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KÁTIA CILENE ANTUNES FERREIRA LARIEIRA A PERCEPÇÃO DE ALUNOS DE CURSOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO SOBRE SEUS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NO LATO SENSU UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID SÃO PAULO 2012

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KÁTIA CILENE ANTUNES FERREIRA LARIEIRA

A PERCEPÇÃO DE ALUNOS DE CURSOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO SOBRE SEUS

PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NO LATO SENSU

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

UNICID

SÃO PAULO

2012

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KÁTIA CILENE ANTUNES FERREIRA LARIEIRA

A PERCEPÇÃO DE ALUNOS DE CURSOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO SOBRE SEUS

PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NO LATO SENSU

Dissertação de Mestrado apresentado

como exigência para obtenção do título de

Mestre em Educação junto à Universidade

Cidade de São Paulo, sob a orientação da

Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

UNICID

SÃO PAULO

2012

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Prof. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto

Universidade Cidade de São Paulo-UNICID

Prof. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito

Universidade Cidade de São Paulo-UNICID

Prof. Dra. Magali Aparecida Silvestre

Universidade Federal do Estado de São Paulo-UNIFESP

COMISSÃO JULGADORA

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O valor das coisas não está no tempo que elas duram,

mas na intensidade com que acontecem. Por isso

existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e

pessoas incomparáveis.

FERNANDO PESSOA

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, a Ele toda honra e glória.

Ao meu amado esposo , Cláudio companheiro em todos os momentos, sempre

me encorajando a percorrer este caminho .

Meus filhos queridos, Leticia e Leonardo, pela paciência, compreensão,

entendimento e principalmente ajuda nessa caminhada que fizemos juntos.

Aos meus pais, João Martins e Eliete, pedagogos, que me inspiraram a seguir

pelos caminhos da docência.

À minha querida orientadora, Professora Doutora Ecleide Cunico Furlanetto,

agradeço imensamente por aceitar ser minha orientadora, ampliando o horizonte de

meus conhecimentos, contribuindo para meu amadurecimento profissional e

pessoal, para que eu pudesse chegar até aqui.

À banca examinadora, formada pelas Professoras Doutoras Magali e Margarete

pelas contribuições e observações que me fizeram refletir os caminhos a serem

trilhados nessa pesquisa.

Aos professores da UNICID, pelo trabalho sério e dedicado que realizam.

Aos colegas de classe, em especial da turma 14.

Aos alunos entrevistados, que prontamente participaram desta pesquisa, como

atores principais desta investigação, agradeço a confiança .

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Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas

usadas que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os

nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos

lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-

la, teremos ficado para sempre à margem de nós

mesmos.

FERNANDO PESSOA

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RESUMO

A presente pesquisa assumiu como objetivo principal investigar a percepção de

alunos adultos que frequentam a Pós-Graduação Lato Sensu em Tecnologia da

Informação, sobre seus processos de aprendizagem. Optou-se pela abordagem

qualitativa de pesquisa. São sujeitos da pesquisa 10 alunos matriculados nos cursos

de Gestão de Projetos (PMI) e Engenharia de Software (SOA). A coleta de dados se

deu por meio de entrevista reflexiva e de um desenho. A análise dos dados pautou-

se na análise de conteúdo e diálogos teóricos estabelecidos com autores que

investigam a aprendizagem dos adultos, tais como: Jung, Boutinet, Dubar, Bauman,

Placco e Masetto. A discussão aprofundada de fatores facilitadores de

aprendizagem que emergiram no contexto da pesquisa permitiu ampliar a

compreensão sobre os processos de aprendizagem dos adultos e, dessa forma,

contribuir com novos elementos para se pensar o exercício da docência nos cursos

Tecnológicos da Informação.

Palavras-chave: Aprendizagem de adultos; Desenvolvimento de adultos; Pós-

Graduação Lato Sensu.

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ABSTRACT

This research had the primary objective of investigating Lato Sensu Post Graduate

adult students in Information Technology perception of their learning process. We

have opted for a qualitative research approach. The subjects of this research are 10

students attending PMI (Project Management Institute) and SOA(Software Oriented

Architecture) courses. Data collection took place through reflexive interview and a

drawing. Data analysis was guided by content analysis and theoretical dialogues,

based on authors that research adult learning, such as: Jung, Boutinet, Dubar,

Bauman, Placco, Souza and Masetto. Deeper discussion of facilitating learning

factors emerged from the research and enabled increased understanding of adult

learning processes and therefore contributed with new elements to think the teaching

in technology courses.

Keywords: adult learning; adult development; Lato Sensu Post Graduate

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................9

CAPÍTULO 1: OS DIÁLOGOS...........................................................................................14

1.1 A QUESTÃO DO ADULTO DE HOJE NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS ....................................... 14

1.2 A DIMENSÃO PROFISSIONAL NA CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES CONTEMPORÂNEAS.................... 18

1.3 O ALUNO..................................................................................................................................... 19

1.4 A APRENDIZAGEM ....................................................................................................................... 20

CAPÍTULO 2: O CENÁRIO................................................................................................25

2.1 A PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ................................................................................................ 25

CAPÍTULO 3: AS TRAJETÓRIAS ....................................................................................29

3.1 O TRAÇADO DA PESQUISA E SUA METODOLOGIA........................................................................... 29

3.2 CONTEXTO DA PESQUISA ............................................................................................................. 30

3.3 SOBRE O CURSO DE GESTÃO DE PROJETOS EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (PMI).................. 30

3.4 SOBRE O CURSO DE ENGENHARIA DE SOFTWARE (SOA)............................................................... 31

3.5 OS SUJEITOS DE PESQUISA .......................................................................................................... 31

3.6 A COLETA DE DADOS ................................................................................................................... 33

CAPÍTULO 4: AS VOZES ...................................................................................................36

4.1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS FALAS DOS SUJEITOS .................................................................. 36

4.1.1 MUNDO DO TRABALHO: RELAÇÃO ENTRE O MUNDO DO TRABALHO E OS CONTEÚDOS APRENDIDOS

......................................................................................................................................................... 37

4.1.2 CONHECIMENTO: O LUGAR DO CONHECIMENTO NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM............... 42

4.1.3 PROFESSOR: MEDIADOR ENTRE O ALUNO E O CONHECIMENTO ................................................. 44

4.1.4 ALUNO: CAPACIDADE DA PERCEPÇÃO E DO DESEMPENHO DE SEU PAPEL................................. 49

4.1.5 INTERAÇÃO: RELAÇÕES DE CONVIVÊNCIA E TROCA ENTRE ALUNOS E PROFESSORES .................. 52

4.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DESENHOS DOS SUJEITOS .......................................................... 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................64

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................66

ANEXOS – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS ........................................................69

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INTRODUÇÃO

Iniciei minha carreira profissional como professora de Educação Infantil e

posteriormente trabalhei como alfabetizadora nas séries iniciais do Ensino

Fundamental. Para trabalhar com crianças, senti necessidade de compreender como

aprendiam. Ao ter mais clareza a respeito dos processos de aprendizagem e

desenvolvimento infantil, senti-me mais segura para propor estratégias de

aprendizagem.

Atualmente, ministro aulas no Ensino Superior, mais especificamente em

cursos de Pós-Graduação Lato Sensu na área de Tecnologia da Informação. Como

professora universitária, recebo em sala de aula alunos adultos que, em sua maioria,

estão inseridos no mercado de trabalho, mas constatam que sua formação inicial

não lhes fornece recursos necessários para o exercício profissional.

Esses alunos voltam à Universidade em busca de conhecimentos que

possibilitem uma localização mais segura no mercado de trabalho. Vivem em uma

era digital em que as mudanças são cada vez mais rápidas, cujos cenários flutuam

em constante transformação. Bauman (2007) faz referência a uma “sociedade

líquida”, com contornos que se redefinem constantemente, provocando uma

sensação de incerteza constante. Torna-se necessário recomeçar inúmeras vezes

em meio a contínuas mudanças, sem que haja tempo para a solidificação de rotinas,

hábitos e relacionamentos.

Os cursos de Pós-Graduação em Tecnologia são afetados por esse ritmo. Os

professores são exigidos a trabalhar em uma velocidade que nem sempre é

confortável para eles. Assumir a docência nesses contextos transforma-se em um

desafio , pois requer reconfigurações diferentes das utilizadas costumeiramente,

nesses cenários, cada vez mais incertos.

Como meus alunos, senti-me desconfortável profissionalmente, como eles

acreditei ser necessário retornar à universidade para dar continuidade a minha

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formação. Esse desconforto me trouxe ao curso de Mestrado em busca de

compreender como se configuram os processos de aprendizagem nesses novos

contextos. O mesmo movimento que teci quando era professora de Escola Infantil,

busco agora tecer no Mestrado em Educação.

Nesse contexto, insere-se esta pesquisa por entender que investigar a

aprendizagem de adultos que retornam à Universidade em busca de formação Lato

Sensu é urgente, pois, cada vez mais, é notória a busca pela formação continuada

por parte de adultos que compõem a sociedade atual. Essa volta às universidades é

um evento novo que requer mudanças nos processos educativos docentes e

discentes.

Cabe ao adulto situar-se socialmente e, para isso, torna-se necessário

compreender o mundo em que vive, o que não se apresenta como tarefa fácil de ser

desempenhada na atualidade. A idade adulta antes considerada um estado a ser

alcançado, hoje passa a ser um problema a ser enfrentado. Boutinet (1989) nos

alerta que ser adulto significa viver na instabilidade e na mudança.

Partindo desse cenário, algumas questões iniciais emergiram e possibilitaram o

delineamento de um caminho investigativo: Quem são os adultos de hoje? De que

forma os alunos adultos traçam suas rotas de aprendizagem e desenvolvimento? O

que os mobiliza para aprender?

Observa-se que, no mundo atual as questões a respeito dos processos de

desenvolvimento e aprendizagem de adultos ganham relevância, na medida em que

se vive em uma sociedade em constante transformação, na qual a expectativa de

vida está aumentando, o que demanda que o adulto se transforme em um eterno

aprendiz cada vez mais impactado pela necessidade e urgência de continuar em

formação.

Jung (1981), considerado um dos precursores do estudo da idade adulta,

descreveu a vida como um ato criativo e ao assumir esse pressuposto, aproximou-se

de pensadores contemporâneos para os quais a vida também é considerada um

processo criativo.

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Os pacientes adultos que procuravam Jung, no início do século XX, o

colocaram em contato com os desafios propostos pela idade adulta a qual ele

procurou compreender e para isso descreveu o Processo de Individuação, conceito

central de sua obra.

Autores mais recentes também mergulharam nesta temática buscando

entender o homem adulto em sua interação com o contexto atual. Hall (2006) com

base na configuração atual das sociedades ocidentais constata que as identidades

modernas estão cada vez mais fragmentadas e existe uma ”perda de um sentido de

si”, favorecendo a emergência de crises identitárias vivenciadas pelos adultos

contemporâneos.

Autores que em algum momento relataram a vida do adulto, como Jung

(1981), Hall, J. (1986), Boutinet (1989), Freire (1996), Danis e Solar (2001); Dubar

(2005); Hall, S. (2006); Bauman (2007); Nogueira (2009); Knowles (2009); Tapscott

(2010); Imbernón (2011), e a docência universitária tal como: Masetto (2003); Bellan

(2005); Placco e Souza (2006); Knowles (2009) Tapscott (2010); Pimenta e

Anastasiou (2010) têm contribuições importantes no que se refere aos processos de

desenvolvimento e aprendizagem de adultos. Esses autores identificam que esses

processos implicam em uma diferenciação e uma reformulação da construção

identitária.

A revisão da literatura sobre esta temática e os levantamentos pesquisados

em teses e dissertações do banco de teses da CAPES (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), defendidas nos anos de 2008 e

2009, possibilitaram verificar que a maioria dos autores que investigam a

aprendizagem de adultos aborda essa temática na perspectiva da modalidade da

EJA (Educação de Jovens e Adultos), de acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e

bases) com foco no processo de alfabetização.

Com base nessa revisão, constatou-se existir uma lacuna em relação à

investigação da aprendizagem e desenvolvimento de adultos. Com o descritor

“aprendizagem de adultos” foram encontradas, em 2008, setenta e oito (78)

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dissertações de mestrado entre as quais apenas uma se referia ao tema desta

pesquisa, as outras se referiam a EJA. Nas teses de doutorado foram encontradas

vinte e duas (22) com esta temática, todas referentes a EJA. Ainda com os mesmos

descritores em 2009, foram selecionadas noventa e quatro (94) dissertações de

mestrado e vinte e sete (27) teses de doutorado e nenhuma delas abordava o tema.

Considerando a revisão efetuada constatou-se que, a temática da aprendizagem de

adultos, particularmente daqueles que retornam às Instituições de Ensino Superior

para dar continuidade às suas formações, requer ser mais investigada.

Nessa perspectiva, a pesquisa assume como objetivo principal:

• Investigar a percepção dos alunos que frequentam Cursos de Lato

Sensu na Área da Tecnologia da Informação a respeito de seus

processos de aprendizagem.

Como objetivos específicos são propostos:

• Rever o processo de criação dos cursos de Lato Sensu no Brasil.

• Estabelecer diálogos teóricos com autores que têm investigado a

aprendizagem de adultos e a docência universitária.

• Entrevistar alunos de Pós-Graduação em Tecnologia da Informação nos

cursos de Engenharia de Software e Gestão de Projetos, a respeito de

seus processos de aprendizagem.

O trabalho é composto por quatro capítulos:

No primeiro capítulo (Os diálogos) são estabelecidos diálogos teóricos com os

autores que abordam a questão do adulto hoje, e de como ele se situa, tanto no

âmbito social como profissional e pessoal e como se dá a busca pela formação.

No segundo capítulo (O Cenário) é discutida a Pós-Graduação em Tecnologia

da Informação, como ela se configura, atualmente, dentro do contexto legal da

educação superior no Brasil.

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No terceiro capítulo (As trajetórias) é explicitado o traçado desta investigação

e a metodologia da pesquisa.

No quarto capítulo (As vozes) realiza-se uma análise dos dados coletados por

meio das entrevistas e desenhos, relacionando-os aos eixos estabelecidos.

Por fim, a conclusão da pesquisa.

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CAPÍTULO 1: OS DIÁLOGOS

1.1 A questão do adulto de hoje nas sociedades contemporâneas

O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o amanhã já

está feito. Tudo muito rápido.1

(PAULO FREIRE)

As sociedades contemporâneas têm mudado com muita rapidez, os adultos

que delas participam são confrontados e desafiados a lidarem com essas mudanças

de maneira cada vez mais rápida, transformando-se nesse processo, o que dificulta

definir o que é ser adulto nos dias de hoje.

A identidade adulta é sempre frágil neste ponto de encontro entre a estabilidade de certos parâmetros percebidos e a mudança na elaboração da percepção de si própria. É este ponto de encontro, ou melhor, este jogo dialético entre estabilidade e mudança, que constitui o processo de identidade, de uma identidade para si; a estabilidade está integrada na memória de um modo estrutural, e a mudança é produzida pela idade e pela experiência; é sem dúvida aí que se reside um dos paradoxos existências criadores da vida adulta, o de um contínuo frente a frente entre estrutura e experiência (BOUTINET, 1989, p.169).

Com o aumento da expectativa de vida, os indivíduos estão vivendo mais e

dessa forma a vida adulta, nas sociedades contemporâneas ocidentais, está sendo

prolongada. Por outro lado, observa-se que os jovens estão entrando para a fase

adulta mais tardiamente, protelando o tempo de juventude, ”os adultos de nossa

cultura têm de querer manter-se sempre jovens” (BOUTINET, 1989, p.22), o que

dificulta estabelecer um tempo preciso para a fase adulta, ora flutuante. O que passa

a delimitar essa fase, não é mais a idade cronológica, mas as experiências vividas

pelos sujeitos. Um sujeito pode sair da casa de seus pais aos dezoito anos e dar

início a nova fase em sua vida, enquanto outro pode permanecer até os quarenta

anos no convívio com os pais, dependendo deles para sua sobrevivência.

1 Pedagogia da Autonomia, 1996.

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Para alguns autores, a vida adulta ainda pode ser considerada um estado, por

sua vez relacionado a um período de estabilidade tanto pessoal, como profissional e

financeira. Entre os autores que consideram a vida adulta um estado, localizamos

Brennan e Brewi (1991). Para eles :

Tornar-se adulto é tornar-se economicamente independente, sexualmente ativo e capaz de reprodução, legalmente responsável, qualificado para votar, para portar armas, para beber. Você se torna adulto quando você conquista a razão, quando você é plenamente racional. Ser adulto é ter alcançado determinada idade: sete anos, quatorze anos, dezoito anos, vinte e um anos. Ser adulto é tornar-se independente psiquicamente dos adultos que o criaram (p.135).

Para outros, como Boutinet (1989), a idade adulta, que durante algum tempo

foi considerada um patamar a ser alcançado, no qual o indivíduo realizaria seus

projetos e alcançaria certa estabilidade, passou a ser considerada uma perspectiva e

mais recentemente um problema a ser enfrentado.

O aparecimento da sociedade pós industrial acompanhado de precariedades e desordens vai transformar a idade adulta de perspectiva em problema, uma maturidade gerada por circunstâncias frustrantes que tornam, os caminhos da vida adulta, vulneráveis e arriscados (BOUTINET, 1989, p.17).

Nessa perspectiva, encontramos outros autores como Hall, S. (2006),

Bauman, (2007) e Dubar, (2005) que salientam que ser adulto requer estar em

movimento e, dessa maneira, a idade adulta não pode ser considerada um estado

no qual o indivíduo atinge uma prontidão, mas tempo de desafios que obrigam uma

atualização constante dos quadros de referências.

Para esses autores, esta fase da vida é cercada de inquietações e

desconfianças, permeada por construções, mas também por desconstruções,

delineada como tempo de finalizações, mas também de recomeços, sendo que para

isso, o indivíduo adulto necessita traçar novas rotas e descobrir estratégias que

favoreçam sua sobrevivência.

Hall, S. (2006), destaca que as velhas identidades, que de certa forma

estruturam a sociedade, estão sendo questionadas e novas estão emergindo, em

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meio a diferentes configurações sociais. “O sujeito assume identidades diferentes

em diferentes momentos [...]” (p.13). O sujeito do Iluminismo foi tido como um ser

centrado, constituído de uma identidade fixa, com a qual nascia, vivia e morria. O

sujeito da Pós-Modernidade se depara com uma configuração social fragmentada,

desestabilizada e nesse contexto é obrigado a se reorganizar constantemente, sua

identidade passa a ser móvel e fluída.

A questão da identidade está sendo extensamente discutida na teoria social. Em essência, o argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno. Até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada “crise de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social (HALL, S., 2006, p.7).

Bauman (2007) faz referência a uma identidade líquida e disforme capaz de

se redefinir com frequência. Salienta que no mundo contemporâneo “as pessoas são

atormentadas pelo problema da identidade”, gerando, assim, um sentimento de

eterna busca para uma estabilidade pessoal (BAUMAN, 2007, p.13).

A ‘vida líquida é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquida moderna’. Líquido moderno é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e a da sociedade se alimenta e se revigora mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquida moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo (BAUMAN, 2007, p.7).

Buscando um maior entendimento a respeito do aluno que ingressa na Pós-

Graduação Lato Sensu nos dias atuais, considerou-se necessário estabelecer

diálogos teóricos com autores que investigam os processos de aprendizagem dos

adultos.

Entre os autores que abordam o desenvolvimento do adulto cumpre destacar

Jung, por ser considerado um dos primeiros autores a se dedicar ao estudo do

desenvolvimento dos adultos.

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Jung, médico psicanalista, no início do século XX, era procurado em seu

consultório por adultos que buscavam compreender em maior profundidade as

inquietações que emergiam em suas trajetórias de vida.

Os diversos encontros que teve com adultos possibilitaram que ele

descrevesse o Processo de Individuação, conceito central em sua obra, e desse

uma valiosa contribuição para a compreensão dos desafios enfrentados por aqueles

que se encontram nessa fase da vida. Para Jung, o adulto após enfrentar os

obstáculos propostos pelo início da vida é desafiado a buscar um sentido pessoal

para sua existência.

Segundo Furlanetto (2010):

O sujeito, para Jung, é multifacetado, dinâmico e racional, mas capaz de sentir, intuir, imaginar e, sobretudo, simbolizar. Ele está em trânsito, em busca de sentidos para sua existência. Portanto, faz passagens, morre, e renasce, recriando-se constantemente (p.91).

O Processo de Individuação consiste em uma busca de si mesmo que ocorre

para Jung (2006) na segunda metade da vida, após o sujeito ter procurado se inserir

na cultura por meio de relações pessoais e profissionais. Nessa etapa o sujeito se

vê instigado a buscar novas experiências que redirecionem sua história de vida para

dar continuidade ao seu desenvolvimento. Jung foi o primeiro autor de seu tempo a

atentar para o fato de que a idade adulta não era um estado de tranquilidade e

estabilidade como muitos a consideravam, mas um tempo para novos recomeços,

mais sintonizados com as reais necessidades dos indivíduos.

Conforme James Hall, estudioso da Psicologia Analítica:

A história de vida, sempre se configura como expressão parcial das possibilidades, de forma que a individuação jamais se completa. O processo de individuação é experimentado pelo ego como sentimento de estar mais ou menos ‘nos trilhos’ da vida (HALL, J.1986, p. 64-65).

Para Jung, a vida é um ato criativo e ao assumir esse pressuposto, antecipa-

se ao seu tempo e aproxima-se de pensadores contemporâneos para os quais a

vida também é considerada um processo criativo.

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1.2 A dimensão profissional na construção das identidades

contemporâneas

Para um maior entendimento da fase adulta, é necessário aprofundar a

discussão a respeito da dimensão profissional na construção das identidades

contemporâneas. A vida profissional instável e mutante do homem atual favorece

inúmeras experiências que demandam readaptações e reconstruções constantes às

novas configurações do mundo do trabalho.

Segundo Larrosa (2002):

O sujeito moderno, além de ser um sujeito informado que opina, além de estar permanentemente agitado e em movimento, é um ser que trabalha, quer dizer, que pretende conformar o mundo, tanto o mundo “natural” quanto o mundo “social” e “humano”, tanto a “natureza externa” quanto a “natureza interna” segundo seu saber, seu poder e sua vontade. O trabalho é esta atividade que deriva desta pretensão.(p.24)

Na perspectiva de Dubar, (2005) as identidades são revistas na medida em

que os sujeitos se deparam com novas exigências sociais.

As identidades, portanto, estão em movimento, e essa dinâmica de desestruturação/reestruturação às vezes assume a aparência de uma ‘crise das identidades’. Cada configuração identitária assume hoje a forma de um misto em cujo cerne as antigas identidades vão de encontro às novas exigências da produção e em que as antigas lógicas que perduram entram em combinação e às vezes em conflito com as novas tentativas de racionalização econômica e social (DUBAR, 2005, p.330).

Para o autor, “a identidade nunca é dada, ela é sempre construída e deverá

ser (re) construída em uma incerteza maior ou menor e mais ou menos duradoura”

(p.135). Nessa perspectiva, as identidades, não são estáticas, elas se configuram e

reconfiguram à medida que os indivíduos vivem novas experiências, inclusive

profissionais.

O trabalho exercido pelo sujeito para Dubar (2005), é visto como fator que

participa dos processos de construção identitária do sujeito.

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1.3 O Aluno

Não importa com que faixa etária trabalhe o educador

ou a educadora. O nosso é um trabalho realizado com

gente, miúda, jovem ou adulta, mas gente em

permanente processo de busca.2

(PAULO FREIRE)

O mundo do trabalho, tem contribuído para que profissionais retornem às

Instituições de Ensino Superior em busca de cursos de Pós-Graduação. Segundo

Boutinet (1989, p.46), ”a formação torna-se um utensílio privilegiado, destinado a

favorecer a promoção e a realização da vida adulta”. Os profissionais percebem que,

para se manterem atualizados e, dessa forma, obterem alguma segurança no mundo

do trabalho precisam buscar espaços de formação.

Conforme Nogueira (2009):

Na atualidade, as mudanças são constantes, o acelerado desenvolvimento da ciência e da tecnologia, assim como as mudanças de organização do trabalho, levam as empresas a necessitarem de profissionais cada vez mais ‘bem preparados’, tendo a flexibilidade e a capacidade de continuar aprendendo por toda a vida com habilidades desejáveis (p. 90).

