126
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO KARLA CHRISTINA NEVES DE SOUZA A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO BRASILEIRA: A GESTÃO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ BELÉM-PA 2013

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

KARLA CHRISTINA NEVES DE SOUZA

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO BRASILEIRA:

A GESTÃO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NO MUNICÍPIO DE

ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ

BELÉM-PA

2013

Page 2: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

KARLA CHRISTINA NEVES DE SOUZA

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO BRASILEIRA:

A GESTÃO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NO MUNICÍPIO DE

ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia como requisito

para obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Desenvolvimento Sustentável.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Maria de Albuquerque

Vasconcellos.

BELÉM-PA

2013

Page 3: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

658.404

S729p Souza, Karla Christina Neves de.

A participação social na politica de habitação brasileira: a gestão do

programa Minha Casa Minha Vida no município de Abaetetuba no Estado do

Pará/ Karla Christina Neves De Souza. – Belém, 2013.

126 f.; il.: 21 x 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia, Programa de Pós

Graduação em Administração, 2013.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos.

1. Políticas públicas – gestão. 2. Programa habitacional – gestão. 3.

Gestão pública municipal. I. Vasconcelos, Ana Maria Albuquerque. II.

Título.

Page 4: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

KARLA CHRISTINA NEVES DE SOUZA

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO BRASILEIRA:

A GESTÃO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NO MUNICÍPIO DE

ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia como requisito

para obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Desenvolvimento Sustentável.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Maria de Albuquerque

Vasconcellos.

Banca Examinadora:

Apresentado em: 31/01/2014.

_______________________________________

Profª Drª. Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos

Orientadora

_______________________________________

Profª. Drª. Eugenia Rosa Cabral - UNAMA

_______________________________________

Prof. Dr°. José Júlio Ferreira Lima - UFPA

Conceito: __________________

BELÉM-PA

2013

Page 5: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

Dedico este trabalho ao meu pai Carlos José Serra de

Souza,

Minha mãe Tereza Cristina Neves de Souza,

Meus irmãos Karina Christina Neves de Souza e

Carlos José Serra de Souza Júnior,

Que me apoiaram para a realização deste trabalho.

Page 6: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

AGRADECIMENTOS

Agradecendo a Deus pela saúde e força de vontade para realizar este trabalho. Agradeço, também,

aos meus pais e irmãos que a todo o momento tiveram paciência e compreensão com a minha

dedicação para fazer este trabalho.

À minha orientadora, Profª Drª Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos, que vem acompanhando

meu trabalho de pesquisa com bastante paciência e competência. Agradeço também aos professores

que ajudaram na minha formação. Aos professores do mestrado e alunos com quem tive a

oportunidade de conviver durante este um ano e meio de curso.

À minha colega e amiga do curso de mestrado Shirle Meira que sempre está disposta a ajudar os

colegas e em particular a minha pessoa, que incansavelmente tem contribuído para a elaboração do

meu projeto de qualificação.

Agradeço a todos meus amigos e colegas de trabalho que têm me apoiado desde o início do curso.

Agradeço também aos meus familiares e amigos que me incentivaram e me deram muita força para

a realização.

Page 7: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo identificar como ocorre a participação social, por meio

dos conselhos gestores municipais, na gestão do Programa Minha Casa Minha Vida –

PMCMV, Habitação de Interesse Social, no município de Abaetetuba no estado do Pará.

Entende-se que a partir da formulação e implementação da nova política nacional de habitação

(PNH), em 2003, por meio do ministério das cidades, a política habitacional inova por

caracterizar-se como um modelo participativo e democrático, que foi impulsionado pelo

movimento de reforma urbana e mobilização da sociedade civil, no qual o novo desenho

institucional foi marcado pela descentralização, gestão democrática das políticas públicas e

novos canais de participação entre sociedade e governo, como os conselhos gestores, além dos

fóruns e dos orçamentos participativos que trazem em seu bojo a garantia de espaços na

participação e controle social na construção de políticas públicas. Nesse sentido, o trabalho

analisa a gestão da participação social da sociedade civil no PMCMV, procurando

identificar até que ponto tal participação, a partir dos conselhos gestores, tem contribuído para

o alcance do atendimento da população por uma moradia digna, sobretudo, a de baixa renda.

A pesquisa foi realizada por meio de uma busca documental e entrevistas semi-estruturadas

com representantes dos governos federal, estadual e municipal, bem como com líderes de

movimentos sociais e populares Os resultados apontaram um grande avanço na política

habitacional, com ampla participação da sociedade civil em todos os setores relacionados à

habitação. No entanto, apesar do PMCMV ter ampliado os recursos de forma significativa para o

setor habitacional, n ã o existiu participação social l o c a l no âmbito do programa no

município de Abaetetuba.

Palavras-chave: Política Habitacional. Participação Social. Conselhos Gestores. Gestão Social.

Page 8: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

ABSTRACT

The present study aims to identify how the social participation occurs through municipal

management councils, in the management of the Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV,

Social Housing, in the city of Abaetetuba in the state of Pará. It is understood that from the

formulation and implementation of the new national housing Policy ( NHP ) in 2003, through

the ministry of cities, the housing policy innovation because it is characterized as a participatory

and democratic model, which was driven by the movement of urban reform and mobilization civil

society, in which the new institutional design was marked by decentralization, democratic

management of public policies and new channels of participation between society and government,

as management councils, in addition to the forums and participatory budgeting which bring in

their wake a guarantee spaces on the social participation and control in the construction of public

policies. So, this paper analyzes the management of social participation of civil society in

PMCMV, seeking to identify the extent to which such participation from the management

councils, has contributed to the scope of care for the population of decent housing, especially the

low income. The survey was conducted through a document searching and semi - structured

interviews with representatives of federal, state and municipal governments interviews, as well

as with leaders of social movements and popular The results showed a great improvement in

housing policy, with broad participation of civil society in all sectors related to housing. However,

despite the PMCMV have expanded significantly the resources for the housing sector, not there is

social participation in the program in the municipality of Abaetetuba.

Keywords: Housing Policy. Social Participation. Management Councils. Social management.

Page 9: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Recuos e avanços na gestão pública da política de habitação no período de

Vargas (1930-1954).

25

Quadro 2 - Recuos e avanços na gestão pública da política de habitação no período

do BNH (1964-1986).

29

Quadro 3 - Recuos e avanços na gestão pública da política de habitação no período

FHC (1995-2002).

34

Quadro 4 - Avanços e desafios das ações de descentralização da PNH e do SNHIS. 50

Quadro 5 - Conceitos da Teoria da Gestão Social, segundo alguns autores da área. 55

Quadro 6 - Categorias de análise que fundamentam os estudos da Teoria da Gestão

Social.

56

Quadro 7 - Eixos estruturais de ação da Política Nacional de Habitação. 62

Quadro 8 - Conjunto de instrumentos que visam viabilizar e implementar a PNH. 63

Quadro 9 - Subsistemas de Habitação – SNHIN e SNHM - na PNH. 64

Quadro 10 - Quadro Demonstrativo do Cadastro Habitacional do Município de

Abaetetuba em Dezembro de 2012.

82

Quadro 11 - Principais Avanços e limites da nova Política de Habitação de Interesse

Social, a partir da visão dos atores entrevistados, segundo número de

repostas.

87

Quadro 12 - Principais Avanços e limites do Programa Minha Casa Minha Vida -

PMCMV, a partir da visão dos atores entrevistados, segundo número de

repostas.

88

Quadro 13 - Principais Avanços e limites dos Conselhos Gestores, a partir da visão dos

atores entrevistados, segundo número de repostas.

98

Page 10: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS, MAPAS E TABELAS

Figura 1 - Organograma da Política Nacional de Habitação. 65

Figura 2 - Fluxograma do Sistema Estadual de Habitação de Interesse Social. 76

Gráfico 1 - Evolução dos investimentos em Habitação. 69

Gráfico 2 - Brasil: percentual de atendimento dos programas habitacionais (FGTS,

FAR, FDS, OGU e FAT) por faixa de renda – 2002 a 2009.

69

Gráfico 3 - Déficit habitacional 2005. 84

Gráfico 4 - Déficit habitacional 2006. 84

Gráfico 5 - Déficit habitacional 2007. 85

Gráfico 6 - Déficit habitacional 2008. 85

Mapa 1 - Município de Abaetetuba. 74

Mapa 2 - Proporção de municípios com cadastro ou levantamento de famílias

interessadas em programas habitacionais, 2004.

79

Mapa 3 - Proporção de municípios com cadastro ou levantamento de famílias

interessadas em programas habitacionais, 2009.

79

Mapa 4 - Proporção de municípios com órgão específico para política de habitação –

2004.

80

Mapa 5 - Proporção de municípios com órgão específico para política de habitação –

2009.

80

Mapa 6 - Proporção de municípios com conselho municipal de habitação – 2004. 97

Mapa 7 - Proporção de municípios com conselho municipal de habitação – 2009. 97

Tabela 1 - Dados Demográficos do município de Abaetetuba. 74

Tabela 2 - Déficit habitacional total – 2000-2008. 83

Tabela 3 - Déficit habitacional urbano – 2000-2008. 83

Tabela 4 - Infográficos: Evolução Populacional. 86

Page 11: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNH BANCO NACIONAL DE HABITAÇÃO

CEF CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

CF CONSTITUIÇÃO FEDERAL

CGFNHIS CONSELHO GESTOR

COHAB COMPANHIA DE HABITAÇÃO

CONCIDADES CONSELHO DAS CIDADES

EC ESTATUTO DAS CIDADES

FAR FUNDO DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL

FAT FUNDO DE ARRENDAMENTO TERRITORIAL

FCP FUNDAÇÃO DA CASA POPULAR

FDS FUNDO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL

FEHIS FUNDO ESTADUAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

FGTS FUNDO DE GARANTIA DE TEMPO DE SERVIÇO

FHC FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

FMHIS FUNDO MUNICIPAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

FNHIS FUNDO NACIONAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

HIS HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

IAPs INSTITUTOS DE APOSENTADORIAS E PENSÕES

ICMS IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO E SERVIÇOS

LDO DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

LOA ORÇAMENTO ANUAL

MAS MINISTÉRIO DA AÇÃO SOCIAL

MCIDADES MINISTÉRIO DAS CIDADES

MPO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO

MNLM MOVIMENTO NACIONAL DE LUTA PELA MORADIA

ONG ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL

OGU ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO

OSC ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL

PAC PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO

PEHIS PLANO ESTADUAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

PL PROJETO DE LEI

PLANHAB PLANO NACIONAL DE HABITAÇÃO

PLHIS PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

PNH PLANO NACIONAL DE HABITAÇÃO

PMCMV PROGRAMA MINHA CADA MINHA VIDA

PNDU POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO

PNHR PROGRAMA NACIONAL DE HABITAÇÃO RURAL

PPA PLANO PLURIANUAL

SBPE SISTEMA BRASILEIRO DE POUPANÇA E EMPRÉSTIMO

SEAC SECRETARIA DE AÇÃO COMUNITÁRIA

SEHIS SISTEMA ESTADUAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE

SOCIAL

SEMEIA SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE

SEPURB SECRETÁRIA DE POLÍTICA URBANA

SFH SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO

Page 12: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

SFI SISTEMA FINANCEIRO IMOBILIÁRIO

SM SALÁRIO MÍNIMO

SNDU SISTEMA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO

SNH SECRETARIA DE HABITAÇÃO NACIONAL

SNH SISTEMA NACIONAL DE HABITAÇÃO

SHHIS SISTEMA NACIONAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE

SOCIAL

SIMAHAB SISTEMA DE INFORMAÇÃO, AVALIAÇÃO E

MONITORAMENTO DA HABITAÇÃO

SNHM SISTEMA NACIONAL DE HABITAÇÃO DE MERCADO

UNMP UNIÃO NACIONAL POR MORADIA POPULAR

Page 13: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

2 A GESTÃO DA POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL 21

2.1 A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NA GESTÃO DA HABITAÇÃO SOCIAL A

PARTIR DA DÉCADA DE 1930 ATÉ O BNH

22

2.2 PERÍODO PÓS-CONSTITUIÇÃO DE 1988 30

2.3 A REFORMA GERENCIAL E O PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO DA

POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL

35

2.4 APONTAMENTOS SOBRE AS POLÍTICAS SOCIAIS 43

2.4.1 As estratégias de descentralização no âmbito da política nacional de habitação e

do sistema nacional de habitação de interesse social

47

2.5 A GESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO DO PMCMV 51

3 A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA POLÍTICA HABITACIONAL 57

3.1 O CONTEXTO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA 58

3.2 AVANÇOS NA POLÍTICA HABITACIONAL DE INTERESSE SOCIAL NO

MUNICÍPIO DE ABAETETUBA

73

3.2.1 Cadastro para identificação do déficit municipal de moradias 78

3.2.2 Órgão de gestão da política habitacional 79

4 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS CONSELHOS GESTORES DE

POLÍTICAS PÚBLICAS

89

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 100

REFERÊNCIAS 103

APÊNDICE A - Quadro 1 - Avanços e Limites da nova Política de Habitação de

Interesse Social e do PMCMV, a partir da visão dos atores entrevistados, segundo

número de respostas.

112

APÊNDICE B - Quadro 2 - Avanços e Limites do Programa Minha Casa Minha Vida

- PMCMV, a partir da visão dos atores entrevistados, segundo número de respostas.

116

APÊNDICE C - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DOS

CONSELHOS DE HABITAÇÃO

120

APÊNDICE D - ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DA

PREFEITURA DE ABAETETUBA

121

APÊNDICE E - ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DA

COHAB-PA

122

APÊNDICE F - ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DOS

MOVIMENTOS SOCIAIS

123

APÊNDICE G - ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DA

CAIXA EXCONÔMICA FEDERAL

124

Page 14: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

APÊNDICE H - ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DO

CONCIDADES/ABAETETUBA

125

Page 15: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

14

1 INTRODUÇÃO

Em 2003, a partir do governo Lula, a política habitacional brasileira passou por um processo

de reestruturação, por meio da criação do Ministério das Cidades1, do Sistema Nacional de

Habitação de Interesse Social (SNHIS), do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

(FNHIS) e de seu Conselho Gestor (CGFNHIS), pela Lei nº 11.124/20052. O Estatuto das Cidades

3,

aprovado pela Lei Federal nº 10.257/2001, também contribuiu para o fortalecimento da nova

política, com base em projeto de lei que após 13 anos de tramitação pelo Congresso Nacional,

configuraram em um novo paradigma de gestão da habitação, a Nova Política Habitacional (PNH)4

para o país (BRASIL, 2010; MARICATO, 2005; MARICATO; SANTOS JÚNIOR, 2007).

Vale ressaltar que o embrião do novo modelo de política habitacional, a partir de 2003, é

fruto da discussão de vários especialistas e entidades de diversos segmentos do setor habitacional,

como governo, empresários, acadêmicos, profissionais e lideranças de movimentos populares. Após

um ano de debate, este grupo chega a um projeto consensuado de política habitacional para o país,

denominado Projeto Moradia, lançado em 2000 (INSTITUTO CIDADANIA, 2000; BONDUK,

2009).

A discussão em torno do Projeto Moradia incorporou a criação do Fundo Nacional de

Moradia Popular, PL 2.710/92, Projeto de Lei que foi aprovado após 13 anos de tramitação, com

assinatura de 800.000 eleitores de todo país (MARICATO, 1997). O Projeto constituiu a principal

base da nova política habitacional do governo Lula. Entre as principais propostas do Projeto

Moradia destacam-se: defesa da aprovação do Estatuto das Cidades, criação do Ministério das

Cidades, Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano, Sistema Nacional de Habitação, Fundo

Nacional de Moradia, a ser operado pela Caixa Econômica Federal, criação de uma rede de agentes

promotores (destacando o papel das Cohabs) e agentes técnicos. Os recursos utilizados são,

principalmente o FGTS, para o enfrentamento do problema habitacional, ampliação do atendimento

1 O Ministério das Cidades foi criado pela Lei Federa nº 10. 863 de 2003, no início da gestão do governo Lula e representou o

reconhecimento de que os imensos desafios urbanos do país precisavam de enfrentados com políticas de Estado e por meio de uma

abordagem integrada (BRASIL, 2010, p. 16). 2 A Lei Federal nº 11.124/2005 instituiu o SNHIS, FNHIS e o CGFNHIS, sendo o SNHIS, voltado para exclusivamente para a faixa

de interesse social, definindo um modelo de gestão descentralizado, democrático e participativo que deve buscar compatibilizar e

integrar as políticas habitacionais federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, e as demais políticas setoriais de

desenvolvimento urbano, ambientais e de inclusão social (BRASIL, 2010, p. 17). 3 O Estatuto das Cidades foi criado pela Lei nº 10. 257/2001 fornecendo uma nova base jurídica para a política urbana no Brasil,

regulamentando os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, no que se refere ao tema urbano (MARICATO, 2006). 4 Importantes autores da área de habitação abordam a expressão “Nova Política Habitacional” como uma mudança significativa de

paradigma na questão habitacional a partir de 2003 (MARICATO, 2005; SANTOS JÚNIOR, 2007; BONDUKI, 2008; BONDUKI

2009).

Page 16: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

15

às classes com maior renda por meio do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Com isso, verifica-se

a abrangência do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) às classes média e média

baixa, para viabilizar o atendimento dessas classes e viabilizar o atendimento das classes com

menor renda através dos subsídios do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e

orçamentos públicos, vinculando receitas da arrecadação de 1% do ICMS de Estados para alimentar

o Fundo de Habitação (INSTITUTO CIDADANIA, 2000).

A nova PNH é fruto de um processo participativo e democrático, que reconhece a

participação da sociedade nas políticas públicas como direito dos cidadãos, e apresenta como um de

seus princípios, a gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade.

Todo esse processo possibilitou o controle social e transparência nas decisões e processos, assim

como, uma de suas diretrizes “estímulo à participação de todos os agentes públicos e privados, da

sociedade organizada, dos setores técnicos e acadêmicos na formulação e implementação da

Política Nacional de Habitação, com vistas à superação do déficit habitacional brasileiro” (BRASIL,

2004, p. 30-31).

O Ministério das Cidades e o SNHIS estabeleceram um novo arranjo institucional para o

enfrentamento da questão habitacional, baseados no fortalecimento da pactuação federativa e

integração das políticas federal, estadual e municipal, maior participação e controle social, por meio

dos órgãos colegiados, como o Conselho das Cidades (ConCidades)5, Conselho Gestor do FNHIS e

os Conselhos Gestores municipais de habitação. Esses arranjos foram representados por diversos

segmentos do poder público e da sociedade civil, sendo a maioria representada por movimentos

populares (HOLANDA, 2011).

Neste contexto, desde 2005, especificamente a partir de 2007, o governo federal

disponibiliza de forma significativa maior aporte de recursos para o atendimento ao setor

habitacional, e, em especial, às classes de renda mais baixa, por meio do FNHIS, e lança o Plano de

Aceleração do Crescimento (PAC)6, com o objetivo de promover o crescimento econômico com um

ambicioso programa de investimentos em infraestrutura (CARDOSO et al, 2011).

Com o fortalecimento do novo desenho institucional da política de habitação, caracterizada

pela ampliação de recursos e pelo enfrentamento do problema habitacional no país, foram

5 O Conselhos das Cidades (ConCidades) está previsto pela MP 2220/01 e é o instrumento de controle social e participação com

maior repercussão, resultado do processo de luta por gestão democrática empreendida na luta pelo Estatuto das Cidades

(RODRIGUES; BARBOSA, 2010). 6 O PAC é um programa estratégico do Governo Federal que articula diversos programas federais. Com o objetivo de investir em

obras de infraestrutura logística e urbana (transporte, energia, saneamento, habitação e recursos hídricos). Sua gestão é realizada

pelo Comitê Gestor do PAC (CGPAC), composto pelos ministros da Casa Civil, da Fazenda e do Planejamento (BRASIL, [2013]).

Page 17: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

16

estabelecidas regras aos estados e municípios para acesso ao FNHIS, tornando-se obrigatória a

criação de fundos e conselhos com participação social, assim como a elaboração dos Planos Locais

de Habitação de Interesse Social (PLHIS), em consonância com o Plano Nacional de Habitação

(PlanHab)7, que foi elaborado por meio de um processo participativo de debates ocorrido em todas

as regiões do país, entre agosto de 2007 e dezembro de 2008, além do diálogo com o ConCidades, o

Conselho Gestor do FNHIS e outras instâncias participativas (BRASIL, 2010; BONDUK, 2009).

Assim, o novo arranjo institucional da PNH, por meio do Ministério das Cidades,

caracteriza-se como um modelo participativo e democrático de gestão na área habitacional, que

reconhece a participação nas políticas públicas enquanto direito dos cidadãos (BRASIL, 2010). A

criação do SNHIS pode ser considerada um avanço para a política nacional de habitação, na medida

em que resulta da trajetória e do acúmulo importantes dos movimentos ligados ao diálogo com a

Reforma Urbana8 no país, baseado na maior participação e controle social, além do fortalecimento

da pactuação federativa, em que se verifica maior ampliação dos recursos. (MARICATO, 2005;

MARICATO; SANTOS JÚNIOR, 2007).

Desta forma, o novo paradigma de gestão habitacional traz em seu bojo a inclusão social,

gestão participativa e democrática da sociedade civil (BRASIL, 2004), por meio de novos atores

sociais, tais como, os Conselhos Gestores, as experiências dos Orçamentos Participativos na gestão

da cidade, as Organizações não Governamentais (ONGs) e os Fóruns Temáticos. Todo esse processo

se fortaleceu através dos movimentos sociais, que visam a redemocratização do país e seu

fortalecimento com a Constituição Federal de 1988, configurando novos formatos de participação

social, além de possibilitar a construção e ocupação da esfera pública, em que as demandas sociais

ganham legitimidade (KAUCHAKJE, 2002).

Millani destaca que o processo de reforma do Estado e a participação social vêm sendo

construídos como um dos princípios organizativos efetivos e essenciais dos processos de

deliberação democrática no âmbito da administração local, o que possibilita a participação do

cidadão e das organizações da sociedade civil no processo de planejamento das políticas públicas

foi transformado em modelo de gestão pública local contemporânea (MILLANI, 2008).

7 O PlanHab é um dos mais importantes instrumentos para a implementação da Nova Política Nacional de Habitação, previsto na Lei

11.124/05, que instituiu o SNHIS, por meio de um intenso processo participativo, que contou com a presença de todos os

segmentos sociais relacionados com o setor habitacional (BRASIL, 2009). 8 A Reforma Urbana é fruto do processo de reivindicação de vários movimentos sociais que somados aos movimentos da reforma

urbana, a partir da década de 60, lutavam por melhores condições de vida, pelo direito à moradia e o direito à cidade, tendo seu

ápice nos anos de 1990, com o primeiro Projeto de Iniciativa Popular do País que dispõe sobre a criação do Fundo e Conselho

Nacional de Habitação de Interesse Social, com mais de um milhão de assinaturas, aprovado em 2005 pelo Congresso nacional e

sancionada pelo presidente Lula em 2006 (RODRIGUES; BARBOSA, 2010).

Page 18: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

17

Para Kauchakje (2002), os novos formatos de participação social e da organização da

sociedade civil no Brasil, como os movimentos sociais, conselhos gestores, fóruns e orçamento

participativo, são entendidos como formatos de participação e gestão social, atuando como resposta

à alternativa de ausência de interferência das políticas públicas e dos direitos relacionados à

igualdade, para a construção de laços sociais nas relações societárias. Gohn cita ainda que a

ampliação da esfera pública contribui para a formação de consensos alcançados

argumentativamente, numa “gestão social compartilhada, gestada a partir de exercícios públicos

deliberativos.” (GOHN, 2004, p. 10).

Deste modo, sob o novo regime democrático e com as reformas da Administração

Pública, o Estado teve inevitavelmente que modificar o modo de pensar e de gerir a coisa pública,

por meio de novos métodos e práticas de gestão, dando novos contornos às políticas públicas

sociais, em especial as políticas de habitação, na relação entre estado e cidadão, e a participação

popular tem-se apresentado elemento chave para esse processo, por meio dos canais de diálogo,

como os conselhos gestores, que se tornaram fóruns democráticos de inclusão e gestão social,

assumindo assim, o desafio de trabalhar para internalizar os novos valores da sociedade civil

(MOREIRA et al, 2013).

Para Tenório (2008), a gestão social na relação sociedade-estado ocorre somente quando

os governos institucionalizam modos de elaboração de políticas públicas que não enxergue o

cidadão apenas como meta para o alcance de suas ações, muito pelo contrário, o cidadão deverá

estar presente como participante ativo em todo processo de elaboração, execução e avaliação das

políticas públicas. O autor aponta que a gestão social na relação sociedade-estado ocorre por

meio da esfera pública, sob uma perspectiva descentralizadora, de concepção dialógica, que

identifica, compreende, problematiza e propõe soluções para os dilemas da sociedade, sendo estas

assumidas como políticas públicas pelo contexto parlamentar e executadas pelo aparato

administrativo de governo (TENÓRIO, 2005).

Para o alcance e desenvolvimento das políticas de habitação, em especial, as de baixa renda,

categoria em que os projetos e políticas do governo federal tinham como meta seu atendimento, e,

no entanto, as classes de renda média sempre foram privilegiadas, vale destacar que, Abrucio cita a

descentralização da política habitacional como atrativa para os governos locais, pelo caráter

democrático e bom desempenho governamental, em resposta ao modelo centralizador de gestão e à

crise que os Estados da América Latina encontravam-se, e não restringir apenas a atenção do

governo à noção de déficit habitacional (ABRUCIO, 2006). Assim, o autor elucida que a

Page 19: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

18

descentralização é caracterizada pela transferência ou conquista efetiva de poder decisório a

governos subnacionais por comandar diretamente sua administração e por elaborar uma legislação

referente às competências que lhes cabem e por cuidar de sua estrutura tributária e financeira

(ABRUCIO, 2006).

Neste cenário, em que a nova PNH estava sendo implementada por meio do PlanHab, o

Governo Federal anunciou em 2009 o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)9, com o

objetivo de dar maior força à economia brasileira em face da crise financeira internacional que

eclodiu em 2008, além de criar condições de ampliação do mercado habitacional para atendimento

às famílias com renda de até 10 salários mínimos (SM) (CARDOSO et al, 2011). O Programa

significou novo aporte de recursos, da ordem de R$ 34 bilhões em subsídios à produção

habitacional de 1 milhão de habitações para o MCMV 1, idealizado como uma política anti-cíclica

diante da crise econômica (NAIME, 2010).

Diante do exposto, a presente dissertação tem por objeto o estudo de caso da gestão social

no Programa Minha Casa Minha Vida no município de Abaetetuba, no Estado do Pará. Esta

pesquisa pretende responder o seguinte problema: até que ponto a participação social tem sido um

diferencial na política de habitação pós 2003 e como tem sido considerada na gestão do Programa

Minha Casa Minha Vida – PMCMV?

Visando responder a pergunta, o trabalho analisa de que forma a política de habitação de

interesse social tem incorporado a participação social na gestão do PMCMV e como se dá a ação de

suas ações no município. Propõe-se, ainda, identificar os fatores que ampliam ou restringem a

participação social na gestão do PMCMV, levando-se em consideração a participação do poder

público municipal, foco da descentralização das ações de estratégias de gestão do governo federal

para atendimento da provisão por moradias. Leva-se em consideração o modelo participativo e

democrático de gestão, baseado no fortalecimento da pactuação federativa e integração das políticas

federal, estadual e municipal, com maior participação e controle social.

9 O MCMV foi lançado inicialmente por meio da Medida Provisória nº 459, de 25 de março de 2009, posteriormente instituído pela

Lei nº 11.977/2009 e alterada pela Lei nº 12.424/2011. Estava inserido em conjunto de medidas de estímulo à economia, buscando

minimizar os impactos da crise econômica internacional. Seu objetivo é viabilizar a produção de 1 milhão de unidades

habitacionais, impulsionando a indústria da construção civil, devido ao seu potencial de geração de empregos. Foram destinados R$

34 bilhões para o MCMV, sendo R$ 25,5 bilhões do OGU, R$ 7,5 bilhões do FGTS e R$ 1 bilhão do BNDES. Tem a finalidade de

criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e

produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 (BRASIL, Lei nº

12.424/2011).

Page 20: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

19

Assim, para o alcance dos objetivos propostos, a pesquisa foi orientada pelos seguintes

procedimentos metodológicos: pesquisa qualitativa, por meio do estudo de caso único, pesquisa

documental e pesquisa de campo.

O estudo de caso, do tipo único, está organizado a partir da estratégia de pesquisa

qualitativa. Segundo Martins, o estudo de caso tem o objetivo de estudar uma unidade social e que

se analisa profunda e intensamente. Assim, busca-se apreender a totalidade de uma situação e,

criativamente, descrever, compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto, mediante

um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado (MARTINS, 2008). Para Yin, o estudo

de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu

contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são

claramente definidos (YIN, 2001). Neste sentido, o objeto desta pesquisa é a análise da participação

social na política de habitação brasileira: a gestão do Programa Minha Casa Minha Vida no

município de Abaetetuba no Estado do Pará, configurando a representação de um caso de habitação

de interesse social, que consiste no atendimento da construção de unidades habitacionais às famílias

de baixa renda.

A pesquisa documental tem como foco os relatórios de gestão e ações do Ministério das

Cidades, Plano Nacional de Habitação, legislações relacionadas à política habitacional, diversas

publicações do Ministério das Cidades e Plano Estadual de Habitação de Interesse Social do Pará.

A pesquisa de campo foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas e aplicadas à

Secretária Municipal de Assistência Social, Presidenta do Conselho Municipal de Assistência

Social, Coordenadora Municipal de Habitação, Coordenadora Técnica do ConCidades/Abaetetuba,

ao Presidente da Associação do Residencial Abaetetuba, Coordenador do Movimento Nacional da

Luta pela Moradia (MNLM) e do Movimento Nacional das Cidades/PA e Representantes da

Companhia de Habitação do Estado do Pará – COHAB e da Caixa Econômica Federal em Belém.

As entrevistas foram realizadas por meio de um roteiro de questões, com perguntas formuladas para

investigar como ocorreu a participação social quanto ao atendimento da habitação de interesse

social, totalizando oito entrevistados.

O município de Abaetetuba está localizado à 72 km de distância da capital Belém, à margem

direita do rio Maratauíra, um dos afluentes do estuário do Rio Tocantins e integra a Microrregião de

Cametá - Mesorregião do Nordeste Paraense (PPA 2010-2013 da Prefeitura de Abaetetuba).

Compreende uma área territorial de 1.611 km², na qual se concentra uma população para 2013 em

147.267 habitantes (71.630 Homens e 69.470 Mulheres). A população urbana é estimada em 82.998

Page 21: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

20

pessoas distribuídas em 17 bairros em área de aproximadamente 15 km², enquanto 58.102 residem

na área rural, compreendendo a região do arquipélago (72 ilhas) e região das estradas, Distrito de

Beja, 49 colônias agrícolas e 1 vila (IBGE, 2010).

A densidade demográfica do município é de 87,6 habitantes por km², a taxa de crescimento

demográfico atual situa-se em 2,77%, possuindo o Índice de Desenvolvimento Urbano – IDH em

0,628, segundo dados do IBGE 2010. O município foi instalado em 01/01/1939 e pertence ao

Bioma Amazônia.

O Residencial Abaetetuba está localizado na Rua Raimundo da Conceição Pinheiro, s/n,

Bairro São Sebastião, município de Abaetetuba. O Residencial é composto por 500 apartamentos,

com 125 blocos, sendo que cada bloco contém quatro apartamentos, além de ter um centro

comunitário, local no qual ocorrem as reuniões dos moradores, uma praça com brinquedos e área

com equipamentos de academia para a realização de exercícios, assim como uma quadra esportiva.

A observação direta representou outro recurso metodológico importante da pesquisa de

campo que é o método que permite “as evidências observacionais para fornecer informações

adicionais acerca do tópico que está sendo estudado” (YIN, 2005, p. 119-120).

Para alcançar o objetivo proposto pelo estudo, percorreu-se uma literatura para discutir sobre

a gestão da política habitacional no Brasil, com ênfase na reforma gerencial do Estado, na qual a

administração pública procura atender às reivindicações das democracias de massa; o debate sobre a

construção de uma nova política habitacional com a ampliação dos direitos sociais, controle social e

participação social; a discussão da gestão social no contexto do PMCMV, enfatizando a participação

social, por meio do conselho gestor de habitação, a partir da articulação dos conceitos de

participação, cidadania, democracia, descentralização e controle social, uma vez que os mesmos

estão imbricados nas práticas sociais desenvolvidas tanto pelos governos quanto pela sociedade

civil.

Ressalta-se que inicialmente, o objeto de estudo da presente dissertação tinha como lócus de

pesquisa o município de Ananindeua. No entanto, em virtude da Universidade da Amazônia –

Unama ter celebrado o protocolo de cooperação técnica com a Prefeitura de Abaetetuba, o caso de

estudo foi mudado para este município, o que facilitou a coleta de dados da pesquisa de campo

junto aos gestores municipais públicos e lideranças comunitárias, por meio do Programa Integrado

Município Sustentável. O protocolo de cooperação da UNAMA com a prefeitura do município tem

a intenção de aperfeiçoar o atendimento às demandas sociais, a partir do planejamento estratégico,

por meio da atuação de professores e alunos na elaboração de um Plano Municipal de

Page 22: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

21

Desenvolvimento Sustentável para Abaetetuba. O presente estudo faz parte do Programa de

Pesquisa do Núcleo do Mestrado em Administração da Universidade da Amazônia-Unama.

Esta dissertação está estruturada em quatro capítulos, além desta introdução e das

considerações finais. O segundo capítulo apresenta o debate sobre a gestão da política habitacional

no Brasil, na qual demonstra como se desenvolveu a partir da década de 30 até culminar na nova

PNH, por meio da participação da sociedade civil como protagonista do processo democrático das

políticas públicas. O terceiro capítulo aborda a construção de uma Nova Política Habitacional. O

quarto capítulo discute a gestão social no contexto do Programa Minha Casa Minha Vida -

PMCMV.

2 A GESTÃO DA POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL

O objetivo deste capítulo é analisar como se desenvolveu a gestão das políticas públicas de

habitação no país, com destaque para a participação da sociedade na gestão da habitação social a

partir da década de 1930. Sabe-se que as políticas de proteção social estatal vêm sendo executadas

no Brasil desde a década de 30 do século passado, com o governo populista de Getúlio Vargas

(ALLEBRANDT et al, 2012).

