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1 TATIANI PEREIRA A PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO E DOS TÉCNICOS DE ENFERMAGEM FRENTE À PERDA DE PACIENTES NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA. Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí Orientador: Profº. Dr. Jamir João Sardá Júnior Itajaí (SC), 2009

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TATIANI PEREIRA

A PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO E DOS TÉCNICOS DE

ENFERMAGEM FRENTE À PERDA DE PACIENTES NA UNIDADE DE

TERAPIA INTENSIVA.

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí Orientador: Profº. Dr. Jamir João Sardá Júnior

Itajaí (SC), 2009

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Parêmias da Morte e da Dor Eu ontem morri... Morri para os sonhos, Para a ilusão de uma vida Que contemplasse a dignidade na doença e na dor... Morri para embandeirar a Luta por uma sociedade onde os Doentes não fossem simplesmente Atirados juntos aos restos de detritos sociais... Morri para o entorpecimento Do álcool para alívio da minha angústia... E nasci para a descrença num novo mundo. Eu ontem morri Nas veredas da paixão Acreditando que a vida concebesse Momentos de prazer sem cobrar determinantes de sofrimento... Morri ao nascer para a vida sentindo O desprazer da solidão... Morri quando fui arrancado de minha inocência. Nasci para morrer num pranto sem lugar para alegrias furtivas e isoladas... Morri quando conheci a realidade hospitalar. Quando percebi a minha inquietação Diante do quietismo de todos – os pacientes e Profissionais envolvidos na saúde. Eu morri num hospital... E nasci para o isolamento de Uma luta incessante e sem tréguas... Morri para a mesmice da vida E nasci um novo homem que Tem a petulância de ainda ter fé Em transformações sociais... na dignidade, Na doença e na dor. (Valdemar Augusto Angerami Camon)

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é o efeito ou ação de gratidão. E com a minha gratidão eu exponho à

quem eu realmente sou grata. Agradeço à Deus pela oportunidade de vivenciar esta

realidade e crescer juntamente com ela.

À meus pais que se dedicaram intensamente na minha criação física e

principalmente espiritual e psicológica. À minha tão querida mãe, que sempre me

incentiva à viver e progredir. À meu pai que carinhosamente me estimula à continuar

seguindo meus sonhos e objetivos. À minha irmã que me incentivou nos momentos

de dificuldade. Ao apoio que todos os meus familiares me possibilitaram ao longo

deste trajeto de lutas e crescimento pessoal e profissional.

Meus queridos amigos que estavam sempre ao meu lado dando apoio e

incentivo. Ao pessoal do Centro Acadêmico que muitas vezes me deu suporte e me

fez com que continuasse à trilhar esta jornada. Que me auxiliaram à crescer e estão

trilhando juntamente comigo este caminho de conhecimento, à vocês muito obrigada

amigos!

À instituição hospitalar por ter aberto suas portas para que esta pesquisa

pudesse ser realizada. Às profissionais de enfermagem da UTI que amavelmente

abriram seus corações e tornaram este estudo enriquecedor.

Giovana Delvan e Josiane Prado, à vocês meu muito obrigada por comporem a

banca e por terem prontamente aceito avaliar e contribuir com a presente pesquisa.

Ao meu orientador Jamir que em muitos momentos me instigou à correr atrás,

pesquisar e conhecer a realidade hospitalar. Que me fez repensar muitos conceitos

e concepções através do estudo da morte e possibilitou o meu crescimento

enquanto profissional, com uma visão mais ampla e abrangente da realidade. À

todos vocês os meus agradecimentos, muito obrigada!

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................ 5

LISTA DE TABELAS ...............................................................................................6

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................... 9

2.1 Os profissionais da enfermagem na UTI.......................................................... 10

2.2 Estresse no contexto da UTI........................................................................... 12

2.3 A percepção da perda vivenciada pelos profissionais de enfermagem........... 15

2.4 A percepção da perda na UTI: crenças e valores........................................... 18

2.5 Fenomenologia: um olhar sobre a perda......................................................... 21

2.6 Estratégias de enfrentamento........................................................................... 23

3. METODOLOGIA.................................................................................................. 26

3.1 Participantes da pesquisa................................................................................. 26

3.2 Técnicas e Instrumentos.................................................................................. 26

3.3 Procedimentos para a coleta dos dados........................................................... 27

3.4 Procedimentos para a análise dos dados......................................................... 27

3.5 Procedimentos Éticos na pesquisa com seres humanos.................................. 28

3.6 Caracterização do serviço...................................................................................28

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:................................................ 29

4.1 Percepção da Unidade de Terapia Intensiva.................................................... 31

4.2 Percepção da relação com o paciente............................................................. 35

4.3 Percepção da relação com o familiar............................................................... 38

4.4 Papel profissional............................................................................................. 41

4.5 A percepção dos profissionais da enfermagem sobre a perda pacientes ...... 44

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 50

6. REFERÊNCIAS.................................................................................................. 53

7. ANEXOS............................................................................................................. 58

7.1 Anexo 1 ........................................................................................................... 59

8. APÊNDICES ...................................................................................................... 60

8.1 Apêndice 1...................................................................................................... 61

8.2 Apêndice 2 ...................................................................................................... 62

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A PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO E DOS TÉCNICOS DE ENFERMAGEM FRENTE À PERDA DE

PACIENTES NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA.

Orientador: Prof. Dr. Jamir Sardá Júnior Defesa: Novembro de 2009

Resumo:

A morte e o processo da perda é um acontecimento complexo de ser vivenciado por todo ser humano, sendo que

todo contexto envolve perdas. Nas atividades dos profissionais de enfermagem a morte é uma rotina vivenciada.

Preocupar-se com as perdas dos profissionais de saúde é um aspecto relevante, parte integrante da saúde mental

destes profissionais. Dada a relevância destes assuntos e suas implicações para os profissionais de enfermagem

na UTI o trabalho visa conhecer as percepções destes profissionais diante da morte dos pacientes no setor e

como ocorre o seu processo de luto. Essa pesquisa qualitativa realizou-se com uma amostra de cinco técnicos de

enfermagem e uma enfermeira que trabalham na UTI do Hospital Santa Inês(SC), utilizando como instrumento

uma entrevista semi-estruturada. Os dados foram analisados pela análise de conteúdos. Os entrevistados

apresentaram perceber a perda de pacientes como um processo natural, compreendendo a vida como um ciclo,

com a compreensão de finitude. Trouxeram sentimentos ambíguos(tristeza/alívio) perante essa perda. Diferença

do sentimento atribuído à perda de um idoso e de um jovem. A maior perda é atribuído aos familiares dos

pacientes, os profissionais trazem que se fosse um familiar deles internado no setor teriam maiores sentimentos

de sofrimento. Os sentimentos perante a perda dos pacientes foi de fracasso, comoção, tristeza, alívio pelo

repouso, entre outros. Como estratégia de enfrentamento a esta perda apresentou-se a religião como grande

aliada; distanciamento do paciente sendo uma estratégia considerada efetiva; conhecer o seu papel enquanto

profissional também é uma estratégia válida.

Palavras-chaves: Profissional de enfermagem; Unidade de Terapia Intensiva; Percepção; Perda; Sub-área de conhecimento: Processos perceptivos e cognitivos – 7.07.07.01-4

Membros da banca:Mestre Giovana Delvan Stuhler e Mestre Josiane Aparecida F. de Almeida Prado

______________________________________

Mestre Giovana Delvan Stuhler

______________________________________

Mestre Josiane Ap. F. de A. Prado

________________________________________

Doutor Jamir João Sardá Junior

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1....................................................................................................................30

Tabela 2....................................................................................................................31

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1. INTRODUÇÃO:

A profissão do enfermeiro ou técnico em enfermagem se caracteriza pela

atividade de cuidados de saúde ao ser humano, à realização e aperfeiçoamento de

tecnologias e procedimentos que promovam a saúde dos indivíduos, prevenção de

doenças, recuperando lesões ou com a impossibilidade de cura ou recuperação,

auxilia o paciente no seu processo de morte com todos os cuidados paliativos

necessários (BAGGIO, 2006).

O modo de pensar a percepção sobre o mundo das pessoas depende de

diversos fatores, bem como diversas esferas da vida. A visão de mundo, crenças e

valores, experiências de vida, contextos sócio-econômicos, dentre outros fatores,

contribuem para a escolha profissional. No momento da escolha profissional existem

algumas habilidades e competências que são necessárias ao exercício profissional.

Por exemplo, técnico de enfermagem que atua na Unidade de Terapia Intensiva

(U.T.I.), necessita compreender a vulnerabilidade humana diante da morte.

O hospital é um espaço mobilizador e a Unidade de Terapia Intensiva é um

ambiente gerador de maiores tensões pela necessidade de eficiência imediata,

levando em conta que os pacientes estão em estado grave de saúde. Alguns

possuem prognóstico favorável para sobrevivência, o que demanda à realização de

técnicas e procedimentos sofisticados para que possam auxiliar na recuperação do

paciente (OLIVEIRA, 2002). Esta descrição da atividade profissional permite inferir a

existência de um ambiente estressante, sendo um dos maiores eventos

estressantes, vivenciados pelos profissionais de enfermagem seria o lidar com a

morte.

O significado da palavra morte está geralmente vinculado ao sentimento de

sofrimento da morte alheia, pois refletir sobre a própria morte necessita de um

momento, para repensar sobre a vida, para refletir sobre a morte e o morrer, que é

outro paradigma humano. Precisa-se compreender que, quando se reflete sobre a

morte também se repensa a vida e o modo de viver (SCHRAMM, 2002).

Um olhar fenomenológico sobre o processo da perda, com as crenças e

valores associados a esse evento, permite entender o significado atribuído a morte e

ao morrer. No presente trabalho, a compreensão da percepção dos profissionais de

enfermagem frente a perda de pacientes será fundamentada, a partir de um olhar

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fenomenológico, pois este se preocupa essencialmente com o seu rigor

epistemológico, promovendo a radicalização, numa análise crítica dos fundamentos

e das condições de possibilidade do conhecimento (FIGUEIREDO, 1991 apud

FUKUMITSU, 2004).

Muitas vezes, os profissionais de enfermagem compreendem a morte do

paciente como fracasso humano ou finitude de uma existência. Poles e Bousso

(2006) afirmam que a forma como a morte é percebida diverge entre as pessoas,

essas percepções trazem grandes repercussões, ao partir destes pressupostos,

alguns autores sugerem que a reflexão sobre o que seria a morte, poderia auxiliar a

compreender e vivenciar este processo, contribuindo assim para uma melhor

elaboração das perdas.

Diferentes percepções sobre a morte, possuem diferentes implicações no

aumento do sofrimento ou alienação no profissional de enfermagem da UTI. O

presente trabalho pretende conhecer as percepções que os profissionais possuem

sobre a perda dos pacientes, o que poderá contribuir para a construção e

desenvolvimento de intervenções futuras, que permitam ao profissional refletir sobre

a morte e o morrer, repensar o seu papel como profissional frente à perda dos

pacientes, minimizando o sofrimento.

Embora existam pesquisas que investiguem esse fenômeno como

Nascimento e Trentini (2004); Baggio (2006); Lima e Teixeira (2007), poucas

pesquisas foram realizadas na população de profissionais desta região, o que de

certa forma, justifica a relevância científica deste estudo. Existem alguns aspectos

congruentes relacionados com a temática que devem ser conhecidos e

reconhecidos, a partir disso foi elencado como objetivos específicos: descrever a

percepção dos profissionais de enfermagem sobre a perda dos pacientes da

Unidade de Terapia Intensiva; identificar nos profissionais de enfermagem

sentimentos relacionados à morte dos pacientes; levantar os recursos pessoais

utilizados por eles diante da perda de pacientes na UTI.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:

A morte é do ponto de vista biológico um evento inerente à condição humana,

um fator natural no ciclo vital do ser humano. Porém, o ser humano possui a

capacidade de atribuir sentimentos e significados aos acontecimentos, como

empatia, alegria, tristeza, raiva, desprezo, cumplicidade, inveja, entre outros

sentimentos, alterando assim o valor biológico dos eventos. A percepção atribuída

aos eventos, possui antecessores culturais como expressões faciais que podem ser

correlacionadas em diversas populações, com as emoções. Porém, a expressão

facial não pode ser relacionada ao evento gerador da emoção existindo assim, uma

variação cultural nessa situação, sobretudo perante o acontecimento “morte”

(SIMÕES; TIEDEMANN, 1985).

No oriente a visão da morte é fortemente norteada por crenças religiosas

como o hinduísmo, o budismo e o taoísmo. Em todas essas religiões ou filosofias a

morte é compreendida como um processo natural. Uma passagem para a outra vida,

uma etapa necessária à evolução humana. Já para o homem ocidental e moderno a

morte não é vista apenas como um evento biológico e sim como um fracasso

humano, algumas vezes associada ao sentimento de finitude e vergonha. Em alguns

momentos os indivíduos tentam driblar a morte, pois quando acontece a morte alheia

os sujeitos são acometidos por sentimentos de fracasso (COMBINATO; QUEIROZ,

2006).

Durante o início da idade média a morte era percebida como um

acontecimento natural, encarado com familiaridade. O doente seguia um ritual de

despedida com os entes queridos, sendo a morte um acontecimento público. As

pessoas eram enterradas no pátio da igreja, que também era um espaço de

festividades, existindo a coexistência entre mortos e vivos. Com o passar dos

séculos esta proximidade tornou-se incômoda para a sociedade. As sepulturas

ganharam um espaço específico para serem colocadas os corpos com placas de

identificação e fotos. Já no século XVIII a morte possuía uma ênfase dramática, o

foco voltava-se aos familiares e ao sofrimento durante o luto. A partir dessa época

no século XIX a morte passou a ser percebida como tabu. Os doentes são poupados

do real estado de sua saúde e a morte é um assunto omitido especialmente com as

crianças (TAKAHASHI et al., 2008).

