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TemporalidadesRevista Discente do Programa do Programa de Ps-graduao em Histria da UFMG, vol. 3 n. 1.Janeiro/Julho de 2011ISSN: 1984-6150 www.fafich.ufmg.br/temporalidades
A participao do Estado na modernizaoeconmica de Minas Gerais: a Exposio
Permanente de 1901 e a Feira Permanente deAmostras de 1935
Felipe Carneiro MunaierBacharel em Histria/PUC Minas
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal uma breve anlise comparativa entredois projetos polticos de modernizao econmica para Minas Gerais: a Exposio Permanente
de 1901 e a Feira Permanente de Amostras de 1935. Na Primeira Repblica, muitos dos projetosde modernizao foram executados com pouco xito, como foi o caso especfico da ExposioPermanente de 1901. J no ano de 1935, com a intensificao da interveno do Estado naeconomia e o fortalecimento das polticas de modernizao, o governo conseguiu criar a FeiraPermanente de Amostras como uma estratgia para atrair investidores para Minas Gerais. Afinalidade deste texto identificar como o assunto foi discutido entre os polticos mineiros nosdois contextos.
PALAVRAS-CHAVE: Modernizao Econmica, Exposio Permanente, Feira Permanente deAmostras.
ABSTRACT:The present article has as main objective a brief comparative analysis between twopolitical projects of economic modernization to Minas Gerais: the Permanent Exposition of 1901and the Permanente Sample Fair of 1935. In the First Republic, many of modernization projects
were executed with little success, as was the case of the Permanent Exposition of 1901. Alreadyin 1935, with the intensification of state intervention in the economy and the strengthening ofpolitical modernization, the government succeeded in creating the Permanent Sample Fair as astrategy to attract investors to Minas Gerais. The purpose of this text is to identify how thematter was discussed among mineiros politicians in both contexts.
KEYWORDS:Economic Modernization, Permanent Exposition, Permanent Sample Fair.
IntroduoA partir de meados do sculo XIX, o Brasil comeou a participar de Exposies
Internacionais realizadas na Europa e Estados Unidos. O pas sempre se representava atravs das
riquezas naturais e o exotismo: pedras preciosas, madeiras nobres, peles de animais selvagens,
produtos agrcolas e arte plumria.1 A ideia de planejar uma exposio permanente para Belo
Horizonte foi concebida pelo poltico republicano Joo Pinheiro da Silva na ocasio da
1NEVES, Margarida de Souza. Os cenrios da Repblica. O Brasil na virada do sculo XIX para o sculo XX. In:FERREIRA, Jorge; DELGADO, Luclia de Almeida Neves. O Brasil republicano:o tempo do nacional-estatismo - doincio da dcada de 1930 ao apogeu do Estado Novo. v. 2. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. p. 25.
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Exposio Universal de 1889, na Frana. Joo Pinheiro tentou execut-la em 1890, quando era
governadordo Estado de Minas Gerais, mas a proposta no saiu do papel.
Por volta de 1901, nas primeiras administraes da nova capital mineira, o PrefeitoBernardo Monteiro retomou a ideia e iniciou a construo do edifcio destinado a abrigar a
Exposio Permanente, para promover o desenvolvimento econmico do Estado. O objetivo era
divulgar a produo extrativa, industrial e agrcola, para tornar o potencial econmico de Minas
Gerais conhecido a ponto de atrair investidores das mais diversas regies.
Pelos motivos de descontinuidades administrativas e problemas financeiros, o prdio
permaneceu em alicerces durante dez anos, at que foi cedido para a construo do Colgio
Arnaldo. Alguns sales foram reservados para a exposio, mas devido m colocao da mesmano interior do Colgio, acabaram funcionando sem visibilidade at culminar em um completo
fracasso. Jos Maria Canado afirma que em 1934 ocorreu a transferncia do acervo da
Exposio Permanente, at ento abrigado no Colgio Arnaldo, para a Feira Permanente de
Amostras.2 Esse foi um passo importante para a consolidao de um projeto destinado ao
desenvolvimento econmico, uma vez que o acervo foi levado para um local mais adequado.
Em 1935, durante a administrao do Governador Benedito Valadares, Israel Pinheiro,
Secretrio da Agricultura, Comrcio e Trabalho, inaugurou a Feira Permanente de Amostras. Seuprdio, que tambm abrigou a Rdio Inconfidncia, foi construdo na Praa Rio Branco, no local
onde existia o Mercado Municipal. Israel Pinheiro finalmente conseguira instalar com mrito um
projeto que atendia as necessidades republicanas, de modo a suplantar as tentativas frustradas de
seu pai, Joo Pinheiro, e Bernardo Monteiro no incio da Repblica.
A Feira Permanente de Amostras catalogava, organizava e divulgava todos os setores da
economia mineira ao abranger as atividades extrativas, comerciais, industriais, agrcolas e pastoris.
As amostras ficavam expostas em estandes estabelecidos de acordo com cada regio mineira. Ovisitante conseguia ter em pouco tempo uma viso geral das possibilidades econmicas do
Estado. Ela funcionou por aproximadamente trinta anos e contribuiu para a acelerao do
desenvolvimento econmico da capital mineira e arredores. Estimulou, em especial, o
crescimento da indstria de base, como o caso da siderurgia, que tem por caracterstica
transformar o minrio, matria-prima bruta, em matria-prima para as indstrias de bens de
consumo, que atendem o consumidor final. O prdio da Feira Permanente de Amostras foi
demolido em 1965 e no local foi construda a atual rodoviria de Belo Horizonte.
2CANADO, Jos Maria. Colgio Arnaldo:uma escola nos trpicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1999. p. 64.
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Comparar a tentativa de criao da Exposio Permanente em 1901 com a efetiva criao
da Feira Permanente de Amostras em 1935 relevante na medida em que esse tipo de projeto
poltico era prprio do final do sculo XIX e incio do sculo XX. Com o advento da Repblica,as elites polticas queriam estampar as inovaes cientfico-tecnolgicas, a exemplo do que
acontecia na Europa. Mas essa vontade s foi resolvida cerca de quarenta anos mais tarde. Cabe
entender qual a relao entre esses dois perodos da histria republicana de busca pela
modernizao econmica, isto , uma organizao da esfera econmica de forma racional e
eficiente. Atravs do estudo dos discursos e aes polticas, o artigo prope mostrar a
importncia de um projeto dos primeiros republicanos que, no entanto, fortaleceu-se no perodo
ps Revoluo de 1930, momento de intensificao do intervencionismo estatal na economia.