Os alunos que voltam em busca de formação são, em sua maioria,

trabalhadores durante o dia e estudantes à noite. Esse retorno se dá pela urgência

de uma nova capacitação e melhor recolocação profissional, tornando-se novamente

alunos e deparando-se com novas e inúmeras exigências como afirma Tapscott:

A capacidade de aprender novas coisas é mais importante do que nunca em um mundo no qual você precisa processar novas informações em grande velocidade. Os estudantes precisam ser capazes de pensar de forma criativa, crítica e colaborativa para dominar “aspectos básicos” e se destacar em leitura, matemática e ciências, para ter competência de leitura e para reagir às oportunidades e desafios com rapidez, agilidade e inovação. Os estudantes precisam expandir sua base de conhecimento para além das portas de sua comunidade se quiseram se tornar cidadãos globais responsáveis e cooperativos em uma economia mundial cada vez mais complexa (TAPSCOTT, 2010, p.156).

2 Pedagogia da Autonomia, 1996.

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O profissional, atualmente, é convidado a se tornar um eterno aprendiz se

quiser permanecer no mundo do trabalho. Ainda conforme Tapscott (2010, p.156)

“[...] agora estamos diante do mundo da era da informação, [...] hoje você está

preparado para a vida por apenas 15 minutos.” Os alunos de hoje têm um livre

acesso às informações que são veiculadas por todos os meios. Dentre eles,

destaca-se a internet que contribui para que as informações se espalhem em poucos

minutos. Larrosa (2002) afirma:

O sujeito moderno é um sujeito informado que, além disso, opina. È alguém que tem opinião supostamente pessoal e supostamente crítica sobre tudo o que se passa, sobre tudo aquilo de que tem informação [...] o sujeito moderno não só está informado e opina, mas também é um consumidor voraz e insaciável de noticias, de novidades, um curioso impenitente, eternamente insatisfeito. (p.22-23)

No contexto dos cursos de Tecnologia da Informação, nos quais as mudanças

são muito mais velozes e as ferramentas tecnológicas tornam-se obsoletas em curto

espaço de tempo, a exigência por uma atualização constante é ainda maior. Os

alunos de Tecnologia da Informação são tirados a todo o momento de sua zona de

conforto, sendo desestabilizados pela avalanche de informações que os move em

busca de espaços em que possam pensar e organizar essa quantidade imensa de

informações.

Na qualidade de aprendiz, novamente, os pós-graduandos têm objetivos

próprios a serem alcançados ao regressarem aos estudos, buscam respostas para

suas inquietações e melhor preparo para enfrentar os desafios propostos pelas

atividades profissionais no seu cotidiano.

1.4 A Aprendizagem

Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao

aprender.3

(PAULO FREIRE)

3 Pedagogia da Autonomia, 1996.

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Como foi discutido, anteriormente, a idade adulta, outrora considerada um

patamar a ser alcançado por indivíduos que atingiam um nível de prontidão para a

vida, passa a ser considerada um desafio a ser enfrentado por indivíduos em

constante mutação. Nessa perspectiva, estudos sobre a aprendizagem que

privilegiaram durante muito tempo a aprendizagem de crianças e de jovens

começam a abordar também a aprendizagem dos adultos.

Jung referindo-se à aprendizagem dos adultos por volta dos anos 1950, já

salientava que estes não aprendem da mesma maneira que as crianças, e isso se

deve ao fato de que os adultos são portadores de cultura a qual se apegam e não se

disponibilizam a abrir mão com facilidade. Para Jung (1981), os adultos são movidos

a aprender quando as necessidades se apresentam, elas o obrigam a fazer revisões

e buscar novas referências para enfrentar os desafios propostos pela vida. Como

salienta Furlanetto (2007):

Ele nos leva a compreender que a aprendizagem dos adultos está articulada às perguntas que cada um vai se fazendo. Ela traduz-se em um movimento que os mobiliza, faz buscar, descobrir, desejar, crescer e procurar diálogos com quem também está em busca de respostas para os temas que os inquietam. Ao percorrer este caminho, o adulto vai se constituindo em um ser singular e único, registro vivo de suas histórias de aprendizagem. O que parece mobilizar o adulto e colocá-lo em movimento diz respeito aos desafios que ele enfrenta, os quais podem constelar no mundo externo, mas também podem emergir dos espaços interiores (p.135).

Por volta de 1926, Edward Lindeman realizou um trabalho intitulado “The

meaning of adult education”. Ele identificou que o processo de aprendizagem do

adulto se diferenciava do da criança, pois se ancorava primordialmente na

experiência.

A experiência, segundo Larrosa (2002),”é o que nos passa o que nos

acontece o que nos toca”, Ela acontece quando o sujeito pensa e reflete sobre o

que vive. Nessa perspectiva, a experiência destaca-se como um fator determinante

na aprendizagem dos adultos, ela assume o caráter de um divisor de águas,

possibilitando bifurcações, revisão de rotas e novos direcionamentos profissionais e

pessoais. Ainda para Larossa (2002): “É incapaz de experiência aquele a quem

nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada

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o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre

(p.25) “

A experiência pode estimular o adulto a buscar novas aprendizagens, como

também pode ser um dispositivo de aprendizagem, melhor dizendo ela pode ser

incluída nos cursos de formação de adultos, levando em conta que professores e

alunos já viveram inúmeras situações que merecem ser melhor analisadas e

compreendidas.

Em meados dos anos 1970, Malcolm Knowles, um pesquisador americano,

realizou um estudo a respeito da aprendizagem de adultos. Knowles (2009) afirmou

que ao se tratar de crianças, o professor é o direcionador da aprendizagem de seus

alunos, já na educação de adultos, é o próprio aluno quem traça sua trajetória de

aprendizagem.

Conforme Lindeman (apud KNOWLES, 2009, p. 44), “ensinar adultos não é

uma tarefa simples, mas sim, uma ação compartilhada entre professor e aluno“ e

com base em seus estudos , salienta que:

Os adultos são motivados a aprender conforme suas necessidades e

interesses, portanto, esses são os pontos de partida adequados para organizar as

atividades de aprendizagem dos adultos.

• A orientação da aprendizagem dos adultos é centrada na vida; portanto,

as unidades adequadas para organizar a aprendizagem de adultos são

situações da vida, não assuntos.

• A experiência é o recurso mais rico para a aprendizagem dos adultos;

portanto, a metodologia central da educação de adultos é a análise de

experiências.

• Os adultos têm uma forte necessidade de se auto-dirigir; portanto o

papel do professor é se envolver em um processo de questionamento

mútuo com eles, em vez de transmitir seu conhecimento a eles e, a

seguir, avaliar seu grau de conformidade com o que foi transmitido.

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• As diferenças individuais entre as pessoas aumentam com a idade;

portanto, a educação de adultos deve prever as diferenças de estilo,

tempo, lugar e ritmo de aprendizagem. (KNOWLES.2009.p.44)

Para o autor, para que o processo de aprendizagem seja efetivo, o ambiente

educativo é um fator determinante, devendo ser estruturado de forma a estimular a

participação ativa do aluno. Para isso, é importante que sejam traçados paralelos

entre a teoria e a prática para que o aluno possa se apropriar dos novos

conhecimentos e ver sentido neles.

No Brasil, também, temos estudos sobre a aprendizagem dos adultos.

Masetto (2003) destaca a importância da aprendizagem vivencial e da participação

dos alunos adultos nos seus processos de aprendizagem, afirmando:

Com efeito, se entendemos que, no ensino superior, a ênfase deva ser dada às ações do aluno para que ele possa aprender o que se propõe; que a aprendizagem desejada engloba, além dos conhecimentos necessários, habilidades, competências e análise e desenvolvimento de valores, não há como promover esta aprendizagem sem a participação e parceria dos próprios aprendizes. Aliás, só eles poderão ‘aprender’. Ninguém aprenderá por eles (p. 23).

Placco e Souza (2006), que também abordam a aprendizagem de adultos e

enfatizam o papel da interação e da experiência nos processos de aprendizagem ao

referirem-se que, “a aprendizagem do adulto resulta da interação entre adultos,

quando experiências são interpretadas, habilidades e conhecimentos são adquiridos

e ações desencadeadas” (PLACCO E SOUZA, 2006, p.17). Conforme as autoras,

pode-se dizer que “a aprendizagem decorre da consciência da necessidade de

mobilizar recursos pessoais e sociais, internos e externos, para atingir determinados

objetivos claramente definidos.” (PLACCO E SOUZA, 2006, p.19).

O aprender na idade adulta assume uma relação direta com o meio social, já

que se baseia em experiências vivenciadas nesse contexto e na idade adulta a

dimensão profissional é um campo fértil para experiências. Placco e Souza (2006)

destacam quatro aspectos ao referirem-se à aprendizagem de adultos: o primeiro é a

experiência, considerada o “ponto de partida e de chegada da aprendizagem” (p.19);

em segundo lugar destacam o conhecimento significativo, considerando que o

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aprendizado tem que fazer sentido para o aluno para que sejam mobilizados

interesses e expectativas em relação ao conhecimento; o terceiro aspecto é o

proposital, descrito como um direcionamento voltado para a necessidade, para a

superação de uma dificuldade e, por fim, enfatizam a deliberação vista como uma

atitude de escolha de participar ou não de um determinado processo educativo.

É notório que a aprendizagem no adulto assume características próprias

como afirma Bellan (2005):

O adulto sente necessidade de conhecer; o adulto é capaz se suprir sua necessidade de conhecer por si mesmo; a experiência do adulto é essencial como base de aprendizagem; o adulto está pronto para aprender o que decide aprender; a aprendizagem para o adulto deve ter significado para seu dia-a-dia e não ser apenas retenção de conteúdos para futuras aplicações (p.30 e 31).

A aprendizagem, nessa perspectiva, torna-se seletiva, na medida em que

ancora-se na vontade e na necessidade de aprender, conforme nos diz Furlanetto

(2010):

Os adultos ao contrário, são portadores de cultura o que os torna mais singulares, críticos e seletivos em relação às novas aprendizagens. Muitas vezes, o novo não acrescenta, mas questiona o que o adulto já sabe, exigindo que transforme suas crenças e idéias. Em tais situações é necessário desaprender para aprender, o que não se configura tarefa fácil, posto que entram em jogo não só os fatores racionais e conscientes, mas os fatores inconscientes (p.96).

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CAPÍTULO 2: O Cenário

2.1 A Pós-Graduação Lato Sensu

Aprender é o maior dos prazeres, não só para o filósofo, mas também, para o resto da humanidade.

(ARISTÓTELES)

Para relatar o cenário da Pós-Graduação buscou-se, primeiro, um

entendimento das leis educacionais e de suas particularidades, começando pela

principal delas: a LDB 9394/1996, expedida pelo então presidente da república

Fernando Henrique Cardoso, em Brasília, no dia 20 de Dezembro de 1996. Um novo

olhar na educação brasileira se deu a partir de então, conforme o que se segue:

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida

familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,

nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações

culturais.

§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,

predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.

§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática

social.

A educação superior, contexto desta pesquisa, também teve uma atenção

especial, novas diretrizes foram estabelecidas e determinadas a partir do Artigo 43º.

Para um melhor entendimento quanto sua abrangência e finalidade a transcrição da

LDB 9394/1996, artigo 43 segue na íntegra:

Art. 43º A educação superior tem por finalidade:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do

pensamento reflexivo;

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II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a

inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da

sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o

desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e,

desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos

que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino,

de publicações ou de outras formas de comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e

possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão

sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de

cada geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular

os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e

estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à

difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa

científica e tecnológica geradas na instituição.

A citação em relação à Pós-Graduação dentro da LDB9394/1996 está

inserida no Artigo 44º que diz:

Art. 44º A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas:

III - de Pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado,

cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos

diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições

de ensino.

Os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu, que incluem também os cursos

designados como MBA (Master Business Administration), no qual estão inseridos os

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sujeitos dessa pesquisa, são oferecidos por instituições de ensino superior e

independem de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento.

A RESOLUÇÃO CNE/CES N° 1 do MEC (Ministério da Educação) de 8 de

Junho de 2007, estabelece as normas para o funcionamento de cursos de Pós-

Graduação Lato Sensu em nível de especialização.

Os cursos são abertos para alunos já graduados, e os alunos pesquisados

são provenientes de cursos nas áreas de abrangência da Tecnologia da Informação

como, cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação, de maneira

geral. Há uma menção aos docentes da Pós-Graduação nesta resolução de 8 de

Junho, que merece ser destacada::

Art. 4º O corpo docente de cursos de Pós-Graduação Lato Sensu, em nível de

especialização, deverá ser constituído por professores especialistas ou de

reconhecida capacidade técnico-profissional, sendo que 50% (cinquenta por cento)

destes, pelo menos, deverão apresentar titulação de mestre ou de doutor, obtido em

programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, reconhecido pelo Ministério da

Educação.

Conforme o artigo acima, nota-se que a experiência profissional reconhecida

é considerada requisito importante na seleção de professores para cursos de Pós-

Graduação Lato Sensu. Por vezes, este profissional não possui, uma formação

pedagógica condizente com sua função, mas tenta suprir sua deficiência apoiando-

se em sua experiência profissional.

Como ressaltam Pimenta e Anastasiou (2010), o que tem contribuído para

essa demanda dos cursos Lato Sensu são as novas configurações e influências que

o mundo do trabalho impõe a esses novos profissionais, tanto docentes como os

discentes:

Contribuindo para ampliar a questão da docência no ensino superior, há que considerar a influência das novas configurações do trabalho na sociedade contemporânea da informação e do conhecimento, das tecnologias avançadas e do Estado mínimo, reduzindo a empregabilidade. Em decorrência, nota-se um afluxo dos profissionais liberais, ex-empregados,

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ao exercício da docência no ensino superior, cuja oferta de emprego se encontra em expansão. Essa expansão se explica pelas características dessa mesma sociedade que faz aos trabalhadores em geral a exigência de permanente requalificação como condição de trabalho. O resultado disso é a expansão da oferta de cursos superiores de Graduação e de Pós- Graduação Lato e Stricto Sensu (p. 39).

Com base na leitura das Leis que regularizam a educação brasileira no que

se refere ao Lato Sensu, é possível dizer que os direcionamentos legais apontam

para uma formação articulada ao desenvolvimento profissional, sem se esquecer da

importância da formação integral visando proporcionar uma educação reflexiva e

transformadora, como salienta Nogueira (2009):

Desta forma, compreender o ensino superior (Graduação e Pós-Graduação) como oportunidade de desenvolvimento, formação e transformação do ser humano requer reflexão sobre a educação o sobre o processo de construção do conhecimento em alunos adolescentes e alunos adultos (p. 90).

Uma nova configuração se estabelece junto aos educandos e educadores, no

que tange ao ensino superior relativos às exigências sociais contemporâneas

atualmente. Os alunos mudaram e consequentemente este educador deve estar em

constante sintonia a essas mudanças, em um processo reflexivo diário.

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CAPÍTULO 3: As Trajetórias

3.1 O traçado da pesquisa e sua metodologia

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Pesquiso para

conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a

novidade.4

(PAULO FREIRE)

O problema de pesquisa emergiu da necessidade de um maior entendimento

sobre os processos de aprendizagem de alunos inseridos em uma Pós-Graduação

Lato Sensu. A pesquisa apoiou-se na abordagem qualitativa, cuja finalidade “não é

contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as

diferentes representações, sobre o assunto em questão” (GASKEL; BAUER, 2002,

p.68). O que se buscou foi a abrangência da diversidade de informações dos pontos

de vista dos participantes da pesquisa, com vistas a contribuir para ampliação da

compreensão sobre o tema.

Entende-se por abordagem qualitativa:

Envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos - estudos de caso; experiência pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos. Portanto, os pesquisadores dessa área utilizam uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas, na esperança de sempre conseguirem compreender melhor o assunto que está ao seu alcance. Entende-se, contudo, que cada prática garante uma visibilidade diferente ao mundo (DENZIN;LINCOLN 2006, p. 17).

4 Pedagogia da Autonomia, 1996.

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3.2 Contexto da pesquisa

A instituição na qual se insere a pesquisa se situa na cidade de São Paulo,

capital, ela conta com cursos de Graduação e MBA nas áreas de Tecnologia da

Informação. Possuía em 2011, ano em que foi realizada a coleta de dados nos

cursos de MBA, 600 alunos divididos em 8 cursos presenciais, voltados

essencialmente ao mundo do trabalho.

Os cursos são reconhecidos pelo mercado, pelas instituições e pela

sociedade, sendo conceituado por publicações na área da Tecnologia da

Informação (TI), estando situados entre os 16 melhores cursos do Brasil. Tendo

como objetivo principal a formação integral do aluno nas áreas de Tecnologia e

Gestão, a instituição possui parcerias com empresas desta área, proporcionando

aos alunos um contato direto com o mercado profissional, e com o que há de mais

moderno junto a essas empresas. Oferece ao aluno a possibilidade de cursar uma

disciplina no exterior, em universidades dos Estados Unidos ou Europa que será

incluída no seu certificado.

3.3 Sobre o curso de Gestão de Projetos em Tecnologia da

Informação (PMI)

O curso de Gestão de Projetos em TI tem por objetivo formar profissionais

especialistas em gestão de projetos em TI. Seu público-alvo são profissionais com

formação e/ou experiência na área de Tecnologia da Informação que desejem se

aperfeiçoar como gestores de projetos especializados. O curso foi concebido com

vistas à preparação de profissionais especialistas em gestão de projetos em TI,

alinhado às melhores práticas mundiais nessa área, bem como, alinhado à realidade

brasileira, na qual a maioria das empresas que demandam projetos procura

profissionais com habilidades gerenciais, metodologias, técnicas e conhecimento

básico de ferramentas aplicadas à gestão de projetos. Com esta visão, o curso

disponibiliza ao aluno tanto conhecimentos de gestão estratégica de projetos quanto

os conhecimentos voltados à utilização prática de tecnologias e ferramentas

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aplicadas em gestão de projetos. O curso se divide em módulos, representando

cada um destes uma área de conhecimento específica, a respeito dos temas que

envolvem a disciplina de gerenciamento de projetos em TI. Possui uma carga horária

de 390 horas/aula que é completada em aproximadamente 12 meses.

3.4 Sobre o curso de Engenharia de Software (SOA)

O curso de Engenharia de Software (SOA) tem por objetivo capacitar

profissionais para o uso das técnicas e ferramentas de desenvolvimento de

sistemas. É ministrado sob o enfoque de um “aprendizado prático”, oferecendo uma

vivência nos conceitos apresentados através da execução de estudo de caso em

desenvolvimento de aplicações de sistemas. Tem como público-alvo analistas,

arquitetos, desenvolvedores e líderes de projeto com formação e/ou experiência na

área de Tecnologia da Informação e que desejam se especializar em engenharia de

software. O curso foi concebido para prover formação profissional multidisciplinar e

atender a demanda das novas exigências nas áreas de competências da engenharia

de software que exige eficiência, foco em saber fazer corretamente o software

(Engenharia do Produto) e na eficácia que direciona esforços para atendimento ao

negócio através da abordagem do desenvolvimento de soluções baseadas em

serviços (Engenharia de Serviços). É também proposta do curso, em termos de

aprendizado, levar os alunos a utilizar as atuais técnicas, métodos, padrões e

processo para garantia da qualidade e produtividade em software.

Estes cursos são oferecidos na instituição desde o ano de 2003, nas cidades

de São Paulo e Campinas e já formaram mais de 1000 alunos em Gestão de

Projetos e 500 alunos em Engenharia de Software, desde seu início.

3.5 Os Sujeitos de Pesquisa

Participaram como sujeitos da pesquisa os alunos dos cursos de Engenharia

de Software e o de Gestão de Projetos em TI, no ano vigente de 2011.O critério

específico para a escolha desses alunos foi a disponibilidade em participar

espontaneamente. Todo o cuidado foi tomado em relação à participação destes

alunos, para que não houvesse nenhum constrangimento, e comentando que a

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participação deles não seria de forma alguma uma obrigatoriedade por ser a

pesquisadora sua professora.

Como parte da aproximação do aluno em relação à pesquisa foi dado a cada

um, uma explicação prévia, sobre o que se tratava a pesquisa, informando todo o

processo de levantamento de dados, autores e temáticas que seriam abordadas ao

longo do processo. O aluno teve total liberdade para questionar e sanar suas

dúvidas a este respeito.

A cada aluno foi entregue um termo de consentimento para ser assinado,

informando que em nenhum momento seriam veiculados os nomes, nem dados

pessoais. Foi esclarecido, também, que durante toda a conversa, seria utilizada uma

entrevista semi-estruturada, feita uma gravação e, posteriormente, uma transcrição

literal, para que pudessem ser analisadas as falas de maneira mais direta, detalhada

e pontual, pela pesquisadora.

Os alunos, cientes desta informação, assinaram um termo pré-estabelecido,

padrão e consentiram a gravação. Em nenhum momento, houve por parte dos

alunos qualquer manifestação contrária a este procedimento. Os alunos foram

nomeados usando a sigla (S) para todos os 10 sujeitos, ou seja, de S1 até o S10,

respectivamente, para identificação nas análises.

Foram entrevistados 8 alunos do curso de SOA, sendo 5 homens e 3

mulheres; no curso de PMI foram 2 alunos homens, totalizando 10 alunos

entrevistados. Ocorreu essa diferença entre os entrevistados, sendo que, para

ambos os cursos foi feito o mesmo convite aos alunos, para que participassem de

maneira voluntária nesta pesquisa. Os alunos de SOA responderam prontamente e

com os de PMI não houve o mesmo interesse e apenas dois se manifestaram.

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A seguir, um quadro com as informações dos alunos participantes:

Fonte: LARIEIRA, 2012. (autora da pesquisa)

3.6 A Coleta de dados

A coleta de dados se deu por meio de uma entrevista reflexiva semi-

estruturada, entendendo ser a entrevista um caminho metodológico para

levantamento de dados; ela se diferencia das demais, por haver uma maior interação

entre o entrevistador e o entrevistado, “face a face é fundamentalmente uma

SUJEITO IDADE SEXO FORMAÇÂO CURSO

S1 27 M Ciência da Computação

SOA

S2 33 M Matemática SOA

S3 38 F Tecnólogo em Computação

SOA

S4 25 M Sistemas da Informação

SOA

S5 33 M Administração de Empresas SOA

S6 32 M Ciência da Computação

PMI

S7 30 F Sistemas da Informação

SOA

S8 26 M Sistemas da Informação

PMI

S9 35 M Processamento de Dados SOA

S10 32 F Administração de Empresas SOA

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situação de interação humana, em que estão em jogo às percepções do outro e de

si” (SZYMANSKI, 2004, p.12).

Para Szymanski (2004), esse procedimento de coleta de dados tem sido

utilizado em pesquisas qualitativas, em estudos de significados subjetivos tais como:

atitudes, valores, percepções, opiniões e sentimentos que não podem ser

investigados com instrumentos fechados.

O roteiro estabelecido baseou-se em perguntas orientadoras. A coleta se deu

por meio de uma conversa informal, na qual os sujeitos demonstraram estar seguros

e à vontade com a proposta.

Além da entrevista, foi proposto um desenho. Partiu-se do pressuposto que a

linguagem é uma função que as pessoas dominam e, pela familiaridade que têm

com ela, podem encobrir uma ou outra informação. Ao desenhar, os sujeitos podem

deixar que outros aspectos apareçam, exatamente por não terem domínio da

produção da imagem. Para Joly (2008):

Que uma imagem é uma produção consciente e inconsciente de um sujeito, isso é um fato; que constitui seguidamente uma obra concreta e perceptível, também o é; que a leitura desta obra a faça viver e perpetuar-se; que mobiliza tanto o consciente como o inconsciente de um leitor ou espectador ,é inevitável.(p.48)

Sendo assim, após a entrevista, foi pedido aos sujeitos que fizessem um

desenho. Esse desenho, também teve um fio condutor, foi pedido que cada um

estabelecesse três pontos em uma folha de papel. Um representaria o sujeito; outro

o conhecimento e um terceiro o professor. A proposta consistia em relacionar esses

três (3) pontos, procurando deixar claro o caminho que cada um percorre para

aprender. Após a realização da proposta, foi solicitado que comentassem os

desenhos.

A intenção dessa proposta foi acessar novos conteúdos e estabelecer uma

nova maneira de olhar para a aprendizagem. Foi um convite aos sujeitos de

pesquisa para explorar alguns aspectos de seus processos de aprendizagem. Para

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Joly (2008),”a complementaridade das imagens e das palavras reside no fato delas

se alimentarem umas das outras.” (p.141).

O desenho por si só, é uma forma de expressão livre, subjetiva e como afirma

Ambrogi (2003,p.223),”o desenho representa um código próprio que assinala uma

forma de ver e perceber a si, ao mundo e aos valores que circundam seus autores.”

O recurso do desenho foi utilizado como um desencadeador desse processo

reflexivo, por entender ser uma fonte de informações que, muitas vezes, não podem

ser identificadas apenas pela fala.

