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DAIARA NASCIMENTO ALMEIDA
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
DAIARA NASCIMENTO ALMEIDA
A PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL OSCAR CORDEIRO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
NO ÂMBITO DO PIBID/UNEB
ALAGOINHAS 2012
DAIARA NASCIMENTO ALMEIDA
A PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL OSCAR CORDEIRO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
NO ÂMBITO DO PIBID/UNEB
Monografia apresentada à Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Educação Física. Orientadora: Profª. Ms. Martha Benevides da Costa
ALAGOINHAS 2012
Dedico esta produção à família: Mamãe, Painho, Daiane e Daise.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me orientado na longa jornada da minha formação.
Aos meus pais, que sempre me apoiaram nas minhas decisões.
Às minhas irmãs, alicerces da minha vida, que sempre estiveram comigo nos
bons e maus momentos.
Ás meninas ( Ninita, Isa, Novinha e Daise minha alma gêmea), as quais me
fizeram acreditar que comprar o produto mais barato no supermercado é o de
melhor qualidade.
Aos meus amigos de infância, que me incentivaram a adentrar na
universidade, bem como à conclusão do curso.
À minha Orientadora, Martha Benevides, que através de sua competência,
dedicação, responsabilidade e, principalmente, comprometimento, me ensinou a
tornar-me cada vez melhor em tudo que faço, em especial na vida profissional.
À Dayane Ramos Dórea, quem me apresentou a escrita do mundo
acadêmico.
À minha turma, 2008.2, que me proporcionou momentos alegres e tristes,
mas também experiências.
As minhas amigas Isis, Andressa e Alani, com as quais vivi momentos
inesquecíveis durante a graduação.
Ao grupo do PIBID, pela troca de experiência na carreira docente.
À Neyla, pela nossa parceria e afinidade, a qual rendeu uma bela prática
pedagógica no Oscar Cordeiro Escola parceira do PIBID.
Os alunos do 6° semestre, que trouxeram luz para o curso de Educação
Física.
Á Nívia, Laís, Cintia e Gleisiane ( bebezão) por terem lido e relido esta
produção, dando contribuições relevantes.
Aos alunos do 2° semestre pelos “babas” que me ajudaram a aliviar a tensão
de monografar.
Quero fugir com o circo.
(DAIARA ALMEIDA)
RESUMO
Este estudo teve como objeto investigar os fatores vinculados ao processo de participação dos educandos nas aulas de Educação Física em uma turma do 6º ano do Ensino Fundamental, na Escola Estadual Oscar Cordeiro, localizada na cidade de Alagoinhas-BA, participante do PIBID/UNEB. O problema da pesquisa foi: que fatores interferem na participação dos alunos nas aulas de Educação Física no âmbito do PIBID/UNEB? O objetivo geral foi reconhecer os fatores que estão associados à participação dos alunos nas aulas de Educação Física no âmbito das intervenções do PIBID/UNEB. Portanto, foram objetivos específicos: compreender os aspectos que interferem na participação dos alunos nas aulas de Educação Física; analisar a organização do currículo escolar; verificar como se concretiza a prática pedagógica nas aulas de Educação Física. Metodologicamente, a pesquisa está organizada como abordagem qualitativa, do tipo Estudo de caso. A coleta de dados foi feita com o uso de observação participante e entrevista do tipo grupo focal. A coleta de dado foi realizada a partir da análise de conteúdo. A conclusão aponta que a participação efetiva dos alunos nas aulas de Educação Física apenas ocorrerá no momento em que estes entenderem as reais razões para suas vivências nestas aulas e isso será possível a partir do momento que o educador selecionar, organizar e sistematizar o conhecimento a ser transmitido ao educando de forma que ele possa associar aquilo que está sendo tratado na disciplina com aquilo que está em seu cotidiano.
Palavras-chave: PIBID. Educação Física. Escola.
ABSTRACT
This study had as aim to investigate the factors linked to the process of participation of students in physical education classes in a class of 6th grade of elementary school in the State School Oscar Lamb, located in Alagoinhas-BA participant PIBID / UNEB. The research problem was: what factors influence the participation of students in physical education classes under the PIBID / UNEB? The overall objective was to recognize the factors that are associated with the participation of students in physical education classes as part of interventions PIBID / UNEB. Therefore, specific objectives were: to understand the aspects that affect the participation of students in physical education classes; analyze the organization of the school curriculum; see how it materializes the pedagogical practice in physical education classes. Methodologically the research is organized as a qualitative approach, the type of case study. Data collection was performed with the use of participant observation and focus group interview type. The data collection was performed from the content analysis. The conclusion shows that the effective participation of students in physical education classes only occur when they understand the real reasons for their experiences in these classes and this will be possible from the moment that the teacher select, organize and systematize the knowledge to be transmitted to the student so that he can relate what is being treated in the discipline with what is in their daily lives.
Keywords: PIBID. Physical Education. School.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
PIBID – Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
LISTA DE QUADROS
QUADRO I- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA
UNIDADE LETIVA I
35
QUADRO II- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA
UNIDADE LETIVA II
38
QUADRO III- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA
UNIDADE LETIVA III
39
QUADRO IV- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA
UNIDADE LETIVA IV
40
QUADRO V- ANÁLISE E DISCUSSÃO DA ENTREVISTA 42
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÂO FÍSICA NO
CONTEXTO ESCOLAR
13
3 OLHARES PARA A PARTICIPAÇÂO NAS AULAS DE
EDUCAÇÂO FÌSICA
21
4 METODOLOGIA 30
4.1 Descrição do cenário e dos sujeitos da pesquisa 31
4.2 Instrumento da pesquisa 32
4.3 Instrumento para a análise dos dados 33
5 DISCUSSÂO E ANÀLISE SOBRE A REALIDADE 35
5.1 Diálogo com as observações 35
5.2 Diálogo com a entrevista 42
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 46
REFERÊNCIAS 49
APÊNDICE A 51
APÊNDICE B 52
ANEXO A 53
10
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como objeto investigar os fatores vinculados ao
processo de participação dos educandos nas aulas de Educação Física em uma
turma do 6º ano do Ensino Fundamental, na Escola Estadual Oscar Cordeiro,
localizada na cidade de Alagoinhas-BA, participante do PIBID/UNEB.
Tal temática surgiu diante da minha vivência como bolsista do subprojeto
PIBID- Educação Física (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência),
que tem como propósito estabelecer um diálogo entre a universidade e a escola,
bem como fomentar a atratividade pela carreira docente nos estudantes dos cursos
de licenciatura. O projeto encontra-se em anexo.
Este projeto se dividiu em dois momentos. No primeiro, fizemos um
mapeamento do local para conhecermos os sujeitos que transitam por este
ambiente, acompanhado de estudos de textos e livros (Pedagogia Histórico-Crítica e
Uma Didática para uma Pedagogia Histórico-Crítica, dos autores Dermeval Saviani e
João Gasparin). Essas leituras foram de grande importância, pois contribuíram para
fundamentação do planejamento que norteou as nossas reflexões pedagógicas. O
segundo momento se configurou na nossa prática pedagógica, onde lecionamos
durante um ano letivo, dando origem a esta e outras pesquisas.
Durante nossas práticas docentes, algumas indagações foram surgindo:
Como a distorção entre série/idade contribuiu para a participação dos alunos nas
aulas? A práxis docente interferiu para a participação? A infraestrutura contribuiu
para a participação dos alunos? A organização do currículo escolar interferiu para a
participação dos alunos?
Este estudo se faz imprescindível por remeter a reflexões acerca das nossas
intervenções, fato que viabiliza a criação de condições favoráveis a uma práxis que
desperte o interesse dos educandos, possibilitando que estes consigam
compreender o significado do conhecimento tratado pela Educação Física em seu
cotidiano.
É sabido que esta disciplina busca legitimar-se no espaço escolar, pois no
século passado o seu objeto de conhecimento era o desenvolvimento da aptidão
física, ou seja, a prática pela prática, sem uma reflexão acerca do conhecimento.
Essa tendência reflete na atualidade, pois a Educação Física é vista como
11
desnecessária e sem relevância no currículo escolar, evidenciando lacunas para que
o alunado se aproprie desta, desprestigiando, assim, essa área de conhecimento em
detrimento das demais disciplinas.
Desta forma, este estudo vem para romper o olhar historicamente construído,
demonstrando que esta disciplina não está desconexa da sociedade, possuindo um
papel social respaldado pela lei 9394/96 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que diz:
[...] “a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente
curricular da Educação Básica ajustando-se às faixas etárias e às condições da
população escolar sendo facultativa nos cursos noturnos” (BRASIL, 1996, p 26).
Analisando a Lei, falhas são possíveis de serem encontradas. A opção dos
alunos dos cursos noturnos em não participar das aulas de Educação Física é um
dos exemplos de falhas, o que recai novamente na interpretação do contexto
histórico dessa área. Mas, mesmo com essa divergência na Lei, esta garante a
obrigatoriedade da disciplina no currículo escolar, cabendo aos docentes, através de
suas práticas pedagógicas, transmitir os conhecimentos produzidos historicamente
pela humanidade, que sofreram, e continuam sofrendo, transformações para atender
às necessidades do ser humano.
Essa problemática vem sendo discutida desde 1996, ano em que a Educação
Física foi reconhecida legalmente como componente curricular obrigatório, devendo,
portanto, deixar de ser um momento de recreação e lazer para os alunos. Existem
muitos trabalhos com essa temática. Uma grande parte aborda as dispensas dos
alunos, o desinteresse e exclusão dos mesmos nas aulas de Educação Física,
ocasionado por diversos acontecimentos durante o desenvolvimento da aula (sendo
que muitos destes trabalhos foram realizados com alunos de Ensino Médio,
existindo poucas pesquisas destinadas ao Ensino Fundamental).
Nesse sentido, este trabalho terá uma grande valia, permitindo aos docentes
desta disciplina identificar os motivos pelos quais os educandos podem se interessar
e participar das aulas de Educação Física, bem como refletir sobre alternativas
metodológicas que contribuam para a participação efetiva dos alunos nas aulas.
Diante disso, o problema da pesquisa é: que fatores interferem na
participação dos alunos nas aulas de Educação Física no âmbito do
PIBID/UNEB?