Historicamente, a regulação do Estado brasileiro tem sido descontínua, fragmentada e

pontual na política habitacional. Até a década de 80, o Brasil não conseguiu criar um modelo de

Bem-Estar Social, mesmo com as altas taxas de crescimento econômico na maior parte dos anos 70,

década do “milagre econômico”. Com a rearticulação da sociedade civil nos anos 80, por meio dos

movimentos sociais populares e do movimento da reforma urbana, viabilizou a conquista pelos

direitos sociais, consolidados pela Constituição Federal de 1988. A década de 90, caracterizada pelo

modelo neoliberal de Estado, exigiu um conjunto de reformas importantes para a adequação do

Estado brasileiro à nova dinâmica de uma sociedade globalizada e subordinada ao sistema

financeiro internacional (HOLANDA, 2011).

Nesta nova perspectiva, a partir da Constituição Cidadã de 1988, os espaços subnacionais

ganham espaço para o desenvolvimento socioeconômico e político do país, com destaque para o

processo de descentralização de atuação do Estado que toma grande impulso, por meio de um

conjunto importante de tarefas, antes de responsabilidades do poder central, e agora, passando para

a responsabilidade dos governos subnacionais, em especial, aos municípios (ALLEBRANDT et al,

2012).

Page 23: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

22

Neste cenário, do processo de democratização que o país passava, a inserção dos municípios

no processo de descentralização da estrutura administrativa, que se destacava por mudanças na

forma tradicional de formular e executar as políticas públicas, a gradativa incorporação da cidadania

como elemento chave dos espaços locais ao mesmo tempo em que o processo de globalização

aumentava o contingente de excluídos, a incorporação efetiva da sociedade organizada como

protagonista no processo de gestão das políticas públicas se fazia e exigia para a garantia das

mínimas garantias de cidadania (HOLANDA, 2011).

Neste contexto, da década de 30 à década de 80, a participação social da sociedade civil no

processo de planejamento estatal por políticas públicas sociais voltadas a todas as camadas da

população, especialmente a de baixa renda, não existia espaços de diálogo com o Estado. A partir

da Constituição Federal de 1988 e do processo de redemocratização da gestão pública no país, a

população volta a se manifestar por meio dos movimentos sociais populares ligados à reforma

urbana, conquistando a inserção de seus direitos sociais na Constituinte, além de ter culminado com

o processo democrático, participativo e descentralizador da nova Política Nacional de Habitação do

governo Lula, em 2003. Destaca-se, neste período, o papel da sociedade civil como protagonista nas

relações entre Estado e sociedade, com articulação integrada nos três níveis de governo e com

atuação decisiva para elaboração e implementação da nova Política.

Desta forma, o capítulo será dialogado por meio de especialistas da área, em que as várias

intervenções estatais na provisão por moradia caracterizou-se como um dos entraves cruciais para o

desenvolvimento da habitação no país e da reforma urbana, contribuindo assim, para a ampliação ou

restrição do atendimento das políticas públicas sociais, mais especificamente as políticas públicas

de habitação de interesse social.

Este capítulo pretende discutir a gestão da política habitacional no Brasil, por meio da

participação da sociedade civil, e está organizado pelos itens: 2.1) a participação da sociedade na

habitação social a partir da década de 1930 até o BNH; 2.2) o período pós-Constituição de 1988;

2.3) a reforma gerencial e o processo de descentralização da política habitacional no Brasil; 2.4)

apontamentos sobre políticas sociais.

2.1 A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NA HABITAÇÃO SOCIAL A PARTIR DA DÉCADA

DE 1930 ATÉ O BNH

A literatura aponta que até o governo Vargas, o Estado limitava-se a incentivar a produção

de mercado habitacional para os trabalhadores de baixa renda. A falta de interesse na

Page 24: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

23

regulamentação da ação do mercado de locação residencial, prática exercida pelo mercado como

negócio das casas de aluguel, assegurava para o governo a forma mais segura e excelente de retorno

dos investimentos em habitação (BONDUKI, 1994).

Foi durante o governo populista de Vargas que a primeira política habitacional destacou-se

no país, mesmo que de forma incipiente, mas que já apontava sinais de sensibilidade do governo às

demandas dos trabalhadores, configurando-se na ampliação dos direitos trabalhistas e na influência

do Estado provedor dos países centrais (BEHRING; BOSCHETTI, 2010), assim como a indicação

de mobilizações e movimentos sociais despontavam como formas de participação popular

(CARVALHO, 1998).

O interesse pela questão habitacional de interesse social é assumido pelo Estado e sociedade

como uma demanda social, com o apoio das massas populares urbanas e classe trabalhadora.

Acadêmicos e empresários também discutiam a incapacidade do mercado responder pela questão da

habitação social, que se desenvolvia com o processo de urbanização e industrialização do país

(BONDUK, 1994).

Desta forma, a intervenção e produção do Estado na habitação social tem seu início, em

larga escala, com a produção dos primeiros conjuntos habitacionais, por meio dos Institutos de

Aposentadorias e Pensões (IAPs)10

, criado em 1937, que tinha o objetivo de produzir casas

populares que atendessem os trabalhadores contribuintes, seguida pela instituição da Fundação da

Casa Popular (FCP)11

, cujo marco foi a criação em 1946, constituindo-se no primeiro órgão

nacional voltado à produção de moradias populares, ações estatais caracterizadas como iniciativas

relevantes dos governos populistas no que se refere à habitação social. Embora as carteiras dos IAPs

e a FCP tivessem sido criadas com o mesmo objetivo de viabilizar a construção de moradia, a

diferença entre eles é marcante. Para os Institutos, a função de produção de moradias é secundária,

(já que seu primeiro objetivo é garantir pensões aos assalariados e aposentadorias), enquanto que o

objetivo da Fundação é produzir habitação para a população de baixa renda (BONDUKI, 1994).

O autor ressalta que, mesmo a proposta da FCP ter sido direcionada exclusivamente à

10

Em 1937 são criadas as carteiras prediais dos IAPs e autorizada a aplicação de parte de suas receitas na produção e

aquisição de habitações populares (IDESP, 1990; BONDUKI, 1994). Mais suas origens remontam a partir do Decreto

Nº 4682, de 1923, que criou as Caixas de Aposentadorias e Pensão dos Trabalhadores das estradas de ferro do país e

através do Decreto n. 5.109, de 1926, ocorreu a ampliação para outras categorias profissionais e para o

funcionamento público (IDESP, 1999, p. 5). 11

A FCP foi criada através do Decreto-Lei n. 9.218, de 1946, como “uma resposta do Estado à crise de moradia no pós-

guerra” (BONDUKI, 1994, p.717) e o “ objetivo único é produzir moradia pra a população de baixa renda

(BONDUKI, 1994, p. 725).

Page 25: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

24

promoção de moradias para população de baixa renda, não pode ser identificada como política

efetiva, destacando seu fracasso como órgão central e coordenador de uma emergente política

habitacional, visto a fragilidade e incipiência de sua estrutura, relatada a seguir: “A Fundação da

Casa Popular apresentava uma proposta política surpreendentemente ampla, na qual envolvia não só

o financiamento de moradias, mais o atendimento quanto à infra-estrutura, saneamento, indústria de

material de construção, pesquisa habitacional e até mesmo a formação de pessoal técnico dos

municípios. Mas, devido a carência de recursos, a desarticulação com outros órgãos, ausência de

ação coordenada para enfrentar de modo global o problema habitacional, mostram a grande

fragilizada institucional nesta política de habitação, agindo de forma pulverizada e atomizada, sem

constituir de fato uma política efetiva.” (BONDUK, 1994, p. 717).

Já a atuação dos IAPs na provisão por moradias, o autor destaca que não eram caracterizados

como órgãos destinados especificamente ao enfrentamento da questão habitacional, e sim,

constituídos com o fim de instituições previdenciárias que agiam de forma complementar dentro da

lógica de investir os imensos fundos de reserva da Previdência Social para preservar os enormes

recursos que afluíam aos cofres dos Institutos e para o pagamento futuro de aposentadorias e

pensões, seu objetivo final. Mas, por outro lado, apesar da crítica que o autor assume quanto à baixa

integração da ação governamental por meio da atuação dos IAPs e da FCP, a atuação dessas

instituições está longe de ser desprezível, por terem apresentado produção superior a 140.989

unidades habitacionais, sendo 124.025 de empreendimentos executados pelos IAPs e 16.964

executados pela FCP, além de ressaltar a qualidade, durabilidade dos conjuntos e a implantação de

uma arquitetura moderna promovidos pelo pioneirismo do poder público (BONDUKI, 1994).

Mesmo com o interesse e empenho do Estado populista em promover moradias à população

de baixa renda, Carvalho (1998) aponta que movimentos sociais, como o movimento operário,

camponês e urbano despontavam como questionamento das relações clientelistas, de tutela, de

concessão de favores no Estado populista, que se caracteriza como a principal forma de relação

entre Estado e sociedade, reivindicando maior abertura do governante ao diálogo e à negociação.

Bonduki (1994) destaca que apesar da ausência de uma gestão de política descentralizada e

desarticulada entre os diferentes órgãos, Ministérios, interesses políticos e a incapacidade do

mercado de produzir moradias, não obscureceu a importância da ação governamental no

enfrentamento por moradias, pois o Estado brasileiro assumiu a responsabilidade da questão

habitacional como uma questão social, originando-se à ideia da habitação social no Brasil.

A FCP fez parte da primeira política nacional de habitação voltada à produção de moradias

Page 26: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

25

populares e sua gestão se revelou ineficaz devido à falta de recursos e às normas de financiamento

estabelecidas, comprometendo seu desempenho no atendimento da demanda e evidenciando a

restrição de alguns Estados da federação pela produção de moradias, bem como apresentar uma

produção pouco significativa de unidades habitacionais (BRASIL, 2004), ainda assim, é

caracterizada como o início da ação estatal sobre a habitação de interesse social às camadas

populares, conforme segue o quadro 1.

Quadro 1 - Recuos e avanços na gestão pública da política de habitação no período de Vargas (1930-1954).

Recuos Avanços

Política centralizada e desarticulação entre os

diferentes órgãos e interesses políticos

Início à ideia da habitação social no Brasil

Com isso surge uma colcha de retalhos de

intervenções estatais

A questão habitacional é assumida pelo

Estado e sociedade como uma questão social,

dando início a uma incipiente política de

habitação no país e ampliação das demandas

trabalhistas

Incapacidade privada na produção por

moradias, em decorrência do crescimento nos

meios de governo, empresariais e acadêmicos

Mesmo com iniciativas dispersas de

intervenção, o governo passa a atuar na

construção de conjuntos habitacionais Fonte: Bonduki (1994).

As décadas de 50 e 60 são marcadas por intensa mobilização social que se expressa pelo

movimento sindical e pelas Ligas Camponesas que reivindicavam por Reformas de Base de cunho

democrático, popular e nacionalista. Nesse cenário, ocorre à implantação da ditadura militar,

resultando no fechamento de sindicatos, cassação, banimento de lideranças sociais e políticas,

censura de imprensa, fechamento do Congresso e dos partidos, o engessamento das eleições e da

política. Isto resulta na destruição e fechamento dos espaços públicos e de cidadania tão

custosamente construídos, mas que foram mantidos de forma precária pelo populismo

(CARVALHO, 1998).

Após o golpe militar de 1964 foi criada pela primeira vez no país a estruturação de uma

política nacional de habitação, como parte da estratégia de ampliação das políticas sociais em busca

de legitimação política (BEHRING; BOSCHETTI, 2010), o Banco Nacional de Habitação (BNH)12

.

O Banco foi uma resposta de o governo militar à intensa crise de moradia presente num país que se

urbanizava aceleradamente, mas que buscava, por um lado, angariar apoio entre as massas

12

A Lei nº 4.380/64 cria o BNH como modelo de política habitacional, para atender a habitação popular, mas acabou

atendendo o mercado de habitação para a classe média (BONDUKI, 2008).

Page 27: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

26

populares urbanas, segmento que era uma das principais bases de sustentação do populismo

afastado do poder e, por outro lado, criar uma política permanente de financiamento capaz de

estruturar em moldes capitalistas o setor da construção civil habitacional, objetivo que acabou por

prevalecer (BONDUKI, 2008).

O BNH gerenciava o SFH por meio das fontes de recursos estáveis retornáveis como o

FGTS13

, gerado a partir das contribuições dos trabalhadores empregados no setor formal da

economia e com os recursos da poupança voluntária, as cadernetas de poupança e letras imobiliárias

formando o SBPE14

. Desta forma, a produção da habitação foi segmentada nesses dois grandes

eixos. O FGTS destinado à população de renda mais baixa e as operações eram operadas pelas

agências estatais, enquanto que o SBPE foi dirigido às classes de renda alta e média e sua produção

era realizada pela iniciativa privada (FERNANDES; RIBEIRO, 2011).

Cardoso (2006) baseia-se em um conjunto de características do BNH, que deixaram marcas

importantes na estrutura institucional e na concepção dominante de política habitacional nos anos

que seguiram: 1) a criação de um sistema de financiamento que permitiu a captação de recursos

específicos e subsidiados por meio do FGTS e SBPE, que chegaram a atingir um montante bastante

significativo para o investimento habitacional; 2) criação e operacionalização de um conjunto de

programas que estabeleceram, a nível central, as diretrizes gerais a serem seguidas, e em nível

descentralizado pelos órgãos executivos; 3) criação de uma agenda de redistribuição dos recursos,

que funcionou principalmente em nível regional, a partir de critérios definidos centralmente; e 4)

criação de uma rede de agências em nível local, destacando-se o nível estadual, responsável pela

operação direta das políticas e fortemente dependentes das diretrizes e dos recursos estabelecidos

pelo órgão central (BONDUKI, 2008).

Neste contexto, Gohn (2004) destaca que a sociedade civil deveria se mobilizar e organizar-

se para alterar o status quo do planejamento estatal caracterizado pelo regime militar e não

democrático com políticas públicas que privilegiavam o grande capital, que considerava apenas as

demandas de parcelas das camadas médias e altas da população, responsáveis em alavancar o

processo de acumulação das emergentes indústrias filiais das empresas multinacionais. A autora

13

O FGTS, criado pela Lei Federal n 5.107, de 13 de setembro de 1966, é um “fundo contábil, de natureza financeira,

constituído pelo conjunto de contas vinculadas e individuais, aberta pelos empregadores em nome de seus

empregados” (CARVALHO; PINHEIRO, 1999, p. 3). Sua criação também tinha o objetivo de atender o

financiamento da habitação por meio do SFH entre outros e o seguro social (pecúlio ao trabalhador). 14

SBPE, foi constituído pelas Caixas Econômicas Federais e Estaduais, pelas Sociedades de Créditos Imobiliários (SCI)

e pelas Associações de Poupança e Empréstimos (IDESP, 1990, p. 13).

Page 28: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

27

demonstra que este cenário foi estimulado no bojo de inúmeras práticas coletivas no interior da

sociedade civil, o surgimento de uma democracia mais direta e participativa, exercitada de forma

autônoma, de reivindicações voltadas por moradias, trabalho, estudos, bens e serviços públicos e

direitos sociopolíticos negados pelo regime político vigente, além de ter contribuído para o

surgimento de novos atores sociais, que buscavam mais liberdade e justiça social, caracterizando-se

pela ampliação e pluralização dos grupos organizados por lutas além de sindicatos, movimentos,

associações, instituições, Organizações não governamentais (ONGs) ou partidos políticos.

Mas, apesar do progresso de reconhecimento dos direitos sociais modernos dos movimentos

sociais urbanos populares, Fernandes e Ribeiro (2011) destacam que o resultado quantitativo da

ação desenvolvida pelo SFH, por meio do BNH, foi bastante expressivo, pois em vinte e dois anos

de funcionamento do banco, compreendido entre 1964-1986, o sistema financiou a construção de

4,3 milhões de unidades novas, sendo 2,4 com os recursos do FGTS, com destino ao setor popular,

e 1,9 milhões com recursos do SBPE, para o mercado de habitação para a classe média.

Embora os números da produção habitacional terem sido significativos, ela não conseguiu

acompanhar o acelerado processo de urbanização ocorrido no país, na segunda metade do século

XX, entre 1950 e 2000, em que a população urbana brasileira cresceu mais de 20 mil habitantes de

11 milhões para 125 milhões, já que o BNH foi criado com o objetivo de ser um banco de fomento

à formação de poupança, incentivo à indústria da construção civil, garantia do funcionamento do

mercado na promoção da habitação, além da aquisição pela moradia, princípio basilar que norteava

todo o sistema habitacional do regime político predominante (BONDUKI, 2008).

Cardoso (2006) ressalta que a estratégia utilizada pelo BNH estava centrada em alavancar o

crescimento econômico e o atendimento da demanda habitacional da população de baixa renda, o

que apresentou incapacidade neste atendimento, ao priorizar o financiamento para às camadas de

mais alta renda, que era a demanda que se configurava de forma efetiva ao atendimento da moradia

pela preferência dos setores da área. Enquanto que para atender o financiamento às camadas de

menor renda, que eram compreendidas na faixa de até 3 salários mínimos, cujo objetivo principal a

que se propunha a resolver desde sua criação, apresentou incapacidade no atendimento devido o

desenho institucional do banco, as consequências foram a favelização e o crescimento das

periferias, além de evidenciar o fracasso e ineficiência das ações de gestão do BNH.

Diante da dificuldade de atender as populações mais carentes, a partir da segunda metade da

década de 1970, surgiram os programas alternativos, baseados na autoconstrução e nos mutirões de

moradias, considerados como forma mais eficaz de atender as necessidades habitacionais dos

Page 29: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

28

estratos inferiores da população (CARDOSO, 2006).

A incapacidade do sistema e do BNH atenderem as parcelas significativas da população de

mais baixa renda quanto à política de habitação estavam relacionadas aos pressupostos adotados

pelo próprio banco, característicos do regime militar, como a rigidez e centralização, bem como a

inexistência de participação na concepção dos projetos e programas, além da falta de controle social

na gestão dos recursos (BONDUK, 2008). Neste contexto, a existência de problemas no modelo

proposto ao longo de sua existência (BRASIL, 2004), somado à crise econômica mundial durante os

anos 1970, e que se agravou no Brasil a partir da década de 1980, gerou desemprego, queda dos

níveis salariais, recessão e inflação (VALENÇA, 2001).

Desta forma, a crise do modelo econômico implementado pela ditadura militar a partir dos

anos 80, causou grande repercussão no SFH, contribuindo para a redução da sua capacidade de

investimento, devido a compressão dos saldos do FGTS e do SBPE, o que provocou um forte

aumento na inadimplência entre o número de prestações que aumentava e a diminuição na sua

capacidade de pagamento dos mutuários (BONDUKI, 2008).

A falta de sustentação na gestão do governo militar abre espaço para a mobilização popular,

o movimento de moradia dos sem-terra e o Movimento Nacional dos Mutuários (ambos não

conseguiam pagar o financiamento da casa própria) e reivindicavam por melhores condições sociais

e reabertura política (VALENÇA, 2001).

Bonduki (2008) destaca que a conjuntura favoreceu para o acirramento das críticas ao BNH

e a luta pela democratização contra o regime militar autoritário, que teve seu fim em 1985,

culminando com a extinção do Banco, em 198615

. Apesar da desarticulação entre as ações de gestão

do BNH e o não atendimento à população de mais baixa renda, apresentou uma enorme experiência

acumulada na área, formando técnicos, financiando a maior da produção de habitação na história do

país, assim como ter sido uma política articulada e coerente, além de não desprezar os resultados

quantitativos da ação do Banco, demonstrado no quadro 2 a seguir:

15

O Decreto-Lei nº 2.291, de 21 de novembro de 1986 extingue o BNH e o incorpora à Caixa Econômica Federal.

Page 30: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

29

Quadro 2 - Recuos e avanços na gestão pública da política de habitação no período do BNH (1964-1986).

Recuos Avanços

Política rígida e centralizada, características

típicas do regime militar e administração

autoritária

A Política produziu cerca de 4,5 milhões de

unidades, com 4,8% do total destinadas aos

setores médios, e 33,5% formalmente

destinadas aos setores populares

Inexistência de espaços para discussão e

participação da sociedade na concepção dos

programas e projetos

O SFH financiou a construção de 4,3 milhões

de unidades novas, das quais 2,4 com

recursos do FGTS, para o setor popular, e 1,9

milhões com recursos do SBPE, para a classe

média

Falta de controle social na gestão dos

recursos

Foram financiadas 6,5 unidades

habitacionais, por meio do SFH, que

continuou funcionando após a extinção do

BNH Fonte: Bonduki (1994).

Bonduki (2008) destaca os fatores que contribuíram para o fechamento do BNH como a

falta de reconhecimento por outras formas alternativas de enfrentar o problema habitacional na

gestão do BNH, ter desconsiderado as peculiaridades de cada região, resultando assim, na

reprodução à exaustão de modelos padronizados, gestão marcada pela rigidez e centralização das

decisões, sem admitir espaços para discussão e participação da sociedade, além da qualidade nas

intervenções habitacionais ter ficado comprometida pela sua produção massificada.

Maricato (1987) demonstra ainda que apesar das diversas dificuldades e fases percorridas

pelo BNH, com oscilações e percalços, a produção habitacional popular foi restrita, se comparado

aos investimentos em infraestrutura e grandes projetos de mineração e geração de energia. Apesar

do saldo de financiamento do Banco ter sido de aproximadamente 4,8 milhões de unidades

habitacionais entre 1966 e 1986, e que somente um terço do total supostamente foi destinado à

população com renda menor que salários mínimos, vale destacar a produção por moradias neste

período.

Neste cenário, a gestão adotada pelo BNH foi marcada pela rigidez e centralização das

decisões, não admitindo espaços para discussão e participação da sociedade, nem reconhecendo

formas alternativas de enfrentar o problema habitacional, além de não ter levado em conta as fortes

diferenças regionais (BONDUKI, 2008).

A expressiva centralidade16

das políticas públicas desenvolvidas durante a ditadura militar,

com total ausência de participação da sociedade civil, provocava a destruição de espaços públicos e

16

É a centralização decisória e financeira na esfera federal (FARAH, 2004).

Page 31: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

30

de cidadania construídos ao longo do tempo, mas que a ausência desses canais de interlocução entre

estado e sociedade caracterizaram-se pela emergência de novos movimentos sociais, de novas

demandas sociais construtoras de uma nova esfera pública no Brasil, a participação cidadã,

caracterizada pela conquista do direito a ter direitos, do direito a participar da redefinição dos

direitos e da gestão da sociedade, culminando com o seu reconhecimento na Constituição Federal

de 1988 (CARVALHO, 2004).

2.2 PERÍODO PÓS-CONSTITUIÇÃO DE 1988

Foi no período da Nova República (1985-1990), que o governo Sarney assume em 1985, a

postura de discutir junto às instituições da sociedade civil soluções para a gestão do BNH e do SFH,

momento em que o governo enfrentava a grave crise institucional e financeira, resultante do

processo de transição do regime militar autoritário para a reabertura democrática do país

(HOLANDA, 2011).

A partir de 1985, com a saída dos militares do poder, o significado atribuído à sociedade

civil é modificado pela emergência de uma pluralidade de novos atores, decorrentes de novas

formas de associativismos que emergem do cenário político e do conceito de cidadania ao longo dos

1990 na esfera pública (GOHN, 2004).

Azevedo (1996) aponta como destaque na gestão do governo Sarney a provisão por

moradias com a criação do Programa Nacional de Mutirões Habitacionais da Secretaria de Ação

Comunitária (SEAC), programa alternativo, voltado para o atendimento de famílias com renda

mensal de até 3 SMs. A SEAC contou com a produção de 550.000 novas moradias, superando a

produção de 150.000 moradias pelas Companhias de Habitações (COHABS) no mesmo período de

seu governo, que correspondeu há apenas dois anos (1988-1990) de atuação, tornando-se uma

experiência de destaque na história da política habitacional popular brasileira, em que um programa

alternativo apresentou melhor desempenho quantitativo do que os programas convencionais.

Apesar da curta produção de moradias para a população de baixa renda, vale ressaltar

também que, a experiência da SEAC permitiu a construção de um novo modelo institucional de

habitação, sendo oportunizada a ação e uma maior autonomia das administrações locais e estaduais

na transição da política de habitação, extinção do BNH para a gestão da habitação a partir do

governo Sarney, cujas administrações municipais deixaram de serem meros executores na condução

do processo habitacional (CARDOSO, 2003). O modelo institucional adotado pela SEAC

Page 32: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

31

privilegiou iniciativas de governos estaduais e municipais, como a ações de desenvolvimento locais,

baseadas em modelos alternativos e com elevado grau de financiamento (BRASIL, 2004).

Com a crise do Sistema Financeiro de Habitação e a extinção do Banco Nacional de

Habitação, em 1986, criou-se um hiato em relação à Política Habitacional no país, “causando a

desarticulação progressiva do governo federal, a fragmentação institucional, perda de capacidade

decisória e a significativa redução de recursos disponibilizados para investimento na área”

(BRASIL, 2004, p. 10).

Assim é que, entre a extinção do BNH, em 1986, e o início da reestruturação mais

consistente do setor habitacional, em 1995, referente à transição do regime militar autoritário para a

reabertura democrática do país, a gestão da política habitacional foi regida por vários órgãos que se

sucederam, subordinada a sete ministérios ou estruturas administrativas diferentes, sem que se

conseguisse alcançar resultados efetivos, resultando assim, na descontinuidade e ausência de

estratégia para o enfrentamento do problema (FERNANDES; RIBEIRO, 2011).

Para Souza (2008), a nova conjuntura em que o país se apresentava com a reestruturação da

transição da política habitacional, após vinte e dois anos de atuação do BNH, somada às

insatisfações da sociedade civil, destaca-se o fortalecimento de entidades de profissionais,

comunitários, acadêmicos e mutuários em torno da discussão das lutas e conflitos urbanos, tomando

forma o Movimento de Reforma Urbana. A ideia de reforma urbana surgiu no país na década de

1950, com objetivo de discutir a questão da escassez de moradias, e passou a ganhar força e

ampliação de seu escopo na década de 1980, durante o processo de redemocratização do país.

Esse período foi marcado pelo ressurgimento dos movimentos populares, principalmente os

voltados para os programas ou políticas de habitação, que passaram a apresentar propostas voltadas

para a população, passando a ser sujeito decisivo quanto à sua definição e implantação no campo

movimentalista. Tais mudanças ocorreram no bojo do processo de redemocratização nos anos 90 e

com o advento da nova CF/88. Esses movimentos se somam ao movimento da reforma urbana,

destacando-se o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (NMLM), União Nacional por Moradia

Popular (UNMP), dentre outros, (RODRIGUES; BARBOSA, 2012) e que abrigavam diferentes

experiências de participação social (PAULA, 2005).

Maricato (1987) aponta que esses movimentos atuaram na elaboração, mobilização e

pressão pela Emenda Popular da reforma urbana e encaminhada ao Congresso Nacional contendo

160.000 assinaturas e apresentando as seguintes principais propostas: 1) a propriedade imobiliária

urbana, dizia respeito aos instrumentos de regularização de áreas ocupadas, captação da valorização

Page 33: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

32

imobiliária, aplicação da função social da propriedade e proteção urbanística, ambiental e cultural;

2) a política habitacional, relacionada aos programas públicos habitacionais de regularização de

áreas ocupadas, ao aluguel ou prestação da casa própria, proporcional à renda familiar e a Agência

nacional e descentralização17

na gestão da política; 3) os transportes e serviços públicos se

relacionavam à natureza dos serviços sem lucro, com subsídios, aos reajustes das tarifas

proporcionais aos ajustes salariais e a participação dos trabalhadores na gestão dos serviços e por

fim, 4) a gestão democrática da cidade, que falava dos conselhos democráticos, audiências pública,

plebiscitos, referendo popular, iniciativa legislativa e veto às propostas do legislativo (MARICATO,

1997).

Desta forma, a emenda originou o Capítulo II – Da Política Urbana na Constituição Federal

de 1988, composto pelos artigos 182 e 183, institucionaliza para elaboração dos planos diretores

uma possibilidade de promoção da reforma urbana, sendo sua inserção constitucional um grande

avanço nas lutas sociais e urbanas. Vale ressaltar, que o direito à moradia somente é incluído na

Carta Magna, no ano 2000, contribuindo para o avanço das políticas sociais, o processo de

democratização e descentralização, promovendo assim, para o setor habitacional avanços e abertura,

como antes não se tinha (MARICATO, 1997).

Com a redemocratização do país e o advento da Constituição de 1988, o primeiro presidente

eleito pelo voto popular, Collor de Melo (1990-1992), apostou nas forças do mercado e sustentava

um discurso de que o caminho para o enfrentamento do problema da habitação popular estava em

atrair o setor empresarial, por meio de condições favoráveis para a construção civil (VALENÇA,

2001). Criou O Ministério da Ação Social (MAS), com o objetivo de gestar os recursos

orçamentários para a população de baixa renda, por meio de uma política de subsídios, estabelece o

Sistema Nacional de Habitação, mas a gestão da política de habitação em seu governo seguiu o

mesmo padrão que se institucionalizou no governo Sarney, dando ênfase aos processos

desenvolvidos para a alocação de recursos no setor habitacional, que obedecia aos critérios de

favorecimento de aliados do governo central ou às práticas clientelistas (FERNANDES; RIBEIRO,

2011). A Caixa Econômica Federal passa a assumir as responsabilidades do financiamento

habitacional e absorver de forma precária algumas atribuições pessoais e de acervo após o

encerramento do BNH (BONDUKI, 2008).

Nesse contexto, o resultado na gestão da política habitacional adotada pelos governos

17

Descentralização: transfere o poder de decisão para os níveis periféricos das cidades, mas não garante com as

políticas setoriais a resolução dos problemas setoriais (JUNQUEIRA, 1997).

Page 34: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

33

Sarney e Collor, foi mesmo com a produção de moradias para as camadas populares, não foi

alcançada a meta determinada para a produção, assim como a utilização descuidada dos recursos do

FGTS nos programas habitacionais do governo Collor, sendo que foi no governo Itamar (1993-

1994) que seu governo se caracterizou dando outro rumo à política habitacional, que foi a

continuidade às obras inacabadas no governo anterior (VALENÇA, 2001).

Santos (1999) considera que a primeira experiência de indução à criação de conselhos e

fundos com participação social na política habitacional ocorre no Governo Itamar, que coincide

com a proposição e discussão da PL 2.710/92, momento de diálogo pela exigência da criação de

conselhos e fundos, apontada como uma experiência positiva para implementação de sua gestão. O

autor ainda destaca que essas mudanças aumentam significativamente o controle social e a

transparência da gestão dos programas em questão e constituíram-se em ponto de inflexão

importante na condução de políticas públicas na área de habitação popular.

Desta forma, a proposição dos conselhos nos programas do setor habitacional neste período

foi muito importante para sua institucionalização, mas Azevedo (2007) destaca algumas limitações

em seu arranjo como: com a política de descentralização, o governo federal pecava pela excessiva

padronização dos programas, ou seja, o atendimento não ocorria de acordo com a realidade de cada

município, devido a enorme diversidade entre os mesmos, mesmo sendo exigência de todos, a

formação de Conselhos e Fundos.

Nesse processo de instituição de conselhos e fundos, os pequenos municípios foram os mais

prejudicados, pois se corria o risco da criação apenas formal desses mecanismos, como ocorreu nos

últimos anos com outras exigências similares, feitas por leis federais e estaduais, como nos

Conselho de Saúde, Educação, Criança e Adolescente, Assistência Social. Apesar da criação de

fundos estaduais e municipais, o governo federal criou um fundo federal, pois os programas de

habitação dependem fundamentalmente de verbas orçamentárias ou de recursos subsidiados, o que

os fragilizou institucionalmente (AZEVEDO, 2007).

O governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), (1995-2002), foi marcado pela

consolidação do pensamento neoliberal na condução das políticas públicas no Brasil, com forte

repercussão para as políticas sociais (BEHRING; BOSCHETTI, 2010). O Governo FHC

reestruturou o quadro institucional, por meio da criação da Secretária de Política Urbana

(SEPURB), vinculada ao Ministério do Planejamento (MPO), que substituiu o extinto Ministério de

Bem-Estar Social, articulando dessa forma, a política urbana e de saneamento ambiental

(FERNANDES; RIBEIRO, 2011). Azevedo (2007) destaca a descentralização na política

Page 35: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

34

habitacional como incentivo na gestão FHC, confirmando o papel de estados e municípios enquanto

promotores de agentes por uma melhor condição de habitação.

Para Arretche (2000), é no governo de FCH que ocorre um esforço quanto à

descentralização das políticas de habitação e de saneamento básico, como uma forma de superar a

corrupção das gestões anteriores, além de ressaltar a importância da participação da iniciativa

privada no setor. As ações de estratégia de descentralização das políticas sociais contribuíram para

o alto grau de descentralização da política habitacional, na medida em que incentiva as instâncias

colegiadas de Estados a gerir os recursos do FGTS por unidade da federação, para execução dos

governos municipais e estaduais demandantes.

Desta forma, a política de habitação implementada pelo Governo Federal na era FHC, por

meio dos Programas, não significou a sua intervenção positivamente quanto ao enfrentamento do

déficit habitacional, em particular da população de baixa renda, segmento da sociedade mais

atingida pela falta de moradia, pois foi privilegiada a ação do governo para atendimento às camadas

de renda média, que entre 1995 e 2003, “78,84% do total dos recursos foram destinados a famílias

com renda superior a 5 SMs, sendo que apenas 8,47% foram destinados para a baixíssima renda (até

3 SM) onde se concentram 83,2% do déficit quantitativo” (BONDUKI, 2008, p. 80).

Nesse sentido, seguem os avanços e recuos na gestão do Governo FHC, no quadro 3 a

seguir:

Quadro 3 - Recuos e avanços na gestão pública da política de habitação no período FHC (1995-2002).

Recuos Avanços

Atuação do governo por meio de política macro-

econômica, privilegiando o mercado

Por outro lado, a política habitacional

implementada neste período superou, de certa

forma, a fragilidade institucional que abalava o

setor desde o final do governo militar

Apesar da reestruturação da política, não foi

satisfatório o atendimento às frações das classes

trabalhadoras

No entanto, a frágil presença do governo federal

quanto ao enfrentamento do problema

habitacional do país ensejou a implementação de

intervenções diferenciadas por meio de governos

locais. progressistas

Operações de financiamento por meio de

recursos oriundos do FGTS foram bloqueados

para investimentos nas áreas de habitação e

saneamento

Após 13 anos de tramitação no Congresso

Constituinte, em 2001, foi aprovado e

promulgado o Estatuto das Cidades

Fonte: Holanda (2011).

É importante destacar que foi no Governo FHC que ocorreu a aprovação pelo Congresso

Constituinte e promulgação presidencial, do Estatuto das Cidades, em 2001, após 13 anos de

Page 36: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

35

tramitação. O Estatuto das Cidades vem regulamentar a função social da propriedade, constituindo

um marco importante na questão habitacional no Brasil, e que fazia parte da proposta original do

Projeto Moradia, Programa que orientou a nova Política Habitacional de Interesse Social, por meio

do governo Luis Inácio Lula da Silva, e que será objeto de discussão no próximo capítulo

(BONDUKI, 2008).