Gaskel e Bauer (2002) nos levam à seguinte interpretação: “As imagens

diferem da linguagem de outra maneira importante [...] tanto na linguagem escrita

como na falada, os signos aparecem sequencialmente. Nas imagens, contudo, os

signos estão presentes simultaneamente” (p.322). A maneira de se expressar por

meio do desenho é muito mais abrangente do que uma simples manifestação

artística, a imagem ali projetada, revela a percepção que ele tem de si e do mundo

que o cerca.

Para a realização do desenho, os alunos receberam um conjunto de

canetinhas coloridas, contendo doze (12) cores. Considerou-se que, as cores

também favoreceriam uma comunicação mais eficaz de determinadas questões.

A autonomia desses sujeitos foi construída nesse processo de escolha do que

desenhar e com que cor desenhar e de interpretar seu desenho. Como nos diz Joly

(2008):

A escolha gráfica possui também a sua importância enquanto escolha plástica. As palavras têm, sem dúvida, uma significação imediatamente compreensível, mas esta significação é colorida, pintada ou orientada antes mesmo de ser percebida pelo aspecto plástico do grafismo (a orientação, a forma, a cor, a textura),do mesmo modo que as opções plásticas contribuem para a significação da imagem visual.(p.129)

Estabeleceu-se direcionar a coleta de dados sob esses dois aspectos: a

linguagem e a imagem por entendermos ser um modo apropriado de se estabelecer

uma representação dos processos de aprendizagem dos adultos no Lato Sensu.

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CAPÍTULO 4: As vozes

4.1 Análise e interpretação das falas dos sujeitos

Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta,

mas de quem nele se insere. E a posição de quem luta para não ser

apenas objeto, mas sujeito também da história.5

(PAULO FREIRE)

Iniciou-se o processo de análise dos dados, considerando-se que o objetivo

de pesquisa era: investigar a percepção dos alunos que frequentam Cursos de Lato

Sensu na Área da Tecnologia da Informação, a respeito de seus processos de

aprendizagem.

Foi realizada uma leitura exaustiva do conteúdo das entrevistas, de forma que

se pudesse ter uma visão geral dos dados. Essa leitura inicial permitiu localizar

alguns eixos de análise: professor; mundo do trabalho; conhecimento; interação;

aluno e, a aprendizagem que se tornou o eixo articulador, representados no

diagrama a seguir:

5 Pedagogia da Autonomia, 1996.

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É importante destacar que com base nesses eixos foi realizada a análise dos

dados. Eles não se apresentaram de forma isolada, mas relacionados entre si e

foram separados para efeito de análise.

4.1.1 Mundo do trabalho: Relação entre o mundo do trabalho e os

conteúdos aprendidos

Segundo Bauman (2007), a vida não é estática, a todo o momento estamos

lidando com transformações e novas aprendizagens que ocorrem cada vez mais

rapidamente e isso foi possível constatar nas entrevistas, como relataram os

sujeitos:

Nossa, o mundo lá fora mudou, se eu precisar me realocar no mercado de trabalho, eu estou desatualizada, o mundo está mudando e eu estou ficando estagnada. Não era isso que eu queria para a minha vida, não só o dinheiro,

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queria também conhecer o que acontece, ter a visão do mundo lá fora... (S3). Comecei a fazer o curso de Engenharia de Software, até pra ver o que eu podia melhorar no meu trabalho e no que eu estava fazendo, pensando mais para frente. De repente, até procurar um emprego numa outra empresa, me qualificar e me sentir mais ‘ai que bom, não estou mais um dinossauro dentro da área da informática’ (S 3).

Nestas falas pode-se detectar uma preocupação dos entrevistados com a

necessidade de novas aprendizagens, buscando uma formação continuada. Os

alunos que frequentam os cursos de Tecnologia têm clareza da importância de se

manterem atualizados, caso contrário, rapidamente, se tornarão “dinossauros’ como

relatou um dos sujeitos.

Essa constatação provoca uma incerteza constante. Bauman (2007) descreve

esse fenômeno do mundo moderno dizendo que ele faz parte do cotidiano da

maioria das pessoas atualmente. O que se vê é uma incerteza nos cenários

profissionais, fazendo com que os sujeitos busquem formação para continuarem

inseridos no mercado, conforme vemos abaixo:

Eu já tinha feito um curso preparatório para certificação de PMI (Project Management Instituto) e via além da especialização, principalmente para uma melhor colocação no mercado de trabalho. O aumento do conhecimento no assunto, que eu achei interessante desde quando eu comecei a estudar, desde quando eu fiz o preparatório para a certificação (S6). Eu escolhi (o curso) porque foi uma das matérias que eu gostava na graduação e eu acho que é outra oportunidade de trabalhar, uma forma diferente de trabalhar. Tem a ver com meu trabalho hoje, mas não totalmente, então eu acho que é uma porta a mais (S7).

A preocupação com as exigências do mercado de trabalho referenda o que

Bauman (2007) salienta a respeito do profissional atual, que percebe, mesmo que

inconscientemente, que nada é para sempre, pois tudo recomeça, tudo muda, assim

como o mercado profissional em Tecnologia da Informação.

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Os cursos de Lato Sensu em Tecnologia da Informação têm sido um caminho

buscado por profissionais cada vez mais em busca de novas aprendizagens devido

a exigência desse mercado e por necessidade de atualização:

No curso de Pós-Graduação específico me motivou a questão do currículo, principalmente. Eu já tinha terminado a minha graduação há uns quatro anos. Logo que terminei o colégio técnico de Processamento de Dados eu fiz a Graduação. Terminada a Graduação eu não fiz nada, só cursos especialistas na área, e aí o curso foi bem assim, ‘poxa, eu preciso de uma Pós-Graduação para o mercado, é um curso que vai me ajudar na minha formação, na minha área de TI’ (S8).

As falas nos colocaram em contato com as maneiras de como as relações de

trabalho estavam sendo configuradas. Quando indagados sobre o que os levou a

procurar estes cursos de pós graduação alguns entrevistados salientaram:

Atualizar-me para o mercado. Esse curso além de estar alinhado com a expectativa da empresa, está alinhado também com o que o mercado está esperando (S9).

Mas, assim, eu acabei de passar por uma experiência de ver que o mercado está aquecido e, justamente, por ter feito uma Pós-Graduação com SOA (Arquitetura Orientada a Serviços) isso foi um diferencial para chamar atenção ao meu perfil, o mercado se interessou por isso, apesar de eu continuar no mesmo emprego e não ter mudado de emprego ainda. Então, é uma coisa que mostrou que a Pós valeu bastante a pena. (S10).

Com isso, ao ingressar no Curso de Pós-Graduação, o aluno não tem clareza

de qual formação busca, mas sim, da necessidade de buscá-la, o que ocorre por

exigência do mercado de trabalho, que é o que parece direcionar sua formação, o

mundo profissional impulsiona a formação acadêmica dos entrevistados como se vê

na descrição acima.

O aluno adulto é inserido no mercado de trabalho, por meio de experiências e

vivências profissionais, buscando no curso um direcionamento para suas práticas

cotidianas. Para Freire (1996) o mundo não é, ele está sendo, e o mundo do

trabalho, também está em constante transformação e os sujeitos de pesquisa

buscam novas leituras do mundo profissional e compreender suas novas

configurações.

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Para os alunos, é clara a percepção de que se faz necessário estabelecer

relações entre a experiência adquirida no mundo do trabalho e os conteúdos

trabalhados em sala de aula, conforme vemos abaixo:

É que eu tive sorte de ser meio que um paralelo: a minha carreira com o estudo em TI (S1). É como eu tenho uma bagagem profissional e pessoal, então facilitou muita coisa (S1).

Dubar (2005) ajuda a esclarecer esta questão:

De fato, a aprendizagem experiencial supõe uma ligação específica aos saberes que implica a subjetividade e se ancora em atividades significantes. De fato, os saberes progressivamente incorporados pelo ser humano em transformação são, em primeiro lugar, saberes de ação experimentados numa prática significante, isto é, ligados a um compromisso pessoal (p.158).

Também salienta Furlanetto (2007):

Nesse sentido, a experiência configura-se uma ponte sobre a qual sujeito e objeto transitam, encontram-se, distinguem-se e, finalmente, constituem-se. O processo experiencial coloca em questão os conhecimentos do Eu, reabrindo-os à prática e à relação verdadeira com o outro. Ele oferece ao sujeito a oportunidade de se deslocar em múltiplas direções, em busca de novos sentidos.(p.138)

Os entrevistados fazem menção a uma certa maturidade profissional

necessária para ajudar a assimilar as informações por meio de suas experiências.

Pode-se considerar essa maturidade como pré-requisito necessário para aprender,

e no caso dos adultos Placco e Souza (2006) referem-se à experiência que o aluno

deve possuir.

A maturidade profissional ajudou a assimilar a informação, mas assimilar praticamente o que me interessa, ao que eu posso ter aplicação prática (S3).

Em relação a esta maturidade citada acima, pode-se perceber que ela vem

acompanhada de uma evolução do lado profissional, com mudanças e novas

conquistas que os ajudarão nessas novas perspectivas, conforme relataram os

sujeitos 6 e 10 da pesquisa:

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Eu estou conseguindo, até com a empolgação mesmo do que eu to aprendendo no curso, eu estou conseguindo aplicar bastante coisa na prática [...] (S6). Então, eu coloco tudo em prática e vejo na prática até que ponto aquilo que eu estou vendo na sala de aula, no curso, realmente pode acontecer ou precisa mesmo daquilo, se é colocado em prática pra melhorar o resultado das atividades de trabalho [...] (S6). De encontro com meu dia-a-dia, eu encontrei na Pós a teoria da prática que eu tinha. Então, eu conciliei todas as disciplinas de engenharia com o meu dia-a-dia. SOA era um diferencial, um conhecimento novo que eu ia adquirir também. Então acabei unindo o útil com a novidade (S10).

O curso tem tudo a ver com o que eu trabalho, tem uma interferência direta no que faço no dia-a-dia (S6).

Conforme já foi mencionado, para Placco e Souza (2006) a experiência, o

significativo, o proposital e a deliberação são fatores relevantes e determinantes

para a aprendizagem. A experiência dos alunos emerge quando se retoma a fala da

autora:

É ela que possibilita tornar o conhecimento significativo, por meio das relações que desencadeia. Mas não se trata de qualquer experiência; ela decorre da implicação com o ato de conhecer e da escolha deliberada por dar-se a conhecer determinado objeto ou evento. Por tratar-se de adultos, há uma vivência anterior e as experiências irão influenciar a formação de novas ideias (PLACCO e SOUZA 2006, p.19).

Os alunos entrevistados buscaram a formação continuada por se sentirem

pressionados pelo mercado de trabalho. Eles sabem que necessitam se atualizar

constantemente para se manterem inseridos no mercado. Nessa perspectiva,

consideram importante que os cursos, por eles escolhidos, os instrumentalizem para

lidar com as questões que emergem em suas práticas profissionais. Consideram que

para que isso ocorra, é necessário que as experiências profissionais dos professores

e dos alunos sejam mobilizadas.

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4.1.2 Conhecimento: O lugar do conhecimento nos processos de

aprendizagem

O conhecimento, com base na fala dos sujeitos, destacou-se como um eixo

significativo nesta pesquisa, na medida em foram feitas inúmeras referências à

importância de buscá-lo, como um entrevistado salientou :

Eu acho que a pessoa tem que buscar o conhecimento... (S1).

Observou-se que a busca pelo conhecimento parecia impulsioná-los. Para

Pimenta (2010, p.78): ”Conhecer é ato que mobiliza o ser humano por inteiro”; para

os sujeitos, ele se configura como uma totalidade, acessível a todos que o buscam,

o que pode ser percebido nas entrevistas.

Eu vejo o conhecimento como uma nuvem que está disponível a todos... (S10). Eu imagino o conhecimento como uma grande área... (S5). Eu julgo o conhecimento uma coisa muito ampla, por isso eu coloquei aqui em cima como uma coisa extremamente ampla e disponível (S9).

Nogueira (2009), destaca a importância pessoal e social do conhecimento:

Por isso mesmo devemos compreender o conhecimento como emancipatório, tanto para o estudante que está como nosso aluno, quanto pra a sociedade. Para o aluno é emancipatório à medida que lhe permite uma compreensão ampliada, mais orgânica do real e, por isso, favorece ações mais conscientes e críticas. Para a sociedade, o conhecimento é emancipatório se for acessível à maioria, se provocar mudanças rumo à vida de mais qualidade para todos. Isso nos indica o quanto o processo pedagógico no ensino superior supera a mera transmissão de conceitos e tem, em última instância, um papel relevante (p.78).

A importância do conhecimento na sociedade contemporânea é percebida

pelos sujeitos o que faz com o busquem nos cursos de Pós-Graduação, pois

consideram que a Graduação não forneceu as ferramentas necessárias para

enfrentar o mundo do trabalho.

[...] o ensino superior não cobre todo o conhecimento necessário e a Pós acaba completando esse conhecimento para quem está interessado (S1).

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A bagagem de conhecimento que eu já tinha facilitou eu assimilar o conhecimento [...] (S1). Agregar conhecimento. O que eu tentei foi entender mais da minha área, ser mais capacitado (S4). Um conhecimento mais gerencial, pessoas, organizacional [...] outro tipo de conhecimento [...] (S8).

Pelas observações feitas pelos sujeitos, a busca pelo conhecimento no Lato

Sensu pautou-se na troca entre professores e alunos, e é nesse espaço relacional

que, para eles, é possível aprender. Conforme afirma Labelle (2001):

O adulto aprende, procura, cria saber e, ao mesmo tempo, inventa a sua vida à medida da sua capacidade, para conferir significações às marcas, que imprimem nele os fenômenos, os acontecimentos e os encontros (p.106).

As falas dos sujeitos se aproximam ao destacarem o valor das trocas e

encontros significativos nos processos de aquisição de conhecimentos:

Eu acho que eu venho com um pouco de conhecimento, o professor vem com um pouco de conhecimento, então esses conhecimentos se fundem [...] O próprio conhecimento é trocado... (S3). Então eu acho que tem uma troca, porque a gente vem com uma gama de informações que a gente tem que não é um conhecimento acadêmico, mas é um conhecimento de trabalho, é um conhecimento de vida, de família,

enfim, que a gente traz (S3).

Eu quis ilustrar aqui que o conhecimento depende não só do aluno, mas também do professor [...] carga de responsabilidade em relação ao conhecimento [...] a união do professor com o aluno para formar o conhecimento (S6). [...] O conhecimento vai de um para o outro (S7).

Esta troca é parte integrante da fala dos sujeitos:

Aqui não, a gente aqui quer conhecer o mercado, quer conhecimento prático do mercado, conhecimento de experiência, a vivência que ele teve em anos que atuou no mercado (S8). Eu coloquei o aluno e o professor que são duas entidades iguais onde eu tenho o conhecimento, que é transmitido tanto do professor para o aluno quanto do aluno para o professor (S7.)

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[...] o professor maior que eu, aluno. Como se o professor estivesse trazendo para nós um conhecimento de uma forma diferente (S8).

O conhecimento assume um lugar importante nas sociedades contemporâneas

saturadas de informações e os alunos sabem disso. O conhecimento para eles

necessita estar entrelaçado com a prática e para isso é necessário que ele seja

construído com base nas trocas entre alunos e professores que ocorrem em sala de

aula.

4.1.3 Professor: Mediador entre o aluno e o conhecimento

Surge na fala dos sujeitos, uma nova percepção do papel do professor, ele

aparece como alguém que caminha junto com os alunos rumo ao conhecimento.

[...] o aluno não estaria sozinho, o professor está aqui na caminhada com ele, passando o conhecimento que ele tem (S9). Eu coloquei o mestre não no mesmo nível do aluno, mas ele é uma pessoa que sabe como você tem que chegar lá (S2).

A docência universitária, no contexto da Pós-Graduação Lato Sensu

configura-se como uma construção ainda não definida, o que aponta para a

necessidade de se pensar na formação deste docente. Pimenta e Anastasiou (2010,

p.88) salientam:

A docência na Universidade configura-se como um processo contínuo de construção de identidade docente e tem por base os saberes da experiência, construídos no exercício profissional mediante o ensino dos saberes específicos das áreas do conhecimento.

.

Para alguns entrevistados o docente não é uma figura central no seu

processo de aprendizagem. Por isso:

Entendemos esse processo de mediação do ensino como a dialética entre o ensino e a aprendizagem, levando em conta as questões internas e externos que envolvem esse processo, que deve levar em conta, ainda, aspectos cognitivos, pedagógicos, afetivos, socioculturais, e, sobretudo, humanos (NOGUEIRA, 2009, p.111).

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O professor atua ora como um mediador, ora como uma figura coadjuvante

neste processo. Essas falas instigam a refletir sobre mudanças que estão ocorrendo

nas representações da docência. Parecem estar emergindo novas possibilidades de

relações entre professor e aluno.

Para Imbernon (2011), este professor do século XXI, emerge em meio às

mudanças radicais, entre elas a do próprio lugar do professor nos processos

educativos, agora mais complexos. Esta nova educação, segundo o autor, não se

centraliza mais somente no professor e, sim, estabelece novos modelos de relações

e participações do aluno, professor e comunidade nas práticas educativas. Para

Bauman (2007), as relações humanas, incluindo as de professores e alunos, se

tornaram complexas, nesta sociedade líquida moderna. ”No mundo líquido

moderno, a solidez das coisas, assim como a solidez das relações humanas, vem

sendo interpretadas como uma ameaça [...]” (p.112).

Com todas estas transformações na sociedade, a profissão docente também

passará por transformações, como afirma Imbernon (2011): ”Nas próximas décadas,

a profissão docente deverá desenvolver-se em uma sociedade em mudança, com

alto nível tecnológico e um vertiginoso avanço do conhecimento” (p.37). As

mudanças são visíveis em sala de aula, o professor assume um outro lugar, não

apenas de detentor do conhecimento e sim, de um mediador, como relatam os

sujeitos de pesquisa:

[...] o professor atua como um orientador, ele vai te mostrar caminhos, te mostrar quais informações você precisa buscar e onde buscar para ter conhecimento daquele assunto (S4). [...] o professor detentor de uma pequena parte e eu através do professor buscando essa ajuda para mapear o conhecimento que eu preciso. Eu vejo o professor como um facilitador (S5). Eu estou imaginando que o professor e o aluno dividem a responsabilidade do conhecimento no final da história aqui (S6). Mas eu acho que acho que o professor na posição de professor também é aluno e o aluno na posição de aluno também pode ser professor (S7). O professor está aqui em parceria com o aluno, eles estão numa caminhada (S10).

Como afirma Masetto (2003):

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A atitude do professor está mudando: de um especialista que ensina, para o profissional da aprendizagem que incentiva e motiva o aprendiz, que se apresenta com disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem-não uma ponte estática, mas uma ponte “rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos (p.24).

As falas dos sujeitos refletem essa questão:

[...] mas se alguém não te dá aquele empurrãozinho pra te orientar, eu não teria saído do lugar. O professor é importante (S1). Talvez o mestre fosse uma pessoa que já percorreu essa escada alguma vez (S2). É uma coisa que eu tenho que adquirir independente dele, apesar dele ser um facilitador pra que esse conhecimento e a aprendizagem cheguem até a minha pessoa (S9).

O professor só tem meios de facilitar o acesso a este conhecimento. Ele tem como traduzir muitas vezes, trazendo a informação de uma forma melhor e resumida pra que o aluno aprenda mais rápido, pra ajudar o aluno no processo de aprendizagem mais rápida do que seria por conta própria” (S10).

A atuação do professor nos cursos universitários assume uma característica

própria, o que é requerido pelo aluno, é que o professor tenha experiência e

competência profissional e seja capaz de estabelecer relações entre a teoria e a

prática, como salienta Masetto (2003):

Essa competência significa, em primeiro lugar, um domínio dos conhecimentos básicos em determinada área, bem como, experiência profissional de campo, domínio este que se adquire, em geral, por meio dos cursos de bacharelado que se realizam nas unidades e/ou faculdades e alguns anos de exercício profissional (p.26).

Para os alunos, a representação do professor de uma Pós-Graduação, diz

respeito a um profissional, capaz de disponibilizar sua experiência e conhecimento e

com base neles discutir as questões que emergem nos contextos de aprendizagem

e não de alguém capaz de somente fazer exposições teóricas: Nessa perspectiva, a

aprendizagem se torna uma via de mão dupla. Segundo Bellan (2005), “o facilitador

entende as diferentes formas de aprendizagem e usa métodos e técnicas

diversificadas para incentivar o conhecimento entre seus aprendizes” (p. 56).

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Na verdade o que mais agregava era a experiência do professor, a experiência profissional (S4). [...] eu gostei bastante da experiência dos professores [...] aí o professor inclui a experiência dele (S5). [...] eu acho que são professores experientes, que sempre tem um (termo técnico) ou um exemplo pra passar de vida profissional [...] (S6). Na minha visão, o fluxo que geralmente acontece é esse. Na verdade para mim é o ideal, só que quanto mais bagagem além da orientação o professor conseguir passar, mais fácil fica a busca do aluno (S4). [...] a gente tem professores bem dinâmicos (...) trazem bastante conteúdo prático para a aula, experiências práticas e exemplos, fazem várias analogias durante a aula, que ajudam a gente a assimilar o conteúdo (S8). Eu acho que o professor consegue assim, ele trazer com ele não só uma informação básica, um conhecimento básico. Ele traz um conhecimento prático, um conhecimento de mercado (S8). A experiência dos professores, diferente da época da graduação [...] experiência de mercado (S10).

O aluno, ele tem condições de buscar esse conhecimento por conta própria, mas assim, às vezes nós precisamos de um facilitador no aprendizado em si (S10).

Conforme relatam Pimenta e Anastasiou (2010), muitos professores em

nenhum momento de sua trajetória se perguntaram o que realmente era ser um

professor, mas “dormem profissionais e pesquisadores e acordam professores” e o

que trazem na bagagem são somente informações relativas à sua experiência

profissional. As autoras problematizam essa questão salientando que somente a

experiência profissional não é suficiente para o exercício da docência.

. Na maioria das instituições de ensino superior, incluindo as universidades, embora seus professores possuam experiência significativa e mesmo anos de estudos em suas áreas específicas, predomina o despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula. Geralmente os professores ingressam em departamentos que atuam em cursos aprovados, em que já estão estabelecidas as disciplinas que ministrarão. Aí recebem ementas prontas, planejam individual e solitariamente, e é nesta condição – individual e solitariamente – que devem se responsabilizar pela docência exercida (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010, p.37).

Os alunos fazem menção ao jeito dos professores darem aula e das

diferenças existentes entre eles:

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Eu acho que uma coisa que faz [...] ajudaram muito o jeito que um ou outro professor dava aula, tem sempre aquele que a gente não consegue ter identificação, olhar para ele e captar o que ele está falando, acho que a gente usa canais diferentes [...] “Então você lembra-se da aula dele porque ele foi divertido e naquela você estava cansado, mas saía rindo, falando: Nossa, olha como ele conseguiu tirar o conteúdo de um desenho, brincando e explicar pra gente (S3).

A didática eu gostei também. É mais ou menos assim, ele (professor) vai passando, aí se você tem interesse, você se aprofunda mais [...] Então ele foge um pouco da matéria e depois volta, acho que isso também dá uma bastante ajudada. Hoje eu percebo que isso também ajuda. [...] Ele dá alguma coisa que não tem nada a ver com a matéria e volta [...] acho que isso enriquece bastante (S5).

[...] muita diferença é o professor (...) por causa da forma como o professor colocava, aí entra um pouco da didática também, isso ficava mais claro (S7).

Mesmo sem ter nenhum conhecimento no que se refere ao significado da

palavra didática, ela foi usada pelos alunos para explicitar o “método” (termo usado

pelos alunos) em sala de aula. Segundo Pimenta e Anastasiou (2010, p.66): “A

didática é uma área da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, as condições e os

modos de realizar a educação mediante o ensino”. Segue a fala de um dos

entrevistados:

[...] a didática, porque não adianta ter a experiência profissional, o conhecimento e a teoria se não souber passar isso pra gente. Então a didática complementa toda a bagagem que o professor traz pra cá. Acontece de professor conhecer muito, ter muita bagagem profissional, mas ele não consegue passar pra gente tudo aquilo (...) acho que a didática é tudo, o que realmente está fazendo a diferença (S6).

Há novos olhares para essa convivência, conforme nos diz Tapscott (2010):

Isso significa mudar o relacionamento entre alunos e professores no processo de aprendizado. Para focar no aluno, os educadores precisam abandonar o velho sistema no qual o professor ministra uma aula expositiva, a mesma para todos os alunos. Primeiro, os professores precisam sair do palco e começar a ouvir e a conversar em vez de falarem outras palavras, precisam abandonar o seu sistema de massa e adotar um sistema interativo. Segundo, devem estimular os alunos a fazer descobertas sozinhos e a aprender um processo de pesquisa e de pensamento crítico em vez de apenas decorar as informações transmitidas por eles. Terceiro, precisam estimular os alunos a colaborar entre si e com outras pessoas fora da escola. Por fim, precisam adaptar o estilo de educação aos estilos individuais de aprendizado dos seus alunos (TAPSCOTT, 2010, p.159).

