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A Participação Social do Idoso no Município de São José dos Campos:
O grupo de convivência Nova Era
MARIANGELA FAGGIONATO DOS SANTOS
O interesse em caracterizar a participação social do
idoso, a partir daquele que freqüenta um grupo de
convivência, deu-se a partir de uma experiência,
vivida no Fórum Permanente do Idoso, no período de
1997 a 2000, no Município de São José dos Campos.
A maioria dos idosos se apresentava, nesse espaço,
de forma lamuriosa, queixosa, quanto às condições
sociais nas quais se encontrava. O papel
desempenhado por esses idosos era mais de
observadores que de agentes de intervenção social.
JUSTIFICATIVA
Caracterizar a participação social do
idoso freqüentador do grupo de
convivência Nova Era, analisando seu
engajamento em ações intencionadas
a contribuir para uma re-concepção e
transformação da realidade social local.
OBJETIVO
Metodologia
Pesquisa de abordagem qualitativa;
Coleta de dados utilizando a entrevista reflexiva: individual e coletiva;
Entrevista individual - roteiro com questões semi-estruturadas;
Entrevista coletiva utilizando uma pergunta provocativa;
Sujeitos – oito idosos, com idade mínima de 60 anos, nacionalidade brasileira e tempo de pertencimento ao grupo de, no mínimo, um ano.
Os dados coletados na entrevista individual, permitiram a
identificação dos entrevistados como um grupo de idosos
que não tem sua origem em São José dos Campos, uma vez
que todos são migrantes. Mudaram para a cidade por
diversos motivos, e nessa época seis deles estavam na fase
da idade madura, entre 30 e 40 anos. A mudança se deu,
para a maioria, por motivo de trabalho. Uma das idosas
chegou à cidade na idade escolar, com o objetivo de
continuar os estudos, e um idoso chegou na fase da velhice,
buscando novas condições de vida, em função da viuvez.
RESULTADOS
Em relação à caracterização dos sujeitos, quanto ao tempo de pertencimento ao grupo:
• 25% dos entrevistados participam do grupo de 1 a 5 anos;
• 37,5% em torno de 5 a 10 anos;
• 12,5% de 10 a 15 anos;
• 25% há mais de 15 anos.
Aqueles que são da 3ª Idade, mas são mais jovens, olham para os mais idosos com indiferença, por nós sermos mais velhos. Eles querem manter uma certa distância.
(VOLAN)
As novas estão discriminando as antigas dentro dos grupos de 3ª idade. O grupo que começou comigo continua, mas tem uma nova safra de 3ª Idade e essa nova safra discrimina a outra.
(VALDA)
No que se refere à questão sobre o porquê o idoso buscou pertencer a um grupo de convivência, fica evidente que a condição de pertencer ao grupo está relacionada a experiências de perdas, como a perda do trabalho pela aposentadoria, do companheiro (a), em função da viuvez ou rompimento da relação de casamento, separação.
Ah! Para não ficar isolada. Se eu ficasse em casa o que eu ia ficar fazendo? Então a necessidade de se comunicar, você vê, eu dava aula, me comunicava com os alunos, com os pais dos alunos e com os professores, depois eu me afastei. Aí eu fiquei entre quatro paredes. Meu marido tinha falecido um semestre antes de me aposentar. Depois eu fiquei em casa parada, os meus filhos casados, aí eu falei assim, “eu tenho que fazer alguma coisa” e comecei a freqüentar o Nova Era.
(MARIA DAS DORES)
Após a viuvez deu uma falha, uma parada, felizmente foi onde (no Grupo) eu encontrei novas amizades, cresci como pessoa.
(ERNESTO)
Deixando a atividade do trabalho vai ficando um vazio que você tem que preencher com outras coisas e foi justamente o que eu fiz.
(CÉLIA)
Além de se caracterizar como um espaço para elaboração das perdas, o Grupo também se configura como oportunidade de ganhos.
Participo das palestras que ocorrem no
SESC, são importantes e gustativas
para nós, abordam vários temas.
(VOLAN)
O grupo aparece também como lugar
para descoberta do prazer de existir,
através das atividades de lazer e
socioculturais os idosos se
redescobrem enquanto ser.
Eu comecei a participar só dos bailes. Depois vieram os passeios, eu fui me entrosando no grupo. Depois vim para o SESC participar de esporte, como vôlei e outros, aí eu comecei a me empenhar mais no grupo.
(VOLAN)
Eu participo do grupo de canto, o coral, eu gosto de coisa ligada a parte artística. Já fiz passeios aqui pelo SESC, a gente vai muito a teatro, eu adoro, eu gosto.
(MARIA CLARA)
O grupo aparece como um espaço que
favorece mudanças e o seu significado
decorre do entendimento do grupo
enquanto espaço de pertença onde o
idoso se reconhece dentre os outros
idosos com quem convive.