Então, o objetivo geral é reconhecer os fatores que estão associados à
participação dos alunos nas aulas de Educação Física no âmbito das
12
intervenções do PIBID/UNEB e os objetivos específicos são compreender os
aspectos que interferem na participação dos alunos nas aulas de Educação
Física; analisar a organização do currículo escolar; verificar como se concretiza a
prática pedagógica nas aulas de Educação Física.
13
2 PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO ESCOLAR
Para compreendermos a relação e a inserção da Educação Física na
realidade escolar, é imprescindível refletirmos sobre como se concebe a educação
desde sua gênese. A educação nada mais é do que a produção e apropriação do
saber e ou conhecimento.
A esse respeito, é ilustrativo o modo como os gregos consideravam essa questão. Em grego, temos três palavras referentes ao fenômeno do conhecimento: [...]. Doxa significa opinião, isto é o saber próprio do senso comum, conhecimento espontâneo ligado diretamente à experiência cotidiana, um claro-escuro, misto de verdade e de erro. Sofia é a sabedoria fundada numa longa experiência da vida. É nesse sentido que se diz que os velhos são sábios e que os jovens devem ouvir seus conselhos. Finalmente episteme significa ciência, isto é, o conhecimento metódico e sistematizado (SAVIANI, 2009, p.14-15).
Referente a estes saberes, Andrade e Silva (2010) traz, no seu estudo, como
cada saber é disseminado ao longo da história. Na era primitiva, por exemplo, o
Sofia era o conhecimento utilizado para educar os povos através da oralidade, onde
os mais experientes transmitiam aos mais novos os domínios dos instrumentos de
trabalho, assim como os valores e comportamentos frente a alguma situação do
cotidiano. O Doxa, que está relacionado à explicação dos fatos a partir dos mitos,
também vai estar presente nesta civilização, materializando, portanto, o
conhecimento do senso comum.
Embora o saber Doxa estivesse presente na civilização grega, visto que os
acontecimentos dos fenômenos eram explicados a partir da crença nos deuses da
mitologia, havia indícios de uma instituição educativa, pois esta civilização possuía
uma estrutura mais complexa com estrutura social organizada em castas, em que se
concebiam os papeis sociais dos cidadãos a partir destas. Ainda que esta civilização
possuísse as experiências educativas sistematizadas, o surgimento da instituição
escolar se deu somente na Idade Média. Todavia, o seu papel se restringia apenas à
transmissão do saber ligado aos ideais religiosos, que ditavam como a moral, a arte
e a ciência deveriam proceder (ANDRADE; SILVA, 2010; SAVIANI, 2009).
Ainda com base nos mesmos autores, pode-se refletir que o episteme,
caracterizado como o saber científico, só passa a ser um conhecimento transmitido
pela escola a partir do século XVI, com o advento da modernidade. Neste novo
14
modelo, a concepção teocêntrica da vida é rompida gradativamente e, através da
ciência, as explicações dos fenômenos naturais se libertam dos preceitos religiosos
e passam a ser racionais e objetivas. Também nesse momento, a escola, que era
vista como espaço para alguns privilegiados que tinham tempo livre para dedicar ao
conhecimento, passou a ser vista como espaço fundamental para o desenvolvimento
do modelo de sociedade que se implementava nesse contexto (SAVIANI, 2009).
A educação do corpo1 – que em dado momento será chamada de Educação
Física – no contexto escolar também percorreu caminhos diferenciados acerca de
suas concepções. Inicialmente, educa-se o corpo, através da ginástica, para efetivar
a construção da nova sociedade que estava se adequando ao modelo capitalista,
em que o aluno era visto como uma máquina. Ou seja, partindo da visão dualista de
corpo e mente proposta por Descartes, esta prática pedagógica iria desenvolver a
aptidão física e os demais componentes curriculares estimulariam o cognitivo
(SOARES, 2007).
A supracitada educação do corpo esteve a serviço da necessidade
demandada pela sociedade, o que fica evidente, para Castellani Filho (1994), no
século XIX com a transição da sociedade agroexportadora para uma sociedade
urbano-industrial, ocorrida no Brasil. No mesmo sentido, Castellani Filho, et al.
(2009, p. 51) reforçam que:
[...] práticas pedagógicas como a Educação Física foram pensadas e postas em ação, uma vez que correspondia aos interesses da classe social hegemônica naquele período histórico, ou seja, a classe social que dirige política, intelectual e moralmente a nova sociedade.
Com o advento das indústrias com seus maquinários pesados e as longas
jornadas de trabalho enfrentadas pelos trabalhadores, seria necessária uma
população com uma boa aptidão física, forte, ágil e resistente para suportar a rotina
de trabalho. A elite da época procurava uma alternativa apropriada para desenvolver
os futuros trabalhadores de acordo com a exigência do mercado e a ginástica,
empregada no treinamento dos soldados, era uma prática adequada para esta
finalidade. Podemos confirmar esta ideia nos dizeres de Soares (2007, p.51) quando
aponta que:
1 Nomenclatura utilizada por Valter Bratch (1999) para conceituar as praticas pedagógicas realizadas
no espaço escolar que objetivava a promoção da saúde da população no Estado Nacional burguês, do século VXIII, atualmente definidas por Educação Física.
15
Particularmente, o exercício físico seria aquele “cuidado com o corpo” dotado de poderes capazes de resolver os problemas colocados pela sociedade industrial, seria aquele elemento capaz de neutralizar os conflitos sociais e “equilibrar” a vida no mundo do trabalho. Vale ressaltar que, em plena Revolução Industrial, o trabalhador se transforma em simples acessório das máquinas e necessita, cada vez mais, atenção e saúde para suportar as intermináveis horas sem descanso e em posições absolutamente nocivas ao corpo. Daí, a importância atribuída ao exercício físico, este novo “remédio” para os males ”necessários” da nova
ordem.
Em busca de atingir um grande contingente populacional com esta prática, a
elite implanta a ginástica como uma atividade que deve ser realizada pelos alunos
no ambiente escolar, apesar do campo acadêmico da Educação Física não ter sido
ainda constituída. Portanto, conforme nos diz Soares (2007), os métodos de
ginástica eram ministrados por instrutores militares. Neste sentido, recaía sobre a
escola a responsabilidade de formar o cidadão para o mercado de trabalho e,
consequentemente, a educação do corpo, chamada de gynnastica, como ferramenta
essencial neste processo.
O prestígio desta prática no sistema educacional estava para além de
desenvolver e fortalecer física e moralmente os indivíduos, mas vinha também,
segundo Castellani Filho, et al. (2009), do caráter científico advindo das ciências
biológicas que amparavam seu conteúdo de ensino, pois a ciência se transformava
em uma nova “religião” neste período. Este caráter científico, atribuído às práticas
corporais, foi um fator relevante para a sua consideração e respeito no interior do
sistema educacional.
Outro momento em que as práticas corporais foram usadas no contexto
escolar, mas sem muito êxito, foi após a II Guerra Mundial, onde esta tinha o papel
de formar os futuros atletas para disputar as olimpíadas, que abonava o termo de
potência mundial àqueles países vencedores. Uma medalha esportiva não tinha/não
tem apenas valor esportivo. Havia/há, também, um valor político.
Nas décadas de 1960 e 1970, nas afirmações de Bracht (1999), a Educação
Física se curvou diante do esporte. No entanto, não podemos negar que este
fenômeno social teve um papel imprescindível no investimento para o teorizar da
Educação Física, que, até então, não tinha definido um objeto de estudo e se
constituía na prática pela prática. Segundo Bratch (2003, p. 20-21):
A produção acadêmica volta-se para o fenômeno esportivo. É a importância social e política desse fenômeno que faz parecer legitimo o investimento em
16
ciências neste campo. Por sua vez, aqueles que atuam no campo ou tem interfaces com ele privilegiam o tema do esporte porque é ele que oferece as melhores possibilidades de acumulação de capital simbólico por via de seu tratamento científico. São pesquisas que dele se ocupam que têm maiores chances de serem reconhecidas no campo e fora dele. Ou seja, é a importância política e social do fenômeno esportivo (ou do desempenho esportivo do país em nível internacional) [...]
Vale a ressalva que esse investimento simbólico do esporte, atestado por
Darido (2009), estava ligado a uma ideologia. Ideologia essa que explica o fato de o
governo militar, ao apropriar-se da grande legitimidade social atrelada ao esporte,
desviar a atenção da população frente aos problemas sociais existentes na época e
dá a impressão de que o país estava se desenvolvendo.
Como toda prática pedagógica passa a existir a partir da necessidade
concreta da realidade social, e isso ficou evidente ao longo dos momentos históricos
percorridos pela educação do corpo ou da Educação Física no espaço escolar, esta,
imediatamente tem suas bases sociais legitimadoras de sustentação questionadas,
devido a algumas mudanças significativas ocorridas na sociedade (BRACTH, 2001).
O mesmo autor ainda levanta algumas razões que comprovam essas
indagações referentes à legitimidade da Educação Física na escola, por meio de
alguns pontos, a saber: a repaginação ocorrida no processo de produção e no setor
de serviços, decorrente da globalização e dos avanços tecnológicos, onde o trabalho
deixou de ser braçal para ser intelectual, tornando-se desnecessário um trabalhador
com grande aptidão física, uma vez que seu desgaste agora passa a ser mais
psíquico, sendo este atenuado por meio de uma ginástica de intensidade leve ou
algo semelhante.
Além disso, dentro das teias de relações neoliberais, o governo passa a
transferir a responsabilidade do sistema educacional e da saúde para o setor
particular, ainda que seja de seu encargo ofertar essas necessidades básicas para a
população. E isso tudo é financiado, nesse momento, por empresas de saúde ou
cooperativas médicas, as quais, por sua vez, cobram à população por seus serviços.
A retração do Estado neoliberal dessas funções são atendidas, agora, pelo setor
particular, operando, assim, um mercado educacional
Outro aspecto referente à importância da legitimação da Educação Física
escolar é o conceito de saúde. Conforme o mesmo autor, está claro que esse
conceito se modificou na medida em que novos estudos e pesquisas surgiram na
área. Antes, esse termo era restrito apenas ao aspecto biológico, ou seja, ter uma
17
boa saúde significava ter o corpo livre de doença. Entretanto, essa concepção
tornou-se mais complexa, levando à compreensão de que o bem-estar estava para
além do funcionamento biológico. Nesse sentido, a Educação Física relativizou-se,
desfez-se, afinal, ela não é mais a geradora da saúde, mas, sim, um fator que pode
promover a saúde, submergindo, então, seu grau de centralidade no currículo
escolar. Um indicativo dessa submersão é o fato do conteúdo de saúde passar a ser
considerado um tema transversal, impelindo à Educação Física a redefinição e
sistematização do conceito de qualidade de vida.