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Considerando os depoimentos dos entrevistados, o papel a ser

desempenhado pelo professor em uma Pós-Graduação, é de um mediador, alguém

capaz de facilitar e de promover mudanças, alguém que estabelece com o aluno

uma relação de parceria.

4.1.4 Aluno: Capacidade da percepção e do desempenho de seu

papel

Para Masetto (2003), os alunos adultos estabelecem junto aos seus

professores uma relação de cumplicidade no processo educativo, no qual ambos

possuem responsabilidades.

Eu estou imaginando que o professor e o aluno dividem a responsabilidade do conhecimento no final da história aqui (S6).

Ao ter uma nova representação de professor o aluno se vê obrigado a

também rever sua representação de aluno. Para Bellan (2005):

O adulto sente necessidade de conhecer; o adulto é capaz se suprir sua necessidade de conhecer por si mesmo; a experiência do adulto é essencial como base de aprendizagem; o adulto está pronto para aprender o que decide aprender; a aprendizagem para o adulto deve ter significado para seu dia-a-dia e não ser apenas retenção de conteúdos para futuras aplicações (2010, p.30-31).

Para alguns sujeitos entrevistados está clara a importância do aluno querer

aprender para que ocorram aprendizagens:

[...] o aluno tem que ter vontade de aprender... (S3).

Eu simplesmente quis aprender mais (S4).

[...] em minha opinião depende mais do aluno do que do professor (S4).

Eu dependo de uma orientação do professor, mas a busca e a responsabilidade são minhas (S5).

Realmente é um curso mais voltado pra quando você está nessa fase mais avançada profissional (S8).

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Consideram que na Pós-Graduação têm mais clareza da necessidade de

obterem determinados conhecimentos para avançarem profissionalmente e se

empenham para alcançá-los. Algumas falas reafirmam antes citado :

Aqui na Pós, você tem muito mais do seu comprometimento de você querer aprender aquilo, porque você está aqui porque você quer melhorar, você quer conhecer mais (S9).

Agora aqui é uma coisa de muito esforço pessoal meu, de correr atrás daquilo que eu quero, de esforço pessoal mesmo. De buscar, de prestar atenção naquilo que está sendo colocado de questionar mais. Talvez de pensar mais e questionar mais, não sei (S9). Já na Pós, não, foi um momento que eu decidi fazer, decidi escolher, acho que era um momento que eu queria fazer, eu tinha tempo para me dedicar, porque precisa se dedicar (S8).

[...] na verdade na graduação, eu não fui traçando (a aprendizagem), boa parte dela eu acabei empurrando com a barriga mesmo (S8). Está sendo assim, uma coisa que eu estou adorando, é que é minha primeira Pós- Graduação. Então, o que mais gosto é a diferença de uma Pós para uma Graduação (S8). Eu não tenho problema pra aprender, tendo paciência... O que acontece é que eu sou chato, pergunto. Eu odeio pesquisar, prefiro mil vezes sentar com o professor e conversar pra obter a informação rápida, não quero ter trabalho [...] Dá uma preguiça de escrever... (S1). É uma hora que eu tenho que ter aquela consciência enquanto aluno de que ele me deu o caminho, a minha hora agora é de ir pescar, porque eu posso correr ao professor de novo em caso de dúvida, (S3).

A meu ver, cabe mais ao aluno a busca, em cima daquilo que ele (professor) orientou do que realmente ele (professor) passar alguma coisa efetivamente (S4).

[...] quanto mais bagagem, além da orientação, o professor conseguir passar mais fácil fica a busca do aluno (S4).

Segundo Bellan (2005), entende-se que o facilitador é quem cria um ambiente

propício à aprendizagem por meio de mecanismos específicos para tal, estimulando

seus aprendizes. Nessa perspectiva, prevê-se uma circulação de conhecimentos nos

espaços escolares e a figura do professor é facilitar e organizar essa circulação.

Entende-se que neste processo o aluno tem uma participação fundamental a

exercer, conforme afirma Nogueira (2009, p.81): “Por outro lado, o aluno também

necessita desenvolver ações conscientes no que diz respeito ao seu papel na

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parceria entre ele e o professor ou entre o ensino e a aprendizagem, já que um

depende do outro neste processo.”

Por vezes o aluno não se interessa por esse tipo de mediação e não tem

interesse em adquirir novos conhecimentos. Os alunos teceram comentários a esse

respeito:

O professor é assim, também eu acho, que se ele vê que ele dá tudo de si e o aluno não aproveita, ele sabe que algum aluno vai... sei lá.... algum aluno vai aproveitar, algum aluno vai usar aquilo para o bem (S3).

Tem horas que o professor vai ter aquela parte de “vou explicar, não importa se o aluno está interessado ou não (S3).

Masetto (2003), referindo-se aos alunos diz: “só eles poderão “aprender,

ninguém aprenderá por eles”. Os sujeitos entrevistados compartilham dessa

percepção consideram a participação do aluno é fundamental para que haja

aprendizagem, nenhum professor, por melhor que seja, pode garantir que seus

alunos aprendam. Assim, Masetto afirma:

Estou afirmando que o aluno do ensino superior, desde seu primeiro ano de faculdade, é capaz de iniciar e desenvolver um relacionamento adulto com seus professores, o qual se caracteriza por assumir com responsabilidade o processo de aprendizagem (MASETTO, 2003, p.52).

Outro aspecto que se fez presente nos relatos dos alunos diz respeito ao fato

deles terem que assumir os custos de sua formação, aspecto inerente aos

compromissos da vida adulta. O aluno adulto que investe financeiramente na

realização de um curso de pós graduação tende a valorizar mais o conhecimento

que está sendo disponibilizado:

No meu caso, que eu pago do meu bolso, não faltei nenhum dia na aula, faço questão de virem todos os dias e cumprir o horário (S6).

As exigências do mundo do trabalho como: reuniões extras, viagens, cursos

paralelos, e também, as implicações de se viver em uma megalópole, como a cidade

de São Paulo, em muitos momentos, para os sujeitos entrevistados, foram

percebidas, por dificultar sua aprendizagem:

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Então tem algumas coisas que eu realmente não tinha antigamente, eu não tinha essa preocupação de me cobrar tanto. Hoje eu me cobro mais porque eu tenho pouco tempo pra me dedicar ao que eu gostaria de fazer... (S3).

[...] eu esperava ter me dedicado mais, isso é mais por minha parte mesmo (S4).

Você chega esgotado, mas mentalmente, não psicologicamente, do que fisicamente... Trabalho excessivo (S6).

Nesta perspectiva, para Tapscott (2010), os alunos esperam se deparar com

conhecimentos relevantes para sua vida profissional:

Os jovens que cresceram em um ambiente digital esperam por responder, conversar. Eles querem uma opção em sua educação em relação ao que, quando e como aprendem. Querem que sua educação seja relevante para um mundo real, o mundo que vivem. Querem que seja interessante e até divertida (p.156).

Os entrevistados consideram a participação do aluno no processo de

aprendizagem um dos fatores determinantes para que ele obtenha êxito. A decisão

de voltar à sala de aula é unicamente do aluno adulto, embora muitos fossem

pressionados por suas atividades profissionais, mas a escolha do melhor momento

para iniciar esta nova trajetória e do curso a fazer cabe a ele. O professor estabelece

parâmetros e metas para traçar um novo caminho de aprendizagem, mas cabe a ele

conduzir seu processo de aprendizagem.

4.1.5 Interação: Relações de convivência e troca entre alunos e

professores

Com base na análise das relações e interações ocorridas em sala de aula foi

possível destacar duas palavras significativas e relevantes para os alunos: vivência

e troca. Segundo Dubar (2005):

É no contato direto de si com o outro, o mundo e si próprio que um sujeito retira saberes da sua experiência: é ele que aprende a lidar com as pessoas e com as coisas, construindo sua experiência, incluindo dele próprio (p.154).

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A sala de aula, na Pós-Graduação Lato Sensu, é um ambiente propício para

troca de experiências, principalmente as relativas aos interesses profissionais..

Como nos diz Placco e Souza (2006):

O meio social, em que se articulam significados e sentidos, é produto das interações entre sujeitos, que criam uma organização com características próprias de linguagem e cultura. Resulta daí a ideia de que somos produtores da sociedade, que nos produz como sujeitos, em um movimento dialético e permanente (p.44).

Foi notória essa percepção por parte dos alunos:

[...] é, muda um pouco, quando a gente é menor, a gente conversa só com os colegas de sala. Depois que você vai pra empresa e você está num curso de pós, você fala “olha, mas meu professor falou isso”, tem uma interação legal, que você faz com outras pessoas, que quando você está fazendo estágio, ninguém sabe (S3). [...] a gente começa a fazer algumas perguntas e alguém às vezes também inclui sua experiência. Acho que essa parte que ajuda a gravar mais, que ajuda a entender melhor (S5).

[...] o network com os alunos também. Acho que o que me marcou mais foi à vivência (S9).

As experiências relacionais são significativas para o aluno adulto, e fazem

parte dos processos de aprendizagem.

Para Masetto (2003):

Como para nós o processo de aprendizagem é um processo de mudanças que os aprendizes constroem mediante pesquisas, trocam de experiências, ideias e vivências, e por meio de abertura para diversas situações novas surgidas entre eles (p.55).

Ao longo do curso essas interações se solidificam, facilitando uma maior

aproximação entre os alunos. Diferente da Graduação, que em média tem duração

de quatro anos, as relações de interação entre os alunos no curso Lato Sensu têm

um tempo mais reduzido, de apenas um ano. Notou-se, no entanto, que o menor

tempo de convívio, não dificultou o estabelecimento de relações enriquecedoras,

pautadas em troca de experiências profissionais, que foram ali estabelecidas e

cultivadas.

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O professor é um elemento importante neste processo relacional, ele pode

facilitar a interação por meio das dinâmicas em sala de aula. Fica evidente

também que a boa relação existente entre aluno e professor é um fator relevante

nos processos educacionais, como afirma Imbernon (2011):

Os docentes precisam desenvolver capacidades de aprendizagem da relação da convivência, da cultura do contexto e de interação de cada pessoa com o resto do grupo, com seus semelhantes e com a comunidade que envolve a educação (p.19).

Vários fatores fazem parte deste processo, não podendo ser analisados

isoladamente.

[...] se não tem o professor falando, se não tem interação e se eu não posso perguntar, não quer me dizer muito [...] Nesse ponto o professor tem que atuar, ver aquela cara de dúvida do aluno e chamá-lo para conversar. Nesse eu acho que é o melhor momento para o professor conversar com o aluno (S1). Então, eu acho que a hora que o professor tem essa união com o aluno, de ver aquele ali não entendeu, ele vai lá e tem essa conexão com a gente, nossa aí flui que é uma maravilha (S3).

Segundo os alunos a sala de aula, na Pós-Graduação Lato Sensu, configura-

se como um ambiente propício para troca de experiências, principalmente as de

caráter profissional, na medida em que ela é composta por alunos em diferentes

fases e com trajetórias da vida pessoal e profissional diversificadas, mas, unidos por

meio de objetivos comuns. Mediante contatos entre colegas, professores e trocas

de experiências a respeito do mundo do trabalho, vão se construindo vínculos

pessoais e profissionais que possibilitam aos participantes criar uma rede de

relações que os amparam em momentos que necessitam de apoio.

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4.2 Análise e interpretação dos desenhos dos Sujeitos

Além dos depoimentos dos entrevistados, contamos também com a análise

dos desenhos realizados por eles. Após as entrevistas, os sujeitos de pesquisa

sintetizaram seus depoimentos por meio de imagens que foram inicialmente

analisados e interpretados por eles.

Esses desenhos, assim como as falas, rementem aos eixos que serviram de

fios condutores para análise dessa pesquisa. Observando cada imagem, foi possível

ampliar a compreensão e o entendimento a respeito da percepção que têm dos

processos de sua aprendizagem, objetivo principal dessa pesquisa.

Os sujeitos foram entrevistados individualmente, conseqüentemente, os

desenhos foram realizados, apenas na presença da pesquisadora. É importante

destacar que algumas imagens de certa forma se aproximaram.

Os sujeitos de pesquisa S(1), S(3) e S(5), representaram professor, aluno e

conhecimento por meio de círculos justapostos que criaram zonas de intersecção.

Dois deles, S(3) e S(5), localizaram em seu desenho a região na qual ocorre a

aprendizagem utilizando a cor, enquanto outro S(1), não quis utilizar cores alegando

não querer “dar margem para outras interpretações”, conforme é possível observar

a seguir:

Figura 1 – Sujeito 1

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Figura 2 – Sujeito 3

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Figura 3 – Sujeito 5

Esses desenhos expressam a percepção que os sujeitos têm a respeito das

relações existentes entre os três elementos representados. No desenho do S(1) e

do S(3) os círculos representando os eixos professor, sujeito e conhecimento,

aproximam-se no que se refere à proporção. Já no do S(5), segundo ele, o

conhecimento foi representado por um círculo maior por se entender ser ele o

elemento principal do processo de aprendizagem, o professor aparece como um

mediador entre o conhecimento e o aluno que por sua vez foi representado pelo

menor círculo.

Já os sujeitos de pesquisa S(4), S(7) e S(9), escolheram somente uma cor

para realizar seus desenhos e não atribuíram a ela nenhum sentido.

Figura 4 – Sujeito 4

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Figura 5 – Sujeito 7

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Figura 6 – Sujeito 9

Para o S(7), que representou o professor e aluno por meio de retângulos e o

conhecimento por uma via de mão dupla representada por uma flecha com duas

pontas que está localizada mais próxima do professor. .

O S(2), também usou apenas uma cor. Representou seu processo de

aprendizagem por meio de uma escada. Para ele, o conhecimento está no topo e

cabe ao aluno chegar até lá. O professor, nomeado de “mestre”, já percorreu esse

caminho e por isso está afastado do aluno e do conhecimento, sendo alguém que

faz mediações indicadas pelas flechas que aparecem no desenho.

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Figura 7 – Sujeito 2

Na imagem produzida pelo S(6), houve detalhamento no uso das cores, por

meio delas, ele se preocupou em expressar os fios condutores do desenho. O

conhecimento, para ele, é acessível a todos, ele atribui igual importância ao aluno e

ao professor nos processos de aprendizagem.

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Figura 8 – Sujeito 6

Os desenhos abaixo, produzidos pelos sujeitos S(8) e S(10) assumem

características semelhantes, foram mais detalhados e ambos utilizaram a chuva

como forma de representar o conhecimento.

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Figura 9 – Sujeito 10

Para o S(10), houve uma preocupação em colocar o aluno e o professor

dentro de duas linhas paralelas identificando a aprendizagem, como uma via a se

percorrer, palavras do próprio sujeito, e é possível notar que tanto aluno e professor

são parceiros nesta caminhada. Ligados por uma linha em formato de um triângulo,

ambos recebem a “chuva” que representa o conhecimento.

Já o desenho do S(8) se destaca pelo uso das cores e pelo detalhamento de

informações.

Figura 10 – Sujeito 8

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O professor ganha um papel mais destacado que o aluno no processo de

aprendizagem, sendo ele o detentor de um conhecimento profundamente articulado

com o mercado de trabalho, com a empresa e a prática profissional. A chuva

também foi utilizada para representar o conhecimento, porém é o professor

possibilita que a chuva ocorra.

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Considerações Finais

Na verdade, o inacabamento do ser humano ou sua inconclusão é

próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento.6

(PAULO FREIRE)

Buscou-se com este trabalho investigar a percepção dos alunos que

freqüentam cursos de Lato Sensu na Área da Tecnologia da Informação a respeito

de seus processos de aprendizagem. Para isso, foram estabelecidos diálogos

teóricos com autores que discutem o que significa ser adulto hoje e como esse

adulto se insere social e profissionalmente, nas sociedades contemporâneas

Abordou-se o papel da aprendizagem e da formação continuada nos novos

contextos sociais e como a Pós-Graduação em Tecnologia da Informação se

configura nesses contextos.

Com base na leitura inicial dos dados, coletados por meio das entrevistas e

desenhos realizados por sujeitos que cursam Pós-Graduação em Tecnologia da

Informação, foi possível eleger alguns eixos que direcionaram a análise dos dados:

.

Os sujeitos de pesquisa salientaram que, para ocorrer aprendizagem, é

necessário haver:

• Relação entre o mundo do trabalho e os conteúdos aprendidos.

Os alunos que freqüentam os cursos de Tecnologia têm clareza da importância

de se manterem atualizados, caso contrário, rapidamente, se tornarão “dinossauros’

como relatou um dos sujeitos. Existe uma incerteza constante nos contextos

profissionais e os alunos entrevistados sabem que necessitam se atualizar

constantemente para se manterem inseridos no mundo do trabalho. Para isso

buscam cursos que os instrumentalizem para lidar com as questões que emergem

em suas práticas profissionais.

6 Pedagogia da Autonomia, 1996.

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• Professores que tenham experiência profissional e atuem como mediadores

entre os alunos e os conhecimentos.

Considerando os depoimentos dos entrevistados, o papel a ser

desempenhado pelo professor em uma Pós-Graduação é de mediador, alguém

capaz de facilitar e de promover mudanças, alguém que estabelece com o aluno

uma relação de parceria. Os alunos valorizam o professor, capaz de disponibilizar

sua experiência e conhecimento e discutir as questões que emergem nos contextos

de aprendizagem, ao contrário do professor que transmite o conhecimento a partir

de exposições teóricas.

• Alunos capazes de perceber e desempenhar seu papel.

Os entrevistados consideram a participação do aluno no processo de

aprendizagem um dos fatores determinantes para que se obtenha êxito. O professor

estabelece com parâmetros e metas de aprendizagem, mas cabe ao aluno traçar

seu caminho e conduzir seu processo de aprendizagem.

• Interação, convivência e troca entre alunos e professores.

Segundo os alunos a sala de aula, na Pós-Graduação Lato Sensu, configura-

se como um ambiente propício para troca de experiências, aprendizagens e

principalmente as de caráter profissional. Mediante contatos entre colegas,

professores e trocas de experiências a respeito do mundo do trabalho vão se

construindo vínculos pessoais e profissionais que possibilitam aos participantes criar

uma rede de relações que os amparam em momentos nos quais necessitam de

apoio.

Espera-se que os dados de pesquisa possam contribuir para uma maior

compreensão a respeito dos processos de aprendizagens de alunos adultos que

retornam as universidades em busca de formação continuada por meio de cursos

de Lato Sensu.

Algumas dimensões da aprendizagem de adultos foram exploradas e

aprofundadas, mas considera-se importante que novos estudos sejam realizados

nessa direção, pois a revisão de literatura apontou para a escassez de pesquisas a

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respeito desse tema que se torna cada vez mais importante nas sociedades

contemporâneas.

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ANEXOS – Transcrição das Entrevistas

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ALUNO S(1) – SOA A primeira pergunta fala assim: você é do curso de...?

SOA.

Houve alguma mudança profissional relacionada ao curso? Teve alguma

mudança?

Nenhuma, professora, infelizmente. Eu percebi que até pode ser diferencial numa

entrevista para cortar outros candidatos, mas eu...

Não, não, não tem problema. Isso é um dado, isso pra mim é um dado.

Mas não me deu promoção nenhuma, vantagem nenhuma.

E a sua atuação profissional hoje tem a ver com a sua pós?

Tem, porque como eu sou apaixonado pela área, então eu fiz o curso superior em

ciências da computação e segui a pós em engenharia de software. Então eu sempre

busquei trabalhar na área, mas não é por causa da pós que eu caí na área. É

porque desde a faculdade eu busquei estágio, corri atrás, pois senão não estaria

trabalhando com infra, ia estar no tele atendimento, qualquer coisa. Se o “cara” não

corre atrás, não adianta o curso que ele faz.

Então assim, o que levou você a procurar o curso?

Porque eu gosto demais... (risos). Tanto profissionalmente quanto academicamente

eu gosto do que eu faço, então eu quis estudar.

Como o curso está relacionado com o seu mundo do trabalho?

Olha... as vezes me causa problema. Como eu gosto do assunto, as vezes eu vejo

que está sendo alguma coisa feita de uma maneira não muito boa. Eu gosto de

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sugerir uma maneira melhor e as vezes acaba sendo muito acadêmico. “Não, não

vamos nos prender nisso” ou “Vamos fazer de uma maneira mais dinâmica”.

Você sente que existe algum diferencial o fato de você estar cursando? É

diferente de outros amigos de trabalho que não tem um curso de pós na área?

Olha, sim e não. A vantagem da pós é que eu tenho uma visão mais ampla da área

de TI, então eu consigo ver o processo da criação do software, o processo da

empresa de software como um todo, eu vejo a integração entre as áreas, vejo meu

papel dentro da empresa e qual é o meu valor dentro da empresa. As vezes eu creio

que os meus colegas não têm a noção dos outros componentes do processo, eles

fazem o trabalho deles, quase autônomos (risos), sem ver o processo como um

todo. Espero que no futuro isso me valha um cargo de gerência, porém, atualmente

não me vale nada.

Quem custeia o seu curso?

Eu que banquei tudo.

Já pensando no curso e nas disciplinas, o que foi mais significativo pra você?

O aprofundamento, porque às vezes o ensino superior não cobre toda a área de

conhecimento necessária. Quem fala que não é válido fazer uma pós na mesma

área de formação, por mim, tem que estar errado, porque o ensino superior não

cobre todo o conhecimento necessário e a pós acaba complementando esse

conhecimento para quem está interessado. Para quem quer ficar no “feijão com

arroz”, dá muito bem.

E o que foi mais significativo pra você dentro do curso? Por exemplo:

conteúdo, professor, didática, vivência...

Olha, eu acho que foi a experiência de conhecer outros profissionais e os

professores daqui eram muito bons, pelo menos na minha época, eles foram

mudando. Eram vários consultores, um pessoal super conceituado e muito “fera”.

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Eles sabiam ensinar a disciplina de uma maneira profissional, “Quando a gente está

fazendo é assim que a gente faz” ou “Isso está correto com a teoria, dá pra fazer

assim ou dá pra fazer ‘assado’”. Então além do conteúdo, vinha a malícia embutida e

isso era fantástico, embora não seja todo mercado que esteja preparado para

receber isso, então acaba rolando um ‘gap’ de conhecimento entre um aluno pós-

graduando e o mercado. Você cai no mercado e você vai fazer “feijão com arroz”,

porque é o que todo mundo consegue fazer. Se você quer fazer fora do “feijão com

arroz”, você tem que ou capacitar essas pessoas com o seu conhecimento, que as

vezes elas não estão aptas ou não estão abertas à isso, ou você tem que se

submeter a se nivelar por baixo. Você nunca consegue nivelar as coisas por cima,

pelo menos eu tenho essa dificuldade.

O que mais facilitou a sua aprendizagem durante o curso?

Eu sempre tive facilidade pra aprender. Eu não fazia lição, a prova era “bico” pra

mim, então não teve assim algo que fosse complicado, é que eu gosto demais...

Talvez o fato de você se identificar com a disciplina...

Pode ser, pode ser...

Mas você acha que existe alguma coisa que auxilia você na sua

aprendizagem? Você consegue identificar?

Não... (risos). Eu odeio escrever, eu gosto muito de conversar. Quando eu sento pra

ter um bate-papo com um professor eu acho que eu aprendo muito mais do que ficar

assistindo aula. Às vezes eu pego um ‘Power Point’ e na aula faz todo o sentido pra

mim. Se não tem o áudio, se não tem o professor falando, se não tem interação e se

eu não posso perguntar não quer me dizer muito. O que aconteceu, é que como eu

tive um ‘gap’ pra fazer a monografia da pós-graduação, eu tive que resgatar o

material, pra pesquisar e buscar referência, essas coisas. Eu olhava pro Power Point

e pensava “entendo desse assunto, entendo desse gráfico, mas não quer me dizer

muito”. Eu tinha que pegar outra referência e dar uma lida, aí quando voltava pro

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gráfico e via que tava faltando informação, informação que o professor falou na aula,

entendeu?

E o que você sente que mais dificultou sua aprendizagem durante o curso?

O trânsito, a correria, o próprio serviço. Eu tinha que ficar até tarde no serviço e aí

saía correndo pra cá, chegava atrasado, o trânsito me fazia chegar atrasado. Não

tinha pique para fazer as matérias, porque eu saía cansado de lá e chegava aqui,

chegava em casa eu queria jogar tudo longe, entendeu? Não queria fazer nada

(risos).

Agora no final do curso, você já terminou, você conseguiria assim identificar o

caminho que você traçou para aprender? Você consegue identificar?