A presente pesquisa se insere na Nova Histria Poltica por meio do estudo do poder, ou
seja, as aes, os discursos e os projetos em torno da ideia e do papel do Estado de promover a
economia atravs de uma exposio das riquezas econmicas de Minas Gerais. A partir de 1970,
os historiadores foram introduzindo novos mtodos, abordagens e objetos, na mesma medida em
que ampliaram o dilogo com os cientistas sociais. A historiografia poltica passou do estudo
institucional do Estado para o estudo do poder. As decises polticas vistas sob essa tica se
tornam politizadas pelos acontecimentos, atitudes, comportamentos, ideias e discursos.3
O referencial terico utilizado para orientar a pesquisa foi o estudo do socilogo
Barrington Moore, que trabalha os papis polticos das altas classes detentoras de terras e dos
camponeses na transformao das sociedades agrrias em sociedades industriais modernas. O
autor desenvolveu a teoria de que existiram trs vias sucessivas para o mundo moderno: A
primeira aliou o capitalismo democracia parlamentar, aps uma srie de revolues: a
Revoluo Puritana, a Revoluo Francesa e a Guerra Civil Americana.4Ele a chama de via da
revoluo burguesa, percorrida pela Inglaterra, Frana e os Estados Unidos. Na segunda via
tambm capitalista, efetivamente se desenvolveu e floresceu a indstria na Alemanha e no Japo:
o capitalismo enraizou-se firmemente tanto na agricultura como na indstria e transformou
esses pases em pases industriais. Mas o fez sem um movimento revolucionrio popular. 5A
3FALCON, Francisco. Histria e poder. In: CARDOSO, Ciro Flamarion S.; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domnios dahistria:ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. P .82.4
MOORE, Barrington. As origens sociais da ditadura e da democracia:senhores e camponeses na construo do mundomoderno. So Paulo: Martins Fontes, 1983. p. 407.5MOORE, Barrington. As origens sociais da ditadura e da democracia:senhores e camponeses na construo do mundomoderno. So Paulo: Martins Fontes, 1983. p. 427.
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Sem uma boa rede de transportes a jovem cidade ficaria isolada e no conseguiria cumprir
seu papel de capital, ou seja, o centro poltico, administrativo e econmico do Estado. A
construo de novas estradas de ferro e de rodagem facilitaria a locomoo de pessoas emercadorias para as diversas reas comerciais no interior do Estado.
De acordo com Marcelo Godoy, o modelo de modernizao dos transportes em Minas
tinha o mesmo padro do conjunto do pas, no cumpria s exigncias internas da economia
mineira. A maior parte das ferrovias no Brasil era direcionada agroexportao, ao passo que a
economia mineira era essencialmente voltada para o mercado interno.11Portanto, privilegiava-se
o escoamento de alimentos e matrias-primas e assegurava-se a distribuio de importados, dos
portos para o interior, sem ferrovias ou ramais que integrassem as economias regionais. Em geral,os problemas de integrao existiam por todo o territrio nacional e causaram considerveis
desequilbrios no crescimento econmico brasileiro.
Com relao crise financeira do comeo da Repblica, Angela Costa e Lilia Schwarcz
afirmam que em 1898 o Brasil no tinha um tosto. O caf vinha sofrendo sua primeira crise
internacional, com a produo maior que o consumo mundial e a consequente queda nos
preos.12 Os quase dez anos de Repblica, marcados de lutas polticas, levantes militares,
conspiraes e de guerra civil, tinham levado o Tesouro misria. A inflao se tornouexorbitante e a dvida externa impagvel. Como soluo o Brasil aderiu ao tradicional pedido de
emprstimo a bancos ingleses. A atitude se fundava no seguinte pensamento: se o governo
conseguisse sanear a moeda (...) as foras econmicas reconstituiriam-se naturalmente.13 Sem
uma interveno eficaz por parte do governo, essas condies de crise e instabilidade poltica se
arrastaram durante as primeiras dcadas da Repblica e causaram falncias no comrcio, na
indstria, nos bancos e na agricultura.
Jos Miguel Arias Neto adota uma periodizao para o desenvolvimento econmicodurante a Primeira Repblica. Segundo o autor, houve um boom no desenvolvimento e na
acumulao industrial entre 1889 e 1896. O ritmo de crescimento diminuiu entre os anos de 1897
e 1904, voltando a crescer de 1905 at o incio da Primeira Guerra Mundial. Durante a Guerra de
1914-1918, o crescimento industrial obteve uma reduo e em seguida, na dcada de 1920, uma
11GODOY, Marcelo Magalhes. Minas Gerais na Repblica: atraso econmico, estado e planejamento. Cadernos daEscola do Legislativo. Belo Horizonte, v. 11, n. 16, p. 99, jan./jun. 2009.12
COSTA, Angela Marques da; SCHWARCZ, Lilia Moritz. 1890-1914: no tempo das certezas. So Paulo:Companhia das Letras, 2000. p. 64.13 COSTA, Angela Marques da; SCHWARCZ, Lilia Moritz. 1890-1914: no tempo das certezas. So Paulo:Companhia das Letras, 2000. p. 64.
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crescente especialmente nas regies de So Paulo e Minas Gerais, onde a dinmica econmica do
caf era mais acentuada.14 De forma geral, o crescimento industrial dependia da expanso da
economia cafeeira e todo o processo foi lentamente acompanhado pela construo de ferrovias,para propiciar o escoamento da produo para os portos, assim como a ampliao de ncleos
urbanos e a demanda crescente de abastecimento.15
A suposio de que onde a cafeicultura se desenvolvesse automaticamente a indstria
cresceria, decorreu da concepo de serem seus agentes, o cafeicultor e o industrial, sujeitos
criadores do progresso e da modernizao. Para Arias Neto a imagem que se criou do fazendeiro
e do industrial paulista, como promotores da modernizao, serve como fonte da legitimidade do
poder e mando poltico da nao.16
O Brasil tinha a oligarquia cafeeira como responsvel pelodesenvolvimento, pois o Estado no conseguiu definir uma poltica de interveno econmica
eficiente e sem autonomia acabou atrelado aos interesses dessa elite.
No comeo do sculo XX, Minas Gerais ocupava uma posio de atraso no cenrio
econmico nacional ante os Estados do Rio de Janeiro e So Paulo. Essa condio estimulou o
desenvolvimento de projetos polticos para modernizar a economia. Porm, o comeo do
perodo republicano foi marcado por uma srie de conflitos internos entre as elites mineiras, o
que dificultou o andamento de muitos desses projetos.