Nesse sentido, o corpo é definido, agora, como elemento histórico-social,
ganhando importância em um outro aspecto, já que por meio dele é possível
entender o processo histórico da sociedade e é nesse contexto que a dimensão
corpórea do homem se equipara com a dimensão racional. Esta nova forma de
entender o corpo, por incrível que pareça, desarranjou o conhecimento tratado pela
Educação Física, o qual se baseava na visão moderna de corpo que era e ou é de
corpo biológico (BRATCH, 2001).
Assim, a Educação Física torna-se secundária no contexto escolar por não
mais atender à necessidade da sociedade, visto que há uma valorização das
disciplinas que tratam de um conhecimento científico universal e a Educação Física
era tida como “vazia” de conhecimento, por ter como objeto de estudo o
desenvolvimento da aptidão física, não mais necessária no novo contexto do
trabalho. Segundo Bracht (2003, p.31),
Dada a importância e o status que a ciência goza na sociedade e principalmente no meio acadêmico, a EF coloca como meta tornar-se ela própria uma ciência. Passa então a sofrer de certo tipo complexo de édipo; quer ser mas não pode ser, não consegue ser ( não pode consumar o ato).
Nos ditos do autor, percebemos que a Educação Física tenta ser uma ciência.
Contudo, esta, na verdade, por se fundamentar de outras ciências para compor seu
campo de estudo, não pode assim ser considerada, desse modo Bracht (2003,p.32)
defende
[...] a idéia de que a EF não é uma ciência. No entanto, está interessada na ciência, ou nas explicações científicas. A EF é uma prática de intervenção e o que a caracteriza é a intenção pedagógica com que trata um conteúdo [...]
18
Sobre essa prática pedagógica, Medina (2001) sugere que a mesma entre em
crise, pois é através dos questionamentos, da nova leitura da realidade, das
inquietações, que a Educação Física irá superar as antigas tendências. Tendências
essas que fundamentavam uma pedagogia acrítica, sem sentido.
É nessa perspectiva, durante as décadas de 1970 e 1980, que Educação
Física entra em crise para tentar construir uma justificativa para a sua função na
realidade social, em especial no currículo escolar, uma vez que sua base de
sustentação foi aniquilada, com os referenciais da sociedade contemporânea.
Diante do que estava posto, os estudiosos da área de Educação Física
buscaram uma identidade própria, assim como ansiaram pelo sustento da mesma no
currículo escolar. Eles passaram a frequentar cursos de pós-graduação (mestrado)
em programas da área de educação, especialmente a Filosofia da Educação, e,
através de debate pedagógico brasileiro, construiu-se o objeto de estudo da
Educação Física, fundamentado em uma Pedagogia Crítica para justificar-se no
ambiente escolar. Este objeto de estudo, para Castellani Filho et al. (2009, p 39),
incide
Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas das tendências anteriores. Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizada pela expressão corporal: jogos, danças, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como forma de representação simbólica de realidade vividas pelo homem, historicamente criadas culturalmente desenvolvidas.
Observamos, portanto, que esta prática pedagógica passa a ter um corpo de
conhecimento e, ao invés de estar a serviço de uma classe dominante, pretende
diagnosticar e ler os dados emitidos pela realidade social, provocando um
julgamento ético sobre os mesmos. Ao mesmo tempo, determina uma direção que
pode ser conservadora ou transformadora a depender da perspectiva de classe a
quem reflete.( CASTELLANI, et al, 2009)
Entretanto, esta nova síntese do conhecimento da Educação Física esbarra-
se no resquício da perspectiva do desenvolvimento da aptidão físico-esportiva ainda
difundida nos dias atuais. Isto decorre, em parte, das experiências pessoais e
formativas de professores que não tiveram acesso à formação continuada.
19
Além disso, o descompromisso dos docentes, mesmo que advindos de uma
formação atual torna-se, sobretudo, um obstáculo para a legitimação desse
componente curricular na escola. É importante contextualizar esse descompromisso.
Não se trata de algo que pode ser apenas relacionado a questões morais desses
sujeitos. Vivemos em um contexto no qual ser professor é sinônimo de
desvalorização social, de baixos salários e precárias condições de trabalho, de
modo que o contingente de professores é tomado pelo que podemos chamar de
síndrome da desistência e, como mostram amplamente os meios de comunicação,
estão adoecendo. Isto se reflete tanto na fala de desejo dos jovens de quererem ser
professores, como mostra Alves de Souza (2012) em pesquisa na qual fica claro que
a sala de aula não é a opção dos alunos recém-formados do curso de licenciatura.
Este poderia ser, inclusive, o objeto de outra pesquisa, que como não é nosso foco,
não abordaremos com mais profundidade.
Voltando ao nosso tema, a Educação Física escolar, é importante tratar do
que entendemos por legitimação desta no currículo escolar. Nas palavras de Santos
apud Souza júnior (1990, p.27):
[...] o desenvolvimento de uma disciplina deve ser compreendido como resultante das contradições dentro do próprio campo de estudos, o qual reflete e mediatiza diferentes tendências do campo educacional, relacionadas aos conflitos, contradições e mudanças que ocorrem na sociedade.
Se levarmos em conta tais afirmações, podemos depreender que a Educação
Física avançou como um componente curricular, pois a trajetória histórica desta no
espaço escolar coaduna com as afirmações acima, contribuindo, desse modo, para
uma possível legitimação. Entretanto, esta não depende apenas da Educação
Física, mas também de outros fatores, sendo o de maior impedimento, o apontado
por Caparróz (2001, p. 77):
A atual hegemonia do conhecimento científico na escola precisa ser flexibilizada para permitir que outros saberes se legitimem. Somente na medida em que se reconhecem como legítimos outros saberes que não os de caráter conceitual ou intelectual é que temos uma chance de nos afirmamos no currículo escolar.
Cabe, então, a necessidade da escola transcender a ideia de
instrumentalização e, enfim, materializar a educação. Conforme Molina e Molina
Neto (2003), o alicerce de sustentação da classe dominante no poder é, justamente,
20
a escolarização, configurada na especialização do sujeito para o mercado de
trabalho. Daí, a seleção do conhecimento a ser transmitido na escola acaba
traduzindo-se na reprodução da distribuição e controle do capital pelo sistema
vigente, já que se tem uma triagem e uma redução do conhecimento a fim de que
este seja transmitido a uma grande parcela da população, atendendo, assim, apenas
ao interesse de uma classe que precisa de um sujeito instruído e acrítico.
Nesse contexto e considerando o olhar de Caparroz (2001), a Educação
Física tornar-se-á legítima no currículo escolar a partir do momento em que a escola
tenha como função formar o sujeito para atuar de forma crítica e reflexiva na
sociedade, em outras palavras, tenha o papel de educar e não escolarizar o
indivíduo.
Mas, mais que isto, mesmo numa perspectiva mais humanizadora de
educação, a Educação Física só tem como se tornar legítima, na perspectiva de
Souza Junior (2001), se for materializada a partir de uma seleção de conteúdos que
considere a relevância social dos mesmos, a sua contemporaneidade e a
necessidade de possibilitar aos estudantes a reflexão sobre a cultura corporal e se
conseguir definir objetivos de ensino-aprendizagem. Esses são aspectos que
possibilitam que a ação pedagógica não se faça de modo tecnicista e nem se reduza
a uma mera atividade sem significado.
21
3 OLHARES PARA A PARTICIPAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Esse capítulo trata, especificamente, da participação nas aulas de Educação
Física. Esse tema pode ser abordado, conforme levantamento bibliográfico feito, a
partir de vários pontos de vista, desde as questões legais até as questões de gênero
e habilidades esportivas. Assim sendo, trataremos do assunto a partir de alguns
pontos. Primeiro, falaremos da dispensa nas aulas de Educação Física a partir das
questões legais, entendendo que a mesma possibilita que os alunos não participem
das aulas. Em seguida, trataremos da participação a partir da questão de gênero.
Depois, levaremos em consideração os aspectos corporais e as habilidades
motoras. Por fim, traremos pesquisas que tratam mais especificamente dos
argumentos de estudantes para participar ou não participar, a partir do conceito de
motivação.
No que diz respeito à dispensa nas aulas de Educação Física, Darido, et al
(2009), em seu estudo de caso, demarca como a legislação colabora para o
aumento da dispensa dos alunos nas aulas de Educação Física. Tal pesquisa foi
realizada em um colégio particular de um município do interior de São Paulo, entre
os anos de 1997e 2008.
Neste estudo, os autores descrevem o contexto histórico da lei que
regulamenta a Educação Física e suas diversas alterações, que não perdeu sua
essência ao longo da história, mostrando-se contraditória, pois ao mesmo tempo em
que trata da obrigatoriedade da Educação Física, coloca situações em que a mesma
é facultativa aos estudantes, a exemplo dos alunos de curso noturno, que tenham
mais de 30 anos e ainda para aqueles com jornada de trabalho superior a 6 horas.
Essas situações remetem a um olhar para Educação Física ainda biologicista,
negando a vários alunos o acesso ao conhecimento sistematizado.
Além da lei, essa pesquisa aponta outros fatores determinantes para a
dispensa das aulas, sendo estes a organização do currículo, onde Educação Física
é deslocada para o turno oposto dos demais componentes curriculares.
Sobre este fator, Castellani Filho, et al. (2009, p38) assinala que:
Isso causa ônus aos alunos das camadas populares que frequentam a escola pública em relação aos custos dos transportes, na medida em que têm que frequentar a escola em dois turnos nem sempre consecutivos.
22
O trecho citado pode não ser condizente com o estudo inicialmente citado,
pois os alunos participantes do mesmo são oriundos de uma instituição particular.
Logo, tem-se a ideia de uma condição apropriada para custeio da sua frequência
nas aulas, com uma ressalva dos alunos bolsistas, que estando em igual classe dos
alunos das redes públicas de ensino, são acometidos pelo prejuízo de não participar
das aulas de Educação Física.