O caminho que eu tracei? É que eu tive sorte de ser meio que um paralelo a minha

carreira com o meu estudo em TI. Porque como eu comecei na área de Infra, que

era a parte de potência de computador e montagem de computador, eu fui

conhecendo TI de “cabo à rabo”. Eu parti da montagem da manutenção do

computador, depois para a manutenção do software, que depois eu passei para uma

rede pequena, para uma rede coorporativa . Depois eu quis desenvolvimento, fui

trabalhar com desenvolvimento e desenvolvi aplicação para um RP. Nesse RP eu

viajei para Portugal, comecei a atuar como analista de sistemas e como um gerente

de pacotes. O que aconteceu é que eu comecei a ver que ia ficando maior, eu queria

mais (risos). Quando eu voltei para o Brasil, eu falei “quero fazer uma pós, tem

espaço?” e aí “Não, você tem horário, você tem que voltar pra Portugal”. Aí eu,

“vocês vão me dar um aumento?” e disseram que não. Aí vem aquela parte de ter

conhecimento profissional, entendeu? Eles não compensaram meu não aprender

com um aumento. Aí nisso, eu falei “então, tchau”.

Nisso, eu fui fazer uma entrevista em outra empresa muito grande e eu passei na

entrevista de primeira, me chamaram e eu fui trabalhar lá. Enquanto eu trabalhava

na (...), eu vim fazendo essa pós. Era uma correria, era um cliente muito grande

financeiro e deu uma canseira pra fazer a pós. Eu saía do Alphaville pra chegar em

São Paulo .

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Nesse meio tempo eu comecei a fazer o MBA. Bem no fim do curso, em agosto de

2008, a empresa que eu estava ofereceu um MBA da(xxx) . “Você quer fazer MBA

da (xxx)?”, eu falei “Quero.” Mas é que a empresa ofereceu pra uso dos funcionários,

tava lá, quem quisesse fazer se matriculava e fazia. Não tinha critério nenhum de

seleção também, chegava lá e fazia. Eu topei, comecei a pagar o curso da(xxx) ,

comecei a fazer. Só que o que aconteceu é que eu me desliguei dessa empresa que

eu estava e perdi o curso da(xxx) e pela metade eu não consigo retomar (risos).

Geralmente a empresa faz isso também. Ela direcionou o seu estudo até um

certo ponto.

Sim...

Teve alguma diferença entre o caminho que você traçou em cursos anteriores?

Dando um exemplo, na sua graduação e agora? O que você sente de

diferença? Ou não teve diferença?

Na minha área profissional ou...

Não, alguma diferença, o caminho que você traçou...

Meu plano?

O caminho que você traçava na sua aprendizagem na graduação, ou de algum

outro curso para agora? Que você já está mais maduro, que você já está

trabalhando na área.

Não... Era exatamente esse. Inclusive o MBA em Gestão de Empresas já estava

meio que engatilhando, eu pensava em fazer. Talvez se não for fazer uma pós aqui

em Banco de Dados, eu vou tentar fazer ‘pegar’ , pra fazer Gestão de Empresas.

Ou eu venho para técnica ou eu vou para gestão, de qualquer jeito, eu já tenho este

plano faz tempo, desde a época da faculdade.

Na sua época de faculdade, de graduação, como que você definiria que você

aprendia mais na graduação ou aprendia menos agora?

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Eu não tenho problema pra aprender, tendo paciência... O que acontece é que eu

sou chato, pergunto. Eu odeio pesquisar, prefiro mil vezes sentar com o professor e

conversar pra obter informação rápida, não quero ter trabalho (risos). Mas eu não

tenho dificuldade pra assimilar essa informação depois, eu posso acabar

esquecendo mas pra relembrar é muito rápido.

Então você acha que você é mais pra visual, mais pra escrita, mais pra oral...

Escrita de forma alguma. Mesmo quando tem que fazer ata de reunião, minha ata

mais parece uma (termo técnico) do que uma ata. Sabe aquele diagrama? Mais

parece aquilo do que uma ata, porque são frases soltas, pequenas orações. Se você

está conversando, você tem que anotar muito rápido, não dá pra pegar. Então você

pega blocos chave de informação, joga, depois você senta, lê aquilo, processa e tira

uma ata daquilo lá, e mesmo assim eu acho chato.

Você pode ir respondendo alto aquilo o que você já falou...

Vivência com outros profissionais. Me dá uma preguiça de escrever (risos)...

Isso impressiona mesmo onde eu trabalho. Eles só pegam os analistas e todos eles

têm pós-graduação, você vê a diferença no perfil do pessoal. Tem aquele que gosta,

que está mais perto da área técnica e tem aquele que está mais para a área de

negócios, mas não porque ele tem tendência pra área de negócios, ele não conhece

disciplina de modelagem de processo, não conhece nada à fundo. Não conhece de

administração, porque é muito difícil pra ele, então ele se atem à parte mais

superficial da coisa, é muito triste.

O próprio mercado de trabalho vai direcionando, não é?

“O que mais facilitou sua aprendizagem durante o curso?” Sempre tive facilidade.

Mas sobre o que facilitou, de repente é o contato e a interação com o

professor. Isso pode ser algo que te facilita. Mais facilita essa interação do que

o Power Point.

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Sabe o que já aconteceu? Eu já fiz EAD, pequenos cursos, e eu não tive dificuldade

pra tocar o EAD, o material estava muito bem elaborado. Tem um espaço até pra

você tirar dúvida com o professor, essas coisas. Eu peguei o material e entendi,

nesse ponto eu me viro sozinho, quando eu estou interessado, faz uma bela de uma

diferença.

Porque aí você falou a palavra-chave, que aqui na pós você tem...

Tem que ter gosto pela coisa, nem que seja pra você colocar no seu currículo e

conseguir um emprego por aí (risos).

Eu sou uma pessoa com um círculo completo...

Como chama esse que você falou?

Diagrama de (termo técnico). São várias esferas que vão se sobrepondo,

demonstrando o quanto uma coisa é importante em relação à outra. Quanto à

intersecção desses círculos, a maior mais importância, mais coisas em comum elas

têm. Então foi o melhor diagrama que eu pensei para exemplificar isso. Qual que é a

idéia? Então eu peguei a minha pessoa, peguei o conhecimento e falei “olha, tenho

X conhecimento”. Desse conhecimento, tanto foi facilitado pelo professor e tem um

trecho que é só a minha interação com o professor, que foi para facilitar o meu

aprendizado.

E qual desses 3 você colocaria como maior importância?

Olha o ego falando... Sou eu, é lógico (risos). Não, eu estou brincando.

Eu acho que a pessoa tem que buscar o conhecimento, mas chega em certos

marcos do conhecimento que se você não tiver um facilitador, você vai ficar... Ou

você estaciona ou você pega uma concepção errada do conhecimento. Nesse ponto

o professor tem que atuar, ver aquela cara de dúvida do aluno e chamá-lo pra

conversar. Nesse eu acho que é o melhor momento para o professor conversar com

o aluno.

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E a sua aprendizagem aí no meio?

É que como eu já tenho uma bagagem profissional e pessoal, então facilitou muita

coisa. Eu conseguia conversar com o professor num patamar um pouquinho melhor,

eu não perguntava “o que” à tudo. Eu já estava no ‘como’, no ‘quanto’, no ‘quando’, e

não mais no ‘o que’. Não tinha mais que saber qual é o formato da coisa, e sim como

usar, qual é a melhor maneira de usar, como funciona.

Então entre a sua aprendizagem você acha que facilitou pelo seu

conhecimento prévio ou pelo professor?

É eu difícil eu responder por que tem aqueles marcos, tem a novidade que vem com

a pós-graduação, que as vezes tem um assunto que as vezes você até tem uma

noção do que é, mas se alguém não te dá aquele “empurrãozinho” pra te orientar, eu

não teria saído do lugar. O professor é importante, ou um material extremamente

completo que consiga substituir o professor, mas é muito difícil a pessoa ter a força

de vontade de fazer esse material e a força de vontade do aluno de ler esse

material. A comunicação oral é muito importante.

E a aprendizagem nisso tudo? Como você definiria? Sua aprendizagem com

relação ao desenho que você fez.

Como assim aprendizagem com relação ao desenho?

Esse desenho que você fez: o conhecimento, você e o professor. E a sua

aprendizagem? Não o conhecimento prévio, a aprendizagem. Onde que ela

entra no meio aí? O que você entende desses 3?

A bagagem de conhecimento que eu já tinha facilitou eu assimilar o conhecimento,

me facilitou a buscar o conhecimento do professor. Porque se ele fica “lá na dele” e

eu fico “aqui na minha”, eu não vou conseguir buscar se não tiver o mínimo, pra

poder perguntar para ele. Se eu não tiver interesse, uma pequena bagagem, eu não

consigo.

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A idéia da canetinha? Eu achei que a canetinha colorida poderia levar a várias

interpretações do meu desenho. Eu optei por uma cor neutra, que facilitou, então eu

resolvi simplificar tanto pra mim quanto para quem fosse interpretar o desenho, eu

peguei uma cor só.

E por que a cor preta?

Por que a cor preta? É neutra! Para não ter interpretação nenhuma sobre a cor, só

sobre o gráfico.

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Aluno S(2) – SOA Pode falar.

Seria mais ou menos assim. Eu coloquei o mestre não no mesmo nível do aluno,

mas ele é uma pessoa que sabe como você tem que chegar lá. Só que às vezes ele

não está num patamar que seria do conhecimento, mas ele sabe como chegar ao

conhecimento. E o aluno, ele vai percorrendo como se fosse uma escada. Por que

eu vejo como uma escada? Tem horas que ele olha o objetivo que ele tem que

chegar e ele não vê resultado. Aí de repente numa hora ele dá um salto gigantesco,

só que esse é o ponto, ele nunca poderia parar. Porque se ele para, essa parte aqui

que seria a “start”, que ele não vê resultado, as vezes é a parte que ele está

aprendendo.

Por isso que eu, assim, é o jeito que eu vejo, eu vejo como se fosse uma escada,

que o aluno vai construindo até que ele chega no conhecimento ou objetivo, eu vejo

também, mas até onde ele acha que tem que chegar. O mestre só vai orientando ele

os pontos que ele... Talvez o mestre seria uma pessoa que já percorreu essa escada

alguma vez.

E essa escada pra você significa o que?

Essa escada seria, por exemplo, uma aula. Então eu estou numa aula, o professor

vem e explica pra gente, aí vamos fazer um exercício. Talvez esse círculo da aula: o

exercício, volta pra aula, volta pro exercício... É o jeito que você anda nessa escada.

Você está falando por você. É assim que você...

É assim que passa pela minha cabeça as coisas.

E nessa escada, o degrau dela seria sempre do mesmo tamanho?

Não, nunca é.

Por que não?

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Talvez a escada no começo seja fácil, mas conforme você vai subindo, talvez os

degraus sejam menores e talvez esse trecho aqui seja mais longo. Mas no começo

pode ser que o degrau seja bem alto.

Se fosse para dar um nome para essa escada, que nome você daria pra ela?

É difícil. Olha, eu acho que seria “O Aprendizado” que eu daria o nome da escada.

Então me explica de novo por que você relacionou o aprendizado com a

escada e onde entra o professor aí no meio?

Por exemplo. Assim, eu fiz o concurso de matemática e eu gosto muito de tocar

piano. O que acontece, vamos supor que seja no piano. No piano, às vezes tem uma

passagem difícil. O mestre, ele vai falar para você como que é o dedo, porque ele já

sabe como é a posição dos dedos, mas você não sabe os dedos, então ele vai te

falar “faz de tal jeito”. E aí você sobre o degrauzinho a hora que você tenta executar

o que outra pessoa vivenciou. Por isso que assim, é o que eu vejo, o autodidata ele

tem mais dificuldade porque ele fica martelando em cima do mesmo lugar e às vezes

demora muito mais tempo para perceber o que a pessoa falou “não, é só fazer

assim”, e a pessoa as vezes não percebe. Ou tem o jeito, posição da mão, coisa e

tal.

A matemática é bem parecida também. Quando você começa a fazer a acho que,

por exemplo, a alfabetização com adultos, você ensina a fazer contas acho que de

maneira rápida. Mas aí quando você começa a freqüentar a faculdade, você vê que

os problemas vão ficando muito difíceis e você vai vendo que o degrau assim com

relação talvez à outra pessoa, é minúsculo.

Nessa figura que você colocou o aluno, então você se enxerga nesse aluno? O

que você desenhou.

É, me enxergo aqui. Assim, toda vez que eu fui fazer um curso, mesmo que eu não

executei os passos direitinho, eu sempre me vi percorrendo, por exemplo, uma

escada, seria assim. Como se fosse uma escada.

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Então, pra mim assim, eu tive dificuldade em saber qual cor usar. Não sei, porque,

assim, eu sei que cada cor deve representar uma coisa no inconsciente de cada um.

Então pode ser que pra mim surgiu essa dificuldade.

E que cor você escolheu?

Eu escolhi verde. Mas assim, foi aleatório, mas acho eu senti a dificuldade no

começo porque talvez eu queria me expressar de algum jeito, talvez isso me

dificultou.

O fato de usar a canetinha? E se eu tivesse dado uma cor?

Se me desse uma cor, talvez eu faria o mesmo desenho, mas eu não teria

dificuldade de escolher uma cor. Eu estava pensando em qual, escolher a melhor cor

para representar no desenho.

E você achou que o verde ficou legal?

Achei que ficou legal, assim, achei que ficou legal. Mas pra mim, num primeiro

instante, achei que ficou difícil.

De escolher?

De escolher qual caneta pegar.

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Aluno S(3) – SOA Deixa eu te perguntar primeiro, primeira coisa. Qual a sua atuação

profissional?

Eu sou analista de sistemas.

E você trabalha aonde?

Eu trabalho no(xxx) . Eu retornei a trabalhar lá há três anos. Ao total eu estou lá

desde 2002, mas eu já saí, trabalhei em outras empresas fora e retornei agora.

Quais cursos você fez ao longo da sua trajetória? De graduação em diante...

Eu fiz tecnologia em 1993, comecei em 1993. Fiz um curso na (xxx) ali perto da

Estação da Luz, um curso mais antigo. Depois que eu terminei o curso eu comecei

a trabalhar como desenvolvedora de sistemas. Comecei a fazer curso da(xxx) ,

esses de certificação. Tinha muito problema com o inglês porque a gente até tem o

inglês, mas não tinha o inglês pra fazer uma prova, compreender direito o que

estava sendo questionado e poder responder. Fazer a gente fazia, mas responder a

questão eram “outros quinhentos”. Aí ao longo do tempo eram muitos cursos da

(xxx) pra poder desenvolver e um curso ou outro de inglês pra aprimorar. Depois que

eu terminei de fazer esses cursos , eu comecei a trabalhar muito. Aí em consultoria

você fica quase que 15, 16 horas à disposição deles. Então era pouco tempo de

sono, muita distância de casa e trabalha, trabalha, trabalha, trabalha...

E o que fez você procurar o curso de pós?

Então, essa história de ficar trabalhando à disposição da empresa quase que 15, 16

horas. O fato de sair de uma empresa grande e ir pra outra consultoria. Eu saí

do(xxx) num determinado momento e fui para uma consultoria e falei “nossa, o

mundo lá fora mudou, se eu precisar me realocar no mercado de trabalho, eu estou

desatualizada, o mundo está mudando e eu estou ficando estagnada”. Não era isso

que eu queria para a minha vida, não é só o dinheiro, queria também conhecer o

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que acontece, ter a visão do mundo lá fora, poder efetivamente fazer um curso no

exterior, mas eu não tenho a possibilidade econômica para fazer. Toda vez que eu

tentava uma impossibilidade econômica me brecava, não daria pra pagar. Aí

finalizou os três anos que eu tinha pedido demissão do (xxx) e eu consegui pegar o

fundo de garantia. A hora que eu consegui pegar meu fundo de garantia eu achei

que era o momento de eu fazer o curso. Aí eu me inscrevi aqui e comecei a fazer o

curso de Engenharia de Software, até pra ver o que eu podia melhorar no meu

trabalho e no que eu estava fazendo, pensando mais pra frente. De repente até

procurar um emprego numa outra empresa, me qualificar e me sentir mais “ai que

bom, não estou mais um ‘dinossauro’ dentro da área da informática”.

Você consegue atrelar o seu curso com o seu trabalho?

Consigo, porque por exemplo, lá a gente não documenta nada. E aqui, eles falaram

muito de requisitos, de documentações, o que está usando. Isso para nós, olha, é o

mínimo, eu podia fazer isso. Num trabalho inclusive, no ano passado, que eu estava

desenvolvendo, a visão do curso me ajudou a falar “nossa, olha, mas se eu for

documentando igual eles estão falando aqui, ainda que eu não faça os passos como

os acadêmicos estão me dizendo, mas que eu faça uma parte, porque eu sempre

vivi sem a outra, mas que eu faça uma parte”. Hoje, é um grande auxílio, porque eu

estou deixando um protejo na mão de uma outra pessoa e eu falo pra ela que o que

ela precisa saber está nessa documentação, é um manual, um descritivo, passo a

passo, sabe? Não é 100% como um acadêmico me passou aqui, como os nomes

(termo técnico) como o pessoal falou aqui, mas é algo que vem dali, simplificou

minha vida. Então eu consigo mudar de áreas e consigo pegar coisas novas para

fazer. Parece que dá um ânimo maior na gente, o fato de você voltar a estudar, leva

ao “olha, poderia fazer isso aqui diferente”, acaba ajudando sim.

E dentro do curso, o que foi mais significativo pra você? Conteúdo, professor,

didática, vivência?

Eu acho que alguns exemplos do que o pessoal passava na sala. O conteúdo eu

acho que foi muito rico, mas foi muito conteúdo para ser absorvido no período de um

ano. Então eu achei curto o período de um ano pra ter um curso do porte do curso

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que a gente teve. Porque aí você absorve muito superficialmente e a gente não tem

tempo, literalmente, de em casa chegar e começar a se dedicar àquele livro. Quando

você está “nossa, que legal”, aí mudava a matéria. Aí você tinha que se adaptar à

matéria, ler. Às vezes você se interessava pelo assunto, queria ler um livro, dava

tempo. Mas de você falar “olha, consegui pegar aquele livro”, olhar ele até o ultimo

detalhe, isso nem todos.

Então o que você identifica que facilitou a sua aprendizagem dentro do curso?

A experiência profissional, as falhas que eu tinha na experiência profissional. O

curso falava “olha, tem isso aqui” e eu “nossa, se eu soubesse disso antes, me

ajudaria muito, se eu tivesse essa visão antes, me ajudaria muito”. E a satisfação de

você conseguir fazer um curso, ainda que de noite, porque você já chega cansado

do trabalho. Aí você vai assistir a uma aula, acha que não vai agüentar e o professor

com o jeito dele “olha, ninguém dorme, vou apagar a luz”, sendo um pouco mais

dinâmico, brincando com a gente, falando “quem está dormindo aí?”. Cada um fazia

de um jeito, porque é difícil, acredito, manter a gente acordado.

Então você vê o que dificultou a sua aprendizagem? O que facilitou? E o que

dificultou? No processo todo.

No processo todo, acho que as indicações de (termo técnico) ajudaram muito, o jeito

que um ou outro professor dava aula, tem sempre aquele que a gente não consegue

ter identificação, olhar para ele e captar o que ele está falando, acho que a gente

usa canais diferentes. Isso foram coisas que me facilitaram bastante. Tinha uns que

eu me lembro das brincadeiras até hoje, que faziam uns desenhos para comentar,

“oh, está vendo? Isso aqui é uma árvore, é assim a nossa vida”. Então você lembra

da aula dele porque ele foi divertido e naquela você estava cansado mas saía rindo,

falando “nossa, olha como ele conseguiu tirar o conteúdo de um desenho, brincando

e explicar pra gente”. O que dificultou um pouco, assim, foi o horário. Acaba muito

tarde e eu moro muito longe. Então são 60 quilômetros pra voltar pra casa. Acabava

22:40 e até eu chegar em casa era meia-noite, pra levantar de novo eram 5 da

manhã. Então o espaço curto de tempo dificultou, óbvio. A questão financeira

dificultava bastante, mas eu consegui superar. O pouco espaço de descanso,

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porque eram duas aulas que a gente tinha. Vinha um dia, vinha no outro. E assim,

você chegar em casa no final de semana e querer pegar um livro pegar um livro pra

estudar. E aí, assim, é aquela casa de família italiana, sabe? Que a minha mãe é a

matriarca, aí vai todo mundo pra minha casa. Então não tinha um silêncio pra poder

se concentrar, fazer um trabalho, não tem jeito, essas coisas acabam perturbando

um pouquinho.

Agora que você já está no final do curso, como que você consegue traçar a

sua aprendizagem? De como você, supostamente, entendia que você aprendia

na graduação, nos cursos que você fez, e agora na pós.

Antigamente era assim, eu tinha que sentar, ficar no silêncio total e me concentrar

no que eu estava lendo. Então eu tinha que ler várias vezes a mesma coisa, as

vezes eu tinha que fazer um resumo para poder memorizar, porque algumas

palavras eram diferentes, a maioria dos termos é técnico. Então aquilo é tudo novo

pra quando você ainda não está no mercado de trabalho, você ouve a palavra

“software” e pensa, “meu deus, o que é isso?”. Hoje é comum, mas a 15 ou 20 anos

atrás não era tão comum assim. No colégio eu fiz ainda Processamento de Dados,

então eu vim com uma linguagem. Mas eu era dedicada mesmo, de ter que pegar,

ler a matéria, sair das aulas e em casa dar uma lida, revisada. Na aula, eu anotava

tudo o que o professor falava e era o que me ajudava a lembrar das aulas. Isso até a

graduação.

Quando eu comecei a pós, eu já tinha o vocabulário utilizado, salvo a alguns novos

que eu aprendi. O hábito de anotar o que o professor falou, do resumo, “ele está

falando lá e eu estou anotando aqui”, me facilitava lembrar a aula dele. Eu não

consegui fazer com a mesma dedicação que eu fazia na graduação, porque quando

é graduação e no colégio, eu tinha seis horas de estágio depois, e eu tinha lá o

restante das horas do dia, as 18 horas, onde eu ia dormir, ia pra escola, ia pra casa

estudar. Hoje é o contrario, hoje eu tenho 16 horas quase de atividade entre ir pro

trabalho e trabalhar, e quando sobram as 8 horas é pra tomar banho, arrumar o

quarto e pegar o material do outro dia pra voltar a trabalhar.

Então você consegue traçar a diferença de como era antes e hoje?

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Sim, eu tinha muito mais tempo pra estudar. Hoje, parece que pelo assunto ser mais

familiar, é mais rápida a absorção, só que não permanece como permanecia antes.

Porque antes eu tinha tempo, eu me dedicava, eu acredito que eu falo “nossa, mas

antes eu chegava na sala de aula e eu não estava cansada”. Na graduação, eu

acabava de chegar do estágio, anotava o que o professor falava, chegava em casa

eu tinha um tempo pra me dedicar àquilo maior do que hoje. Então hoje eu chego

em casa cansada, irritada com chefe, porque como estagiário a gente é tratado

como “bebê”, todo mundo é legal. Hoje você com algumas responsabilidades na

empresa, você chega em casa irritada. Aí você está lendo o material e você está

pensando “poxa vida, eu fiz um trabalho e o ‘cara’ reclamou daquilo, eu não

entreguei meu TCC por isso, e eu me odeio por isso porque se eu tivesse feito meu

TCC, eu não estaria fazendo de novo”. Então tem algumas coisas que eu realmente

não tinha antigamente, eu não tinha essa preocupação de me cobrar tanto. Hoje eu

me cobro mais porque eu tenho pouco tempo pra me dedicar ao que eu gostaria de

fazer e esse pouco tempo às vezes eu jogo fora pra ajudar a empresa e depois eu

me arrependo. Então isso eu também tirei como aprendizado. A gente tem que por

prioridade na empresa, lógico, é meu sustento. Mas espera aí, eu tenho que dar

vazão à essas horas de estudo. Hoje, eu tendo o material, por exemplo, eu dou uma

lida, o material fica lá na minha cabeceira e toda a noite eu estou dando uma

“voltinha”, pensando “nossa, essa parte aqui eu não entendi direito”. Então a pós

continua comigo, eu continuo dando uma olhada.

Lógico que não com aquele afinco que eu tinha quando era mais nova, não com

aquela facilidade.

Mas o processo de aprendizagem você achou que foi igual? Foi diferente?

