio (com quatro pedras) e um (lagar de azeite com seis varas) e do conjunto da Fervena com dois moinhos de rodzio (com sete pedras), uma azenha (com 2 pedras) e o maior lagar hidrulico dos coutos (com dez varas). Veja-se: A.N.T.T., cartas de arrematao, lv.484, registos 619 e 620; A.N.T.T., cartas de arrematao, lv.434A, registos 3.632, 3.635, 3.663; A.D.L., C.N.A., 1of., lv.3, fls.81-82, 28 de Julho de 1854. Outro notvel local adquire o domnio til do moinho da Praa, do moinho do Mosteiro e a propriedade plena do moinho da Fontinha (contando num total com quinze pedras). Veja-se: A.D.L., C.N.A., 1of., lv.3, fls.23-26, 30 de Janeiro de 1837; A.D.L., C.N.A., 9of., lv.2, fls.18-22, 18 de Maio de 1838; B.M.A., lv.6 dos Acrdos das Sesses Camarrias da C. M. A., fls.45-47, 10 de Fevereiro de 1837.

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conhecem. As reformas restringem-se ao levantamento e ampliao dos audes, edificao de novas valas e instalao de novos engenhos correntes e moentes. Estas modificaes, embora ofeream maior capacidade produtiva s casas de moinhos, persistem no sistema de rodzio. S nas ltimas dcadas do sculo XIX que as azenhas principiam a destronar os moinhos de rodzio, numa altura em que as novas indstrias requerem os seus lugares privilegiados de assentamento. Idntico cenrio de atavismo tecnolgico e de rotina vivem os lagares de azeite. A passagem desta indstria do Mosteiro para as mos de algumas famlias no introduz qualquer registo de inovao. As instalaes permanecem tal e qual foram concebidas, as tecnologias de extraco mantm o seu carcter arcaico, penalizando a produo a esperas interminveis, as prticas erradas de fabrico do azeite no so alteradas, a maquia continua a incidir sobre a dzima do azeite laborado. As crticas que Dalla Bella tinha formulado ao funcionamento dos lagares de azeite so repetidas at exausto pelos agrnomos oitocentistas. Denunciam as deficientes condies de entulhamento17 como responsveis pela deteriorao dos frutos (j por si bastante lesados pelo costume da apanha tardia, pela no diferenciao dos frutos sos dos gafados e podres, da varejadura com pesadas varas de castanho), a salga excessiva18, as pssimas condies higinico-sanitrias das instalaes, alfaias e equipamentos (recordamos o mau estado17

O Agrnomo Ferreira Lapa, na sua Technologia Rural, inventaria um corpo de argumentos

para explicar a banalidade do entulhamento da azeitona e as dificuldades materiais e psicolgicas da sua erradicao. Do-se como fundamentos desta prtica: 1 Que a azeitona precisa de fermentar um tanto para amolecer a carne e despejar melhor o azeite; 2 Que a azeitona depois de colhida ainda continua a elaborar leo; 3 Que enquanto est entulhada, transsua a azeitona e expelle a agua da vegetao, resultando sair depois o leo mais puro; 4 Que nem sempre possvel moer a azeitona, logo depois da colheita, porque nem todos tm moinho e lagar seus, sendo preciso maior parte dos colheteiros esperar vez no moinho banal para fazer o seu azeite; 5 Que a azeitona precisa de estar amontoada com sal para produzir um azeite mais fino e saboroso, o qual limpa facilmente. LAPA, Joo Igncio Ferreira. (1868). Technologia Rural ou Artes Chimicas, Agricolas e Florestaes. Parte II. Lisboa, Typographia da Academia, pp.27-28.18

O uso e abuso de sal para conservar a azeitona (reforava-se a salga quando se previa uma

lagaragem tardia) contribua, paradoxalmente, para a sua degradao. A falta de condies das tulhas impediam que a gua da vegetao saturada de sal se pudesse escoar. A azeitona permanecia imersa numa salmoura ftida meses a fio. Ferreira Lapa contestava a crena dos benefcios da salga: Ns temos feito azeite de pesos eguaes de azeitona fresca, e de azeitona curtida em salmoura, e temos achado que o desta ultima aparta-se com mais facilidade, sae mais delgado, mas menos saboroso e coisa de uma quarta parte menos avultado. LAPA, Joo Igncio Ferreira. (1868). Technologia Rural ou Artes Chimicas, Agricolas e Florestaes, pp.33-34.