Vale ressaltar, ainda, que os próprios alunos da rede particular também se
prejudicam, pois são dispensados das aulas de Educação Física por esta incidir em
um turno oposto, coincidindo com atividades extracurriculares, como os cursos de
informática, idiomas, reforço escolar, entre outros. (DARIDO et al.2009)
Outro fator que merece destaque é a facilidade de se obter a dispensa nas
aulas, onde os alunos apresentam atestado médico ou de trabalho, sem uma
triagem criteriosa dos professores e coordenadores da área. Ainda que não exista
uma lei que proíba alunos com algum tipo de doença a serem dispensados da aula,
caso a mesma seja muito grave e impossibilite a vivência do conteúdo, existem
outros meios para a participação das aulas. Com relação à dispensa dos alunos
que trabalham, Castellani Filho, et al. (2009,p39) pontua que:
[...] essa área pode ser considerada uma das mais normativas do currículo. Entre as normas estabelecidas, pode-se destacar apenas a título de exemplo ”a participação facultativa aos alunos trabalhadores do curso noturno, com jornada igual ou superior a seis horas”. Ora se a organização do tempo coloca as aulas de Educação Física em outro turno, como os alunos poderão comparecer a essas aulas? Aí nota-se a “coerência” entre a organização e a normatização escolar. Vale ressaltar que essa norma é veiculada com o amparo legal para o trabalhador, leitura que, contraditoriamente, pode ser interpretada como punição, na medida que impede a ele o acesso a essa prática pedagógica ou área do conhecimento.
Sobre essa mesma temática, Nunes (2007), com seu estudo consolidado em
colégios públicos e particulares em turmas do Ensino Médio, na cidade de Feira de
Santana-Ba, por meio de 269 questionários (74 aplicados para estudantes de escola
pública e 195 para estudantes de escola particular) e entrevista com os
coordenadores de Educação Física, sendo dois da rede pública sem formação na
área e três professores da rede particular formados na área, encontrou que os
alunos desse nível de ensino dispensam-se das aulas de Educação Física, por esta
não preparar os alunos de forma decisiva para o vestibular . As frases a seguir foram
retiradas dos questionários aplicados aos alunos: “Na verdade acho que ela deveria
23
ser no turno oposto ao invés de ter 2 horários, ocupando o de matérias
vestibulisticas” (NUNES, 2007, p.113); “As aulas de Edc. Física devem ser
disponibilizadas a matérias mais importantes, pois estamos de “olho” no vestibular.
(NUNES, 2007, p.113).
O autor apresenta preocupação diante das respostas analisadas e aponta,
ainda, que as escolas não devem, em sua opinião, preparar os alunos para o
vestibular. Tenho a mesma visão do autor e acrescento que a escola deve priorizar,
acima de tudo, a formação do sujeito crítico, numa perspectiva de educação e não
de instrução, como dito no capítulo anterior. Concordo quando destaca que as
respostas são preocupantes, pois os alunos acabam entendendo que o principal
objetivo da escola é a preparação para o vestibular, o que afeta de forma negativa
na formação destes em um sentido amplo.
Na Educação Física, especificamente, o autor aponta a negação dos
conhecimentos da cultura corporal, na medida em que são entendidos como
momentos de recreação e lazer (conceito atribuído ao papel desta disciplina por um
dos coordenadores de área entrevistados). Entretanto, essa concepção dos alunos e
dos coordenadores de área desta disciplina já não cabe na atualidade, visto que na
palestra proferida na II Semana de Educação Física da UESC, Darido trouxe
afirmações que este componente curricular já esta sendo exigido nas provas do
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Para a autora, essa exigência traz
possibilidades de se mudar o lugar que a Educação Física ocupa no Ensino Médio.
Todavia, o que podemos observar até aqui é que a dispensa nas aulas de
Educação Física é facilitada e que se contribui, desse modo, para a não participação
dos alunos nas aulas.
Outro estudo que trata dessa problemática, só que motivada pela questão do
gênero, é a pesquisa de Jacó (2010), realizado na cidade de Campinas-SP, em
quatro turmas de duas escolas públicas, onde foram feitas entrevistas com os
alunos, seguidos de observação das aulas.
Durante suas observações, a autora expõe situações as quais as meninas
estavam presentes na vivência do jogo queimado, porém não tinham uma
participação efetiva, por causa da centralização dos meninos na atividade, fazendo
com que as mesmas se anulassem da aula. Já em outros momentos, que não se
tinha uma intervenção pedagógica, as meninas juntamente com os meninos
participavam efetivamente de algumas práticas corporais, como vôlei.
24
Na entrevista foi perguntado para as meninas se estas gostavam das aulas de
Educação Física e quais atividades que mais gostavam de fazer. Todas
responderam que gostavam e, de cinco meninas entrevistadas, três disseram que
gostavam do queimado.
Para Jacó (2010), essa postura passiva das meninas, acompanhada de
obediência, sem questionamentos, está atrelada ao desejo de sucesso na carreira
escolar, comportamento este valorizado pela professora, já que no desenvolvimento
da aula os meninos apresentavam mau comportamento, sendo repreendidos pela
mesma. Esta postura das meninas no decorrer das aulas, segundo o pensamento da
autora, seria para afirmar atitudes e valores atribuídos à mulher socialmente ao
longo da história ainda presentes na atualidade, de modo que a comunidade escolar
espera que as mesmas possuam as referidas condutas.
Considero um retrocesso a não participação das meninas gerada pela visão
sexista da comunidade escolar diante das conquistas de igualdade social, sem
mencionar os prejuízos futuros que estas terão ao não participarem das aulas, visto
que é através destas que as mesmas se inserem no universo da cultura corporal.
Sem deixar de refletir, além disso, sobre a falta de intervenção da professora para
com a centralização dos meninos na vivência do jogo, sendo que uma metodologia
diferenciada poderia garantir a participação efetiva das meninas.
Discutindo sobre intervenções que possibilitem a participação dos alunos sem
distinção de gênero, menciono a pesquisa de Santos (2011). Trata-se de um estudo
de caso com enfoque etnográfico, realizado na cidade de Alagoinhas-Ba, tendo
como discussão as relações de gênero nas aulas de Educação Física a partir das
intervenções do PIBID/UNEB. Nessa pesquisa foi possível perceber durante as
entrevistas com 4 Bolsistas de Iniciação a Docência, que estes buscavam
estratégias e adaptações durante sua prática pedagógica para que ambos os
gêneros participassem da aula.
As observações de Santos (2011) apresentam atitudes que contrariam a
pesquisa de Jacó (2010), pois durante a vivência dos conteúdos, os bolsistas
incentivavam em excesso a participação das meninas nas aulas, sem dá o mesmo
incentivo aos meninos. Para Santos (2011), isto também é incoerente, porque é
necessário um tratamento igualitário durante as intervenções, o professor deve ter
uma postura que “quebre” as diferenças estereotipadas de gênero durante o fazer
pedagógico. Tenho a mesma visão da autora, pois o docente tem o papel de
25
incentivar o aluno a participar da aula independente de gênero, pois através das
suas intervenções é que se faz uma sociedade menos segregada.
Na pesquisa de Teixeira (2009), a hierarquização do gênero é mais evidente.
Tal estudo foi concretizado em uma escola particular da cidade de Florianópolis-SC,
tendo como objetivo identificar, descrever e interpretar atitudes de exclusão nas
aulas de Educação Física, em uma turma do 2 ano do Ensino Médio composta por
30 a 35 alunos, sendo utilizada a observação participante para a coleta dos dados.
Um aspecto que chamou a atenção do autor durante a observação das aulas
foi a divisão dos grupos por gêneros, os meninos jogavam contra as meninas. Quem
realizava a divisão eram os próprios alunos juntamente com a professora, que ao
notar a superioridade dos meninos, por demostrarem ser mais habilidosos, solicitava
que os mesmos se mesclassem. Porém, essa separação é o que garantia a
participação efetiva das meninas nas aulas, ficando evidente na fala de uma delas
“as meninas ficam com as meninas, professora, porque brincar com os meninos é
muito chato”. Esta fala demonstra como os meninos, por se destacarem mais na
atividade devido às habilidades físicas, impedem as meninas de participarem das
aulas.
Outros fatores que Teixeira (2009) aponta para a exclusão nas aulas é o
caráter competitivo durante as atividades, que incita a individualidade e o desejo de
ganhar a qualquer preço, inexistindo assim a presença do lúdico durante a aula. E,
quando algum aluno expõe fragilidades (“erra”) é repreendido pelo colega: “Ah,
moleque, presta atenção!”.
Sobre a auto exclusão, o autor dividiu em três tipos distintos: a auto exclusão
declarada, onde uma aluna indaga sobre sua não participação nas aulas, ficando
evidente no comentário dela ao professor, “professor não vou fazer a aula não”. A
auto exclusão não declarada, daqueles alunos que chegaram antes do professor e
deslocaram para outro local do colégio sem que o mesmo notasse. Na terceira
categoria, de exclusão parcial, encontravam-se aqueles alunos que se isentavam de
participar das atividades, ou seja, estavam presentes, participavam das atividades,
todavia em determinado momento se isentava da prática ou cruzando os braços ou
encostando-se no canto da quadra. O autor explica que este ato pode estar atrelado
a questões de falta de habilidade, motivação e a exclusão dos menos hábeis podem
ter influenciado tal comportamento, mas de forma intrínseca, pois não houve
nenhuma demonstração ou manifestação aberta por parte dos alunos.
26
Ainda nessa perspectiva, a pesquisa bibliográfica de Silva Júnior (2009)
discute a dimensão da ética na intervenção pedagógica dos professores de
Educação Física, destacadamente no que diz respeito a suas implicações na
participação (ou não) dos alunos nas atividades das aulas.
O mesmo autor ainda justifica como o docente deve operar suas ações éticas
frente algumas situações do cotidiano da cultura escolar que pode contribuir para
não participação dos alunos nas aulas de Educação Física, caso não ocorram
efetivas intervenções pedagógica.
Indica-se que um dos problemas enfrentado pelo professor, quanto a
participação dos alunos nas aulas de Educação Física, refere-se à separação das
atividades, ou seja, “o futebol é para os meninos” e “queimado é para as meninas”,
separando desse modo as práticas corporais vivenciada por gênero, onde na prática
esses estereótipos sexuais acabam impedindo que muitos alunos experimentem
uma prática corporal que não corresponda a sua sexualidade, por receio de serem
desprezados, insultados e apelidados pejorativamente.