2.3 A REFORMA GERENCIAL E O PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO DA POLÍTICA

HABITACIONAL NO BRASIL

Foi no governo Fernando Henrique Cardoso que ocorreu a reforma da administração pública

nos anos de 1995 e o processo de descentralização das políticas sociais para os governos estaduais

e municipais, como resposta ao regime militar e à “baixa centralidade das políticas sociais na

agenda dos governos locais” (ARRETCHE, 2002, p. 25).

A crise do endividamento internacional ocorrida na década de 1980, proveniente da crise

fiscal e reformas orientadas para o mercado (BRESSER, 1997), os movimentos sociais populares e

não populares articulados em nível nacional, tal como a luta pela moradia, que surgiram no fim da

década de 1970 e parte dos anos 1980, assim como os mutirões de casas populares, em oposição ao

regime militar, que representavam modelos de gestão centralizada e burocrática (GOHN, 2011),

reivindicavam atendimento às suas demandas enquanto cidadãos, culminando com a reforma

gerencial do Estado, no bojo do processo de redemocratização do país.

A reforma do aparelho do Estado surge como um modelo de gestão pública capaz de atender

às necessidades dos cidadãos, o interesse público, a coordenação dos serviços públicos com a

economia para que ocorram de forma eficiente, além da ênfase nas políticas sociais (PAULA,

2005).

As reivindicações democráticas da sociedade expressavam o descontentamento com a

excessiva centralização decisória do regime militar, modelo de gestão que produzia ineficiência,

corrupção e ausência de participação da sociedade no governo, além de ter se destacado a

descentralização das políticas públicas (ARRETCHE, 2002). No bojo deste processo de reforma e a

partir da Constituinte de 1988, a participação social vem sendo construída como um dos princípios

organizativos essenciais dos processos de deliberação democrática no âmbito local. Possibilitar a

participação do cidadão e das organizações da sociedade civil no processo de planejamento das

políticas públicas foi transformado em modelo da gestão pública local contemporânea (MILLANI,

2008).

Page 37: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

36

Neste contexto, as reivindicações dos movimentos sociais e a ideia de participação vêm sendo

entendidas como uma forma mais ampla e genérica de discussão, de participar da redefinição dos

direitos e da gestão da sociedade, além de participar da definição do tipo de sociedade em que

querem ser incluídos, de participar da “invenção de uma nova sociedade” (CARVALHO, 1998, p.

4). A autora também destaca nesse novo reordenamento político e institucional, diversas lutas que

remontam desde a década de 60, em que pleiteavam as “Reformas de Base”, como a luta pela

Reforma Urbana que consagra a função social da propriedade e da cidade como um direito

conquistado e legitimado na Constituição Federal de 1988, que prevê o planejamento e gestão

participativa das políticas urbanas, espaços de cogestão das políticas urbanas em nível estadual e

municipal, em que a participação da sociedade organizada pressiona e constrói espaços de

cogestão, como os conselhos gestores e os orçamentos participativos.

Desta forma, a principal meta da reforma da administração pública, por meio de critérios

gerenciais, era a mudança na estratégia de gerência, ou seja, reformar a estrutura administrativa,

pela ideia geral da descentralização (BRESSER, 1997). Neste contexto, a administração pública

gerencial brasileira tem sua origem através da governabilidade e credibilidade do Estado na

América Latina, ideário que se originou durante os governos de Thatcher e Reagan, cuja concepção

de governo é o movimento internacional gerencialista no setor público (PAULA, 2005), e que

segundo Bresser, se caracteriza por algumas características básicas: “O modelo de gestão é

orientado para o cidadão, mas, sobretudo, para os resultados, eficiência, ou seja, avançar nos

modelos estritamente burocráticos de controle institucional para o enfoque baseado no alcance de

objetivos e resultados; tem como estratégia a descentralização, o incentivo à criatividade e à

inovação na gestão; em que o tratamento para políticos e funcionários públicos é limitado, mas de

confiança; além do contrato de gestão ser o instrumento realizado para o controle sobre os órgãos

descentralizados.” (BRESSER, 1997, p. 113).

A vertente gerencial tem o objetivo de reorganizar, reformar ou reconstruir o Estado, por

meio da transformação da cultura burocrática do Estado em uma cultura gerencial (PAULA, 2005),

através dos princípios do gerencialismo, como: novo modelo de gestão para os três níveis de

governo federal, estadual e municipal, profissionalização do serviço público e do uso de práticas de

gestão do setor privado, como programas de qualidade e reengenharia organizacional. Sua ênfase é

nas dimensões econômico-financeira e institucional, enquanto que a dimensão sociopolítica ocorre

predominantemente no âmbito do discurso (PAULA, 2005). A autora demonstra que a

administração pública societal, se origina dos movimentos da sociedade organizada nos anos 1960,

Page 38: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

37

cujo objetivo é rearticular o Estado e sociedade, por meio da participação popular na gestão pública

e iniciativas locais de organização e gestão pública. Sua ênfase está principalmente na participação

social, em detrimento do modelo de desenvolvimento brasileiro, baseado na estrutura do aparelho

de Estado e do paradigma de gestão, caracterizada pelo papel centralizador do processo decisório.

Desta forma, ao passo que a reforma do Estado e o desenvolvimento da administração

pública gerencial passaram a orientar suas ações, a administração gerencial despreza a elaboração

de ideias, modelos e práticas administrativas que atendam as necessidades e especificidades da

demanda da participação popular. Já a vertente societal, ainda que pautada pelas experiências que

vão além das recomendações gerencialistas, como a construção de canais de participação, os

Conselhos Gestores de Políticas Públicas e o Orçamento Participativo, não conseguiu consolidar

alternativas para a gestão dos sistemas de gestão (PAULA, 2005).

Paula (2005) destaca que a vertente societal reivindica a participação social e relativiza o

conceito de eficiência como possíveis alternativas para romper com a lógica gerencialista, e assim,

se insere na perspectiva de uma gestão social, modelo de gestão que “tenta substituir a gestão

tecnoburocrática por um gerenciamento mais participativo, no qual o processo decisório inclua os

diferentes sujeitos sociais. Essa gestão social é entendida como uma ação política deliberativa, na

qual o indivíduo participa decidindo seu destino como pessoa, eleitor, trabalhador ou consumidor”

(TENÓRIO, 1998, p. 45).

Como cita Tenório (2008, p. 25), a gestão social, contrapõe-se à gestão estratégica à medida

que busca substituir “a gestão tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento mais

participativo, dialógico, no qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos

sociais”. Para o autor, a gestão estratégica é um tipo de ação utilitarista, baseada em princípios de

meios e fins e posta em prática pela relação de duas ou mais pessoas, na qual uma possui autoridade

formal que se sobrepõe aos outros indivíduos, como elucida nas relações ocorridas no âmbito das

empresas e que o Estado se impõe sobre a sociedade: “é uma combinação de competência técnica

com atribuição hierárquica, o que produz a substância do comportamento tecnocrático” (TENÓRIO,

2008, p. 23-24). Como explica este autor, a gestão social é um processo que se realiza com o agir

comunicativo, alcançado por meio da discussão crítica, da apreciação intersubjutiva. É definida pela

prática dialógica e que a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação.

Explica que “o adjetivo social qualificando o substantivo gestão será entendido como espaço

privilegiado de relações sociais no qual todos têm direito à fala, sem nenhum tipo de coação”

(TENÓRIO, 2008, p. 158).

Page 39: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

38

A expressão gestão social vem se tornando a cada dia mais corrente, pois segundo França

Filho (2008) é utilizada tanto no âmbito acadêmico, para a formação de vários grupos de pesquisa e

de extensão que passaram a estudar as práticas de gestão social presentes na sociedade quanto no

âmbito das práticas sociais de atores não apenas governamentais, mas, sobretudo, das Organizações

Não Governamentais, associações, fundações, e inclusive iniciativas do setor privado que se

revelam nas noções de cidadania corporativa ou de responsabilidade social da empresa.

O estudo da gestão social aparece como prática de gestão nos processos de participação social

nos demais âmbitos de estudos da sociedade, contribuindo para os avanços produzidos em termos

de cidadania nos diferentes ambientes estudados, bem como nas demais relações participativas que

ajudam a construir programas que se refletem na realidade da sociedade (ALLEBRANDT et al,

2012).

Para Tenório (2007), o termo gestão social tem sido evocado nos últimos anos para destacar

a importância das questões sociais para os sistemas-governos, especialmente na instituição de

políticas públicas, bem como dos sistemas-empresa no gerenciamento de seus negócios. Os estudos

deste autor apontam que a gestão social contrapõe-se à gestão estratégica, à medida que tenta

substituir a gestão tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento mais participativo,

dialógico, no qual o processo decisório é exercido por diversos sujeitos.

Tenório (1998) estabelece uma perspectiva conceitual para explicar a gestão social com base

no paradigma habermasiano, em que recupera os conceitos de ação social da teoria comunicativa

em contraposição ao conceito de ação estratégica o de ação comunicativa. Para o autor a ação

estratégica é típica da gestão estratégica, pautada no cálculo de meios e fins, combinação de

competência técnica e hierárquica (comportamento tecnocrático), que enfatiza o modelo gerencial

do tipo monológico presente por excelência nos sistemas-governo e sistemas-empresa. Já a gestão

social caracteriza-se por pelo agir comunicativo, razão comunicativa, ressalta a ação gerencial

dialógica, participativa, em que o processo decisório é exercido por meio dos diferentes sujeitos

sociais, baseada no entendimento mútuo entre atores/sujeitos e atuação dos sujeitos com base na

cidadania deliberativa.

A literatura aponta alguns autores que demonstram como o conceito da gestão social

contribui para o desenvolvimento desta ciência enquanto paradigma de gestão nas novas relações

entre os sujeitos/atores de uma sociedade mais participativa, em contraposição às ideias da

administração gerencialista como:

Tânia Fischer (2002), que aborda a gestão social como um ato relacional estabelecido entre

Page 40: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

39

as pessoas, em espaços e tempos relativamente delimitados, objetivando realizações e expressando

interesses de indivíduos, grupos e a coletividade.

Para Dowbor (1999), as tendências da gestão social alertam para repensar a necessidade de

formas de organização social e de redefinição da relação entre o político, econômico e o social. Este

autor entende que a gestão social é ainda um paradigma em construção que busca superar a visão

estadocêntrica ancorada na excessiva burocratização e centralização da máquina pública e de visão

de mercado que coloca o lucro e a competitividade acima de tudo e de todos.

Neste cenário, vale destacar que o tema gestão social tem sido objeto de estudo e prática

muito mais associada à gestão de políticas sociais, de organizações do terceiro setor, de combate à

pobreza e até mesmo ambiental, do que propriamente à discussão que se propõe, por meio do

diálogo e da possibilidade de uma gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas

públicas, quer nas relações de caráter produtivo. Daí o autor entender o termo gestão social é um

processo gerencial dialógico, no qual a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes

da ação, que possa ocorrer em qualquer tipo de sistema social, seja público, privado ou de

organizações não governamentais (TENÓRIO, 2005, grifo do autor).

Ainda assim, França Filho (2003, 2008), demonstra que a gestão social é uma inovação na

disciplina da administração, por compreender a gestão da coisa pública não por orientação

econômica, já que desta maneira acaba contrariando, desconstruindo a tradição de desenvolvimento

das técnicas e metodologias gerenciais em administração.

Mesmo assim, dá-se a importância dos estudos acerca da gestão social cujo objetivo é

qualificar gestores que assumam atribuições, a gestão por processos e de organizações até então sob

a custódia da tecnoburocracia estatal. Ela traz em seu bojo, portanto, a construção de novas

estruturas de participação a fim de facilitar o processo de edificação de comunidades de prática

(CARRION, 2012).

Desta forma, apesar do gerencialismo enfatizar a adaptação dos princípios gerenciais para o

setor público e a gestão social enfatizar a elaboração de experiências de gestão focalizadas no

público-alvo, como a participação da sociedade (PAULA, 2005), ambos os modelos de gestão

priorizam a descentralização como ideia geral da estrutura administrativa reformada do Estado

(BRESSER, 1996), particularmente na área das políticas sociais (ARRETCHE, 2002a; 2002b).

A partir de meados dos anos 1990 foi implementado um amplo programa de

descentralização das políticas sociais, com objetivo de transferir aos estados e municípios

brasileiros grande parte das funções de gestão de políticas sociais, que foram recuperadas por meio

Page 41: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

40

das bases do Estado federativo no Brasil, resultado da redemocratização que ocorria na década de

1990, em que a retomada pelas eleições diretas para todos os níveis de governo culminou com a

descentralização fiscal da Constituição de 1988, alterando profundamente as bases de autoridade

dos governos locais (ARRETCHE, 2002a, 2002b).

A partir de 1982, foram recuperadas as bases do Estado federativo no Brasil, eliminadas

durante o regime militar, e retomado o processo das eleições diretas em todos os níveis de governo,

com destaque para a descentralização da gestão municipal, pois a soberania que os governos locais

passaram a ter foi resultado do voto popular direto, da autonomia de suas bases fiscais e pelas

relações intergovernamentais que caracterizam as federações (ARRETCHE, 2002a, 2002b).

Cardoso e Ribeiro (2001) ressaltam a importância da descentralização das políticas sociais,

em especial as de moradia: “O processo de redemocratização e as eleições diretas para novos

governantes influenciou fortemente o processo de descentralização no país. A questão do voto

passou a ter uma grande importância para o país, à medida que a nova administração, especialmente

a de nível local, passou a ter com o processo de implementação das políticas sociais, entre elas, a

provisão de moradias para as camadas de baixa renda.” (CARDOSO; RIBEIRO, 2001, p. 23).

O autor aponta algumas características que marcam o processo de descentralização ocorrido

no Brasil a partir do final do regime militar, no campo da questão da moradia: “a política federal

muda de caráter, adotando um formato institucional marcado pela ampliação da iniciativa local, mas

limitado pela regressividade e clientelismo da distribuição de recursos; a retomada da eleição dos

governos locais nos estados e nas cidades gerou um processo espontâneo de formulação e

desenvolvimento de políticas habitacionais locais, cujo alcance real e cuja capacidade concreta de

implementação não é clara, independentemente dos rumos da política federal, sendo este processo

limitado, contudo, pela capacidade financeira dos municípios; a nova Constituição estabeleceu para

o campo temático da moradia, o que parece ser um modelo ambíguo de descentralização, ao por um

lado, ampliar as competências e atribuições municipais e, por outro lado, manter uma ambiguidade

de atribuições entre os níveis de governo e não estabelecer prioridades e critérios redistributivos

claros para a alocação dos recursos a nível federal” (CARDOSO; RIBEIRO, 2001).

O processo de descentralização político-administrativa e a municipalização das políticas

públicas impulsionaram a transformação e o fortalecimento das instituições democráticas no país,

pois o processo de mudança se caracterizou pela organização e funcionamento dos governos locais

e institucionalizou os canais de gestão democrática e dos instrumentos redistributivos da renda e

riqueza produzidas nas cidades brasileiras (ROCHA, 2009).

Page 42: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

41

Abrucio (2006) destaca que a descentralização favorece o aumento da eficiência e

efetividade na administração pública, potencializando a participação popular nos processos

decisórios, na medida em que aproxima o governante e a população, contribuindo, desta maneira,

para o desempenho da democracia, além de aumentar a responsabilização (accountability) no

sistema político, os canais de debate, os mecanismos de fiscalização e controle social das políticas

públicas.

Apesar de a descentralização trazer progresso para a gestão pública e, em especial, para as

políticas sociais, pode também causar efeitos perversos nos processo de gestão, se algumas questões

não forem consideradas tais como: a constituição de um sólido pacto nacional; combate às

desigualdades regionais; democratização dos governos locais – é necessário considerar e

aperfeiçoar as capacidades administrativas e financeiras das instâncias subnacionais; criação de um

ambiente intergovernamental positivo –, pois segundo Arretche (1996), o alcance dos ideais

democráticos depende, em grande medida da natureza das instituições encarregadas pelas decisões;

construção de capacidades político-institucionais tanto do poder central quanto dos governos

subnacionais, é papel do governo central fornecer auxílio técnico e financeiro nos níveis inferiores.

Por outro lado, as instâncias subnacionais devem aprimorar sua estrutura administrativa e seus

mecanismos de responsabilização (accountability) (ABRUCIO, 2006; ARRETCHE, 1996).

Arretche (2004) aponta que apesar da CF/88 ter representado um marco para o processo de

descentralização, contribuindo para uma melhor coordenação e autonomia do federalismo e das

políticas sociais, caracterizado de um lado, pela redistribuição de recursos e, por outro, pela

redistribuição de funções aos demais entes federados, qualquer ente federativo estava autorizado a

implementar programas sociais, porém, nenhum deles estava constitucionalmente obrigado a fazê-

lo, além desse cenário só demonstrar que mesmo com o avanço na Carta Constituinte, “pouco se

alterou a estrutura institucional de gestão das políticas sociais, que é centralizada para as áreas de

saúde e desenvolvimento urbano e para a área da educação” (ARRETCHE, 2004, p. 5).

Desta forma, Arretche elucida que: “A Constituição Federal de 88 descentralizou receita,

mas não descentralizou encargos, ou seja, a distribuição de competências dada aos municípios pelo

Constituição é favorável a produzir os efeitos esperados pela literatura sobre federalismo e políticas

públicas; superposição de ações, desigualdades territoriais na provisão de serviços e mínimos

denominadores comuns nas políticas nacionais, efeitos estes que, por sua vez, são derivados dos

limites à coordenação nacional das políticas.” (ARRETCHE, 2004, p. 5).

Page 43: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

42

Abrucio (2006), também ressalta que o processo de descentralização das políticas sociais

pode causar efeitos perversos como a alocação ineficiente de recursos devido a falta de preparo de

gestores locais, desigualdades em relação à qualidade e quantidade de serviços e a falta de controle

social, o que pode resultar em ações que visam atender interesses particulares e favorecem práticas

clientelistas e patrimonialistas.

Nesse cenário, ainda assim, foi significativamente importante a alteração de distribuição de

competências entre governo federal, estados e municípios para a provisão dos serviços sociais, com

enfoque para a política social de habitação, que deixou de ser dominantemente produzida por meio

das companhias municipais de habitação e passou a operar conforme linhas de crédito ao mutuário,

pois Arretche ressalta que das 44 companhias criadas pelo BNH, 12 fecharam e mais de 20

redirecionaram suas atividades para a área de desenvolvimento urbano (ARRETCHE, 2002a,

2002b).

Arretche (2002a, 2002b) destaca que o modelo de gestão para a política de habitação social

era caracterizado pelo modelo estatal e centralizador do regime militar, mas com a emergência da

agenda de reformas reivindicada pela sociedade no governo FHC, que teve como objetivo rever o

paradigma de gestão anterior por meio da descentralização dos recursos federais, introduzir os

princípios de mercado para a provisão de serviços e de uma política de crédito que atendesse ao

mutuário final, a descentralização passou a ser vista positivamente como modelo de gestão mais

ágil, democrático e eficiente para o atendimento dos usuários, além da adesão dos governadores ao

programa federal de incentivos à descentralização.

Desta forma, para que a descentralização da política habitacional seja atraente aos governos

subnacionais é necessária a atuação do governo federal, por meio de estratégias de indução que

minimizem as dificuldades fiscais e administrativas dos governos municipais, além de investir na

formulação de políticas ativas e continuadas de capacitação municipal para a transferência formal

de gestão para os municípios e o controle social nas ações que visam o interesse público, como

forma de combater os efeitos perversos que o processo de descentralização pode causar (MOREIRA

et al, 2012).

Portanto, a década de 90 foi marcada pela reivindicação articulada da sociedade civil no que

se refere à participação, cidadania, democracia e descentralização das práticas sociais desenvolvidas

tanto pelos governos quanto pela sociedade com a gestão social do desenvolvimento de forma

ampla. Pois, não se pode pensar no desenvolvimento de forma restrita, ou seja, limitado à ideia

Page 44: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

43

centralizada de gestão, bem como limitado espacialmente a um único município, em virtude da

heterogeneidade socioespacial existente no Brasil.

2.4 APONTAMENTOS SOBRE POLÍTICAS SOCIAIS

A descentralização das políticas públicas foi uma das grandes reivindicações dos

movimentos sociais, que indicavam a forma de implementação dessas políticas com objetivo de

universalização de direitos. Todas as atividades relativas à gestão das políticas sociais eram

centralizadas pelo excessivo controle decisório do governo militar, o que resultava na ineficiência,

corrupção e não participação do processo decisório dessas políticas. Por outro lado, correntes

políticas de esquerda e direita, indicavam o processo de descentralização da gestão do governo

federal para os governos subnacionais, à luz da eficiência, participação, transparência, accoutability,

entre outras características esperadas pela mudança de paradigma do regime militar para o governo

FHC (ARRETCHE, 2002b).

Arretche (2000) desenvolveu uma pesquisa bastante coerente ao demonstrar que a

implementação de programas de descentralização de deliberação pelos governos nacional e

estaduais para os municípios são capazes de ampliar o alcance e os resultados das políticas sociais.

Desta maneira, o processo de descentralização depende, sobretudo, dos seguintes fatores: 1)

disposições constitucionais; 2) desenho do programa de descentralização pelo governo federal; 3)

modo efetivo de funcionamento deste programa e 4) ação dos executivos estaduais (ARRETCHE,

2000, grifos nossos).

No contexto brasileiro, a trajetória das políticas sociais tem suas particularidades, pois

apesar de ter iniciado a partir do governo de Getúlio Vargas, na década de 1930, por meio da

criação do sistema público de providências pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs),

regulamentação das relações de trabalho, e pela instituição de políticas de saúde e educação

(BONDUKI, 1994), foi nos anos de 1960, durante o governo militar, que as políticas sociais foram

expandidas, como estratégia de adesão e legitimação do bloco que ascendeu ao poder

impositivamente (BEHRING; BOSCHETTI, 2010), além de sua estrutura organizacional ter sido

profundamente redesenhada nos anos 90, através da implantação de programas de descentralização,

que transferem paulatinamente, um conjunto significativo de atribuições de gestão aos níveis

subnacionais de governo (ARRETCHE, 2002).

Arretche (1992, p. 1) destaca que “há expressiva variação no alcance da descentralização

Page 45: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

44

entre cada uma destas políticas”. Neste período, ocorreu uma forte institucionalização das políticas

de saúde, previdência, habitação e, em menor escala, de assistência social, além da expressiva

variação do grau de descentralização alcançado por cada uma destas políticas entre os estados

brasileiros. Nesse cenário, Behring e Boschetti (2010), apontam que a crise econômica mundial da

década de 1970, abalou essa configuração das políticas sociais, sendo a década de 1980,

considerada perdida do ponto de vista econômico, agravando a questão social e urbana, além de ter

sido marcada por profundas mobilizações sociais que pressionaram o Estado para a

redemocratização brasileira, culminando com a Nova Constituição Federal de 1988.

Esse novo formato institucional da gestão das políticas públicas, legitimado pela

Constituição Federal de 1988, é marcado pela universalização dos direitos de cidadania,

descentralização, gestão democrática das políticas públicas, processo de deliberação, gestão e

controle social das mesmas, nas diversas áreas sociais e instituiu dois fatores como eixos centrais do

processo de democratização da gestão pública brasileira, nas três esferas de governos federal,

estadual e municipal, além de constituírem importantes mecanismos para a formulação,

implementação e avaliação das políticas sociais no Brasil: a descentralização e participação

(ROCHA, 2009).

O autor aponta os conselhos gestores como novas formas inovadoras de integração entre

governo e sociedade, atuando como canais de estratégias de participação social, previstos na CF/88

(ROCHA, 2009). Behring e Boschetti (2010, p. 178) alertam que apesar das potencialidades dos

conselhos gestores enquanto “arenas de negociação de propostas e ações que podem beneficiar

milhares, milhões de pessoas e de aprofundamento da democracia”, os mesmos apresentam limites

de atuação, como os padrões histórico-culturais da sociedade brasileira que criam obstáculos ao

exercício da democracia, revelando uma atuação de esvaziamentos e desqualificações da

participação, o que demonstra que o processo de democratização das políticas sociais trata-se de um

processo de aprendizagem a longo prazo: “A reforma democrática do país foi resultado da conquista

democrática dos trabalhadores e movimentos populares na década de 80, incluindo o novo estatuto

dos municípios e a revisão do pacto federativo no país.

Mas a transformação desse projeto em processo não pôde ser plenamente realizada, já que

veio se deparando com obstáculos econômicos, políticos e culturais, o que exige persistência, uma

vontade política forte e a compreensão de que estão empreendidas mudanças de longo prazo. Pois

qualquer expectativa de curto prazo pode ser frustrante para os que apostam nesse projeto,

considerando as forças que a ele se opõem.” (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 182).

Page 46: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

45

Nesse cenário de inovações ocorridas no bojo da Nova CF/88, Arretche (1992) também

ressalta que apesar das políticas sociais terem avançado em diferentes níveis e velocidades, é

inegável, entretanto, o seu processo de redefinição ocorrido nas atribuições e competências na área

social, em resposta ao padrão centralizado do governo federal, característico do formato prévio do

Sistema de Proteção Social constituído ao longo dos anos 60 e 70. Mais que no início dos anos 90,

ocorre a transformação institucional que vem se operando nesse Sistema, que é a descentralização

de atribuições de gestão aos níveis subnacionais.

Mas essa mudança de paradigma de gestão que caracterizou a implementação de um

abrangente programa de descentralização das políticas sociais e que transferiu para estados e

municípios brasileiros, sendo que grande parte das funções de gestão dessas políticas, em especial,

aos municípios, que são os protagonistas da execução das políticas sociais, o que lhes constituiu um

enorme desafio tanto quanto comparado à grande diversidade das características políticas,

econômicas, sociais, culturais e institucionais dos municípios brasileiros (ARRETCHE, 2002b).

Assim, Arretche, desenvolveu uma obra consistente ao comparar o alcance dessas políticas sociais

no Brasil, por meio das estratégias de descentralização (ARRETCHE, 1992; 2000; 2002a, 2002b,

2004; 2010).

A autora baseia seus estudos por meio da descentralização das políticas sociais após a

Constituição de 1988, em que no Estado federativo brasileiro, “a autoridade dos governos centrais,

particularmente sua capacidade de mudar o status quo, isto é, produzir inovações e implementar

reformas de políticas” (ARRETCHE, 2002b), propõem aos estados e municípios, politicamente

autônomos, que assumam a gestão de políticas públicas, por iniciativa própria ou por adesão a

algum programa proposto por um nível mais abrangente de governo. Para isso, é necessário que o

governo federal incentive por meio de estratégias bem sucedidas de indução para obter a adesão dos

governos locais à gestão de determinada política social, por implicar em custos políticos e/ou

financeiros, além de considerar que esta tarefa anteriormente estava centralizada no governo central

(ARRETCHE, 1992; 2000; 2002a, 2002b, 2004; 2010).

A autora considerou e testou em sua pesquisa sobre a descentralização das políticas sociais

diferentes fatores que influenciavam de forma positiva ou negativa o processo de descentralização,

analisando tanto aspectos relacionados às políticas, como: legado das políticas prévias, regras

constitucionais, engenharia operacional e estratégias de indução, quantos fatores ligados às

características dos estados e seus municípios, a saber: estrutura político-administrativa, base

econômica e cultura cívica, que têm um peso determinante para a descentralização, para assim,

Page 47: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

46

destacar que são determinantes as estratégias deliberativas adotadas por uma política social para o

efetivo processo de descentralização (ARRETCHE, 1992; 2000; 2002a, 2002b, 2004; 2010).

Arretche (2000) demonstra que as estratégias de descentralização adotadas por uma política

social são capazes de compensar, até mesmo, limitações relacionadas à capacidade administrativa e

financeira das administrações locais, contribuindo, desta forma, para seu alcance e cobertura no

território nacional, isto é, a ação deliberada, vale dizer, estratégias de indução eficientemente

desenhadas para delegar a outro nível de governo a responsabilidade pela gestão destas políticas

podem compensar obstáculos à descentralização derivados daqueles fatores de natureza estrutural

ou institucional, conforme elucida abaixo: “A existência de políticas deliberadas explícita e

eficientemente desenhadas para obtenção da adesão das administrações locais passa a ser condição

necessária para o sucesso de um processo amplo e abrangente de transferência de responsabilidades

de gestão de políticas sociais. Isto quer dizer que, para se obter resultados na transferência de

atribuições e responsabilidades, a ação política deliberada pode alterar substancialmente o peso e a

importância de variáveis relacionadas aos atributos estruturais de estados e municípios e aos

atributos institucionais das políticas.” (ARRETCHE, 2000, p. 244).

Para a autora, os governos locais são politicamente soberanos para aderirem aos programas

de descentralização, baseando-se no cálculo em que serão avaliados os custos e benefícios

prováveis com vistas à tomada de decisão para assumir funções de gestão em cada política

particular. Destaca que quando se tratar de municipalizar atribuições de gestão, estratégias

eficientemente implementadas por parte do governo federal são decisivas para que seja maior o

alcance da municipalização de cada unidade da federação. Desta forma, o sucesso de um programa

abrangente de reforma do Estado que implique no (re)desenho do modelo nacional de prestação de

serviços sociais depende necessariamente da implementação de estratégias deliberadas e adequadas

de incentivo à adesão dos governos locais (ARRETCHE, 1992, p. 22).

Assim, foi durante o governo Fernando Henrique Cardoso que ocorreu significativa

alteração quanto à distribuição de competências entre governo federal, estados e municípios para a

provisão dos serviços sociais, em especial, a política social de habitação (ARRETCHE, 2002b). A

reforma de seu governo visou rever o paradigma anterior de gestão centralizada do governo federal,

por meio da descentralização da alocação de recursos federais e da introdução de princípios de

mercado na provisão de serviços e de uma política de crédito ao mutuário final (ARRETCHE,

2002a).

Neste contexto, com a nova Política Nacional de Habitação, a Lei nº 11.124/05, que instituiu

Page 48: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

47

o SNHIS, traz entre seus princípios a descentralização e a cooperação federativa no enfrentamento

das questões habitacionais e a ideia de estruturação de um sistema com participação das três esferas

de governo constantes entre objetivos, diretrizes e princípios que citam os termos descentralização,

integração, compatibilização e articulação como uma forma ideal de atuação das políticas federal,

estadual, do Distrito Federal e municipais, que será abordado subitem seguinte (HOLANDA, 2011).

2.4.1 As estratégias de descentralização no âmbito da política nacional de habitação e do

sistema nacional de habitação de interesse social

A Lei nº 11.124/05, que instituiu o SNHIS, aponta que o processo de descentralização da

política habitacional ocorre pela participação nos três níveis de governo. No desenho estabelecido

pela Lei e pelo Decreto nº 5.796/06, que a regulamenta, o SNHIS estabelece o processo de

descentralização da seguinte maneira: o SNHIS é capitaneado pelo Governo Federal, o Ministério

das Cidades é o órgão responsável por coordenar, gerir e controlar o sistema, instituindo

prioridades, estratégias e instrumentos, com atenção às diretrizes e princípios do ConCidades; deve

elaborar o PlanHab, programas de habitação e selecionar as propostas formuladas pelos outros entes

federados, assim como monitorar sua fiscalização; deve formular a proposta orçamentária do

FNHIS e monitorar sua execução junto ao Conselho Gestor; e através da CAIXA, que é o agente

operador do fundo, definir procedimentos operacionais e controlar a execução físico-financeira das

ações com recursos do fundo. Aos Estados está estabelecida a função de articular e apoiar as ações

dos Municípios, e aos Municípios a implantação dos programas de habitação e políticas de

subsídios18

(BRASIL/BRASIL, 2004; BRASIL/BRASIL, 2010a).

Para ocorrer a operacionalização dos recursos no SNHIS, os recursos do FNHIS são

compostos principalmente pelo Orçamento Geral da União (OGU) e outros fundos, como o Fundo

de Apoio ao Desenvolvimento Social. O SNHIS centraliza todos os programas de habitação de

interesse social, coordenando, além do FNHIS, ainda outros programas que utilizam os recursos do

FGTS, possibilitando um mix de recursos onerosos e não onerosos. Para Estados e Municípios

terem acesso aos recursos do SNHIS, deve constituir fundos e conselhos19

e plano de habitação

(MARICATO, 2005; BRASIL/BRASIL, 2004; BRASIL/BRASIL, 2010a).

Desta maneira, o SNHIS se efetiva por meio da participação dos três entes federados e da

18

Conforme Lei nº 11.124/2005 e Decreto nº 5.796/2006. 19

De acordo com a Lei nº 11.124/2005, como ocorre com o Conselho Gestor do FNHIS, os conselhos estaduais e

municipais devem obrigatoriamente reversar 25% das vagas para movimentos populares.

Page 49: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

48

articulação de recursos onerosos e não onerosos, através dos fundos, conselhos e planos de

habitação. Os programas do FNHIS realizam as seleções públicas, divulgadas e operacionalizadas

por meio do sítio eletrônico do Ministério das Cidades. Observa-se que com as seleções do FNHIS,

destaca-se a disponibilidade de recursos e programas voltados para a intervenção da produção ou de

melhorias habitacionais. Esse desenho institucional favorece o Ministério das Cidades a fortalecer

uma relação mais direta com os municípios, caminhando para uma tendência à municipalização

(ARRETCHE, 1992; CARDOSO; RIBEIRO, 2001), em que o papel dos governos estaduais é

definido de forma limitada. Esse fato pode estar relacionado, em parte, pelas intervenções físicas de

habitação depender mais da gestão local (BRASIL, 2004; BRASIL, 2010a).

Desta maneira, o desenho institucional que o SNHIS estabelece para que municípios e

estados passem a aderir aos recursos do FNHIS, configura descontinuidade de atribuições de

competências entre os entes federados no SNHIS, pois fica a maior prerrogativa ao Governo

Federal no repasse de recursos, uma vez que além de ser o principal coordenador e financiador do

sistema, é o único nível de governo que ocupa os espaços de gestão compartilhada das fontes de

recursos, ou seja, com exceção do ConCidades, os outros conselhos que garantem a utilização de

recursos em programas de habitação não têm representatividade nos outros níveis de governo,

resultando em uma esfera de negociação entre Governo Federal e sociedade civil, sem participação

dos governos estaduais e municipais, além de ressaltar que o detalhamento dos procedimentos

operacionais é realizado pela CAIXA, outro órgão federal.