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Segundo Rodrigues (2006) na compreensão dos ocidentais foi instalada a

idealização de “amortalidade” acontecendo uma transformação da concepção da

morte que era percebida como um evento natural para “a Morte”, ou seja, tornou-se

um evento temido pelo desconhecimento do que acontece após a morte. Durante

esse fluxo de morte e morrer, este evento de vida ganhou poder e sentimento de

receio até mesmo medo perante a sociedade. “A Morte” é fruto da sociedade

industrial, sendo que quando não se está vivo torna-se completamente inexistente.

Assim o morrer tornou-se o maior obstáculo da humanidade, fruto da oposição que

existe entre vida/morte para a nossa cultura.

Atualmente a sociedade é amplamente subsidiada por recursos tecnológicos

e científicos, porém diante destes avanços a morte continua um obstáculo e

acontecimento misterioso a ser decifrado e algumas vezes, até mesmo um tabu. A

partir da década de 50 iniciaram os primeiros trabalhos para discussão sobre a

temática da morte, na tentativa de separar a morte do oculto, misterioso e aproximá-

la do científico e conhecido, sendo assim, um objeto de estudo (TAKAHASHI et al.,

2008).

A temática da morte é objeto de estudo de várias teorias psicológicas como a

psicanálise, a abordagem analítica de Jung, a fenomenológico-existencial de

Heidegger, que abrangem diversas percepções sobre a morte e os processos

implícitos a essa condição (KOVÁCS, 1992). O modelo teórico adotado para a

compreensão do fenômeno estudado será a fenomenologia. Os conceitos centrais

desse modelo teórico serão apresentados posteriormente.

2.1 Os profissionais de enfermagem na UTI

Sales et al. (2007) descreve que a UTI desde a década de 70 durante sua

formação no Brasil se caracteriza como um local estressante, pois se destina ao

atendimento e cuidado de pacientes gravemente enfermos e a qualquer momento o

profissional pode lidar com o agravamento do quadro de um paciente. Torna-se

assim um dos ambientes mais tensos do complexo hospitalar. O estresse inerente

ao ambiente é decorrente da alta complexidade dos procedimentos realizados, da

urgência das ações, da gravidade dos quadros, das perdas eminentes e demandas

familiares.

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Apesar de ser um local de trabalho estressante a UTI desperta o interesse

profissional como campo de atuação. Um estudo realizado em São Paulo, Frias e

Takahashi (2000) visando identificar o perfil dos candidatos ao ingressarem no curso

técnico de enfermagem, com uma amostra de 32 sujeitos; identificaram através da

aplicação de um questionário, que os ingressantes do curso técnico de enfermagem,

demonstravam uma maior afinidade (36%) com o trabalho na Unidade de Terapia

Intensiva, ou seja, no trato com pacientes graves. Esses dados possuem alguns

aspectos norteadores e relevantes no momento de repensar a profissão dos técnicos

em enfermagem e a sua atuação na UTI, bem como aspectos referentes à escolha

profissional para atuação na unidade.

Outro aspecto necessário a ser frisado sobre a atuação do técnico de

enfermagem é que geralmente nas UTIs o enfermeiro permanece com a função de

gerenciamento do setor, supervisão das atividades realizadas pelos técnicos e já os

técnicos de enfermagem permanecem com as atividades consideradas mais

“pesadas”, cansativas e indispensáveis para assistência dos pacientes. Como:

alimentação, higiene, aplicação de medicamentos, realização de curativos, entre

outras atividades, consideradas na sua essência manuais (GARANHANI et al.,

2008).

Partindo dos pressupostos, pode-se refletir sobre essa área de atuação que

implica na realização de tarefas e atividades de caráter mais mecânico e rotineiro,

que evidencia a necessidade de humanização destes profissionais que estão em

contato direto com os pacientes. Segundo Figueiredo e Stein (2004) a humanização

é um processo vivencial que permeia as atividades realizadas pelos profissionais,

que a todo momento visam o melhor atendimento para os pacientes, respeitando o

“ser humano”.

Nascimento e Trentini (2004) concordam que a profissão de enfermeiro ou

técnico de enfermagem não deve ser somente mecanicista, centradas nas técnicas

de um procedimento, uma vez que a relação com o paciente é um fator importante

na atuação profissional, inclusive implica no desenvolvimento de atitudes mais

humanizadas. Amaral (2004) afirma que este despreparo na formação leva os

profissionais a um distanciamento maior com o paciente, evitando um

superenvolvimento para minimizar o sofrimento quando o paciente vier a falecer,

portando a idéia da morte, como fracasso humano.

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O distanciamento existente entre profissionais de enfermagem e pacientes

internados na unidade é uma estratégia utilizada freqüentemente. O distanciamento

é um mecanismo de defesa utilizado, que pode ser importante em algum momento

para a proteção individual dos sujeitos que partilham desta realidade profissional.

Este distanciamento afetivo pode ter um papel protetor para lidar com as perdas

constantes (SIQUEIRA et al., 2006). Porém, mesmo fazendo uso deste artifício o

estresse profissional pode estar intimamente relacionado a esta variável, na medida

em que o distanciamento não protege os profissionais de sofrerem os

acontecimentos do setor, também não os distanciam da sobrecarga laboral entre

outras variáveis relacionadas ao estresse profissional.

2.2 Estresse no contexto da UTI

Para Sales et al. (2007) alguns aspectos podem influenciar os profissionais de

enfermagem a se tornarem vulneráveis ao estresse permanente: a rotina repetitiva;

o prolongamento das jornadas de trabalho; as tarefas de extrema responsabilidade;

a insuficiência de material ou conflitos no ambiente de trabalho; o confronto

permanente com o sofrimento e a morte; a organização do trabalho; a falta de

reconhecimento ou autonomia; o inter-relacionamento com médicos, enfermeiros,

fisioterapeutas entre outros profissionais; a dupla jornada de trabalho ou ainda a

dupla jornada que inclui as tarefas de casa associadas as do hospital. Para estes

autores, somente o fato de cuidar de pacientes em situação crítica de saúde exige

cuidados especiais, que também são altamente estressantes para os profissionais

da saúde. Os reflexos corporais desse estresse nos profissionais da saúde podem

aparecer em forma de fadiga, irritabilidade, depressão, nervosismo, entre outros. O

profissional não deveria ser vítima do seu trabalho e sim um instrumento de valor e

qualidade nas ações que desempenha.

Um estudo sobre o estresse realizado por Sales et al. (2007) em uma equipe

de enfermagem na UTI com uma amostra de 13 profissionais, entre eles enfermeiros

e técnicos de enfermagem com o instrumento de entrevistas semi-estruturadas,

utilizando categorias, que permitiram identificar os vários fatores relacionados ao

estresse profissional; foi possível identificar diversos estressores ocupacionais. A

primeira categoria de estressores envolve aspectos referentes ao barulho e

agitação, uma vez que as UTIs geralmente possuem grande movimentação de

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equipamentos barulhentos, emergências, luzes fortes e um ambiente extremamente

frio no aspecto visual. A sobrecarga de trabalho descrita pelos autores como a

segunda categoria, compreende aspectos referentes ao contato constante com o

sofrimento humano, procedimentos com os familiares, sobrecarga de trabalho,

outras responsabilidades, conflitos interpessoais, dentre outros.

Os resultados desse estudo sugerem que as dificuldades encontradas podem

estar associadas ao estresse existente neste ambiente de trabalho, ou seja, a

necessidade excessiva de atenção e agilidade para execução das tarefas;

problemas intra-setoriais com colegas ou supervisores; má alimentação; problemas

pessoais de saúde vivenciados nesse ambiente, muitas vezes insalubre ou agitação

e cansaço laboral, todas estas condições são postuladas pelos profissionais de

enfermagem como estressores presentes no ambiente de trabalho; não há

referência da existência de um grupo de apoio para auxiliar nestas dificuldades

(SALES et al., 2007).

Um aspecto relevante na percepção do estresse é compreender que a

motivação e o estado emocional influenciam este fenômeno. A motivação torna a

percepção seletiva e enviesada, sendo que a diversidade surge de uma

interpretação diferente em nível visual. Essa interpretação não é possível de ser

manipulada conscientemente. Porém, os estados emocionais e motivacionais de

pertencer ou não a um grupo social influenciam no estresse. O estresse também é

influenciado por estados motivacionais elementares como fome, sede e desconforto.

Então, a percepção deste ambiente de trabalho acontece numa dialética de

percepção ambiental, emocional, cognitiva, corporal, entre outras. Partindo deste

processo, os profissionais demonstram sintomas corporais como o estresse

profissional, tornando-se um ciclo vicioso, por exemplo, perceber o trabalho como

estressante, apresentar sintomas de estresse profissional e permanecer neste ciclo

vivencial (SIMÕES; TIEDEMANN, 1985).

O estudo de Guerrer e Bianchi (2008) traz uma caracterização dos

enfermeiros que atuam nas regiões brasileiras no que se refere ao nível de estresse.

Neste estudo com uma amostra de 263 enfermeiros, utilizou-se como instrumento a

Escala de Bianchi de Stress, 105 dos profissionais apresentaram nível baixo de

estresse, 96 profissionais com nível médio de estresse e 62 em níveis de alerta para

alto estresse, sendo que nenhum apresentou alto nível de estresse. Estes níveis de

estresse estão relacionados com dificuldades nos recursos inadequados,

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atendimento ao paciente, relações interpessoais, carga emocional, cobrança,

sobrecarga de trabalho, reconhecimento profissional, poder de decisão. Embora

utilizando metodologias diferentes tanto esse estudo como o descrito anteriormente

identificaram estressores ambientais associados à atividade profissional.

Outro estudo realizado por Ferrareze, Ferreira e Carvalho (2006) investiga a

ocorrência de estresse com enfermeiros que atuam na UTI de um hospital

universitário em Ribeirão Preto – SP. A amostra foi composta por 12 enfermeiros,

em sua maioria do sexo feminino. Como método foi utilizado um instrumento para

descrição sócio demográfica e o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de

Lipp (ISSL). Os resultados identificaram que 8 profissionais possuíam números

elevados de sintomas físicos e psicológicos de estresse. Caracterizando-os como

portadores de estresse em altos níveis, em 4 profissionais não houve indícios de

sintomas de estresse, o que sugere que esses profissionais possuem uma resposta

de adaptação mais adequada. Utilizam estratégias de enfrentamento eficientes, ou

ainda não percebem alguns dos aspectos referidos como estressantes. Todos os

participantes se apresentaram na fase de resistência, não evidenciando em nenhum

deles a fase de quase exaustão ou exaustão.

Os diversos estudos descritos acima ilustram claramente e permitem

compreender alguns dos estressores ocupacionais presentes nesta atividade. Dentre

os fatores descritos na literatura o fato de lidar com a perda eminente na UTI parece

ser um fator estressante. A visão de morte que é transmitida a estes profissionais na

sua formação é de fracasso, pois esses optaram por esta profissão para auxiliar o

próximo, querendo salvar vidas. A morte como uma expressão máxima do ser não é

explorada na formação, como um processo natural, não condiz com o conceito

aprendido o que causa um despreparo destes profissionais para lidar com a morte

(KOVÁCS, 1992).

Os profissionais de saúde somente quando entenderem a morte como um

processo vital é que poderão trabalhar com o sujeito em sua terminalidade. Pois a

morte não deve ser entendida como um desafio técnico e sim como a expressão

máxima do ser, de certa forma a completude do processo vital (BOEMER 1986 apud

AMARAL, 2004).

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2.3 A percepção da perda vivenciada pelos profissionais de enfermagem

A morte é compreendida de diversas maneiras, em diferentes culturas e por

diferentes indivíduos, também ocorrem modificações na visão deste processo se

observado pelo prisma de diversas profissões e em diversos ambientes.

A morte para os profissionais de enfermagem na UTI faz parte da rotina,

sendo assim, pode-se com freqüência ser percebida como algo natural. Por outro

lado a perda de pacientes, pode representar uma sensação de impotência frente à

evolução do quadro, diminuindo até a auto-estima destes profissionais (POLES;

BOUSSO, 2006). Essa sensação de impotência pode estar relacionada ao fato dos

profissionais não serem preparados durante a formação acadêmica para lidarem

com esses sentimentos. Pois recebem um enfoque teórico-técnico e metodológico

que não contemplam esses aspectos sob o ponto de vista psicológico e não existe

um respaldo psicológico para trabalhar questões que emergem no sujeito diante

dessa situação. (COMBINATO; QUEIROZ, 2006).

Os profissionais de enfermagem lidam com a perda em sua profissão e em

grande escala, sem contar que a perda não acontece somente no ambiente de

trabalho, mas também na vida pessoal de cada sujeito. A perda na vida pessoal de

um profissional, como a morte de um parente querido, pode gerar tantos eventos

estressores no ambiente de trabalho como também pode contribuir para a empatia

com algum paciente em estado semelhante, gerando assim, contratransferência.

Além disto, o profissional de enfermagem possui crenças e valores que mediam a

sua percepção sobre o paciente e o processo de perda. Segundo Ruiz e Silva (2003)

o profissional em saúde, ao informar alguém sobre a morte de uma pessoa próxima,

confronta-se inevitavelmente com as suas próprias convicções, anseios e

significados da morte.

Por exemplo, o sentimento vivenciado por um profissional diante de uma

criança com doença crônica não será idêntico ao que se atribuirá a um idoso frente a

um problema cardiovascular que enfrenta na UTI. Além da patologia ou estado

clínico, o fato de um paciente estar na Unidade de Terapia Intensiva modifica o

sentimento e o significado que é atribuído. É possível que o sentimento vivenciado

pelos profissionais em função da perda de um paciente na UTI pediátrica seja

diferente da perda atribuída na UTI de adultos.