Eu acho que foi diferente. A maturidade profissional ajudou a assimilar a informação,

mas assimilar praticamente o que me interessa, ao que eu posso ter aplicação

prática. Porque as outras coisas, eu falava “mas eu sempre vivi sem isso, eles estão

falando isso aqui, eles tão dividindo ótimo, é uma organização”. Algumas coisas que

eu sabia que nunca ia precisar usar. Isso é mentira, é a nossa cabeça que monta

essas histórias. Mas eu assimilei menos do que eu assimilaria na graduação, onde

eu teria tempo maior pra me dedicar. Mas o que eu achei que era um diferencial, que

até hoje eu falo “poxa, então agora eu posso fazer um próximo curso, mas antes

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desse próximo curso, deixa eu olhar de novo esse material, ver onde eu fiquei com

maiores falhas, onde eu preciso me dedicar um pouco mais.”. Parece que não, mas

você chega num curso de pós-graduação e começa a vir tanta informação que

mesmo que você quisesse se dedicar, eu achei um ano pouco, eu acho que

deveriam ser uns dois anos. O pessoal estava falando que eu queria fazer outra

graduação, mas eu falei “não, gente, minha graduação foram três anos”. Mas não

que o professor não passe, mas chegava aqui falando, falando, falando, aí de

repente você ia embora, com um amigo ou outro, ia conversando, chegava no

trabalho no outro dia e perguntava a experiência. Então muda um pouco, quando a

gente é menor, a gente conversa só com os colegas da sala. Depois que você vai

pra empresa e você está num curso de pós, você fala “olha, mas eu professor falou

isso”, tem uma interação legal, que você faz com outras pessoas, que quando você

está fazendo estágio, ninguém sabe. Você faz estágio, se você falar da sua escola,

eles vão olhar pra sua prova e falar “legal, você tirou uma nota boa”. Quando você

está fazendo pós, você volta na empresa e fala o que o professor falou, mostra uma

prova, um trabalho. Você tem uma troca de informações, então fica o que você

acabou mesmo usando no dia-a-dia e consegue estender para os seus amigos.

Agora eu vou pedir pra você pegar essa folha e imaginar três pontos: você,

quanto aluno, o conhecimento e a aprendizagem. Tenta delinear pra mim, do

jeito que você achar melhor, esses três pontos. Então pensa em você

enquanto aluno, o conhecimento e a aprendizagem. Como que você consegue

fazer essa interação entre eles? Entre você, o conhecimento e o professor pra

você chegar na sua aprendizagem? O que você consegue visualizar mesmo

em forma de um desenho. Depois você me explica o que você desenhou, não

tem problema.

Eu posso fazer os ‘deseinhos’?

Sim, pode fazer o que você identificar aí.

Eu não sou uma perfeita desenhista, mas vamos lá. Eu entendo que eu faço três

uniões aí. Eu acho que eu venho com um pouco de conhecimento, o professor vem

com um pouco de conhecimento, então esses conhecimentos se fundem, é aonde

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eu acho que a gente aproveita e eu também acho que a gente tem que ter muita

identificação com o professor. Então quando eu faço essa união aqui, está vendo

que é até maior a união do professor com o aluno? Do que o próprio conhecimento

que é trocado, porque tem professor que passa pra gente, ele chega pra lá e fala

“olha gente, isso aqui é uma água, um copo de água”. Ele traz uma imagem, ele

repara que aquele aluno ali não entendeu que isso aqui é um copo de água. Aí ele

fala “Gente, então, sabe quando a gente está com sede? A gente toma água.

Lembra aquele líquido que o médico mandou tomar?”. Tem professor, que ele tem

essa percepção, que a gente tem uma certa dificuldade. Tem uns que está dando a

aula e está olhando pro fundo, não vê que a gente está com aquela cara de dúvida.

Então eu acho que a hora que o professor tem essa união com o aluno de ver que

aquele ali não entendeu, ele vai lá e tem essa conexão com a gente, nossa, aí flui

que é uma maravilha, porque as vezes ele fala “oh, vocês vão embora, mas eu vou

estar aqui tal dia, se vocês tiverem alguma duvida”. É esse que se põe à disposição,

que fala “me manda um e-mail, que eu te respondo, se você tiver com duvida”.

Porque hoje tem e-mail, há 15 anos não tinha (risos), não tinha nem internet. Mas

nessas épocas assim, eles se colocavam à disposição. Então eu acho que tem uma

troca, porque a gente vem com uma gama de informações que a gente tem que não

é um conhecimento acadêmico, mas é um conhecimento de trabalho, é um

conhecimento de vida, de família, enfim, que a gente traz. O professor também traz

isso, é uma troca vantajosa entre a gente, uma experiência muito bonita. E eu acho

também que tem que ter um pouco de identificação, isso é fato. Pra mim, assim,

aquele professor que eu bati o olho no ginásio e odiei, foi a matéria que eu nunca

aprendi, que foi física. Aquele professor que eu bati o olho no colégio e adorei, foi o

professor de inglês, eu nunca tive problema com inglês porque eu lembrava dele

dando a aula, da dificuldade que eu tinha e do que ele fazia, o “somebodylove” que

ele fazia ali, nas “requebradas” que ele fazia pra ajudar a gente. Então eu acho que

é uma troca bem bacana.

E a aprendizagem aí, porque você colocou professor, eu e conhecimento. O

que você entende aí de aprendizagem?

Eu acho que fica essa parte aqui...

Você não quer pôr de outra cor?

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Coloco.

Porque aí tem lá: o professor, que você fez de verde. Eu, em azul.

O conhecimento eu fiz de rosinha.

E aprendizagem? O que você...

Então, eu acho que é valido para os dois, está vendo? Essa parte em vermelho,

acho que é uma aprendizagem, ficaria de aprendizagem. Eu vou até dar uma

“choradinha” aqui, sei lá se pode fazer assim.

Pode.

Mas eu acho que é uma coisa que fica uma troca, cada um vem com um certo

conteúdo, o professor passa o conhecimento pra gente daquela matéria, a gente tem

que procurar aquela matéria, porque não adianta só vocês virem falar “Então gente,

um mais um igual a dois” , e eu não ver lá a seqüência que eu tenho que fazer, o

que eu tenho que estudar para evoluir.

Você consegue identificar se algum desses três itens ele pesa mais em algum

momento? Que momento? Por quê? Ou não? Entre o professor, você e o

conhecimento. Porque você colocou eles de tamanhos diferentes.

Ah não, então, porque eu sou não sou uma boa desenhista, sabe?

Não foi proposital?

Não, não foi proposital não. Eu não tenho uma boa “performance”, digamos assim.

Se eu tivesse um equipamento pra me ajudar, ia ficar uma maravilha, mas sem eles,

não.

O que influencia? Eu acho que, por exemplo, no meu caso, o aluno tem que ter

vontade de aprender, porque não adianta só o professor querer ensinar também. O

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professor, é assim, também eu acho, que se ele vê que ele dá tudo de sim e o aluno

não aproveita, ele sabe que algum aluno vai acabar... sei lá... algum aluno vai

aproveitar, algum aluno vai usar aquilo para o bem. Na aprendizagem, eu acho que,

na verdade é pra fazer um traçado...

Não, assim, quando você colocou os três, eu vi que eles estão de tamanhos

diferentes. Então você acha que em algum momento no seu traçado de

aprendizagem, eles têm variação e importâncias? Tem hora que você entende

que é mais o conhecimento, que é mais o professor, mais você...

Então está certo. Tem horas que sou mais eu, eu tenho que ter vontade. Tem horas

que o professor vai ter aquela parte de “vou explicar, não importa se o aluno está

interessado ou não”. E uma hora que eu tenho que ter aquela consciência enquanto

aluno de que ele me deu o caminho, a minha hora agora é de ir pescar, porque eu

posso correr ao professor de novo em caso de duvida, caso eu tenha essa

possibilidade, tem hora que acaba a possibilidade e você perdeu a possibilidade.

Mas eu entendo que essa curva, ela é, o professor... Eu vi alguns professor que “ah,

eles nem tão ‘dando bola’, eles querem ir embora cedo pra ver jogo, então vão

embora pra ver jogo”. Eu vi isso também, mas acho que é uma compensação. Teve

professores que falaram assim, “Olha, você está me perguntando, mas eu não sei.

Eu vou pesquisar e na próxima aula eu te trago”. Aí na outra aula ele trouxe,

explicou, tirou dúvida. Aí ele falou, “achei esses sites com esses materiais, tem mais

esse site aqui com mais esses materiais, dá uma olhada que esse aqui tem muito,

esse tem mais um ou outro”. Então, quer dizer, há uma troca. Teve aluno que falou,

“ah, achei outro lugar também”. Há uma colaboração, eu acho que é a vontade de

cada um e o empenho de dar certo mesmo.

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Aluno S( 4) – SOA Então a primeira pergunta que eu queria te fazer é assim: qual é a sua atuação

profissional agora? Em que você trabalha?

Sou desenvolvedor de sistemas.

E a sua graduação foi em que?

Foi em sistemas de informação, que é justamente para formar analistas e

desenvolvedores de sistemas.

Essas mudanças profissionais que você teve, você consegue atrelar elas ao

curso? Você teve alguma mudança profissional por causa do curso de pós-

graduação?

Sim. Em termos de conquista de cargos, não. Em termos de postura, sim. Então na

verdade não é diretamente ligado às mudanças de trabalho que eu tive. Porque na

verdade eu passei por tanto... Fui desenvolvedor, analista, coordenador, gerente.

Agora estou desenvolvendo de novo por questão de afinidade mesmo. Então assim,

indiretamente sim, com certeza quando você está numa faculdade você passa a ter

outra visão de vários aspectos do seu trabalho.

E o que levou você a procurar esse curso de pós?

Bom, pra ser sincero (risos), na verdade eu tinha interesse na área de engenharia,

mas eu não sabia realmente se um curso de pós-graduação ia me acrescentar tanto

ou se valia mais a pena eu estudar sozinho. No fim das contas eu resolvi apostar no

curso, então a idéia foi mais ou menos essa, não foi para conquistas nem nada,

simplesmente para evolução de conhecimento mesmo.

O curso está relacionado ao seu mundo de trabalho?

Está sim. Você fala o curso da pós...

É, se essa pós veio acrescentar...

Não, aí é que tá, eu esperava mais, para ser sincero. Eu achava que ia vir aqui e

coisas muito mais assim, avançadas do que eu estava acostumado a lidar e não foi

bem o que aconteceu. Então assim, não vou falar que realmente agregou bastante

no meu caso, no meu ponto de vista. Ajudou a ter visão de algumas coisas, mas a

maioria delas não foi novidade por conta do que eu vi na graduação, por conta do

que eu já tenho vivência de mercado, já estou há nove anos na carreira. Então eu

esperava mais. Mas... Não sei se eu respondi a pergunta (risos).

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Já respondeu sim. Dentro do curso, o que foi mais significativo pra você?

Conteúdo, professor, didática, vivência. Não com relação às disciplinas. Eu

quero saber assim, de professor, vivência, conteúdo... O que pra você foi mais

significativo nesse período da pós-graduação? Para a sua aprendizagem.

O que era mais legal era quando era alguém com bastante bagagem naquele

assunto que ele estava falando, já com realmente experiência de mercado, que ele

te passava as visões dele, as experiências dele, além do teórico, além do que já

estava programado para ser ensinado. Então ensina assim “olha, a teoria diz isso,

na prática o que eu percebo é isso e isso”. Às vezes está 100% relacionado, às

vezes não, e a forma como ele tratava questões assim. Na verdade o que mais

agregava era a experiência do professor, a experiência profissional do professor.

E o que mais facilitou sua aprendizagem durante o curso?

Aí eu acho que é mais a questão didática mesmo, como o professor consegue

realmente passar o conteúdo. E aí eu acho que já varia de disciplina para disciplina.

Algumas exigem que seja mais prático, porque se você não tiver aquelas aulas

práticas e aquele contato, você não vai absorver tanto. Às vezes não, algumas é

mais a conversa mesmo do que prática. Às vezes são coisas que você consegue

aprender sozinho na prática. Mas então assim, o ideal é que ele te passe a visão, os

conceitos mais do que te mostrar realmente como fazer porque você consegue se

virar sozinho tendo aquela base.

E o que você acha que dificultou sua aprendizagem dentro do curso? Alguma

coisa que você sentiu enquanto aluno tem uma dificuldade, sente uma

dificuldade para a sua aprendizagem final assim, que você tem alguma

característica sua de aprendizagem mesmo. O que você acha que para você

dificultou.

Aí foi, assim, primeiro que eu esperava poder ter me dedicado mais, isso é mais por

minha parte mesmo. E de alguns professores também, você esperava assim,

justamente essa questão da didática. Alguns iam muito bem e outros nem tanto

vamos falar assim. E aí às vezes você ficava um pouco perdido, você não entendia

direito, tentava conseguir aquela informação, às vezes ela não voltava “redondinha”,

vamos falar assim. Mas eu acho que assim, aí também tem a parte do aluno. No

caso, igual você falou, um paralelo entre a graduação e a pós, eu já trabalhava na

área antes de entrar na graduação na área. As responsabilidades e a carga horária

de trabalho, elas foram aumentando ambas durante os anos e quando chegou na

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pós eu já estava muito mais atolado, eu estava com muito mais stress e aí você as

vezes chegava na pós e não tinha aquela concentração também. E as vezes você

precisava estar em casa estudando e você estava trabalhando ou preocupado com o

trabalho.

Então você acha que dentro do ambiente educativo, o que dificultou mais sua

aprendizagem seria o que então?

Na verdade não foi uma coisa só, foram essas duas coisas, eu acho. Vamos falar

assim, o não melhor desempenho de um professor e essa questão de stress do

trabalho e de carga horária do trabalho também.

E quem custeia seu curso?

Eu mesmo.

Então você não está vinculado a nenhuma empresa?

Não.

E teve alguma diferença nesses caminhos que você percorreu agora na pós-

graduação e na graduação com relação à aprendizagem? Você consegue

traçar uma diferença, uma semelhança entre a graduação e a pós?

Eu acho que sim. Na graduação, como você entrou lá com menos experiência, você

aprende muito mais coisas lá porque você vai ver muita novidade. Quando você

chega na pós, tem que ser algo muito avançado para que realmente seja uma

novidade. Então no meu caso, eu acho que a gente aprende mais na graduação,

falando em termos de porcentagem. Na graduação é mais tempo, mas de qualquer

forma, quase tudo lá é novidade. Chega na pós, nem tanto, tem muita coisa que

você já conhece. Como a gente está falando de engenharia de software em uma das

áreas que você está atuando, pouco provável que é o (termo técnico), que não

esteja em nenhuma delas, então daquilo ali você já conhece bastante. E na maioria,

vamos supor, no caso talvez do pessoal de teste, não tenha alguns contatos com

especificação, com desenvolvimento em si, com arquitetura. Mas quando você está

falando do desenvolvedor em si, geralmente no mercado hoje, esse profissional já

atuou de alguma forma em todas essas áreas, então alguma coisa ele conhece.

Então na verdade ele só faz mais ou menos um paralelo, “o que está sendo

ensinado é isso, o que eu vi foi diferente, foi igual”, mas nem sempre realmente é

algo novo.

Da graduação para a pós.

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É, na pós. Então acho que assim, você aprende mais na graduação pelo fato de ser

tudo na novidade. Na pós hoje eu acho que serve mais para “tapar alguns

buraquinhos” do que ficou na graduação, alguma coisa assim. Não sou se estou

conseguindo ser claro, respondendo realmente (risos).

Está conseguindo sim. Agora que você já está no final do curso, você

consegue definir um caminho assim, traçar alguma caminho que você fez na

graduação até agora?

Como assim um caminho? Você está falando em que sentido?

No sentido de aprendizagem. Na graduação você tinha essa postura com

relação à sua aprendizagem, no início da sua graduação, aí no meio da

graduação, no final. E logo após, se você já terminou a graduação e já

emendou o curso de pós ou você teve um período aí de...

Eu tive um período no meio aí de um ano e meio, 2 anos, esse foi o intervalo sem

estudo. Mas em questão de postura, eu acho que assim, você acaba sendo mais

comprometido na graduação. Chega na pós e você já está com a sua vida um pouco

mais consolidada, mais estabilizada e na graduação fica aquilo na cabeça, “eu

preciso me formar o quanto antes para eu conseguir evoluir na minha carreira”. Não

sei, talvez, estou pensando aqui agora, não sei se realmente é assim.

Mas aí quando você voltou para a pós, você entrou com isso de, “preciso fazer

a pós para...”? Como você completaria?

Agregar conhecimento. O que eu tentei foi entender mais da minha área, ser mais

capacitado. Sem saber, no meu caso, eu não pensei muito que benefícios isso

realmente vai me trazer, se é que vai trazer algum, falando profissionalmente e

financeiramente. Eu simplesmente quis aprender mais, foi mais ou menos isso.

Então você não teve nenhuma pressão do trabalho? Nenhuma pressão em

relação com a emprego? A ficar ou não no emprego?

No meu caso, não. No meu caso foi totalmente independente mesmo. Agora, a

questão de postura eu acho que muda sim, acho que pelo menos no meu caso eu

fiquei menos comprometido. Eu estava mais comprometido com o meu trabalho do

que com a pós, por ser independente. Talvez se a empresa estivesse bancando o

meu curso, talvez eu ficasse no meio a meio ali, dando prioridades iguais. No meu

caso, não foi.

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Mesmo você pagando seu curso, você achou que você não colocou tanta

prioridade nele quanto você deveria...

Como eu deveria, exatamente.

E você conseguiu terminar o curso no prazo de um ano e meio?

Não terminei o TCC, não fiz o TCC justamente porque eu estava trabalhando

demais. Hoje, na verdade, eu não estou nessa empresa mais justamente porque não

estava sendo saudável.

Imagina agora aqui nessa folha, que tenha três pontos: você (aluno), o

professor e o conhecimento. Onde você colocaria a aprendizagem nesse...

Como se você estivesse fazendo um traçado. Você, o professor e o

conhecimento. Que caminho você traçaria pra você entender como foi sua

aprendizagem nesse processo? Então antes de você pensar, eu queria que

você desenhasse aqui pra mim você, o professor, o conhecimento e fazer um

traçado entre eles identificando sua aprendizagem. Pode ser o desenho que

você quiser, como você quiser, um esquema. Eu queria só que você

colocasse, tentasse identificar numa coisa mais ampla.

Com caneta colorida (risos)?

Aí eu só estou te dando uma opção. Que você tentasse se colocar numa

situação mais ampla assim de você, aluno, o professor e o conhecimento.

Onde aconteceu a aprendizagem durante esse processo todo?

Onde aconteceu?

Como aconteceu e como você entende a aprendizagem com esses três pontos,

esses três elementos.

O que você fez aí?

Então, na verdade, na minha visão, na maioria dos casos o professor atua como um

orientador, ele vai te mostrar caminhos, te mostrar quais informações você precisa

buscar e onde buscar para ter conhecimento daquele assunto. No meu ver, cabe

mais ao aluno a buscam em cima daquilo que ele orientou do que realmente ele

passar alguma coisa efetivamente. Ele passar, lógico, ajuda, mas na minha opinião

depende mais do aluno do que do professor. Então para o aluno fica a busca e

aprendizagem para justamente obter o conhecimento. Na minha visão, o fluxo que

geralmente acontece é esse. Na verdade para mim é o ideal, só que quanto mais

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bagagem além da orientação o professor conseguir passar, mais fácil fica a busca

do aluno.

E a aprendizagem entra aí...

Justamente nesse momento, o aluno. Ele vai buscar as informações e o aprendizado

vai acontecer justamente enquanto ele está buscando e entendendo aquilo que o

professor orientou. No meu caso, na maioria das vezes, a minha aprendizagem

acontece justamente quando eu estou buscando, não necessariamente quando eu

estou frente a frente com o professor. Eu acho que depende mais do aluno pro

processo acontecer do que qualquer outro. Óbvio, aqui também entra motivação,

entra ele te falar qual a importância daquilo o que ele (professor) está pedindo para

você buscar pra você realmente achar, ter na sua mente que aquilo é importante

você buscar. Muitas vezes acontece também de não ter essa motivação, só tem

“você precisa saber determinado assunto e buscar determinada informação”, mas

ele não dá o grau de relevância que aquela informação tem e as vezes,

dependendo, não vai ser motivação suficiente para o aluno realmente buscar aquilo.

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Aluno S( 5) – SOA Primeira pergunta: qual é a sua atuação profissional hoje?

O que eu faço?

O que você faz, qual é seu trabalho hoje.

Hoje eu sou gerente de projetos, trabalho com gerenciamento e liderança de

projetos de desenvolvimento de software.

Teve alguma mudança profissional relacionada ao curso depois que você

começou a fazê-lo?

Profissional no sentido de carreira ou de trabalho?

De carreira, de trabalho, promoção. O fato de você estar cursando uma pós-

graduação teve alguma mudança na sua carreira profissional?

Não, em relação à carreira não. Em relação ao trabalho, eu consigo aplicar algumas

coisas daqui, já estou conseguindo principalmente na parte de (termo técnico).

O que levou você a procurar o curso de pós-graduação? Por quê?

Eu comecei a procurar o curso de pós-graduação na verdade porque eu estava na

área, eu já trabalho na área há algum tempo. Eu estava na duvida entre uma

certificação ou um curso de pós-graduação. Eu achei que nesse momento, eu me

considero velho, tenho 33 anos, então eu achei que era mais importante para mim

nesse momento a pós. As aulas são mais espaçadas, eu não gosto muito de ficar

dentro da sala de aula, então eu preferi dessa forma.

E por que você não gosta de ficar dentro da sala de aula?

Eu me sinto muito velho numa sala de aula. Por que eu escolhi a pós?

Principalmente, por que eu escolhi MBA? Porque eu via que MBA eram

normalmente pessoas acima de 30 anos. Eu fiz uma entrevista, inclusive, na(xxx) e

lá realmente, a sala de aula era acima de 30 anos. Não foi o que eu encontrei aqui,

confesso que isso me desanimou um pouco, eu queria encontrar pessoas mais

experientes. Eu imaginava que um MBA fosse mais para trocar experiências mesmo

e não como eu estou vendo hoje. Me decepcionei um pouco, mas estou gostando da

matéria em si.

Como que o curso se relaciona com seu mundo de trabalho hoje?

Ele está bem relacionado, é bem pratico, o curso é bem pratico. As coisas que eu

vejo aqui são exemplos que o professor traz, que os outros alunos trazem também.

São bem realísticos com o meu dia-a-dia, tem bastante relacionamento.

Quem custeia o seu curso?

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Eu mesmo.

O que foi mais significativo pra você no curso? Não com relação ao conteúdo

que você viu, embora isso ainda possa ser um fator. Mas assim, professor,

didática, vivência... O que foi mais significativo pra você na pós-graduação? O

que você vai trazer à memória quando a gente fala o que foi significativo na

pós, nesse tempo que você fez a pós.

O que eu gostei muito aqui, apesar de que eu fiz uma faculdade que tinha bastante

doutores, eu gostei bastante da experiência dos professores. Achei que todos eles

conseguiram conduzir muito bem as aulas, todos os que eu tive até agora. A

experiência dos colegas também, apesar de, como eu disse, eu imaginava mais. Eu

imaginava pessoas mais experientes que estariam fazendo MBA. Tem até um

colega nosso que está no segundo MBA e não tem nem 30 anos ainda, então ele

terminou a faculdade e fez um MBA e depois já fez outro. A didática eu gostei

também. É mais ou menos assim, ele (professor) vai passando, aí se você tem

interesse, você se aprofunda mais. Eu gostei disso, eu gosto de estudar assim, mais

isolado, mais tranqüilo, sem ter que estar numa sala de aula.

Então você acha que a didática foi o melhor?

Até agora, a didática é o que está me trazendo à memória, é isso.

E o que mais facilitou a sua aprendizagem durante o curso? O que você

entende que em alguns momentos a aprendizagem foi mais facilitada? Você

entendeu a aprendizagem de uma maneira mais clara.

Acho que quando relaciona com a vida real, quando faz um paralelo. Vem a matéria,

a parte teórica, aí o professor inclui a experiência dele, a gente começa a fazer

algumas perguntas e alguém às vezes também inclui sua experiência. Acho que

essa é a parte que ajuda a gravar mais, que ajuda a entender melhor.

E o que você entende que dificultou a sua aprendizagem durante a pós?

Talvez a falta de tempo para estudar mais, pra me aprofundar mais em alguns

assuntos. Atualmente, aqui, o que me prejudica muito é a sala de aula, eu acho ela

muito apertada e muito quente. Então isso acaba distraindo a gente, perdendo um

pouco o interesse. Relacionado ao estudo em si, o que me atrapalha realmente é a

falta de tempo que eu tenho, preciso me organizar melhor para estudar mais. Eu

tenho até a boa vontade. Já comprei alguns livros que os professores indicaram,

alguns eu já li, mas eu não consegui ler todos ainda.

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E o que você entende que você deveria fazer para auxiliar essa dificuldade de

aprendizagem?

