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1 A paz como técnica ou a técnica de pacificação apontamentos iniciais sob uma perspectiva antropológica Ana Elisa Santiago 1 Resumo O texto apresenta os apontamentos iniciais da pesquisa de doutorado que tem por objetivo etnografar a MINUSTAH Mission Nations Unies pour la Stabilisation en Haiti de modo a refletir sobre as missões de paz promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Sendo uma das principais características da MINUSTAH a multidimensionalidade isto é, a presença dos componentes civil, militar e policial a etnografia também se pretende multidimensional. Mais especificamente, pretende-se analisar a combinação dos três componentes, bem como realizar um mapeamento conceitual da paz, apresentando como este conceito atravessa os diversos elementos deste tipo de operação e os efeitos que ele produz. Neste sentido, será evidenciado o aparato institucional que se ergue em torno destas operações, ou seja, os recursos técnicos, financeiros e humanos necessários para construir e manter a paz e, sobretudo, as noções que as perpassam e as sustentam, como boa governança, desenvolvimento, liberdade, direitos humanos e democracia. Na pesquisa que proponho, a análise dos documentos produzidos para sustentar as operações de manutenção da paz realizadas pela ONU (bem como as suas falhas e (des)continuidades) deve convergir para um mesmo foco: evidenciar a racionalidade própria deste tipo de intervenção ao focar na perspectiva dos atores envolvidos com a MINUSTAH tanto no Haiti, quanto na sede da ONU, em Nova Iorque. Palavras-chave: operações de paz, MINUSTAH, ONU, cooperação internacional, Haiti, Antropologia do desenvolvimento. 1. Introdução Este texto pretende apresentar os primeiros apontamentos da pesquisa de doutorado que teve início em março de 2017, que tem por objetivo realizar uma etnografia da MINUSTAH Mission Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti de modo a refletir sobre as operações de paz promovidas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Por tratar de uma pesquisa com início muito 1 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de São Carlos (PPGAS/UFSCar). Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Orientada pela Profª. Drª Anna Catarina Morawska Vianna.

A paz como técnica ou a técnica de pacificação ... · 2 A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada em 1945, pós Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de estabelecer

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A paz como técnica ou a técnica de pacificação –

apontamentos iniciais sob uma perspectiva antropológica

Ana Elisa Santiago1

Resumo

O texto apresenta os apontamentos iniciais da pesquisa de doutorado que tem por objetivo

etnografar a MINUSTAH – Mission Nations Unies pour la Stabilisation en Haiti – de

modo a refletir sobre as missões de paz promovidas pela Organização das Nações Unidas

(ONU). Sendo uma das principais características da MINUSTAH a

multidimensionalidade – isto é, a presença dos componentes civil, militar e policial – a

etnografia também se pretende multidimensional. Mais especificamente, pretende-se

analisar a combinação dos três componentes, bem como realizar um mapeamento

conceitual da paz, apresentando como este conceito atravessa os diversos elementos deste

tipo de operação e os efeitos que ele produz. Neste sentido, será evidenciado o aparato

institucional que se ergue em torno destas operações, ou seja, os recursos técnicos,

financeiros e humanos necessários para construir e manter a paz e, sobretudo, as noções

que as perpassam e as sustentam, como boa governança, desenvolvimento, liberdade,

direitos humanos e democracia. Na pesquisa que proponho, a análise dos documentos

produzidos para sustentar as operações de manutenção da paz realizadas pela ONU (bem

como as suas falhas e (des)continuidades) deve convergir para um mesmo foco:

evidenciar a racionalidade própria deste tipo de intervenção ao focar na perspectiva dos

atores envolvidos com a MINUSTAH tanto no Haiti, quanto na sede da ONU, em Nova

Iorque.

Palavras-chave: operações de paz, MINUSTAH, ONU, cooperação internacional, Haiti,

Antropologia do desenvolvimento.

1. Introdução

Este texto pretende apresentar os primeiros apontamentos da pesquisa de

doutorado que teve início em março de 2017, que tem por objetivo realizar uma etnografia

da MINUSTAH – Mission Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti – de modo a

refletir sobre as operações de paz promovidas pelo Conselho de Segurança da

Organização das Nações Unidas (ONU). Por tratar de uma pesquisa com início muito

1 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de São

Carlos (PPGAS/UFSCar). Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São

Paulo (FAPESP). Orientada pela Profª. Drª Anna Catarina Morawska Vianna.

2

recente, este artigo tem caráter mais de indicações metodológicas e exploração inicial de

dados, que de análises prontas.