Esta fragilidade da relação entre o nível de repasse das competências e atribuições do

Governo Federal aos estados e municípios, sendo que os governos estaduais têm papel pouco

definido no modelo institucional do SNHIS, é demonstrado pelo Coordenador do MNLM e do

Movimento Nacional das Cidades:

As administrações locais têm baixa capacidade técnica e institucional para gerenciar os

programas de habitação, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, enquanto que o papel da

COHAB/PA é engessado, não existindo relação entre os níveis de governo. (Informação

verbal)20

Outro fator que dificulta as ações de descentralização é a maneira como o desenho final do

FNHIS ficou estabelecido na Lei nº 11.124/2005, no qual é constituído como um fundo contábil e

não financeiro, o que impõe limites as possibilidade de repasse fundo a fundo. Ou seja, os recursos

tem relação com os programas e ações previstos no plano plurianual (PPA), com as diretrizes

20

Entrevista concedida pelo Coordenador do MNLM e do Movimento Nacional das Cidades/PA em 08 de novembro de

2013.

Page 50: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

49

orçamentárias (LDO), e, estes, devem ter correspondência com o orçamento anual (LOA), programa

que detalha quanto será o gasto em cada ação e programa (BRASIL, 2004; BRASIL, 2010a).

Diante dessas fragilidades destacadas na estruturação do SNHIS, dentro do próprio Governo

Federal a consolidação do sistema ainda se depara com movimentos internos que entendem e

reconhecem que o setor privado dispõe de maiores condições para implementar a política de

habitação. Este cenário se deveu à crise econômica de 2008 e à baixa capacidade de atuação do

poder público, que canalizou grande parte dos recursos da PNH para o MCMV, que é executado

diretamente por empresas privadas. Desta forma, para acesso aos recursos do MCMV e do PAC,

não era exigido o cumprimento das determinações estabelecidas pelo SNHIS, enfraquecendo ainda

mais, as ações de estratégias de descentralização utilizadas pelo Ministério das Cidades, entre os

níveis de governo (MARICATO, 2005; BRASIL, 2004; BRASIL, 2010a).

Após diversos protestos e reuniões por meio do ConCidades, em outubro de 2010, foi

reestabelecido o acesso de recursos à habitação por meio do cumprimento dos requisitos do SNHIS,

assim como a vinculação de todos os programas de habitação ao sistema, sobretudo, após o

lançamento em maio de 2010 do PAC 2 (BRASIL, 2004; BRASIL, 2010a).

O quadro 4 demonstra alguns avanços e desafios da descentralização das políticas sociais,

em especial, de habitação de interesse social, a partir da Lei nº 11.124/2005, que instituiu o SNHIS

e o FNHIS:

Page 51: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

50

Quadro 4 - Avanços e desafios das ações de descentralização da PNH e do SNHIS.

Avanços Desafios

a) Com a delegação de responsabilidades às

administrações locais, destaca-se a possibilidade

do município participar diretamente do processo,

por meio da autonomia que lhes é conferida;

a) Mesmo com a descentralização, o município

não tem estrutura própria para acompanhar o

Programa, sendo que o Governo Federal não

fornece as condições necessárias para os

municípios atuarem no MCMV;

b) Avalia de forma positiva a descentralização

das políticas habitacionais, destacando as

parcerias entre Prefeituras e Sesc, para capacitar

pedreiros, marceneiros nas obras dos Programas,

como do MCMV;

b) O MCMV é estabelecido do Governo Federal

para o municipal, sem interferência do estadual;

c) Identifica avanços na descentralização de

atribuições no que se refere à liberação de

vultosos recursos para fazer a habitação;

c) A relação entre os governos federal, estadual e

municipal no MCMV ocorre de forma

hierárquica;

d) Não identifica delegação de responsabilidades

às administrações locais, devido os municípios

não terem qualificação para atender os

Programas;

e) Não identifica ações de estratégias do MCMV

no município de Abaetetuba, pois a Instrução

Normativa da CAIXA proíbe a construção de

casas de madeira para famílias ribeirinhas;

f) Baixa capacidade técnica e institucional das

administrações locais, sobretudo nas regiões

Norte e Nordeste, enquanto que o papel da

COHAB/PA é engessado, não existindo relação

entre os níveis de governo; Fonte: Entrevistas realizadas com atores-chave selecionados para a fase de pesquisa qualitativa.

Notas: Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com posterior sistematização das respostas.

Melhor detalhamento das principais repostas por bloco de atores pode ser observado no quadro 1 do Apêndice A.

Conforme demonstrado no quadro 4, os entrevistados apontam a delegação de

responsabilidades às administrações locais, destacando-se a possibilidade do município participar

diretamente do processo de acesso aos recursos, sendo positiva a descentralização das políticas

habitacionais, destacando as parcerias entre Prefeituras e Sesc, capacitando assim, pedreiros,

marceneiros, nas obras dos Programas, como do MCMV. Por outro lado, com o processo de

descentralização, o município não possui estrutura própria para receber acompanhar o Programa,

sendo que o Governo Federal não forneceu as condições necessárias para os municípios atuarem no

MCMV, sendo que Programa é estabelecido do Governo Federal para o municipal, sem

interferência do estadual, não ocorrendo a relação entre os três níveis de governo, sendo acentuada

que essa relação ocorre de forma hierárquica no MCMV, sem observar as especificidades regionais,

já que a Instrução Normativa da CAIXA proíbe a construção de casas de madeira para famílias

Page 52: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

51

ribeirinhas, contrariando a realidade do município de Abaetetuba, que é contemplado por 72 ilhas.

Apensar dos avanços e desafios estabelecidos para as estratégias de descentralização, ainda

se apresentam de maneira frágil, o que pode representar um limite ao processo de consolidação do

SNHIS. Fica evidenciado que mesmo a política de habitação de descentralização ser em nível

federal, conforme estabelecido pela CF/88, as estratégias de descentralização não constituem um

programa claro de repasse de atribuições para os níveis de governos subnacionais, demonstrando

assim, fragilidades, tanto do desenho, quanto no funcionamento das estratégias criadas pelo SNHIS,

inclusive destacando pouco espaço para atuação dos governos estaduais.

2.5 A GESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO DO PMCMV

O termo gestão social encontra-se ainda em fase de construção e seu uso vem tornando-se

cada vez mais corrente, embora esteja se consolidando enquanto prática, sem ainda o consenso

sobre o conceito (FRANÇA FILHO, 2008). Para Tenório (2008, p. 54) “a gestão social é um

processo gerencial decisório deliberativo que procura atender as necessidades de uma dada região,

território ou sistema social específico”. Para este autor, esta pode ser compreendida ainda como um

processo de diálogo, no qual o poder de decisão é partilhado entre todos os participantes de uma

ação, independente do sistema social, seja este público, privado ou organizações não

governamentais, pois acredita que todas as pessoas sejam capazes de pensar e produzir

conhecimento (TENÓRIO, 2008).

Ao discutir a gestão social no contexto da participação da sociedade civil no Programa

MCMV, não se pode desvinculá-la da articulação com os conceitos de participação, cidadania,

democracia, descentralização e controle social, uma vez que os mesmos estão imbricados nas

práticas sociais desenvolvidas tanto pelos governos quanto pela sociedade civil, preceitos que esta

revindicou no longo caminho percorrido pelo momento movimentalista de reformas no país, a partir

da década de 60.

Para Bordenave (1994), a participação social é a possibilidade de classes sociais distintas

fazerem parte dos movimentos históricos relacionados à política, economia, cultura e aos aspectos

sociais, criando espaços em que todos construam, gerenciem e se incluam no processo.

Trata-se, dessa forma, de um novo formato institucional, pautado pelo princípio participativo

(MILANI, 2008) e pela gestão democrática das políticas públicas que se contrapunha ao modelo

corporativista e clientelista da gestão pública tradicional, através do processo de regulamentação da

Page 53: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

52

gestão descentralizada das políticas públicas (ROCHA, 2009). Nesta perspectiva, destaca-se a

participação da sociedade civil, via Conselhos Gestores, em sua formulação, execução e controle

social (ROCHA, 2009), elementos essenciais para a formulação e prática de qualquer política

pública progressista que valorize o papel da sociedade civil com ênfase nos processos de

formulação das políticas públicas locais (MILANI, 2008) e do desenvolvimento local com

cidadania (TENÓRIO, 2005).

Para Gohn (2004), a participação popular ocorre com a manifestação das camadas sociais

populares que reivindicam bens e serviços públicos e por terra e moradia.

Habermas (2003) discute o conceito de cidadania como uma dimensão ativa da pessoa

humana, que proporciona uma identidade política e uma ação comunicativa no âmbito da esfera

pública de uma democracia deliberativa.

Tenório (2008) ressalta o modelo de democracia Habermasiano que propõe a cidadania

deliberativa procedimental, baseado na correlação entre direitos humanos e soberania popular e a

consequente reinterpretação da autonomia nos moldes da teoria do diálogo. Assim, a cidadania

deliberativa consiste em levar em consideração a pluralidade de formas de comunicação, sejam elas

morais, éticas, pragmáticas e de negociação, em que todas são formas de deliberação. Para este

autor, o marco que possibilita essas formas de comunicação é a justiça, entendida como a garantia

processual da participação em igualdade de condições, assim como o procedimento da prática da

cidadania deliberativa na esfera pública é a participação.

Para Bravo e Oliveira (2002), o controle social é a participação da população na elaboração,

implementação e fiscalização das políticas sociais, conforme aspectos legais inscritos na CF/88.

Para Arretche (2000), descentralização é a institucionalização no plano de condições

técnicas para a implementação de tarefas de gestão de políticas sociais.

Desta forma, Harbermas se baseia na concepção de que para acontecer um arranjo

participativo é necessário que ocorra a política deliberativa entre os sujeitos de direito, ou seja, é

decisiva a construção de procedimentos e condições de discussão entre os sujeitos. Pois a

participação social é fundamental no diálogo para a formulação do processo de participação, já que

conforme o autor, a participação simétrica de todos os membros exige que os discursos conduzidos

representativamente sejam porosos e sensíveis aos estímulos, temas e contribuições, informações e

argumentos fornecidos por uma esfera pública pluralista, próxima à base, estruturada

discursivamente, portanto, diluída pelo poder (HABERMAS, 2003).

Neste contexto, o autor aponta para a necessidade dos cidadãos deliberarem sobre suas

Page 54: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

53

demandas e problemas sociais, bem como a exigência da opinião pública direcionar o poder

administrativo ao atendimento de determinadas demandas sociais. Este autor também evidencia que

o conceito do discurso incluído na democracia e cidadania, torna a sociedade mais diferenciada, já

que permite contrastar suas opiniões, por meio da contestação e identificação das necessidades

existentes no seu interior, podendo, inclusive, apontar possíveis soluções para determinados

problemas sociais (HABERMAS, 2003).

Assim, observa-se que a participação da sociedade civil no contexto da política habitacional

brasileira tem acumulado um importante patrimônio na busca pela democracia participativa e

cidadania, em especial a partir de 2003, com a nova política de habitação de interesse social, que foi

concebida com ampla participação e diálogo de todos os segmentos da sociedade voltados para o

setor habitacional. A partir de 2009, o governo federal lança o MCMV, que se diferencia dos demais

programas de habitação pela ampliação de vultosos recursos, mas com limitada participação da

sociedade civil, além de ter se caracterizado como uma política anticíclica de combate à crise

econômica internacional, que assombrava a economia brasileira.

Mas apesar de especialistas da área criticar a atuação do Programa, voltado especificamente

para o mercado e construção civil, e apontar algumas limitações na atuação do MCMV, como a

participação social, em entrevistas realizadas com os atores selecionados, é unânime o discurso de

que o MCMV contribuiu para o déficit habitacional na faixa 1, além do presidente da Associação

dos Moradores do Residencial Abaetetuba ter destacado que ocorreu a organização da comunidade

local ao reivindicar junto à CAIXA e Prefeitura soluções para os problemas constatados pelos

moradores ao receberem os apartamentos.

Assim, Tenório (2005) cita que a participação, enquanto um ideário intensifica a necessidade

de políticas públicas efetivas versus garantia de controles democráticos, por meio de diversos

setores da sociedade, organizados por formas inovadoras de interação entre governo e sociedade,

além de evidenciar a participação da sociedade como uma dimensão vital no processo de construção

da cidadania (ROCHA, 2009).

Vale ressaltar que com a nova institucionalidade do modelo de gestão pública a partir dos

anos de 1990, o discurso da participação passou a ter papel relevante na relação sociedade-Estado,

através da reivindicação da participação social, da democracia participativa, do controle social sobre

o Estado e a realização de parcerias entre o Estado e sociedade civil (ROCHA, 2009). Para Tenório

(2005), o processo de instituição das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento somente

terá significado se os usuários participarem, cujo objetivo é a promoção de uma administração

Page 55: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

54

pública ampliada, na perspectiva da gestão social, promovendo a prática de uma cidadania

deliberativa e da gestão pública democrática, a fim de possibilitar o acesso aos cidadãos no âmbito

da sociedade política e do poder local, como demonstrado com a Associação dos moradores do

residencial Abaetetuba.

Nesse cenário, a gestão social é apontada como um gerenciamento mais participativo, no

qual o processo decisório inclui os diferentes sujeitos sociais, sendo entendida como uma ação

política deliberativa, na qual o indivíduo participa decidindo sobre seu destino enquanto pessoa,

eleitor, trabalhador ou consumidor (TENÓRIO, 1998).

O autor demonstra que o tema gestão social é entendido como a discussão e possibilidade de

uma gestão democrática e participativa (TENÓRIO, 2005), estabelecido entre as articulações das

ações de intervenção e de transformação do campo social, por meio do exercício da cidadania

deliberativa constante e mantida pelo processo do diálogo entre sociedade e Estado, resultando na

construção de uma gestão democrática para a formulação e execução das políticas públicas sociais,

garantindo assim, a participação e controle social como um dos princípios organizativos centrais

para os processos de deliberação democrática no âmbito local (MILANI, 2008).

Tenório (2005) acentua que a compreensão do conceito de gestão social não deve ser

atrelada às especificidades de políticas públicas direcionadas a questões de carência social ou de

gestão de organizações do denominado terceiro setor, mas como uma possibilidade de gestão

democrática na qual o imperativo categórico não é apenas o eleitor e/ou contribuinte, mas

igualmente o cidadão deliberativo; não é só a economia de mercado, mas também a economia

social; não é o cálculo utilitário, mas o consenso solidário; não é o assalariado como mercadoria,

mas o trabalhador como sujeito; não é o somente a produção como valor de troca, mas igualmente

como valor de uso; não é tão somente a responsabilidade técnica, mas, além disso, a

responsabilidade social; não é a res privada, mas sim a res pública; não é o monólogo, mas, ao

contrário, o diálogo.

A teoria e categorias de análise que servirão de base teórica para a compreensão do estudo

da gestão social no contexto do MCMV, no município de Abaetetuba, segue demonstrado no quadro

05:

Page 56: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

55

Quadro 5 - Conceitos da Teoria da Gestão Social, segundo alguns autores da área.

TEORIA AUTOR CONCEITO

Gestão Social

Tenório, 2005, p. 102 É o processo gerencial dialógico no qual a autoridade

decisória é compartilhada entre os participantes da ação.

Tenório, 2008c, p. 147-148 É a discussão e possibilidade de uma gestão

democrática, participativa, quer na formulação de

políticas públicas, quer naquelas relações de caráter

produtivo.

Tânia Fischer, 2002 É um ato relacional que se estabelece entre pessoas, em

espaços e tempos relativamente delimitados,

objetivando realizações e expressando interesses de

indivíduos, grupos e coletividade.

Dowbor, 1999 É um paradigma em construção que busca superar a

visão estadocêntrica ancorada na expressiva

burocratização e centralização da máquina pública e a

visão de mercado que coloca o lucro e a competitividade

acima de tudo.

Fischer et. al. (2006) Pode ser praticada tanto no âmbito público quanto no

privado, tendo o objetivo fundamental o

desenvolvimento social, seja em plano micro ou macro,

uma vez que a gestão se orienta para a mudança e para o

desenvolvimento.

Singer (1999) São ações que interagem nas diferentes áreas da vida

social para a satisfação das necessidades da população.

O autor propõe a gestão social seja viabilizada mediante

políticas e práticas sociais articuladas e articuladoras das

diversas demandas. Fonte: Da autora (2013).

O quadro 5 aponta os conceitos de diferentes autores sobre o tema gestão social que vem

sendo construído, a cada dia, tanto no âmbito acadêmico, através da formação de vários grupos de

pesquisa e extensão que passaram a se dedicar ao estudo das práticas de gestão social presentes na

sociedade quanto nas práticas sociais dos sujeitos não apenas governamentais, mas, principalmente,

de ONGs, associações, fundações, e ainda de iniciativas do mercado, por meio de experiências de

noções de cidadania corporativa ou de responsabilidade social da empresa (FRANÇA FILHO,

2008).

No quadro 6 figuram os conceitos das categorias de análise necessárias para a

compreensão e que corroboram para os estudos da gestão social no contexto da participação social

do MCMV.

Page 57: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

56

Quadro 6 - Categorias de análise que fundamentam os estudos da Teoria da Gestão Social.

CATEGORIAS AUTOR CONCEITO

Cidadania Habermas, 2003 É a dimensão ativa da pessoa humana que

proporciona uma identidade política e uma

ação comunicativa no âmbito da esfera pública

de uma democracia deliberativa.

Democracia Tenório, 2005, utiliza o conceito

de Habermas

É a cidadania procedimental baseada na

correlação entre direitos humanos e soberania

popular e a consequente reinterpretação da

autonomia nos moldes da teoria do diálogo.

Controle Social Bravo e Oliveira (2002) É a participação da população na elaboração,

implementação e fiscalização das políticas

sociais, conforme aspectos legais inscritos na

CF/88.

Descentralização Arretche (2000) É a institucionalização no plano de condições

técnicas para a implementação de tarefas de

gestão de políticas sociais

Cidadania

deliberativa

procedimental

Tenório, 2005, utiliza o conceito

de Jurgen Habermas

É a pluralidade de formas de comunicação,

como morais, éticas, pragmáticas e de

negociação, em que todas são formas de

deliberação. E o marco que possibilita essas

formas de comunicação é a justiça, entendida

como a garantia processual da participação em

igualdade de condições.

O procedimento da prática da cidadania

deliberativa é a participação.

Participação Gohn, 2004 É a experiência ativa de cada cidadão na esfera

pública.

Participação Social Bordenave, 1994 É a possibilidade de classes sociais distintas

fazerem parte dos movimentos históricos

relacionados à política, economia, cultura e

aos aspectos sociais, criando espaços em que

todos construam, gerenciem e se incluam no

processo.

Participação Social Gohn, 2004 É a luta pelo reconhecimento de direitos

sociais e culturais modernos, como raça,

gênero, sexo, qualidade de vida, meio

ambiente, segurança, direitos humanos, etc.

Participação Social Vera Schattan, 2004 É o processo de formulação e gestão das

políticas públicas mais permeáveis às reias

demandas da população e de forma

transparente.

Participação Popular Gohn, 2004 São camadas sociais populares que

reivindicam bens e serviços públicos e por

terra e moradia. Fonte: Da autora (2013).

Portanto, para se compreender o papel da gestão social no contexto da participação social do

MCMV é exigida uma dimensão profunda que exige um esforço conjunto no âmbito do exercício

da democracia e cidadania, tornando o processo cada vez mais desafiador. A participação da

Page 58: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

57

sociedade com o poder público local só veio a se viabilizar em resposta ao processo de

democratização do país, que permitiu a condução dos governos municipais de políticos

comprometidos com os movimentos sociais e assim, a participação da sociedade potencializou o

fortalecimento da democracia nas demais esferas da vida social.

3 A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA POLÍTICA HABITACIONAL

O objetivo deste capítulo é destacar como foi construída a nova política de habitação, que ao

longo da história do Estado brasileiro os governos anteriores não alcançaram, em toda a trajetória da

política habitacional, o atendimento significativo das classes trabalhadoras, sobretudo, as de renda

baixa. Mas, o histórico da atuação do Governo Federal foi se modificando e ampliando

gradativamente a concepção do direito à moradia ao longo de sua trajetória.

A partir da década de 30 até meados dos anos 60, o Estado populista assume a importância

da produção de moradias populares, com a criação de uma estrutura institucional por meio dos IAPs

e da FCP, dando início a habitação de interesse social, mas não consegue garantir recursos estáveis

para viabilizar uma política efetiva. Dos anos 60 até meados dos anos 80, o governo militar criou a

primeira política efetiva na área habitacional, através de uma ampla estrutura institucional e de

fontes estáveis de recursos, o BNH, mas devido sua atuação centralizadora e autoritária, não

consegue atingir os objetivos de produzir moradias para as classes populares, acabando por

beneficiar camadas da população com renda maior. Já no final dos anos 80 até meados dos anos 90,

a instabilidade e fragilidade do governo marcam a política federal, principalmente pelas

reivindicações que a sociedade fazia pela ampliação dos seus direitos sociais (MARICATO, 2005;

MARICATO; SANTOS JÚNIOR, 2007, BONDUKI, 2008).

Entre a extinção do BNH, em 1986, e a criação do Ministério das Cidades, em 2003, o setor

do governo federal responsável pela gestão da política de habitação apresentou descontinuidades e

ausência de estratégia para o enfrentamento do déficit habitacional. A partir de 2003, ocorreu a

reestruturação da política habitacional, por meio da criação do Ministério das Cidades, priorizando

a atuação e oportunizando as classes sociais com menor poder aquisitivo ao direito pela moradia,

corroborando com experiências inovadoras executadas pelos governos locais, voltados ao

atendimento de trabalhadores com participação e controle social, dando início ao processo de

descentralização da política habitacional (BONDUKI, 2008).

Page 59: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

58

O presente capítulo pretende discutir o contexto do Programa Minha Casa Minha Vida e está

organizado a partir dos seguintes itens: 3.1) o contexto do Programa Minha Casa Minha Vida; e 3.2)

os avanços na política habitacional de interesse social no município de Abaetetuba.

3.1 O CONTEXTO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

A criação do Ministério das Cidades pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

em 2003, caracteriza o marco da ruptura de um sistema centralizado, com linhas de crédito sob seu

controle, sem uma política definida para incentivar e articular as ações dos Estados e Municípios no

setor habitacional. É o órgão central, por meio da Secretaria Nacional de Habitação, responsável

pela formulação da Política Nacional de Habitação, que deve atuar de forma articulada com a

Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU) e com as políticas ambientais e de inclusão

social (BRASIL, 2004).

A estruturação na nova política de habitação pode ser dividida em dois momentos: na

primeira gestão presidencial (2003-2006), ocorre a reestruturação institucional; na segunda gestão

(2007-2010), o importante aumento no volume de recursos voltados aos programas de habitação.

(BRASIL, 2004).

A mudança institucional inicia-se pela própria criação do Ministério das Cidades, que traz

em seu bojo a concepção das políticas urbanas integradas, reunindo as áreas de habitação,

saneamento ambiental e transporte urbano e mobilidade, tendo o uso e ocupação do solo como

política transversal, cujo objetivo é reverter a fragmentação na execução dessas políticas, assim

como o processo histórico de acúmulo dos problemas urbanos (NAIME, 2010). Essa proposta de

integração das políticas urbanas nasceu principalmente de discussões e contribuições de diversos

movimentos e organizações sociais que se articulavam em torno da Reforma Urbana no país, ao

longo da década de 1990 (HOLANDA, 2010).

Importante destacar, que o protagonismo dos movimentos e organizações sociais no que se

refere ao ideário da Reforma Urbana pela ampliação da concepção do direito à moradia pelo Estado,

foi decisivo para a consolidação das seguintes conquistas: 1) inserção da Política Urbana na

Constituição Federal; 2) proposição do Projeto de Lei - PL 2.710/92, que previa a constituição de

um fundo e um conselho de moradia popular no âmbito federal; 3) importante atuação nas

experiências inovadoras de âmbito municipal; 4) aprovação do Estatuto das Cidades, que se

constitui, até hoje, num marco para a possível instituição de uma política fundiária efetiva; 5) e o

Page 60: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

59

desenvolvimento do Projeto Moradia, que se constituiu no embrião do novo modelo de política

habitacional que viria a se estabelecer após 2003 (HOLANDA, 2011).

Cabe ressaltar, que entre a extinção do BNH, em 1986, e a criação do Ministério das

Cidades, em 2003, o setor responsável do governo federal pela gestão da política de habitação

esteve subordinado a sete ministérios ou estruturas administrativas diferentes, configurando a

ausência de ações de estratégias e descontinuidades governamentais para o enfrentamento da

questão habitacional (BONDUKI, 2008).

Neste período, a habitação no país careceu de um projeto contínuo, consistente e estruturado

nacionalmente. Mas por meio da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, essa

lacuna histórica e de recuperação da capacidade de gestão e planejamento do setor habitacional, tem

desenvolvido ações voltadas para o desenvolvimento institucional, da produção habitacional e da

urbanização de favelas, que certamente vem colaborando para a redução e melhoria do quadro de

precariedade habitacional das cidades brasileiras (BRASIL, 2010a).

A partir do Ministério das Cidades é possível sistematizar a política de habitação que passa a

ter um tratamento mais estável, à medida que se procurou dar sequência ao Projeto Moradia,

concebido antes da campanha eleitoral do Lula, fruto de um projeto político que resultou da

experiência desenvolvida pelas administrações locais do Partido dos Trabalhadores, somado a uma

série de debates junto à sociedade civil (CARDOSO; ARAGÃO; ARAÚJO, 2011).

O Projeto Moradia propunha um modelo de política habitacional que se baseava nas

seguintes características: a) adoção de mecanismos como o fundo, o conselho participativo e o

plano de ação, que se inspiravam nas práticas de outras políticas sociais, como a educação e a

saúde; b) soluções para ampliar o acesso ao crédito, como o FGTS e o Orçamento Geral da União

(OGU), indicados como fonte de recurso e subsídio para população de menor renda e ampliando o

SFI e o SBPE para as camadas de maior poder aquisitivo; c) soluções para uma política fundiária,

por meio da aplicação do Estatuto das Cidades e dos planos diretores; d) fortalecimento da estrutura

institucional da política habitacional nos três níveis de governo, configurando um sistema nacional

de habitação, além de incorporar mecanismos de participação e descentralização, sendo o governo

federal financiador e indutor da política e o município o principal executor (HOLANDA, 2011).

Desta forma, inicia a construção da nova política nacional de habitação, em 2003, por meio

da criação do Ministério das Cidades e do Conselho das Cidades, este último, espaço institucional

de interlocução, controle e participação social. A política habitacional é retomada no âmbito do

governo federal através do diálogo por uma política voltada a todos os segmentos da população,

Page 61: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

60

sobretudo, ao atendimento da população de menor renda, objetivo que se percorre desde a década

de 30, com a execução das políticas de proteção social. Em 2005, é instituído o SNHIS, por meio da

Lei nº 11.124/05, que tem por princípio a ação articulada nas três esferas de governo, visando o

fortalecimento institucional e utiliza recursos do FNHIS e do FGTS, fazendo um mix de recursos

onerosos e subsidiados (MARICATO, 2005), além da criação do Estatuto das Cidades (EC)21

,

através da Lei nº 10.257/01 (BRASIL, 2004).

O EC representa uma importante ampliação do direito à moradia, no que se refere mais

diretamente ao direito à cidade e à terra urbana, aos princípios defendidos pelo ideário do

movimento da Reforma Urbana, alcançando inovações em três apontamentos: 1) instituição de

instrumentos que visam induzir as formas de uso e ocupação do solo; 2) “ampliação das

possibilidades de regularização das posses urbanas”; 3) gestão democrática, “ideia de participação

direta do cidadão em processos decisórios sobre o destino das cidades” (BRASIL, 2005b, p. 37).

Cabe destacar que mesmo no auge do processo de abertura do governo militar e das

conquistas sociais com a redemocratização dos anos 1990, o direito pela moradia foi conquistado

com a inscrição do Capítulo da Política Urbana na Constituição de 1988, por meio dos artigos 182 e

183, mas com ressalvas ao direito pela propriedade (RODRIGUES; BARBOSA, 2010). Pois foi

somente em 2000, que a moradia foi incluída entre os direitos sociais na Constituição, por meio da

Emenda nº 26, de 14/02/2000, que vem regulamentar os artigos da Constituinte através do Estatuto

das Cidades, instrumento necessário para a gestão do solo urbano e Política Urbana, antiga

reivindicação dos movimentos sociais (HOLANDA, 2011).

Bonduki (2009) demonstra que o Projeto Moradia destacava a necessidade de aprovação do

Estatuto das Cidades, a fim de facilitar e baratear o acesso a terra, combatendo a especulação com

imóveis ociosos, e a nova Política Nacional de Habitação incorporou as propostas do Projeto (com

exceção do Fundo de Aval). Destaca-se que os aspectos importantes não puderam ser implantados

de imediato. O mesmo autor cita que a atenção dada à questão urbana e fundiária era relevante por

ter grande atualidade em programas habitacionais do governo, como o Programa Minha Casa Minha

Vida.

O Ministério das Cidades articulou a construção de espaços de discussão nacional sobre as

políticas públicas: a Conferência das Cidades22

, nos âmbitos municipal, estadual e federal das

21

Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, propõe que o Poder Público atue em áreas de conflito e promova e

regularização fundiária com eficiência, reivindicações que foram aprovadas após 13 anos de tramitação no Congresso

Constituinte (BRASIL, 2004). 22

A realização da Conferência das Cidades se inicia a partir de discussões municipais, depois estaduais, culminando na

Page 62: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

61

cidades, com ampla participação dos segmentos da sociedade, por meio de um modelo participativo

e democrático que reconhece a participação nas políticas públicas como direito dos cidadãos

(BRASIL, 2004).

Foram realizadas 3.457 Conferências municipais ao longo de 2003, culminando em outubro

desse mesmo ano, na 1ª Conferência Nacional, que elegeu o ConCidades, além de estabelecer as

diretrizes e os princípios da PNDU. Na sequência, ocorreram as Conferências nos anos de 2005,

2007 e 2010, que se caracterizaram como esferas de participação das diversas propostas debatidas e

que foram incorporadas às políticas urbanas adotadas pelo Ministério das Cidades (NAIME, 2010).

Importa ressaltar, que em setembro de 2013 foi realizada a 5ª Conferência Estadual das

Cidades, no município de Belém.

Neste cenário, a nova Política Nacional de Habitação é fruto desse processo participativo,

que ocorre por meio de um conjunto de recomendações consensuadas no ConCidades23

, elaborada

ao logo de 2004 e tem como principal objetivo retomar o processo de planejamento do setor de

habitação e garantir novas condições institucionais para a promoção do acesso à moradia digna a

todos os segmentos da população, sobretudo o de baixa renda, visando a inclusão social (BRASIL,

2004).

Maricato (2006) destaca que a PNH foi estruturada fundamentalmente em três eixos de ação,

conforme segue no quadro 7. Importante ressaltar, que esses eixos não significaram

necessariamente inovação em termos de política habitacional, pois a urbanização de áreas precárias,

a produção social de moradias e a busca por integrar políticas setoriais são concepções de políticas

já anteriormente adotadas. No entanto, o diferencial da nova política é que foram introduzidas

mudanças na forma de operacionalizá-la e redefinidas as prioridades de atuação, o que conferiu um

novo significado à política habitacional.

conferência nacional, assim como ocorre com outras políticas sociais. Desde a primeira Conferência das Cidades

ocorrida em 2003, já ocorreram três outras edições: 2005, 2007 e 2010 (BRASIL, 2004). 23

Foi criado na primeira Conferência das Cidades, por meio do Decreto Presidencial nº 5.031, de 02 de abril de 2004,

posteriormente alterado pelo Decreto Presidencial nº 5.790, de 25 de maio de 2006. Sua constituição é formada por

representantes do Poder Público Federal, Poder Público Estadual, Poder Público Municipal, Movimentos Populares,

Empresários, Organizações de Trabalhadores, Representantes de Academias, Órgãos de Pesquisa e Entidades de

Profissionais e Representantes de ONGs.

Page 63: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

62

Quadro 7 - Eixos estruturais de ação da Política Nacional de Habitação.

Integração urbana de

assentamentos precários

Urbanização em áreas precárias

Intervenção em cortiços

Regularização fundiária

Melhoria da qualidade habitacional

Produção habitacional Aquisição de imóveis novos ou usados

Locação social pública ou privada

Reabilitação em áreas urbanas centrais

Melhoria habitacional

Integração da política

Habitacional à política de

Desenvolvimento urbano

Política fundiária e imobiliária para habitação

Regularização fundiária

Uso de terrenos e imóveis públicos para habitação

Revisão da legislação federal de parcelamento do solo

para habitação

Impacto da política de financiamento habitacional

sobre o valor do solo urbano

Mobilidade e transporte urbano

Infra-estrutura urbana e saneamento ambienntal

Fonte: Brasil (2004).

O quadro 7 demonstra que essas alterações na estrutura da política de habitação são

apontadas em decorrência de três dimensões: a) reestruturação do arranjo institucional responsável

pela política, cujo objetivo é a integração da gestão das políticas urbanas e operacionalizar as novas

diretrizes da ação do governo; b) maior preocupação com a questão fundiária, não apenas por meio

da regularização, mas também com a introdução de mecanismos para buscar garantir o acesso à

terra urbana; c) e significativo ajuste no foco, priorizando centralmente o atendimento à baixa renda

e a destinação de maior volume de recursos à produção e financiamento habitacional (NAIME,

2010).

Neste contexto, a reestruturação legal e institucional da PNH contribui para sua

implementação e viabilização por meio da Secretaria Nacional de Habitação, com a definição de

quatro instrumentos básicos. São eles: 1) o Sistema Nacional de Habitação (SNH), que abrange os

subsistemas de Habitação de Interesse Social (SNHIN) e Habitação de Mercado (SNHM); 2) o

desenvolvimento institucional, através do Plano de Capacitação e Desenvolvimento Institucional,

Page 64: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

63

que visa promover a estruturação dos estados de forma a descentralizar a implementação da

política; 3) o Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento da Habitação (SIMAHAB); 4) e o

Plano Nacional de Habitação (BRASIL, 2010a).

Quadro 8 - Conjunto de instrumentos que visam viabilizar e implementar a PNH.