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Poles e Bousso (2006) apontam que no ciclo vital é natural um idoso falecer,

porém, a morte de uma criança não é compreendida como algo natural. Torna-se

contraditório às expectativas desenvolvidas sobre o ciclo vital, sendo que algumas

enfermeiras e técnicas de enfermagem se identificam claramente com o papel das

mães realizando um ato de contratransferência, que gera dificuldades no momento

de realizarem seus papéis de cuidadoras.

Além da capacitação necessária para lidar com o manuseio das técnicas e

equipamentos, o convívio do profissional de enfermagem com os pacientes é

intenso. Os profissionais podem ser os portadores da dor para o paciente através da

realização de procedimentos invasivos. São os disseminadores de algumas

alterações do quadro para os familiares. Também são os ouvintes da intimidade dos

pacientes e até das dores dos familiares que acompanham os acontecimentos.

Neste processo de dor e proximidade da morte, o profissional é obrigado a lidar com

os seus processos internos, lidar com a sua fragilidade, seu medo, vulnerabilidade e

até mesmo incertezas (KOVÁCS, 2003).

O ato de sentir dor é uma das características do profissional de saúde, uma

dor que não paralise e sim gere impulsos para salvar vidas. Enfim, o profissional de

saúde que não sofre está fadado a não compreender a dor alheia e respeitá-la

(CASSORLA, 1991 apud KOVÁCS, 2003). O processo de sentir e respeitar o

sofrimento alheio está relacionado à visão de homem e de mundo que hoje se tenta

modificar. Partindo deste pressuposto é importante perceber o paciente como um

todo, inteiro com sua subjetividade e garantir uma assistência de qualidade para ele

e seus familiares. Neste contexto os profissionais de saúde devem ser mais

humanizadores, disseminando a humanização entre todos os entes que estão

envolvidos neste processo (SIQUEIRA et al., 2006). Para que a dor e o medo da

morte não se tornem uma mera rotina profissional, é necessário compreender cada

paciente como único, dentro da sua subjetividade. O profissional de enfermagem

necessita compreender o seu papel de mediador entre a doença e o paciente, para

auxiliá-lo a vivenciar este processo tão complexo e árduo, sendo uma tarefa inerente

a profissão.

Todo sujeito ou profissional necessita repensar sobre a vida ao longo dela, a

morte é um momento de reflexão sobre a vida. Quando nos aproximamos da morte,

ou vivenciamos a perda de um ente querido repensamos nossos objetivos e metas

com todos os processos implícitos na vida, como Takahashi (2008, p. 133) traz:

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“A ausência da reflexão sobre a morte, ou até mesmo o não falar sobre ela, representa o não pensar na perda dos que ficam e também na dor da solidão. No entanto, ao utilizar esse mecanismo de defesa, pode-se criar uma armadura protetora, que se manifesta pela insensibilidade e frieza, prejudicando, assim, o desenvolvimento do profissional, impedindo-o de crescer humana e profissionalmente”.

Para Garanhani et al., (2008) a morte de pacientes na UTI é capaz de

provocar sentimentos de sofrimento, faz os profissionais de enfermagem

questionarem se poderiam ter realizado algum procedimento a mais, ou se falharam

em algum momento ao não manter os pacientes vivos. Ao mesmo tempo os

profissionais possuem sentimentos de gratificação, prazer, realização profissional

quando um paciente recebe alta, despertando o sentimento de dever cumprido, de

missão cumprida, de cuidar e zelar por esse paciente. Os sentimentos antagônicos

deveriam ser repensados e debatidos por estes profissionais, uma vez que quando

um paciente vêm a óbito isto pode ser interpretado como uma falha humana destes

profissionais, ou ainda, ser atribuído um significado de incompetência profissional.

Um dos aspectos que podem estar relacionados ao estresse profissional é o

constante contato que os profissionais da saúde possuem com o sofrimento humano

ou processo de finitude dos pacientes. Os seres humanos são predestinados a

morte, com esse efeito prático da vida, a cada instante o sujeito depara-se com o ser

e o não ser; finitude e infinitude; querer e não poder e ainda querer e não saber.

Porém, é necessário compreender, a vida e a morte não são situações

opostas, e sim expressões da condição humana, pois aceitar a condição de ser para

morte é afrontar-se para vida. É uma coragem humana vivida a todo instante, da

mesma forma que viver é estar em transformação, toda mudança envolve perdas,

escolher um caminho traz a perda de conhecer outro. O próprio tempo é uma

finitude, durante o planejamento para o futuro o ser humano lida com o incerto,

portanto, negar as perdas e mortes ao longo do processo vital condiciona o sujeito à

auto-alienação e a circunstâncias de incompletude (MORETON, 2008).

O cuidado com o paciente não ocorre somente no âmbito técnico e sim em

várias vias como o saber, a prática, as emoções que emanam do corpo dos

enfermeiros, técnicos de enfermagem e dos pacientes, acontecendo troca de

sentimentos que em algumas vezes trazem a dor do paciente à tona no profissional

(LIMA; TEIXEIRA, 2007). Repensando sobre a percepção é necessário destacar que

os perceptos faciais são um dos mais importantes aspectos no cotidiano do ser

humano. Inclusive no espaço hospitalar, na observação da face humana, como:

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detalhes físicos, idade, saúde, perceber algo sobre emoções atuais e até mesmo

algo sobre sua personalidade ou caráter (SIMÕES; TIEDEMANN, 1985). Neste

contexto os profissionais de saúde estão envolvidos em todas as fases da doença

dos pacientes, na negação da doença, no sofrimento deste paciente e também está

presente no momento de perda e finitude desta vida.

2.4 A percepção da perda na UTI: crenças e valores

Todo sujeito possui crenças e valores acerca de diversos temas e

acontecimentos. Estas concepções são empregadas em todos os papéis sociais,

como na família, com os amigos, na formação e exercício profissional. Estas crenças

e valores influenciam no modo de perceber e agir perante o mundo e as situações

vivenciadas.

O valor pode ser definido como uma crença duradoura em um modelo

específico de conduta ou modo de existir no mundo, sendo uma conduta individual

ou socialmente adotada. Para Wright e Watson (1996) apud Pauli e Bousso (2003),

crença é definido como a verdade de uma realidade subjetiva que influencia a

estrutura e funcionamento biopsico-espiritual. Geralmente está embasado em uma

conduta já existente, esses valores algumas vezes expressam sentimentos e os

propósitos de vida, sendo a base de nossos compromissos ou conflitos pessoais.

Nesse sentido, tanto aspectos culturais quanto intra-psíquicos antecedem e mediam

nossos valores e atitudes (FREITAS, OQUISSO e MERIGHI, 2006).

Foi realizado um estudo com objetivo de conhecer a motivação dos

enfermeiros face às ocorrências éticas, utilizado como instrumento para coleta de

dados a entrevista, os resultados demonstraram que os enfermeiros possuem muitas

crenças e valores preexistentes, que constituem sua bagagem de conhecimentos

adquiridos em experiências vivenciadas. Fundamentados nos pressupostos teóricos

desse estudo, compreende-se que toda a situação vivenciada pelos profissionais de

enfermagem é permeada por crenças e valores, inclusive no momento de luto, com

a perda de pacientes (FREITAS; OGUISSO; MERIGHI, 2006).

O luto que antigamente era vivido em casa somente por parentes e amigos,

agora é transportado para o hospital, mobiliza todos os envolvidos neste ambiente

juntamente com os amigos e familiares. O individualismo moderno faz com que este

luto seja vivenciado com diferentes intensidades e em seus momentos específicos,

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porém, todos no seu íntimo. Na atualidade, dialogar sobre a perda, seu significado

não é uma ação que deve ser realizada; tendo o luto como um momento de

vergonha e fraqueza vivida pelo ser humano, um tabu cultural (RODRIGUES, 2006).

O luto ou perda não deveria ser somente compreendido como ausência do

corpo físico e sim englobar todos os acontecimentos que causam rupturas e

mudanças em todos os aspectos da vida; como o divórcio, a separação dos pais,

filhos saindo de casa, a perda de uma habilidade conhecida e perdas relacionadas

com a idade. As perdas implicam em grandes desafios ao ser humano, devido às

dificuldades encontradas neste processo de reconstrução de uma dada realidade.

Pois, lidar com perdas é um processo que pode ou não ter um fim, e é

compreensível que no momento da perda, o sujeito desacredite que a situação

apresentará um desfecho. Entretanto toda experiência, interfere na percepção vital

de cada sujeito e ao enfrentar uma situação de perda, reavalia-se os valores da vida.

Gera assim, chances de mudança e crescimento enquanto ser humano, ao repensar

a vida e o seu modo de vivê-la (FUKUMITSU, 2004).

A experiência de vivenciar a morte em vida é presenciar a morte do outro.

Através da morte dos outros morre-se um pouco pelas vinculações que existiam com

estes sujeitos e não pode-se mais constituir. A morte é um acontecimento

acompanhado de dor, sentimento de perda, sendo uma situação vivenciada pelos

seres humanos no cotidiano e deve ser entendida como um momento de respeito à

dor e sofrimento alheio, sendo nesse momento o espaço para reflexão sobre a vida

(COSTA; LIMA, 2005).

De acordo com Kübler-Ross (1998) o processo de adoecimento com

pacientes em fase terminal é vivenciado por estágios, pode se iniciar com a negação

ou isolamento onde o indivíduo não deseja acreditar nas suas vivências ou

experiências. A raiva é um estágio em que as perguntas de indignação e

sentimentos afins se relacionam ao acontecimento. Barganha é um estágio onde é

necessário conseguir pensar de outra perspectiva para abordar a situação problema.

A depressão é o entristecimento pessoal pelo adoecimento e a aceitação é o último

estágio, em que a pessoa dá um sentido ao fato e o elabora mentalmente da melhor

forma. Porém, pesquisas demonstram que poucas pessoas chegam neste estágio

de elaboração.

Estes estágios que Kubler-Ross (1998) aponta são criticados por alguns

autores, eles compreendem a morte como um processo não unificado, onde cada

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indivíduo vivencia este processo de forma singular, não aceitando a existência de

estágios fixos. Corr (1985) apud Bee (1997) descreve o processo da morte baseado

em tarefas, enfrentar a morte é como enfrentar outra dificuldade, onde existem

tarefas em que a pessoa deve realizar. As tarefas são: satisfazer as necessidades

do corpo e minimizar o estresse físico; maximização de autonomia; segurança

psicológica e riqueza de vida; sustentação e fortalecimento dos apegos

interpessoais significativos para o indivíduo; identificação; desenvolvimento ou

reafirmação das suas fontes de energia espiritual, fortalecendo assim, a esperança.

Todas estas tarefas podem ser auxiliadas pelos profissionais de saúde,

especialmente o profissional de enfermagem que está convivendo intensamente com

estes sujeitos que estão vivenciando este processo.

O luto não necessariamente tem uma resolução, mas é necessário que

aconteça a sua vivência enquanto processo para o desenvolvimento humano

individual. Cada sujeito necessita de um processo de reorganização individual e

relacional perante as perdas. Sendo que, algumas perdas exigem uma demanda de

acolhimento, outras de pró-atividade, etc. É necessário compreender que cada

sujeito é responsável pelo processamento do seu luto. Responsável por oferecer

oportunidades de descobrir o próprio caminho para lidar com as perdas

(FUKUMITSU, 2004).

O luto é a perda de algo significativo e necessário, sendo fundamental que

aconteça o luto para que o vazio deixado, com o tempo, possa voltar a ser

preenchido. Está relacionado a uma adaptação da perda, envolvendo fases ou

tarefas para que seja realizado o seu processamento. Os profissionais da saúde

necessitam compreender que vivenciar o luto é imprescindível. Para processar a

perda de pacientes, há necessidade de vivenciá-lo e compartilhar. Para Áries (1977)

apud Oliveira (2002) não é somente diante da proximidade da morte que se torna

preciso pensar nela, mas sim durante toda a vida. Pensar sobre a morte é repensar

a vida, esta reflexão é de suma importância para o profissional da saúde. Refletir

sobre os processos envolvidos na elaboração da morte ou de seu sentido

existencial, podem contribuir para que os profissionais possam auxiliar os pacientes

a percorrerem este processo.

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2.5 Fenomenologia: um olhar sobre a perda

Todas as experiências vivenciadas são singulares na vida humana. Partindo

desta percepção, a vivência de um sujeito é associada aos significados singulares

que é por ele atribuído às situações. Nesse sentido, o conceito de luto apresenta

partes da identidade individual e formas deste sujeito ser-no-mundo, pois a partir do

luto pode-se aprender a valorizar a vida, aprender a defender e cuidar da condição

inerente ao ser humano que é o viver (FUKUMITSU, 2004).

A percepção é um acesso do corpo ao mundo, este acesso traz a cultura,

manifestações políticas, religiosas e todos os acontecimentos que fluem próximo do

sujeito. Partindo desta premissa cada pessoa introjeta o mundo da forma como

acredita ser adequada e correta. Após esta introjeção, o sujeito cria formas de

defender os seus interesses, para superar os desafios e dificuldades. Inclusive no

momento de luto, cada indivíduo lida com esta perda de uma forma singular

(MERLEAU-PONTY, 1996 apud FIGUEIREDO; STEIN, 2004).

O mundo é um conjunto de relações significativas, onde o sujeito existe. Este

mundo é vivenciado em totalidade, porém, apresenta-se ao homem em três

aspectos que é o circundante, o humano e o próprio. O mundo circundante é a

relação do sujeito com o ambiente, que abarca tudo que se encontra concretamente

nas situações vividas do sujeito em contato com o mundo, fazendo parte também, o

corpo do sujeito, suas necessidades e atividades (FORGHIERI, 1993).

O mundo humano é o que diz respeito ao encontro e convivência da pessoa

com outros sujeitos, pois o existir é originalmente ser com o outro. Já o mundo

próprio se caracteriza pelas significações que as experiências possuem para os

sujeitos, o conhecimento de si próprio e do mundo e a real função do pensamento e

a percepção da morte é mediada nestas instâncias do mundo, podendo gerar novas

concepções e formas de existir (FORGHIERI, 1993).