A MINUSTAH é uma operação de paz chamada multidimensional – isto é,

que apresenta os componentes civil, militar e policial – por isso, a etnografia também se

pretende múltipla. Ora expondo, ora obliterando um ou mais componentes da operação,

proponho realizar um mapeamento conceitual da paz, tal qual é mobilizada nos diversos

lugares de sua enunciação – reuniões, documentos oficiais, resoluções –, e também nos

projetos levados a cabo no território haitiano. O intuito é evidenciar o aparato institucional

que se ergue em torno das operações de manutenção da paz e a racionalidade própria deste

tipo de intervenção.

A Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em outubro de 19452,

autodenomina-se responsável por trabalhar pela paz e pelo desenvolvimento mundiais3.

Junto com ela foram criados seis órgãos principais: a Assembleia Geral, o Conselho de

Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional

de Justiça e o Secretariado. Segundo a Carta da ONU (1945), o Conselho de Segurança

(CS) é o único órgão com capacidade de impor decisões a todos os Estados-Membros das

Nações Unidas, que devem aceitá-las e cumpri-las4. O CS, formado por 15 membros com

mandatos de dois anos, sendo cinco permanentes (Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha,

França e China) e dez não permanentes eleitos pela Assembleia Geral, é aquele

responsável por determinar a criação, continuação e encerramento das Missões de Paz,

2 A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada em 1945, pós Segunda Guerra Mundial, com o

objetivo de estabelecer relações amistosas entre os países e evitar uma nova deflagração de conflitos que

pudessem se tornar mundiais. 3 Disponível em http://nacoesunidas.org/conheca. 4 O processo de decisão no Conselho de Segurança é diferente daquele que acontece, por exemplo, no

âmbito da Assembleia Geral da ONU, em que todos os 193 Estados têm poder de voto sobre as pautas que

se apresentam e trabalham conjuntamente nos processos decisórios e na criação de resoluções.

3

consideradas pela ONU como um dos principais instrumentos para garantir a paz e a

segurança mundiais5.

Desde sua criação, o Conselho de Segurança instituiu 63 operações de paz em

todos os continentes. Segundo as definições da própria Organização,

as missões de paz evoluíram para atender as necessidades de diferentes

conflitos e panoramas políticos (...) Hoje as operações realizam uma

grande variedade de tarefas, desde ajudar a instituir governos, monitorar

o cumprimento dos direitos humanos, assegurar reformas setoriais, até

o desarmamento, desmobilização e reintegração de ex-combatentes,

(...) as operações de paz têm atuado cada vez mais em conflitos

intranacionais e guerras civis. Embora a força militar permaneça como

o suporte principal da maioria das operações, atualmente as missões

contam com administradores e economistas, policiais e peritos em

legislação, especialistas em desminagem e observadores eleitorais,

monitores de direitos humanos e expertos em governança e questões

civis, trabalhadores humanitários e técnicos em comunicação e

informação pública.6

Instituir governos, monitorar o cumprimento de direitos humanos e realizar

reformas setoriais significa, em grande medida, criar um aparato institucional que

justifique e operacionalize as operações de paz. Na pesquisa que desenvolvo, realizo uma

investigação dos recursos técnicos, financeiros e humanos são necessários para construir

e manter tais missões e, sobretudo, as noções que a perpassam e a sustentam, como boa

governança, desenvolvimento, democracia, liberdade e estabilização, consideradas

imprescindíveis para se atingir a chamada paz.

Vale notar que há uma mudança de paradigma destas operações após a década

de 1990. Faganello (2013) mostra como elas se aperfeiçoaram – ou seja, se tornaram mais

técnicas e estratégicas – principalmente depois das intervenções consideradas desastrosas,

nos casos da Bósnia, Ruanda e Somália7. Através da análise dos documentos produzidos

5 Usarei itálico para destacar os conceitos próprios do campo e dos atores envolvidos com as operações de

paz encontrados recorrentemente nos documentos pesquisados. O recurso também será utilizado para os

termos estrangeiros. 6 Disponível em: http://nacoesunidas.org/acao/paz-e-seguranca/. 7 Faganello (2013) mostra que as missões de paz realizadas nestes países na década de 90 foram alvo de

inúmeras críticas devido à incapacidade de resolução dos conflitos. Diante disso, a ONU reuniu um grupo

4

pela ONU8, a autora argumenta que os fracassos destes três casos forçaram a repensar

estratégias mais eficazes de intervenção baseadas no respeito aos direitos humanos. Foi

neste contexto que se deu a criação das chamadas operações de manutenção da paz

multidimensionais que não possuem mais caráter primariamente militar9, mas devem

atuar nas diversas esferas sociais, auxiliando em tarefas como processos eleitorais,

estabilização do sistema político, proteção dos civis, ações para desarmamento e projetos

para reestruturação social e econômica. Após sistematizar os dados da ONU sobre as

operações consideradas fracassadas e apresentar o advento de um novo modelo de

operação, a autora seleciona a MINUSTAH “para comprovar, qualitativamente, se os

aperfeiçoamentos propostos pelos especialistas nos diversos fóruns anteriores foram

incorporados à rotina das operações atuais” (2013, p.35). Ou seja, a autora busca

averiguar a boa governança dessa missão de paz em específico.