Sistema Nacional de

Habitação

Principal instrumento da PNH

Formado pelos subsistemas, Sistema Nacional de

Habitação de Interesse Social (SNHIN) e Sistema

Nacional de Habitação de Mercado (SNHM)

Estabelece as bases do desenho institucional que se

propõe participativo e democrático

Integração entre os três níveis de governo e com os

agentes públicos e privados envolvidos com a questão

define as regras que asseguram a articulação financeira,

de recursos onerosos e não onerosos, necessária a

implementação da PNH

Desenvolvimento

Institucional, por meio do

Plano de capacitação e

Desenvolvimento

Institucional

É o instrumento essencial da PNH para viabilizar a sua

implementação de forma descentralizada, o que requer

a estruturação institucional dos Estados, Distrito

Federal e Municípios

Capacitação de agentes públicos, sociais, técnicos e

privados

Sistema de Informação,

Avaliação e Monitoramento

da Habitação (SIMAHAB)

É o instrumento estratégico para garantir o processo

permanente de revisão e redirecionamento da política

habitacional e de seus programas

Prevê o desenvolvimento de uma base de informações,

o monitoramento e a avaliação permanente de projetos

e programas da PNH, de forma articulada aos demais

aspectos da Política de Desenvolvimento Urbano

Plano Nacional de

Habitação, a ser

desenvolvido pela

Secretaria Nacional de

Habitação

Prevê metas de médio e longo prazo

Prevê linhas de financiamento, programas de provisão,

urbanização e modernização da produção habitacional

a serem implementados a partir das prioridades

regionais de intervenção

Estabelece critérios para a distribuição regional de

recursos, de acordo com o perfil do déficit habitacional

no âmbito nacional

Fonte: Brasil (2004).

É importante ressaltar, que o Sistema Nacional de Habitação (SNH) é o principal

Page 65: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

64

instrumento da Política Nacional de Habitação, cujo desenho institucional adotado em sua estrutura

visa possibilitar o alcance dos princípios, objetivos e diretrizes da Política, suprir o vazio

institucional e estabelecer as condições para o enfrentamento habitacional, através de ações

articuladas e integradas nas três esferas de governo, com a participação dos Conselhos das Cidades

e Conselhos Estaduais, do Distrito Federal e Municipais (BRASIL, 2004).

O Sistema está subdividido em dois sistemas que atuam com diferentes fontes de recursos,

formas, condições de financiamento e, de forma complementar, estabelecem mecanismos para a

provisão de moradias em todos os segmentos sociais. São eles: Sistema Nacional Habitação de

Interesse Social (SNHIN) e o Sistema Nacional de Habitação de Mercado (SNHM) (BRASIL,

2010a), segundo demonstrado no quadro 9:

Quadro 9 - Subsistemas de Habitação – SNHIN e SNHM - na PNH.

Sistema Nacional Habitação

de Interesse Social

(SNHIN)

Resultado do primeiro projeto de iniciativa popular

apresentado ao Congresso Nacional em 2001

Fruto da mobilização nacional dos Movimentos

Populares de Moradia de diversas entidades e do

Movimento Nacional da Reforma Urbana, por meio da

aprovação do PL 2710/92 que trata da criação do

FNHIS

Constituído por recursos onerosos e não onerosos dos

fundos: FNHIS, FGT, FAT e outros fundos ou

programas que vierem a ser incorporados ao SNH

Objetivo: garantir ações que promovam o acesso à

moradia digna para a população de baixa renda que

compõem a quase totalidade do déficit habitacional no

País

Sistema Nacional de

Habitação de Mercado

(SNHM)

A inserção dos investimentos privados contribuiu para

assegurar o atendimento da demanda solvável em

condições de mercado

Sendo absolutamente essencial para viabilizar o novo

SNH

Atuando com recursos SFH e do SBPE

Objetivo: reorganização do mercado privado de

habitação, tanto pela ampliação das formas de captação

de recursos, como pelo estímulo da inclusão de novos

agentes, facilitando a promoção imobiliária, para

assim, contribuir no atendimento das parcelas

significativas da população que são atendidas por

recursos públicos Fonte: Brasil (2004).

Page 66: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

65

Sobre o quadro 9 é importante destacar que os recursos onerosos e não onerosos são para

viabilizar os investimentos habitacionais para as diversas faixas de renda. São utilizados numa

estratégia para “evitar que as classes médias se apropriem dos recursos públicos (ou semipúblicos,

como o FGTS), como aconteceu durante os anos que precederam o governo Lula” (MARICATO,

2006, p. 217).

Figura 1 - Organograma da Política Nacional de Habitação.

Fonte: Brasil (2010a).

A segunda gestão do governo Lula na área da política habitacional foi marcada pela grande

ampliação de recursos para os programas federais. A conjuntura econômica que o Brasil se

encontrava permitiu maior aporte de investimentos federais, possibilitando o lançamento do

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2007. Na área habitacional, o PAC Habitação

se propôs a intervenções em grandes áreas de assentamentos precários, localizadas em municípios

com mais de 150 mil habitantes, “prevendo-se recursos inusitados para o setor da habitação”

(BONDUKI, 2009, p. 11).

Ainda em 2007, o governo Lula passa a liberar recursos para o investimento habitacional por

meio do FNHIS (Cardoso; Aragão; Araújo, 2011) e organiza a primeira seleção pública para acesso

dos estados e municípios aos programas do fundo, através de recursos não onerosos advindos do

OGU (HOLANDA, 2011). No contexto de aplicação da Lei nº 11.124/05, foi elaborado o Plano

Nacional de Habitação - PlanHab, entre agosto de 2007 e dezembro de 2008, instrumento

responsável pela implementação da Política Nacional de Habitação (NAIME, 2010).

Para Bonduki (2009), o PlanHab é um dos componentes centrais da nova PNH. Tem o

Page 67: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

66

objetivo de planejar as ações públicas e privadas, com planejamento de médio e longo prazo, para

equacionar as necessidades habitacionais do país no prazo de quinze anos. É um plano estratégico,

que foi concebido para que suas propostas sejam implementadas com articulação dos PPAs de 2011,

2015 e 2019, tendo como horizonte 2023 (BONDUKI, 2009).

O autor destaca que o Plano foi resultado de um amplo processo participativo de todos os

segmentos da sociedade durante dezoito meses e sua estratégia exigia ações simultâneas em quatro

eixos indispensáveis. São eles: financiamentos e subsídios; arranjos institucionais; cadeia produtiva

da construção civil e estratégias urbano-fundiárias. Esses eixos estão intrinsecamente articulados e

segundo Bonduki, “não haverá mudanças substanciais no quadro da política habitacional se não

forem realizadas ações concomitantes nas quatro frentes” (BONDUKI, 2009, p. 12).

A partir de 2008, os movimentos populares pressionam o Governo Federal no espaço do

ConCidades para ter acesso direto aos Programas do FNHIS, tornando-se agentes executores da

política habitacional (HOLANDA, 2011). Para que estados e municípios tivessem acesso aos

recursos do fundo, deveriam aderir ao SNHIS, para atuar de forma integrada e articulada ao

Sistema. Assim, deveriam elaborar os Planos Locais de Habitacão de Interesse Social (PLHIS),

constituir o fundo local de Habitação de Interesse Social e seu respectivo conselho gestor (NAIME,

2010).

Cabe ressaltar que apesar do empenho do governo Lula em reestruturar o sistema de

habitação no país, tornou-se emblemático à medida que não rompe totalmente com o modelo

anterior, pois apresenta um novo desenho institucional com efeito simbólico por não romper com as

práticas anteriores de gestão, como o Sistema Nacional de Habitação (SNH), atual do governo Lula

ter incorporado as antigas estruturas do SFH do governo militar e o SFI do governo FHC,

reformulados pela legislação que disciplina a aplicação de recursos. Ainda assim, o atual Sistema e

Política do governo Lula se diferenciam das gestões anteriores, pelo próprio processo de

construção, cuja participação da sociedade civil se deu de forma ampliada, conforme agenda de

reivindicações constantes na Constituição Federal de 1988, referente à política urbana e dentre

outros direitos (NAIME, 2010).

Ainda em 2008, a crise econômica internacional se agrava, e o Governo Federal é levado a

definir medidas para preservar a economia brasileira, e lança em 2009, o Programa Minha Casa

Minha Vida – PMCMV, voltado para o atendimento de famílias com renda mensal de até 10 salários

mínimos, com acesso restrito às empresas do setor da construção civil, no qual o poder público

participa por meio de apoio às empresas, disponibilizando áreas de infraestrutura e outras ações

Page 68: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

67

facilitadoras (BRASIL, 2009). O MCMV significou um novo aporte de recursos para habitação,

exigência antiga dos movimentos sociais, e foi concebido como uma política anticiclíca, que visou

dar robustez à economia e dinamizar a construção civil (BONDUKI, 2009).

O autor destaca que o subsídio para o Programa ficou dividido em três faixas de renda

salarial:

1. População com renda de até três salários mínimos (até R$ 1.395,00);

2. População com renda intermediária de três a seis salários mínimos (de R$ 1.395 à R$ 2.790);

3. População com renda superior a seis salários mínimos (de R$ 2.790 a R$ 5.000).

Nesse sentido, a ampliação dos recursos aos programas habitacionais não correspondeu

diretamente ao fortalecimento do SNHIS, pois o PAC Habitação e o MCMV, programas federais

que obtiveram maior aporte financeiro, foram gestados e geridos principalmente entre o Ministério

da Fazenda, Ministério do Planejamento e Orçamento e Casa Civil Federal, deixando de ocorrer o

espaço de diálogo e negociações no âmbito do Ministério das Cidades, através do ConCidades. O

conflito entre os programas ficou mais evidente quando o Governo Federal deu ênfase ao

lançamento do MCMV, preterindo a divulgação do PlanHab, recém finalizado e discutido no

ConCidades, priorizando o papel de protagonista para o setor empresarial na produção habitacional,

configurando assim, o enfraquecimento do esforço de consolidação da política de habitação pelo

poder público nos três níveis governamentais (BONDUKI, 2009; MARICATO, 2009; ROLNIK;

NAKANO, 2009; CARDOSO, 2009).

Neste cenário, vale destacar que o MCMV trazia a possibilidade de práticas inadequadas já

vivenciadas em outras gestões da política de habitação, como a produção em massa de residenciais

habitacionais periféricos, apropriação dos subsídios por camadas de renda mais alta da população, o

boom imobiliário e a consequente valorização e escassez de terras urbanizadas (BONDUKI, 2009;

MARICATO, 2009; ROLNIK; NAKANO, 2009).

O MCMV teve enorme repercussão com sua meta cabalística de 1 milhão de unidades

habitacionais para o enfrentamento do impacto da crise econômica e por isso tem recebido diversas

críticas de acadêmicos e organizações ligadas ao movimento de reforma urbana, pois sua

sistemática, voltada ao setor privado, dispensa o controle social por meio dos espaços instituídos no

FNHIS, muito menos indicam que os programas devam ser dialogados nos conselhos de habitação,

caracterizando um certo conflito entre a concepção do MCMV e do SNHIS (ROLNIK; NAKANO;

2009; CARDOSO, 2009).

Mesmo com as acentuadas críticas, vale destacar que Bonduki (2009, p. 12, grifo do autor),

Page 69: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

68

demonstra que o lançamento do MCMV não é totalmente adverso às proposições do PlanHab, pois

o “pacote” habitacional alavanca ainda mais a alocação de recursos na área habitacional, chegando

a alcançar o cenário mais positivo proposto pelo Plano, ou seja, se for mantido o patamar de

recursos por quinze anos, meta do Plano, há a possibilidade de produzir um impacto real no

enfrentamento do déficit habitacional, sendo sem dúvida, a principal novidade otimista do MCMV,

e em parte, pelo Programa assumir algumas diretrizes e princípios estabelecidas pelo Plano.

Em entrevista, nas falas do coordenador do Movimento Nacional de Luta pela Moradia

(MNLM) e do Movimento Nacional das Cidades/PA, este manifesta a compreensão de que o

MCMV tem que ser instituído como uma Política de Governo e não como Política de Estado, já que

tem prazo para ser concluído, até 31 de outubro de 2014. Ressalta que a participação social ocorre

de forma muito limitada, já que é um “Programa privatista que dialoga com o mercado e com a

sociedade civil representada institucionalmente apenas no âmbito do ConCidades, canal de diálogo

que ficou enfraquecido após o lançamento do MCMV”. Mas reconhece que com o Programa:

O Governo Federal liberou vultosos recursos para fazer a habitação. É um dos poucos

programas do mundo que tem recursos subsidiados e age diretamente na faixa 1, dando o

título de proprietário ao beneficiado, agindo de forma includente. Mas o programa tem que

ser institucionalizado como uma Política de Governo e que tenha uma perspectiva de um

planejamento territorial integrado, já que o valor da terra se caracterizou pela mais valia e a

Cohab está engessada nesse processo. Apesar da grande quantidade de recursos, mas são

apenas para investir nos programas habitacionais, e por isso carece de que seja retomado o

PlanHab, como uma política, sendo um retrocesso o MCMV sem o PlanHab, que impede de

fazer o planejamento das cidades, junto com o Sistema Nacional de Desenvolvimento

Urbano, que transversaliza a política como um todo, que vai gerir a gestão das cidades.

(Informação verbal)24

Apesar das críticas e divergências geradas pelo lançamento e atuação do MCMV é

importante ressaltar que há um consenso entre especialistas da área habitacional de que a nova

política habitacional cunhou avanços importantes e que a liberação de vultosos recursos investidos

no setor deve ser entendida como sinal de que a questão habitacional adentrou para a agenda

política do governo (MARICATO, 2009; BONDUKI, 2009; ROLNIK; NAKANO, 2009). Esse

cenário de recursos alocados nos programas habitacionais do Governo Federal demonstra que

cresceram mais de oito vezes, Gráfico 1, com importante ampliação do percentual às faixas da

população com renda até 3 salários mínimos, Gráfico 2, conforme documentos oficiais do governo

federal.

24

Entrevista concedida pelo Coordenador do MNLM e do Movimento Nacional das Cidades/PA em 08 de novembro de

2013.

Page 70: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

69

Gráfico 1 - Evolução dos investimentos em Habitação.

Fonte: Ministério das Cidades e Relatório CEF e ABECIP (até 31/12/2009). Retirado de BRASIL (2010b).

Gráfico 2 - Brasil: percentual de atendimento dos programas habitacionais (FGTS, FAR, FDS,

OGU e FAT) por faixa de renda – 2002 a 2009.

Fonte: Ministério das Cidades e Relatório CEF (dados até 31/12/2009). Retirado de BRASIL (2010b).

De acordo com documentos e relatórios oficiais do governo federal no que se refere ao

cenário da nova política habitacional, os gráficos 1 e 2 indicam que o resultado dos recursos

alocados para os segmentos da população, assim como o foco para a população de renda baixa,

demonstra que o déficit habitacional absoluto no Brasil já sofreu redução de 21%, enquanto o

déficit proporcional, que representava 15% do total de domicílios do país em 1991, havia caído para

Page 71: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

70

10% do total de domicílios (BRASIL, 2010b).

Cabe destacar que apesar da atuação no MCMV ser protagonizada pelo setor empresarial e

ao poder público restou apenas o papel de coadjuvante, ou seja, de participar por meio de apoio às

empresas privadas, bem como o ConCidades não ter sido consultado quanto à formulação do PAC e

do MCMV, o Conselho conseguiu, posteriormente, tencionar e alcançar algumas mudanças na

sistematização dos programas, alterando o cenário de ator principal do mercado: no MCMV forçou

a inclusão da modalidade dedicada a municípios com menos de 50 mil habitantes, pelo poder

público, e a modalidade destinada a entidades sociais (MCMV-Entidades)25

. Já o PAC 2, lançado

em abril de 2010, se apresenta integrado ao SHNIS, exigindo, inclusive, o atendimento às

determinações da Lei nº 11.124/2005, demonstrando o quanto o Concidades tem demarcado um

espaço importante de negociações (MARICATO, 2009; BONDUKI, 2009; ROLNIK; NAKANO,

2009).

Ressalta-se que os espaços de diálogo com o ConCidades na formulação do MCMV não

cumpriram as regras do SNHIS e do FNHIS. Em entrevista realizada com o Presidente da

Associação dos Moradores do Residencial Abaetetuba, constatou-se que apesar dos espaços de

diálogo terem ocorrido e se fortalecido a partir do momento que tiveram suas reivindicações e

direitos atendidos por meio da Associação dos moradores junto à CEF e Prefeitura, não existiu

participação da comunidade local no Programa. Este fato foi devido a forma hierárquica, do

governo federal para o municipal, sem interferência da sociedade ou comunidade local, além da

ausência da Secretaria e Conselho municipais de habitação e ConCidades:

Dos 500 apartamentos destinados pelo MCMV, 46 foram invadidos por famílias que não

estavam cadastradas pela Prefeitura. Os moradores elegeram um representante para

presidente da associação, foi legalizada com CNPJ, e passamos a reivindicar junto à

Prefeitura e Caixa pela desocupação dessas famílias e outras situações que após a entrega

dos apartamentos pela Caixa, não atendiam o que constavam nos documentos, legislações

do programa. Tanto a Caixa quanto a Prefeitura diziam não ser de sua responsabilidade e

sim da outra a desocupação dessas famílias. Mas estudamos a legislação e nos reunimos

com Caixa e Prefeitura e eles viram que sabíamos o que estávamos falando e mostramos de

forma pacífica que queríamos nossos direitos. A Caixa e Prefeitura ficaram surpresos com a

nossa organização e conhecimento que tínhamos do programa, já que apresentamos um

relatório todo detalhado do que não aceitávamos nos apartamentos e residencial, dentro da

lei. Algumas reivindicações foram aceitas e atendidas e outras ainda estamos aguardando

atendimento. A Caixa e a Prefeitura, principalmente a Caixa, nos parabenizaram e passaram

a nos respeitar enquanto Associação, e passamos a ser exemplo para os outros residenciais

habitacionais do MCMV. Somos convidados a dar palestras sobre as questões do programa,

25

A Lei Federal nº 11.977/2009 que regulamentou o MCMV admitiu algumas modalidades não previstas no desenho

original do Programa, como as destinadas às organizações sociais e aos municípios com menos de 50 mil habitantes

para acesso direto ao poder público, além disso, a mesma Lei instituiu mecanismos facilitadores de regularização

fundiária em assentamentos informais de baixa renda (Lei Federal nº 11.977/2009).

Page 72: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

71

como cuidar da casa e sobre cidadania, como fizemos com os moradores do nosso

residencial, ao receber os apartamentos. Hoje tratamos direto com a Caixa nossas

reivindicações, sem ajuda da Prefeitura, o que sabemos que é um grande avanço pra nós.

(Informação verbal)26

As entrevistas realizadas com os representantes do MNLM e do Movimento Nacional das

Cidades/PA e da Associação dos Moradores de Abaetetuba, revelaram que os espaços de discussão

são mínimos para os primeiros, enquanto que para os segundos, fizeram esses espaços de

participação acontecerem, por meio de organização própria, e exercendo seus papéis de cidadãos

que deliberam sobre suas reivindicações. Ambos concordam que não há participação do poder

estadual na ação do MCMV, e esse gap de gestão entre os três níveis de governo ocorre devido o

próprio desenho do programa que dispensa o cumprimento das regras do SNHIS e do FNHIS, bem

como dos espaços de diálogos com o ConCidades.

Ainda assim, as pesquisas de campo revelaram que apesar da mobilização e organização da

comunidade local dos moradores do residencial Abaetetuba ter ocorrido junto ao debate com a CEF

e Prefeitura, não houve participação dos moradores, em virtude da ausência da Secretaria e

Conselhos municipais de habitação e ConCidades. Por isso, é urgente que o MCMV seja

institucionalizado como uma Política de Governo e não como uma Política de Estado, sob a

perspectiva de planejamento territorial integrado para a gestão das cidades, com participação da

sociedade civil e local.

Neste contexto, apesar de não ter ocorrido a participação social da comunidade local no

MCMV em Abaetetuba e sem ação articulada e integrada nas três esferas de governo, é importante

destacar que a iniciativa dos moradores envolvidos nos espaços de discussão, por meio da

Associação dos moradores, Prefeitura e CEF, corroboraram com a prática da gestão social. Segundo

Tenório (2005), o modelo de esfera pública proposto por Habermas seria aquele espaço social na

qual ocorreria a interação dialógica entre sociedade civil e Estado, decidindo sobre as políticas

públicas, mesmo que o espaço possível de comunicação e de deliberação entre os atores envolvidos

ocorra nas relações bilaterais, ou entre os três setores simultaneamente, o que configuraria uma

administração pública ampliada, ou seja, uma gestão social, na qual os protagonistas seriam todos

aqueles participantes do processo decisório. Essa afirmação do autor corrobora quando Gohn

demonstra que a ampliação da esfera pública contribui para a formação de consensos alcançados

argumentativamente, numa gestão social compartilhada, gestada a partir de exercícios públicos

deliberativos (GOHN, 2002, p. 29).

26

Entrevista concedida pelo Presidente da Associação dos Moradores de Abaetetuba em 07 de novembro de 2013.

Page 73: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

72

Nas falas das entrevistas realizadas com o presidente da Associação dos Moradores de

Abaetetuba ficou evidente que as necessidades dos moradores atendidas pela Prefeitura e CEF,

corroboraram sim com a interação entre sociedade e Estado, evidenciando a efetivação de espaços

de interação dialógica com a gestão social integrada a uma cidadania deliberativa procedimental, na

qual “a gestão social deve ser praticada como um processo dialógico, em que todos têm direito à

fala”. No entanto, o procedimento da prática da cidadania deliberativa na esfera pública que é a

participação, não ocorreu devido a ausência dos canais de diálogo, como o conselho municipal de

habitação e o modelo hierárquico do PMCMV (TENÓRIO, 2005, p. 121).

Oliveira, Cançado e Pereira (2010), também demonstram que a ideia de esfera pública

habermasiana no contexto de reivindicações dos moradores do residencial Abaetetuba foi

importante para que ocorressem as práticas de experiências participativas que agem em consonância

com as premissas da gestão social. Assim, Gohn (2004) também destaca a importância da esfera

pública em auxilia-nos a entender a importância da sociedade civil, à medida que ela é um dos

atores fundamentais do poder local, adentrando nos espaços públicos, por meio do diálogo com seus

grupos organizados. Mas, as entrevistas revelaram que a ausência da Secretaria e Conselho

municipais de habitação compromete o debate de diálogo entre os moradores do residencial e

estado.

Neste contexto, a presente pesquisa aponta que para contemplar o primeiro objetivo

específico, as ações empreendidas pelo PMCMV não garantem aos municípios a criação dos órgãos

institucionais responsáveis em gerir a habitação social e com envolvimento da sociedade local,

mesmo com a criação da Coordenação municipal de habitação, devido ser um Programa que atua de

forma centralizada do governo federal para local e assim, não garante a participação social local na

construção de políticas públicas por moradias de interesse social.

Desta forma, depreende-se com os resultados da pesquisa de campo que o desenho e

burocracia na gestão do MCMV dificultam o processo de tomada de decisão sob a esfera pública na

qual interagi sociedade e Estado, mesmo que representada pelos moradores do residencial

Abaetetuba.

Nesse cenário, Bonduki (2009) aponta que a elevação do patamar de subsídios obtidos pelo

Programa no setor habitacional é sim um avanço importantíssimo, que precisa ser perenizado, para

garantir a continuidade de uma política realmente social de habitação, com objetivo de construir

políticas públicas que garantam o direito à habitação, que é o que se persegue desde o Projeto

Moradia.

Page 74: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

73

Mas para o alcance desse objetivo, o autor destaca que é necessário avançar mais e retomar

o debate e implementação do PlanHab urgentemente, para que não se incorra em uma política

alicerçada na ampliação do acesso ao crédito, associada a formas distintas de desoneração da

indústria da construção civil e com ausência de conexão com as ações de estratégias urbanística ou

fundiária, para não confundir política de habitação com política de geração de empregos na

indústria da construção (ROLNIK; NAKANO, 2009), além da prática da construção dos

empreendimentos habitacionais não provocar segregação espacial e urbana, já que continuam a ser

construídos fora da malha urbana, características das gestões anteriores, que se caracterizaram pela

segregação da população beneficiada (CARDOSO; ARAÚJO; ARAGÃO, 2011) .

Apesar das críticas à gestão do PMCMV, é notável a identificação de avanços com a

implementação e consolidação da nova política de habitação quanto ao atendimento da população,

sobretudo a de baixa renda, localizadas nas diversas regiões brasileiras, além do MCMV ter

avançado no sentido de construir políticas públicas que garantam o direito à habitação, que é o que

se persegue desde o Projeto Moradia.

Mas é preciso avançar mais e retomar urgentemente o debate e implementação do PlanHab,

que atua como um planejamento com horizonte de atuação de quinze anos, articulado e integrado

com as políticas urbanas nas três esferas de governo, sendo o papel de ator protagonista para a

sociedade civil nas relações de diálogo com o Estado, garantindo o bem-estar e o desenvolvimento

da população em cidades cidadãs.

O próximo item abordará os avanços na política habitacional de interesse social no

município de Abaetetuba.

3.2 AVANÇOS NA POLÍTICA HABITACIONAL DE INTERESSE SOCIAL NO MUNICÍPIO

DE ABAETETUBA

O município de Abaetetuba (MAPA 1), encontra-se à 72 km de distância da capital Belém,

localizado à margem direita do rio Maratauíra, um dos afluentes do estuário do Rio Tocantins e

integra a Microrregião de Cametá - Mesorregião do Nordeste Paraense (PPA 2010-2013 da

Prefeitura de Abaetetuba). Compreende uma área territorial de 1.611 km² (TABELA 1), na qual se

concentra uma população para 2013 em 147.267 habitantes (71.630 Homens e 69.470 Mulheres)

(TABELA 1). A população urbana é estimada em 82.998 pessoas distribuídas em 17 bairros em

área de aproximadamente 15 km², enquanto 58.102 residem na área rural, compreendendo a região

do arquipélago (72 ilhas) e região das estradas, Distrito de Beja, 49 colônias agrícolas e 1 vila

Page 75: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

74

(IBGE, 2010).

A densidade demográfica do município é de 87,6 habitantes por km², a taxa de crescimento

demográfico atual situa-se em 2,77%, possuindo o Índice de Desenvolvimento Urbano – IDH em

0,628, segundo dados do IBGE 2010. O município foi instalado em 01/01/1939 e pertence ao

Bioma Amazônia (IBGE, 2010).

Mapa 1 - Município de Abaetetuba.

Fonte: Brasil (2010).

Tabela 1 - Dados Demográficos do município de Abaetetuba.

Município

Código do

Município

Gentílico

População

2010

População

estimada

2013

Área de

unidade

territorial

(km²)

Densidade

Demográfica

(hab/km²)

Abaetetuba 1500107 Abaetetubense 141.100 147. 267 1.610,61 87,6

Fonte: IBGE (2010).

Em 2009, quando o governo federal anunciou o lançamento do Programa Minha Casa

Minha – PMCMV, o Estado do Pará passava por um importante processo no que se refere ao seu

panorama histórico de produção e política de habitação social, período este marcado

particularmente pela elaboração e desenvolvimento de seu Plano Estadual de Habitação de Interesse

Social (PEHIS)27

, no qual representantes do governo estadual, de diversos setores locais da

27

A Lei Estadual nº 7.087/2008, de 16 de janeiro de 2008, dispõe sobre o Sistema Estadual de Habitação de Interesse

Social – SEHIS, do Fundo Estadual de Habitação de Interesse Social – FEHIS, do Conselho Gestor do FNHIS, do

Conselho Estadual das Cidades e do Plano Estadual de Habitação de Interesse Social – PEHIS se deu a partir da

Page 76: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

75

sociedade civil, juntamente com políticos, discutiam as principais carências habitacionais de seus

municípios e regiões, como forma de subsidiar a elaboração de um diagnóstico habitacional do

Estado do Pará, para o enfrentamento do déficit habitacional (PARÁ, 2009).

A elaboração do PEHIS se constituía como parte do atendimento às condições determinadas

pelo SNHIS, juntamente com o FNHIS, que visava ampliar a liberação de recursos não onerosos

para o enfrentamento das carências habitacionais, porém, condicionando o repasse desses recursos à

criação de fundos e elaboração de planos de habitação de interesse social estadual e municipal, a

fim de constituir, desta maneira, instrumentos capazes de combater o déficit habitacional

(HOLANDA, 2011).

Neste contexto, com a Lei Estadual nº 7.087/2008, de 16 de janeiro de 2008, o Governo do

Pará cria o Sistema Estadual de Habitação de Interesse Social (SEHIS), que apresenta como órgão

central o Conselho Estadual das Cidades, além do Fundo Estadual de Habitação de Interesse Social

(FEHIS) e o Conselho Gestor deste fundo. As articulações entre os órgãos que constituem o

processo de efetivação do SEHIS podem ser observadas na figura 2 (PARÁ, 2009).

É neste cenário, de construção de uma nova política de habitação a partir de um processo

amplamente participativo, que teve início a elaboração do Plano Estadual de Habitação de Interesse

Social (PEHIS), elaborado integralmente por técnicos do Governo do Pará, com duração de dois

anos, tendo sido aprovado no início de 2010 pelo Conselho Estadual das Cidades. O Plano define

como os recursos do FEHIS deveriam ser aplicados, além da elaboração dos Planos Locais de

Habitação de Interesse Social – PLHIS. Vale destacar também que a Lei nº 303/2010, de 15 de

dezembro de 2010, cria o Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (FMHIS) e instituiu o

Conselho Gestor do FMHIS e o Plano Diretor Participativo de Abaetetuba, que foi instituído pela

Lei nº 222, de 10 de outubro de 2006, no que se refere aos princípios e diretrizes gerais da política

urbana no município (PARÁ, 2009).

realização do Diagnóstico Habitacional do Estado do Pará onde, além de dados secundários, este documento teve

como importante base, informações extraídas de oficinas realizadas junto à atores locais as 12 Regiões de Integração

do território paraense.

Page 77: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

76

Figura 2 - Fluxograma do Sistema Estadual de Habitação de Interesse Social.

Fonte: Pará (2009).

Na contra mão de todo esse processo de desenvolvimento institucional do PEHIS, SNHIs e

FNHIS, o MCMV emerge como resposta à crise econômica internacional que assombrava a

economia brasileira, fortemente inspirada na economia chilena, protagonizada pelo setor

empresarial, como forma de mitigar os efeitos por meio da adoção de políticas Keynesianas que

incluíam a manutenção do crédito, o atendimento aos setores mais atingidos pela recessão e a

sustentação dos investimentos públicos, sobretudo na área de infraestrutura, como já vinha sendo

objeto do PAC (CARDOSO et. al, 2011). No âmbito destas medidas, destacou-se o “pacote” de

investimentos lançado para a área de habitação, como uma medida anticíclica adotada para

combater a crise econômica mundial e dinamizar a construção civil (BONDUKI, 2009).

Desta forma, o MCMV ignorou amplamente os princípios e diretrizes estabelecidas pelo

SNHIS e, entre outros impactos, eliminou os repasses de recursos para as ações de provisão

habitacional no âmbito do FNHIS, o qual passou a concentrar recursos somente para ações de

urbanização de assentamentos precários e de desenvolvimento institucional. A partir de então, a

Page 78: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

77

política e produção habitacional no Brasil passam a ser orientadas pelos ditames de uma lógica de

mercado, na qual incidem perversamente na ocupação e construção do espaço urbano, assim como

na eficácia de medidas de redução de desigualdades socioespaciais, de modo que o papel do poder

público é de coadjuvante e viabilizador da efetivação dos interesses empresariais, caracterizando

assim, uma forma de intervenção extremamente empreendedorista (CARDOSO; ARAGÃO;

ARAÚJO, 2011).

Importa ressaltar neste cenário, que o governo federal, por meio do Ministério das Cidades,

incentivou os municípios quanto ao investimento de suas capacidades técnica e administrativa para

atuarem na nova política de habitação adequação dos mesmos ao SNHIS e FNHIS, instrumentos

institucionais mais fortes no que tange proporcionar a moradia de interesse social. Nesse sentido,

após a implementação da Lei nº 11.124/05, que rege o Sistema e Fundo, foi notável a proporção de

municípios brasileiros que declararam contar com fundo local e conselho municipal de habitação

de interesse social de forma significativamente (BRASIL, 2012).

Em 2009, têm-se os seguintes resultados: 1) 80% dos municípios brasileiros contavam com

um instrumento para identificação do déficit municipal de moradia, sendo o cadastro a capacidade

administrativa mais disseminada; 2) cerca de 2/3 dos municípios brasileiros contavam com um

órgão para a gestão da política habitacional; c) e aproximadamente 43% contavam com conselho

municipal de habitação e/ou fundo municipal de habitação (BRASIL, 2012).

Assim, o governo federal pretendia induzir a capacitação dos municípios para executar a

política de habitação em conformidade com os princípios de participação, planejamento integrado

e descentralização de ações entre os níveis de governo, como estratégia de indução federal.

Conforme dados de Brasil/BRASIL (2012), em 2009, 66,9% dos municípios declararam possuir

órgão destinado à gestão da política habitacional, comparado ao ano de 2004, que menos da metade

dos municípios declarou possuir algum órgão específico de gestão. Observa-se um crescimento de 25

pontos percentuais na presença deste instrumento de gestão, que indica maior centralidade dessa

política na agenda dos municípios brasileiros. Mas apesar do notável crescimento de alguns

instrumentos de gestão que os municípios passaram a aderir a partir de 2004, alguns municípios

ainda carecem estar preparados para gerenciar programas habitacionais, sejam pelo FNHIS, PAC

ou MCMV e não vislumbram ações de descentralização entre as esferas de governo, conforme

entrevista do Coordenador do MNLM.

Page 79: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

78

Baixa capacidade técnica e institucional das administrações locais, sobretudo nas regiões

Norte e Nordeste, enquanto que o papel da COHAB/PA é engessado, não existindo relação

entre os níveis de governo. Os Estados e Municípios não têm estrutura para gestar os

Programas. (Informação verbal)28

Nesse sentido, os três instrumentos institucionais para adesão dos municípios ao

SNHIS e FNHIS da nova política de habitação de interesse social são o Cadastro para

identificação do déficit municipal de moradias; o Órgão de gestão da política

habitacional e o Conselho municipal de habitação, demonstrados através de mapas, com

destaque para os apontamentos quanto aos avanços e desafios na questão habitacional no

município de Abaetetuba, assim como a presença e/ou carência desses instrumentos podem

influenciar na gestão e participação social do MCMV, em especial , pois se sabe que o

Programa tem o objetivo de produzir habitações sociais de forma massiva, mas para isso, é

necessário dar condições estruturais e de capacidades técnicas e administrativas às

prefeituras para gerenciar os programas habitacionais. O instrumento institucional Conselho

municipal de habitação será demonstrado no capítulo quatro.

3.2.1 Cadastro para identificação do déficit municipal de moradias

Os estudos sobre o cadastro para identificação do déficit municipal de moradias se

baseia nos anos de 2004 e 2009 para análise, período compreendido entre o período

anterior da instituição da Lei nº 11.124/05 e, após a implementação e funcionamento do

SNHIS e FNHIS:

28

Entrevista concedida pelo Coordenador do MNLM e Movimento Nacional das Cidades /PA em 08 de novembro de

2013.