Geralmente nada pode ser feito quando acontece a morte de um ente querido

ou de um paciente na Unidade de Terapia Intensiva; porém, é necessário

compreender que perante esta condição inerente ao ser humano que é a morte, o

sujeito possui a liberdade, que é a capacidade de escolher como se apropriar desta

situação, fazer o que deseja partindo deste acontecimento.

É no momento presente da temporalidade que se realizam as escolhas, elas

estão implícitas na responsabilidade pelas ações. As ações são as possibilidades

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que a pessoa possui para construir a sua vida. São escolhas perante a liberdade

que possuem, pois a ação afeta a todos, inclusive ao próprio sujeito. Ou seja, o

sujeito possui liberdade para tomar as decisões e perante elas é responsável pelas

conseqüências atribuídas a esta ação (FUKUMITSU, 2004).

A existência implica assim num processo de perdas e ganhos, de encontros e

desencontros, onde a morte é um deles. Nesse sentido, todos os dias acontecem

ações que trazem dimensões de partir e morrer mesmo em vida. Por exemplo, a

cada dia todos os sujeitos nascem para novas situações e antagonicamente

constata-se que são seres mortais e que os acontecimentos passados não podem

ser modificados (FUKUMITSU, 2004).

Um estudo realizado por Garanhani et al. (2008) demonstra que a experiência

de ser profissional de enfermagem na UTI pode levar o sujeito a ampliar suas

percepções pessoais e individuais, contribuir para seu aprendizado e aprimoramento

profissional e expandir sua vivência de forma mais autêntica, ao participar desta

realidade e crescer com ela. Partindo deste estudo indagações são feitas, estes

profissionais por conviverem nesta realidade, possuem requisitos que comprovam a

maior capacidade de reflexão e abstração sobre temáticas existenciais como dor,

medo, sofrimento e morte? Será que na realidade esta reflexão acontece? Poderia o

modelo biomédico influenciar os profissionais de enfermagem a não serem

profissionais reflexivos e humanizadores frente à perda de pacientes ou situações

mobilizadoras de seus ambientes de trabalho?

A fenomenologia não pressupõe a existência de uma consciência em si, seu

ponto de partida é o próprio mundo com suas experiências e conjuntos de valores.

Ampliar a consciência do sujeito significa compreender a consciência humana sem a

pretensão de modificá-la. Visa captar o significado dado pelo sujeito, investigar a

estrutura da percepção humana e conseqüentemente o desvelamento do fenômeno.

Este método se propõe a investigar os conhecimentos através da articulação da

objetividade e subjetividade. O todo representa mais do que a soma das partes, a

sua estrutura é vista como dialética da compreensão das forças em jogo e em

conflito num momento histórico-geográfico (FUKUMITSU, 2004).

O ser-no-mundo não é um conceito de conexão do homem com a natureza e

sim uma estrutura de realização. Onde o ser humano está sempre tentando superar

os seus limites pessoais e sociais. Para o sujeito saber quem ele é, existe a

necessidade de certo modo, de saber onde está, pois a identidade do sujeito está

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implícita nos acontecimentos vivenciados no mundo. O elo não necessita ser um

lugar, mas uma pessoa amada e admirada. Com a perda desta pessoa significativa,

perde-se a correspondência afetiva e passa-se a vivenciar por momentos, a

desconfiança de quem realmente é este sujeito vivenciando a perda do objeto

significativo (FORGHIERI, 1993).

Interrogar o mundo e o fenômeno é ir além daquilo que já está pronto,

necessita fazer a própria história, valorizar a ação do outro, ou seja, refletir e

apreender o fenômeno tal como se mostra, para atingir uma compreensão ampliada.

Representa criar uma nova possibilidade de ser e compreender o mundo do outro e

também da relação que o outro estabelece com o sujeito (FUKUMITSU, 2004).

A metodologia fenomenológica é conhecida como “vivido” um acontecimento

que não pode ser acessado anteriormente. O “vivido” é um ato de relação pessoal e

quando surge oportunidade de dizer, este acontecimento é acessado e cria a sua

relação sujeito-mundo (FUKUMITSU, 2004). Ou seja, é na relação com o objeto que

se constroem, é durante o processo de atribuição de significado aos objetos que

acontece a construção da identidade. Acessar o significado atribuído a um evento ou

fato permite compreender o significado da experiência vivenciada pelo sujeito, ou

parte da sua identidade. A fenomenologia propõe caminhos para uma compreensão

sobre a perda, visando respeitar a complexidade do real e encontrar o sentido dentro

do próprio fenômeno (AUGRAS, 2002).

2.6 Estratégias de enfrentamento

O termo estratégia de enfrentamento é uma tradução da palavra inglesa

coping que se caracteriza por um conjunto de estratégias utilizadas para adaptação

de circunstâncias adversas. Ou também, um conjunto de esforços, tanto

comportamentais, como cognitivos para lidar com o estresse. Ao lidar com alguma

situação geram-se respostas comportamentais e cognitivas sobre a situação e a

partir delas necessitam enfrentar algumas situações e ao mesmo tempo se ajustar

ao tempo, podendo assim, utilizar algumas estratégias de enfrentamento. A

perspectiva utilizada para explicar este termo baseia-se numa abordagem

comportamental-cognitiva, onde são identificados os principais estressores para lidar

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com situações específicas, também é um processo que acontece entre o indivíduo e

o meio (MOTTA, ENUMO e FERRÃO, 2006 apud SILVA, 2009).

Coping é um conjunto de respostas que de certo modo, diminuem ou

neutralizam condições aversivas de modo que o indivíduo enfrente os impactos ou

fatores estressores. Pode-se focalizar no problema quando houver solução ou se na

emoção quando a situação geralmente é imutável. Seria o caso dos profissionais de

enfermagem que lidam com a perda dos pacientes, este é um fator por eles

imutável. No contexto hospitalar em alguns momentos é inerente a utilização de

estratégias de enfrentamento para lidar com situações estressoras, estratégias de

enfrentamento é um recurso que visa à obtenção da homeostase individual. Uma

forma de promoção do bem estar e gerador de qualidade de vida para os sujeitos

envolvidos nestas situações, ou seja, é necessário o uso de mecanismos para

promover comportamentos que auxiliem a enfrentar situações geradoras de estresse

(MOTTA e ENUMO, 2004 apud SILVA, 2009).

Estas estratégias de enfrentamento seriam como um processo adaptativo,

onde os profissionais de enfermagem poderiam planejar como lidar com algumas

situações estressoras. Não existem estratégias corretas ou incorretas, melhores ou

piores e sim deve-se julgar a sua adaptação ao contexto, dinâmica e mutabilidade

ao longo do tempo (MOTTA e ENUMO, 2004 apud SILVA, 2009).

Existem alguns modos de mensuração das estratégias de enfrentamento e o

nível de estresse que um indivíduo esteja enfrentando, entre eles está Folkman e

Lazarus (1980) que criaram o instrumento Ways of Coping Checklist – WCC, já

Folkman e cols. (1986) realizaram uma revisão do instrumento e elaboraram Ways of

Coping Questionnaire Revised – WOCQ, entre outros instrumentos. Num estudo

realizado por Seidl, Tróccoli e Zannon (2001) foi investigado a estrutura fatorial da

Escala Modos de Enfrentamento de Problemas – EMEP, a versão que foi adaptada

para população brasileira por Gimenes e Queiroz em 1997 que mensuram

estratégias de enfrentamento com relação à estressores específicos, possui 57 itens,

sendo composta de oito sub-escalas. Amostra foi composta por 409 sujeitos com

situações estressoras aparentes como doenças crônicas ou outros fatores

estressores e as análises demonstraram indicativos de um parecer favorável para

utilização deste instrumento para contextos de pesquisas, intervenção profissional,

especialmente para atuação clínica.

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Fundamentados na literatura que apresentaram diversos instrumentos, outros

estudos foram realizados para investigar categorias de estratégias de enfrentamento

que identifiquem estes aspectos através da análise de conteúdo, partindo da análise

das entrevistas. Um método válido e abrangente para compreender esta temática. A

presente pesquisa optou por utilizar algumas categorias descritas na literatura para a

construção de seu método de investigação, visando compreender como este

fenômeno é vivenciado pelos profissionais de enfermagem.

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3. METODOLOGIA:

Dada a natureza do fenômeno pesquisado, entende-se que é necessário

realizar uma pesquisa qualitativa exploratória e descritiva com o objetivo de

contemplar a característica básica do objeto investigado, que seria o significado

(MINAYO, 1996).

3.1 Participantes da pesquisa

A Unidade de Terapia Intensiva é composta de dezesseis técnicos de

enfermagem e quatro enfermeiras, sendo que eles dividem-se em quatro turnos de

doze horas de trabalho. O setor possui dez leitos para atendimento se

caracterizando como um prestador de serviços de alta complexidade e terapia

intensiva.

Participaram desse estudo cinco técnicos de enfermagem e uma enfermeira

que fazem parte da equipe da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Inês.

A composição da amostra foi selecionada aleatoriamente, os técnicos de

enfermagem e a enfermeira que estavam de plantão foram convidados para

participarem e o quesito de seleção foi disponibilidade de horário em compatibilidade

com a pesquisadora. Embora o número total de funcionários da UTI seja composto

por dezesseis técnicos de enfermagem e quatro enfermeiras, entende-se que os seis

sujeitos entrevistados, de certa forma representam este universo de trabalhadores.

A amostra permitiu a observação de diferentes conteúdos no tocante ao

exercício das atividades profissionais e suas crenças, que podem variar segundo

suas funções. Operacionalmente enquanto a enfermeira é responsável pelo

gerenciamento do setor, os técnicos de enfermagem realizam procedimentos

rotineiros com os pacientes. Porém, os técnicos também podem auxiliar em

procedimentos de alta complexidade (FIGUEIREDO e STEIN, 2004).

3.2 Técnicas e Instrumentos

Os dados foram coletados a partir de entrevistas (Apêndice 2). A entrevista

não-estruturada é uma técnica de comunicação verbal no qual o pesquisador pode

incluir a história de vida e discussões com o entrevistado. Existindo uma interação

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de pesquisador e pesquisado que são complementados de uma prática de

observação participante, nesta entrevista o roteiro serve como orientação, sendo

uma técnica de “conversa com finalidade” mais informal e abrangente (MINAYO,

1996).

3.3 Procedimentos para a coleta dos dados

A instituição hospitalar foi contatada inicialmente através do setor de

Psicologia. Após a aprovação da pesquisa, esta foi encaminhada ao setor de

enfermagem da unidade hospitalar. Com a aceitação do projeto pela equipe de

enfermagem, foi apresentado à equipe gestora da unidade, que no caso, eram as

enfermeiras chefes da UTI, informando-as sobre a pesquisa e os objetivos

propostos.

A proposta foi apresentada para as enfermeiras-chefes do setor e em

decorrência da maior disponibilidade de atendimento do setor foram selecionados

dois turnos. Partindo desta premissa os enfermeiros convidaram todos os técnicos a

participarem da pesquisa com sete dias de antecedência à coleta de dados, no

momento da entrevista a enfermeira e alguns técnicos que estavam de plantão se

disponibilizaram a realizar a entrevista.

Foi agendado com cada técnico de enfermagem e enfermeiro, um horário

para realização da entrevista individual. Primeiramente foi lido o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 1) para os participantes

individualmente e esclarecido suas dúvidas e coletou-se suas assinaturas.

Posteriormente os dados foram coletados a partir de uma entrevista semi-

estruturada que foi gravada com autorização dos próprios profissionais. A entrevista

foi realizada no horário de intervalo, já que o setor de Unidade de Terapia Intensiva

é um ambiente que exige toda atenção do profissional durante o seu horário de

expediente e nem todos os técnicos e enfermeiros puderam participar por ser um

setor instável, onde é necessária a disponibilidade dos profissionais para qualquer

eventualidade com os pacientes ou no setor. Os dados foram devidamente

transcritos na íntegra pela pesquisadora.

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3.4 Procedimentos para a análise dos dados

Os dados foram analisados através da técnica de análise de conteúdo.

Berelson (1984) apud Campos (2004) define este método como uma técnica de

pesquisa que visa uma descrição do conteúdo manifesto de comunicação, de modo

objetivo, sistemático e principalmente qualitativo.

Primeiramente foi realizada uma fase pré-exploratória sobre o material com

leituras flutuantes sobre o conteúdo das entrevistas. Após a leitura organizou-se uma

seleção de unidades de análise, ou seja, unidades de significados. Posteriormente a

seleção de unidades ocorreu o processo de categorização e subcategorização, para

enfim, serem analisados os dados (CAMPOS, 2004).

Foram criadas cinco unidades de análises que estão de acordo com as

palavras-chaves e objetivos propostos pela pesquisa, ao saber: UTI, paciente,

familiar, papel profissional e morte. Richardson et al. (1999) traz que deve-se partir

destas unidades de análises e criar categorizações e subcategorizações partindo

das falas e conceitos relatados pelos profissionais de enfermagem. Partindo da

categorização dos conteúdos levantados nessa amostra foram realizadas

comparações com a literatura existente na área.

3.5 Procedimentos Éticos na pesquisa com seres humanos

Como procedimentos éticos todos os participantes assinaram o termo de

compromisso livre e esclarecido, que esclarece os fins científicos da pesquisa e

questões éticas. Os procedimentos estão em conformidade com a Resolução CNS

196/1996, bem como a Resolução CFP 016/2000.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:

Partindo das unidades de análises que foram propostas de acordo com os

objetivos do trabalho e com os principais conceitos investigados na literatura, as

falas que os profissionais de enfermagem trouxeram foram divididas em cinco

categorias que serão discutidas e explicitadas individualmente: Percepção da

Unidade de Terapia Intensiva; Percepção da relação com o Paciente; Percepção da

relação com o Familiar; Papel Profissional; Percepção dos profissionais de

enfermagem frente a perda dos pacientes;

A seguir descreveremos os dados dos participantes, e os conteúdos que

emergiram na análise de forma genérica apresentando esses dados através de uma

tabela, e posteriormente será realizada uma análise descritiva.