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das seiras de esparto19), a incapacidade do moinho portugus em dar boa moenda azeitona20, o abuso das queimas21, a juno do azeite das trs espremeduras numa nica tarefa de barro22, a resistncia dos lagareiros em aceitarem novas prticas23. Acresce a este rol de condicionalismos a moenda a sangue e a fraca presso exercida pelas prensas de vara sobre as seiras, o que se reflecte numa taxa de extraco bastante discreta24. O monoplio do fabrico do azeite apenas repartido, sujeitando-se o campons, em anos de safras generosas, a ver a sua colheita sujeita ao entulhamento por largos meses. Ao contrrio do que sucedeu com os engenhos de moagem, os mestres lagareiros no alcanaram a distino19

O mau estado de conservao das seiras merece sucessivas repreenses. Dalla Bella elogia o

seu fabrico, mas lamenta a falta de cuidado dos lagareiros. Estas (as seiras) so feitas de esparto muito bem fabricadas mas to mal conservadas que posto que se lavem, fedem ainda ao rano; e com as mesmas collocadas sobre uma pedra preparada para este fim, espremem aquella massa, e uso dellas indiferentemente seja a massa de azeitonas boas e bem conservadas, ou de azeitonas podres que cheiro mal. DALLA BELLA, Joo Antnio. (1784). Memrias e Observaes sobre o Modo de Aperfeioar a Manufacturao do Azeite de Oliveira em Portugal, p.50. De facto, no existia qualquer espcie de cuidado na preservao das seiras. Arrecadadas sem preceito, com restos de bagao enrijecem e colam-se, dificultando a sua abertura no ano seguinte. OLIVEIRA, Henrique Coelho de. (1971). O Fabrico do Azeite. Estudo lingustico etnogrfico, Tese de Dissertao de licenciatura em Filologia Romnica apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (doc. polic.), pp.155-156.20

Dalla Bella denuncia as limitaes deste engenho e recomenda a adopo do modelo genovs.

Uma primeira crtica vai para a cobertura a madeira do pio. Segundo os lagareiros, o forro de tbuas era indispensvel, caso contrrio perdia-se azeite pelas juntas das pedras e a frialdade faria com que a massa no libertasse o leo. Contra-argumenta que o tabuado adultera o azeite desvalorizando-o e quanto s percas de leo manda que se unam as pedras com betume. A sua ateno recai ainda sobre a reduzida eficcia deste moinho que necessitava de trs horas para realizar uma moedura. No engenho genovs as galgas de maior dimetro, mas de talho mais estreito, sofriam menor resistncia e exerciam maior presso, levando a bom termo a moenda no espao de apenas uma hora. Outra inovao consistia na incluso de uma pea metlica, designada por raspadeira, que retira a massa que se agarra ao bordo do pio e a lana nos corredores das galgas, dispensando, assim, o manejo da p. DALLA BELLA, Joo Antnio. (1784). Memrias e Observaes sobre o Modo de Aperfeioar a Manufacturao do Azeite de Oliveira em Portugal, Lisboa, Na Officina da Academia Real de Sciencias, pp.61-64, 67.21

Na opinio de Joaquim Vieira Natividade, a queima, embora nefasta, constitua um imperativo

face s deficientes condies da lagaragem. Relata o autor: () abusava-se da calda com gua fervente, no bagao e no azeite, para facilitar a extraco ou depurao do leo, porque nos antigos lagares, casares de telha v e pavimento trreo, o frio tornava impossvel sem esse

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de proprietrios dos meios de produo. O investimento excessivo, aliado sazonalidade da indstria, inibiu, de facto, esta aventura. A tela cultural dos campos de Alcobaa segue de perto a herana monstica. A geografia da produo, as qualidades dos frutos da terra, as rotaes culturais, as tcnicas e prticas de cultivar, cuidar e colher, assim como os meios de conservar e transformar os gneros agrcolas, pouco ou nada mudam ou inovam. Mas a mudana alcana alguns sectores, em que se incluem a gesto do espao florestal e o esvaziamento dos baldios, a cultura do arroz, gramnea verdadeiramente revolucionria, e a substituio da vinha tradicional e reforma da tecnologia e mtodos de fabrico. A floresta retaguarda imprescindvel ao fomento agrcola sofre uma hecatombe ao longo do sculo XIX. Como j vimos, as matas de carvalhos que enfeitavam a charneca da beira Serra dos Candeeiros j tinham sido brutalmente diminudas no seu esplendor no decurso do sculo XVIII, recurso o trabalho no Inverno. NATIVIDADE, Joaquim Vieira. (sda). O Azeite em Portugal. In: NATIVIDADE, J. V. Obras Vrias, Vol. V, p.44.22

O azeite das trs espremeduras rene-se numa nica tarefa. Este costume foi, veementemente,

condenado pelos agrnomos desde a Antiguidade Clssica, da os romanos pugnarem por dotar os lagares de trs vasilhas, para receber o azeite de cada espremedura respectivamente. LAPA, Joo Igncio Ferreira. (1868). Technologia Rural ou Artes Chimicas, Agricolas e Florestaes, pp.58-59.23

Veja-se: DALLA BELLA, Joo Antnio. (1784). Memrias e Observaes sobre o Modo de

Aperfeioar a Manufacturao do Azeite de Oliveira em Portugal, p.59; LAPA, Joo Igncio Ferreira. (1868). Technologia Rural ou Artes Chimicas, Agricolas e Florestaes, pp.27-30; RADICH, Maria Carlos. (1996). Agronomia no Portugal Oitocentista. Uma Discreta Desordem. Oeiras, Celta Editora, pp.94-104.24