Page 80: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

79

Fonte: BRASIL/BRASIL, 2012 Fonte: BRASIL/BRASIL, 2012

Os anos de 2004 e 2009 demonstram que as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apontam

comportamento similar ao da média brasileira, entre os anos de referência não houve variação

expressiva quanto à proporção de municípios que declararam possuir cadastro. Já os estados das re-

giões Norte e Nordeste apresentaram comportamento diferente da média brasileira, à medida que os

primeiros apresentaram ligeira expansão quanto à proporção de municípios com o instrumento, os da

região Norte sofreram pequena retração.

3.2.2 Órgão de gestão da política habitacional

Tendo a referência dos anos de 2004 e 2009, respectivamente, para análise do avanço

quanto à implementação de municípios e regiões no que se refere possuir órgão de gestão da

política habitacional, observou-se que ocorreu um considerável crescimento, conforme

demonstrado nos mapas 2 e 3:

Mapa 2 - Proporção de municípios com cadastro

ou levantamento de famílias interessadas em

programas habitacionais, 2004.

Mapa 3 - Proporção de municípios com cadastro

ou levantamento de famílias interessadas em

programas habitacionais, 2009.

Page 81: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

80

Fonte: BRASIL/BRASIL, 2012 Fonte: BRASIL/BRASIL, 2012

Os anos 2004 e 2009 revelaram que as regiões brasileiras apresentaram expansão da

frequência de municípios que declararam possuir órgão de gestão da política habitacional, exceto a

região Norte, que apresentou queda no indicador. A este cenário, soma-se a realidade do município

de Abaetetuba, que de acordo com a fala de representantes da Prefeitura é importante destacar a

criação da Coordenação de Habitação, criada em 2012, na gestão municipal de Francinete

Carvalho (2010-2013), movimento que acompanhou as determinações do desenho institucional

não só do SNHIS e do FNHIS, como também da atuação do PAC e MCMV em todas as regiões

brasileiras. No ano anterior, a Prefeitura criou a Casa do Cidadão, espaço no qual correram os

cadastros das famílias para atendimento do MCMV, durante o período de um ano.

Anteriormente à criação da Coordenação de Habitação em 2012, bem como da casa do

Cidadão, em 2011, a questão habitacional em Abaetetuba era gerida pela Secretaria Municipal de

Assistência Social. Devido à expansão das ações do governo federal com a instituição da Lei nº

11.124/05 e lançamento do PAC em 2007, e do MCMV em 2009, no que se referem à questão

habitacional, é notável que os municípios progrediram entre os anos de 2004 e 2009. Vale destacar

que, mesmo com os avanços indicados nos mapas 4 e 5, ainda existem municípios que carecem

dessa mesma estrutura organizacional para ter condições de gerenciar e manter os programas

Mapa 5 - Proporção de municípios com órgão

específico para política de habitação – 2009.

Mapa 4 - Proporção de municípios com

órgão específico para política de habitação –

2004.

Page 82: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

81

habitacionais, como é o caso do município de Abaetetuba, que carece de uma Secretaria municipal

de habitação e de um conselho municipal de habitação, pois apesar da recente criação da

Coordenação de habitação, as questão pertinentes à deliberação por parte da comunidade e da

Prefeitura ainda são de responsabilidade da Secretaria municipal de Assistência Social, conforme

revelado nas falas de entrevistas realizadas com representantes municipais:

Apesar do município de Abaetetuba ter criado a Coordenação de habitação apenas em

2012, mas já consideramos um grande avanço, porque esta é uma realidade dos municípios

brasileiros, que ainda estão se adaptando às exigências da Lei nº 11.124/05. O Plano Local

de Habitação de Interesse Social - PLHIS ainda está sendo elaborado, até pelo próprio fato

da recente criação da Coordenação de habitação. E ainda não existe o conselho municipal

de habitação, por demandar de criação em lei municipal e criação de fundos para isso. Mais

assim como ocorreu a necessidade de se criar a Coordenação de habitação, futuramente,

também a Prefeitura vai ter a necessidade de instituir a Secretaria e conselho de habitação,

pois além de ser a própria demanda da população, é um processo de amadurecimento por

parte dos municípios. (Informação verbal)29

Esta mesma situação também é retratada por uma técnica da Secretaria municipal

de Meio Ambiente – SEMEIA de Abaetetuba, que fez parte da equipe de coordenação que

participou da 1ª Conferência municipal das Cidades no ano de 2003, e que tinha como um

de seus objetivos a aprovação do Conselho das Cidades – ConCidades nos municípios.

Em relação ao município de Abaetetuba, nas falas de entrevistas realizadas com a técnica

da SEMEIA, o ConCidades de Abaetetuba foi instituído em Lei, porém, ainda não

funciona na prática, conforme relato:

Participamos da 1º Conferência municipal das Cidades em 2003 e foi criado

através de Lei municipal o ConCidades/Abaetetuba. Só que ainda não funciona

na prática porque é alegado que tem que ficar na Secretaria de Obras, só que a

Secretaria não tem pessoal técnico qualificado para receber o Conselho. A

Secretaria de Obras tem um engenheiro e um administrador e para o ConCidades

teria que ter também um Assistente Social e aumentar o quantitativo de pessoal .

A importância do Assistente Social é para saber a real necessidade da

comunidade contemplada com os programas de habitação e fazer a intermediação

entre eles e a Prefeitura. (Informação verbal)30

Neste contexto, observam-se algumas fragilidades estruturais da Prefeitura de

Abaetetuba no que se refere à criação de alguns instrumentos institucionais para garantir

a gestão dos programas de habitação e a participação da sociedade civil nos canais de

29

Entrevista concedida pelo Presidente do Conselho municipal de Assistência Social de Abaetetuba em 30 de outubro de

2013. 30

Entrevista concedida pela Técnica da SEMEIA em 01 de novembro de 2013.

Page 83: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

82

diálogo com a política de habitação, sobretudo no MCMV, que dificultam a participação

social local no município, conforme seu desenho institucional e falas de entrevistados já

destacadas. E apesar do ConCidades ter demonstrado que suas reivindicações foram

aceitas no âmbito do MCMV, assim como os moradores da Associação do residencial

Abaetetuba terem conseguido o espaço de negociação junto à CEF e Prefeitura , mas não

ocorreu a participação local dos moradores do residencial Abaetetuba, devido a ausência

do conselho municipal de habitação.

É importante destacar que em 2009, a Prefeitura de Abaetetuba em contato com a

CAIXA, soube que havia a possibilidade pela gestão municipal anterior, da realização de

projetos voltados para construção de casas às famílias de baixa renda por meio do FNHIS.

A partir de então foram executado pelo fundo os empreendimentos habitacionais

Residenciais Abaeteora I e II, com 110 e 120 unidades habitacionais entregues. Em agosto

de 2010, com a inauguração do Espaço Habitacional Casa do Cidadão, com o objetivo de

realizar os cadastros de famílias já cadastradas no CADÚNICO, com renda familiar de até

três salários mínimos, residentes no município, foram entregues os residenciais

Abaetetuba, Angelim, Aquiles e GrenGrover, conforme demonstrados no quadro 10:

Quadro 10 - Quadro Demonstrativo do Cadastro Habitacional do Município de Abaetetuba em Dezembro

de 2012.

Item

Nome do

Residencial

Nome do

Programa

Nº de

Unidades

Nº de

Famílias

Cadastradas

Nº de

Famílias

Beneficiadas

Nº de

Famílias

em

reserva

01 Abaeteora I FNHIS 110 110 110 00

02 Abaeteora II 120 120 120 00

03 Abaetetuba

MCMV

500 650 500 150

04 Angelim 222 289 222 67

05 Aquiles 102 133 102 31

06 GrenGrover 456 593 456 137

TOTAL 1.510 1.895 1.510 385 Fonte: Relatório de Gestão 2012 da Secretaria Municipal de Assistência Social.

Apesar das críticas que o Programa tem recebido de diversos especialistas do setor

habitacional, principalmente no que tange ao enfrentamento do déficit habitacional,

entrevistas realizadas com os atores selecionados revelaram de forma generalizada que o

MCMV atendeu de forma includente a população de baixa renda e alguns entrevistados

concordam que ocorreu um avanço do déficit habitacional nesta faixa.

Page 84: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

83

A seguir, é demonstrado o histórico do déficit habitacional total e urbano, que

compreende o período de 2000-2008, particularmente a partir de 2006, quando o FNHIS

passou a operacionalizar os recursos aos municípios no que tange ao atendimento da

população, principalmente da baixa renda.

Tabela 2 - Déficit habitacional total – 2000-2008.

Ano 2000 2005 2006 2007 2008

Pará 489.506 418.007 407.727 368.217 344.662

RMB 115.172 129.843 124.132 109.817 103.942

Brasil 7.222.645 7.931.076 7.921.597 7.354.110 6.816.564

Fonte: IBGE (2010), FJP 2008.

Tabela 3 - Déficit habitacional urbano – 2000-2008.

Ano 2000 2005 2006 2007 2008

Pará 273.386 294.383 297.312 271.720 266.299

RMB 112.811 128.423 122.038 107.928 102.547

Brasil 5.469.851 6.549.341 6.622.695 6.153.298 5.704.369

Fonte: IBGE (2010), FJP 2008.

As tabelas 2 e 3 demonstram que a partir de 2006 à 2007 percebe-se a diminuição

do déficit habitacional31

, ano em que o FNHIS passou a atuar na nova política de

habitação de interesse social, e de 2007 à 2008, o governo federal lançou o PAC. Apesar

de não se ter a demonstração da análise do déficit a partir de 2009, ano de lançamento do

MCMV, mais em entrevistas realizadas, é destacado que o Programa age sim no

enfrentamento do déficit habitacional.

Nesse sentido, os gráficos 3, 4, 5 e 6 demonstram a evolução e distribuição do

déficit habitacional segundo faixas de renda familiar nos anos 2005, 2006, 2007 e 2008.

31

Segundo a FJP, 2008, o déficit habitacional está diretamente relacionado às deficiências do estoque de moradias, que

se encontram sem condições de serem habitadas em razão da precariedade das construções ou do desgaste da

estrutura física (BRASIL/BRASIL, 2008, FJP, 2008.

Page 85: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

84

Gráfico 3 - Déficit habitacional 2005.

Fonte: BRASIL (2005), FJP (2005).

No gráfico 3, mais de 90% das famílias que demandam uma nova moradia têm renda

média mensal de até três salários mínimos. Somadas às famílias na faixa de renda imediatamente

superior, entre três e cinco salários mínimos, representam quase a totalidade do déficit

habitacional. Ressalta-se que para esta análise do déficit habitacional está sendo considerado apenas o

segmento urbano da população.

Gráfico 4 - Déficit habitacional 2006.

Fonte: BRASIL (2006), FJP (2006).

O gráfico 4 revela um leve aumento do déficit habitacional na faixa 1, de até três

salários mínimos, de 90,3% para 90,7%, ainda considerado um percentual bastante

elevado, de mais de 90%, das famílias pe r tencentes à fa ixa 1 , segmento mais carente

Page 86: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

85

da população no que se re fe re o en fren tamento do dé f i c i t habi t ac ional .

Gráfico 5 - Déficit habitacional 2007.

Fonte: BRASIL (2007), FJP (2007).

Os es tudos da Fundação João P inhei ro – FJP apontam no g rá f ico 5 que a

par t i r de 2007 fo i poss ível obse rvar uma t ímida queda do déf i c i t habi tac iona l

para a fa ixa de renda 1 , se comparado aos anos de 2005 e 2006 , de 90% para

89 ,4%. Esse fa to es tá r e lac ionado com a a tuação dos SNH IS e FNH IS , que

passaram a a tuar a par t i r de 2006 na ques t ão habi t ac ional do país , sob re tudo ,

o inves t imento de recu rso s subs id i ados à p opulação de renda baixa , foco do

S is tema e Fundo de habi t ação de in t e res se soci a l , a l ém do PAC, l ançado em

2007 .

Gráfico 6 - Déficit habitacional 2008.

Fonte: BRASIL (2008), FJP (2008).

Page 87: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

86

J á o gráf i co 8 revel a que ocorreu um leve aumento de 89 ,4% par a 89 ,6%

no percentual do déf i c i t habi t ac ional se comparado ao ano ante r ior, mesmo

com os recursos des t inados à população de mais carente por meio da novo

pol í t i ca de habi t ação e a tuação do PAC. Os grá f i cos ac ima des t acados sobre a

evolução do déf i c i t habi t ac ional no pa ís demonst ram que a inda há mui to que

faze r por pa r te do governo federa l quanto ao enf ren tamento da ques t ão

habi t ac ional , a inda mais po rque l eva - se em cons ideração que a população ,

se ja nos n ívei s l ocal , es t adual e f edera l apresentam t axas de c resc imento a

cada ano , s egundo segue na t abela 4 :

Tabela 4 - Infográficos: Evolução Populacional.

Ano Abaetetuba Pará Brasil

1991 99.989 4.950.060 146.825.475

1996 106.430 5.466.141 156.032.944

2000 119.152 6.192.307 169.799.170

2007 132.222 7.065.573 183.987.291

2010 141.100 7.581.051 190.755.799

Fonte: Brasil (2010).

Atualmente, após quatro anos de anunciado o MCMV, já é possível vislumbrar algumas

reverberações positivas e/ou negativas desta política público-privada, seja em escala nacional ou

local, bem como os resultados da nova Política de Habitação, conforme segue no quadro 11.

Page 88: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

87

Quadro 11 - Principais Avanços e limites da nova Política de Habitação de Interesse Social, a partir da visão

dos atores entrevistados, segundo número de repostas.

Principais Avanços da nova Política de Habitação

de Interesse Social

Principais Desafios da nova Política de

Habitação de Interesse Social

a) A criação do Ministério das Cidades, do SNHIS, do

FNHIS e do PlanHab constituem um marco na história

da política habitacional voltada ao atendimento da

população, especialmente de até três salários mínimos,

agindo no enfrentando do déficit habitacional;

a) Baixa capacidades técnica e administrativa e de

investimentos pó poder executivo municipal,

como também dos estados;

b) A nova PNH chega em todas as regiões do país e

delegação de responsabilidades às administrações

locais;

b) Programas de habitação nacionais não

reconhecem aspectos da moradia regional/local e

priorizam as moradias das RMs;

c) Com a Nova PNH ocorre a ampliação dos espaços

de participação da sociedade civil;

c) Pouca articulação ou posíveis descontinuidades

das ações dos/entre os três níveis de governo;

d) Incentivo/capacitação para elaboração dos PEHIS e

PLHIS;

d) Dificuldade na execução dos Programas em

decorrência nas sitemáticas ou restrições nas

legislações;

e) Criação do SNH com participação nos três níveis de

governo;

e) Carência do quantitativo do corpo técnico da

CAIXA quanto ao atendimento dos Programas de

habitação, devido a demanda ser muito grande de

beneficiários;

f) Maior publicização de informações e realizações de

seleções públicas;

f) Não identifica delegação de responsabilidades

às administrações locais, devido os municípios

não ter qualificação para atender os Programas.

g) Descentralização das políticas habitacionais, com

destaque para as parcerias entre Prefeituras e Sesc,

para capacitação de pedreiros, marceneiros nas obras

dos Programas;

g) Existem vultosos recursos para investir apenas

em Programas, inexistindo uma Política de

habitação.

Fonte: Entrevistas realizadas com atores-chave selecionados para a fase de pesquisa qualitativa.

Notas: Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com posterior sistematização das respostas.

Melhor detalhamento das principais repostas por bloco de atores pode ser observada no quadro 1 do Apêndice A.

Por um lado, dentre os principais avanços apontados por diversos atores entrevistados estão

a possibilidade de atendimento à população de baixa renda, a ampliação de participação da

sociedade na construção e acompanhamento da nova política de habitação, assim como a importante

ampliação dos recursos e diversidade de programas habitacionais federais, e, ainda, a criação de um

sistema nacional de habitação, cuja estrutura é por meio da integração articulada das ações das três

esferas de governo. Representantes da Prefeitura também indicaram como importante o incentivo e

a capacitação para elaboração dos planos locais de habitação e a maior publicização de

informações, inclusive a realização de seleções públicas para o acesso aos programas do Ministério

das Cidades.

Page 89: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

88

Por outro lado, figuram como limites ainda a serem superados pela nova política

habitacional a baixa capacidade técnica dos agentes envolvidos, destacando-se a situação dos

municípios no Brasil, que apresentam grandes disparidades regionais, segundo a visão dos

representantes dos órgãos municipais.

Quadro 12 - Principais Avanços e limites do Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, a partir da visão

dos atores entrevistados, segundo número de repostas.

Principais Avanços do PMCMV Principais Desafios do PMCMV

a) Ampliação de vultosos recursos, viabilizando o

atendimento da população, sobretudo, a de baixa

renda, agindo no enfrentando do déficit habitacional;

a) O MCMV tem que ser institucionalizado como

Política de Governo e não como Política de

Estado, que tem prazo para terminar em 2014,

atuando como uma perspectiva de planejamento

territorial;

b) O MCMV é um grande avanço, pois subsidia

fortemente a habitação, por meio da disponibilização

de vultosos recursos e realmente movimenta a

economia;

b) O PlaHanb tem que ser retomado, pois é uma

Política de Governo com horizonte de 15 anos,

atuando no planejamento das cidades;

c) Não ocorre a participação social efetiva no

Programa;

c) O MCMV não consegue dialogar com o

planejamento urbano das cidades, como o Sistema

Nacional de Desenvolvimento Urbano (SNDU),

que é transversal à política de habitação,

instrumento que vai gerir a gestão das cidades;

d) Realização do trabalho social para conscientização

dos moradores quanto às novas moradias;

A comunidade não está preparada, qualificada

para receber os empreendimentos habitacionais.

e) Qualidade na construção de alguns

empreendimentos habitacionais;

e) Baixa capacidade técnica e institucional das

administrações locais, sobretudo nas regiões Norte

e Nordeste, não existindo relação entre os níveis

de governo e ausência de estrutura nos Estados e

Municípios para gerir os Programas;

f) Criação em 2012 da Coordenação Municipal de

Habitação de Abaetetuba, pois os projetos

habitacionais eram gestados por uma equipe de

técnicos vinculados à Secretaria de Assistência Social;

f) Não identifica ações de estratégias do MCMV

no município de Abaetetuba, pois a Instrução

Normativa da CAIXA proíbe a construção de

casas de madeira para famílias ribeirinhas,

desconsiderando aspectos da moradia

regional/local;

Fonte: Entrevistas realizadas com atores-chave selecionados para a fase de pesquisa qualitativa.

Notas: Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com posterior sistematização das respostas.

Melhor detalhamento das principais repostas por bloco de atores pode ser observada no quadro 1 do Apêndice A.

O quadro 12 aponta os resultados quanto aos avanços e desafios do PMCMV e dentre os

principais avanços destacados por diversos atores entrevistados estão a ampliação de vultosos

Page 90: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

89

recursos viabilizando o atendimento da população, principalmente a de baixa renda, agindo no

enfrentando do déficit habitacional desta faixa, não há participação social local de forma efetiva no

Programa, em virtude do desenho hierárquico do Programa e ausência dos órgãos institucionais,

mesmo com a criação em 2012 da Coordenação Municipal de Habitação de Abaetetuba, já que

anteriormente os projetos habitacionais eram gestados por uma equipe de técnicos vinculados à

Secretaria de Assistência Social.

Como limites ainda a serem superados pelo MCMV destaca-se a baixa capacidade técnica

e institucional das administrações locais, a falta de qualificação das comunidades beneficiadas em

receber os residenciais habitacionais, e que o MCMV seja institucionalizado como Política de

Governo e não como Política de Estado, que tem prazo para terminar em 2014, atuando sob uma

perspectiva de planejamento territorial, dialogando com o planejamento urbano das cidades, como o

Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano (SNDU). Assim, é necessário que o PlaHanb seja

retomado urgentemente, pois é uma Política de Governo com horizonte de 15 anos, que vai atuar no

planejamento das cidades, concomitante à ampliação dos recursos subsidiados, chegando a quem

mais precisa e que sejam perenes, para garantir a continuidade de uma política realmente social de

habitação.

Importa destacar que apesar das críticas ao Programa, mais se for mantida a aplicação dos

recursos subsidiados às camadas da população, em especial, a de baixa renda, faixa na qual se

concentra o maior percentual do déficit habitacional, o MCMV adota na prática o cenário mais

positivo proposto pelo PlanHab, já que sua proposta é manter esse patamar de recursos por quinze

anos, o que segundo especialistas do setor habitacional não está acontecendo, uma vez que se trata

de uma Política de Estado, com prazo para terminar em 2014. Desta forma, seria possível produzir

um impacto real no déficit habitacional, e essa é sem dúvida, a principal novidade mais otimista do

Minha Casa Minha Vida.

4 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS CONSELHOS GESTORES DE POLÍTICAS

PÚBLICAS

A universalização dos direitos de cidadania, a descentralização, participação e gestão

democrática das políticas públicas marcaram a redefinição da atuação do papel do Estado a partir

das reivindicações da sociedade pelas reformas no país, por meio dos movimentos sociais e

populares desde a década de 60, sobretudo, a partir das décadas de 80 e 90, caracterizadas pelo

processo de redemocratização e reforma da gestão pública, iniciada em 1995 (ROCHA, 2009).

Page 91: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

90

Esse novo formato de gestão das políticas públicas foi constituído como resultado do

processo de redesenho institucional e implementado na década de 90, legitimado pela Constituição

Federal de 1988, na qual instituiu a descentralização e participação como eixos centrais do processo

de democratização da gestão pública brasileira nos três níveis de governo (ROCHA, 2009),

proporcionando ao cidadão melhor eficiência na coordenação da economia e dos serviços públicos,

através de dois projetos políticos em desenvolvimento: O modelo gerencial e a vertente societal

(PAULA, 2005).

Nesta perspectiva, os conselhos municipais de políticas públicas também surgem como um

constructo institucional expressivo de reivindicações da democracia e como resultado da Reforma

Sanitária, perseguida desde a década de 70 (SANTOS, 2002). Os conselhos se caracterizam por

serem espaços institucionais de participação social, sob as bases de um arranjo federativo,

associados à Reforma Democrática do Estado, à ideia de controle social sob seu funcionamento e a

orientação dada pela Constituição Cidadã, que por meio desta, o município passa a adquirir um

papel central no processo de gestão das políticas públicas, tendo como princípio a gestão

participativa na elaboração e execução das políticas públicas (KRONEMBERGER et al, 2012).

Desta forma, o estudo das políticas públicas sociais está pautado sob os princípios basilares

do processo de redemocratização, a participação da sociedade e a descentralização político-

administrativa, ou seja, o novo formato das políticas sociais deveria seguir o duplo movimento de

democratização, do nível central em direção ao local e do Estado em direção à sociedade. Assim, a

participação da sociedade civil ocorreu em resposta às reivindicações dos movimentos sociais e

populares da década de 80, enquanto que a descentralização transferiu aos municípios a

responsabilidade e autonomia de elaborar e conduzir as políticas públicas (KRONEMBERGER et

al, 2012).

Neste cenário, Bresser-Pereira (1996) destaca que a reforma da gestão pública foi uma

resposta ao neoliberalismo da economia e a grande crise do estado na década de 80, provocando a

redefinição das funções do Estado e de sua burocracia. Pois esta se constituiu como um dos temas

mais relevantes na agenda contemporânea das políticas públicas na década de 90, pois dentre um de

seus maiores desafios estava a mudança na relação entre Estado e sociedade civil, há décadas

reivindicada pelos movimentos sociais, num mundo que se caracterizava progressivamente

democrático e globalizado (DASSO JÚNIOR, 2002), nos quais a participação e descentralização se

ratificaram no período de trajetórias das transições democráticas (GOHN, 2004).

Assim, o paradigma de gestão gerencial se contrapõe ao modelo burocrático tradicional de

Page 92: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

91

gestão até então predominante na administração pública brasileira, em que o primeiro modelo

procura adequar e atender a nova realidade da sociedade, por meio da atuação do estado e das

reivindicações das democracias de massa, já que o poder e funcionalidade das burocracias estatais

vinham sendo constantemente questionados pela sociedade (SANTOS, 2002).

Dentre os princípios que norteavam o modelo de administração gerencial, Bresser-Pereira

destacava: a) a ação estratégica se baseava na ação racional voltada para o êxito; b) a reorientação

dos mecanismos de controle para resultados, ou seja, avançar nos modelos estritamente burocráticos

de controle institucional para um enfoque baseado no alcance dos objetivos e resultados; c) a prática

do controle social para a prestação de contas e avaliação de desempenho das ações do estado para a

sociedade; d) e o cidadão como foco na ação do Estado, que se caracterizava pelo resgate da esfera

pública como espaço de exercício de cidadania e democracia (BRESSER-PEREIRA, 1996).

Neste contexto, despontava a visão de gestão pública alternativa ao gerencialismo que

emergia do ideário político das mobilizações populares contra o regime militar e redemocratização

do país, destacando-se como atores dessa vertente os movimentos sociais, partidos políticos de

esquerda e centro-esquerda e ONGs, que alcançou seu auge nos anos 60, por meio da sociedade

organizada pelo movimento de reformas no país: A abordagem societal. Com a vitória de Luis

Inácio Lula da Silva, gerou-se uma expectativa de que ela se tornasse a marca do governo federal

(PAULA, 2005). Para a autora, o modelo societal também amplia e consolida a articulação entre

sociedade civil e Estado, através dos Conselhos Gestores, Orçamentos Participativos e Fóruns

Temáticos, voltados ao diálogo de questões de interesse público (PAULA, 2005).

Para Tenório (1998), a gestão social contrapõe-se a gestão estratégica, (como prefere

denominar Tenório) por substituir a gestão tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento

mais participativo, dialógico, no qual o processo decisório é exercido por diversos atores sociais. O

ator se baseia no paradigma habermasiano para enfatizar a contraposição da ação estratégica o de

ação comunicativa, por meio da ação racional voltada para o entendimento. Este autor cita que o

conceito de gestão social tem sido empregado para ressaltar a importância das questões sociais para

sistemas-governos, em especial, para a instituição das políticas públicas, assim como dos sistemas-

empresa no gerenciamento de seus negócios.

Apesar das abordagens apontarem um novo modelo de gestão pública, em que ambas

buscavam a ampliação da democracia no país, mas se diferenciavam quanto ao enfoque que davam

às questões sociais. Na ação estratégica, por meio da ação racional, voltada para o êxito, enquanto

que a ação comunicativa, através da ação racional, voltada para o entendimento (TENÓRIO, 1998)

Page 93: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

92

Neste contexto, no bojo deste processo de reforma, seja por meio da vertente gerencial ou

pela vertente societal, a participação social vem sendo construída como um dos princípios

organizativos essenciais dos processos de deliberação democrática e cidadã no âmbito local. E para

possibilitar a participação cidadã e das organizações da sociedade civil no processo de planejamento

das políticas públicas foi transformado em modelo de gestão pública local contemporânea

(MILLANI, 2008).

Gohn (2004) aponta em seus estudos sobre a participação da sociedade civil alguns

pressupostos fundamentais como: a) uma sociedade democrática somente é possível através do

caminho da participação dos indivíduos e grupos sociais organizados; e b) não se muda a sociedade

apenas com a participação no plano local, micro, mas é a partir do plano micro que se dá o processo

de mudança e transformação na sociedade.

A autora ressalta que, a participação da sociedade civil na esfera pública, como os

conselhos, não ocorre para substituir o Estado, mas para lutar para que este cumpra seu dever e que

esta participação deve ser ativa, além de ser considerada a experiência de cada cidadão que nela se

insere. Esta aurora critica que a participação social tem importância não por ocupar espaços antes de

atuação dos interesses econômicos do Estado e de seus aparelhos, mas sua importância se faz para

democratizar a gestão da coisa pública, para inverter as prioridades das administrações ao encontro

de políticas que atendam não apenas a questões emergenciais, mas às demandas sociais cotidianas

(GOHN, 2004).

Para Cornwall (2008), a participação social é caracterizada pelo potencial de transformar a

cultura política predominante no Estado, por meio das modificações de identidade nas pessoas que

passam de clientes e beneficiários de políticas públicas para cidadãos com direitos, assim como

amplia e aprofunda o exercício da democracia, seja pela pluralização de espaços e canais que os

cidadãos se expressam, seja criando novas conexões com o Estado.

Desta forma, a importância do protagonismo civil nas políticas sociais se dá por meio da

esfera pública, como conselhos e outras formas institucionalizadas, pois ela é um dos sujeitos

fundamentais do Poder Local, para se compreender como ocorrem essas relações para o

atendimento da sociedade civil (GOHN, 2004), tornando-se um dos princípios organizativos dos

processos de formulação de políticas públicas e de deliberação democrática em escala local

(MILLANI, 2008).

Os conselhos de políticas públicas são considerados construtos institucionais com caráter

inovador, à medida que ocorre o diálogo entre Estado e sociedade e pelo seu caráter plural,

Page 94: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

93

participativo e deliberativo nas decisões (TATAGIBA, 2004). Assim, a participação da sociedade

civil ocorre no processo de formulação e gestão das políticas públicas levando-se em consideração

as demandas da população, contribuindo para a constituição dos conselhos gestores de políticas

públicas (COELHO, 2004).

Neste contexto, os conselhos constituem espaços decisórios importantes para a prática da

gestão social, entendida como o processo gerencial dialógico no qual a autoridade decisória é

compartilhada entre os participantes da ação em qualquer sistema social. Assim, o adjetivo social

qualificando o substantivo gestão é compreendido como o espectro privilegiado de relações sociais

no qual todos têm direito à fala, sem nenhum tipo de coação (TENÓRIO, 2008a).

O papel que a participação social exerce nos conselhos gestores vai além da apresentação de

prioridades e reivindicações sociais, pois passa a ter caráter de deliberação na formulação de

políticas públicas e exercer o papel de cogestão, de coresponsabilidade pela apresentação de

propostas e formulação de alternativas que influenciam no desenho institucional da política e no

formato da gestão (SANTOS, 2002). Para Cornwall (2008), a participação da sociedade coloca os

cidadãos comuns e seus representantes em contato direto com quem planeja e administra os

serviços, assim como pode servir para promover novas formas de comunicação, colaboração e

entendimento.

Dessa maneira, os conselhos constituem espaços decisórios importantes para a prática da

gestão social, que segundo Tenório (2008a), é o processo gerencial dialógico no qual a autoridade

decisória é compartilhada entre os participantes da ação em qualquer sistema social. Assim, o

estudo da presente pesquisa tem como responder os seguintes objetivos específicos: a) identificar se

a participação social, via Conselhos Gestores municipais, ocorre na formulação, implementação e

execução das políticas públicas de habitação de interesse social; e b) identificar de que forma as

ações empreendidas pelo MCMV garantem a participação social deliberativa em espaços para a

Gestão Social na construção de políticas públicas por moradias bem localizadas e de interesse

social.

A discussão da gestão social enquanto prática social da participação da sociedade no âmbito

do presente estudo é entendida como a concepção da gestão social não apenas como um campo de

abordagem teórica e de realização de pesquisas, mas sim a gestão social que passa a ser inerente à

construção e ao desenvolvimento de ações e projetos conjuntos com a sociedade

(KRONEMBERGER et al, 2012). A gestão social é compreendida como um processo de tomada de

decisão coletiva, sem coerção, baseada na inteligibilidade da linguagem, no diálogo entre os

Page 95: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

94

envolvidos e no entendimento esclarecido como processo, na transparência de informações e ações,

além da emancipação como fim (CANÇADO et al, 2011; TENÓRIO, 2008b).

Neste contexto, apesar das características inovadoras que esses espaços garantem para a

participação da sociedade civil no processo de cogestão com o Estado na condução das políticas

públicas, diversos entraves são apontados para o seu funcionamento como: o predomínio de uma

cultura política clientelista; a preferência do executivo local na condução e finalização das decisões

políticas; a frágil inclusão e rotatividade de novos membros e respectivas entidades como

representantes da sociedade; a falta de capacitação para o exercício do cargo de conselheiro e a

fraca autonomia no funcionamento desses canais (KRONEMBERGER et al, 2012).

Nas falas de entrevistas realizadas com representante do ConCidades/Abaetetuba e

representantes municipais, apontam-se duas importantes fragilidades sobre os conselhos municipais:

o não funcionamento do ConCidades/Abaetetuba e a inexistência do conselho municipal de

habitação em Abaetetuba.

Em 2003, técnicos da Prefeitura de Abaetetuba participaram da 1ª Conferência Municipal

das Cidades. A partir de então, o ConCidades/Abaetetuba foi instituído por meio de legislação

municipal, mas na prática, não funciona no município. Segundo a técnica da Prefeitura, destacou

que o principal entrave para o funcionamento efetivo do conselho é que o mesmo deveria estar

vinculado à Secretaria de Obras, que carece de estrutura técnica e de pessoal para gerir os trabalhos

do ConCidades/Abaetetuba. Atualmente, nesta Secretaria, existem somente dois servidores de nível

superior, um engenheiro e um administrador, além de outros servidores cujo cargo é de nível médio,

mas que é muito pouco para a realização dos trabalhos. Segundo a entrevistada, seria necessário, no

mínimo, um profissional de assistência social, além dos profissionais acima citados.

A técnica enfatizou que para o funcionamento do ConCidades é necessário ser feita uma

estrutura própria ou que sejam dadas as devidas condições estruturais, técnicas e de pessoal para a

Secretaria de Obras para seu funcionamento e atendimento ao cidadão. Diante desse cenário, lhe foi

perguntado como ficaria o papel do ConCidades no município, já que para acessar os recursos para

moradia, a partir da Lei nº 11.124/05, os municípios brasileiros teriam que constituir fundos,

conselhos, PEHIS e o PLHIS e a técnica respondeu:

Page 96: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

95

Mesmo ainda não funcionando, vejo uma importância muito grande do ConCidades no

município, pois ele não é responsável somente pela habitação, mas sim pelo ordenamento

territorial como um todo, incluindo as questões urbanas também. Acredito que é uma

questão de tempo o funcionamento do ConCidades, como ocorreu com a criação da

Coordenação de Habitação no município, em 2012, que vejo como um grande avanço para

a habitação. (Informação verbal)32

Já em relação à inexistência do conselho municipal de habitação, as demandas e os trabalhos

acerca da habitação estão centralizados na Secretaria municipal de Assistência Social, sendo o

próprio Conselho de Assistência Social responsável em deliberar as demandas da população. Os

gestores municipais destacaram como avanço, a criação da Coordenação de Habitação, em 2012, já

que as ações sobre moradia também eram de responsabilidade desta Secretaria, assim como

apontaram que futuramente a Prefeitura terá que criar o conselho municipal de habitação, pelo

próprio fato das solicitações tanto da população local quanto do governo federal implicarem em um

setor específico para gerir as questões da habitação no município.