Tabela 1. Caracterização da amostra

SUJEITOS SEXO IDADE TEMPO DE ATUAÇÃO UTI

E1 FEM. 30 anos 3 meses

E2 FEM. 25 anos 1 ano 11 meses

E3 MASC. 40 anos 11 meses

E4 MASC. 28 anos 10 meses

E5 FEM. 26 anos 1 ano 2 meses

E6 FEM. 26 anos 9 meses

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Tabela 2. Descrição das categorias levantadas

Categoria Sun-categoria Conteúdo Freq.

Percepção

da UTI

Ambiente indesejado à priori

“eu nunca vou trabalhar em UTI” E1 4

Ambiente agradável “hoje em dia eu gosto de trabalhar aqui, me sinto muito bem aqui” E3

6

Equipe Unida “a gente é um grupo, então a gente não se separa” E6

3

Setor fechado (distância familiar)

“gosto por que não tem aquele contato com o familiar” E3

2

Parada “quando acontece uma parada você nunca está preparada, você fica apavorada”E5

1

Morte “a morte é uma coisa que ninguém aceita”E5 2 Convívio com médicos “lidar com o médico” E2 1 Paciente agressivo “aqueles pacientes que são agressivos que tem que

conter na hora” E5 1

Barulho dos aparelhos “o barulho me deixava agoniado, eu não gostava” E4

1

Necessidade de agilidade

“você tem que correr e daí não acha” E5 1

Ambigüidade de sentimentos

“quando eu me formei eu jamais quis trabalhar em setor fechado e hoje eu gosto” E3

2

Ambiente gerador de experiência

“a UTI te dá um leque de experiências e vivências profissionais” E2

2

Percepção dos

Pacientes

Empatia “a gente cria um vínculo, se identifica com o paciente” E2

5

Distanciamento necessário

“a gente tem que ser um pouco fria, eles começam a contar da vida eu começo a me afastar um pouco” E6

3

Pacientes marcantes “teve uma paciente que a gente se apegou muito à ela, conversava quando ela melhorava...” E5

2

Cuidado como familiar “eu gostaria que tratassem assim alguém da minha família, que nem eu trato os outros” E3

2

Papel profissional “se eu estou envolvida eu não posso estar trabalhando aqui, tenho meu papel profissional” E2

2

Dificuldade: contato “pra mim não me envolver muito, eu não sei como eu lido” E6

1

Dificuldade: comunicação inexistente

“os pacientes geralmente estão de cama, graves, entubados, a gente não tem conversa com eles”E5

1

Papel profissional

Amor “a gente cria amor pela profissão, é prazeroso para você” E4

4

Superação, aprimoramento

“eu tenho muito o que aprender ainda, se eu pudesse eu faria enfermagem” E6

4

Missão/dom “eu sei que eu tenho uma missão aqui e se eu escolhi essa profissão então vamos lá” E1

2

Divisão de papéis “eu saio daqui e peço pra Deus deixar o problema aqui que amanhã volto para resolver” E1

3

Preparação para morte “porque a gente já sabe mais ou menos o estado do paciente e sabe 70% quem vai sair e quem não vai”E3

2

Trabalho em primeiro plano

“eu coloco o meu trabalho em primeiro plano” E5 2

Dar o melhor; doação “a gente se dá pra cuidar deles, pra eles saírem dali” E6

2

Necessidade distanciamento com pacientes

“eu tenho contato mas não quero ter contato diretamente” E2

2

Natural “eu encaro como uma coisa normal, pra mim é uma 5

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31

Percepção sobre a morte

passagem” E6 Compreensão de finitude

“nem todo mundo tem sorte de entrar e sair, alguns vem e ficam”E4

3

Ambigüidade de sentimentos

“paciente idoso morre a gente sofre mais vai descansar também” E5

3

Hora certa “claro que tem que fazer os procedimentos mas se for a hora de ele ir, ele vai” E1

2

Comoção/tristeza “tem casos que comove a gente fica realmente mais chocado”E2

4

Repentina/ imprevisível “todo mundo vai morrer, até eu, é muito imprevisível”E6

3

Diferença de sentimento idoso/jovem

“quando o paciente vem à óbito é difícil mas nós já estamos acostumados mas quando é jovem é muito mais complicado” E5

2

Sofrimento maior quando familiar

“é lógico que se fosse alguém da minha família eu iria sofrer muito mais” E6

3

Casos comoventes “a gente cria um vínculo com o paciente, se identifica e sofre mais se ele vem à óbito”E2

2

Estratégia de enfrentamento: Religião

“eu sou evangélica e isso me ajuda demais à enfrentar a morte”E1

2

Estratégia de enfrentamento: distância pacientes

“geralmente eu deixo os meus problemas aqui e os de lá de fora eu deixo lá fora” E3

2

Estratégia de enfrentamento: divisão de papéis

“eu tenho um lado pessoal e um lado profissional, eu não gosto de envolver os dois lados” E4

1

Percepção do familiar

Acolhimento “o enfermeiro fica junto do familiar para dar um apoio, acolhimento ”E2

3

Contato restrito “eu ainda não tive oportunidade de conversar com nenhum”E1

5

Distanciamento; contato indesejado

“eu não gosto muito de lidar com familiar” E6 2

Dificuldade de relacionamento

“querendo ou não ter que lidar com familiar é complicado”E2

2

Comunicação restrita “porque quem vai informar como o paciente está é a enfermeira ou médica e se perguntam pra mim eu digo o horário da médica” E4

5

4.1 Percepção da Unidade de Terapia Intensiva

Primeiramente um aspecto que demonstrou ser evidente nas entrevistas com

os profissionais de enfermagem foi que à priori a maioria dos profissionais não

tinham interesse ou não se identificavam com o setor de Terapia Intensiva. Como é

chamado “setor fechado”, possuindo aversão ou simplesmente não identificação

com o setor ou com os fazeres realizados, como E4 descreve:

“...UTI aqui não é o meu lugar, agora estou gostando tanto que estou

aqui há sete meses...”

Porém, todos demonstraram nas entrevistas que ocorreu uma quebra de

paradigma a respeito deste conceito ao ingressarem neste setor. Os entrevistados

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referem ter entrado no setor sem muitas expectativas ou identificações e hoje

sentem-se realizados neste local, referindo-o como um ótimo setor para exercer a

profissão e alguns afirmam que não trocariam de setor por hipótese alguma. Existe

uma construção de identificação com a percepção de UTI (setor fechado), como E3

expõe:

“... quando eu me formei jamais queria trabalhar em setor fechado, eu

não gostava e hoje eu gosto... pretendo não sair aqui da UTI...”

A quebra de paradigma quanto ao ambiente indesejável a priori e desejável

quando inseridos no contexto, pode ser decorrente das crenças e valores pré-

existentes que eles possuíam sobre o setor e o ambiente. Como aponta Merleau-

Ponty (1992) apud Camon et al. (2003) é necessário que se viva numa realidade

onde se apresente mudanças em diversos níveis e formas para modificar esta

percepção.

Três entrevistados trouxeram que um aspecto auxiliador nesta percepção de

ambiente de trabalho agradável é a união da equipe, sendo todos os técnicos

parceiros para realizarem os procedimentos. Dois entrevistados explicaram que não

existe subdivisão de trabalhos, todos realizam os procedimentos e se auxiliam

mutuamente. Essa característica de ausência de subdivisão de trabalho e

horizontalidade das relações ocorre segundo Garcia (1989) apud Pitta (1999) com

mais freqüência entre os membros de uma mesma categoria. Este fator promove a

coesão grupal e pode ser percebido na fala de E6:

“aqui todo mundo pega junto... cada um vê o que tem que fazer e

faz...”.

Já outros técnicos trouxeram que existe divisão de tarefas por escalas de

trabalho como refere E1:

“por que é dividido, dois ficam com a medicação e dois com os

cuidados, uma semana cada dupla...”.

Esta fala não traz em seu discurso uma relação hierárquica, mas sim apenas

a subdivisão de tarefas que parece ser algo inerente e específico de procedimentos

desenvolvidos na UTI. Esta divergência dos dados em comparação com os

resultados descritos na literatura podem estar pautados na divisão de tarefas, no

companheirismo, concepção de equipe e divisão de responsabilidades, que no caso

dos entrevistados é percebido como um fator que contribui para não sobrecarregar o

trabalho entre os membros da equipe.

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O papel desempenhado enquanto equipe faz toda a diferença para o

ambiente profissional, Pereira e Bueno (1997) apontam que o relacionamento

constante entre a equipe, durante o turno, a responsabilidade com o paciente, a

necessidade de garantir qualidade da assistência são alguns dos indicadores que

resultam em um clima de trabalho exaustivo e tenso, provocando desmotivação,

conflito entre os membros da equipe e estresse ao grupo de trabalho e em particular,

ao trabalhador.

Outro aspecto considerado positivo pelos profissionais de enfermagem que

foram entrevistados é o distanciamento dos familiares no setor, E3 traz que:

“aqui não tem contato com familiar, o familiar ajuda, mas incomoda

muito a gente...”.

Lidar com as demandas dos pacientes e acréscimo as demandas dos

familiares é um fazer complexo e dificultoso da profissão. Como eles explicam em

muitos momentos os familiares dificultam o fazer profissional. Nascimento e Trentini

(2004) apontam que a internação de um sujeito na UTI faz com que a família

geralmente se sinta distante de todo o processo. Geralmente as instituições não

desejam a proximidade dos familiares, a escola não deseja o familiar, o hospital não

deseja a presença do familiar. Os técnicos de enfermagem parecem perceber a

presença dos familiares como intrusos ou acréscimo de tarefas ao seu trabalho, ou

seja, a família não é o foco do atendimento, não existe a necessidade destes

sujeitos de vivenciarem este processo.

A Unidade de Terapia Intensiva foi também descrita como uma fonte de

experiência profissional e aprimoramento técnico. Uma vez que os profissionais de

enfermagem possuem contato com uma diversidade de patologias e procedimentos

que são realizados no setor, inclusive de alta complexidade, sendo este mais um

aspecto positivo do setor, como E2 traz:

“eu gosto muito de UTI, aqui interna infartado, politrauma, ferimentos

por armas de fogo, por arma branca, AVC, isso te dá um leque de

experiência e de vivência profissional”.

O fato da UTI atender adultos e idosos com todos os tipos de patologias

foram evidenciados pelos profissionais de enfermagem como um ambiente de maior

aprendizagem teórico e técnico do hospital. Ou seja, como Leite e Vila (2005)

apontam que a UTI concentra recursos humanos e materiais para o atendimento de

pacientes graves que exigem assistência permanente, além da utilização de

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recursos tecnológicos apropriados para a observação e monitoramento contínuo das

condições vitais do paciente e para a intervenção em situações de

descompensações.

Ao dialogar sobre as dificuldades enfrentadas emergiram questões mais

específicas e particulares: 1. dificuldade no momento da parada que necessita de

concentração e agilidade; 2. dificuldade em lidar com a morte eminente, uma vez

que ocorrem óbitos a todo momento; 3. dificuldade em lidar com pacientes

agressivos; 4. convívio com os médicos também foi apresentado como uma

dificuldade; 5. barulho dos aparelhos que ao ingressar no setor foi uma situação de

difícil adaptação no ambiente; 6. a necessidade de agilidade e pró-atividade na

atuação também foi trazido como uma dificuldade à priori. Todos esses aspectos

descritos podem ser categorizados como estressores ambientais, mas foram

descritos pelos profissionais como desafios a serem enfrentados neste setor.

Simões, Tiedemann (1985); Sales et al. (2007) descrevem a UTI como um

ambiente estressante, porém ao longo das entrevistas esta leitura não foi

explicitamente apresentada pelos entrevistados. Talvez o instrumento de coleta não

tenha contemplado este aspecto. Como apontado pela pesquisa de Ferrareze,

Ferreira e Carvalho (2006) os profissionais de enfermagem podem estar vivenciando

a fase de resistência ao estresse, que acontece quando as estratégias de

enfrentamento suportam as dificuldades em momentos de estresse, pois o excesso

de trabalho descrito; a complexidade das tarefas e a ambivalência de sentimentos

presentes em função das perdas e das demandas dos familiares aparecem nas

entrevistas como fatos que podem ser claramente identificados como eventos

estressantes. Pitta (1999) expõe que as tarefas dos técnicos de enfermagem são as

mais intensas, repetitivas, e no atual contexto social e financeiro são pouco

valorizados. Os técnicos além de conviver mais tempo com os pacientes, os

acompanham de perto, anotando reações com detalhes e cumprem a estratégia de

vigiar a vida e a morte dos internos.

A partir das análises realizadas é possível perceber que este ambiente traz

ambigüidade de sentimentos, desde a quebra de paradigmas percorrida pela maioria

dos profissionais, até a percepção de um ambiente agradável e desejável de

atuação, mesmo perante as dificuldades por eles vivenciadas.

A inserção do profissional na UTI parece que ocorre primeiramente através de

uma oferta da área de atuação, após o ingresso do profissional no setor ocorre a

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mudança de percepção do setor, uma vez que o ambiente era percebido como

indesejável à priori, posteriormente referido como agradável. Existe a ambigüidade

de sentimentos neste ambiente e a própria UTI é percebida como um ambiente

gerador de experiências profissionais. A união da equipe parece ser descrita como

um fator que ameniza as adversidades do setor. O fato de ser percebido como um

setor fechado, com acesso restrito aos familiares é percebido como um aspecto

positivo. As dificuldades são colocadas como aspectos a serem superados.