A substituio da arcaica tecnologia de vara e dos moinhos de sangue tardou demasiado a

efectuar-se. Como esclarece Marie-Claire Amouretti: Quase todos os processos de prensagem inventados na Antiguidade ainda coexistiam no incio do sculo XIX: toro, esmagamento em almofariz, prensas de vara com contrapesos simples, prensas de vara e parafuso ou prensas de parafuso. Enquanto as prensas de alavanca ou alavanca com contrapeso, desapareceram da produo de azeite, as outras permaneceram. AMOURETTI, Marie-Claire. (1998). Produo de Azeite: uma Histria Original da Tecnologia, In: Enciclopdia Mundial da Oliveira, p.28. Jos de Campos Pereira mostra a diferente capacidade de extraco entre os vrios mecanismos. Este autor, na sua obra "A Propriedade Rstica em Portugal", estima que um lagar ordinrio, laborando dia e noite, produza quatrocentos litros de azeite. Calcula, ainda, que nos lagares de varas ou de parafuso cem quilos de azeitona rendam doze litros de azeite, cinquenta e um de bagao e o resto de gua-rua. PEREIRA, Jos de Campos. (1915). A Propriedade Rstica em Portugal. Lisboa, Imprensa Nacional, pp.239-24.

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sendo substitudas pelas plantaes extensivas de olival. Outra interveno letal faz-se sentir nos alvores do sculo XIX, devido necessidade urgente de madeira para o arsenal da marinha, o que rasgou densas clareiras na mata que os povos sem terra aproveitaram para semear25. Tambm o labor incontrolado de carvoeiros26 e colectores de casca para curtumes27 provocou danos irreparveis na vegetao. Com o afastamento da Ordem Cisterciense e a privatizao de grande parte do anel florestal, principia, de facto, o declnio das matas de folhosas. As matas do Vimeiro (que incluam mais precisamente as matas do Gaio, da Roda, do Canto ou da Ribeira, da Mesta ou das Mestras), o maior ncleo de carvalhos e sobreiros dos antigos coutos, sofrem entre as dcadas de quarenta e cinquenta uma sangria total que s deixa de p algumas rvores, nomeadamente carvalhos e sobreiros sementes para assegurarem a proviso de sementes. Esta razia obriga a uma mudana do regime de explorao, passando a privilegiar-se o sistema de talhadio em detrimento do alto fuste28. As revolues do talhadio (de vinte em vinte anos) esgotavam os nutrientes do coberto florestal e as toias inevitavelmente sucumbiam. Associado a este sistema de explorao intensivo, a apanha regular da manta morta (com apenas trs a quatro anos de intervalo) impedia o rejuvenescimento da mata ao tirar-lhe substncia e ceifar as jovens rvores. Tambm o odio contribuiu para a desolao do carvalhal. O pinheiro bravo, o pinheiro manso, o castanheiro, e mais tarde o eucalipto tomam o lugar do antigo coberto de carvalhos 29. Apenas na mata da Roda sobrevivem trechos de carvalho de alto fuste. As necessidades de lenha e combustvel, na conjuntura da primeira guerra mundial, contraem mais ainda o espao do carvalhal. A ltima ameaa vem com a difuso da pomicultura que ocupa os vales mais frteis30.

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Sobre a dimenso das matas e avaliao das suas madeiras, veja-se: A.H.M.F., Mosteiro de

Alcobaa, cx.2193, Relatrio do Corregedor Interino de Alcobaa Francisco Pimentel de Mendona sobre as matas desta circunscrio, (1 de Julho de 1834). Declara, este autor, que as matas, no obstante o derrote, possuam madeiras de prstimo, ou seja madeiras apropriadas para empreitadas navais.26

B.M.A., lv.11 dos Acrdos das Sesses da C.M.A., fls.146-147, 3 de Janeiro de 1861; B.M.A., B.N.L., cd.1490, fl.50. NATIVIDADE, Joaquim Vieira. (1929). O Carvalho Portugus nas Matas do Vimeiro, Relatrio do

lv.13 dos Acrdos das Sesses da C.M.A., fls.5-6, 13 de Abril de 1864.27 28

Curso de Engenheiro Silvicultor do Instituto Superior de Agronomia (doc. polic.), p.21.29

NATIVIDADE, Joaquim Vieira. (1929). O Carvalho Portugus nas Matas do Vimeiro, pp.120-

124,137,142-143,148. Sobre a destruio das matas de folhosas pelo pinhal, veja-se: DEVYVareta, Nicole. (1999). Investigacin sobre la Historia Florestal portuguesa en los siglos XIX y XX: Orientaciones y Lagunas. In: Historia Agraria, 18, pp.73-76.30

NATIVIDADE, Joaquim Vieira. (1929). O Carvalho Portugus nas Matas do Vimeiro, pp.20, 22.