Outras situações que podem acarretar a evasão dos alunos nas aulas de
Educação Física, conforme o autor é quando os alunos se estimam
insuficientemente habilidosos para participar de uma atividade, a exemplo dos
“gordinhos” que são, com frequência, vítimas de discriminação na aula, seja porque
a obesidade acaba sendo um obstáculo para a habilidade nos jogos, principalmente
os de agilidade, ou pela compleição física, não respondendo, assim, aos padrões de
beleza corporal, ficando constrangidos em exibir seus corpos e suas (in)aptidões
gestuais.
A última situação apontada por Silva Júnior (2009) é a inserção das pessoas
com deficiência à participação nas atividades, visto que, o professor, na maioria das
vezes, não tem na sua formação uma competência técnica que possibilite a inclusão
dessas pessoas no cotidiano das aulas.
Para superar tais entraves na participação dos alunos nas aulas, Silva Júnior
(2009, p. 3 ) propõe que os professores de Educação Física compreendam que:
O compromisso político e a competência técnica, premissas de dimensão ética, são fundamentais para o engajamento e eficiência na Educação Física escolar. Esses aspectos qualificam a Educação Física enquanto difusora cultural, estendendo aos alunos um vasto repertório de possibilidades corporais, evitando que fiquem empobrecidas suas
27
possibilidades de lazer, exercitação física e de ampliação da cultura corporal.
Tenho a mesma visão do autor, que com o compromisso político e a
competência técnica, o professor pode evitar que os educandos deixem de participar
das aulas pelos fatores apontados. Para Saviani (2008, p. 36):
[...] a competência técnica significa o conhecimento, o domínio das formas adequadas de agir: é, pois, o saber-fazer. Nesse sentido, ao nos defrontarmos com as camadas trabalhadoras na escola, não seria razoável supor que seria possível assumirmos o compromisso político que temos para com elas sem sermos competentes na nossa prática educativa.
Um dos objetivos da Educação Física como componente curricular é
despertar, através da experimentação do conteúdo, o desejo nos alunos em praticar
alguma atividade corporal fora do âmbito escolar (após o fim da vida escolar), com
autonomia.
Nesse sentido, Darido (2004) verificou as razões pelas quais os alunos se
afastam da prática da atividade física regular, analisando o universo da Educação
Física na escola. Os dados foram coletados a partir da aplicação de um
questionário, contendo 14 questões, a 1.172 alunos entre a 5ª e 7ª série do Ensino
Fundamental e 1 ano do Ensino Médio, na rede pública estadual de Rio Claro .
Dentre as 14 questões feitas aos alunos deste estudo, destaco as seguintes
perguntas e respostas. Você participa das aulas de Educação Física da escola? Os
resultados exprimem que os alunos são bastante participativos na 5ª série, com
quase 90% de presença nas aulas, passando para 57,7% no 1 ano do Ensino
Médio. Do mesmo modo, pode-se observar uma diminuição do número de alunos
que afirmam participar “às vezes” da 5ª série para 7ª série, e da 7ª série para o 1
ano do Ensino Médio.
A outra pergunta se traduziu no que os alunos aprenderam nas aulas de
Educação Física. Nas respostas, vê-se que os conteúdos esportivos são
predominantes nas aulas de Educação Física em todas as séries, embora haja uma
diminuição nas indicações conforme os alunos caminham na vida escolar, passando
de 79% de indicações na 5ª série para 57% dos alunos do ensino médio.
O outro questionamento foi relativa ao por que os alunos participam das aulas
de Educação Física ou prática de alguma atividade física.
28
Os resultados mostram claramente a identificação da disciplina com a
dimensão da saúde, pois quase metade dos alunos a entendem nessa perspectiva,
diferentemente dos respondentes adultos (maiores de 18 anos), que a definem como
uma atividade física que proporciona uma boa estética.
Diante da análise, Darido (2009) atribui a diminuição da participação dos
alunos nas aulas de Educação Física e das atividades físicas fora do ambiente
escolar à medida que estes avançam nas séries e paralelamente a idade; ao fato
dos docentes dessa área enfatizarem e sistematizarem exclusivamente o esporte,
contemplando desse modo a participação apenas daqueles alunos que possuem
uma certa afinidade com este conteúdo, negligenciando e desestimulando aqueles
alunos que apreciam os demais conhecimentos produzidos historicamente pela
humanidade, como danças, jogos, lutas, capoeira, entre outros.
No que diz respeito à motivação dos alunos em participar das aulas de
Educação Física, Foller e Teixeira (2011) demarca em seu estudo quais os fatores
que motivam ou desmotivam os alunos a participarem das aulas de Educação
Física. Tal pesquisa efetivou-se na cidade de Florianópolis-Sc, onde aplicou-se um
questionário contendo questões de múltipla escolha a 86 alunos de 5ª a 8ª série, que
frequentavam a aula de Educação Física ministrada por estudantes estagiários.
Nos resultados foi encontrado que a maioria dos alunos se sente motivada
pelas aulas desse componente curricular, com destaque para a faixa etária de 09 a
11 anos (100%), sendo que o fator de maior motivação está atrelado ao fato das
aulas ocorrerem fora da sala de aula (40,1%), enquanto o que mais desmotiva são
os conteúdos ministrados (65,4%), Além disso, evidenciou-se que o conteúdo
predominante nas aulas é o esporte (89,5%), o que explica a desmotivação durante
as aulas, que implica na não participação dos alunos nas mesmas.
Sobre a importância da motivação no processo de ensino-aprendizagem, o
estudo bibliográfico de Caetano (2009) explicita a necessidade do professor de
Educação Física conhecer o estado motivacional do aluno e quais os conteúdos que
lhe chama a atenção, pois cada aluno possui afinidade a um determinado
conhecimento, podendo ser estimulante pra uns e desestimulante para outros, em
face do nível de capacidade que cada um se encontra.
O autor pontua, ainda, dois fatores básicos que podem desencadear a
motivação, sendo eles o fator intrínseco e o fator extrínseco. O primeiro relaciona-se
com o envolvimento do aluno por seu próprio desejo, gerando, desse modo,
29
satisfação, prazer e interesse em se manter envolvido na atividade. A motivação
extrínseca pode ser caracterizada pela vontade do aluno em realizar uma
determinada atividade, objetivando a recompensa.
Para Caetano (2009), a motivação intrínseca é a mais desejada para a
aprendizagem por proporcionar o desenvolvimento da autonomia e da personalidade
do aluno, permitindo a participação efetiva nas aulas de Educação Física.
30
4 METODOLOGIA
A ciência social é um conhecimento que possibilita obter respostas
metodológicas e tecnológicas aos problemas postos pelo desenvolvimento social e
humano (MINAYO, 2010).
É por meio da pesquisa, com suas técnicas racionais e sistemáticas, que
obtemos respostas aos problemas científicos que são propostos. Dessa forma, a
pesquisa é realizada através de conhecimento disponível e da utilização meticulosa
de métodos e técnicas e outros procedimentos científicos (GIL, 2007).
Para se encontrar as respostas advindas das indagações do objeto de estudo,
o investigador se vale de algumas atividades de pesquisa. O presente estudo tem
natureza qualitativa, pois permite uma maior descrição do fenômeno estudado, que
não pode ser apreendido por meio de expressões numéricas. Segundo Minayo
(2010, p.57):
Este tipo de método que tem fundamento teórico, além de permitir desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares, propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. Caracteriza-se pela empiria e pela sistematização progressiva de conhecimento até a lógica interna do grupo ou do processo em estudo.
Trata-se, aqui, de um Estudo de Caso, já que este provê um maior
aprofundamento do objeto, fornecendo um conhecimento amplo e detalhado de uma
ou algumas realidades, que busca, como define Gil (2007,p.54):
Em explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; b) preservar o caráter unitário do objeto estudado; c) descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; [...] e) explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos (GIL, 2007, p. 54).
A investigação foi conduzida durante as minhas intervenções enquanto
bolsista de iniciação a docência. Nesta, pude observar os fatores vinculados ao
processo de participação dos educandos nas aulas de Educação Física em uma
turma do 6º ano do Ensino Fundamental, na escola parceira do PIBID/UNEB-
Educação Física.
31
4.1 Descrição do cenário e dos sujeitos da pesquisa
A escola parceira do subprojeto PIBID está situada na cidade de Alagoinhas,
território de identidade 18, litoral norte/agreste de Alagoinhas, que é composto por
22 municípios. Esta cidade está situada a 120 km da capital, contando com um
índice populacional de 142.160 habitantes em uma área de 734 km2, sendo
considerada a maior e mais desenvolvida cidade do território. A mesma pode ser
visualizada no mapa a seguir.
A instituição na qual se fez a pesquisa está localizada à Rua Luiz Viana, 830-
Centro ,faz parte da rede pública de ensino estadual da cidade, possui médio porte e
atua nos turnos matutino e vespertino. Ela oferece o Ensino Fundamental a 452
alunos nos dois turnos e tem quatorze turmas, sendo sete no matutino e sete no
vespertino.
32
A presente pesquisa ocorreu em uma turma do 6º ano do Ensino
Fundamental do turno vespertino, onde eu e mais uma bolsista do PIBID realizamos
intervenções de Educação Física durante um ano e cinco meses.
A sala onde aconteciam as nossas intervenções era espaçosa, com janelas
grandes e sem vidros, o que a tornava arejada. Possuía quadro de lousa, televisão
com entrada para pen drive e carteiras insuficientes para a quantidade de alunos
pertencentes à turma. Outro local utilizado para nossas práticas pedagógicas era o
pátio da escola, lugar coberto e próximo à sala de aula. Além da sala e pátio, a
quadra de esporte, localizada na parte externa da escola e em péssimas condições
físicas (pois não possui cobertura, as traves estão soltas, sem marcações, o
alambrado e o piso se deteriorando), também era utilizada para as nossas
intervenções.
Essa turma do 6º ano era formada por 36 alunos, com a faixa etária entre 12 e
14 anos, com os quais tínhamos uma convivência bastante afetuosa, com muito
respeito e diálogo, acompanhados de momentos alegres e prazerosos durante o
processo de ensino e aprendizagem. Era uma turma de bom comportamento,
bastante distinta com relação à preferência dos conteúdos e apresentava-se
interessada pela vivência dos mesmos, sendo isso perceptível através das falas e
gestos corporais.