Nessa conjuntura, o republicano Joo Pinheiro ganhou evidncia como um idealista que
queria reformar a estrutura econmica de Minas Gerais. Francisco de Assis Barbosa afirma que a
questo principal de sua poltica era a agricultura, entretanto o aponta como um poltico que
reconhecia a importncia da indstria e a necessidade do Estado proteg-la at se tornar forte
perante as indstrias estrangeiras.17Priorizou-se um programa de modernizao da agropecuria,
sem desconsiderar a indstria.
14 ARIAS NETO, Jos Miguel. Primeira Repblica: economia cafeeira, urbanizao e industrializao. In:FERREIRA, Jorge; DELGADO, Luclia de Almeida Neves. O Brasil republicano:volume 1 : o tempo do liberalismoexcludente - da proclamao da repblica revoluo de 1930. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. p. 217.15 ARIAS NETO, Jos Miguel. Primeira Repblica: economia cafeeira, urbanizao e industrializao. In:FERREIRA, Jorge; DELGADO, Luclia de Almeida Neves. O Brasil republicano:volume 1 : o tempo do liberalismoexcludente - da proclamao da repblica revoluo de 1930. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. p. 220.16 ARIAS NETO, Jos Miguel. Primeira Repblica: economia cafeeira, urbanizao e industrializao. In:
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Luclia de Almeida Neves. O Brasil republicano:volume 1 : o tempo do liberalismoexcludente - da proclamao da repblica revoluo de 1930. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. p. 193.17BARBOSA, Francisco de Assis. Idias polticas de Joo Pinheiro. Braslia Rio de janeiro, Fundao Casa de RuiBarbosa, 1980. p. 41.
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De acordo com Dulci, no era um programa agrarista, que cingisse o seu escopo a
produo rural de acordo com o conceito de vocao essencialmente agrcolado Brasil.18O
projeto mineiro de diversificao econmica, do qual Joo Pinheiro foi o principal idealizador, um modelo de crescimento para dentro, que objetiva a substituio das importaes partindo
pelos gneros de consumo interno. Estende-se s indstrias mais simples para alcanar as mais
complexas.19Esse foi o projeto que prevaleceu ao longo da Primeira Repblica, era baseado na
ideia de se criar um sistema econmico completo para Minas Gerais.
A crescente interveno do Estado na economia mineira foi um trao permanente desde
o incio do sculo XX at a dcada de 1930. O Estado ampliou gradualmente a intensidade da
interferncia, mas esse processo foi marcado por contradies. Joo Pinheiro, quandogovernador do Estado de Minas Gerais em 1906, era empresrio da indstria, mas que em seu
governo representou a agropecuria. Percebe-se que o projeto republicano de industrializao e
urbanizao foi aos poucos colocado em segundo plano e se desenvolveu sombra da
agricultura. A elite rural conciliava seus interesses aos das personalidades polticas e apoiava a
eleio de quem lhes era mais conveniente. Da surgiu a poltica do caf com leite, onde as
oligarquias de Minas e So Paulo revezavam-se ao lanar candidatos presidncia da Repblica.
Planejada para ser a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte foi construda e sedesenvolveu neste conturbado contexto. A Proclamao da Repblica, cercada pelos avanos da
cincia e as propostas de industrializao, criava a imagem de ser possvel construir uma
sociedade racional e perfeita. A populao da cidade se formou de imigrantes e trabalhadores de
vrias partes do Brasil. Ao estampar a modernidade, a nova capital emitia propostas de melhores
condies de vida. A cidade deve ser compreendida como parte do projeto inicial da Repblica,
planejada como uma resposta aos contratempos causados pelas falhas da agricultura e pela
abolio da escravatura. Ao fazer parte da poltica de modernizao do Estado, lanou-se no
cenrio nacional como smbolo da Repblica e oportunidade para o trabalho.20
Em 1897, a cidade foi inaugurada s pressas com o nome de Cidade de Minas. Portanto,
muitas de suas construes ainda no estavam prontas. A crise econmica do perodo atrapalhou
o desenvolvimento da jovem capital mineira, que demorou algumas dcadas para constituir
18 DULCI, Otvio Soares. Origens do desenvolvimento mineiro. In: DULCI, Otvio Soares. Poltica e recuperaoeconmica em Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. p. 46.19
DULCI, Otvio Soares. Origens do desenvolvimento mineiro. In: DULCI, Otvio Soares. Poltica e recuperaoeconmica em Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. p. 48.20MELLO, Ciro F. Bandeira de. A noiva do trabalhouma capital para a Repblica. In: DUTRA, Eliana Regina deFreitas et al. BH:horizontes histricos. Belo Horizonte: C/Arte, 1996. p. 11-47.
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vasto territrio mineiro, bem como as diversas qualidades do solo e a sua produo. Da a
necessidade de criar alguma coisa que aproveitando a cidade traga tambm proveito real a todo o
Estado.25
Essas foram algumas das preocupaes que incentivaram o ousado planejamento da
Exposio Permanente. A princpio, a falta de dinheiro pblico para o empreendimento, agravada
pela crise financeira do perodo, seria solucionada pelos auxlios dos demais municpios de Minas
Gerais, j que a exposio beneficiaria o Estado em sua totalidade.
A Exposio ser principalmente da matria prima e manufaturada do Estado [...]. preciso que o europeu, senhor do capital, conhea onde est a riqueza, que, para sedesenvolver e frutificar, precisa apenas ser dele conhecida. A essa Exposio, mais
tarde, ser anexada uma dos produtos animais do Estado [...]. O projeto do grandiosoedifcio est sendo concludo na Prefeitura e feito o seu oramento, me dirigirei smunicipalidades do Estado, explicando-lhes o plano da Exposio e estabelecendo ascondies para levar avante to grandioso empreendimento.26
O objetivo era divulgar as riquezas econmicas do Estado para revelar seu potencial, at o
momento, pouco conhecido no Brasil e no estrangeiro. Ela se fundamentava na necessidade de
atrair capital estrangeiro, fator que mostra a dependncia econmica brasileira em relao aos
pases europeus. A Exposio Permanente seria um dos impulsos iniciais para a modernizao
econmica de Minas Gerais. Nela, o visitante conheceria mapas, dados e fontes de investimentos
que colocariam o Estado dentro do processo de industrializao.