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A explorao dos soutos cercanos ao Mosteiro mantm, at ao sculo XX, o regime de explorao em talhadio (com o corte entre quatro a cinco anos31), tendo as varas aplicao nas artes de canastraria/cestaria grossa (cestos, cabazes, cabaos, canastras, poceiros, etc.) e tanoaria (arcaria de madeira para os tonis do vinho do Porto). Assiste-se a partir da segunda metade do sculo XIX, at s primeiras dcadas do sculo XX, migraes sucessivas de canastreiros provenientes de guas Belas (Ferreira do Zzere) e de Marvo (Portalegre). O pinheiro uma das espcies de introduo mais recente no espao fsico dos coutos. Frei Manuel de Figueiredo escreve, no final do sculo XVIII, que os moradores principiaram a semear pinhais32. O pinhal semeado, sobretudo, nas reas costeiras, servia de travo ao avano dunar e aos ventos martimos to letais s delicadas culturas praticadas nas extensas campinas do Valado e Alfeizero. As suas madeiras serviam de tabuados para construo civil e naval, lenhas para combustvel que vo animar os maquinismos de indstrias de fiao e tecelagem, cermicas, vidreiras, para os fornos de carvo e cal, telha e tijolo, padarias, alambiques, etc. A explorao do pinhal tornou-se num objectivo industrial, ultrapassando o primado da auto-suficincia. As madeiras eram exportadas em toros pela falta de engenhos hidrulicos de serrao. A partir da dcada de cinquenta do sculo XIX, a madeira era expedida do pinhal atravs do comboio americano, em que os vages atestados de madeira eram puxados por juntas de gado bovino33. A madeira, que no era consumida pela indstria local ou regional, era exportada por dois iates ancorados no porto de S. Martinho. A indstria de resinagem constituiu mais um factor de rentabilidade do pinhal, s no ocaso do sculo XIX sangraram-se mais de 400.000 rvores nos concelhos de Alcobaa e Leiria34. Ao nvel das plantas, a primeira novidade chega com o arroz. O arroz no s mais uma cultura, a juntar a tantas outras. A lgica do arrozal furta-se malha pr-capitalista do autoconsumo, trazendo a terra para a ribalta do mercado. Os ensaios iniciais deram-se por mo dos

31 32 33

B.N.L., cd.1493, fl.41. B.N.L., cd.1490, fl.42. Sobre os contratos estabelecidos com os boieiros envolvidos no transporte das madeiras, veja-se:

A.D.L., C.N.A., 9of., lv.24, fl.30, 20 de Dezembro de 1863; 9of., lv.23, fl.73v, 25 de Janeiro de 1863.34

Veja-se: Baptista, Maria Carlos. (1987). A Agronomia Portuguesa no Sculo XIX. A Imagem da

Natureza nas Propostas Tcnicas, Tese de Dissertao de Doutoramento apresentada ao Instituto Superior de Agronomia (doc. polic.), p.381; Baptista, Maria Carlos. (1991). A Silvicultura em Portugal no Sculo XIX. In: Ler Histria, 22, p.60.

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monges na dcada de vinte35. Mas a cultura s dispara por meados do sculo XIX 36. Cativados os agricultores pelas safras das suas searas, o arrozal coloniza as terras de campo, entrando em competio directa com o mas. O milho expulso das terras de maior circulao de guas ou pura e simplesmente entra no regime de alternncia cultural. Chega mesmo a encarar-se o arroz como uma ddiva celestial, a fim de reparar os avultados prejuzos que a arte agrcola vinhateira sentia com as investidas do odio37. Mas o arroz aqutico38 no consegue sobreviver ao impacto da malria nos povoados que viviam portas meias com os arrozais. Os jornaleiros que labutam nas incessantes mondas do arrozal so, alis, as suas vtimas mais frequentes. A resistncia dos grandes lavradores prolonga o prazo de vida do arrozal, mas o combate est perdido. A indignao pblica to bem expressa nas palavras de Andrade Corvo quando, apavorado, relata que 186 hectolitros de arroz correspondem ao preo de uma vida, conduz a uma mudana de atitude desfavorvel sobrevivncia da cultura do arroz a qualquer custo. O cerco de disposies e regulamentos e uma fiscalizao mais presente limitam seriamente a rea geogrfica desta cultura, ao exigirem que a gua flua livre permanentemente nos canteiros e que os campos de arroz se afastem dos povoados. Em Alcobaa, a cultura tem os seus dias contados, passando a partir da dcada de sessenta a ter uma expresso meramente residual39.