Entretanto, esse envolvimento na aula não era contínuo, pois algumas
circunstâncias interferiam na participação dos educandos nas aulas de Educação
Física. E é sobre isso que o estudo se debruça.
4.2 Instrumentos da pesquisa
Com intuito de fazer uma boa investigação empírica, utilizei o método de
observação participante, que se caracteriza em um processo ao qual o investigador
se insere no contexto dos sujeitos da pesquisa, fazendo parte da sua vida cotidiana,
colhendo dados e paralelamente modificando e sendo modificado pelo contexto.
Esse método foi essencial para a coleta dados advindos durante a nossa prática
pedagógica. Essas informações se configuram nas atitudes, comportamentos e falas
dos alunos, sendo registrados em relatórios enviados mensalmente para a
33
coordenação geral do subprojeto, informando o que ocorria durante o nosso
processo de formação docente. Fiz destes relatórios um diário de campo.
Outro instrumento empregado foi a entrevista, por ser uma das técnicas mais
utilizadas na coleta de dados da pesquisa de campo. Ela é constituída de uma
conversa com um objetivo, fornecendo, assim, informações sobre a subjetividade
referente à realidade dos sujeitos da investigação (MINAYO, 2010). Dentre os vários
tipos de entrevista, optei pela de grupo focal, uma vez que o tempo para coleta dos
dados ficou restrito e esse método possibilita obtenção dos dados em um curto
espaço de tempo.
A princípio pensamos em subdividir a classe em três grupos compostos por
12 alunos, onde cada grupo teria alunos que possuíssem as mesmas condutas nas
aulas. Porém, devido à greve dos professores da Rede Estadual de Educação,
tivemos que repensar a forma que iríamos obter os dados. Por esse motivo,
configurou-se a escolha aleatória de 6 alunos de ambos os gêneros. Com esse
instrumento, pudemos averiguar outros motivos que estavam imperceptíveis no
outro método empregado.
Como já conhecíamos os indivíduos envolvidos na pesquisa, pulamos
algumas etapas para a entrada do entrevistador em campo. Explicamos aos alunos
do que se tratava a entrevista e as contribuições que esta poderia ofertar à
sociedade, entregamos aos responsáveis dos mesmos um termo de consentimento
livre e esclarecido (que foram assinados pelos responsáveis), que informava o
objetivo da pesquisa.
4.3 Instrumento para a análise dos dados
Utilizei o método de análise de conteúdo como técnica para o tratamento dos
dados. Para Bardin (apud MINAYO, 2010, p. 303) essa técnica é definida como:
Um conjunto de técnicas de analise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos ás condições de produção/recepção destas mensagens.
34
Esse método surgiu nos Estados Unidos, na época da primeira Guerra
Mundial. É uma técnica recente se comparada, por exemplo, com a hermenêutica, a
qual desde a Idade Média já era utilizada na interpretação de textos sagrados
(MINAYO, 2010).
Ainda segundo a mesma autora, os teóricos e fundadores das técnicas de
análise de conteúdo são os teóricos Berelson (1952), Lazarsfeld (1952) e Lasswell
(1952). Neles, estavam presentes a objetividade e a sistematicidade, tendo como
foco o rigor quantitativo da frequência das palavras. Desse período até os dias
atuais, essa técnica sofreu profundas modificações e, atualmente, busca-se uma
análise mais detalhada das palavras, levando em consideração o contexto e
circunstância (tentando ultrapassar a superficialidade descritiva da mensagem,
abrangendo, por meio da inferência, uma interpretação mais profunda).
Dos vários tipos de análise de conteúdo, optei pela análise temática, que está
atrelada a uma afirmação de acordo com um assunto específico. Ela permite um
feixe de semelhanças, podendo ser expressa graficamente, através de uma palavra,
de uma frase ou de um resumo. Esse tipo de análise se desenvolve em três etapas:
pré-análise (que se caracteriza na organização, digitação das observações,
acompanhadas pela transcrição das entrevistas. As entrevistas constituem-se de
uma leitura e seleção das palavras, frases, atitudes tidas como relevantes),
exploração do material (onde foi feita a categorização das falas e expressões com
determinada significação emitida pelos alunos, realizada a contagem, classificação e
reunião dos dados em categorias, segundo a natureza dos temas) e o tratamento
dos resultados obtidos (onde foi feita uma interpretação com base no referencial
teórico).
35
5 DISCUSSÃO E ANÁLISE SOBRE A REALIDADE
Neste capítulo, aborda-se os “dados” coletados nas entrevistas e nas
observações participantes. Pela técnica de Análise de Conteúdo, como já dito na
Metodologia, descreve-se e discute-se, com base no referencial teórico consultado,
os fatores que interferem na participação dos alunos nas aulas propostas no âmbito
do PIBID/UNEB-Educação Física. É preciso ressaltar que as categorias de análise
foram definidas a partir do contato com os dados da realidade.
5.1 Diálogo com as observações
Na análise dos registros das observações, fez-se a opção de organizar esse
momento por Unidade Letiva. Como a observação foi feita durante todo o ano letivo
de 2011, são quatro Unidades a analisar.
QUADRO I- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA UNIDADE LETIVA I
Categorias Ocorrência
Distorção série / idade Os alunos que possuíam incompatibilidade entre série/idade não participavam da aula
Práxis docente Os alunos centralizavam a bola
Separação autônoma dos alunos de acordo com o gênero
Grande parte dos alunos não participaram da aula, devido ao sol forte
Infraestrutura da escola Salas de aula superlotadas
Contínua ausência de alguns professores no último horário
Aulas não geminadas
Organização do currículo escolar
Dificuldade em abordar o conteúdo em apenas uma aula
36
Na primeira unidade, sistematizamos o conteúdo jogos cooperativos, onde
constatamos que os alunos com incompatibilidade entre série/idade não
participavam da vivência do conhecimento. Tal comportamento estava atrelado ao
fato das atividades não despertarem a mobilização dos alunos para a construção do
conhecimento, uma vez que os mesmos, por terem uma idade mais avançada,
necessitavam de um desafio maior se comparado com os demais alunos com idade
correspondente à série.
Fatores que interferiram no processo de ensino e aprendizagem foram a
centralização do material pedagógico (bola) pelos alunos de ambos os sexos, não
passando-o para os colegas, o que favoreceu a desistência de alguns alunos
durante a vivência do conteúdo.
No estudo de Jacó (2010) também se faz menção à centralização da bola,
contudo somente pelo sexo masculino, influenciando diretamente na participação
das meninas nas aulas. Ainda neste estudo a autora expõe o fato das aulas
acontecerem com a separação de gênero sem a intervenção da professora.
O mesmo episódio aconteceu nas nossas aulas, mas ao contrário do estudo
citado, nós intervirmos através de diálogos e conseguimos mudar algo que já estava
enraizado na cultura da escola em relação às aulas de Educação Física.
Outro problema que dificultou a prática pedagógica e a participação dos
alunos e que acontece em várias outras escolas públicas brasileiras foi à questão da
superlotação das turmas. Por isso, gastamos muito tempo para conseguir a
organização dos alunos, de modo que isto gera dificuldade em abranger todo o
conteúdo programado para as intervenções. Talvez se as aulas acontecessem em
horários seguidos, pudéssemos garantir a realização do planejamento, visto que em
muitos momentos somos obrigados a deixá-los incompletos, sem reflexão, e quando
retomamos posteriormente a maior parte dos alunos já esqueceram o que foi visto.
Acredito, também, que a falta de experiência inicial, contribuiu para que isso
acontecesse.
Esse aspecto foi próprio do caso analisado, pois nos estudos consultados
este não foi um fator considerado significativo nas análises dos autores.
A falta de infraestrutura da escola também interfere na participação dos
alunos. Os espaços disponíveis na escola para as intervenções do PIBID/UNEB-
Educação Física, especialmente a quadra, estavam em estado de deterioração e
sem cobertura e as atividades aconteciam em horários em que o sol estava bastante
37
forte e os alunos se recusavam a fazer as atividades propostas neste ambiente. Se
na organização da rotina escolar houvesse preocupação com o quão é prejudicial
para os alunos à permanência em um sol forte, as aulas de Educação Física
poderiam acontecer sempre nos horários iniciais da manhã ou nos últimos horários
da tarde. Poderia haver, também, preocupação dos poderes públicos de garantir a
cobertura desses espaços.
Todavia, pode-se aqui fazer referência ao fato de que, como vimos no
referencial teórico, o sistema de ensino prioriza as atividades de instrução
necessárias ao trabalho. Atualmente, a Educação Física não é necessária para tal,
de modo que a mesma é desvalorizada e isto se reflete nos seus espaços
pedagógicos.
O que nos causou indignação por muitas vezes foi à reincidência de falta dos
demais professores durante o período em que estivemos atuando neste ambiente.
Isto deixava os alunos dispersos e eufóricos, já esperando pela ausência destes. E
quando isso acontecia em horários posteriores ao nosso, o entusiasmo deixava de
ser pela aula e passava a ser pela vontade de voltar para casa.
Algumas reflexões podem ser tecidas aqui. A primeira tem relação com a
própria história da Educação Física. Este componente passou a ser desvalorizado
em dado momento histórico, como se viu a partir de Bracth (2001). Todavia, parece
que esse quadro, atualmente, não pode ser analisado apenas do ponto de vista
dessa área de conhecimento. O que parece haver é uma desvalorização da escola
enquanto espaço formativo por parte de toda a comunidade por motivos diversos
(precárias condições de trabalho docente, aprendizado não significativo por parte
dos alunos, entre outros). Essa não é, no entanto, a discussão que propomos nessa
pesquisa e, portanto, não nos estenderemos nesse debate.
A fim de aproximar os alunos do conhecimento, em especial os com que
possuíam distorção série/idade, a nossa intervenção consistiu na utilização de
recursos como textos, imagens, mural e jogos com um maior grau de dificuldade,
respeitando o nível sócio-cognitivo dos demais alunos, como sugerem Castellani
Filho, et al (2009).
Para superar os demais obstáculos que interferiam na participação dos
alunos, passamos a inserir regras que descentralizassem a bola dos alunos que a
mantinham em seu domínio nos jogos vivenciados, a abordar o conteúdo na sala,
quando esta se encontrava no horário de forte sol, assim como a orientação para a
38
vivência do conteúdo na quadra, visto que os alunos ficavam dispersos nesta. Vale
ressaltar que foram solicitados registros escritos daqueles alunos que não
participavam da aula no momento das vivências. E, quando possível, utilizamos os
horários dos professores que faltavam. Sem deixar de mencionar que, muitas vezes,
isto acontecia a pedido dos próprios alunos da escola, o que pode demonstrar uma
revalorização das aulas de Educação Física por parte deles.