Com a inteno de valorizar a Exposio Permanente, Bernardo Monteiro colocou em
seu relatrio um trecho da mensagem que Silviano Brando, governador do estado, havia enviado
ao Congresso em 1901:
A iniciativa feliz de se fundar nesta Capital uma Exposio Permanente da matria-prima e manufaturada do Estado, com o auxilio das municipalidades, recebeu no s
dessas patriticas corporaes, como da Imprensa e do povo mineiro, o maior e omais entusistico acolhimento, tendo mesmo repercutido fora do Estado e at noestrangeiro. Vrias cmaras municipais j votaram verba para esse grandiosoempreendimento, e algumas j recolheram aos cofres da Prefeitura a importncia
votada. A construo, j iniciada, de esperar que em breve seja uma realidade. [...]
25MENSAGEM AO CONSELHO DELIBERATIVO DA CIDADE DE MINAS, apresentada em 19 de setembrode 1900 pelo Prefeito Dr. Bernardo Pinto Monteiro. Cidade de Minas, Imprensa Oficial do Estado de Minas, 1900,
p.4-5. (Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte).26MENSAGEM AO CONSELHO DELIBERATIVO DA CIDADE DE MINAS, apresentada em 19 de setembrode 1900 pelo Prefeito Dr. Bernardo Pinto Monteiro. Cidade de Minas, Imprensa Oficial do Estado de Minas, 1900,p.5. (Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte).
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Seu sucessor, o Prefeito Francisco Bressane de Azevedo, mencionou a paralisao do
projeto:
Com a Exposio Permanente, que, mal grado meu, se acha paralisada espera de queas municipalidades positivem o auxlio prometido, entrando com as quotas votadas, ecom diversos trabalhos, dos quais no so de somenos importncia a reconstruo depontes, abertura e concerto de estradas e extino de formigueiros, gastaram-se42:991$783 (sic).31
Verifica-se que Bernardo Monteiro iniciou as obras sem antes ter dinheiro suficiente para
conclu-las, alm do tempo de seu mandato no ter sido suficiente para articular novos recursos.
A Prefeitura da capital recorreu aos outros municpios do Estado que, em parte, ajudaram.
Bernardo Monteiro iniciou as obras quando contava apenas com uma baixa quantia aprovada
pelo Conselho Deliberativo. Ele acreditava que durante a construo do prdio os outros
municpios creditariam confiana e passariam a investir mais, transformando a ideia em realidade.
A proposta de criar uma exposio dos produtos industriais e agrcolas do Estado
tambm esteve presente nos discursos do poder legislativo de Minas Gerais entre os anos de
1897 e 1900, como uma das polticas de desenvolvimento econmico. Na ata de uma das
reunies esto expostos os doze artigos explicitando o funcionamento do projeto de nmero
272.32Ele foi pensado nos mesmos moldes da Exposio Permanente planejada pela Prefeitura.
O deputado Jlio Tavares apoiou suas caractersticas e elogiou o Prefeito da capital que
vinha desenvolvendo tal ideia. Tavares direcionou a palavra ao Sr. Agostinho Pereira, Presidente
da Cmara:
[...] tratando o projeto n 272 de assunto idntico, pensei, Sr. Presidente, que seriarazovel requerer Casa para que v o mesmo comisso de Comrcio, Estatstica,Indstria e Artes, afim de que esta o estude convenientemente, oferecendo, sipossvel, emendas que tenham por fim harmoniz-lo com o plano da Prefeitura, vindo
ns, destarte, concorrer para que este grande certamen seja mais facilmente traduzidoem brilhante realidade.33
31 RELATRIO APRESENTADO AO CONSELHO DELIBERATIVO DE BELO HORIZONTE PELOPREFEITO FRANCISCO BRESSANE DE AZEVEDO, em 10 de setembro de 1903.Cidade de Belo Horizonte,Imprensa Oficial do Estado de Minas, 1903, p.16. (Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte).32ATA DA 20 SESSO ORDINRIA, aos 11 de julho de 1899. In: Anais da Cmara dos Deputados do CongressoMineiro. Primeira sesso da terceira legislatura. Cidade de Minas, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1899, p. 142.
(Arquivo da Assemblia Legislativa do Estado de Minas Gerais).33ATA DA 26 SESSO ORDINRIA, aos 20 de julho de 1900. In: Anais da Cmara dos Deputados do CongressoMineiro. Segunda sesso da terceira legislatura. Cidade de Minas, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1900, p. 88.(Arquivo da Assemblia Legislativa do Estado de Minas Gerais).
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Havia uma movimentao poltica em comum entre os polticos do poder executivo de
Belo Horizonte e do poder legislativo de Minas Gerais, para a criao de uma exposio cujo fim
seria acelerar o desenvolvimento econmico do Estado. Entretanto, fica a impresso de que oslegisladores deixaram toda a responsabilidade para a Prefeitura de Belo Horizonte, que no deu
conta. Ao analisar em conjunto os documentos oficiais do poder executivo e do poder legislativo,
constata-se que no houve uma articulao eficiente para a criao da Exposio Permanente.
O fato de o projeto ser muito mais ambicioso do que uma simples exposio tornou-se
um dos grandes problemas enfrentados na poca. O prdio em construo seria, na verdade, um
palcio planejado para impressionar o visitante pela prpria arquitetura imponente (ver imagem
1). Os prefeitos sucessores a Bernardo Monteiro no viram como prioridade continuar o projetoe colocaram outras demandas frente.
Imagem 1: Projeto para o Palcio da Exposio Permanente - 1900.Autores: Edgard Nascentes Coelho e Maurcio Bernasconi.Fonte: Museu Histrico Ablio Barreto.34
No quarteiro formado pelas avenidas Caranda, Paraibuna (atual Bernardo Monteiro) e
Brasil ficaram os vestgios de uma ideia: os alicerces de um Palcio da Exposio Permanente,
projetado em 1900 pelos arquitetos Edgard Nascentes Coelho e Maurcio Bernasconi.35 Por
descontinuidades administrativas e at mesmo pela grandeza e ousadia de um empreendimento
34 Imagem publicada em: CANADO, Jos Maria. Colgio Arnaldo: uma escola nos trpicos. Belo Horizonte:C/Arte,. 1999. p. 29.35CANADO, Jos Maria. Colgio Arnaldo:uma escola nos trpicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1999. p. 29-30.