Apesar das fragilidades apontadas nas entrevistas sobre a ausência de criação e de

funcionamento dos conselhos, foi possível constatar após entrevista realizada com o Presidente da

Associação dos Moradores de Abaetetuba, que se organizaram, elegeram um presidente para

representá-los, e ao discutir seus direitos e reivindicações junto à Prefeitura e Caixa de forma

organizada, foram atendidos.

Neste contexto, constata-se a ocorrência da prática da gestão social, mesmo com ausência do

canal de diálogo entre sociedade civil e Estado, o conselho municipal de habitação e o ConCidades,

Observou-se que a prática da gestão social teve relação direta com as solicitações da comunidade

local, por meio das relações dialógicas, participativas e inclusivas (KRONEMBERGER et al, 2012)

entre os moradores da Associação, Caixa e Prefeitura, deliberando ações que foram ao encontro das

reivindicações dos moradores. Mas cabe destacar que apesar da Associação ter sido atendida pela

CEF e Prefeitura, não ocorreu a participação da sociedade local no MCMV de Abaetetuba, em

virtude da ausência dos conselhos municipais.

Vale destacar que apesar de não ter ocorrido a participação da comunidade local no

Programa, ocorreu o controle social por meio da comunidade local beneficiada com o residencial do

MCMV, a partir do momento que os moradores, por meio da Associação, passaram a reivindicar

tanto da Prefeitura quanto da CAIXA, respostas sobre a ocupação ilegal dos moradores que não

tinham sido cadastrados para receber o benefício dos apartamentos pelo MCMV e as distorções

32

Entrevista concedida pela Técnica da Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMEIA em 01 de novembro de

2013.

Page 97: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

96

detectadas pelos moradores quando receberam os apartamentos e residencial, pois o presidente da

Associação ressaltou para os poder público que existiam incompatibilidades em relação ao

residencial, na prática, quando comparado com o que preconiza a Lei sobre o MCMV.

Dentre as incompatibilidades encontradas nos apartamentos e no residencial, o presidente da

Associação destacou:

Reivindicamos à Prefeitura e CAIXA a desocupação dos apartamentos das 46 famílias que

não estavam cadastradas, mas que essas famílias não ficassem desamparadas, que também

fossem atendidas pelos apartamentos, pois precisavam tanto quanto agente e se

enquadravam dentro dos critérios do Programa. Reclamamos que fosse cobrado o

percentual de 5% da parcela do apartamento como está na lei do MCMV e no início nos

cobravam 10%. Os apartamentos foram entregues sem reboco no chão e nas escadas que

dão pros apartamentos e o asfaltamento das ruas do residencial. Essas foram as principais

solicitações, dentre outras. (Informação verbal)33

O presidente destacou que dentre as reivindicações feitas à Caixa, ainda falta fazer o

revestimento das escadas que dão acesso aos apartamentos, bem como o asfaltamento das ruas do

residencial. Apesar das limitações identificadas pelos moradores do residencial Abaetetuba, o

presidente também ressaltou que os próprios moradores lajotaram seus apartamentos e que

conseguiram junto ao poder público local o atendimento da maior parte de suas reivindicações,

além de ter reconhecido que o MCMV age como uma política de inclusão social para a faixa 1, já

que anteriormente as famílias residiam em péssimas condições de moradia e há anos tentavam

comprar sua casa própria. Reconhece também como importante avanço a criação da Coordenação

de Habitação no município, em 2012.

Assim, foi constatada que não ocorreu a participação da comunidade local dos moradores do

residencial Abaetetuba na gestão do MCMV, devido a ausência da esfera pública no município, os

conselhos municipais, o que apresenta atualmente um importante destaque no Programa, já que o

mesmo não admite a participação da sociedade civil no MCMV.

Apesar desta limitação no Programa, é importante ressaltar que o avanço quanto à

participação da comunidade local contemplada pelos empreendimentos do MCMV, destacado nas

falas de entrevistas da Técnica Social da CAIXA:

O governo federal já atende as reivindicações da população pelo MCMV 2, quanto à

necessidade de instalação dos equipamento públicos existirem no escopo do Programa, já

que no MCMV 1 os empreendimentos foram entregues sem os mesmos. (Informação

33

Entrevista concedida pela Presidente da Associação dos Moradores de Abaetetuba em 07 de novembro de 2013.

Page 98: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

97

verbal)34

Importa destacar, que apesar da ausência de conselhos nos municípios, como em Abaetetuba,

segue a demonstração da evolução dos conselhos municipais de habitação criados nos municípios

brasileiros entre 2004 e 2009, conforme demonstrados nos mapas 6 e 7:

Fonte: BRASIL/ BRASIL, 2012 Fonte: BRASIL/ BRASIL, 2012

O mapa 6 revela que até 2004, o conselho municipal de habitação era um instrumento de

gestão da política habitacional pouco adotado pelos municípios brasileiros. Neste mesmo ano,

apenas 14% dos municípios declararam a presença de conselho. Mas o período compreendido

entre 2004 e 2009 foi marcado por forte e contínua expansão e em 2009, 42,6% dos municípios

declararam possuir um conselho municipal de habitação, conforme demonstrado no mapa 7.

Vale destacar que existem variações importantes en t re as regiões em re lação à

proporção de municípios com a presença de conselho. O mapa 7 demonstra a elevada proporção de

conselhos nas regiões Sul e Centro-Oeste e o estado do Rio de Janeiro, de forma isolada, enquanto a

incidência nos estados das regiões Norte e Nordeste, com exceção do Acre e Ceará, se manifestam

em menor proporção do que nas outras regiões. Mas apesar das diferenças entre os municípios, os

mapas revelam que, entre 2004 e 2009, houve expressiva expansão dos conselhos municipais em todas

34

Entrevista concedida pela Técnica Social da Caixa Econômica Federal 06 de novembro de 2013.

Mapa 6 - Proporção de municípios com conselho

municipal de habitação – 2004.

Mapa 7 - Proporção de municípios com

conselho municipal de habitação- 2009.

Page 99: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

98

as regiões, com crescimento um pouco menos acelerado apenas na região Norte.

Quadro 13 - Principais Avanços e limites dos Conselhos Gestores, a partir da visão dos atores entrevistados,

segundo número de repostas.

Principais Avanços dos

Conselhos Gestores no município

e no PMCMV

Principais Desafios dos

Conselhos Gestores no município

e no PMCMV

a) A Constituição Federal de 1988 instituiu e legitimou

os conselhos gestores e reconheceu a importância da

participação social via conselhos, Fóruns;

a) Ausência do ConCidades/Abaetetuba e de um

conselho municipal de habitação;

b) Reconhece a importância da participação da

sociedade na discussão das políticas públicas por meio

dos Conselhos, como exemplo, o diálogo do processo

democrático dos PLHIS;

b) Inexistência de fiscalização/monitoramento dos

conselhos de habitação;

c) Os Conselhos e Conferências das Cidades garantem

o direito dos cidadãos participarem da gestão da

política habitacional;

c) Inexistência de formação e qualificação de

conselheiros e, em especial, a falta de

conhecimento, aprimoramento da Política de HIS,

visando a construção de conselhos mais atuantes,

responsáveis e qualificados;

d) Reconhece a importância da participação da

sociedade na discussão das políticas públicas por meio

dos Conselhos, como exemplo, o diálogo do processo

democrático dos PLHIS;

d) A sociedade civil não busca os canais legítimos

para manifestação, pois as revindicações ocorrem

de forma isolada, diretamente com a Secretaria

Municipal de Assistência Social;

e) Avanço importante no controle social exercido pela

Associação dos moradores do residencial Abaetetuba,

quando se organizaram para reivindicar os direitos dos

moradores junto à CAIXA e Prefeitura, mesmo não

tendo sido criado o conselho de habitação;

e) As pessoas indicadas para fazer parte dos

Conselhos não sabem seu real papel e falta de

conhecimento;

f) O governo federal já atende às reivindicações da

população contempladas pelo MCMV2, quanto à

necessidade de instalação dos equipamentos públicos

existirem no espoco do programa, já que no MCMV 1,

os empreendimentos foram entregues sem os mesmos.

f) Ainda existem poucos conselhos

institucionalizados nos Estados e Municípios.

Fonte: Entrevistas realizadas com atores-chave selecionados para a fase de pesquisa qualitativa.

Notas: Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com posterior sistematização das respostas.

Melhor detalhamento das principais repostas por bloco de atores pode ser observada no quadro 2 do Apêndice B.

Por um lado, dentre os principais avanços apontados pelos atores entrevistados estão a

Constituição Federal de 1988 ter instituído e legitimado os conselhos gestores de políticas públicas,

o reconhecimento da ampliação dos espaços de participação da sociedade civil na construção e

acompanhamento das políticas públicas, por meio dos canais de diálogo, como os conselhos. O

presidente da Associação dos moradores de Abaetetuba também indicou como importante avanço o

controle social exercido pela própria Associação, quando se organizaram para reivindicar os direitos

dos moradores junto à CAIXA e Prefeitura, já que ainda não existe o conselho municipal de

habitação.

Page 100: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

99

Por outro lado, figuram como limites ainda serem superados a baixa capacidade técnica dos

conselheiros, inexistência do ConCidades/Abaetetuba e do conselho municipal de habitação e de

fiscalização/monitoramento dos conselhos de habitação, além de ressaltar como importante fator de

limitação a representação dos conselhos por pessoas que são indicadas sem estarem envolvidas com

o processo de reivindicação da comunidade, os cidadãos.

Desta forma, foi constatado que em relação ao segundo objetivo específico da presente

pesquisa, não ocorreu a participação social local dos moradores do residencial Abaetetuba no

PMCMV, em virtude de não ter o Conselho e Secretaria municipais de habitação e o ConCidades,

consequência do modelo centralizador e hierárquico do Programa, mesmo os moradores tendo se

organizado por meio da Associação registrada com CNPJ, reivindicando junto à CEF e Prefeitura

seus direitos que não estavam sendo contemplados com o recebimento dos apartamentos no

Programa.

Page 101: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

100

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente dissertação desenvolve uma reflexão sobre a prática da Gestão Social no

contexto do Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV, no município de Abaetetuba no Estado

do Pará, a partir da Nova Política Nacional de Habitação de Interesse Social. A partir de 2003, a

nova política vive um marco importante na trajetória do setor habitacional, por meio do novo

arranjo institucional, que após 13 anos de tramitação no Congresso Nacional, se baseou no projeto

de lei popular, aprovando a Lei nº 11. 124/2005, que instituiu o Ministério das Cidades, o SNHIH,

FNHIS e o Conselho das Cidades.

O novo desenho institucional é fruto de conquistas pelos movimentos sociais populares

ligados à reforma urbana que possibilitou ampla participação da sociedade civil no diálogo pela

articulação e integração das políticas urbanas, tendo como principais diferenciais da nova política a

participação e articulação das políticas urbanas integradas. Mas, em 2005, principalmente a partir de

2007, o Governo Federal disponibiliza de forma significativa maior aporte de recursos para o

atendimento ao setor habitacional, por meio do FNHIS, e lança o PAC, que apesar da

disponibilidade de recursos para a área habitacional, a nova PNH e o SNHIS apresentam resultados

diminutos, no que se refere às capacidades técnica e administrativa nos três níveis de governo, além

do Sistema apresentar-se de maneira frágil quanto às estratégias de descentralização e o

gerenciamento dos recursos.

Em 2009, o Governo Federal lança o PMCMV, em resposta à crise econômica e para

dinamizar a construção civil e disponibiliza vultosos recursos aos programas de habitação,

preterindo a divulgação do PlanHab, recém finalizado e discutido no ConCidades. O Programa

prioriza o papel de protagonista para o setor empresarial na produção habitacional, configurando o

enfraquecimento do esforço de consolidação da política de habitação pelo poder público nos três

níveis governamentais e ignora amplamente os princípios e diretrizes estabelecidas pelo SNHIS,

uma vez que PAC e MCMV foram gestados e geridos entre o Ministério da Fazenda, Ministério do

Planejamento e Orçamento e Casa Civil Federal, deixando de ocorrer o espaço de diálogo e

negociações no âmbito do Ministério das Cidades, através do ConCidades.

Neste sentido, responde-se ao problema de pesquisa, demonstrando que a participação social

foi decisiva e um grande diferencial para a implementação e consolidação da política de habitação

pós 2003, uma vez que se destacou como protagonista nas relações de diálogo entre Estado e

sociedade, com articulação integrada nos três níveis de governo. Já em relação à participação social

Page 102: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

101

na gestão do PMCMV no município de Abaetetuba, foi constatado que não ocorreu a participação

social dos moradores do residencial Abaetetuba, devido a ausência da Secretaria e Conselho

municipais de habitação e do Concidades, além do Programa atuar de forma hierárquica, com suas

ações de gestão são centralizadas no âmbito do governo federal, com relação direta com o

município, inexistindo relação com a esfera estadual.

Diante dos resultados da pesquisa, apontam-se como avanços da nova PNH, a criação do

Ministério das Cidades, o SNHIS, FNHIS e ConCidades, e como limites, a desarticulação entre os

três níveis de governos, pois o MCMV é um Programa definido de forma hierárquica do Governo

Federal para o municipal, sem relação com o estadual, além das administrações locais não

apresentarem capacidades institucional, técnica e administrativa para ter e gerir os canais legítimos

de negociação entre o nível de governo local com a sociedade.

Já em relação aos resultados do PMCMV no município de Abaetetuba, a participação da

comunidade local não ocorreu, em virtude da ausência da Secretaria e Conselho Municipais de

Habitação e do ConCidades no município, demonstrando na prática, a ausência da esfera pública no

debate por melhores políticas públicas sociais no diálogo entre sociedade e Estado, assim como uma

tendência à centralização das competências e responsabilidades ao Governo Federal.

Os resultados também demonstraram que apesar dos moradores do residencial Abaetetuba,

por meio da Associação, terem se organizado, debatido e negociado junto à CEF e Prefeitura suas

demandas e necessidades sociais ao receberem os apartamentos, não ocorreu a participação social

local no MCMV, devido o desenho do próprio Programa ocorrer de forma hierárquica, do Governo

federal para o municipal, sem espaços de negociação entre sociedade civil ou comunidade local e

Estado, além da ausência de preparo que os municípios não tem para implementar os Programas de

habitação, já que o Governo Federal define as prioridades, montante de recursos alocados, seleções,

regras e operacionalização de acesso aos programas. Aos municípios coube o papel de principal

executor da política e aos estados a integração das ações municipais. A dificuldade apresentada pelo

poder público em implementar a política de habitação só reforça o argumento do Governo Federal

em injetar na iniciativa privada grande parte dos recursos federais, como ocorreu com o MCMV.

Apesar das severas críticas dos especialistas da área e dos entrevistados, o MCMV

apresentou como avanços a grande ampliação de recursos para o setor habitacional, com atuação no

enfrentamento do déficit habitacional para a faixa 1, além de conceder ao beneficiado o título de

proprietário do imóvel. No entanto, apesar do ConCidades ter tido papel de destaque na inclusão

das modalidades dedicada aos municípios com menos de 50 mil habitantes e do MCMV-Entidades

Page 103: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

102

no Programa, não há participação da sociedade civil no debate e diálogo por políticas públicas de

inclusão social voltadas ao Programa, tão fortalecida no processo de instituição do Ministério das

Cidades no âmbito da Lei nº 11.124/2005, por meio do ConCidades.

Neste sentido, apesar de ter ocorrido a prática da gestão social no contexto do MCMV em

Abaetetuba, por meio da relação das solicitações da comunidade local do Residencial, através das

relações dialógicas, participativas e inclusivas entre os representantes da Associação, Caixa e

Prefeitura, no qual deliberaram sobre suas ações que foram ao encontro de suas reivindicações, não

foi constatada a prática da participação social local no PMCMV em Abaetetuba, devido a ausência

do órgão institucional local, o que corrobora para que as condições estruturais e de capacidades

técnicas e administrativas às prefeituras atuem de forma bastante diminuta no

gerenciamento dos programas habitacionais, diante do enfrentamento crônico do déficit

habitacional .

Neste cenário, é importante ressaltar a retomada do PlanHanb pelo Governo Federal, como

Política de Governo que reconhece o planejamento com horizonte de 15 anos e atua no

planejamento das cidades, numa perspectiva de planejamento territorial, passando a dialogar com o

planejamento urbano das cidades, como o Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano, que é

transversal à política de habitação, instrumento que vai gerir a gestão das cidades, além de voltar a

ter de forma atuante a participação da sociedade civil como protagonista nas relações entre estado e

sociedade, assim como o fortalecimento dos espaços de discussão entre o SNHIS, FNHIS,

ConCidades nos três níveis de governo.

Esse é o grande desafio para o PMCMV, manter e se consolidar, pois além dos vultosos

investimentos chegarem a quem mais precisa que sejam perenizados para garantir a continuidade de

uma política pública social de habitação à população de baixa renda, com participação da sociedade

civil e local.

Page 104: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

103

REFERÊNCIAS

ABRUCIO, Fernando Luiz. Para além de descentralização: os desafios da coordenação federativa

no Brasil. In: FLEURY, Sônia (org.). Democracia, descentralização e desenvolvimento: Brasil e

Espanha. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 77-126.

ALLEBRANDT, Sérgio Luís; DECKERT, Cristiele Tomm; OLIVEIRA, José Roberto de. Gestão

Social no Contexto de Políticas Públicas Federais: Leituras da Experiência no Território da

Cidadania Noroeste Colonial. In: CANÇADO, Airton Cardoso; TENÓRIO, Fernando Guilherme;

SILVA JR. Jeová Torres (Org.). Gestão Social: Aspectos Teóricos e Aplicações. Ijuí: Ed. Unijuí,

2012. Cap. 6. p. 157-192 (Coleção gestão e desenvolvimento).

ARRETCHE, Marta Tereza da Silva. A descentralização como condição de governabilidade:

solução ou miragem? Espaço e Debates, v.16, n.39, p. 75-86, 1996. Disponível em:

<http://biblioteca.clacso.edu/ararlibroslasa98Arretche.pdf>. Acesso em: 04 set. 2013.

______. Mitos da descentralização – mais democracia e eficiência nas políticas públicas? RBCS,

Revista Brasileira de Ciências Sociais, Ano 11, n. 31, jun.2010. Disponível em:

<http;//www4.fct.unesp.br/gruposgedratextosTexto2_2008_MITOS%20DA%20DESCENTRALIZ.

pdf. Acesso em: 04 set. 2013.

______. Políticas sociais no Brasil: descentralização em um estado federativo. Revista Brasileira

de Ciências Sociais, São Paulo, v.14, n.40, p.111-41. 1992. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdfrbcsocv14n401712>. Acesso em: 04 set. 2013.

______. As políticas de desenvolvimento urbano. In: ARRETCHE, Marta Teresa da Silva. Estado

federativo e políticas sociais: determinantes da descentralização. Rio de Janeiro: Revan; São

Paulo: FAPESP, 2000. Cap. 1. p. 77-88.

______. Federalismo e relações intergovernamentais no Brasil. A reforma de programas sociais.

Dados, Rio de Janeiro, v. 45, n. 3, 2002a. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdfdadosv45n3a04v45n3.pdf>. Acesso em: 04 set. 2013.

______. Relações federativas nas políticas sociais. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 80, p. 25-48, set.

2002b. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdfesv23n8012922.pdf. Acesso em: 04 set. 2013.

______. Federalismo e Políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e autonomia. São

Paulo em perspectiva. São Paulo, 2004. Disponível em:

<http://www.fflch.usp.br/dcpassetsdocsMartaArretcheSPP2004.pdf>. Acesso em: 02 set. 2013.

AZEVEDO, Sérgio de. Desafios da habitação popular no Brasil: Políticas recentes e tendências. In:

CARDOSO, Adauto Lúcio (Org.). Habitação social nas metrópoles brasileiras: Uma avaliação

das políticas habitacionais em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São

Paulo no final do século XX. Porto Alegre: ANTAC, 2007. p. 12-41.

Page 105: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

104

______. A crise da política habitacional: dilemas e perspectivas para o final dos anos 90. In:

RIBEIRO, Luis Cesar de Queiroz; AZEVEDO; Sérgio de (Org.). A crise da moradia nas grandes

cidades: da questão da habitação à reforma urbana. Rio de Janeiro: EDUFRJ, 1996. p. 73-101.

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. 7. ed.

São Paulo: Cortez, 2010.

BONDUKI, Nabil. Do projeto moradia ao projeto minha cada minha vida. Teoria e Debate 82.

maio/jun. 2009. Disponível em: < http://www.fpabramo.org.bruploadsTD82-Nacional.pdf>. Acesso

em: 05 jun. 2013.

______. Política Habitacional e Inclusão Social no Brasil: revisão histórica e novas perspectivas no

governo Lula. Revista Eletrônica de Arquitetura e Urbanismo. Universidade São Judas Tadeu.

São Paulo, set. 2008. Disponível em:

<http://www.usjt.br/arq.urb/numero_01/artigo_05_180908.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2013.

______. Origens da habitação social no Brasil. Análise Social, v.29, n.127, p.711-32. 1994.

Disponível em: < http://www.ufpel.eud.br/faurp/prograu/documentos>. Acesso em: 06 set. 2013.

BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é participação? 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Estatuto das Cidades: guia para implementação pelos

municípios e cidadãos. 3. ed. Brasília, 2005b.

______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de

outubro de 1988. Brasília, DF: Senado, 1988.

______. Decreto nº 5.796, de 6 de junho de 2006b. Regulamenta a Lei nº 11.124, de 16 de junho de

2005. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo

Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS.

Disponível em: < http://www.cidades.gov.br>. Acesso em: 21 ago. 2013.

______. Ministério das Cidades. Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. Programa Minha Casa

Minha Vida. Brasília: Diário Oficial da União, 8 de julho de 2009. Seção I. Disponível em:

<http://www.cidades.gov.br>. Acesso em: 10 maio 2012.

______. ______. Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011. Programa Minha Casa Minha Vida.

Brasília: Diário Oficial da União, 16 de julho de 2009. Seção I. Disponível em:

<http://www.cidades.gov.br> Acesso em: 10 maio 2012.

______. ______. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto das Cidades. Brasília: Diário

Oficial da União, 11 de julho de 2001. Seção I. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br>.

Acesso em: 10 maio 2012.

______. ______. Secretaria Nacional de Habitação. Política nacional de habitação. Caderno 4.

Brasília, DF, 2004. Disponível em: <www.cidades.gov.br>. Acesso em: 10 maio 2012.

Page 106: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

105

______. ______. Secretaria Nacional de Habitação. Plano nacional de Habitação. Brasília, DF,

2009. Disponível em: <www.cidades.gov.br>. Acesso em: 10 maio 2012.

______. ______. Secretaria Nacional de Habitação. Avanços e Desafios: Política Nacional de

Habitação. Brasília, DF, 2010a. Disponível em: <www.cidades.gov.br>. Acesso em: 21 ago 2013.

______. ______. Secretaria Nacional de Habitação. Participação de municípios paraenses

nas seleções do FNHIS e PAC Habitação 2007-2010. Brasília, DF, 2010b. 1 CD-ROM.

______. ______. Resultados, Projeções, Ações. 2009. Disponível em: <www.cidades.gov.br>.

Acesso em: 21 ago. 2013.

______. ______. Déficit - 2005. Disponível em:

<http://www.cidades.gov.br/imagesstoriesArquivosSNHArquivosPDFcapacidades_administrativas

_deficit_e_capacidade_no_Pol_habitacional.pdf>. Acesso em: 16 set. 2013.

______. ______. Déficit - 2006. Disponível em:

<http://www.cidades.gov.br/imagesstoriesArquivosSNHArquivosPDFDeficit-2006_06-05-

2008.pdf>. Acesso em: 16 set. 2013.

______. ______. Déficit - 2007. Disponível em: < http://www.fjp.gov.br/index.phpindicadores-

sociaisdeficit-habitacional-no-brasil>. Acesso em: 16 set. 2013.

______. ______. Déficit - 2008. Disponível em: < http://www.fjp.gov.br/index.phpindicadores-

sociaisdeficit-habitacional-no-brasil>. Acesso em: 03 set. 2013.

______. Ministério do Planejamento. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Disponível em: <www.pac.gov.br>. Acesso em: ago. 2013.

BRAVO, Maria Inês Souza; OLIVEIRA, Rodriane de. Conselhos de Saúde e Serviço Social. Luta

Política e trabalho profissional. Ser Social. Revista do programa de Pós graduação em Política

Social, UNB, n. 10, 2002. Disponível em: < http://seer.bce.unb.br/index.php/SER_Social>. Acesso

em: 20 ago.2013.

BRESSER-PEREIRA, Carlos Luiz. Estratégia e estrutura para um novo Estado. Revista de

Economia Política, ano 17, v.3, n.67, jul./set.1997. Disponível em:

<http://www.bressepereira.org.br/view.asp>. Acesso em: 04 jan. 2013.

______. Da Administração Burocrática à Gerencial. Revista do Serviço Público, v.47, n.1, jan/abr.

1996. Disponível em: <http://www.blogs.al.ce.gov.br/unipace/files/2011/11/Bresser1.pdf>. Acesso

em: 17 abr. 2013.

CANÇADO, A. C.; TENÓRIO, F. G.; PEREIRA, J. R. Gestão social: reflexões teóricas e

conceituais. Cadernos Ebape.br, Rio de Janeiro, v. 9, n.3, p.681-703, set. 2001.

______; ARAGÃO Thêmis Amorim; ARAÚJO Flávia de Sousa. Habitação de Interesse Social:

Política ou Mercado? Reflexos sobre a construção do espaço metropolitano. 2011. Trabalho

Page 107: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

106

apresntado ao XIV Encontro Nacional da ANPUR. 23 a 27. Maio. 2011. Rio de Janeiro. Disponível

em: <http://www.anpur.org.br/revistarbeurindex/phpanaisarticleview30823017>. Acesso em: 05

jun. 2013.

______. Programa Minha Casa Minha Vida está fora do Sistema de Habitação de Interesse Social.

FASE. 04/04/2009. Disponível em: < www.fase.org.br/v2/pagina.php?id.=3108 >. Acesso em: 21

jun. 2013.

______. Política habitacional no Brasil. Revista Proposta, Rio de Janeiro: Fase, n. 95, fev. 2003.

______.; RIBEIRO, Luiz César de Queiroz (Coord.). A municipalização das políticas

habitacionais: uma avaliação da experiência brasileira recente (1993-1996). Relatório Final – Parte

I. Rio de Janeiro: IPPUR/FASE, 2001. Disponível em:

<http://www.observatoriodasmetropoles.net >. Acesso em: 13 mar. 2013.

CARVALHO, M. do C. A. A. Participação social no Brasil hoje. In: ARAÚJO; SOUKI; FARIA

(Orgs.) Figura paterna e ordem social - tutela, autoridade e legitimidade nas sociedades

contemporâneas. Belo Horizonte: Autêntica, PUC Minas 2001. Disponível em: <

http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/revistalapip/MariaThereza.pdf>. Acesso em: 18 ago.

2013.

COELHO, P.; SCHATTAN, Vera. Conselhos de saúde enquanto instituições políticas: o que

está faltando? Participação e Deliberação: Teoria Democrática e Experiências Institucionais no

Brasil Contemporâneo. São Paulo: Editora 34, 2004.

CORNWALL, Andrea. O desafio da ocupação dos novos espaços democráticos no Brasil: o caso do

Conselho Municipal de Saúde do Cabo de Santo Agostinho. Desenvolvimento em Questão, v. 6, n.

11, p.11-40, enero-junio, 2008,. Disponível em:

<http://www.reaalyc.org/articulo.oa?id=75211185002>. Acesso em: 06 jun. 2013.

DASSO JÚNIOR, Aragon Érico. O papel do servidor público num Estado democrático e

participativo. 2002. Trabalho apresentado ao VII Congresso Internacional Del CLAD sobre La

Reforma del Estado y de la administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11, Oct. 2002.

DOWBOR, Ladislau. Tendências da Gestão Social. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 3-

16, fev. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

1290199000100002&Ing=pt&nrm=iso>. Acesso em: 2 fev. 2013.

FARAH, Marta Ferreira Santos. Estudos Feministas, Florianópolis, 12 (1): 47-71, janeiro-

abril/2004. Revista Gênero e Políticas Públicas. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ref/v12n1/21692.pdf. Acesso em: 5 fev. 2014.

FERNANDES, Durval; RIBEIRO, Vera. A questão habitacional no Brasil: Da criação do BNH

ao programa minha casa minha vida. 2011. Trabalho apresentado ao XIV Encontro Nacional da

ANPUR, 23 a 27. maio. 2011, Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://scholar.google.com.br/scholar?q=a+quest%C3%A3o+habitacional+no+brasil%3A+da+cria

%C3%A7%C3%A3o+do+bnh+ao+pmcmv&btnG=&hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5>. Acesso em: 2

fev. 2013.

Page 108: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

107

FISCHER, Tânia. Poderes locais, desenvolvimento e gestão: introdução a uma agenda. In: ______.

(Org.). Gestão do desenvolvimento e poderes locais: marcos teóricos e avaliação. Salvador: Casa

da Qualidade 2002. p. 12-32.

FISCHER, Tânia et. al. Perfis visíveis na gestão social do desenvolvimento. Revista de

Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 40, n. 5, out. 2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003476122006000500003>. Acesso em:

13 mar. 2013.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Disponível em: <http://www.fjp.mg.gov.br>. Acesso em: 04

set.2013.

GOHN, Maria da Glória. Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais.

Revista Saúde e Sociedade, v. 13, n. 2, p. 20-31, maio-ago 2004. Disponível em: <http://www.

scielo.br/pdfsausocv13n203>. Acesso em: 20 ago. 2013.

______. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação. v.16, n.47

maio-ago. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rb/edu/v16n47v16n47a05.pdf>. Acesso

em: 18 ago. 2013.

HABERMAS, Jurgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma

categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

HOLANDA, Anna Carolina Holanda. Avanços e Limites da Nova Política de Habitação de

Interesse Social. 2010. Trabalho apresentado ao Seminário Nacional de Governança Urbana e

Desenvolvimento Metropolitano. UFRN, set. 2010. Disponível em: <http://

httpwww.cchla.ufrn.br/seminariogovernancacdromST7_Anna.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2013.

______. A nova política de habitação de interesse social no Pará (2007-2010): Avanços e

limites. 2011. 177 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos

Estudos Amazônicos, Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável do Tópico

Úmido, Belém, 2011. Disponível em:

<http;/web.observatoriodasmetropoles/netdownloadgthabTesesDissertacoesDissertAnnaCar.pdf>.

Acesso em: 04 set. 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Sistema IBGE de

recuperação automática. Banco de dados agregados. [2013]. Disponível em:

<www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 04 set. 2013.

______. Censo demográfico 2010. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/>. Acesso em: 04 set. 2013.

INSTITUTO CIDADANIA. Projeto Moradia. São Paulo: 2000. Disponível em:

<http://www.ptpr.org.br/documentos/pt_pag/PAG%202004/URBANISMO/Projeto%20Moradia.PD

F>. Acesso em: 02 set. 2013.

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DO PARÁ - IDESP.

Avaliação das intervenções do poder público na questão habitacional no Pará. Belém, 1990.

Page 109: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

108

LUCIANO A. Prates Junqueira. Novas formas de gestão na saúde: descentralização e

intersetorialidade. Revista Saúde e Sociedade. vol. 6, nº 02 São Paulo Aug./Dez. 1997. Disponível

em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12901997000200005&script=sci_arttext. Acesso

em: 5 fev. 2014.

LUCAS, E. R. L.; MOURA, L. C. Buscando soluções em arquitetura de interesse social. 2009.

Trabalho apresentado ao Seminário Nacional De Construções Sustentáveis - 1 SNCS. 27 e 28 nov.

2009.

KAUCHAKJE, S. Participação Social no Brasil diante da desestruturação das Políticas Públicas.

Revista Emancipação, v.2, v.1, p.159-176, 2002. Disponível em:

<http://www.eventos.uepg/brojs2index/phpemancipacaoarticleview3532>. Acesso em: 20 ago.

2013.

KRONEMBERGER, T. S. et al. Os Conselhos Municipais de Políticas Públicas sob o olhar da

Comunidade: Uma Experiência de Extensão Universitária. Revista Desenvolvimento em Questão.

Unijuí, ano 10, n. 21, set./dez. 2012. Disponível em:

<http://www.spell.org.br/documentos/download/8963>. Acesso em: 07 maio 2013.

MARICATO, Ermínia. Política habitacional no regime militar. Petrópoles: Vozes, 1987.

______. A nova política de habitação. [2005]. Disponível em:

<http://www.fau.usp.br/dep/projetolabhab/bibliotecatextosmaricato_novapoliticahab.pdf>. Acesso

em: 04 set. 2013.

______. O Ministério das Cidades e a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. Revista de

Políticas Sociais – acompanhamento e análise, 12, IPEA, 2006.

______. Reforma urbana: limites e possibilidade, uma trajetória incompleta. In: RIBEIRO, Luis

Cesar de Queiroz; SANTOS, Júnior, Orlando Alves dos (Org.). Globalização, fragmentação e

reforma urbana: o futuro das cidades na crise. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

p. 309-325.

______; SANTOS JÚNIOR, Orlando Alves. Construindo a política urbana: participação

democrática e o direito à cidade. [2007]. Disponível em: <http://www.

undp.org/legalempowerment/reports/National%20Consultation%20Reports/Country%20Files/7_5_

Urban_Policy. pdf>. Acesso em: 05 ago. 2013.

MARTINS, Gilberto Andrade. Estudo de Caso: Uma reflexão sobre a aplicabilidade em pesquisas

no Brasil. RCO – Revista de Contabilidade e Organizações – FEARP/USP, v. 2, n. 2, p. 8-18

jan./abr. 2008.

MILANI, Carlos R. S. O princípio da participação social na gestão de políticas sociais: Uma análise

de experiências latino-amaericanas e europeias. RAP – Rio de Janeiro, v.42, n.3, p.551-79, maio-

jun. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rap/v42n3/a06v42n3.pdf>. Acesso em: 19 abr.

2013.

Page 110: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

109

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Teoria Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis,

RJ: Vozes, 1994.

MOREIRA, Tábata Christie Freitas et al. A reforma gerencial e o processo de descentralização da

política habitacional no Brasil. Revista NAU Social, v. 3, n.4, p. 95-109, maio/out. 2012.

Disponível em: < http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/rs/article/download.183.177>.

Acesso em: 04 set. 2013.

MOREIRA, Shirle Rosângela Meira de; SILVA, Roseane do Socorro Brabo da; SOUZA, Karla

Christina Neves de. Gestão Social no contexto das Políticas Públicas de Saúde: Uma reflexão por

meio do Sistema Único de Saúde. RDd - Revista Regional em debate: Revista eletrônica do

Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado, v. 3, n. 2,

2013. Disponível em: < http://www.periodicos.unc.br/index.php/drd/article/view/492>. Acesso em:

04 set. 2013.