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A.D.L, Governo Civil, Relatorio sobre a Cultura do Arroz em Portugal e sua Influencia na Sade

Publica Apresentado a Sua Excelncia o Senhor Ministro dos Negcios do Reino pela Commisso creada por Portaria de 16 de Maio de 1859, p.27.36

A.D.L., Governo Civil, Actividades Econmicas, Agricultura, cx.8, Mapa Estatstico Addicional da este atributo salvfico que lhe imputado pelo Governador Civil de Leiria na alocuo que

Produco de Arroz (27 de Janeiro de 1849) .37

profere na Junta Geral em 30 de Julho de 1854: Mas parece, Senhores, ver-mos em tudo o dedo da Providncia. Na ocazio em que to grande flagello ataca a nossa industria agrcola, vem nessa mesma industria florescer em mxima fora um outro gnero riqussimo. Podeis compreender que me refiro cultura do arroz. Todos vs sabeis que o arroz se cultiva anos neste distrito, sendo at um dos do reino onde mais se semeia. Mas vs sabeis tanto que esta questo, involvida numa outra no menos importante, a da sade publica, tem sido longamente tratada, e por fatalidade, ainda no decidida. Devo porm declarar-vos qual o principio filozofico que prezide a esta matria, segundo a legislao actual. O principio, Senhores, no o da restrio do arroz: ao contrrio, o da maior latitude. Industria nacional, deve ir conforme os princpios da liberdade sancionados pela Carta do Paiz, at onde se conhecer evidentemente que no se torna nociva sade. a garantia dos direitos liberais aplicada a este ramo agrcola. O Leiriense, 137, 27 de Outubro de 1855.38

Em contrapartida as experincias com arroz de sequeiro no se mostram vantajosas para o

lavrador. O Leiriense, 137, 27 de Outubro de 1855.

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A vinha protagoniza o cenrio de mudana. Antes da trade mortfera (odio, filoxera e mldio), a cultura da vinha vive de prticas e rotinas ancestrais. As vinhas exploradas directamente pelo Mosteiro distinguiam-se da vinha camponesa pela rea de que dispunham, pela rejeio da consociao com fruteiras, pela regra de plantao, pela defesa do solo das culturas intercalares, pela preveno do trabalho com alfaias aratrias. Tudo o resto era idntico. Cultura exigente do lavrador, pede surribas fundas para meter bacelo, escavas e cavas para limpar e fertilizar o solo (no se utilizavam estrumes para evitar uma sobreproduo das vinhas e logo um enfraquecimento dos vinhos), a poda e a empa para equilibrar as videiras e garantir a sua frutificao, a mergulhia e a enxertia para renovo dos povoamentos, entre tantas e diversificadas mobilizaes culturais. Quanto aos inimigos a vinha contava apenas com as contrariedades climticas (geadas e saraiva) e com as pragas do pulgo e lagarta40. As castas dominantes no povoamento eram brancas, restringindo-se o uso das tintas para efeitos de cobertura. O fabrico do vinho na comarca de Alcobaa seguia o mtodo de bica aberta, princpio que se adequava como uma luva ao regime de monoplio dos lagares monsticos. De facto, os camponeses s se podiam servir do lagar por um perodo de 24 horas, o que, na prtica, impedia o fabrico de vinhos de curtimenta41. A lotao dos brancos, que fermentavam parte, com tintas (cerca de 20 a 25%) conferia cor ao vinho42. As colagens eram feitas com sangue de boi ou39

A proibio da cultura no distrito de Leiria d-se no ano de 1871. MENDIA, Henrique de. (1883).

A Cultura do Arroz no Districto de Coimbra. Lisboa, Imprensa Nacional, p.164.40

Para evitar as tempestades que apodreciam as uvas ou as destroavam, rogava-se a Santa

Brbara, advogada dos troves, mandando tanger os sinos dos campanrios das Igrejas, ou, em alternativa, disparavam-se peas de artilharia de calibre 12 ou superior, para provocar viraes na atmosfera favorveis ao afastamento ou erradicao da malfica tempestade. Quanto ao pulgo e lagarta encarregavam-se ranchos de mulheres para o colher, cenrio cultural que se prolonga at ao sculo XX. Veja-se: BRAGA, Alberto. (1936). As Vozes dos Sinos na interpretao popular e a indstria sineira em Guimares, In: Lusitana, XXXIV, 1-4, pp.33-34. Veja-se tambm: NATIVIDADE, Joaquim Vieira. (sdb). A Regio de Alcobaa. Algumas Notas para o Estudo da sua Agricultura, Populao e Vida Rural, p.126; COSTA, Paulo; GALANTE, Helena. (1995). Cadaval. Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, p.415; COSTA, Paulo. (1997). O Sino: Voz da Aldeia, Voz de Deus, In: Stios e Memrias., 3, pp.7-8.41

ESTRELA, Jorge. (1994).Vinho Senhorial e Vinho Popular na Alta Estremadura Medieval, p.196.

In: Actas do Congresso O Vinho, a Histria e a Cultura Popular, I.S.A., pp.195-198.42

Para dar cor aos vinhos contava-se quase exclusivamente com a adio de castas tintureiras que

curtiam parte. Antnio Espargoza menciona, todavia, que, no distrito de Leiria, falta de tintas utilizavam amoras silvestres e bagas de sabugueiro. ESPARGOZA, Antnio Maria dAlte. (1880). A Vinha e o Vinho no Districto de Leiria. Relatrio Final do Curso de Engenheiro Agrnomo do Instituto Superior de Agronomia (doc. man.), p.84.