Me organizar mesmo, eu estou conseguindo recuperar algum atrasado. Eu ainda

estou lendo alguns livros da primeira e da segunda matéria que a gente teve. Eu

sempre estou atrasado, mas eu estou lendo.

Agora que você já está indo pro final do curso, você consegue traçar o

caminho da sua aprendizagem? Desde o começo do curso até agora. Você

consegue delinear quais caminhos você percorreu durante seu processo de

aprendizagem?

Não estou conseguindo entender...

Começando o curso, você tinha uma postura. Igual você falou, que você

chegou achando que tinha alunos de uma faixa etária mais nova. Isso

dificultou ou facilitou? Você aprendia mais quando você lia em casa ou você

aprendia mais na classe? Com os colegas ou você sozinho? Se você

conseguiu traçar isso na pós-graduação, diferente ou igual da graduação. O

que você enxerga nas duas? Há semelhanças com a graduação ou diferenças

na pós?

A questão dos alunos mais novos, isso me lembrou muito a graduação. A graduação

pra mim foi muito turbulenta, tive vários problemas pessoais. Então isso realmente

foi uma coisa que eu não gostei, me deixou bem decepcionado. Depois com o

passar do tempo a gente vai vendo não só pela idade. A gente vê que as pessoas

têm bastante conhecimento, têm experiência, ainda estão batalhando e são bem

esforçadas. Mas eu acho que o que foi facilitando mesmo, como eu disse, a parte de

misturar um pouco a teoria com a prática. Teve um professor que a gente teve

também, que eu o achei excepcional, ele trazia não apenas as coisas da matéria. A

gente encontrava ele no corredor, ou mesmo na aula, ele dava uma fugida assim,

você esquecia da matéria, e daqui a pouco ele voltava e parecia que entrava mais

fácil. Ele falava até de Freud. Ele dá essas mescladas, ele busca uns termos. As

vezes ele usa uns termos matemáticos assim. Então ele foge um pouco da matéria e

depois volta, acho que isso também dá uma bastante ajudada. Hoje eu percebo que

isso também ajuda.

Você se identificou com esse processo dele de retomar coisas mais antigas do

conteúdo pra agora? Atrelando sempre o conteúdo antigo com o conteúdo

novo?

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Às vezes ele dá uma fugida mesmo. Ele dá alguma coisa que não tem nada a ver

com a matéria e volta. Coisa assim, simples. Como a gente aqui tem optado por não

fazer intervalo, acaba não perdendo muito da aula. Ele separa uns 5 minutinhos, fala

de alguma coisa, depois ele volta. Acho que isso enriquece bastante.

E você percebeu se teve alguma diferença nítida no traçado que você fez na

graduação e agora na pós? Você consegue identificar?

Sim, sim. Na graduação, o que eu fiz, não sei se todas são assim, mas você tinha a

matéria inteira do que você vai ser cobrado na aula. Aqui você tem o índice do que

você vai ser cobrado, do que você vai ter que fazer na aula. Se você quiser se

aprofundar, tem que pesquisar mais. Isso eu achei muito melhor, muito mais

interessante. Não é “decoreba”, você não tem que só ler o material e achar que está

preparado, você tem que se aprofundar um pouco. Acho que tem que ter um pouco

de experiência também pra conseguir acompanhar.

Experiência em que você diz?

Na própria na área mesmo. Eu vejo que tem algumas pessoas na sala que não

trabalham com TI e elas têm bastante dificuldade, bastante mesmo.

Imagina nesse papel em branco aqui, nessa folha, três pontos: você, o

conhecimento e o professor. Que caminho você traça entre os três, que você

consegue através de um desenho, identificar pra mim o seu processo de

aprendizagem?

Um desenho livre (risos)?

Livre. Tem três pontos: você, o conhecimento e o professor. Tenta fazer pra

mim um esboço, um traçado, um desenho. Como você entende que foi o

caminho que você percorreu para a sua aprendizagem? Qual a função e a

relação entre eles? O que você consegue identificar para a sua aprendizagem?

Com relação ao seu desenho...

Então eu fiz um desenho que são três círculos interligados. Eu imagino o

conhecimento como uma grande área, o professor detentor de uma pequena parte e

eu através do professor buscando essa ajuda para mapear o conhecimento que eu

preciso. Eu vejo o professor como um facilitador.

E a sua aprendizagem aí? Onde é que entra?

Aí sou eu, essa parte aqui sozinha.

Então você entende que a sua aprendizagem...

Depende de mim mesmo.

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O professor e o conhecimento, então você desenhou junto, mas para a sua

aprendizagem você não entende junto?

Para a minha aprendizagem, eu preciso do professor e do conhecimento. O

professor facilitando a chegada nesse conhecimento. Mas eu vejo que ela

(aprendizagem) depende só de mim, de como eu vou entender isso.

Então faz outro traçado pra mim, que eu entendi. A aprendizagem aí, onde

você consegue identificar?

Deixa eu fazer uma pintura aqui de vermelho. Eu vejo o aprendizado numa parte

aqui. Vou fazer uma legenda, tá?

Pode pôr.

E a maior parte aqui.

Então você entende que a aprendizagem aí...

Eu dependo de uma orientação do professor, mas a busca e a responsabilidade são

minhas.

Então o professor ele entra... Você fez o conhecimento e o professor do

mesmo tamanho ou não?

É, eu coloquei menor, é que não ficou tão proporcional aí, mas maior do que o “eu”.

Então foi proposital? Porque aqui no desenho você fez o conhecimento maior,

o professor está um pouco menor e você está um pouco menor ainda. É

proposital?

É proposital.

O que você enxerga como maior aí?

O conhecimento.

E depois?

O professor, depois eu.

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Aluno S( 6) – PMI Qual a sua atuação profissional hoje?

Hoje eu sou analista de negócios na área de TI mesmo. Basicamente em duas

ferramentas principais é meu foco hoje, que é o (termo técnico) da (xxx) e o (termo

técnico), que é uma ferramenta de gestão de portfólios, totalmente voltada a

projetos.

Teve alguma mudança profissional relacionada ao curso? Depois que você

entrou no curso.

Eu estou conseguindo, até com a empolgação mesmo do que eu to aprendendo no

curso, eu estou conseguindo aplicar bastante coisa na prática. Meu trabalho é

totalmente ligado a projeto. Quando eu não to trabalhando com a ferramenta de

auxílio pra gestão de projetos, eu estou num projeto de implantação de consultoria

da outra ferramenta. Então eu coloco tudo em prática e vejo na prática até que ponto

aquilo que eu estou vendo na sala de aula, no curso, realmente pode acontecer ou

precisa mesmo daquilo, se é colocado em prática pra melhorar o resultado das

atividades de trabalho.

E o que levou você a procurar o curso de pós? Essa pós específica, esse MBA.

Eu já tinha feito um curso preparatório pra certificação e via além da necessidade de

ter um curso de especialização, principalmente para uma melhor colocação no

mercado de trabalho. O aumento do conhecimento no assunto que eu achei

interessante desde quando eu comecei a estudar, desde quando eu fiz o

preparatório para a certificação.

E como esse curso se relaciona direto com o seu trabalho? Seu mundo de

trabalho, a profissão que você está exercendo.

Acho que é bem relacionado com aquilo que eu disse. Na prática, eu trabalho

sempre diretamente com projetos. Então o curso de Gestão de Projetos que aborda,

digamos, os detalhes, atualiza o conhecimento daquilo que a gente já tem de

prática. As vezes, na prática, a gente vê que a gente fazia errado e agora da aplicar

de forma, que a gente chama, de “melhores práticas”. O curso tem tudo a ver com o

que eu trabalho, tem uma interferência direta no que eu faço no dia-a-dia.

E quem custeia o seu curso?

Sou eu mesmo, 100%. Sem bolsa, sem nada.

E o que mais facilitou sua aprendizagem durante o curso? O que você entende

como fator determinante de facilitação da sua aprendizagem?

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Olha, sem duvida alguma, eu fico muito tranqüilo em falar isso, mas o conhecimento

dos professores que dão aula. Eu acho que são professores experientes, que

sempre têm um (termo técnico) ou um exemplo pra passar de vida profissional que

eles já tiveram e que consegue ilustrar aquela teoria que eles estão passando.

Quando a gente insere algum comentário, estando certo ou não, ele sempre

complementa corrigindo se estiver errado ou aprovando e fazendo umas

observações se o comentário que a gente fez, a observação que a gente fez, está

correto.

E o que você entende que dificultou sua aprendizagem no curso?

O que mais dificulta a aprendizagem realmente é o cansaço. Você chega esgotado

mais mentalmente, não psicologicamente, do que fisicamente. Porque dependendo

do dia, a gente acorda muito cedo, tem reuniões cansativas, trabalho excessivo. Às

vezes a gente até deixa de terminar o trabalho porque tem horário, pra não perder

aula. No meu caso, que eu pago do meu bolso, não faltei nenhum dia na aula, faço

questão de vir todos os dias e cumprir o horário.

Dentro do curso, o que pra você foi mais significativo? Conteúdo, vivência,

professor, didática? O que você entende como significativo para a sua

aprendizagem dentro do curso?

Eu acho que a relação da experiência do professor, conhecimento do professor, com

o material mesmo que é solucionado para passar pra gente. A maneira de 90% dos

professores de dar aula, são poucos os dias em que eu não me empolgo muito na

aula. Na maioria dos dias, eu particularmente, saio muito satisfeito com o que eu

consegui abstrair de informações.

Então você entende que seria mais o que assim? Algo que você conseguiria

classificar em uma palavra do que mais significou pra você pra sua

aprendizagem no curso.

Eu acho que é a didática, porque não adianta ter a experiência profissional, o

conhecimento e a teoria se não souber passar isso pra gente. Então a didática

complementa toda a bagagem que o professor traz pra cá. Acontece de professor

conhecer muito, ter muita bagagem profissional, mas ele não consegue passar pra

gente tudo aquilo. Então a gente até entende que ele está ali porque ele tem

capacidade de estar ali, mas não consegue passar. E assim, acho que não dá pra

falar se teve um que aconteceu de não saber passar. Acho que a didática é tudo, é o

que realmente está fazendo a diferença.

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Agora no final do curso, você consegue definir o caminho que você traçou pra

sua aprendizagem? Você que já veio de uma graduação, qual foi o traçado da

sua aprendizagem na graduação e agora na pós-graduação? O que você

entende de semelhanças e diferenças nessa trilha que você caminhou?

Desde a época da graduação, eu nunca fui muito de estudar, então foi bem o que eu

pegava em sala de aula. O que eu vejo hoje são os métodos que a gente tem pra

estudar. Ou seja, hoje se eu estou desenvolvendo um trabalho, que é pra ser

entregue no curso de MBA, eu tenho internet do lado e levanto várias informações

sobre o mesmo tema, o mesmo assunto. Então isso eu acho que facilita muito o

aprendizado. Claro que a facilidade de ter onde aplicar aquilo que a gente está

vendo na sala de aula.

Então você conseguiria estabelecer uma diferença na época da graduação e

agora?

Na época da graduação eu acho que a gente tinha muito livro mesmo, apostila.

Tinha que sentar, estudar, reservar um horário pra estudar, o que eu reconheço que

não fazia da maneira que deveria ser. Eu acho que essa era maneira que a gente

tinha que estudar antes, então pegava realmente um livro a biblioteca, muito pouca

coisa tinha na internet. Era uma apostila o que o professor passava e daquilo ali a

gente sentava e fazia “na raça” ali um “resumão” e estudava aquilo ainda com as

fontes ao lado. Hoje está mais fácil, hoje na internet, não vou dizer que a gente acha

o material pronto, mas a gente acha filtradas já as informações. Tem bastante coisa,

bastante coisa.

Então você vê a tecnologia como diferença da graduação?

Sem dúvida.

Há quanto tempo você fez a graduação? Quanto tempo você ficou até você

fazer a pós?

Eu me formei no meio do ano de 2005 e comecei agora no começo de 2011, então

foram seis anos.

Então teve uma quebra aí da graduação para a pós.

Exatamente.

Eu vou te dar uma folha em branco e queria que você traçasse pra mim,

pensasse que essa folha tem três pontos: você, professor e o conhecimento.

Como você entende que esses três pontos se entrelaçam para a sua

aprendizagem? Eles podem se entrelaçar ou não. Então assim, eu queria que

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você fizesse um esboço pra mim, onde você aluno tem o professor, você tem o

conhecimento, e o caminho que você percorre pra fazer sua aprendizagem, pra

você entrar em contato com a sua aprendizagem.

Tá, eu vou fazer um... Eu só não entendi a maneira como...

Você pode fazer um desenho, um traçado, uma mapa conceitual...

Na forma de gráfico, por exemplo?

O que você entender.

Com relação ao seu desenho...

Eu representei o aluno pela cor verde, o aluno pela cor azul e o conhecimento pela

cor roxa. Eu quis ilustrar aqui que o conhecimento depende não só do aluno, mas

também do professor. Tem que ter a disposição do aluno pra aprender, de querer

adquirir maior conhecimento, maiores informações. E o professor numa mesma

carga de responsabilidade em relação ao conhecimento, porque o professor tem que

saber através de didática, conteúdo, conhecimento e experiência, passar aquela

informação para o aluno. Esse mundo aqui que eu ilustrei, esse cenário aqui que eu

ilustrei, é o aluno dentro da sala de aula no curso. Eu estou imaginando que o

professor e o aluno dividem a responsabilidade do conhecimento no final da história

aqui.

E a aprendizagem entra onde aí?

A aprendizagem é o total dos dois aqui, a união do professor com o aluno para

formar o conhecimento.

E nesse gráfico você conseguiria estabelecer a aprendizagem aonde? Porque

você colocou aluno, professor, conhecimento. Eu não enxergo a aprendizagem

aí. Você pode escrever.

A aprendizagem, ela é a linha laranja, a aprendizagem é o topo dos dois. O topo da

união do professor com aluno é igual o topo do conhecimento, então atingem o

mesmo patamar, o nível total de conhecimento, o nível total da integração do aluno

com o professor.

Então você entende que pra chegar até a aprendizagem precisa de novo do

aluno, do professor. Você colocou o aluno maior que o professor?

Não, 50% de responsabilidade. Não acho que um ou outro tem maior

responsabilidade. Numa visão mais ou menos assim, se o aluno estiver totalmente

disposto a aprender, a estar aqui porque ele tem um objetivo de aprender e adquirir

mais informações e conhecimento, não tendo o professor pra fazer a parte dele, ele

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não vai chegar a lugar nenhum e não vai conseguir ter o aprendizado. Ao mesmo

tempo, se o professor está aqui com toda a bagagem que ele tem, toda a

experiência profissional, com toda a disposição e didática para passar essa

informação, mas eu não venho na aula, ou eu não faço questão de aprender, ou eu

estou aqui com a cabeça no meu trabalho e problemas pessoais, eu não vou

conseguir aprender, não vou ter um aprendizado. Eu não vou conseguir o

conhecimento que eu espero. Então eu poderia colocar um do lado do outro e

considerar só um dos dois. Então, na verdade, aqui eu não coloco uma ordem de

importância, eu coloco uma divisão mesmo de responsabilidade pra chegar no

aprendizado. Então eu podia ter ilustrado o professor embaixo e o aluno em cima,

que teria o mesmo sentido naquilo que eu tentei demonstrar no desenho.

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Aluno S( 7) – SOA Qual a sua atuação profissional hoje? Qual o seu trabalho?

Eu trabalho como consultora de processos de negócio. Mapeamento, não envolve

sistemas, é mais administração.

Depois do curso, houveram mudanças profissionais relacionadas à sua

escolha de curso de pós?

Diretamente ao curso, não. Eu acho que em relação um pouco do conhecimento,

mas como a minha área de atuação é bem diferente do que o curso traz, tiveram

poucas matérias que eram completamente relacionadas ao que eu faço no dia-a-dia.

Então assim, eu não tive nenhuma mudança dentro do trabalho, “fez a pós e agora

pode atuar de outra forma”. Isso não teve mesmo.

E por que você escolheu esse curso?

Eu escolhi porque é uma das matérias que eu gostava na graduação e eu acho que

é outra oportunidade de trabalhar, uma forma diferente de trabalhar. Tem a ver com

o que eu trabalho hoje, mas não totalmente, então eu acho que é uma porta a mais.

E o que levou você a procurar esse curso?

Foi mais porque eu estava parada já há algum tempo. Tinha terminado a graduação

já tinha 3 ou 4 anos e eu queria fazer alguma coisa. Eu busquei alguma coisa

relacionada à minha graduação e não ao meu trabalho atual.

E a sua graduação foi em que?

Foi em Sistemas de Informação. Então em Sistemas de Informação eu tive uma

matéria específica de Engenharia de Software. Eu vejo que é uma coisa dentro de

Sistemas, dentro da área de tecnologia da informação, é uma coisa que ainda não é

tão maduro, eu acho que é uma coisa que está desenvolvendo. O que eu estudei na

graduação, hoje já é totalmente diferente. Conforme a tecnologia vai mudando, a

forma como você faz a Engenharia de Software vai mudando e eu acho que é uma

coisa que está super em voga em relação às empresas. Cada vez mais a empresas

precisam melhorar, sofisticar seus próprios sistemas e elas procuram na Engenharia

de Software uma saída pra fazer isso da melhor forma.

O curso está relacionado com seu mundo de trabalho?

Não, ao meu mundo de trabalho não. Talvez daqui a algum tempo, mas agora não.

Quem custeia seu curso?

Eu.

Não tem nenhuma empresa que financia? Por algum imposição da empresa?

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Não.

O que foi mais significativo pra você no curso? Conteúdo, didática, professor,

vivência ou algum outro aspecto que você entende que pra você foi

significativo. Algo que você entendeu como uma maneira mais atuante, mais

presente pra você.

Eu acho que uma coisa que faz muita diferença é o professor. Querendo ou não, a

forma como você recebe esse conhecimento, dependendo do professor, não entra e

ainda mais quando você não está no seu mundo, você está num mundo um pouco

diferente. Então às vezes tinha matéria que eu não estava muito interada, mas por

causa da forma como o professor colocava, aí entra um pouco da didática também,

isso ficava mais claro. Às vezes um assunto que eu conheço, que eu até tenho

alguma relação no meu dia-a-dia, acabava sendo muito mais difícil por conta da

forma que era passado.

O que mais facilitou a sua aprendizagem durante o curso? Quais foram os

itens que você acha que facilitaram a sua aprendizagem ao longo do curso?

Eu acho que assim, pela pós ser uma coisa muito rápida e muito expositiva, eu acho

que os trabalhos de casa ajudam na fixação. Então às vezes tem uma palestra ou

uma aula mesmo, mas para você conseguir aprender aquilo você precisa de um

tempo pra assimilar. Eu acho que isso era muito mais nos exercícios de casa do que

na própria aula, acho que na aula é mais aquilo de ter caminhos para buscar aquele

conhecimento. Os exercícios meio que te obrigam a buscar aquele conhecimento.

E o que você entende que mais dificultou sua aprendizagem na pós?

Mais dificultou? Eu acho que assim, deve ser uma coisa que todo mundo deve

reclamar. Você já chega cansado a noite, o horário não é um horário curto, é um

horário longo, vai até 11 horas da noite. Então pra você sair daqui e chegar em casa

meia-noite, esse tipo de coisa é meio cansativo. Então eu acho que o cansaço é o

que mais atrapalha. O meu não envolvimento com a matéria eu acho que dificultou

um pouco, acredito que se eu estivesse no meio de TI, se eu trabalhasse como

desenvolvedora, como analista, alguma coisa, acho que facilitaria. Principalmente

porque tem alguns termos que são muito específicos.

Então você não conseguiu atrelar a prática do seu trabalho com o curso?

Não, isso eu não consegui.

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Isso daí você entende que era uma dificuldade maior exatamente por você não

conseguir conciliar esses dois? Foi um item para ser considerado o fato de

você fazer o curso e não trabalhar no curso?

Foi. Eu acho que é uma coisa que dificulta, porque às vezes uma coisa que é

exposta, que é falado e que a maioria das pessoas consegue visualizar aquilo no

seu dia-a-dia, na hora que você pensa no seu dia-a-dia aquilo não tem relevância

importante. Como o curso também é bem técnico, a gente está falando de

Engenharia de Software voltado para SOA. Quando entra na parte muito técnica,

nisso as vezes eu me perdia. Eu falava “bom, espera aí, não é o meu mundo, do que

eles estão falando?”. Então em alguns momentos dificultou sim.

Agora que você já está no final do curso, está acabando o curso, você

consegue definir o caminho que você traçou para a sua aprendizagem?

Eu acho que... Um caminho para a aprendizagem? Eu acho que o caminho foi

escutar, prestar atenção e exercitar. Só o “prestar atenção” não funcionava,

O exercitar pra você seria em que sentido?

Como tem algumas coisas que são bem técnicas, é fazer exatamente exercícios de

estudo de caso, esse tipo de coisa. Aquilo que não é muito técnico, que é mais

teoria, eu acho que foi ter lido algumas coisas para poder juntar num trabalho, fazer

um resumo. Esse tipo de coisa, pra mim, é a forma como eu acabo aprendendo. Só

a aula expositiva e a observação não funcionam.

E teve alguma diferença nesse caminho que você traçou nos outros cursos?

No seu curso de graduação e agora na pós, você consegue identificar como

você traçou sua aprendizagem na graduação e como você traçou sua

aprendizagem aqui no curso de pós?

Eu acho que foi muito parecido, só que na graduação, como o conteúdo é muito

mais diluído ao longo do tempo, na pós é mais rápido. Vem um assunto de uma vez

e você tem que assimilar. Então eu acho que a forma de aprendizado foi a mesma,

mas a quantidade, o quanto você consegue gravar, eu acho que na graduação é

muito maior porque vem diluído. Você pega aos poucos e assimila aos poucos. Na

pós, você acaba não conseguindo assimilar tudo aquilo que foi passado, acredito

que são partes daquilo. Eu acho que exatamente por isso, conforme aquele assunto

te interessa mais, você assimila mais. Conforme ele não tem muito a ver com o seu

mundo, você acaba não assimilando tudo.

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E da graduação para pós-graduação, você teve algum período que você ficou

sem estudar?

Teve, eu fiquei três anos sem estudar. Assim, só fazendo um curso de inglês,

alguma coisa assim.

Então da graduação agora para a pós-graduação foram 3 anos.

Sim, três anos.

Agora assim, imagina que aqui nesse papel, nessa folha em branco, tenha três

pontos: você (aluno), o professor e o conhecimento. Então assim, são três

fatores que desencadeiam numa aprendizagem. Como você enxerga a sua

aprendizagem relacionando esses três pontos dentro de uma panorâmica?

Então esses três pontos relacionados, pra como você entende que como se

deu sua aprendizagem aqui na pós. Eu vou te dar umas canetinhas aí você

pode fazer um desenho, um esboço, um esquema. Como você preferir.

Sobre o seu desenho...

Eu coloquei o aluno e o professor, que são como duas entidades iguais onde eu

tenho o conhecimento, que é transmitido tanto do professor para o aluno quanto do

aluno para o professor. E a aprendizagem, como um instrumento de receber e dar

conhecimento, além de armazenar conhecimento. Então ele tanto é armazenado

pelo aluno quanto pro professor.

Então você entende que a aprendizagem, ela ocorre entre aluno, o professor e

o conhecimento aí no meio que eu não entendi.

A aprendizagem, eu coloquei aqui, como ferramenta que vai fazer com que o

conhecimento vá de um para o outro.

Então aí você colocou que o professor, esse quadradinho da aprendizagem...

Que é o armazenamento do conhecimento. Os dois vão armazenar conhecimentos

diferentes, de formas diferentes, em quantidades diferentes. Mas eu acho o

professor na posição de professor também é aluno e o aluno na posição de aluno

também pode ser professor.

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Aluno S(8)-PMI Qual a sua atuação profissional hoje?

Eu sou analista de sistemas numa indústria farmacêutica, eu aplico tanto

desenvolvimento de sistemas internos, sistemas produzidos interno, como suporte a

alguns sistemas de terceiros. Fornecedores, eu mexo um pouquinho, então toda

essa parte de sistemas. Também análise de requisito, buscar um novo software no

mercado, analisar contrato de customização, de implantação de software, toda essa

parte relacionada a sistemas legados, sistemas que auxiliam no processo da

indústria.

O que levou você a procurar esse curso de pós?

O curso de pós-graduação específico me motivou a questão de currículo

principalmente. Eu já tinha terminado a minha graduação há uns quatro anos. Logo

que eu terminei o colégio técnico de Processamento de Dados eu fiz a graduação.