4.2 Percepção da relação com o paciente

Para a fenomenologia não existe o ser puro, e sim o significado que

transparece na intersecção das experiências do sujeito adicionado às experiências

alheias, ou seja, é uma engrenagem de ações e acontecimentos nos

relacionamentos. Portanto torna-se inseparável da subjetividade e inter-

subjetividade, que retomam com as experiências passadas nas experiências

presentes e em conjunto com as experiências alheias que refletem na ação do

sujeito. Todo esse movimento faz o sujeito perceber a realidade e os outros sujeitos

(AUGRAS, 2002).

Os profissionais de enfermagem se percebem empáticos com os pacientes,

colocando-se no lugar dos pacientes e realizam o que gostariam que realizassem

com eles, caso fossem os pacientes, E3 trouxe que:

“eu me ponho no lugar das pessoas... eu trato eles como eu gostaria de

ser tratado se estivesse internado, então eu dou o melhor de mim...”.

Ao comparar como gostariam de ser tratados caso fossem pacientes, os

profissionais de enfermagem aproximam-se dos pacientes e iniciam o processo de

empatia. Benetton (2002) traz que a vinculação é uma empatia mínima, ou seja, um

desejo assumido de se aproximar para compreender a pessoa enferma ou

adoecida. Durante este processo o paciente deixa de ser um caso para ser

considerado uma pessoa, este tipo de vínculo estabelecido foi percebido no setor

quando os profissionais entrevistados demonstraram o esforço de humanização do

serviço/setor, pois geralmente o setor de terapia intensiva é conhecido em geral por

ser um setor frio. A UTI é um dos últimos recursos a serem utilizado, alguns

entrevistados trouxeram em suas falas a necessidade de distanciamento dos

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pacientes para que possam realizar seu papel com qualidade e ética profissional,

por exemplo E2:

“... quando eu tiver que fazer um procedimento invasivo que ele vá

sofrer, vai sentir dor, se eu estiver emocionalmente envolvida com

esse paciente eu não consigo fazer...”.

Quanto ao distanciamento profissional Pitta (1999) traz que cabe ao paciente

confiar no processo terapêutico e nos profissionais relacionados a ele, torna-se

obrigação do paciente comunicar experiências íntimas, pessoais e corporais, porém,

quando existe um gesto afetivo e igual em relação do profissional com o enfermo,

isto pode ser percebido como algo que pode ferir as recomendações éticas e

técnicas.

Ao descreverem as suas percepções a cerca dos pacientes, alguns

entrevistados trouxeram nomes, pacientes que foram pessoas marcantes que

morreram na UTI, E2 trouxe:

“... porque querendo ou não, cria um vínculo com o paciente, se

identifica, às vezes chega um paciente e fica conversando e daí ele vai

pro tubo, respiração mecânica...”

Pitta (1999) traz que os profissionais transgridem barreiras e estas pessoas

passam a fazer parte da vida deles. Ao projetar desejos e sentimentos nesses

pacientes, que ao falecerem trazem sentimentos de muita tristeza e sofrimento para

estes profissionais. Obrigando-os a manter algum distanciamento, visando evitar o

sofrimento constante, levando em conta que são profissionais de um setor, onde a

morte é um acontecimento diário.

Outro aspecto que emergiu nas entrevistas foi o cuidado com os pacientes,

como se esses fossem familiares dos profissionais, que necessitam de cuidados, ao

trazer um carinho a mais e disposição em realizar as atividades, E5 diz:

“meu deus podia ser um parente meu aqui, eu estou com uma avó

doente e distante, pelo menos eu estou cuidando de alguém aqui...” .

O fato de ser cuidador num setor de terapia intensiva faz repensar sobre os

cuidados que devem ser dispensados aos familiares quando permanecem doentes.

Quando os profissionais de enfermagem afirmam que tratam os pacientes como se

fossem familiares, estão realizando o papel de cuidador imposto a eles neste setor,

baseados no princípio de humanização na assistência. Esta atuação oportuniza as

relações, otimiza as expressões, tanto objetivas quanto subjetivas. É necessário que

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o paciente e o familiar percebam a presença do profissional como um sujeito que

está preocupado em compreender a sua experiência e vivência no hospital. Isso

confirma o crescente papel deste profissional em busca da humanização hospitalar.

Partindo destes preceitos de humanização, os profissionais de enfermagem devem

realizar da melhor forma o seu papel, que em alguns momentos são os portadores

da dor, do sofrimento e em outros momentos são os agentes que trazem alento,

carinho e empatia para os pacientes e familiares (NASCIMENTO; TRENTINI, 2004).

Alguns entrevistados trouxeram que perante o paciente tentam realizar o

papel enquanto profissionais de enfermagem, nada, além disso, como exemplo E4

traz:

“... eu vou e faço a minha parte, eu medico, eu cuido, dou apoio do

jeito que posso...”.

Perante esta percepção de necessidade do distanciamento, Benetton (2002)

descreve que existe a necessidade de uma vinculação eqüidistante. A necessidade

de um espaço resguardado para os profissionais lidarem internamente com o alto

custo da dor profunda do outro ser, muitas vezes o paciente projeta no profissional e

este sente o golpe desta projeção, a distância é necessária para o profissional saber

o que é dele e o que é do paciente. Esta compreensão proposta por esse autor,

explica perfeitamente as falas dos profissionais de enfermagem que trazem que a

empatia é importante, porém o distanciamento também é necessário nesse processo

de cuidar e ser cuidador.

As dificuldades identificadas referentes ao relacionamento com o paciente

foram: a realização de algumas tarefas como dar banho de leito (dependendo do

quadro de saúde do paciente); os problemas de contato com os pacientes (como

dificuldade de toque ou comunicação oral); comunicação inexistente na maioria dos

casos pelo perfil de pacientes na UTI também foi apontada como uma dificuldade

enfrentada. Apesar de não serem tão enfocadas por eles, as dificuldades são dados

que devem ser levados em consideração no momento de perceber o papel

profissional por eles desempenhado.

Como em qualquer outra profissão existem dificuldades enfrentadas nesta

relação, no contato com pacientes, as dificuldades podem vir de resquícios de

valores/crenças pessoais ou até dificuldades técnicas/práticas. Pitta (1999) aponta

que ao lidar com pessoas adoecidas existe um fluxo de procedimentos que são

agradáveis e desagradáveis ou até mesmo, repulsivos e aterrorizantes que os

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profissionais devem realizar. Existe a necessidade de uma adequação pessoal

prévia perante a escolha profissional, os aspectos negativos e positivos são

mensurados na balança de toda profissão e mesmo com os pontos negativos e

dificuldades vivenciadas, no caso destes profissionais entrevistados, eles

classificaram a atuação profissional como fonte geradora de prazer.

A empatia é o sentimento que aparece com maior freqüência pelos

profissionais de enfermagem quando se referem ao relacionamento com os

pacientes. Existe uma necessidade de distanciamento dos pacientes para realizar o

papel profissional eticamente. Os pacientes marcantes aparecem nesta

subcategoria, o cuidado dos pacientes como se fossem familiares dos profissionais é

um aspecto que reforça a empatia. As dificuldades enfrentadas pelos profissionais

com os pacientes são dificuldades específicas do setor como: banho de leito,

contato com os pacientes e a falta de comunicação com os pacientes.

4.3 Percepção da relação com o familiar

Os profissionais de enfermagem apresentaram percepções similares perante

os familiares, sendo que as situações e o ambiente proporcionam reações e

contatos semelhantes entre profissionais de saúde e familiares.

Três entrevistados referiram perceber o familiar como pessoas com

necessidade de acolhimento, sendo o acolhimento um dos papéis do profissional

com estes sujeitos, como exemplo E2 expõe:

“o enfermeiro fica junto para dar um apoio, um acolhimento ao

familiar...”.

Marcon e Elsen (1999) confirmam a compreensão conceitual sobre o

processo de acolhimento aos papéis profissionais, ao trazerem que não basta

assistir um indivíduo no hospital sem compreender seu papel no grupo familiar,

gerando necessidade de fornecer assistência aos familiares do paciente. A família

deve ser considerada objeto de cuidado/zelo dos profissionais de enfermagem, pois

seu objetivo profissional é o cuidado, que é o próprio trabalho ou atividade da

enfermagem.

Em contrapartida cinco entrevistados trouxeram que a comunicação e o

contato com os familiares é restrito, pelas normas hospitalares ou acúmulo de

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trabalho dos profissionais. Embora demonstrem desejo de acolhimento, esta atuação

não ocorre de forma efetiva, como o exemplo que E5 traz:

“o relacionamento é muito pouco, pois eles ficam aqui só 15 minutos,

os 15 minutos a gente procura atender né...mas o contato com

familiares é bem pouco, pouco mesmo...”.

Os familiares somente entram no setor uma vez por dia durante 15 minutos,

então o contato torna-se restrito e a comunicação escassa. A UTI é tradicionalmente

um setor que distancia o familiar na maioria dos momentos, partindo da concepção

que seria desnecessária a presença dos familiares no setor de Terapia Intensiva

(OLIVEIRA, 2002). Atualmente existem outros estudos que propõem a interação do

familiar com o paciente como forma de intervenção.

Porém, dentre os profissionais entrevistados, além do contato ser tênue, dois

profissionais trouxeram que este distanciamento também é uma ação por eles

realizada. Consideram o contato como indesejado, preferem realizar atividades

técnicas do que manter contato direto com os familiares dos pacientes, como

exemplo E6 traz:

“eu não gosto muito de lidar com os familiares, tanto que nessa hora de

visita eu estou aqui no meu horário de folga...”.

Existe a resistência ao acolhimento do familiar, pois eles representam sujeitos

que atrapalham a rotina de trabalho (FIGUEIREDO; STEIN, 2004). Além deste

contato indesejado dois técnicos de enfermagem trouxeram que possuem

dificuldades de lidarem com os familiares, como E2 traz:

“o que eu fico meio assim de lidar é com a família, por que o familiar

está numa situação complicada, por que a família sempre questiona,

está todo mundo nervoso...”.

Estas falas ilustram que o técnico percebe este contato como difícil e árduo,

pois são muitas as demandas afetivas da família em função da hospitalização do

familiar em um setor considerado crítico. O contato com os familiares é indesejável,

gerando um distanciamento entre eles. Este fato pode ser explicado pelo modelo

biomédico ainda arraigado a esta visão de atendimento destes profissionais de

enfermagem (MARCON E ELSEN, 1999). A dificuldade de relacionamento entre

profissionais e familiares é trazida por eles, porém os profissionais compreendem a

dificuldade que o familiar vivencia diante dessa experiência e a necessidade de

empatia. Partindo deste principio, qualquer atuação deste profissional que gere

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sofrimento ao familiar, gera dificuldades no relacionamento do profissional de saúde

com os familiares, pois os mesmos não sentem-se preparados para lidar com esta

demanda (KÓVACS, 2003).

Todos os técnicos de enfermagem entrevistados percebem as limitações de

comunicação como restritivas na realidade profissional por eles vivenciada. Eles não

podem dar maiores informações sobre o estado de saúde dos pacientes ao familiar,

sendo uma incumbência somente do médico acompanhado de um enfermeiro. A fala

de E5 reflete o empoderamento desses profissionais frente ao poder do médico e do

enfermeiro:

“...eles perguntam e de tudo, mas assim sempre informações maiores

são os médicos que dão né...”.

Entretanto os técnicos é que geralmente são os mediadores do familiar com

o paciente que está internado no setor. Porém estes, não estão autorizados a

transmitirem qualquer informação, gerando reações como desinteresse pelo contato

com o familiar, que se torna desvalorizado ou inexplorado.

A comunicação restritiva pode ser resultado da concepção de que técnicos

de enfermagem devam exercer atividades rotineiras e que os detentores do poder

seriam os médicos e os enfermeiros, que a priori seriam pessoas com formações

acadêmicas específicas e competências técnicas para se comunicarem com o

familiar.

Os médicos em companhia dos enfermeiros são os únicos responsáveis pelo

boletim médico, ou seja, a comunicação do estado de saúde do paciente. Esta

restrição aos técnicos de enfermagem gera impotência profissional, pois este limite

por eles vivenciado restringe o potencial de atuação, remete à concepção de técnico

como trabalhador de chão de fábrica, cargo operacional. Não possuidor de

capacidades/competências técnicas ou científicas para realizarem este contato

direto com os familiares (MARCON E ELSEN, 1999).

O acolhimento foi trazido como um papel dos profissionais perante os

familiares, porém o contato é restrito e existe a falta de comunicação. Dois

profissionais trouxeram que este contato é indesejado, gerando o distanciamento,

trouxeram também a dificuldade de relacionamento com o familiar e que a

comunicação restrita é a portadora de várias dificuldades na UTI. Enfim, permanece

evidente a polaridade entre o contato versus o distanciamento e também a falta de

comunicação dos profissionais com os familiares.

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4.4 Papel profissional

Quando foi investigado sobre o papel dos profissionais de enfermagem da

UTI, o sentimento que veio à tona pela maioria dos entrevistados foi de amor à

profissão. Esta concepção traz à profissão como fonte geradora de prazer, fazendo o

diferencial na atuação, como E4 traz:

“... a gente cria amor pela profissão, é prazeroso pra você...”.

Quando os entrevistados falam de amor à profissão, parecem estar se

referindo a dedicação, responsabilidade, dentre outros sentimentos. De acordo com

Rossi e Silva (2005) o trabalho em saúde é considerado como sendo da esfera não

material, que se completa no ato de sua realização. Portanto, a objetividade e a

subjetividade lhe são inerentes, tendo em vista que o objeto que o constitui são

seres humanos. Conseqüentemente as intervenções técnicas serão sempre

permeadas por relações interpessoais, que gera amor à atuação profissional e ao

papel enquanto profissional da saúde.

Outra condição observada na prática destes profissionais e descrita como

inerente ao papel técnico do profissional de enfermagem é o contínuo

aprimoramento e superação pessoal e profissional, para vivenciar da melhor forma

todos os desafios por eles enfrentados, como E6 explicita:

“... eu tenho muito o que aprender ainda... “.