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carneiro e claras de ovos43. Para temperar e adubar os vinhos, os cistercienses serviam-se exclusivamente do arrobe44 dos mostos brancos (cerca de meio almude por tonel), de cascas de laranja e mas camoesas. J o estgio dos vinhos era feito em vasilhas de choupo, madeira pouco apropriada para este fim45. A partir da segunda metade do sculo XIX, a previsibilidade cultural d lugar incerteza. Com o odio a lavoura vinhateira vive a primeira grande crise. A vinha nacional sentiu os primeiros contratempos em 185246. No ano de 1861, a produo do concelho de Alcobaa de apenas 120

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Quando os vinhos se toldavam, no obstante a aco da trasfega, o que era caso raro nos vinhos

de bica aberta, aplicava-se uma colagem. Nas pipas e cascos vertiam sangue de boi e claras de ovos (a albumina contribua para a clarificao mais rpida dos vinhos). De seguida, batiam-se os vinhos rolando os tonis e aguardava-se o processo de decantao que os agentes de clarificao propiciavam. B.N.L., cd.1490, fl.52. Para limpar os brancos de bica aberta, tambm era usual lanar-se na vasilha uma poro de trigo trems. Outros mtodos foram aplicados nas colagens ou engomagens, como o barro, o gesso, a batata, a cola de peixe, etc. O sangue de boi (tambm se utilizava o de carneiro) tinha de ser fresco e as claras, numa mdia estimada de 24 por pipa, eram batidas previamente. GYRO, Antnio Lobo. (1822). Tratado Theorico e Pratico da Agricultura das Vinhas, da Extraco do Mosto, Bondade e Conservao dos Vinhos e Destilao das Aguardentes. Lisboa, Imprensa Nacional, p.166.44

O arrobe, produto j utilizado pelos gregos, cartagineses e romanos, era obtido a partir do mosto

de uva fresco (privilegiava-se o arrobe feito de uvas brancas desengaadas) que era fervido em lume brando at evaporar cerca de metade a dois teros do lquido. Veja-se: AMZALAK, Moses Bensabat. (1953). Cato e a Agricultura Lisboa, Editorial Imprio, pp.56-57; VANDELI, Alexandre Antnio. (1813). Resumo da Arte de Destilao. Lisboa, p.76. Antnio Augusto de Aguiar d-nos outra receita utilizada na confeco do arrobe. Em vez de utilizar o mosto, extraem-se as uvas dos cachos que vo a ferver em lume brando. Para atribuir maior tempero ao arrobe juntavam-se-lhe outros frutos () quando pela doura se mostrarem dignos de semelhante honraria. AGUIAR, Antnio Augusto de. (1876) Conferencias sobre Vinhos, Lisboa, Typographia da Academia Real de Sciencias, p.175. Para alm de adubar os vinhos, tinha a funo de os conservar, da constituir uma prtica obrigatria arrobar os vinhos que tinham de ser embarcados. Por tonel (equivalente a duas pipas ou superior) acrescentava-se meio almude de arrobe no perodo em que decorria a fermentao tumultuosa. ALARTE, Vicncio. (1712). Agricultura das Vinhas e tudo o que Pertence a ellas at Perfeito Recolhimento do Vinho, e Relao das suas Virtudes e da Cepa, Vides, Folhas e Borras. Lisboa, Na Officina Real Deslandesiana, p.146. Batalha Reis reputava esta prtica de admirvel pela economia que trazia ao vinhateiro, que assim evitava a adio do acar, muito mais dispendioso, ou o recurso aguardentao para aumentar o grau alcolico e salvar os seus vinhos

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pipas, quando a mdia das dcadas anteriores rondava as 4.000 pipas47. O surto do odio implicou uma reforma da vinha. Para fugir das humidades favorveis ao progresso dos fungos, a vinha deixa as baixas frteis e aloja-se nas encostas solarengas. A mudana de solo implica compensaes. As vinhas passam a beneficiar de cavas tempors, de um maior espaamento entre indivduos e adubaes48. As castas brancas mais susceptveis ao contgio so substitudas pelas tintas, o que se traduz no s numa profunda alterao do povoamento, como numa alterao radical do fabrico dos vinhos. O mtodo da bica aberta vai dar lugar curtimenta, rompendo com a tradio e a arte vincola cisterciense. Vencido o odio, um inimigo mais poderoso perfila-se no horizonte. A praga da filoxera deita a perder toda a vinha europeia. Em 1867 atinge os vinhedos do Douro, a fica retida nesse espartilho orogrfico49. Mas, no incio da dcada de oitenta, o bloqueio deixa de actuar e o da queima. REIS, Antnio Batalha. (1880). Vindima e Fabrico do Vinho. In: Jornal Oficial de Agricultura, Artes e Cincias Correlativas, Vol.III. Lisboa, Imprensa Nacional, pp.102-104.45