Terminado a graduação eu não fiz mais nada, só fiz cursos especialistas na área e

aí o curso foi bem assim “poxa, eu preciso de uma pós-graduação para mercado, é

um curso que vai me ajudar na minha formação na minha área de TI”. Por isso que

eu procurei fazer um curso de pós-graduação, para currículo. E a questão do curso

de Projetos, foi que assim, eu não queria fazer nada muito ligado à informática,

apesar de sempre ter estudado tecnologia e informática, eu não queria fazer nada

muito ligado à tecnologia. Por exemplo, Gestão de TI, Gestão de Informática, SOA,

Desenvolvimento de Software, Segurança. Eu não queria fazer nada muito ligado a

isso, eu queria fazer um que fosse me trazer outro tipo de conhecimento. Um

conhecimento mais gerencial, pessoas, organizacional. Também não queria, por

exemplo, fazer aquele curso de gestão estratégica ou gestão de empresas, porque

ainda que seja um curso legal, que traga outro tipo de conhecimento pra mim, só

que de currículo não ia me adicionar muito agora, de carreira. Esses agora não me

trariam muito benefício. O curso de Projetos que eu encontrei, é um tema que eu

gosto, é um tema que nem sempre é ligado à informática e à tecnologia, é um tema

que está totalmente em moda e importante. Na minha empresa mesmo, tem

escritório de projetos, tem (termo técnico), é uma área inclusive que eu almejo,

porque eu não pretendo talvez trabalhar assim com informática pelo o resto da

minha vida. Eu penso em mudar de área e aí às vezes é até uma oportunidade, as

vezes surgindo uma vaga que eu possa internamente, sair da área de sistemas e

informática e ir para a área de projetos , mexer com qualquer projeto e qualquer área

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relacionado, acho que seria bastante interessante. Então foi algum dos motivadores

para esse curso.

Teve alguma mudança profissional relacionada ao curso?

Não.

Mas já teve alguma mudança? Você enxerga alguma mudança profissional

relacionada?

Profissional minha, sim. Profissional assim na questão de organização, de

conhecimento para gestão de projetos, para acompanhamento de projetos.

Conhecimentos pra mim e aplicações na minha empresa, no meu trabalho, sim. Eu

diria assim, que estou aplicando muito mais do que eu apliquei, nesses 3 ou 4

meses, aplico muito mais do que poderia aplicar do que quando eu fiz um ano e

meio de graduação. A pós está me ajudando nesse pouco tempo. Agora em questão

de salário e benefícios de carreira, nada ainda. Também eu nem terminei o curso

ainda.

Quem custeia o seu curso?

Eu mesmo.

O que foi mais significativo no curso pra você? O que está sendo mais

significativo no curso pra você? Professor, conteúdo, vivência, prática,

laboratório...

Está sendo assim, uma coisa que eu estou adorando, é que é a minha primeira pós-

graduação. Então o que eu mais estou gostando é a diferença de uma pós para uma

graduação. Eu acho que no curso de pós-graduação, todos os professores que nós

estamos tendo são professores de mercado e professores assim, que por exemplo,

sabem que a gente trabalha o dia inteiro e chega com uma outra expectativa aqui na

pós. A gente não chega com expectativa dele dar trabalhinho pra gente fazer, pra

fazer o be-a-bá. Aqui não, a gente aqui quer conhecer o mercado, quer

conhecimento prático de mercado, conhecimento de experiência, a vivência que ele

teve em anos que atuou no mercado. Eu estou vendo muita diferença de um curso

de pós-graduação. Eu imaginava que fosse diferente de uma graduação e tinha uma

expectativa sobre isso, mas eu estou sendo surpreendido pelo menos 2 ou 3 vezes

mais em relação à minha expectativa por causa disso. Realmente é um curso mais

voltado pra quando você está nessa fase mais avançada profissional. Se eu fizesse

esse curso logo que eu saí da graduação, eu acho que eu aproveitaria bem menos,

porque eu teria menos experiência de mercado, menos vivência, menos prática de

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lidar com gerentes, com pessoas e relacionamento. Então eu acho que é um

momento excelente e estou gostando bastante disso por causa dessa diferença, é

para esse momento de carreira mais avançado mesmo.

E o que você entende então de como era sua aprendizagem na graduação e a

sua aprendizagem agora na pós? Tenta diferenciar o que você acha que tem de

semelhante, como era na graduação e como está sendo agora na pós.

Na graduação eu acho que a gente tinha um conhecimento mais para ler um livro

técnico. Inclusive vários professores, por exemplo, não atuavam a muito mais tempo

no mercado. Às vezes eu até questionava os professores, “professor, não é bem

assim que funciona no mercado, que diferença?”, aí ele “não, tudo bem, mas a teoria

é assim e é assim que tem que ser”. Na pós-graduação, não. As aulas são muito

mais dinâmicas, tem aula que você não escreve nada, é só aula que o professor fica

conversando a aula inteira. Então realmente eu acho que isso tem sido muito

bacana, é como se você tivesse participando de várias palestras sobre vários

assuntos de pessoas, que do meu ponto de vista, são especialistas naquilo que

estão falando e têm um conhecimento teórico, prático e de mercado excepcional e

enorme para tratar vários assuntos. Eu acho que principalmente isso, na graduação

é como se eu estivesse lendo um livro técnico. Na pós-graduação, como se eu

estivesse participando de um programa de trainee, vendo a coisa acontecer

realmente, eu acho isso bem bacana.

E o que mais facilitou sua aprendizagem durante o curso?

O que mais está facilitando?

Isso, o que facilita sua aprendizagem no curso.

Eu acho que quando a gente tem professores que são bem dinâmicos, que não se

prendem e não se atentam só a ler o slide e apresentar o slide, trazem bastante

conteúdo prático para a aula, experiências práticas e exemplos, fazem várias

analogias durante a aula, que ajudam a gente a assimilar o conteúdo. Eu acho que a

dinâmica dos professores tem ajudado bastante, não é aquela coisa maçante. Às

vezes a gente chega cansado na pós e tem aula que as vezes a gente sai daqui dez

e meia, onze horas da noite, e não deu uma vontade de dormir na aula.

E o que mais dificulta sua aprendizagem agora na pós?

O que dificulta? Eu não vejo nada que dificulta assim, não vejo nada que me

dificultou. Acho que o cansaço no meu caso ocorre por causa do trabalho e vários

outros fatores. Não sei, não vejo nada que esteja dificultando, só realmente algumas

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aulas que fugiram um pouco dessa dinâmica que eu falei, até por causa do conteúdo

da própria aula, que era uma aula mais técnica, mais teórica, não tinha muito a ser

feito e a ser dinamizado nela. Aí acabava dando um pouco de cansaço na aula, mas

era só isso, não vejo grandes dificuldades.

Você consegue traçar um perfil, um caminho da sua aprendizagem que você

traçou na graduação e que você está traçando agora na pós? Como você

traçou sua graduação na questão da aprendizagem e se agora na pós você

continua usando os mesmos mecanismos. Vamos supor, de na graduação ler

mais e na pós ler menos, se é mais prático, se é mais teórico. Como você

enxerga essa aprendizagem que você está tendo na pós? Você consegue

delinear, ver um caminho? “Eu aprendo dessa maneira, eu aprendo melhor

dessa maneira”.

Eu acho que seria principalmente o que tem me agradado bastante nessa pós.

Assim, na graduação, eu fiz bacharel em Sistemas de Informação em 4 anos. Nos

dois últimos anos, eu nem levava caderno mais, por não ter muito interesse mesmo.

Eram conteúdos teoricamente que era meu dia-a-dia de trabalho às vezes, então

eram conteúdos fáceis de eu assimilar. Tanto que eu fiz a graduação inteira sem

nenhuma dependência, e as que eu quase peguei dependência foram por causa de

falta. Então eu acho assim, que na verdade na graduação, eu não fui traçando, boa

parte dela eu acabei empurrando com a barriga mesmo.

E agora na pós? Como você chega para nesse novo aprendizado da pós?

Já na pós-graduação, eu acho que é bastante diferente porque além de ter

despertado o meu interesse. Não que na graduação eu fui obrigado a fazer, mas

tinha que fazer e acabou. Já a pós-graduação não, foi um momento que eu decidi

fazer, decidi escolher, acho que era um momento que eu queria fazer, eu tinha

tempo para me dedicar, porque precisa se dedicar. Você não pode perder uma aula

da pós, porque se você perder uma aula você perde muito conteúdo, muita

informação. O que tem me ajudado bastante a assimilar conteúdo é justamente esse

dinâmica prática que pelo menos em todas as aulas que a gente teve até agora, tem

sido assim, pelo menos 70% ou 80% aplicada por todos os professores. Um ou outro

que foge desse contexto, acho que por causa do conteúdo da aula mesmo, que tem

uma necessidade teórica. Principalmente essa dinâmica e prática das aulas, não é

aquela coisinha de ler um livro técnico, é prática realmente, que você pode falar

“poxa, isso aqui eu posso aplicar em vários fatores, varias coisas”. Por exemplo, nós

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tivemos uma matéria recentemente sobre liderança e motivação, então essas coisas

você pode aplicar na sua vida, na sua equipe, na sua família, nos seus amigos, num

relacionamento, no trabalho de projetos. Em qualquer coisa você podia assimilar

aquele conteúdo, porque ele é colocado de uma forma bem dinâmica, não era

aquela coisa assim fixada na tecnologia, fixada em projetos, fixada na informática.

Então agora se eu te der uma folha em branco e você conseguir identificar

nessa folha, três pontos: você (aluno), professor e conhecimento. Como sua

aprendizagem caminha entre esses três pontos? Você, o professor e o

conhecimento. Então eu vou te dar essas canetinhas. Tenta fazer um desenho,

um esboço, uma planilha, um gráfico. Alguma coisa que você entenda que

você, aluno, o professor, o conhecimento e o caminho que você vai fazer para

chegar na sua aprendizagem. Qual a função de cada um deles?

Vou fazer mais ou menos um desenho...

Isso, qualquer coisa, essa folha em branco é sua.

Eu vou desenhar e você vai ter que entender (risos)...

Com relação ao seu desenho, me explica o que você fez.

Eu desenhei assim, o professor maior do que eu, aluno. Como se o professor

estivesse trazendo para nós um conhecimento de uma forma diferente, como foi

aquilo que eu falei em boa parte. Conhecimento de mercado, de prática, que é uma

coisa muito mais fácil pra gente assimilar hoje, pra gente pegar esse conhecimento,

pra gente adquirir esse conhecimento e de certo ponto até ter interesse nesse

conhecimento. Acho que hoje assim, se você for observar,a gente a todo instante é

bombardeado por conhecimento, por informação, de tudo quanto é tipo. A gente

assimila e pega aquilo que realmente nos tem interesse, seja muitas vezes

informação de trabalho, profissional. Às vezes informação, digamos, inútil, qualquer

besteira, qualquer coisa. Então assim, as vezes é bom também você ter esse tipo de

informação porque o dia inteiro você já recebe muita informação técnica e

profissional. Eu acho que o professor consegue assim, ele traz com ele não só uma

informação básica, um conhecimento básico. Ele traz um conhecimento prático, um

conhecimento de mercado. É uma informação muito mais dinâmica, preparada, uma

informação muito mais interessante, pelo menos no meu caso pra eu aluno adquirir

esse conhecimento, ter interesse em buscar em conhecimento, pegar esse

conhecimento que o professor está trazendo para a sala de aula.

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E a sua aprendizagem aí? Onde que ela aparece? Em que momento sua

aprendizagem está aí?

Em que momento?

Eu estou vendo você, aluno, o professor e estou vendo aqui o conhecimento,

mas não estou entendendo a aprendizagem.

Eu também não (risos). Como assim a aprendizagem?

Nessa relação aqui, o que você identifica aqui nesse desenho que seria sua

aprendizagem?

As setas laranja (risos)? É, pode ser.

Visualmente...

Visualmente sou eu adquirindo esse conhecimento, eu vindo e adquirindo esse

conhecimento, ganhando esse conhecimento, assumindo esse conhecimento.

Aprendendo isso o que o professor está trazendo para a sala de aula e eu posso até

completar o desenho aqui então rapidinho.

Pode complementar.

Automaticamente, fazendo com que essa aprendizagem seja transformada em...

Vou fazer uma propagandinha aqui, tá?

Tá. A aprendizagem...

Seja transformada em, tudo isso que eu tenho assimilado aqui e tenha

conhecimentos dessa forma que eu transformo em prática no meu trabalho, no meu

dia-a-dia na minha empresa.

Então só identifica pra mim que isso aqui seria a aprendizagem. Essa

“chuvinha” amarela é a aprendizagem.

Aqui sou eu de novo.

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Aluno S( 9) – SOA Qual a sua atuação profissional hoje?

Hoje eu sou analista de sistemas.

O que te levou a procurar esse curso de pós?

Me atualizar para o mercado. Esse curso além de estar alinhado com a expectativa

da empresa, está alinhado também com o que o mercado está esperando.

Houve alguma mudança profissional relacionada ao curso? Você subiu de

cargo? Foi para outra empresa? Passou de um cargo para outro na mesma

empresa? Foi chamado para outra empresa por causa do curso?

O curso colaborou para que eu fosse indicado para outras vagas dentro da empresa.

Dentro da empresa?

Dentro da empresa. A empresa que eu trabalho é uma multinacional, uma grande

empresa e ela tem o processo seletivo dentro dela. Eu fui indicado exatamente por

ter feito o curso e conhecer esse tipo de tecnologia. Eu fui indicado para outras

vagas, e por acaso eu estou mudando essa semana para outra vaga.

Como o curso está relacionado ao seu mundo de trabalho?

Está totalmente relacionado. Veja bem, está relacionado hoje de uma forma, como

que eu vou te falar... Hoje eu sou uma espécie de provedor. Tem duas maneiras de

encarar a matéria do curso: como sendo provedor de informação ou como sendo

consumidor de informação. Hoje eu trabalho como um provedor de informação, que

são sistemas legados, e estou indo agora para aquilo o que é o consumidor de

informação, indo de uma ponta para a outra. Onde eu vou ser o designer do serviço,

que eu trato de serviço de SOA, etc.

Quem custeia o seu curso?

Eu mesmo.

O que foi mais significativo pra você dentro do curso? Professor, didática,

vivência, conteúdo? Alguma coisa que pra você teve um significado maior.

Significado maior?

Ou assim, significativo com relação à sua aprendizagem, sua passagem pelo

curso.

Olha, acho que vivência.

A vivência você diz com relação a quem? Com os professores, com os alunos?

Com os professores, com a experiência dos professores e o network com os alunos

também. Acho que o que me marcou mais foi a vivência.

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E o que mais facilitou sua aprendizagem dentro do curso? O que você

identifica como facilitador para a sua aprendizagem?

Como facilitador da minha aprendizagem?

Alguma coisa que você entende que certos mecanismos facilitam sua

aprendizagem, que você identifica aqui no curso.

Eu não sei se pode ser considerado como mecanismo, mas eu acho que uma coisa

em comum entre os professores, eles tem uma vivência de mercado muito grande.

Essa vivência prática e essa capacidade de colocar exemplos práticos, que são

muito aderentes àquilo que a gente vê no mercado de trabalho, aquilo que a gente

vê no dia-a-dia das empresas, ajudou muito a consolidar o conhecimento.

E o que dificultou a sua aprendizagem?

O que dificultou? Essa é mais difícil.

Não é assim com relação à conteúdos difíceis, é assim o que você entende que

dificultou sua aprendizagem dentro do curso.

Eu acho que um “dificultador” pra mim foi o fato de estar trabalhando e estar lidando

com projetos grandes ao mesmo tempo e às vezes não ter tempo pra estudar, ao

mesmo tempo que eu estava fazendo o curso.

Você entende que a falta de tempo foi uma dificuldade que você encontrou?

Foi uma dificuldade que eu encontrei.

E agora ao final do curso, você que já está acabando, você conseguiria definir

os caminhos que você traçou para aprender? Diferente da graduação, pelo

momento agora de pós, você consegue definir que caminho você conseguiu

traçar na sua aprendizagem? Você tem essa visão? Como era sua graduação?

Como você aprendia na graduação? E agora na pós? O que elas têm de

diferente, de semelhanças? Como você entende?

Olha, nunca parei para pensar muito nisso. Acho que tenho que pensar um

pouquinho para conseguir identificar essas diferenças. Eu acho que enquanto eu

estava na graduação era uma coisa muito mais expositiva, aquela coisa do

professor, uma coisa muito mais tradicional. É aquela relação de aluno que você vê

desde o primário, então o professor entra na sala de aula, ele expõe o conteúdo,

você leva o conteúdo pra casa, estuda e faz prova.

Aqui na pós, você tem muito mais o seu comprometimento de você querer aprender

aquilo porque você está aqui porque você quer melhorar, você quer conhecer mais.

Claro, na graduação você também queria, mas é um outro momento. Você também

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queria aquilo, mas hoje você está num momento em que você quer muito mais se

aprimorar naquilo que você já está trabalho, você já tem o conhecimento prévio

daquilo. Então eu acho que você busca o conhecimento de uma outra forma, eu

acho que realmente é bem diferente.

Você consegue identificar essa busca ao conhecimento, que caminho você

traça agora que era diferente da graduação? Você consegue identificar?

Identificar isso é uma coisa bastante complicada. Tem essa diferença, entendeu? Eu

consigo perceber que são diferentes, mas eu não consigo identificar realmente qual

é essa diferença. Não sei se é uma coisa que, porque eu sou de tecnologia e nunca

prestei atenção nisso, então eu consigo saber que existe uma diferença, mas não

consigo saber qual é esse caminho.

Então vamos pensar como você começou a falar. Na graduação, você achava

que era tudo mais...

Era muito mais mecânico.

E agora aqui na pós?

Agora aqui é uma coisa de muito mais esforço pessoal meu, de correr atrás daquilo

que eu quero, de esforço pessoal meu mesmo. De buscar, de prestar atenção

naquilo que está sendo colocado, de questionar mais. Talvez de pensar mais e

questionar mais, não sei.

Nesse momento agora da pós...

Nesse momento agora assim.

Diferente da...

Diferente da graduação. É.

Com relação ao seu desenho...

Eu julgo o conhecimento como uma coisa muito ampla, por isso que eu coloquei aqui

em cima como uma coisa extremamente ampla e disponível. Eu imagino que no

caminho da aprendizagem tem o professor sendo como um facilitador dessa

aprendizagem, mas uma coisa que eu também adquiro sem necessariamente ter o

professor. É uma coisa que eu tenho que adquirir independente dele, apesar dele

ser um facilitador pra que esse conhecimento e a aprendizagem cheguem até a

minha pessoa.

Então você entende o professor ali como...?

Como sendo um facilitador.

Você pode escrever aí do lado?

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Posso.

A aprendizagem você colocou ela identificando como o que? A impressão que

eu tenho é que é uma estrada, é isso?

Exato, exato. Levando pra tecnologia como um barramento (risos), não deixa de ser

uma estrada.

É como você disse antes, que era um fluxo?

É, um fluxo.

Então o conhecimento aqui amplo. Você entende a aprendizagem mais estreita

que o conhecimento ou não?

Não que a aprendizagem seja mais estreita, é que aquilo que eu estou focando

naquele momento para aprender tem que ser alguma coisa que é focada, e por isso

tem que ser estreito naquele momento. Eu não posso aprender todo o conhecimento

do mundo naquele momento, então eu tenho que focar em determinado ponto.

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Aluno S(10)-SOA Qual a sua atuação profissional hoje?

Sou analista de sistemas numa empresa de grande porte. Trabalho como analista de

sistemas no desenvolvimento de software na área de requisitos.

O que levou você a procurar esse curso de pós? Por quê?

A minha formação básica é na área de administração e eu procurava uma

especialização na área de TI. De encontro com o meu dia-a-dia, eu encontrei na pós

a teoria da prática que eu tinha. Então eu conciliei todas as disciplinas de

engenharia com o meu dia-a-dia. SOA era um diferencial, um conhecimento novo

que eu ia adquirir também. Então acabei unindo o útil com a novidade.

Teve alguma mudança profissional relacionada ao curso?

No meu dia-a-dia assim, não. Mas assim, eu acabei de passar por uma experiência

de ver que o mercado está aquecido e justamente por ter feito uma pós-graduação

com SOA, isso foi um diferencial para chamar atenção ao meu perfil. O mercado se

interessou por isso, apesar de eu continuar no mesmo emprego e não ter mudado

de emprego ainda. Então é uma coisa que mostrou que a pós valeu bastante a

pena. No meu dia-a-dia, assim, não trabalho ainda com isso, com essa novidade da

época de quando eu comecei o curso da pós. Mas assim, a iniciativas de que a área

vai começar a captar demandas para trabalhar com essa tecnologia.

Diretamente ou não diretamente, o curso está relacionado com o seu mundo

de trabalho?

Sim.

Você consegue atrelar a teoria que você teve no curso com o dia-a-dia do

trabalho?

Sim, diariamente eu trabalho com toda a área de engenharia.

Quem custeia seu curso?

Eu mesma.

O que foi mais significativo pra você no curso? Que você entende como um

ponto alto dentro do curso? Vivência, professor, didática, relacionamento?

A experiência dos professores, diferente da época da graduação. Eu percebi nos

professores da pós, a experiência de mercado. Então assim, o que eu passo no meu

dia-a-dia eu percebia nos professores da pós e os meus colegas na pós também

eram pessoas do mercado, que estavam lá atuando, trabalhando na área. Então

isso foi bastante interessante.

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O que mais facilitou sua aprendizagem durante o curso? O que você consegue

identificar como um facilitador?

O assunto, por ser do meu dia-a-dia, facilitou bastante. Diferente, por exemplo, da

época da minha graduação, que eu trabalhava na área de Tecnologia da Informação

e estudava administração. A pós conciliou o meu dia-a-dia com a teoria, então isso

foi um facilitador mesmo.

E o que mais dificultou sua aprendizagem? O que você entende aí como um

ponto de dificuldade que você encontrou ao longo do caminho?

Alguns assuntos, assim, eles não foram muito práticos e também não fazem parte da

minha prática. Então assim, às vezes ficava meio abstrato, era um conhecimento

teórico, mas que dificilmente eu ia exercer ou até mesmo durante aulas não teria

como ver aquilo de forma mais prática.

E agora no final do curso, você consegue definir os caminhos que você traçou

pra aprender, para a sua aprendizagem nesse processo? Como era na

graduação, o fato de você ter feito um curso de administração e fazer uma pós

em tecnologia. Como você traçou a graduação e a pós-graduação na

aprendizagem? Você consegue identificar?

Na graduação, eu não conseguia conciliar com o meu dia-a-dia, era muito mais

distante aquele mundo. E a pós, ela já era mais real pra mim, então eu conseguia

discutir muitos assuntos no trabalho já em função da pós, assim “esse assunto eu

estou vendo na pós, é assim que está se fazendo por aí”. As vezes não implementar

aquela ação no trabalho, mas só de abordar o assunto, levar a idéia para dentro do

trabalho.

Você vê uma diferença maior do caminho da graduação e da pós-graduação?

O que você consegue estabelecer de diferença ou de semelhança neles?

A pós-graduação, eu vi que ela está voltada para o resultado. Ela está diretamente

ligada ao meu trabalho assim, como obter um resultado no dia-a-dia. Além de pensar

e como resolver problemas. Na época da graduação era mais imaginário aquele

mundo de como seria o funcionamento de uma empresa. Hoje eu já estou no

mercado, então a sensação de que aquilo é concreto e como resolver problemas no

dia-a-dia, como aquilo pode me ajudar, foi mais real com a pós.

Explicando o seu desenho, os três pontos: você, professor e conhecimento,

como você identifica sua aprendizagem no desenho que você fez?

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Eu vejo o conhecimento como uma nuvem que está disponível a todos, só que o

professor acaba facilitando o acesso a esse conhecimento ao aluno. O aluno, ele

tem condições de buscar esse conhecimento por conta própria, mas assim, às vezes

nós precisamos de um facilitador no aprendizado em si. E então eu vejo assim,

como uma estrada e essa nuvem está ali disponível. Quem puder aproveitar dela

tem acesso ao conhecimento disponível. O professor só tem meios de facilitar o

acesso a este conhecimento. Ele tem como traduzir muitas vezes, trazendo a

informação de uma forma melhor e resumida pra que o aluno aprenda mais rápido,

pra ajudar o aluno no processo de aprendizagem mais rápida do que seria por conta

própria.

E o professor entra aonde? Não estou conseguindo visualizar.

O professor está aqui em parceria com o aluno, eles estão numa caminhada. Aí ficou

meio ao “ar livre” (risos), numa situação meio de que o aluno não estaria sozinho, o

professor está aqui na caminhada com ele passando o conhecimento que ele tem.

Ou melhor, que ele tem como demonstrar para o aluno, porque está aqui disponível,

poderia ser até mesmo o próprio aluno tendo acesso a essa informação.

E aqui então fica o professor?

Professor facilitador, o aluno e essa aqui é a estrada da aprendizagem e do

conhecimento.