É importante lembrar que a MINUSTAH é a operação de paz mais recente da

ONU no Haiti, criada pela Resolução 1542 no ano de 2004. A história do país é marcada

por sucessivas intervenções10 que tiveram como objetivo a estabilização política de uma

de especialistas que se dedicou a estudar as causas e propor soluções para as operações de paz seguintes.

Dentre os motivos apontados para o fracasso estão: desrespeito das partes do conflito aos acordos de paz;

inexperiência do pessoal empregado na missão e falta de recursos adequados por parte do Conselho de

Segurança (por estes recursos, entende-se o aparato burocrático e legal para sustentar as decisões e levar a

cabo as tarefas necessárias). 8 Os principais documentos utilizados por Faganello para analisar as operações de paz da ONU tendo em

vista o respeito aos direitos humanos são: a Carta da ONU (1945), a Declaração universal dos direitos

humanos (1948), Relatório de Brahimi (2000), A responsabilidade de proteger (2001), o Handbook on

United Nations multimensional peacekeeping operations (2003) e a chamada Doutrina Capstone (2008).

Além de resoluções e protocolos oficiais das operações de paz específicas de Ruanda, Bósnia e Somália da

década de 90 e os relatórios da MINUSTAH a partir de 2004. 9 As operações de manutenção da paz são divididas em três gerações: a primeira (1948-1988) chamada de

missões clássicas, criadas para monitorar o cessar fogo em áreas conflituosas e consideradas instáveis pós

Segunda Guerra Mundial; a segunda (anos 90) chamadas de transição, que apesar de possuir caráter

primariamente militar já apontava ações em conjunto com o componente civil para resolução de conflitos

intraestatais; e a terceira, chamada de missões robustas ou multidimensionais (a partir dos anos 2000) que

envolvem os componentes civil, policial e militar. 10 De acordo com o site do Conselho de Segurança da ONU, apenas na década de 90 foram realizadas quatro

missões consecutivas no país, a saber: United Nations Mission in Haiti (1993-1995; 1996-1999); United

Nations Support Mission in Haiti (1996-1999); United Nations Transition in Haiti (1996-1999) e

United Nations Civilian Police Mission in Haiti (1996-1999; 2000-2003). Fonte:

http://www.un.org/en/sc/repertoire/subsidiary_organs/peacekeeping_missions.shtml#reg28

5

nação considerada instável11, marcada por diversos golpes de Estado e pelo que se

considerava como uma “ausência de democracia”. A MINUSTAH é uma operação

definida como multidimensional e composta por membros civis e militares, de uma

coligação de países da América do Sul, com cooperação também do Canadá, tendo o

Brasil como force commander, isto é, no comando do componente militar. Seus objetivos

são diversos e abrangem desde ajuda humanitária, promoção de eleições livres e diretas,

até a retomada das áreas ocupadas por grupos armados e treinamento da Polícia Nacional

Haitiana. Segundo os relatórios do Conselho de Segurança, todas as ações devem ser

planejadas e direcionadas para a consolidação da chamada paz duradoura e

autossustentável, com base na proteção dos civis no respeito aos direitos humanos – o que

Fassin (2012) chamaria de razão humanitária.

A Resolução 1542/2004 definiu que esta operação teria duração de seis

meses, podendo ser prorrogada por períodos adicionais, o que vem acontecendo

sucessivamente, especialmente após o grande terremoto que devastou o Haiti em janeiro

de 2010, quando a missão foi considerada ainda mais necessária como uma força de

reconstrução para o país. A resolução mais recente, nº2313/2016, aponta que a retirada

das tropas se dará gradativamente a partir de abril de 2017.

Contudo o Haiti não ficará livre de intervenções. O Conselho de Segurança

(CS) já estuda possíveis medidas para o período pós-MINUSTAH. No relatório

S/2014/162 entregue ao CS, o então secretário geral da ONU Ban Ki-moon descreve a

11 A ONU mensura o Índice de Desenvolvimento Humano das nações desde 1990. Dentre os critérios desta

classificação estão índices de educação, longevidade e renda. Em conjunto e dialogando entre si, estes e

critérios de medidas formam um quadro com informações coerentes pelo qual os técnicos depreendem a

situação de um país. O Haiti sempre foi marcado por crises econômicas (próprias de ex-colônias), extrema

pobreza da população, baixa expectativa de vida e crises políticas, com sucessivos golpes de estado e

períodos ditatoriais violentos. Por estes motivos, era considerado pela comunidade internacional como um

país instável.