A necessidade de aprimoramento e superação de desafios está presente,

buscando sempre ultrapassar desafios dentro do setor, visando superação. Para o

aprimoramento do papel enquanto profissional da saúde que deseja o melhor ao

próximo, Beck et al. (2007) concordam com a busca constante do aprimoramento

quando postulam a existência da idealização do papel profissional. A construção de

conhecimentos teórico-práticos, o desenvolvimento de habilidades para melhor

estabelecer uma relação com os pacientes e a necessidade da compreensão

integrada de atividade assistencial que deve ser um processo em constante

construção.

As crenças pessoais permaneceram explícitas em duas entrevistas quando

trouxeram o papel profissional e a escolha da profissão por uma questão de dom ou

missão que deveriam realizar, como E1 trouxe:

“...eu sei que eu estou fazendo um bem, eu sei que eu tenho uma

missão aqui, e se eu escolhi essa missão então vamos lá...”.

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A percepção do papel profissional enquanto dom ou missão que estes

sujeitos possuem é fruto da formação de crenças e valores pessoais como também

influência da cultura popular que muitas vezes endeusa os profissionais da saúde.

Freitas, Oquisso e Merighi (2006) enfatizam a força da influência cultural em nossas

ações e estruturas mentais.

Os entrevistados pontuaram também a importância do papel profissional na

vida pessoal como sendo o papel exercido em primeiro plano, como E4 explicita:

“o meu trabalho agora pra mim é tudo, gosto de estar aqui e sinto falta

quando eu saio...”.

O papel profissional é por eles desempenhado com vontade e desejo, sendo

priorizado em alguns momentos perante outros papéis sociais. Porém, um fato que

deve ser levado em conta é a necessidade de diferenciação dos papéis sociais, esta

divisão de papéis é importante para um equilíbrio pessoal, concepção apresentada

pelos profissionais de enfermagem. Eles demonstraram a necessidade de

compreender melhor o limite entre o desempenho de seu papel enquanto

profissional e suas funções sociais de um trabalhador da área da saúde (ex: ser um

cuidador) e sua vida pessoal, onde eles são: os filhos, os irmãos, os esposos, as

mães, etc.

Como aponta Shimizu e Ciampone (2002) a identificação com os pacientes e

o forte vínculo com eles mantido gera algumas vezes aos profissionais de

enfermagem, dificuldade de abstração, ou seja, não conseguem parar de pensar nos

pacientes, mesmo fora do ambiente de trabalho. Quando o trabalho invade a vida

pessoal e os momentos de lazer, prejudica os outros papéis sociais

desempenhados.

Apesar da concepção do trabalho enquanto papel primordial da vida do

sujeito, a maioria dos entrevistados demonstra a necessidade de distinguir os papéis

e as funções sociais que devem desempenhar em cada um dos ambientes por eles

vivenciados, E3 afirma:

“...geralmente eu deixo os meus problemas aqui e os lá de fora eu

deixo lá fora, quando eu entro aqui eu me esqueço quem eu sou do

lado de fora e eu também procuro não levar nada daqui, então eu já me

sinto outra pessoa lá fora e outra pessoa aqui dentro...”.

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Dois sujeitos ao longo da entrevista trouxeram que é necessário para o

profissional da saúde saber lidar com a perda, para construção deste sujeito

enquanto profissional, esta afirmativa pode ser confirmada por E2:

“uma pessoa que tem medo da morte ou receio dela não pode se

direcionar para área da saúde, por que assim enfermagem é uma

profissão extremamente ligada a isso...”.

Os profissionais necessitam de competências para lidarem com a perda de

pacientes, sendo que a morte faz parte da rotina da UTI. Boemer (1986) apud

Kóvacs (2003) é uma das pioneiras ao incluir disciplinas que enfoquem a temática

da morte e o cuidado de pacientes terminais na formação acadêmica destes

profissionais, este fazer é um suporte imprescindível para discussão e reflexão sobre

a formação destes jovens profissionais.

Na percepção do papel deste profissional de enfermagem parece estar

intrinsecamente relacionado à doação ao outro, dar o melhor de si, sendo uma

profissão que exige muito do sujeito em todos os sentidos, necessita muitas vezes

de esforço físico, mental e emocional, E4 afirma que:

“... eu estou aqui na UTI cuidando dos pacientes, eu estou fazendo por

ele o que não podem fazer...”.

Esta afirmação pode estar relacionada com a importância do papel atribuído

ao cuidador, alguns profissionais trouxeram que ser profissional de enfermagem é

um papel social desempenhado como prioridade de vida. Não somente pela

remuneração financeira e sim como um ambiente por eles priorizado dentre todos os

outros ambientes que eles convivem. É nesse ambiente que eles tentam dar o

melhor de si, doação total enquanto ser humano. Para eles, este é um papel

recompensador ao pensar na visão de amor ao próximo, sendo uma fonte geradora

de prazer e um ambiente de auxiliar o próximo a permanecer vivo.

Enquanto alguns trazem o conceito de doação, dar o melhor de si para os

pacientes, outros dois técnicos trouxeram algumas concepções referentes aos

profissionais da saúde, enfatizaram a necessidade de manter um distanciamento

profissional com os pacientes para que possam realizar o trabalho adequadamente e

seguindo algumas normas e padrões que eles acreditam serem impostos, E2 traz:

“...se eu estiver emocionalmente envolvida com o paciente eu não

consigo realizar um procedimento invasivo, se eu estou envolvida eu

não posso estar trabalhando aqui...”.

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O ser no mundo é ser com os outros e estar só é estar privado do outro, no

modo de deficiência da coexistência, que é uma das estruturas do ser no mundo

(AUGRAS, 2002). A visão biomédica ainda está muito presente em algumas

entrevistas quando foi apresentada a concepção que os profissionais de

enfermagem deveriam manter um distanciamento dos pacientes para realizarem os

seus trabalhos de forma ética e profissional.

Segundo o conteúdo das entrevistas, o papel do profissional parece estar

relacionado com sentimentos de amor à profissão e ao próximo. A profissão foi

percebida por alguns entrevistados como uma missão e dom que deveriam seguir,

sendo uma questão cultural. É necessário para o profissional conhecer o limite entre

seu papel profissional e sua vida pessoal. Ser profissional de enfermagem foi

categorizado por dois entrevistados como um papel primordial desempenhado na

vida dos sujeitos. É necessário dar o melhor de si, partindo do princípio que a

profissão é uma relação de doação com o próximo. Possuir estratégias para

enfrentar e vivenciar a morte enquanto rotina do ambiente de trabalho, como

estratégia de enfrentamento foi trazida a necessidade de manter distância dos

pacientes para realizar com ética os fazeres profissionais. Além destes aspectos, os

profissionais mencionaram a necessidade de aprimoramento para realizarem este

papel.

4.5 A percepção dos profissionais da enfermagem sobre a perda dos pacientes

A apreensão do mundo de um sujeito é individualizada, se apóia na

percepção que procura compreender a sua realidade. O indivíduo atribui o seu

próprio significado nos acontecimentos e na morte esta atribuição de significado

também acontece (AUGRAS, 2002).

A reflexão sobre a morte baseou-se em algumas concepções

fenomenológicas. Nesse sentido, a compreensão do luto foi percebida como sendo

uma vertente da difusão entre a identidade do sujeito e o seu modo de ser-no-

mundo. Ou seja, o profissional vivencia a perda de um paciente partindo da

construção de sua identidade e associado com todas as experiências vivenciadas e

principalmente o seu modo de existir no mundo (FUKUMITSU, 2004).

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Ao dialogar com os profissionais de enfermagem sobre a percepção da morte

dentro da UTI, cinco entrevistados trouxeram que a morte seria para eles um

processo natural, como E6 diz:

“eu encaro como uma coisa normal, porque eu acho que a gente está

aqui como uma passagem...”.

A morte é percebida pelos profissionais de enfermagem enquanto uma “rotina

do setor”, pelo estado crítico dos pacientes, a compreensão de naturalidade da

morte foi trazida pelos profissionais, Poles e Bousso (2006) trazem esta concepção

de naturalidade como um processamento sadio da perda dos pacientes.

Três entrevistados colocaram a concepção de finitude de vida, com algumas

crenças e valores pessoais, E1 explicita:

“...ninguém vai sem ser a hora, se é a hora de ir, vai, se Deus tem uma

obra para fazer na vida da pessoa ela não vai ir...”.

A concepção de finitude traz claramente a idéia que nenhum ser humano vive

eternamente na terra. Esta idéia está presente em várias culturas, porém, com

diferentes significados, enquanto em países do oriente a vida é marcada pelo

conceito de impermanência e a morte é uma passagem para outra dimensão, no

ocidente a compreensão da finitude remete a sentimentos de medo e incertezas

(COMBINATO; QUEIROZ, 2006). Reserva-se a reflexão sobre a finitude para o

momento da morte ou perda de alguém significante. Com o profissional de

enfermagem esta reflexão pode acontecer em vários momentos, pois lidam

diariamente com a morte de pacientes e convivem com o sofrimento dos familiares.

A ambigüidade de sentimentos apareceu quando o assunto é a perdas dos

pacientes, pois traz a idéia da morte como um descanso. Porém, os profissionais

trouxeram alguns sentimentos marcantes com o comoção/tristeza, fracasso

profissional, por exemplo: E6 expõe:

“...quando a gente chega aqui e vê o tanto que a gente se empenha, e

vê que não estão mais aqui a gente fica meio chateado...”.

Os sentimentos que estão relacionados às perdas são inúmeros. Geralmente

com tendências ambíguas eles apresentam pontos positivos e negativos com a

morte de um paciente. Os sentimentos mais apresentados pelos profissionais de

enfermagem foram de: comoção/tristeza pela perda de um paciente. O fracasso

apareceu como um sentimento pulsante nos profissionais, como se a sobrevivência

do paciente dependesse do êxito e competência profissional. Partindo desta visão a

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morte seria um vilão que está contra os todos os preceitos de cuidador, pois eles são

profissionais que salvam vidas, logo, se algum paciente morre, eles perdem a

batalha (FIGUEIREDO; STEIN, 2004).

Em alguns casos a morte foi trazida como repentina/imprevisível que

acontece somente na hora certa, E2 traz:

“...eu penso de uma forma boa, a gente cuidou com todo amor e

carinho, dedicação mas que era a hora dela...”.

A concepção da necessidade de uma preparação para a perda é trazida pelos

profissionais de enfermagem. O sentimento de resignação remete à questão da

morte acontecer sempre no momento certo, sendo uma crença ou valor pessoal que

pode auxiliar na redução do sentimento de fracasso e culpabilização que este

profissional possa sentir. As origens destas percepções são variadas, provêm de

representações sociais até concepções pessoais sobre a vida/ morte e o processo

de finitude (SIMÕES; TIEDEMANN, 1985).

Em dois entrevistados surge a diferenciação do sentimento de perda

envolvendo pacientes idosos e pacientes jovens, como exemplo E5 explica:

“a morte é uma coisa que ninguém aceita, principalmente quando é

assim gente nova... quando é um paciente que já é idoso e que vai

descansar, que está sofrendo muito, você fica até mais descansada...”.

Existe a diferenciação de sentimentos entre a morte de um paciente jovem

que ocorre a mudança abrupta da saúde e de sua condição de vida. A morte de um

paciente idoso que possui complicações de saúde e está com sofrimentos físicos

algumas vezes parece ser mais aceita. Já a morte dos pacientes jovens é percebida

como a quebra do ciclo vital, revoltante, assusta pela imprevisibilidade dos

acontecimentos com uma vida sendo ceifada e faz o profissional repensar a sua

própria vida (POLES; BOUSSO, 2006).

Ou seja, a morte de um idoso é sentida com maior resignação, sentimento de

alívio do sofrimento corpóreo. A morte dos jovens é percebida como uma quebra no

ciclo vital, talvez a identificação com o paciente traga maiores sentimentos de perda,

tristeza, como traz E2:

“...o que me deixa às vezes mais chocada é em caso de pacientes

jovens que está em estado grave...”.

Já o idoso remete a concepção de que a morte seria uma forma de descanso,

ou seja, após a morte não existiria mais sofrimento. Na realidade, as percepções

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divergem em diferentes setores e diferentes vinculações que o profissional

estabelece com os pacientes. Ou seja, a percepção é muito relativa e subjetiva, cada

sujeito sentirá a perda de um paciente em específico de forma singular (POLES E

BOUSSO, 2006).

Existe diferença do sentimento de perda quando o óbito acontece com um

paciente e o sentimento que os profissionais teriam se o paciente fosse um familiar

seu que estivesse naquela unidade. E4 expõe:

“...eu estou aqui na UTI e morre eu estou chocado com aquilo ali mas

nunca é como se fosse com um familiar da gente, por que eu acho que

cada um tem uma dor... por essas pessoas não serem familiares a

gente não sente tanto, também sente mas não tanto...”.

A proximidade familiar e o vínculo pessoal faz diferença no sentimento de

perda, o sentir a perda de um paciente por um profissional de enfermagem é mínimo

perante o sentimento da perda de um familiar. A redução ou falta do vínculo com o

paciente faz que os profissionais demonstrem sentir minimamente a perda de um

paciente. Alguns trouxeram que se fosse um familiar naquela situação isto mudaria

completamente o sentimento, como Figueiredo e Stein (2004) trazem que quando o

profissional vivencia a perda do seu familiar no setor de terapia intensiva torna-se

após esta experiência muitas vezes mais empático e humanizador, E2 traz:

“...pra mim a morte não é uma coisa assustadora, claro que eu falo isso

por que eu estou falando dos pacientes, claro que se fosse a minha

família a gente fica muito mais sensível, vulnerável, tolerante até, mas

como enfermeira eu diria que a morte é uma coisa natural...”.