Veja-se: B.N.L., cd.1490, fl.52; VANDELI, Alexandre Antnio. (1813). Resumo da Arte da

Destilao, pp.69-70; GYRO, Antnio Lobo. (1822). Tratado Theorico e Pratico da Agricultura das Vinhas, da Extraco do Mosto, Bondade e Conservao dos Vinhos e Destilao das Aguardentes, pp.150-151. Posteriormente, a madeira de castanho toma conta das vasilhas de arrecadao dos vinhos, o que se deve, provavelmente, ao incremento da explorao dos soutos de talhadio, to abundantes no territrio coutado de Alcobaa. Antnio Espargoza escreve, em 1880, que a madeira de castanheiro era a mais utilizada no preparo das vasilhas vinrias. Segundo este autor, comeou-se a fazer uso do pinho sem se querer saber das contrariedades que esta resinosa obrava nos vinhos, adulterando-lhes o paladar e o aroma. Para disfarar o sabor desagradvel transmitido pela madeira, os tanoeiros untavam as vasilhas com um preparado denominado guezena (mistura de sebo e azeite). ESPARGOZA, Antnio dAlte. (1880). A Vinha e o Vinho no Districto de Leiria, p.69. Veja-se tambm: VEIGA, Jos Nobre da. (1954). Tanoaria e Vasilhame, Lisboa, Livraria S da Costa, p.27.46

AMARO, Pedro. (1996). A Proteco das Plantas, In: BRITO, Joaquim Pais de, coord., O Voo

do Arado. Lisboa, Museu Nacional de Etnologia, p.266; MACEDO, D. Antnio de Sousa. (1855). Estatstica Administrativa do Distrito de Leiria. Leiria, Typographia Leiriense, p.68.47 48

A.D.L., Governo Civil, Actividades Econmicas, Agricultura, cx.10 (1860-1865). MATIAS, Maria Goretti. (2002). Vinho e Vinhas em Tempo de Crise: o odio e a filoxera na regio O primeiro foco da infeco registado na Primavera de 1867 na Quinta da Azinheira

Oeste, 1850-1890. Caldas da Rainha, Patrimnio Histrico, pp.68-69; 233-234.49

(Gouvinhas-Sabrosa), em pleno corao do Douro vinhateiro. MACHADO, J. T. Montalvo. (1983). A Filoxera na Regio Duriense. In: O Vinho na Histria de Portugal Sculos XII-XIX. Ciclo de Conferncias da Academia Portuguesa da Histria. Porto, Fundao Eng. Antnio de Almeida, p.347.

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agressivo insecto migra no territrio nacional. O distrito de Leiria conhece os primeiros focos em 188250 e passados 5 anos invade as vinhas recm plantadas do concelho de Alcobaa. Para contrariar a difuso do devastador insecto testaram-se mil e um meios. A submerso prolongada da vinha51, o ensaibramento52 ou o recalque dos ps53 da videira revelaram algum sucesso, mas estes mtodos eram excepcionais, com custos elevados e uma fraca expresso geogrfica. As aplicaes do sulfureto de carbono tiveram maior amplitude. Mas o insecticida no provava em todos os tipos de solos (nomeadamente os de estrutura calcria e argilosa) e como nem todos os vinhateiros cumpriam a sua parte, as constantes reinfestaes obrigavam a repetir anualmente esta operao. De facto, na regio de Leiria, a sulfuretao s atrasava o avano da ndoa filoxrica54. A nica esperana de salvar a vinha residia nas americanas. Encontradas as afinidades inicia-se o repovoamento das castas europeias sobre cavalos americanos, maugrado o traumatismo que o arranque colocou aos lavradores. Com a filoxera nasce uma nova vinha, com uma matriz cultural de explorao muito diversa da precedente. Concede-se vinha os solos de melhor qualidade e no se regateiam adubaes para responder s superiores qualidade de frutificao destes hbridos; estabelecem-se regras de alinhamento e compasso que vo permitir o trato das charruas vinhateiras e os viros

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AZEVEDO, Joaquim Jos de. (1891). A Phylloxera na 4 Regio Agronmica. Relatrio Final do A submerso consistia num alagamento prolongado das vinhas (cerca de quarenta dias). Com

Curso de Engenheiro Agrnomo do Instituto Superior de Agronomia (doc. man.), p.11.51

esta metodologia afogava-se o insecto e suas posturas. Mas este ensaio apresentava grandes condicionalismos. Em primeiro lugar, exigia-se que o terreno fosse plano, que se situasse nas margens de um largo ou de um rio, que o solo fosse adequado e que se criassem estruturas capazes de reter e, posteriormente, escoar as guas.52

A instalao de vinhas em saibreiras constitua outra possibilidade de salvar a vinha de p franco