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que demandava altos investimentos, o prdio permaneceu em alicerces durante dez anos, at que
foi cedido Congregao dos Padres do Verbo Divino. L construram o Colgio Arnaldoe, ao seguirem
caractersticas do projeto inicial, reservaram alguns sales para a exposio, que funcionou semvisibilidade no local. Ela foi pouco visitada e no obteve o sucesso sonhado pelo Prefeito
Bernardo Monteiro.
Segundo Benedicto Jos dos Santos (indicado em documento oficial como diretor de
indstria e comrcio):
Desde 1923 vem organizando o Estado uma exposio permanente de suas riquezas minerais ede madeiras e produtos da lavoura. A exposio funciona ainda no Colgio Arnaldo, donde embreve ter transferida para local mais apropriado. [...] O movimento atual de visitantes aexposio muito pequeno, devido m colocao da mesma e ao acesso mais ou menoscomplicado atravs do interior do Colgio Arnaldo. pensamento do governo colocar, ao ladodas colees minerais e madeiras minerais, colees de espcies da nossa fauna e flora, assimcomo produtos de todas as indstrias existentes no Estado de Minas, especialmente daindstria metalrgica.36
As informaes deste documento mostram que existiu, durante toda a Primeira
Repblica, uma necessidade poltica e econmica de criar, com os devidos mritos, uma
exposio das riquezas e conquistas econmicas do Estado. Ao funcionar dentro do Colgio
Arnaldo, a Exposio no conseguiu atingir os resultados esperados. Ento, o governo projetou aFeira Permanente de Amostras para transferir seu acervo e consolidar a ideia. Somente em 1935,
o sonho dos primeiros republicanos viria a se tornar de fato realidade.
A Revoluo de 1930: seus reflexos polticos e econmicos
Em1929, lideranas de So Paulo indicaram o paulista Jlio Prestes como candidato
presidncia da Repblica. Como era a vez de Minas indicar um pretendente, a atitude dos
paulistas ps fim aliana com os mineiros denominada poltica do caf com leite. Em seguida,
Antnio Carlos Ribeiro de Andrada, governador de Minas Gerais, apoiou a candidatura
oposicionista do gacho Getlio Vargas. Tais episdios culminaram no movimento armado
liderado por Minas Gerais, Paraba e Rio Grande do Sul, que ficou conhecido como Revoluo
de 1930. Aps ogolpe de Estado e a deposio do PresidenteWashington Lus,Getlio Vargas
chegou ao poder.37O movimento impediu a posse do presidente eleitoJlio Prestes,encerrou o
36
RELATRIO APRESENTADO AO EXMO. SR. DR. SECRETRIO, PELO DIRETOR DE INDSTRIA ECOMRCIO, referente ao perodo de 1 de janeiro de 1928 a 31 de maro de 1929. Belo Horizonte, ImprensaOficial de Minas Gerais, 1931, p .65 (Arquivo Pblico Mineiro).37FAUSTO, Boris. Histria do Brasil.12. ed. So Paulo: Edusp, 2004. p. 319-320.
http://pt.wikipedia.org/wiki/1929http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_do_caf%C3%A9-com-leitehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Carlos_Ribeiro_de_Andradahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estadohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Washington_Lu%C3%ADshttp://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Presteshttp://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Presteshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Washington_Lu%C3%ADshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estadohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Carlos_Ribeiro_de_Andradahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_do_caf%C3%A9-com-leitehttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulohttp://pt.wikipedia.org/wiki/19298/13/2019 A participao do Estado na modernizao econmica de Minas Gerais: a Exposio Permanente de 1901 e a Feira Permanente de Amostras de 1935 - Feli
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perodo conhecido como Primeira Repblica e enfraqueceu o poder poltico da oligarquia
cafeeira.
Esses acontecimentos interferiram na maneira como a poltica passaria a tratar a
economia nacional. Para Boris Fausto desde cedo o novo governo tratou de centralizar em suas
mos tanto as decises econmico-financeiras como as de natureza poltica.38O novo tipo de
Estado tinha como um de seus elementos a atuao econmica, voltada gradativamente para os
objetivos de promover a industrializao.39
Os pases perifricos, ao entrarem tardiamente no processo de modernizao, tiveram
uma tendncia de governo autoritrio modernizante e seus interesses de desenvolvimento da
economia de mercado guiados pelo Estado. O padro autoritrio era e uma marca da cultura
poltica do pas. (...) A corrente autoritria assumiu com toda consequncia a perspectiva do que
se denomina modernizao conservadora.40Com Getlio Vargas no poder o Estado assumiu, de
forma autoritria, a dianteira na organizao da nao. Segundo Elisa Reis e Zairo Cheibub, de
1930 a 1945, principalmente a partir de 1937, o Estado trouxe para si o papel de vanguarda na
edificao da economia.41 Foi o perodo em que houve grande intensificao da participao
estatal na economia brasileira. importante ressalvar que o Estado sempre interventor, o que
varia a intensidade das intervenes em cada contexto.
Arias Neto entende que aps a Revoluo de 1930 houve uma ruptura do modelo de
desenvolvimento industrial baseado no capital cafeeiro.42A ampliao industrial passou a ser
fundamentada na reproduo e ampliao de seu prprio capital. A crise do modelo primrio
exportador e a emergncia de um modelo de industrializao em substituio as importaes foi
uma das mudanas em ralao a Primeira Repblica. O poder pblico passou a priorizar a
introverso da economia brasileira e a integrao dos espaos econmicos nacionais.
Otvio Dulci concorda ao afirmar que na Primeira Repblica o foco era a produo eexportao do caf. J a partir do final da dcada de 1930, as polticas econmicas concentraram-
se na promoo da industrializao de Minas Gerais, principalmente atravs da siderurgia e da
expanso das ferrovias para facilitar o transporte de passageiros e o escoamento de produtos
38FAUSTO, Boris. Histria do Brasil.12. ed. So Paulo: Edusp, 2004. p. 327.39FAUSTO, Boris. Histria do Brasil.12. ed. So Paulo: Edusp, 2004. p. 327.40FAUSTO, Boris. Histria do Brasil.12. ed. So Paulo: Edusp, 2004. p. 357.41REIS, Elisa P.; CHEIBUB, Zairo B. Pobreza, desigualdade e consolidao democrtica. Dados:Revista de Cincias
Sociais, v. 36, n. 2, p. 240-241, 1993.42 ARIAS NETO, Jos Miguel. Primeira Repblica: economia cafeeira, urbanizao e industrializao. In:FERREIRA, Jorge; DELGADO, Luclia de Almeida Neves. O Brasil republicano:volume 1 : o tempo do liberalismoexcludente - da proclamao da repblica revoluo de 1930. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. p. 220.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Velhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Velha8/13/2019 A participao do Estado na modernizao econmica de Minas Gerais: a Exposio Permanente de 1901 e a Feira Permanente de Amostras de 1935 - Feli
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industriais.43Mas apropriado lembrar que Otvio Dulci compreende a poltica econmica da
Primeira Repblica e do ps Revoluo de 30 como partes de um mesmo processo. Nos dois
perodos houve uma tentativa de modernizao de cima para baixo. Deste modo, vlidoadvertir que as polticas de atuao do Estado no desenvolvimento da indstria, na criao de
melhores condies para a urbanizao e na construo de ferrovias apenas ganham fora com
Getlio Vargas.