Isto pode ser entendido como um mecanismo de defesa utilizado pelo

profissional de enfermagem chamado de racionalização, ou seja, eu sofro porém, o

que eu sofro quando perco um paciente é mínimo, quando comparado com a dor de

um familiar. O ato de racionalizar faz o sujeito buscar respostas rápidas e

inteligentes que justifiquem sua atitude ou indolência (BENETTON, 2002).

Dois entrevistados trouxeram casos de perdas que foram marcantes na vida,

tanto pessoal quanto profissionalmente. Foram sujeitos que foram internados na UTI

e que os profissionais tiveram uma maior empatia e aproximação com eles e quando

o assunto é perda ou morte, as lembranças destes sujeitos ressurgem para os

profissionais, como exemplo E5 traz que:

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“até hoje eu sinto uma paciente que morreu que ficou uns dois meses

com a gente, a gente gostava muito dela e até hoje eu sinto falta...”.

Costa e Lima (2005) trazem que os profissionais de saúde, especialmente

aqueles da área hospitalar, reconhecem que existem pacientes especiais com os

quais estabelecem uma relação diferenciada e singular. A morte destes pacientes

pode provocar o luto, com todas as reações próprias desse processo, como se fosse

a perda de uma pessoa com a qual mantém relações de outra ordem, que não a

profissional. O luto deve sim ser vivenciado e experienciado, para que o profissional

não permaneça utilizando mecanismos de defesa como fuga pois, causa várias

conseqüências para sua atuação profissional.

Para compreender como os entrevistados lidam com as perdas e dificuldades

foram inquiridos sobre as suas estratégias de enfrentamento. Dois entrevistados

trouxeram que a religião é o ponto de apoio para a aceitação e resignação desse

cotidiano por eles vivenciado, como E1 diz que:

“eu sou evangélica e isso me ajuda demais, por que quem é

conhecedor da bíblia é discípulo, então basta saber lidar com ela e eu

acho que é isso...”.

Pressupõe-se que não vivenciar o luto gera dificuldades no ambiente de

trabalho, porém, existe uma válvula de escape que eles utilizam que são as

estratégias de enfrentamento. As crenças religiosas são uma das estratégias

utilizadas para que possam vivenciar estes sentimentos de perda ou luto. Buscar

respostas/soluções na religião para todos os acontecimentos que prejudicam ou

dificultam as ações enquanto profissionais (FIGUEIREDO; STEIN, 2004).

Por outro lado, dois entrevistados trouxeram que o distanciamento dos

pacientes é uma estratégia por eles utilizada para enfrentar a morte dos pacientes

na UTI, exemplo E2 traz:

“...eu tento evitar me envolver emocionalmente com o paciente para

não sofrer depois...”.

Como estratégia de enfrentamento o distanciamento do paciente é uma forma

de não estabelecer uma relação vincular. Segundo a percepção dos entrevistados,

esta estratégia é efetiva para os profissionais da área de saúde, uma vez que lidam

com a dor aparente dos pacientes. Por realizarem procedimentos invasivos ou

dolorosos com os pacientes a estratégia de distanciamento é utilizada para que os

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profissionais não se sintam culpados por serem os agentes mediadores da dor ao

realizar os procedimentos invasivos (SIQUEIRA et al., 2006).

Um entrevistado trouxe que a divisão de papéis funciona como estratégia de

enfrentamento para promoção de um ambiente exclusivamente profissional e com o

mínimo envolvimento pessoal com os pacientes. Saber qual o seu papel formal e

quais os sentimentos e sensações que ele pode sentir enquanto profissional auxilia

a conviver com as situações e com a rotina da UTI, E4 traz:

“aqui é trabalho o tempo todo, então quando eu saio eu tento esquecer

um pouco daqui, quando eu vou pra minha casa é minha vida pessoal,

sou eu, vou cuidar de mim, na UTI estou cuidando dos pacientes, eu

estou fazendo por eles o que eles não podem fazer”.

Durante o horário de trabalho este profissional se permite

sentimentos/acontecimentos e procedimentos que cabem ao seu papel naquele

local. Quando sai do hospital e vai para sua casa assume outros papéis sociais

deixando o profissional de enfermagem para o próximo plantão.

Para ele esta estratégia é eficiente e auxilia em vários momentos, a utilização

destes mecanismos é necessário à promoção de comportamentos que auxiliem a

enfrentar situações geradoras de estresse, independente das estratégias utilizadas é

muito importante o seu uso para homeostase dos profissionais de saúde. Utilizam-

se estratégias para os profissionais possuírem diferentes formas e instrumentos para

ressignificar os acontecimentos ou saber lidar com determinadas situações (MOTTA

e ENUMO, 2004 apud SILVA, 2009).

Enfim, as percepções que os profissionais de enfermagem trouxeram sobre a

morte dos pacientes foi principalmente de naturalidade e compreensão de finitude, a

ambigüidade de sentimentos apareceu durante o processo de perda. Com os

sentimentos de tristeza/comoção, fracasso, morte repentina/imprevisível e hora

certa, a diferença de sentimentos entre o morrer de um idoso e o morrer de um

jovem é perceptível. A concepção de que o sentimento ou comoção seria maior se

fosse a perda de um familiar dos profissionais de enfermagem foi percebida. Casos

que foram comoventes são recordados por eles como marcantes. As estratégias de

enfrentamento por eles utilizadas são a religião, o distanciamento do paciente e a

divisão de papéis.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo geral conhecer a percepção dos

profissionais de enfermagem frente a perda de pacientes na UTI. Partindo dos

pressupostos descritos na literatura, para atingir este objetivo foi necessário a

discussão de alguns conceitos centrais, baseado na proposta desse estudo foram

elencados alguns objetivos específicos: descrever a percepção do profissional de

enfermagem sobre a perda dos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva;

identificar no profissional de enfermagem sentimentos relacionados a morte dos

pacientes; levantar os recursos pessoais por eles utilizados diante da perda de

pacientes na UTI.

Ao refletir sobre a temática morte, fluem algumas concepções e conceitos que

desmistificam a concepção primária do que seria a morte para um profissional de

saúde. A concepção que permaneceu perceptível no presente trabalho é que

diferentes sujeitos em diversos contextos possuem diferenças na percepção de um

fenômeno, como no caso, a morte no setor de Terapia Intensiva. Enquanto algumas

profissões percebem este processo como difícil de ser vivenciado, os profissionais

de enfermagem ao repensarem o significado da perda de pacientes na UTI trazem a

concepção de compreender este acontecimento de modo natural, portando a idéia

de morte como parte ativa do ciclo vital (KÓVACS, 1992).

A morte é uma rotina vivenciada neste setor de alta rotatividade. Isto não

diverge da visão das outras profissões que acreditam que atuar num setor de terapia

intensiva seja uma atividade complexa. Os profissionais concordam que este

trabalho possui aspectos estressantes e que exige muita atenção deles enquanto

profissionais da saúde. Por outro lado, esse altruísmo presente no setor, é por estes

profissionais compreendido como recompensa pelo amor que possuem a profissão.

A perda é sentida, porém, não com tanta intensidade quanto dos familiares e amigos

dos pacientes. É claro que em alguns momentos acontece uma maior vinculação do

paciente com o profissional o que gera maior envolvimento e sofrimento pessoal.

O sentimento de fracasso é uma confirmação em alguns momentos que

psicologicamente o profissional sente-se culpado por não ter impedido esta perda.

Outros sentimentos trazidos pela perda dos pacientes é o sentimento de dor,

comoção, tristeza, sofrimento, resignação, alívio, imprevisibilidade, naturalidade,

entre outros.

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Quando se pensa em recursos utilizados pelos profissionais de enfermagem

para enfrentar estes acontecimentos, pensa-se em estratégias de enfrentamento. É

necessária a construção de alguma crença ou valor para vivenciar um ambiente

estressante ou momento de dificuldade. Os profissionais de enfermagem trouxeram

algumas estratégias de enfrentamento utilizadas, como a religião sendo uma base,

um porto seguro que traz alento e aconchego aos momentos de sofrimento, traz

respostas para os grandes mistérios da vida humana (FIGUEIREDO; STEIN, 2004).

Um ponto importante por eles apontado é saber dividir os papéis sociais que eles

desempenham, por exemplo, em que momento termina o papel de profissional e

inicia o papel de mãe, esposa, filha, etc.

A divisão de papéis para os profissionais é um facilitador para separar as

dificuldades do trabalho com a vida pessoal. Porém, apontam que o papel

profissional é o principal papel exercido em suas vidas, ou seja, o papel de maior

significância e sentido de vida. Outra estratégia utilizada pelos profissionais é possuir

habilidade de manter um relacionamento profissional com os pacientes, não

envolvendo-se com eles emocionalmente, visando assim evitar o sofrimento quando

um paciente vem a óbito na UTI.

As estratégias de enfrentamento são importantes para este momento de

reflexão sobre a vida e conseqüentemente sobre a morte. Porém, ao vivenciar este

processo de perda todo sujeito deveria repensar os objetivos, metas pessoais.

Repensar o significado atribuído à vida e aos seus papéis desempenhados na

sociedade.

Para a fenomenologia o significado jamais é alcançado em sua totalidade, da

mesma forma que a complexidade de um sujeito não pode ser reduzida a um

diagnóstico (AUGRAS, 2002). Nesta pesquisa foram realizadas algumas reflexões

acerca da percepção destes profissionais, mas o objeto de estudo deve continuar

sendo explorado por outros profissionais para que esta reflexão seja ampliada.

A comunicação em todas as suas modalidades é um dos aspectos mais

fundamentais na prática profissional, na UTI esta comunicação torna-se

imprescindível para interação da equipe com os pacientes, que muitas vezes se

encontra aperceptível e também com a família sedenta de informações. (SIQUEIRA

et al., 2006). Partindo destes preceitos, esta pesquisa sugere como intervenção do

profissional da psicologia, a construção de um grupo de reflexão para os

profissionais do setor de terapia intensiva.

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Este grupo deverá ser um espaço aberto para diálogo, troca de experiências,

vivências profissionais e pessoais para os profissionais da UTI, um ambiente aberto

para reflexão dos acontecimentos do setor e estimulador do processo de

empoderamento dos profissionais de enfermagem. Um espaço propício para que

repensem o que pode ser aprimorado para o crescimento pessoal e profissional,

para melhorar qualidade na assistência. Pois o cuidado aos pacientes é apoiado na

disposição da equipe em unir razão, sensibilidade, subjetividade e objetividade e ao

realizar esta união estarão agindo para humanização do setor e atendimento de

qualidade com os pacientes e familiares (SIQUEIRA et al., 2006). A formação

técnica desse grupo de profissionais de enfermagem poderia auxiliar no processo de

reflexão sobre o cuidado, o atendimento, a visão de humanização entre outros

conceitos-chaves que constituem a terapia intensiva.

Este estudo se propôs a conhecer um pouco a percepção dos profissionais de

enfermagem, para aprimorar o conhecimento e estudo sobre a unidade, são

apresentadas sugestões para novas pesquisas que complementariam o presente

estudo. Observou-se a importância de conhecer a comunicação interna do setor

para melhor compreender esta percepção acerca da perda de pacientes e os fatores

relacionados ao estresse profissional.

É necessário ainda investigar as relações de poder presentes no ambiente

hospitalar, bem como conhecer outras representações sociais do profissional de

enfermagem, visando alcançar uma maior abrangência do tema investigado.

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7. ANEXOS

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7.1 ANEXO 1

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8. APÊNDICES

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8.1 Apêndice 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa intitulada “A percepção do técnico

de enfermagem frente à perda de pacientes na Unidade de Terapia Intensiva”, cujo objetivo geral é:

conhecer a percepção dos técnicos de enfermagem frente à perda de pacientes da UTI, a pesquisa

será realizada com os técnicos de enfermagem da UTI do Hospital Santa Inês.

Sua colaboração consistirá em responder uma entrevista semi-estruturada. Tal técnica

oferece liberdade e espontaneidade necessárias para falar livremente, seguindo espontaneamente

sua linha de pensamento e experiências.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:

a) Seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, garantindo seu anonimato;

b) Os resultados da pesquisa serão utilizados somente para fins acadêmicos, podendo ser

publicados em revistas especializadas, porém, como explicitado no item (a), seus dados

serão mantidos no anonimato;

c) Não há respostas certas ou erradas, o que importa é sua opinião;

d) Você poderá interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado,

bastando, para tanto, comunicar a pesquisadora;

e) Visto que sua participação é voluntária, você não terá direito a remuneração;

f) Durante a participação, se houver alguma reclamação do ponto de vista ético, você poderá

contatar o responsável por esta pesquisa;

g) Na medida do possível os resultados da pesquisa serão apresentados aos participantes na

presença do pesquisador e do professor orientador do presente trabalho.

IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO

Eu, ___________________________________________, declaro estar ciente dos propósitos da

pesquisa, da maneira como será realizada e no que consiste minha participação. Diante dessas

informações, aceito participar da pesquisa.

Assinatura:_________________________ RG:_____________________

Pesquisador responsável: Jamir S. Júnior (CRP 12/1554)Assinatura: ___________

Acadêmica: Tatiani Pereira Assinatura: ________________________

UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia Rua Uruguai, 438 –Bloco 25B – sala 401

Fone: (47) 3341-7542 E-mail: [email protected]

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8.2 Apêndice 2 Entrevista Semi-Estruturada

1) Como é para você ser técnico de enfermagem na Unidade de Terapia

Intensiva?

2) Você escolheu atuar nesta unidade? Por que?

3) Como você define o seu trabalho?

4) Descreva sua rotina laboral.

5) Em suas atividades o que você acredita ser mais difícil de lidar?

6) Quais os sentimentos que você acredita estar envolvido na sua profissão?

7) Como é seu relacionamento com os pacientes da unidade?

8) Como é seu relacionamento com os familiares dos pacientes da UTI?

9) O que é a morte para você?

10) Como você sente a perda de pacientes?

11) Como você lidar com a morte? Quais estratégias você utiliza?