Minha vida mudou muito, fiquei mais
comunicativa, eu tive oportunidade de
me encontrar nas pessoas, ser
conselheira, receber informação delas,
é uma troca de valores.
(CÉLIA)
Quanto às condições de vida na cidade, os idosos revelam percepção crítica ao abordarem temas como saúde, transporte, lazer, condições das calçadas, etc...
Eu já quebrei meu pé numa calçada. Tem rua que você precisa andar no meio da rua porque as raízes das árvores estão tão grandes que você não consegue andar na calçada. Eu fraturei o meu pé numa subida de uma raiz de uma árvore na calçada, o quarteirão inteiro estava assim. (VALDA)
(...) os ônibus não estão preparados para os idosos. Subir aquele degrau é difícil, ou o braço não pode fazer força, ou a perna não sobe até lá.
(VALDA)
Os motoristas não foram preparados para ter paciência com os idosos.
(CATARINA)
Eu, graças a Deus, posso pagar meu
plano de saúde, mas eu acho que não
é possível o idoso levantar 5 horas da
manhã para pegar uma senha e se
ele tem que fazer um exame mais
difícil ele pena, porque é daqui a 20,
30 dias, se ele está precisando hoje
fazer uma chapa como ele vai
esperar, teria que ser imediato.
(CATARINA)
Ficou evidente que a maioria dos entrevistados deseja encontrar novos caminhos.
Os motoristas precisavam ter algumas aulas. A prefeitura dar uma andada por aí com fiscais para ver as calçadas, como estão. (CATARINA)
Deveriam ter locais para abrigar pessoas idosas abandonadas pela família. Deveriam ter casinhas simples para o casal idoso ou uma pessoa sozinha viver com dignidade. (VOLAN)
Fazer campanhas, abaixo assinados e levar para o poder público, isso é dar uma meta de orientação.
(MARIA)
O caminho que eu acho é a política, uma política melhor, que não houvessem tantos partidos políticos, todo mundo que entrasse na política, entrasse para amenizar tudo, melhorar a cidade. (CÉLIA)
Precisa ter mais união, infelizmente o idoso nessa hora não tem união. Precisa conscientizar a nossa população de idosos que se não houver união não vai haver progresso. (CATARINA)
A questão da participação cidadã, e sua
relação com o processo histórico que a
caracteriza, se evidencia, quando da
entrevista coletiva, onde os idosos foram
unânimes em declarar que sua geração
era de indivíduos que não construíram
um processo de participação
interventora reivindicativa.
A gente sempre ficou pressionada. Na nossa época quem reivindicava era baderneiro, ou PC, era procurado, caçado. Então a gente tinha que ter o pé no chão para ver onde pisava, porque “bobiou dançou”.
(MARIA)
Não havia liberdade. (CÉLIA)
Quando nós estávamos trabalhando nós tivemos aqui no Brasil 20 anos de ditadura, de repressão, (...) não se podia falar de política em lugar nenhum, de 64 a 84, não se podia falar.
(MARIA CLARA)
Os centros acadêmicos foram fechados.
(MARIA DAS DORES)
Nessa Época do AI-5, nas escolas o professor não se podia dar OSPB, ou qualquer coisa que falasse em política, era preso, desaparecia. (MARIA CLARA)
A gente sempre ficou pressionada. Na nossa época quem reivindicava era baderneiro ou PC, era procurado, caçado.
(MARIA)
Conclusão
Os dados analisados revelam que esses idosos
estão em busca de um lugar de dignidade no
social, diferente da condição de “não lugar”
decorrente da influência dos momentos
históricos que viveram e que não favoreceram
a construção de um processo de participação
cidadã. Mostram-se incomodados em relação a
falta de políticas públicas que possam dar
conta de suprir necessidades em diversas
áreas da vida no Município.
Participando de atividades desenvolvidas nos grupos de convivência, como é o caso do Grupo Nova Era, os idosos se reconstroem enquanto seres sociais e apontam caminhos para a busca de soluções para a transformação do social, embora não se coloquem como agentes promotores de mudanças.
No tocante a participação na gestão do espaço público, o grupo denota a existência de homens e mulheres que têm diante de si o desafio de se constituírem cidadãos sujeitos de seus direitos, estão vivendo o árduo processo da construção de uma nova cidadania.
Esses espaços de sociabilidade
devem se constituir, também em
ambientes propiciadores à construção
de sujeitos sociais de direitos,
incluindo um processo educativo que
favoreça a participação cidadã de
intervenção na vida da cidade, com
engajamento em ações que ensejem
transformações sociais.
Gosto de ser homem, de ser gente, porque sei que a minha passagem pelo mundo não é predeterminada, preestabelecida. Que o meu “destino” não é um dado, mas algo que precisa ser feito e de cuja responsabilidade não posso me eximir.
(PAULO FREIRE)