6

atual situação política do Haiti, as ações já realizadas por esta missão de estabilização e

aponta cinco caminhos que podem ser seguidos após a retirada das tropas:

A primeira opção seria encerrar a MINUSTAH e designar um enviado especial

para apoiar o processo político liderado pelas autoridades haitianas.

A segunda, finalizar a missão de paz e estabelecer uma missão política

especial que também desenvolva a capacidade da Polícia Nacional do Haiti

(PNH). Neste caso, retirar militares e tropas policiais de controle de distúrbios

civis.

Já a terceira possibilidade seria estabelecer uma nova missão de paz, com um

papel principalmente político e de menor porte militar e policial, que

auxiliaria na fiscalização das atividades de Estado de Direito, além de

promoção e proteção dos direitos humanos.

A quarta opção é similar à terceira, mas com o acréscimo de uma força militar

estratégica de reserva do tamanho de um batalhão – cerca de mil homens –,

com capacidade aeromóvel, por inicialmente um ano.

Como quinto cenário, Ban fala em ajustar o mandato da MINUSTAH para

refletir o escopo reduzido de atividades de acordo com o plano de

consolidação, o que resultaria em progressiva redução de tropas sem

alteração do contingente policial.12

Cessar todas as intervenções no país não está entre as opções. Ao contrário,

estão previstos outros tipos de intervenção. Este fato aponta para aquilo que Ferguson

(1990) examinou para a indústria do desenvolvimento de Lesotho13: os projetos

demandam cada vez mais projetos. A continuidade de operações da ONU no Haiti

constitui um produtivo campo para a pesquisa. Em torno de uma operação de paz é criado

um aparato institucional – documentos, instituições, projetos, recursos humanos e

financeiros, noções como nação, território, segurança, estabilização, democracia,

liberdade, desenvolvimento, direitos humanos – que é o objeto de investigação e análise

etnográfica.

A primeira incursão em campo – observando a técnica militar

12 Disponível em http://nacoesunidas.org/secretario-geral-entrega-propostas-ao-conselho-de-

segurancasobre-atuacao-da-onu-no-haiti-apos-2016 . 13 Ferguson realizou uma etnografia do que chamou de indústria do desenvolvimento em Lesotho, pequeno

país no sul da África, e mostrou como foi construído um discurso técnico sobre o (sub)desenvolvimento do

país para justificar as intervenções internacionais do Banco Mundial em parceria com agências de

desenvolvimento do Canadá e do Reino Unido. O autor mostra que as noções mobilizadas nos projetos são

fabricadas por esta indústria de modo a beneficiar interesses de classe e retroalimentar uma complexa

estrutura de cooperação internacional que, no limite, resulta em despolitização das questões que buscam

resolver (tratadas sempre tecnicamente) ao mesmo tempo em que amplia o poder do estado. A este

movimento o autor dá o nome de máquina anti-política, que retomarei com mais detalhes adiante.

7

Lemonnier ([2004] 2013) preconiza a descrição das cadeias operatórias, que

serão evidenciadas com os dados de campo neste trabalho. Além disso, pretendo chamar

atenção elementos que se repetiram nas três ocasiões em que estive presente e que se torna

objeto de análise, de modo a pensar a paz como técnica através da produção, uso e agência

dos documentos, quais sejam: atenção à proteção de civis e aos capítulos VI e VII da carta

da ONU que versam sobre o uso (ou não) da força nas Operações de Paz.

No Workshop promovido pelo IRI e CCOPAB, na USP/São Paulo, três

militares (dois Coronéis e um Major) ministraram palestras sobre suas atuações nas

Operações e também sobre os elementos normativos que devem ser seguidos enquanto

estão em serviço. Um deles fez parte de uma operação de segunda geração (na década de

90) e os outros dois já estavam em operação multidimensional. A diferença no aparato

burocrático entre uma e outra era bastante enfatizada pelos militares. A passagem para as

operações multidimensionais é tida como uma evolução para todos os agentes

envolvidos14. Seus discursos demonstram que, se antes não havia regulamentos, estatutos

e normas, agora há um conjunto robusto para respaldar suas ações.

A sequência de planejamento que deve ser feita antes de tomar qualquer

decisão envolve: identificação de ameaças, vulnerabilidade nos campos de poder;

desenvolvimento de planos de ação, proteção e prevenção; coordenação e implementação

do plano de ação com vistas à proteção de civis. Todas as ações devem ser elaboradas em

conjunto com os demais componentes da missão, isso quer dizer que é preciso integração

com as comunidades locais, com as agências internacionais e com as ONGs.