QUADRO II- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA UNIDADE LETIVA II
Categorias Ocorrências
Distorção entre série/idade
Práxis docente Alunos pronunciaram piadinhas de
“mal gosto” para com os alunos com
sobrepeso
Infraestrutura
Organização do currículo escolar
Abertura do projeto meio ambiente
O conhecimento abordado na segunda unidade foi o atletismo. Na
experimentação da prova quatro por quatro deste esporte, os alunos com sobrepeso
foram discriminados pelos colegas, o que acarretou na renúncia de alguns alunos
que possuíam esta compleição física a participarem das aulas. Tal episódio se
assemelha com a pesquisa de Silva Júnior (2009), que elucida a evasão dos alunos
“gordinhos” das aulas de Educação Física, pelo fato dos mesmos não terem o
padrão de beleza corporal dito como ideal, ficando assim constrangidos em se expor
nas aulas.
O autor menciona que cabe ao professor ter uma conduta ética de revisão de
planejamento possibilitando, desse modo, a participação dos alunos nas aulas.
Nesse sentido, o autor cita Darido (2009), que sugere como estratégia metodológica,
que foi utilizada por nós, o dialogo onde refletimos acerca dos estereótipos de
beleza hoje presentes na sociedade. Tal estratégia não tem intuito de defender que
o obeso permaneça obeso, visto que isso não faz bem a saúde, mas deixar claro
39
que muitas pessoas não têm a escolha de ser ou não obeso, por isso os demais
colegas não devem utilizar essa aparência como critério para julgar os colegas.
A abertura do projeto do meio ambiente foi outro momento que contribuiu para
a não participação dos alunos, uma vez que este se realizou no horário da nossa
aula e como não sabíamos da existência do mesmo, não foi possível pensarmos em
estratégias metodológicas que incluíssem a disciplina de Educação Física no citado
projeto.
Há aqui dois pontos de análise. O primeiro diz respeito ao diálogo da escola
para com o PIBID. Observa-se, ainda, que há uma substituição do conhecimento
clássico, tido como essencial para a elevação do nível do conhecimento cultural do
aluno, por atividades que abrangem os temas transversais, uma vez que, estes
podem ser inseridos no próprio conteúdo trabalhado na unidade, sendo muito mais
enriquecedor, pois o aluno terá uma visão mais ampla do conteúdo. Mas, como a
Educação Física não costuma estar incluída dentre os conhecimentos mais
valorizados, não é inserida nesses momentos. Isto costuma ser comum quando se
refere à Educação Física, como mencionado a partir dos autores consultados no
referencial teórico.
É notório a partir dos dados apresentados nas unidades anteriores que
ocorreu uma significativa redução do distanciamento dos alunos nas aulas, assim
como o surgimento de outros fatores que interferiram no desenvolvimento das
mesmas.
QUADRO III- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA UNIDADE LETIVA III
Categorias Ocorrências
Distorção entre série/ idade
Práxis
Falta de competência técnica do professor
para sistematizar o conteúdo dança
Infraestrutura
Preocupação dos alunos em perder suas
carteiras para outras turmas
Continua ausência de professores no último
horário
Os alunos foram prestigiar um projeto no
40
Organização curricular da escola
centro de cultura
Ocorreu uma reunião a qual impossibilitou a
continuidade das nossas intervenções
Comemoração do dia dos estudantes
Abordamos nessa unidade o conteúdo dança que teve como maior
impedimento para participação dos alunos nas aulas, a principio, a nossa falta de
domínio dos instrumentos teóricos e práticos do conhecimento tratado, já que
durante a nossa formação o contato que tivemos com a dança foi superficial, não
dando assim condições de fazermos apresentações sistemáticas do conteúdo para o
aluno, bem como a utilizar metodologias que visassem a participação dos mesmos
nas aulas.
Essa falta de competência técnica é referenciada por Silva Júnior (2009) em
seu estudo, porém em outro contexto, pois o autor trata dos professores que, muitas
vezes, não tem experiências na sua formação que possibilitem inserir pessoas com
deficiência física nas atividades das aulas. Essa ausência tem relação, ainda, com a
competência técnica de que fala Saviani (2008). Este autor fala da necessidade do
professor “saber fazer”, pois isto tem relação, inclusive, com o compromisso político
que se precisa ter com os alunos das classes populares.
Mesmo com essa limitação na sistematização do conteúdo podemos observar
que não ocorreu a generificação das atividades mencionadas pelo mesmo autor (a
idéia de atividades específicas para meninos e para meninas) referenciado acima,
podendo ser demonstrada na atitude dos meninos em se envolver na vivência do
conteúdo da mesma forma que as meninas, sem a ideia equivocada de que a dança
é conteúdo de menina e não de menino.
É preciso ressaltar que foram realizadas com os bolsistas do PIBID/UNEB-EF
duas oficinas de dança com professora convidada, no sentido de dar suporte à
organização didático-pedagógica do conteúdo. Todavia, mesmo com estas, as
dificuldades em sistematizar o trato com o conteúdo persistiram. Pensa-se, então,
que as atividades para tratar dos conhecimentos específicos da Educação Física
com os bolsistas devem ser mais longos.
Outro fator que também contribuiu para a não participação dos alunos nas
aulas nessa unidade, além da nossa falta de domínio do conteúdo, foi a
preocupação dos alunos em perderem suas carteiras para os alunos de outras
41
turmas, tendo em vista a falta destas em número suficiente na escola. Este dado não
foi abordado nos estudos consultados, se tornando próprio deste estudo.
Podemos perceber a repetição de ocorrências vistas nas demais unidades,
que provocou o distanciamento dos alunos para com o conteúdo, a exemplo do
ultimo horário, posterior ao nosso, ser vago, pois o professor responsável por este
horário não se fazia presente, assim como o desenvolvimento de projetos no mesmo
horário das aulas de Educação Física, em que os alunos deixaram de participar mais
uma vez das aulas para fazer-se presente no projeto que ocorreu num outro espaço.
Outras atividades extracurriculares que eliminaram nossa aula e,
consequentemente, favoreceram a falta de participação dos alunos foi a
comemoração do dia dos estudantes e as reuniões entre o corpo docente. E, mais
uma vez, pode-se fazer referência à desvalorização da Educação Física no currículo
escolar.
Na última unidade, trabalhamos com conhecimento lutas, que muitos
professores de Educação Física tem receio em sistematizar por acreditarem que a
violência está intrínseca na mesma. Desse modo, exponho os dados encontrados
durante a transmissão deste conteúdo.
QUADRO IV- DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS OBSERVAÇÕES DA UNIDADE LETIVA IV
Categorias Ocorrências
Distorção série/idade
Práxis
Inscrição dos Jogos Inter-salas
durante a aula
infraestrutura
Organização curricular
Interrompemos a nossa prática
pedagógica a fim de ensaiar com os
alunos a apresentação de dança
42
Nesta unidade, os únicos fatores que interferiram na participação dos alunos
nas aulas de Educação Física foi a realização das inscrições dos Jogos Inter-salas2
na nossa aula, bem como o uso da mesma para ensaiarmos a coreografia de
abertura do evento, tendo em vista que ao invés de estarmos transmitindo o
conteúdo da disciplina, concretizávamos uma atividade extracurricular.
Nesse sentido, tanto a escola quanto o grupo PIBID poderiam ter encontrado
outra estratégia para atender às demandas solicitadas, podendo este evento ter sido
promovido em acordo com os conteúdos trabalhados ao longo da unidade. Tal dado
não foi discutido nos estudos levantados no referencial teórico. Mas o que se sugere
é que os Jogos Inter-salas sejam realizados após o trabalho nas unidades que
tratam de jogos e esportes, já que são as manifestações mais contempladas nesse
evento.
Quanto ao ensaio da dança, é preciso dizer que o objetivo era apresentar a
síntese do que foi tematizado na unidade de dança. Todavia, como havíamos tido
dificuldade em sistematizar esse conteúdo, terminamos agindo de modo
contraditório, deixando de tratar o conteúdo para ensaiar a dança, configurando uma
prática que nós mesmos entendemos como não sendo Educação Física na
perspectiva que a defendemos.
5.2 Diálogo com a entrevista
Através dos dados obtidos nas entrevistas, foi realizado um mapa de análise
de conteúdo, onde foi possível organizar um quadro das frequências das ocorrências
de acordo com cada categoria. Na análise foi considerado apenas o que mais
apareceu em cada categoria.
QUADRO V – ANÁLISE E DISCUSSÃO DA ENTREVISTA COM ALUNOS DA ESCOLA
Categorias Ocorrências Frequência em número
Distorção série/idade
2 Os Jogos Inter-salas é um evento que visa a socialização e interação entre os alunos de turmas de
diferentes idades, através da experimentação de diversos esportes e jogos, sendo promovida pela escola.
43
Práxis docente
Gosto de aprender coisas
novas e não participo
quando não gosto do
conteúdo.
2
Acho bom, acho legal e eu
não participo que depende
do conteúdo.
3
Na aula de Educação
Física, já descobri muitas
coisas, não participo
quando tem muita coisa e
não da pra vim pra escola.
1
A senhora ficava no pé dos
alunos quando estes não
queriam aprender.
3
Aprendi muitos conteúdos
que não sabia e aprendi
viver melhor na sociedade.
2
As aulas de Educação
Física são diferentes das
outras e era um pouquinho
mais divertido que as outras
contribuindo para que a
gente assista.
1
Infraestrutura
É um espaço onde a gente
pode praticar o conteúdo.
3
ajudou muito, apesar de
que quando está chovendo
não podemos praticar as
aula de Educação Física na
quadra.
3
44
Desorganização dos
alunos.
6
Organização
curricular da escola
O atletismo porque é um
esporte que gosto muito e
pratico no dia a dia.
1
Gosto mais da dança e
lutas, porque é uma coisa
que eu pratico muito no dia
a dia.
2
Gostei mais dos jogos de
tabuleiro.