NAIME, Jéssica. A Política de Habitação Social no Governo Lula: Dinâmicas e Perspectivas.

2010. Trabalho apresentado ao Seminário Nacional de Governança Urbana e Desenvolvimento

Metropolitano. UFRN, set 2010. Disponível em:

<http://www.cchla.ufrn.br/seminariogovernancacdromST3_Jessica_Naime.pdf>. Acesso em: 28

ago. 2013.

OLIVEIRA, Vânia Aparecida Rezende de; CANÇADO, Airton Cardoso; PEREIRA; José Roberto.

Gestão social e esfera pública: aproximações teórico-conceituais. CADERNOS EBAPE. BR, v. 8,

n. 4, artigo 3, Rio de Janeiro, Dez. 2010. Disponível em:

<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.phpraparticleviewArticle7754>. Acesso em: 03 out. 2013.

PARÁ. Governo do Estado. Diagnóstico habitacional: versão para discussão. Plano estadual de

habitação de interesse social. Belém: setembro de 2009. Disponível em: < http://www.idesp.pa.gov.br/pdf/artigos/PEHISDiagnosticoHabitacional.pdf>. Acesso em: 04 out

2013.

PAULA, Ana Paula Paes de. Administração pública brasileira entre o gerencialismo e a gestão

social. ERA, v. 45, n 1, jan/mar. 2005. Disponível em:

<http://www.uece.br/cev/index.php/arquivos/doc_dowload/66-texto2>. Acesso em: 07 maio 2013.

PREFEITURA MUNICIPAL DE ABAETETUTA. Secretaria Municipal de Assistência

Social. Relatório de Gestão 2012. Disponível em:

<http://www.ioe.pa.gov.br/diarios/2010/05/10.05.caderno.03.pdf>. Acesso em: 18 out. 2013.

PREFEITURA MUNICIPAL DE ABAETETUTA. Secretaria Municipal de Assistência

Social. Plano Plurianual, PPA 2010-2013. Disponível em:

<http://www.ioe.pa.gov.br/diarios/2010/05/10.05.caderno.03.pdf>. Acesso em: 18 out. 2013.

Page 111: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

110

RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz. Dos cortiços aos condomínios fechados: as formas de produção

da moradia na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; IPPUR; UFRJ;

FASE, 1997.

RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz; PECHMAN, Robert Moses. O que é questão da moradia. São

Paulo: Nova Cultura; Brasiliense, 1985. (Coleção Primeiros Passos; 65).

ROCHA, Roberto. A Gestão Descentralizada e Participativa. Revista Pós-Ciências Sociais, v. 1, n.

11, São Luis/MA, 2009. Disponível em: <http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.pdf.option=com-

content&view=article&id=318&catid=72&itemid=114>. Acesso em: 22 abr. 2013.

ROLNIK, Raquel; NAKANO, Kazuo. As armadilhas do pacote habitacional. [2009]. Disponível

em: <www.fase.org.br>. Acesso em: 20 jul. 2013.

RODRIGUES, Evaniza; BARBOSA, Benedito Roberto. Movimentos Populares e o Estatuto das

Cidades. Disponível em: <http://www.conselhos.mg.gov.br/uploads2402.pdf>. Acesso em: 18 ago.

2013.

SANTOS, Boaventura de Souza. O estado, o direito e a questão urbana. In: FALCÃO, Joaquim de

Arruda (Org.). Invasões urbanas: conflito de direito de propriedade. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV,

2008.

SANTOS, Claudio H. M. Políticas Federais de Habitação no Brasil: 1964/1998. Brasília: IPEA,

1999. (Texto para Discussão, n. 654)

SANTOS, M. R. M. dos. Conselhos municipais e a participação cívica na gestão das políticas

públicas: o caso da metrópole fluminense. Cadernos Metrópole, n.7, p. 97-112, 1 sem. 2002.

Disponível em: <http://www.cadernosmetropole.net/download/cm_artigos/cm 7-33.pdf>. Acesso

em: 07 maio 2013.

SINGER, P. Alternativas da gestão social diante da crise do trabalho. In: RICO, E. M.;

RAICHELIS, R. (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: Educ; IEE; PUCSP,

1999. p. 55-66.

TATAGIBA, Luciana. Conselhos gestores de políticas públicas e democracia participativa:

aprofundando o debate. In: FUKS, Mário; PERISSINOTTO, Renato Monseff; SOUZA; Nelson

Rosário (Orgs.). Democracia e participação: os conselhos gestores do Paraná. Curitiba: UFPR,

2004.

TENÓRIO, Fernando Guilherme. (Re) Visitando o Conceito de Gestão Social. Desenvolvimento

em questão. Unijuí, ano 3, n. 5, p.101-24, jan./jun. 2005. Disponível em:

<http://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/download/108/65>

. Acesso em: 09 abr. 2013.

______. Gestão Social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública, Rio de

Janeiro, v.32, n. 5, p. 7-23, set./out. 1998.

______. Cidadania e desenvolvimento local. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.

Page 112: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

111

______. Tem razão a administração? Ensaios de teoria organizacional. 3.ed. rev. e ampl. Ijuí: Ed.

Unijuí, 2008a.

______. Um espectro ronda o terceiro setor, o espectro do mercado: ensaios de gestão social. 3. ed.

rev. e ampl. Ijuí: Ed. Unijuí, 2008b.

______. A trajetória do programa de estudos em Gestão Social (PEGS). In: SILVA JR, Jeová

Torres et al. Gestão Social: Práticas em debates, teorias em construção. Fortaleza: Imprensa

Universitária, 2008c.

VALENÇA, Márcio Moraes. Globalização: sistemas habitacionais no Brasil, Grã-Bretanha e

Portugal. São Paulo: Terceira Margem, 2001.

YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

______. ______. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

Page 113: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

112

APÊNDICE A

Quadro 1 - Avanços e Limites da nova Política de Habitação de Interesse Social e do PMCMV, a partir da

visão dos atores entrevistados, segundo número de respostas.

Bloco de

atores

Principais Avanços da nova Política

de Habitação de Interesse Social e do

PMCMV

Principais Limites da nova Política de

Habitação de Interesse Social e do

PMCMV

Representantes de

Órgãos Municipais de

Abaetetuba

a) A nova Política de Habitação, por

meio do Ministério das Cidades, cria o

SNH com participação nos três níveis

de governo e atende todas as regiões,

principalmente as administrações

locais;

b) Avanços quanto à disponibilidade

de recursos, principalmente para o

PMCMV, que viabilizou o

atendimento às camadas de baixa

renda, ampliando, sobretudo, o volume

das obras na área habitacional;

c) Com a delegação de

responsabilidades às administrações

locais, destaca-se a possibilidade do

município participar diretamente do

processo, por meio da autonomia que

lhes é conferida;

d) Criação em 2012 da Coordenação de

Habitação de Abaetetuba;

e) Com a nova PNH orientada para a

construção de moradias à população de

baixa renda, identifica o enfrentando

do déficit habitacional, antiga

reivindicação do Movimento de

Reforma Urbana;

f) Com o FNHIS era mais válido o

atendimento pela casa própria, pois a

mesma era dada ao beneficiário, por

meio de subsídios diretos.

a) Avalia o PMCMV como um

Programa do Governo Federal pronto,

pois não se adapta à realidade do

município, sem conhecer os aspectos da

moradia regional;

b) O MCMV não atende toda a

população, como a comunidade da área

rural dos ribeirinhos (zona rural das

ilhas) no município de Abaetetuba;

c) Mesmo com a descentralização, o

município não tem estrutura própria

para acompanhar o Programa, sendo que

o Governo Federal não fornece as

condições necessárias para os

municípios atuarem no MCMV;

d) Inexistência do Conselho municipal

de habitação em Abaetetuba, pois a

demanda habitacional está vinculada à

Secretaria de Assistência Social;

e) O MCMV é um programa de cunho

político e partidário, sem critérios

definidos de acordo com as

especificidades dos municípios;

f) No MCMV a casa é vendida ao

beneficiário;

g) O PMCMV é estabelecido do

Governo federal para o municipal, sem

interferência do estadual.

Representante do

ConCidades/Abaetetuba

a) Com a Lei nº 11.124/05 os

municípios criaram seus fundos e

conselhos;

b) Criação da Coordenação de

Habitação no município;

c) Reconhece a redução do déficit

habitacional no MCMV à faixa 1;

d) Avalia de forma válida o MCMV,

pois age com inclusão social, mesmo

sem atender a real necessidade das

famílias beneficiadas.

a) Não identifica de forma clara as

responsabilidades definidas dos

governos federal e municipal no

MCMV;

b) Não identifica relação de gestão entre

os governos estadual e prefeitura, já que

a relação dos municípios é diretamente

com o governo federal;

c) Interesse em fomentar a economia e o

mercado de construção civil;

d) Excesso de burocracia da CAIXA

dificulta o processo de atendimento do

MCMV;

e) As responsabilidades entre CAIXA e

Page 114: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

113

municípios devem ser melhores

definidas;

f) Ao mesmo tempo em que inclui

socialmente, segrega a comunidade

local, devido à distância com a malha

urbana;

g) Essa segregação social faz com que o

beneficiado alugue o imóvel para

terceiros.

Representante do

Governo Federal

(CAIXA)

a) A criação do Ministério das Cidades

contribuiu para o atendimento da

moradia às populações menos

assistidas, sobretudo, as populações

rurais, por meio da Política Nacional

de Habitação Rural (PNHR);

b) Identifica com a delegação de

atribuições, o fortalecimento do

pertencimento local, pois se passa a

conhecer a demanda local, que é mais

próxima da realidade local;

c) A criação do Ministério das Cidades

representa um esforço do Governo

Federal para integrar as políticas

urbanas e construir uma Política

Nacional de Desenvolvimento Urbano,

com destaque para o MCMV2, que no

escopo do Programa existem as

demandas básicas de atendimento

como escola, saneamento, que não

existia no MCMV 1 e ocorreu de

forma planejada, com atendimento de

esgoto, iluminação pública,

equipamentos públicos e infraestrutura

definidos;

d) Destaca a qualidade de construção

de alguns empreendimentos

habitacionais do MCMV;

e) Identifica a importância do trabalho

social realizado pela CAIXA nas

etapas do antes, durante e depois dos

empreendimentos habitacionais do

MCMV;

f) O governo federal já atende às

reivindicações da população

contempladas pelo MCMV, quanto à

instalação necessidade dos

equipamentos públicos existirem no

espoco do programa, já que no MCMV

1 os empreendimentos foram entregues

sem os mesmos;

g) Avanço do MCMV construir casas

com dignidade e a CAIXA realiza o

a) Carência de quantitativo do corpo

técnico da CAIXA quanto ao

atendimento do Programa devido a

demanda ser muito grande dos

beneficiários;

b) Dificuldade em capacitar o corpo

técnico da CAIXA para atuar no

MCMV, devido o grande atendimento

da demanda de beneficiários do

Programa;

c) Críticas ao PMCMV por não atender

a população beneficiada dentro da

malha urbana consolidada da cidade, já

que muitos empreendimentos são

construídos longe dos centros urbanos;

d) Pouca qualidade em alguns

empreendimentos habitacionais do

MCMV;

e) A relação entre os governos federal,

estadual e municipal quanto ao MCMV

ocorre de forma hierárquica;

f) A comunidade não está preparada,

qualificada para receber os

empreendimentos.

Page 115: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

114

trabalho social, por meio de palestras,

oficinas, para conscientizar os novos

moradores a zelar pelo imóvel para

conseguirem se manter no mesmo;

h) Construção de três

empreendimentos habitacionais de uma

única vez no município de Abaetetuba;

Representante do

Governo Estadual

(COHAB)

a) Avalia de forma positiva o MCMV

por atender as populações de baixa

renda, ofertando moradia digna e atuar

de forma mais pulverizada;

b) Avalia de forma positiva a

descentralização das políticas

habitacionais, destacando as parcerias

entre Prefeituras e Sesc para capacitar

pedreiros, marceneiros nas obras dos

Programas, como do MCMV;

c) O MCMV constrói casas com

dignidade, proporcionando melhores

condições de vida às populações

contempladas.

a) Reconhece que o MCMV sofreu

muitas críticas após o lançamento, mas

que atendeu a população mais humilde;

b) Não identifica delegação de

responsabilidades às administrações

locais, devido os municípios não terem

qualificação para atender os Programas.

Representante do

Movimento Social 1

(Coordenador do

Movimento Nacional de

Luta pela Moradia

(MNLM) e do

Movimento Nacional

das Cidades)

a) A criação do Ministério das

Cidades, do SNHIS, do FNHIS e do

PlanHab constituem um marco na

história da política habitacional voltada

ao atendimento da população de até

três salários mínimos;

b) O MCMV é um grande avanço, pois

subsidia fortemente a habitação, por

meio da disponibilização de vultosos

recursos e realmente movimenta a

economia;

c) Identifica avanços na

descentralização de atribuições no que

se refere à liberação de vultosos

recursos para fazer a habitação;

a) O PMCMV é uma medida anticíclica

adotada para combater a crise

econômica mundial e dinamizar a

construção civil e não para diminuir o

déficit habitacional;

b) O MNLM defende a Política de

habitação e não o Programa;

c) O Programa não é uma Política de

Governo e sim uma Política de Estado,

que tem prazo para terminar, 2014;

d) Grande desafio de que o Programa

seja institucionalizado como Política de

Governo e atue com uma perspectiva de

planejamento territorial, já que o valor

da terra caracterizou-se pelo valor da

mais valia;

e) Reconhece a grande importância de

retomar o PlaHanb, que é uma Política

de Governo com horizonte de 15 anos,

atuando no planejamento das cidades,

f) Há vultosos recursos para investir

apenas em Programas, inexistindo uma

Política de habitação;

g) Os Estados e Municípios não têm

estrutura para gestar os Programas;

h) Baixa capacidade técnica e

institucional das administrações locais,

sobretudo nas regiões Norte e Nordeste,

enquanto que o papel da COHAB/PA é

engessado, não existindo relação entre

os níveis de governo;

Page 116: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

115

i) O MCMV não consegue dialogar com

o planejamento urbano das cidades,

como o Sistema Nacional de

Desenvolvimento, que é transversal à

Política de Habitação, instrumento que

vai gerir a gestão das cidades;

j) Não identifica ações de estratégias do

MCMV no município de Abaetetuba,

pois a Instrução Normativa da CAIXA

proíbe a construção de casas de madeira

para famílias ribeirinhas.

Representante do

Movimento Social 2

(Presidente da

Associação dos

Moradores do

Residencial

Abaetetuba)

a) Avalia a nova PNH de forma

positiva;

b) Inicialmente os moradores pagavam

10% da parcela da residência do

MCMC, mas reivindicaram que o

pagamento fosse de 5%, conforme

preconizado em Lei e foi concedido,

como resultado da organização que

tiveram em reivindicar seus direitos;

c) Realizam trabalho social, por meio

de palestras, oficinas, para

conscientizar os novos moradores a

zelar pelo imóvel para conseguirem se

manter no mesmo.

a) Não concorda com o critério de

distribuição das residências nos

municípios pelo MCMV, que ocorre por

meio de sorteio pelas Prefeituras, mas as

famílias já estão selecionadas para

receber o imóvel;

b) Não identifica ações de estratégias do

governo federal em atender os

municípios;

c) Criticou a atuação da Caixa e

Prefeitura quanto à indefinição do papel

e responsabilidades junto aos

moradores, quando reivindicaram

soluções para desocupação dos

invasores e outras questões pertinentes

ao residencial. Fonte: Da autora (2013).

Page 117: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

116

APÊNDICE B

Quadro 2 - Avanços e Limites do Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, a partir da visão dos atores

entrevistados, segundo número de respostas.

Bloco de

Atores

Principais Avanços apontados sobre

a Participação Social a partir dos

conselhos de habitação

Principais Limites apontados sobre a

Participação Social a partir dos

conselhos de habitação

Representantes de

Órgãos Municipais de

Abaetetuba

a) Reconhece ser bastante forte e

importante a participação da sociedade

na discussão das políticas públicas por

meio dos Conselhos, como exemplo, o

diálogo do processo democrático dos

PLHIS.

b) Identifica como maior avanço sobre

a participação social na gestão da

habitação, quando surgiu o Movimento

Social pela Moradia Digna, em

manifestação às ocupações irregulares

dos residencial habitacionais do

MCMV, ocorrendo o diálogo com os

representantes do movimento e os

invasores.

c) Identifica a perspectiva de fortalecer

a realidade do Programa local e busca

informações mais próximas da

realidade local para a execução das

políticas públicas de habitação.

d) Reconhece a participação social no

MCMV rural em que foram garantidos

espaços de participação da comunidade

local que já viviam na comunidade e

conheciam sua realidade e participaram

do processo de desenvolvimento do

Programa.

e) Avanços quanto à participação e

controle social nas políticas públicas

por ter sido legitimada na Constituição

Federal de 1988.

f) Reconhece a Comissão de

Acompanhamento de Obra (CAO)

como controle da gestão municipal,

composta pelos próprios beneficiários.

a) Inexistência de fiscalização,

monitoramento dos Conselhos nas

políticas de habitação;

b) Inexistência de formação e

qualificação de Conselheiros e,

especialmente, a falta de conhecimento,

aprimoramento da Política de HIS,

visando a construção de conselhos mais

atuantes, responsáveis e qualificados;

c) Identifica a participação social de

forma limitada no MCMV, pois não faz

parte do processo de desenvolvimento

do Programa, apenas no ato de entrega

as comunidades beneficiadas que

passam a ter contato com o Programa;

d) Reconhece a inexistência de

conhecimento das políticas públicas de

habitação pela sociedade, na qual cada

setor da Prefeitura de Abaetetuba age de

forma isolada, por deter o seu próprio

conhecimento;

e) Espaços de participação e controle

social para o diálogo com o MCMV não

são identificados no município, pois os

critérios são definidos pela CAIXA.

Como exemplos são os estudos dos

impactos ambientais e residuais após

construção dos empreendimentos

habitacionais em Abaetetuba que não

foram feitos pelo Programa antes da

construção;

f) A sociedade civil não busca os canais

legítimos para manifestação, pois as

revindicações ocorrem de forma isolada,

diretamente com a Secretaria Municipal

de Assistência Social.

Representante do

ConCidades/Abaetetuba

a) Identifica nas Conferências das

Cidades, audiências públicas espaços

de participação;

b) O ConCidades/Abaetetuba foi

criado através de lei municipal.

a) O ConCidades/Abaetetuba não

funciona na prática no município;

b) Reconhece a grande importância de

funcionamento do

ConCidades/Abaetetuba por ser

responsável não somente pela habitação,

mas pelo ordenamento territorial como

um todo, como as questões urbanas.

Page 118: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

117

Representante do

Governo Federal

(CAIXA)

a) A participação da sociedade passou

a ter voz e reivindicar o que realmente

é importante para suas necessidades

nas políticas públicas;

b) No MCMV2 existe o Centro

Comunitário que serve de referência

física para representar o trabalho

técnico desenvolvido pela CAIXA à

comunidade;

c) A constituição de espaços de

construção participativa, por meio dos

Conselhos, se legitimou com a

Constituição Federal de 1988;

d) Reconhece a grande importância da

participação social via conselhos,

fóruns;

e) Os conselhos e as conferências das

Cidades garantem o direito dos

cidadãos participarem da gestão da

política habitacional, por meio dos

conselhos, que são instituídos

legalmente;

f) Os movimentos sociais estão sendo

mais ouvidos, dependendo do seu nível

de organização;

g) O MCMV contribui para a inclusão

social, quando comparado aos

programas anteriores do governo

federal;

h) A sociabilidade entre os moradores

provoca a mudança de comportamento,

aprimoramento e cultura, sobretudo

nos residenciais construídos

verticalmente, por haver a gestão de

condomínios;

i) Identifica que todo e qualquer espaço

de debate é importante para a

sociedade, além dos canais de diálogo

existentes em lei;

j) Destacou que os representantes de

Associações de moradores do

município de Abaetetuba são bastante

politizados e esclarecidos quanto aos

seus direitos de cidadãos e

beneficiários do MCMV.

a) Falta de envolvimento e participação

de grande parte da sociedade no

processo, como discussões dos planos

gestores, fóruns de participação,

esvaziando os espaços de participação;

b) Necessidade de maior preparação da

sociedade para o debate democrático,

criando uma cultura de participação;

c) Capacitar a sociedade para fazer parte

das políticas públicas;

d) As pessoas indicadas para fazer parte

dos conselhos não sabem seu real papel,

além da falta de conhecimento;

e) Capacitar, orientar a sociedade e as

pessoas que fazem parte do processo de

reivindicações junto aos canais de

diálogo quanto ao seu papel;

f) Dúvidas se a participação do cidadão

está sendo efetivada, pois depende de

cada um querer ou não participar do

processo;

g) Reconhece que a população tem que

ser politizada, ficando o controle nas

mãos de poucos, que já fazem parte do

processo e sabem seus direitos.

a) No MCMV ocorre a eleição

democrática da Comissão de

Acompanhamento de Obra (CAO) para

acompanhamento das etapas de

execução do empreendimento

habitacional;

b) Avanços dos movimentos sociais,

a) Não identifica limitações quanto à

participação social nas políticas de

habitação.

Page 119: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

118

Representante do

Governo Estadual

(COHAB)

como o MNLM, é muito presente nas

reivindicações pela moradia;

c) Ocorre o controle social, por meio

da supervisão de aplicação dos

recursos, participam da concepção,

diretrizes das políticas e do projeto

social.

Representante do

Movimento Social 1

(Coordenador do

Movimento Nacional de

Luta pela Moradia

(MNLM) e do

Movimento Nacional

das Cidades)

a) Reconhece a partir da CF de 1988 a

institucionalidade e legitimidade dos

movimentos sociais, conselhos

municipal, estadual e o ConCidades;

b) Reconhece a gestão participativa da

sociedade por meio dos conselhos,

como o conselho de fundos, o

ConCidades, a partir do momento que

apresenta seus projetos habitacionais

ao Estado e mercado;

c) Reconhece que os conselhos e as

Conferências das Cidades garantem o

direito do cidadão participar da gestão

habitacional de forma limitada, já que

atuam de forma setorizada;

d) O MCMV é um dos poucos

Programas no mundo que tem recursos

subsidiados e age diretamente na faixa

1, concedendo o título de propriedade

do imóvel, atuando de forma

includente;

e) Reconhece a importância

fundamental de a sociedade civil

debater a elaboração e implementação

das políticas públicas de habitação, por

meio dos conselhos, e não por

Programas por parte do Governo

Federal;

f) Identifica que todo e qualquer

espaço de debate é importante para a

sociedade, além dos canais de diálogo

existentes na lei.

a) A participação social é limitada, já

que é um Programa privatista que

dialoga com o mercado e a sociedade

civil é representada institucionalmente

apenas no BRASIL;

b) Existem poucos conselhos

institucionalizados nos Estados e

Municípios;

c) Os conselheiros representam as

entidades, porém, indicam qualquer

representante para atuar na discussão da

política habitacional, que não está

inserido no processo;

d) Maior desafio enfrentado pelos

conselhos é a questão estrutural, falta de

um princípio de gestão democrática

como política de gestão, pois os

governos ainda os concebem apenas

como uma questão legal, mas sem

implementá-los na prática;

e) Os movimentos sociais atuam de

forma limitada no controle social do

Programa, pois os conselhos não tem o

controle orçamentário, destacando a

burocracia que ainda é muito disfarçada

pelo atendimento de balcão;

g) Não identifica que os conselhos de

habitação estejam funcionando.

a) Reconhece a participação social

enquanto sociedade organizada para

reivindicar seus direitos;

b) Identifica espaços de participação da

sociedade para o diálogo com a política

habitacional, a partir do momento que

se organizaram para reivindicar as

ocupações irregulares de 46

apartamentos, os moradores

legitimaram a Associação, elegeram

um Presidente para representá-los e

passaram a ser referência para as outras

Associações, além de terem passado a

a) Não identifica dificuldades de

participação da sociedade, pois

exemplifica se organizaram dentro da

Lei e agiram para reivindicar tanto os

anseios da Associação quanto do Poder

Público, obtendo êxito;

b) Não concorda que no formato atual o

MCMV atenda as famílias da faixa 1,

por não haver fiscalização dos governos

federal e municipal nos residenciais,

pois existe o marido e a mulher da

mesma famílias que são contemplados

com a casa e uma dos imóveis é vendido

Page 120: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

119

Representante do

Movimento Social 2

(Presidente da

Associação dos

Moradores do

Residencial

Abaetetuba)

atuar de forma direta com a CAIXA,

COSANPA, não dependendo mais do

canal de diálogo com a Prefeitura;

c) Reconhece que a Prefeitura abriu

espaço para as entidades participarem

do processo de indicação de seus

membros para representação

municipal, mas está Associação não

participou porque ainda não era

registrada com CNPJ;

d) Reconhece que o MCMV age como

uma política de inclusão social para a

faixa 1, já que anteriormente as

famílias residiam em péssimas

condições e há anos tentavam comprar

sua casa própria;

e) Avanço importante na criação da

coordenação de habitação em 2013 no

município;

f) Avanço importante no controle

social exercido pela Associação,

quando se organizaram para reivindicar

os direitos dos moradores junto à

CAIXA e Prefeitura.

ou alugado para terceiros, deixando de

beneficiar realmente a família que não

tem imóvel para morar ou vive em

péssimas condições;

c) Não existe o conselho de habitação

no município de Abaetetuba e por isso

não se sentem representados;

d) A coordenação de habitação age de

forma centralizada, não atendendo em

parte as reivindicações dos moradores,

mas por outro lado, já cedeu em outras

demandas;

e) Não respondeu quanto aos desafios

enfrentados pelos conselhos, por não ter

a visão de outros conselhos e por não

estar inserido nos mesmos.

Fonte: Da autora (2013).

Para todos os entrevistados

1. A nova Política de Habitação (PNH) foi instituída a partir de 2003, por meio da criação do

Ministério das Cidades e objetiva prover a Habitação de Interesse Social (HIS). Qual sua

avaliação sobre essa nova gestão de habitação do governo federal?

2. Os governos federal e estadual repassam atribuições e responsabilidades às administrações

locais. Quais avanços e limites você identifica?

3. A nova PNH é fruto de um processo participativo e democrático, que reconhece a

participação da sociedade nas políticas públicas como direito dos cidadãos. Quais avanços e

limites você identifica?

4. A nova PNH caracteriza-se como um novo paradigma de gestão na questão do

enfrentamento habitacional, pois traz em seu bojo a inclusão social, gestão participativa e

democrática dos Conselhos Gestores. Voçê identifica espaços de participação social para o

diálogo com a política de habitação?

5. Com a Constituição de 1988 e do novo Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social –

SNHIS, a partir de 2005, o princípio da participação ficou estabelecido. Quais avanços e

limites você identifica na criação de conselhos, como espaços participativos para o diálogo

com a política habitacional?

Page 121: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

120

APÊNDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DOS CONSELHOS DE HABITAÇÃO

1. Cargo que ocupa dentro do Conselho? Número de membros? Periodicidade de reuniões?

2. Você acredita que os Conselhos e as Conferências das Cidades têm garantido o direito do

cidadão a participar da Gestão da habitação? Por quê?

3. Qual o nível de importância do Conselho de habitação para garantir a participação popular

nas decisões do Governo?

4. Como você avalia a participação da sociedade civil no dia a dia do Conselho?

5. Como você avalia a participação dos trabalhadores no dia a dia do Conselho?

6. Como você avalia a participação do governo no dia a dia do Conselho?

7. Quais os maiores desafios enfrentados pelos Conselhos?

8. Qual sua avaliação sobre os avanços e limites dos movimentos sociais no processo de

controle, monitoramento da implementação do PMCMV no município de Abaetetuba?

9. Em sua opinião há necessidade de se criar outros espaços para garantir maior participação da

sociedade na formulação e controle das políticas públicas de habitação?

Page 122: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

121

APÊNDICE D

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DA PREFEITURA DE ABAETETUBA

1. Você considera que a política habitacional do governo federal contribuiu para a execução da

política habitacional de seu município? Se positivo, de que forma?

2. Como a Prefeitura conseguiu acessar recursos para investir na área habitacional do

município? Onde buscou informações?

3. Quais as dificuldades e os problemas enfrentados para acessar os recursos?

4. Que avanços e limites você identifica em relação à descentralização da nova Política

Nacional de Habitação, ou seja, o repasse de atribuições de gestão da política do governo

federal e estadual para o municipal?

5. Você identifica estratégias que os Governos Federal e Estadual vêm adotando para estimular

os Municípios a implementar a política de Habitação Social?

6. Dos empreendimentos habitacionais para o município de Abaetetuba, quantos foram

executados? Caso a obra esteja parada de algum residencial, qual a situação? Caso esteja

em andamento, a Prefeitura teve algum apoio externo para sua execução?

7. Quais as principais dificuldades, limitações, que a Prefeitura enfrentou para implementar a

política de HIS e o PMCMV? E qual a importância de atuar na HIS?

8. Você acredita que os Conselhos e as Conferências das Cidades têm garantido o direito do

cidadão a participar da Gestão da habitação? Por quê?

9. Qual o nível de importância do Conselho de habitação para garantir a participação social nas

decisões do Governo?

10. Qual sua avaliação na relação entre Prefeitura e governo do Estado quanto à implementação

do PMCMV no município de Abaetetuba?

Page 123: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

122

APÊNDICE E

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DA COHAB-PA

1. Quais avanços e limites você identifica com o PMCMV, instalado a partir de 2009, pelo

governo federal?

2. Qual o nível de importância do Conselho de habitação para garantir a participação social nas

decisões do Governo?

3. Você acredita que os Conselhos e as Conferências das Cidades têm garantido o direito do

cidadão a participar da Gestão da habitação? Por quê?

4. Qual sua avaliação na relação entre Prefeitura e governo do Estado quanto à implementação

do PMCMV no município de Abaetetuba?

5. Qual sua avaliação sobre os avanços e limites dos movimentos sociais no processo de

controle, monitoramento da implementação do PMCMV em Abaetetuba?

6. O objetivo do PMCMV é construir casas ou construir casas com cidadania e dignidade às

famílias com renda até 3 SMs?

7. Quais seus impactos sobre a sociabilidade entre os moradores dos residenciais?

8. Qual sua avaliação sobre a implementação do PMCMV no município de Abaetetuba? Você

acha que no formato atual ele atende às necessidades das famílias de 0 a 3 SMs?

9. O PMCMV age como uma política de inclusão social e de participação social para o

enfrentamento do déficit habitacional no município ou provoca a segregação social?

Page 124: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

123

APÊNDICE F

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

1. Quais avanços e limites você identifica com o PMCMV, instalado a partir de 2009, pelo

governo federal?

2. Você acredita que os Conselhos e as Conferências das Cidades têm garantido o direito do

cidadão a participar da Gestão da habitação? Por quê?

3. O PMCMV age como uma política de inclusão social e de participação social para o

enfrentamento do déficit habitacional no município ou provoca a segregação social?

4. Qual sua avaliação sobre a implementação do PMCMV no município de Abaetetuba? Você

acha que no formato atual ele atende às necessidades das famílias de 0 a 3 SMs?

5. Você identifica algum tipo de estratégia adotada pelos governos federal e estadual para

estimular a implementação da política habitacional de forma diferenciada, levando-se em

conta a diversidade dos municípios, seja por porte populacional, ou mesmo outro tipo?

Quais?

6. Qual o nível de importância do Conselho de habitação para garantir a participação popular

nas decisões do Governo?

7. Como você avalia o papel do Conselho Gestor na questão habitacional?

8. Os representantes dos movimentos sociais sentem-se representados pelo Conselho de

habitação?

9. Quais os maiores desafios enfrentados pelos Conselhos?

10. Qual sua avaliação sobre os avanços e limites dos movimentos sociais no processo de

controle, monitoramento da implementação do PMCMV no município de Abaetetuba?

Page 125: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

124

APÊNDICE G

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DA CAIXA EXCONÔMICA FEDERAL

1. Quais avanços e limites você identifica com o PMCMV, instalado a partir de 2009, pelo

governo federal?

2. Qual o nível de importância do Conselho de habitação para garantir a participação social nas

decisões do Governo?

3. Você acredita que os Conselhos e as Conferências das Cidades têm garantido o direito do

cidadão a participar da Gestão da habitação? Por quê?

4. Qual sua avaliação na relação entre os Governos Federal, Estadual e Municipal quanto à

implementação do PMCMV nos municípios?

5. Qual sua avaliação sobre os avanços e limites dos movimentos sociais no processo de

controle, monitoramento da implementação do PMCMV?

6. O objetivo do PMCMV é construir casas ou construir casas com cidadania e dignidade às

famílias com renda até 3 SMs?

7. Quais seus impactos sobre a sociabilidade entre os moradores dos residenciais?

8. Qual sua avaliação sobre a implementação do PMCMV no município de Abaetetuba? Você

acha que no formato atual ele atende às necessidades das famílias de 0 a 3 SMs?

9. O PMCMV age como uma política de inclusão social e de participação social para o

enfrentamento do déficit habitacional no município ou provoca a segregação social?

10. Em sua opinião há necessidade de se criar outros espaços para garantir maior participação da

sociedade na formulação e controle das políticas públicas de habitação?

Page 126: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLITICA DE HABITAÇÃO … · a participaÇÃo social na politica de habitaÇÃo brasileira: a gestÃo do programa minha casa minha vida no municÍpio

125

APÊNDICE H

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM REPRESENTANTE DO CONCIDADES/ABAETETUBA

1. Quais avanços e limites você identifica com o PMCMV, instalado a partir de 2009, pelo

governo federal?

2. Qual o nível de importância do Conselho de habitação para garantir a participação social nas

decisões do Governo?

3. Você acredita que os Conselhos e as Conferências das Cidades têm garantido o direito do

cidadão a participar da Gestão da habitação? Por quê?

4. Qual sua avaliação na relação entre Prefeitura e governo do Estado quanto à implementação

do PMCMV no município de Abaetetuba?

5. Qual sua avaliação sobre os avanços e limites dos movimentos sociais no processo de

controle, monitoramento da implementação do PMCMV em Abaetetuba?

6. O objetivo do PMCMV é construir casas ou construir casas com cidadania e dignidade às

famílias com renda até 3 SMs?

7. Qual sua avaliação sobre a implementação do PMCMV no município de Abaetetuba? Você

acha que no formato atual ele atende às necessidades das famílias de 0 a 3 SMs?

8. O PMCMV age como uma política de inclusão social e de participação social para o

enfrentamento do déficit habitacional no município ou provoca a segregação social?

9. Em sua opinião há necessidade de se criar outros espaços para garantir maior participação da

sociedade na formulação e controle das políticas públicas de habitação?