14 Esta passagem de um tipo de operação para outro também constituiu um produtivo campo para

exploração etnográfica baseada nas questões levantadas pela antropologia da técnica – já que cada tipo de

operação envolve um modo próprio de lidar com os conflitos que se apresentam no campo. A mudança no

paradigma das operações de paz será explorada ao longo de minha pesquisa. Para este texto, porém, optei

por trazer dados da pesquisa de campo que se iniciou com os primeiros contatos com os militares brasileiros

envolvidos nas missões multidimensionais mais recentes.

8

No Workshop Integrado de Proteção de Civis (IPOC), realizado na Escola

Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, entre os dias 3 e 7 de julho, foram ministradas

treze palestras com membros – brasileiros e estrangeiros – dos componentes civil, policial

e militar das Operações e, em seguida, foram feitos exercícios práticos de simulação de

uma situação de conflito em campo, coordenados exclusivamente pelos militares. Os

participantes do curso eram, em sua maioria, militares, mas também havia membros de

ONGs (inclusive que ministraram as palestras) e acadêmicos (como eu) que tinham

interesse no tema. Ao todo, o curso contava com 45 pessoas, aproximadamente15.

Descreverei aqui a etapa do workshop que envolveu os exercícios de

simulação de conflitos e como foram cumpridas as atividades propostas. O objetivo é

evidenciar a técnica militar de abordagem dos problemas que lhes são apresentados em

campo, passando pela descrição das cadeias operatórias que compõem este sistema de

técnicas. Apesar de contar com público brasileiro, o curso foi ministrado todo em inglês,

por ser a língua utilizada em qualquer uma das operações, e por isso, os dados aqui

apresentados serão mantidos assim.

Na quarta-feira, 05/07/2017, terceiro dia de workshop, fomos separados em três grupos conforme

o Major que conduzia o curso determinava. O Major também decidiu quem seria o líder de cada

grupo. O líder teria a função de coordenar os trabalhos e eu ainda não sabia o que isso significava.

Meu grupo era o único que possuía uma mulher como líder. Ela possuía a patente de sargento e

já havia atuado em uma operação de paz, no Haiti.

Fomos encaminhados para o andar de cima do prédio, onde havia pequenas salas de reuniões. As

salas já estavam arrumadas para nossas atividades. Havia dez meses colocadas em roda. Havia

três computadores e duas lousas. Foram distribuídas cópias da Carta das Nações Unidas,

15 Para participar foi necessário um pedido formal, em nome da instituição (UFSCar) feito pela minha

orientadora Catarina Morawska Vianna. O coordenador do curso aprovou a participação e passou uma série

de recomendações que versavam desde os trajes a serem usados (no caso, passeio completo, que é um traje

extremamente formal) até informações sobre a hospedagem, transporte e alimentação, e programação do

evento. A maioria dos participantes pôde contar com alojamento na Escola Superior de Guerra, além de

transporte entre aeroporto e o local do evento. Eu, infelizmente, não pude contar com estes benefícios, pois

quando me inscrevi já havia acabado as vagas e os recursos.

9

Relatórios Normativos, como o de Reponsabilidade de Proteger (conhecido por R2P) e o Guia

para o Uso da Força para o Componente Militar, e também os documentos referentes ao Mandato

da Missão, sua Resolução de abertura, acompanhada pelo Status of Force Agreement (SOFA)16;

e pelo Memorandum of Understanding, (MOU)17. Todos estes documentos foram pouco usados,

como se os agentes já soubessem de seu conteúdo apenas pela afirmação do coordenador: esta é

uma operação de Capítulo VI18.

Recebemos também um material que contextualizava a situação do local e traziam informações

importantes como os fatores geográficos – indicando características do terreno e das estradas; o

clima, inclusive com problemas da seca ou da chuva –; os fatores sociais – que versavam sobre a

quantidade de etnias que ocupavam a área e a possibilidade de mobilidade dos civis –, e por fim

os fatores políticos – que eram a causa do conflito em questão, como a presença de grupos

armados e/ou extremistas religiosos. Também foram disponibilizados mapas, adesivos de ONGs,

e canetas.

A tarefa consistia em realizar um planejamento estratégico para lidar com um conflito iminente

no Sudão do Sul entre grupos Dinka e Nuer. Teríamos uma hora e meia para cumpri-la. E, de

tempos em tempos, um militar passava na sala trazendo um fator agravante. Por exemplo,

começamos tratando de um ataque iminente. Porém, meia hora depois, recebemos a notícia de

que este ataque havia ocorrido em alguma localidade X do mapa. E aquela era época de chuvas.

Para realizar o planejamento era preciso preencher duas tabelas e estudar todos os elementos que

estavam no texto, colocando-os no mapa e dispondo dos códigos e dos adesivos que foram

disponibilizados. Os códigos versavam sobre as bases militares que estavam no local. Os adesivos

eram de ONGs e outras agências que também estavam naquelas áreas que poderiam ser parceiras

no planejamento e execução das ações.