O historiador norte-americano Steven Topik refora esta noo de processo histrico e
lana um olhar diferenciado sobre a participao do Estado na economia poltica. Ele afirma que
o Brasil teve substancial industrializao na Primeira Repblica e se tornou virtualmente
autossuficiente em tecidos, roupas, sapatos e alimentos.44
Ele assegura que o Estado brasileiro jera um dos mais intervencionistas da Amrica Latina, muito antes do colapso do comrcio
exterior em 1929.45O governo era proprietrio de dois teros das ferrovias, responsveis por
boa parte das exportaes, e de grande parte das empresas de navegao. Os principais portos, o
maior banco comercial, caixas econmicas e trs empresas hipotecrias, tambm estavam nas
mos do Estado. Em 1930, Getlio Vargas herdaria instituies pblicas slidas e vigorosas, e
no o dbil esqueleto muitas vezes apontado pelos historiadores.46
Em consequncia da diversificao econmica advinda da Primeira Repblica, MinasGerais encontrava-se em uma posio relativamente favorvel na dcada de 1930. Segundo
Marcelo Godoy, o que prevaleceu foi a continuidade do projeto de desenvolvimento econmico
diversificado, embora com caractersticas novas. A principal novidade foi a centralidade do
Estado como agente autnomo da modernizao. 47 O governo de Minas Gerais priorizou o
desenvolvimento da agropecuria e da indstria de base, destacando-se a expanso da siderurgia.
Topik cria embasamento para afirmar que nos anos posteriores Revoluo de 30, os
polticos mineiros tomaram para si e por muitas vezes se lanaram como autores de projetos, naverdade, idealizados pelos primeiros republicanos. A diferena que os mesmos no foram
anteriormente executados ou tiveram pouca visibilidade, como o caso da Exposio
Permanente almejada por Joo Pinheiro em 1890 e resgatada por Bernardo Monteiro em 1900.
43 DULCI, Otvio Soares. Origens do desenvolvimento mineiro. In: DULCI, Otvio Soares. Poltica e recuperaoeconmica em Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.44TOPIK, Steven. A presena do estado na economia poltica do Brasil:de 1889 a 1930. Rio de Janeiro: Record, 1987. p.181.45TOPIK, Steven.A presena do estado na economia poltica do Brasil:de 1889 a 1930. Rio de Janeiro: Record, 1987. p. 11.46
TOPIK, Steven. A presena do estado na economia poltica do Brasil:de 1889 a 1930. Rio de Janeiro: Record, 1987. p.187.47GODOY, Marcelo Magalhes. Minas Gerais na Repblica: atraso econmico, estado e planejamento. Cadernos daEscola do Legislativo. Belo Horizonte, v. 11, n. 16, p. 89-116, jan./jun. 2009.
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nessa linha de raciocnio que o artigo insere a Feira Permanente de Amostras como parte do
projeto de modernizao elitista dos primeiros anos da Repblica, que s alcanou seus objetivos
em um segundo momento.
A criao da Feira Permanente de Amostras em 1935
Aps vrios fracassos com a Exposio Permanente ao longo da Primeira Repblica, o
Estado passou a trabalhar na execuo de um projeto com mesmas caractersticas, mas outro
nome: a Feira Permanente de Amostras. Os polticos ainda queriam alcanar o objetivo de
valorizar e divulgar os diversos setores produtivos de Minas Gerais. Nas reunies da Associao
Comercial de Minas, eram recorrentes os discursos direcionados criao de meios de divulgar as
riquezas minerais, industriais e agrcolas no estrangeiro. O momento estava propcio para a
criao da Feira Permanente de Amostras. A melhoria das condies econmicas era uma
preocupao diria das classes produtoras. Entre vrias medidas econmicas a serem tomadas
pelo Estado, Lindouro Gomes, um dos diretores da Associao Comercial, fez meno a
organizao de [uma] exposio permanente na capital de artigos de indstria local e do interior
do Estado.48
Durante a construo da Feira Permanente de Amostras, a Associo Comercial apoiou
incondicionalmente o Estado. Antes da sua inaugurao, Machado Coelho, membro da
Associao, viajou para Juiz de Fora a pedido de Israel Pinheiro, com o objetivo de obter a adeso
das indstrias e comrcios a exporem seus produtos em Belo Horizonte. Ele tambm visitou a
cidade de Santos Dumont, onde conseguiu apoio dos jornalistas.49Esse fato mostra a tentativa de
aproximar da capital as zonas produtoras geograficamente distantes.
Dentro do esforo conjunto, Israel Pinheiro participou de uma das reunies da Associao
Comercial. Ele conversou com representantes da Sociedade Mineira de Agricultura e Federao
das Indstrias, sobre a criao da Feira Permanente de Amostras:
Inicia dizendo que o Governo quer uma cooperao eficiente entre as associaes declasse e o poder pblico, entrando, depois, em pormenorizada explicao dos artigosdo anteprojeto da organizao; [...] Fica finalmente resolvido que a ExposioPermanente do Estado de Minas Gerais ser administrada por uma junta composta deum representante da Associao Comercial de Minas, outro da Sociedade Mineira de
48
ATA DA SESSO SEMANAL DA DIRETORIA, realizada em 16 de fevereiro de 1933. 1933, fl.103. (Arquivoda Associao Comercial de Minas).49ATA DA SESSO SEMANAL DA DIRETORIA, realizada em 14 de junho de 1934. 1934, fl.235. (Arquivo daAssociao Comercial de Minas).