(caso das vinhas da regio de Colares, dado que as videiras procura de solo humoso lanavam razes entre quatro e cinco metros, o que as protegia das investidas do filoxera). Mas como estas condies naturais escasseavam, alguns lavradores resolveram escavar o p das cepas e entulhlo de saibro. Mas os custos de transporte e de aplicao, associados ao empobrecimento do solo, frustrou o objecto desta tentativa.53

Os lavradores vinhateiros perceberam que nos terrenos mais compactados o insecto no entrava,

bastava para isso bater a terra a mao, ou deixar entrar gado na vinha, mas este remdio tinha como contrapartida o tornar invivel operaes vitais boa frutificao da vinha, como as cavas, as adubaes e as redras.54

A.D.L., Governo Civil, Actividades Econmicas, Agricultura, cx.12 (1876-1912). Relatrio da

Comisso Antifiloxrica Distrital de 1885.

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qumicos; probem-se as culturas intercalares para no roubarem substncia s videiras; deixa-se cair definitivamente a mergulhia, enquanto a enxertia assume o primeiro plano55... Em Alcobaa, superado o episdio do odio, assiste-se a uma febre de plantaes que tm o seu auge nas dcadas de setenta e oitenta. Aproveitava-se, assim, o desastre que a filoxera obrava nas vinhas de Frana desde o ano de 1863. A filoxera s atinge este concelho em 188756, pelo que o desnorte da lavoura foi minimizado e logo se deitou mo a viveiros de barbados57. O novo povoamento mantm o predomnio das tintas sobre as brancas, verificando-se a importao de castas francesas. A densidade por hectare aumenta, compreendendo aproximadamente 5.000 ps, com um ganho de mais de dois teros do anterior efectivo. Este acrscimo explica-se pela superior ordenao da vinha e pela erradicao das fruteiras. No ocaso do sculo XIX, a cultura da vinha tornou-se o motor da indstria agrcola alcobacense, devorando para sua implantao a terra de pomar. As prprias quintas passaram a ser identificadas como vinhas. A produo dos alvores do sculo XX triplicava a mdia de 4.000 pipas registada ao longo da primeira metade do sculo XIX58. A descolagem da vinha acompanhada por uma revoluo qumica e mecnica no fabrico do vinho. As adegas renovam o seu espao e passam a ser servidas por uma srie de equipamentos em que se contam geradores a vapor para esterilizar e garantir a estanquicidade dos tonis de atesto, esmagadores e desengaadores que suprimem a milenar pisa a ps, bombas de trasfega para pr o vinho em limpo e estabelecer os lotes com prontido, prensas de cinchos em substituio das arcaicas prensas de vara, etc. Esta necessidade de inovar para produzir vinhos de melhor qualidade, reduzir os custos de produo e ganhar quota de mercado, carreou um estrangulamento no universo de

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RADICH, Maria Carlos. (1996). Agronomia no Portugal Oitocentista. Uma discreta desordem, B.M.A., lv.20 dos Acrdos das Sesses da C.M.A., fls.133-136, 29 de Agosto de 1877. No ano de 1885, o concelho de Alcobaa ainda no tinha sido afectado pelo insecto. No relatrio

pp.40-43.56 57

da Comisso Antifiloxrica Distrital enumeravam-se os motivos que levaram escolha de Alcobaa para a instalar um novo viveiro de videiras americanas. Entre os argumentos favorveis sua implantao emerge o facto de se considerar contraproducente exportar bacelos do viveiro das Cortes (Leiria) para outras regies consideradas indemnes. Mas no foi este o nico requisito que pesou na deciso da comisso: Influenciou para esta preferncia a situao central deste concelho, a sua supposta immunidade e crescente importncia vitcola, e sobretudo a ser a Comisso de Vigilncia naquelle concelho composta de cavalheiros interessados e dedicados viticultura. A.D.L., Governo Civil, Actividades Econmicas, Agricultura, cx.12 (1876-1912). Relatrio da Comisso Antifiloxrica Distrital de 1885.58

A.D.L., Governo Civil, Actividades Econmicas, Agricultura, cx.12 (1876-1912).

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produtores. Investimento, saberes e competncias armam uma barreira intransponvel s exploraes camponesas59. A vitalidade do agrosistema idealizado e concebido pela ordem cisterciense ultrapassou em muito o tempo dos seus obreiros, constituindo tanto um elemento de desenvolvimento como um condicionalismo poderoso a uma matriz alternativa de ordenamento cultural. A expanso da vinha, a nica cultura que muda decisivamente a paisagem agrcola ps Cister, embora se deva, como vimos, presso de factores exgenos, revela por parte da lavoura alcobacense uma capacidade para se modernizar e aderir s pulses do mercado.

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ROYER, Claude. (1992). Les techniques viti-vincoles traditionnelles: aspects thoriques et

mthodologiques In: RAMOS, Pilar, coord., Primeras Jornadas Internacionales sobre Tecnologia Agrria Tradicional,, p.225.

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