A tabela 1 cruzava dados da ameaça x vulnerabilidade em cinco colunas. Na primeira coluna,

eram listadas a possíveis situações de risco, como grupos de resistência armada e conflitos e

tensões fronteiriças. Na segunda, era preciso preencher a ameaça que cada elemento daqueles

representava. Na terceira coluna era preciso descrever quem estava sob maior vulnerabilidade. A

quarta coluna, tratava do Risco e, por sua vez, era subdividida em outras duas – impacto e

probabilidade – isto porque o risco era medido tendo em vista estes dois fatores: a possibilidade

de acontecer e o impacto que causaria se acontecesse. Por fim, na quinta coluna, era coloca a

prioridade que seria dada a cada situação baseada na análise dos elementos anteriores. A

16 Documento firmado entre a ONU e o país anfitrião, que regulamenta como será desenvolvida a operação

de paz e quais serão os direitos e deveres das partes envolvidas. 17 Documento firmado entre a ONU e o país fornecedor de tropas (troop-contributing country),

estabelecendo os termos administrativos, logísticos e financeiros e as contribuições de recursos humanos,

financeiros e materiais providos para a operação. Importante notar que cada missão elabora seus próprios

SOFA e MOU, respeitando as suas especificidades, mas de acordo com o modelo fornecido pela ONU. 18 O coordenador se referia ao Capítulo VI da Carta da ONU que versa sobre a resolução de conflitos sem

o uso da força militar. Todas as operações multidimensionais estão sob a égide deste Capítulo.

10

prioridade era medida de 1 a 4, de acordo com a gravidade do problema a ser enfrentado, sendo

1 a máxima prioridade e 4 a mínima. Segue o exemplo para uma das ameaças:

Situation Threat (from

perpetrators) Vulnerability

Risk (high, médium or low) Priority

(rank 1 – 4

basead on

risk) impact probability

Lord

Resistance

Army

(LRA)

activities

- criminal acts

- displacement

- child

recruitment

- looting

- LRA human

rights

violations

- civilians

- children

- women

- elderly

high high 1

A tabela 2 já tratava do plano de mitigação e da atribuição de responsabilidades por cada ação.

Eram quatro colunas divididas da seguinte forma: na primeira, eram elencadas as ameaças; na

segunda eram listadas as primeiras ações – referentes a processos políticos; na terceira coluna

eram colocadas as ações referentes à proteção física e na quarta eram ações de manutenção e

prevenção de novos conflitos. Segue o exemplo para a primeira ameaça identificada:

Threat

Tier One

(protection through

political process)

Tier two

(deterrence and physical

protection)

Tier three

(enabling protective

environment)

Civilians

caught

in cross

fire

Mitigating action:

Mediation/Negotiation

between both groups

Support the peace

processes

Responsible actors:

Local/National Gov.

UN agencies

NGOs/OCHA/Church

Mitigating action:

Quick response of UN

force based in theCapital;

Establish a Buffer zone;

DDR; Reinforce UN

presence; Coordinate

humanitarian Aid;

Responsible actors:

UN Pol/

National Authorities

Humanitarian agencies

UN Battalions deployed

in the capital

Mitigating action: -

Support peace agreement

Monitor the Situation

Coord. with humanitarian

ag. and Nat Gov for

further development and

support actions for Koris

and Tatsi alike

Responsible actors:

-UNMISS POC TF

National/Local Gov

Humanitarian actions

NGO/ OCHA

Cada informação inserida nas tabelas exigia um estudo atento do mapa e das possibilidades de

ação no terreno. Os textos distribuídos traziam as informações de quantos militares havia naquela

região e com quais equipamentos poderiam contar (carros, caminhões, fontes de primeiros

socorros). Também informavam sobre o elemento policial local e sobre o componente civil, por

exemplo, ONGs e outras instituições de ajuda internacional que atuavam nas proximidades.

11

Além de elaborar as respostas às tabelas, cada grupo também teria que elaborar uma apresentação

em power point com as ações propostas e as justificativas de cada decisão tomada para ação em

campo.

Em seguida, cada grupo apresentou suas estratégias – que eram muito parecidas – e estiveram

sujeitos às críticas dos militares que coordenavam as simulações. Eles chamavam atenção para o

impacto negativo ou positivo de cada ação, inclusive levando em conta a repercussão em meios

de comunicação nacionais e internacionais ou entre os governos locais. Nenhuma ação era

considerada errada, apenas mais ou menos adequada conforme o contexto da simulação proposto

e tendo como referência as situações reais, com quais eles já tinham experiências, que

frequentemente eram trazidas como exemplos.