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Agricultura, um terceiro da Federao das Indstrias e finalmente de um delegado doGoverno, competindo a esta junta elaborar os respectivos regulamentos.50
Israel Pinheiro estava reunindo foras para transformar a exposio em realidade e para
isso buscou conciliar seus interesses com o das classes produtoras do Estado. A Feira de
Amostras s funcionaria atravs de um firme envolvimento de todas as foras polticas e
econmicas que compunham Minas Gerais. Existia uma interdependncia entre o governo, os
produtores, o comrcio e as empresas. Israel Pinheiro precisava legitimar seu empreendimento e
para isso recorreu aAssociao Comercial.
s vsperas de inaugurao da Feira Permanente de Amostras, o Governador Benedito
Valadares Ribeiro apontou alguns aspectos para o sucesso de seu plano de desenvolvimento
econmico:
[...] condio essencial a formao de um ambiente de otimismo e confiana naadministrao pblica. E este decorre da estrita colaborao entre o governo e asclasses produtoras e da divulgao das medidas administrativas necessrias aoaperfeioamento dos processos de trabalho. Com esse objetivo est o governoconstruindo a Feira Permanente de Amostras [...]. O Estado compareceu, pelos seusprodutores, Feira Internacional de Amostras do Rio de Janeiro, e j tem preparado asua representao no grande certamen com que o Rio Grande do Sul comemorar o
Centenrio Farroupilha.51
A preocupao era a de consolidar o projeto interventor atravs de empreendimentos
como a Feira de Amostras. Benedito Valadares tambm acreditava que a participao do Estado
em exposies pelo pas era um meio eficaz de propaganda e um modo de fortalecer as relaes
econmicas interestaduais. Foi o administrador, engenheiro e poltico Israel Pinheiro quem
inaugurou, durante o governo de Benedito Valadares, a Feira Permanente de Amostras em 1935 e
a Rdio Inconfidncia em 1936, na cidade de Belo Horizonte.
52
Era o momento de intensificaoda interveno estatal na economia e da realizao de um projeto poltico de modernizao.
Luiz Roberto Silva afirma que a Feira foi uma espcie de vitrine da economia mineira.
Tinha a finalidade de reunir, classificar e divulgar a extensa quantidade de matrias-primas
existentes em Minas Gerais, bem como os produtos das indstrias extrativa, siderrgica, txtil,
50ATA DA SESSO SEMANAL DA DIRETORIA, realizada em 25 de outubro de 1934. 1934, fl265. (Arquivo da
Associao Comercial de Minas).51 MENSAGEM ASSEMBLIA LEGISLATIVA DE MINAS GERAIS apresentada por Benedito ValadaresRibeiro. Belo Horizonte, 1935, p. 71. (Arquivo Pblico Mineiro).52MARTINS, Fbio. Senhores ouvintes, no ar... a cidade e o rdio.Belo Horizonte. C/Arte. 1999. p. 107.
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manufatureira e agropastoril.53 As amostras no eram comercializadas no seu interior, apenas
ficavam expostas em estandes para o conhecimento do visitante. Empresas de renome como a
Companhia Siderrgica Belgo Mineira, exibiam seus produtos a ttulo de propaganda.54
A imponente arquitetura em art dcoe a relevncia do seu funcionamento a destacavam
como um dos smbolos da modernizao (ver imagem 2) junto da Rdio Inconfidncia, que era um
avano tecnolgico para os padres da poca. Ana Baum descreve as caractersticas da Rdio e
destaca a elegncia do local onde a mesma funcionava:
[...] no incio, a Rdio Inconfidncia era uma rdio de elite e fazia parte da suaprogramao atraes como pera da Semana, Discoteca da Boa Msica e Concertos.
A rdio funcionava num dos lugares mais elegantes de Belo Horizonte, a Feira
Permanente de Amostras, local onde hoje a rodoviria da capital.55
Imagem 2: Feira Permanente de Amostras - 1940.
53SILVA, Luiz Roberto. Doce dossi de BH. Belo HorizonteBDMG Cultural. 1998. p. 103.54
SECRETARIA DA AGRICULTURA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Documento n 39. Chefe do ServioComercial. 15 de janeiro de 1944. (Centro de Memria da Fundao ArcelorMittal Brasil).55BAUM, Ana. O Rdio em Minas nos Anos 50.In: Vargas, agosto de 54:a histria contada pelas ondas do rdio. SoPaulo: Ed. Garamond, 2004. p.79.
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Fonte: Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte.56
Alm da exposio das riquezas minerais e conquistas industriais do Estado, o local
tornou-se um popular espao de lazer. Oferecia mostras de curiosidades, parques de diverso
temporrios e bares. Cabe observar que a Feira Permanente de Amostras foi criada por Israel
Pinheiro, filho do ex-governador Joo Pinheiro da Silva. Israel Pinheiro foi defensor da
Revoluo de 1930 e do Estado Novo de 1937. Em 1933, o interventor Benedito Valadares o
nomeara secretrio da Agricultura, Comrcio e Trabalho. Na Secretaria, ele concretizou alguns
dos projetos sonhados por seu pai no incio da Repblica:
A implantao da Cidade Industrial, por exemplo, com o duplo objetivo de acelerar o
desenvolvimento do Estado e evitar o xodo de mineiros para fora das fronteiras doEstado. Coube a Israel, ainda, realizar o sonho paterno de instalar em Belo Horizonteuma Feira Permanente de Amostras, onde se tivesse uma ideia panormica de tudoque Minas produzia.57
Suas atitudes se inseriram perfeitamente no modelo de modernizao e industrializao
aspirado pelo movimento de 1930 e pela Era Vargas. Tambm merece destaque apontar suas
aes como uma recuperao dos falhos projetos polticos de modernizao econmica da
Primeira Repblica. A Cidade Industrial e a Feira de Amostras so exemplos.