1
Gostei foi de jogar futebol. 1
Na fala dos alunos é possível perceber que os mesmos participam das aulas
de Educação Física, por este componente curricular ser transmitido de forma lúdica,
tornando-a assim prazerosa. Apontaram também a diversificação dos conteúdos
como um fator motivador para a participação nas aulas e para a realização de
atividade física fora do âmbito escolar.
Esse resultado acompanha os estudos de Darido (2009), que traz como
principal motivo para a não participação dos alunos nas aulas de Educação Física e
das práticas de atividade física fora do espaço educativo, o fato dos professores
sistematizarem e enfatizarem apenas o esporte como conteúdo nas aulas.
Segundo os alunos, a forma como eram conduzidas as aulas apresentou
pontos positivos no que diz respeito ao convívio social, bem como à aprendizagem
significativa dos conteúdos, mesmo esta se fazendo valer por meio de cobranças
intensas das responsabilidades dos discentes para com as atividades realizadas nas
aulas. Nesse sentido, há no estudo de Silva Júnior (2009) apontamentos que tratam
desta perspectiva, já que se afirma que o docente provido de compromisso político e
competência técnica garantirá aos alunos um repertório amplo de possibilidades
corporais impedindo que fiquem empobrecidas suas possibilidades de lazer e
exercitação corporal.
Para os alunos a sua não participação nas aulas de Educação Física está
atrelada ao fato de não gostarem de um determinado conteúdo abordado ao longo
45
do ano letivo. Na fala de cada educando ficou evidente as respectivas preferências
por um específico conhecimento, o que influencia diretamente na sua participação. A
essa variedade de conhecimento Darido (2009) aponta que o docente deve ofertar
aos educandos, conteúdos diversificados, atendendo deste modo as particularidade
dos alunos frente ao conteúdo. Vale pontuar que o planejamento anual produzido
pelo grupo do PIBID possibilitou que os alunos desfrutassem de diversos
conhecimentos, despertando assim a motivação intrínseca retratada por Caetano
(2009), garantindo aos alunos a apropriação do conteúdo abordado, por ser uma
atividade que esta de acordo com seu próprio desejo.
Os educandos citaram, também, a quadra como um fator que contribui para
seu distanciamento das aulas, sem deixar de mencionar o aspecto positivo desse
ambiente, o qual se refere a vivência do conhecimento. Isto porque torna-se
impossível a materialização do conteúdo no período chuvoso, dado encontrado na
entrevista, bem como no período de sol intenso, fator obtido através da observação.
O aspecto positivo citado pelos alunos referente a este ambiente pode ter
relação com o estudo de Foller e Teixeira (2010) que expressa, como um dos fatores
para a motivação dos alunos em participar das aulas de Educação Física, as aulas
ocorrerem em outro espaço que não seja a sala de aula.
A desorganização dos alunos também foi uma das justificativas dos
educandos entrevistados para a sua não participação nas aulas, não ficou evidente
o porquê de este fato interferir na participação do mesmo, mas esta ocorrência pode
ter ligação com os dados encontrados na observação, onde devido à superlotação
das salas de aula demandarem um grande gasto de tempo para organizar os alunos
a fim de que estes participem das aulas e internalizem o conhecimento.
46
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto histórico percorrido pela Educação Física na escola é uma ponte
que necessita ser atravessada, para que este componente curricular torne-se
relevante no âmbito educacional, uma vez que esta prática pedagógica vem
assumindo atribuições as quais, de formas distintas, caracterizam-na como uma
disciplina responsável pelo fazer por fazer, desprovido de uma educação intelectual.
No trajeto deste trabalho foi possível apreender que esta concepção de
Educação Física é ultrapassada, mas que infelizmente é reproduzida por alguns
docentes da área, que ao abordar\tratar o conteúdo apenas na perspectiva do mero
fazer, executar, agir e praticar, acabam por contribuir para a desconfiguração e
desprestígio desta prática pedagógica diante do seu papel na educação escolar.
Acredito que essa ponte foi atravessada por nós através da nossa prática
pedagógica, na medida em que organizamos e sistematizamos os conhecimentos a
serem abordados, oferecendo aos alunos o exercício de refletir acerca do que está
sendo vivenciado nas aulas, possibilitando a sua participação efetiva.
Nesse sentido, a partir da pesquisa dos fatores interferentes na participação
dos alunos nas aulas de Educação Física, alguns questionamentos ganharam
destaque quanto a essa interferência, a saber: Os fatores de distorção série/idade
interferiu na participação dos alunos nas aulas? A práxis docente contribuiu na
participação dos alunos? A infraestrutura contribuiu para a participação dos alunos?
E a organização do currículo escolar interferiu na participação dos alunos?
Constatamos que o fator de distorção série/idade interferiu para a
participação dos alunos nas aulas de Educação Física na primeira unidade. Estes
não se sentiram motivados em participar das aulas. Tal interferência foi superada a
partir do momento em que buscamos alternativas metodológicas para aproximarmos
este alunado do conhecimento abordado.
Para tanto, a práxis docente contribuiu para que os alunos participassem das
aulas de Educação Física, pois estávamos preocupados em ofertar aos alunos uma
organização do pensamento frente ao conhecimento específico da Educação Física,
contribuindo, assim, para a sua reflexão pedagógica. Além disso, fizemos a seleção
do conhecimento levando em consideração não apenas o desejo e a motivação dos
alunos para que estes participassem das aulas, mas também para ampliar o seu
47
leque de conhecimento, demonstrando a relevância de conhecer amplamente os
diversos elementos que compõem a cultura corporal. Todavia, é importante admitir
que, por falta de experiência em determinadas situações (a nossa falta de
competência técnica para sistematizar o conteúdo dança), contribuímos para o
distanciamento dos alunos nas aulas e agimos de forma contraditória com a
perspectiva de Educação Física que defendemos.
A infrestrutura do espaço escolar foi um dos fatores que mais contribuiu para
a não participação dos alunos nas aulas de Educação Física, embora os
entrevistados tenham afirmado que a precariedade da estrutura da escola não
influenciou nesta participação. Todavia, destacaram a importância de se ter estes
espaços para a vivência do conteúdo.
No tocante às perspectivas supracitadas, vale pontuar que quando se fala em
infraestrutura, estão incluídas questões como superlotação das salas de aula, assim
como a contínua ausência dos professores nos últimos horários, que acabava
deixando os alunos eufóricos para retornarem para casa. Portanto, a precariedade
dos espaços para as aulas de Educação Física, como a quadra, por exemplo, é
apenas um elemento desta estrutura escolar.
A organização do currículo escolar, especificamente o projeto de ensino-
aprendizagem construído pela equipe do PIBID/UNEB, contribuiu para aproximar os
alunos do conhecimento por ter abordado conteúdos diversificados proporcionando,
deste modo, que todos tenham vivenciado, pelo menos em uma unidade, um
elemento da cultura corporal que mais tem aproximação (jogos, esportes, danças,
lutas).Todavia, quanto à organização do currículo escolar mais amplamente, a
Educação Física é prejudicada na medida em que os horários geralmente não são
geminados e, mais que isso, estão dispostos em momentos em que a incidência do
sol é mais forte, o que inviabilizou, muitas vezes, o uso da quadra.
Enfim, a função da Educação Física enquanto disciplina curricular é fomentar
nos alunos o interesse e motivação suficiente para sua participação nas aulas. Para
tanto, deve-se utilizar da cultura corporal a fim de que o educando entenda-a e
aproprie-se dela não somente pra o lazer, mas no intuito de pensar criticamente
acerca do que faz.
Portanto, a participação efetiva apenas ocorrerá no momento em que os
educandos entenderem as reais razões para suas vivências nas aulas de Educação
Física e isso será possível a partir do momento que o educador selecionar, organizar
48
e sistematizar o conhecimento a ser transmitido ao educando de forma que ele
possa associar aquilo que está sendo tratado na disciplina com aquilo que está em
seu cotidiano.
REFERÊNCIAS
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SOARES, Carmem Lucia. Educação Física: Raízes Europeias e Brasil 4.ed. Campinas:Autores Associados, 2007. FOLLE, Alexandre; TEIXEIRA, Fabiano Augusto. Motivação de escolares das séries finais do ensino fundamental nas aulas de Educação Física. Revista de Educação Física/UEM, v. 23, n. 1, 2012. TEIXEIRA, Fabiano Augusto. Educação Física: reflexões sobre as aulas de exclusão. Motrivivência, ano XXI, n. 32/33, jun-dez, 2009.
ANEXO A
APÊNCIDE A
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
RECONHECIDA PELA PORTARIA MINISTERIAL Nº 909 DE 31-07-95 DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO/CAMPUS II – ALAGOINHAS
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA Alagoinhas, ___ de __________de 2012.
Termo de Livre Esclarecimento e Consentimento
Estimado (a) Diretora da Escola Oscar Cordeiro
Eu Daiara Nascimento Almeida, estou realizando uma pesquisa para
investigar os fatores vinculados ao processo de participação dos educandos nas
aulas de Educação Física. A elaboração dessa pesquisa, além de objetivar o
aprendizado da acadêmica, citada anteriormente, visa à utilização desta, para
elaboração do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
A participação dos alunos nesta pesquisa é importante pelos fatores expostos
acima, bem como a obtenção de dados que cada um de forma particular irá fornecer
e será essencial para o estudo. Se concordar, gostaria de entrevistar, os alunos
fazendo uso de gravador e posteriormente dos dados fornecidos neste diálogo, para
que as investigações possam prosseguir.
Gostaria de sua autorização, para o uso das informações obtidas durante a
entrevista. E assumo o compromisso de que não revelarei a identidade dos mesmos.
Desde já, agradeço sua contribuição.
Daiara Nascimento Almeida.
Eu, ______________________________________________________,
autorizo a realização da entrevista, visto ter lido, entendido e esclarecido minha
dúvidas referentes às informações deste estudo.
Assinatura do (a) Bolsista de Iniciação a Docência
DÚVIDAS: Telefone: (75) 9231-2457 E-mail: [email protected]
APÊNDICE B
Roteiro da entrevista
1º) Por que vocês participam ou não participam das aulas de Educação Física?
2º) Gostaram dos conteúdos abordados? Por quê?
3º) A infraestrutura da escola contribuiu para as aulas de Educação Física
acontecerem?
4º) A forma com que conduzimos as aulas ajudou para que vocês participassem ou
não?
5º) Quais as possíveis mudanças que podem ser realizadas nas aulas de Educação
Física?
APÊNDICE C
Fotos das intervenções