Ao final do curso, os militares parabenizaram a todos pela dedicação e informaram que o objetivo

do curso havia sido alcançado: todos entenderam como eram planejadas as ações militares em

uma operação multidimensional e já estavam aptos a atuar em uma operação deste tipo, caso

necessário.

As etapas do exercício apresentado constituem o que Lemonnier ([2004]

2013) chamou de cadeias operatórias. Cada ação é coerentemente pensada e integrada

aos estágios seguintes, de modo que os processos que direcionam as ações dos militares

fazem parte de um sistema simbólico mais amplo. Embora o autor estivesse tratando de

uma transformação material e de uma etnologia dos objetos19, penso que a mesma

percepção vem a calhar também neste caso. Isto porque as ações, como foram

apresentadas, formam um sistema técnico próprio dos militares que evidencia uma

racionalidade envolvida nas operações de paz. Este modus operandi é típico das

operações multidimensionais em que se preconiza a atuação conjunta dos elementos civil,

militar e policial, para resolução de conflitos e proteção de civis.

Lemonnier afirma que o sistema tecnológico compreende os artefatos

existentes, as sequências operacionais, as relações entre as várias técnicas e as

representações sociais (ou o conhecimento técnico em geral). Para entender a tecnologia

19 O autor versava sobre a produção dos tambores ankave e seus aperfeiçoamentos que não estavam ligados

somente à sua eficiência, mas a toda uma cadeia mítica envolvida naquela produção.

12

em sua dimensão sistêmica é preciso estudá-la em três níveis: as técnicas de si – ou seja,

a ação humana levada a cabo a partir da interrelação e elementos como matéria, gestos,

energia, objetos e conhecimento – ; as técnicas ou conjuntos técnicos – a interrelação das

técnicas que compartilham o mesmo comportamento e modos de ação sobre a matéria e

que estão subordinados aos mesmos princípios; e, por fim, os sistemas tecnológicos em

sua interrelação com outros fenômenos culturais.

No caso do exercício realizado no workshop, a técnica de pacificação se dá

através do uso de documentos – tomados aqui como artefatos – que pautam as operações

que preconizam o uso mínimo da força; das sequências operacionais – que são ações

descritas conforme o grau de prioridade definido para cada ameaça; e do conhecimento

técnico – que envolvia a própria ação militar em campo.

Sobre materialidade e a agência

Uma questão fundamental que emerge quando se trata dos sistemas técnicos

é sobre a mateialidade a agência dos objetos. Knappett (2008) indica que a agência pode

se dar de forma não antropocêntrica, como um processo situado em que a cultura material

está enredada. A cultura material não aparece como resultado da realidade social, mas

sim como constituidora ou como mediadora dela20. Neste sentido, refletir sobre o estatuto

da cultura material faz ver a técnica para além do caráter utilitário e/ou evolutivo, tal

como apontado no início deste texto.

Lemonnier tenta escapar das dicotomias tradicionais das teorias da

representação, mas ainda trata a técnica como mediadora entre o mundo simbólico e a

transformação do mundo material. Ainda que o autor afirme que os sujeitos elaboram

20 Neste sentido, ele aponta que a teoria do ator-rede (ANT) de Latour traz uma contribuição fundamental

quando trata da materialidade simétrica em relação aos agentes humanos e não humanos e propõe que todos

os elementos de uma rede sejam tratados analiticamente com igual importância

13

ideais/representações que não estão descolados de um conjunto mais amplo de relações,

quando coloca a técnica como mediadora das relações sociais e da produção material, faz

pressupor que antes elas estavam separadas.

É importante notar que tomando a tecnologia como as formas pelas quais a

sociedade se (re)produz por meios intelectuais e físicos sobre o mundo, a noção de

materialidade e agência ganham força e a abordagem metodológica através das cadeias

operatórias formam um campo produtivo de investigação que foi levada a cabo neste

texto.

Latour (1984) trata da força das cadeias operatórias relacionando-as ao

sucesso ou fracasso dos projetos. Segundo o autor, quanto mais forte for a cadeia, mais

bem sucedida será a experiência. Ao contrário, quando a cadeia sociotécnica é

interrompida – por qualquer motivo – a experiência não alcançará êxito, ou seja, não terá

capacidade de agência. No caso do planejamentos dos militares, percebe-se que eles

buscaram compor um forte sistema técnico ao planejar todas as suas atividades.

Não pretendo elaborar uma resposta às questões aqui levantadas, muito

menos utiliar dados de campo para confirmar ou contestar uma teoria. Contudo, acredito

que é interessante apontar que, para o caso das ações planejadas pelos militares, a

abordagem de Lemonnier parece coerente quando trata da mediação – já que a técnica de

produção de estratégias (igualmente técnicas) para resolução de conflitos é o que media

a própria resolução.