Aps o incio do funcionamento da Feira na capital, Benedito Valadares detalhou:
Esto sendo ultimadas as instalaes da Feira Permanente de Amostras de BeloHorizonte, j havendo sido inaugurada a parte destinada a Produo Animal, ondeexistem pequenas usinas para a demonstrao do fabrico de manteiga, queijo ecasena, bem como um laboratrio de anlises de produtos de leite e um servio de
venda de produtos veterinrios. Inaugurou-se, tambm, o restaurante, a agncia dosCorreios e Telgrafos, as coletorias das rendas federais e estaduais e o salo deprojees cinematogrficas.58
As fontes primrias mostram que a Feira de Amostras foi concebida como um dos
smbolos da modernidade republicana em Belo Horizonte, no momento em que houve uma
intensificao do intervencionismo estatal na economia. A anlise e interpretao das aes
administrativas dos polticos, no sentido de modernizar a economia do Estado, revelaram a
necessidade da existncia de projetos de divulgao econmica com o objetivo de expor a
56Imagem publicada em: CANADO, Jos Maria. Colgio Arnaldo:uma escola nos trpicos. Belo Horizonte: C/Arte,1999. p. 65.57
CHAGAS, Carmo. Poltica, Arte de Minas.Belo Horizonte: Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais,1993. p. 210.58MENSAGEM ASSEMBLIA LEGISLATIVA DE MINAS GERAISapresentada pelo Governador BeneditoValadares. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1936, p. 88. (Arquivo Pblico Mineiro).
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de Algodo, Fumo e Cereais, que em uma semana recebeu um pblico de 34.982 pessoas.61A
variedade de produtos e eventos no interior da Feira garantia a interatividade entre o visitante e o
espao. Como a populao de Belo Horizonte nessa poca era inferior a 200.000 habitantes, osnmeros registrados nos documentos so bastante expressivos. O Estado fez questo de anotar
esses dados para enaltecer o investimento pblico.
A eficcia da Feira de Amostras como instrumento de propaganda, pode ser
compreendida atravs do relato de um visitante da poca. O professor, escritor e socilogo
Andr Siegfried:
Estou admirado de encontrar em Minas Gerais realizao de tal vulto como a FeiraPermanente de Amostras. Esse servio pblico basta para provar o sensoadministrativo e o esprito de organizao de um governo. Vi em uma hora o quegastaria algumas semanas de estudo para conhecer. A economia deste Estado tem naFeira Permanente de Amostras uma fotografia viva. [...] Minas procurou nessesservios instrumentos de progresso e unidade, capazes de lhe dar mais conforto efacilidade vida, elevar-lhe o nvel de cultura e tornar mais conhecida a riqueza de seusolo e a capacidade de trabalho e esforo civilizador de seu povo. A iniciativa derealizar e prestigiar exposies de carter econmico, tomou-a o governo em virtudeda capital importncia desses certames, nem s por criarem ambiente de otimismo econfiana na administrao, como pelo estimulo dos prmios neles concedidos.62
Andr Siegfried era filho de Jules Siegfried, o ministro do comrcio francs. Finalmente serealizou a proposta de criar uma exposio para estampar a economia mineira e proporcionar
uma viso panormica de tudo o que o Estado produzia e poderia produzir. Em um s lugar o
visitante economizaria tempo e rapidamente teria condies de decidir onde investir seu capital.
Este era sem dvida um relato que Joo Pinheiro e Bernardo Monteiro gostariam de ouvir no
incio da Repblica, o encantamento de um europeu com Minas Gerais. Mais de trinta anos
depois, a exposio positivista e republicana tornara-se de fato realidade.
61ATA DA SESSO SOLENE DE INSTALAO, aos 17 de agosto de 1937. In: Anais da Assemblia Legislativa doEstado de Minas Gerais.3 Sesso ordinria da 1 legislatura da Assemblia Legislativa do Estado de Minas Gerais.BeloHorizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, v. 1, 1937, p.62. (Arquivo da Assemblia Legislativa do Estado deMinas Gerais).62
ATA DA SESSO SOLENE DE INSTALAO, aos 17 de agosto de 1937. In: Anais da Assemblia Legislativa doEstado de Minas Gerais.3 Sesso ordinria da 1 legislatura da Assemblia Legislativa do Estado de Minas Gerais.BeloHorizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, v. 1, 1937, p.39. (Arquivo da Assemblia Legislativa do Estado deMinas Gerais).
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Permanente de Amostras de 1935331
Concluso
A Exposio Permanente almejada por Joo Pinheiro e Bernardo Monteiro na Primeira
Repblica pode ser considerada como um falho projeto de modernizao econmica. Ela chegou
a existir por alguns anos dentro do Colgio Arnaldo, mas de maneira ineficiente. Somente com a
interveno mais intensa do Estado, esse tipo de projeto conseguiria funcionar de forma eficaz.
Por esse motivo pode-se afirmar que nos anos posteriores a Revoluo de 30 os polticos
mineiros tomaram para si e por muitas vezes se lanaram como autores de projetos, na verdade,
idealizados pelos primeiros republicanos. A poltica econmica do ps 1930 tem muita relao
com o incio da Repblica, ou seja, os dois momentos fazem parte de um mesmo processo.
Os idealizadores e defensores da Exposio Permanente de 1901 e da Feira Permanente
de Amostras de 1935 tinham a mesma preocupao de criar mecanismos para modernizar a
economia mineira. Suas aes e argumentos baseavam-se na propaganda que o empreendimento
proporcionaria. Nos dois momentos, existiu a ansiedade de tornar conhecido o potencial
econmico do Estado. A princpio, faltou uma articulao consistente entre os governantes
(poderes executivo e legislativo) para a criao da Exposio Permanente de 1901. Eles falavam
para si mesmos e o projeto ficou a cargo somente da Prefeitura de Belo Horizonte, que por
motivos de crise financeira e a instabilidade poltica, no conseguiu complet-lo. J em 1935,houve um maior dilogo entre os setores interessados e o poder executivo estadual, com o apoio
daAssociao Comercial de Minas, conseguiu colocar em prtica a Feira Permanente de Amostras.
A pesquisa buscou investigar a movimentao na rbita do poder voltada para a
modernizao econmica de Minas Gerais no comeo da Repblica e na dcada de 1930. Como
elementos de estudo e comparao foi crucial dar visibilidade aos projetos de criao de uma
exposio das riquezas do Estado. A ideia passou por uma longa trajetria at que junto da
poltica mais consciente do Estado atuar de cima para baixo, o to almejado sonho dosprimeiros republicanos tomou forma na Feira Permanente de Amostras. Nos dois momentos da
Repblica o que houve, de certa forma, foi uma espcie de revoluo vinda de cima.
Evidentemente, o artigo no esgota a anlise da Exposio Permanente e da Feira
Permanente de Amostras inseridas no contexto da histria poltica brasileira. Jornais da poca e
outras revistas, alm da Revista Comercial de Minas Gerais, podem fornecer mais informaes
relacionadas ao assunto. Ainda assim, considerando-se a possibilidade de encontrar outras fontes,
o estudo fornece elementos que permitem novas interpretaes e pesquisas sobre o tema.