O limite da teoria diz respeito apenas à noção de representação e dimensão

simbólica do conhecimento. Tudo o que estava envolvido no planejamento estratégico

dos militares era material – documentos, mapas, recursos humanos, equipamentos, etc –

e possuia sua própria agência no contexto em que eram requeridas. Observa-se então que

a existência das Operações de Paz chamadas multidimensionais mobilizava todo um

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aparato institucional que constrói e ao mesmo tempo é construído por este sistema

técnico.

Conclusão

Este trabalho constituiu uma primeira tentativa de colocar as questões teóricas

da Antropologia à serviço de dados de campo. Inspirada nestes debates, é possível pensar

na contribuição da antropologia para a compreensão das arbitrariedades das escolhas

tecnológicas que estão para além do seu caráter utilitário, com fins evolutivos ou de

adaptação (paradigma marxista). Para tanto, foram analisados os elementos próprios das

técnicas militares, através da observação das cadeias operatórias de que são formados.

Em um determinado momento do curso, um militar disse “é mais fácil fazer

guerra do que fazer a paz, porque fazer a guerra é só ir lá e atirar, mas para fazer a paz

a gente tem que trabalhar mais”. Ao proferir esta afirmação, o militar se referia ao

número de processos que deveriam ser cumpridos e às estratégias que deveriam ser

desenvolvidas quando estão em exercício em uma operação de paz multidimensional.

Após acompanhar o planejamento militar para prevenção e resolução de

conflitos, ainda que em caráter de simulação, foi possível observar uma intensa tecnização

das ações necessárias neste tipo de operação. Visto desta forma, a técnica de pacificação,

entendida como os modos próprios de planejamento e execução de ações militares em

operações de paz multidimensionais, constitui um sistema que evidencia parte importante

da racionalidade das operações de paz. Questões políticas são tratadas de forma técnica,

exigindo respostas cartesianas – gráficos, tabelas, mapas – e, portanto, também técnicas.

A este processo, Ferguson (1990) chamou de máquina anti-política.

Ferguson realizou uma etnografia do que chamou de indústria do

desenvolvimento em Lesotho, pequeno país no sul da África, e mostrou como foi

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construído um discurso técnico sobre o (sub)desenvolvimento do país para justificar as

intervenções internacionais do Banco Mundial em parceria com agências de

desenvolvimento do Canadá e do Reino Unido. O autor mostra que as noções mobilizadas

nos projetos são fabricadas por esta indústria de modo a beneficiar interesses de classe e

retroalimentar uma complexa estrutura de cooperação internacional que, no limite, resulta

em despolitização das questões que buscam resolver (tratadas sempre tecnicamente) ao

mesmo tempo em que amplia o poder do estado. O autor evidencia que se de um lado os

projetos falharam em seus objetivos iniciais, de outro eles foram bem-sucedidos em

expandir o poder estatal e ao mesmo tempo produzir um efeito de despolitização da

questão da pobreza. Ferguson mostra que ao tratar a questão de modo técnico (e prover

soluções igualmente técnicas) os projetos de desenvolvimento acabam por produzir uma

despolitização da pobreza e do próprio estado. A este movimento o autor dá o nome de

máquina anti-política,

Annelise Riles (2001, 2006) em sua etnografia acompanha a produção de

documentos nas conferências da ONU e afirma que esta prática se aproxima muito da

produção de documentos já conhecida na academia – e que, portanto, a distância analítica

produtiva entre as categorias teóricas da antropologia e as categorias próprias da

burocracia (neste caso, as categorias nativas) é criada no ato etnográfico, e a diferença

entre a modalidade acadêmica e a burocrática se torna o próprio objeto da etnografia

(2006, p.88). Assim, a exploração desta distância é a principal contribuição da escrita

antropológica, é o que permite a produção de peças textuais com resultados diferentes

daqueles produzidos pelas próprias instâncias burocráticas que possuem caráter de

avaliação e diagnóstico que, por vezes, também são reproduzidas em textos acadêmicos

de outras áreas.

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Neste texto, que desde o início foi apresentado como um esforço

experimental, utilizei os dados de campo – ou seja, a produção de estratégias militares

para resolução de conflitos – e, através da análise em conjunto com a as questões teóricas

da Antropologia da Técnica, busquei explorar parte importante do que acontece nas

operações de paz e seus efeitos mais ou menos esperados como forma de evidenciar a

racionalidade própria deste tipo de operação. Apresentar este conjunto e fazer ver uma

racionalidade que não poderia ser vista através de outras análises, traz à tona outro papel

fundamental da Antropologia: que é se constituir também como um instrumento político.

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