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1 A PERCEPÇÃO SOBRE RACISMO E DISCRIMINAÇÃO DE ESTUDANTES NEGRAS NOS CURSO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO EM SANT’ANA DO LIVRAMENTO/RS THE PERCEPTION ON RACISM AND DISCRIMINATION OF BLACK STUDENTS IN THE HIGHER COURSE OF ADMINISTRATION IN SANT'ANA DO LIVRAMENTO / RS Madrid, Rosemeri da S. 1 Cerqueira-Adão, Sebastião Ailton da Rosa 2 Universidade Federal do Pampa - Unipampa RESUMO Apresentam-se neste artigo algumas reflexões sobre a presença das estudantes negras no curso superior de Administração da Universidade Federal do Pampa e a percepção das estudantes quanto às situações de racismo e discriminação no âmbito do Curso Superior de Administração da Universidade Federal do Pampa e a empregabilidade destas alunas no mercado de trabalho, para atingir o objetivo de identificar as situação de racismo e discriminação. Percebe-se que a presença de estudantes negras neste curso é uma quase ausência, considerando que em dez anos de existência do curso, apenas quarenta e quatro alunas eram de etnia negra e destas, seis concordaram em participar da pesquisa, utilizando-se a metodologia qualitativa Estudo de Caso. Para desenvolver o tema, recorreu-se a autores tradicionais e contemporâneos. Ao final, conclui-se que há percepção das alunas quanto não empregabilidade de administradoras negras e o quanto estas estudantes 1 Mestranda PPGA da Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA . Especialista em Desenvolvimento em Regiões de Fronteira. Tecnóloga em Gestão Pública. 2 Professor Doutor da Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA. Professor Adjunto Unipampa. doutor em Educação (Administração e Supervisão do Ensino) pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2003) e Pós-doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo - USP (2007). Atuou como Analista de Custos e Gestor de Estoques na Cerâmica Portobello - Tjucas/SC. Atuou como Analista de Custos Hospitalares no Hospital Universitário da UFSC - Florianópolis/SC. Foi Assessor Técnico, Diretor de Ensino de Graduação e Coordenador do Curso de Administração do Centro Universitário de Campo Grande - UNAES. Foi professor da Universidade Para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - UNIDERP.

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A PERCEPÇÃO SOBRE RACISMO E DISCRIMINAÇÃO DE ESTUDANTES NEGRAS NOS

CURSO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO EM SANT’ANA DO LIVRAMENTO/RS

THE PERCEPTION ON RACISM AND DISCRIMINATION OF BLACK STUDENTS IN THE

HIGHER COURSE OF ADMINISTRATION IN SANT'ANA DO LIVRAMENTO / RS

Madrid, Rosemeri da S.1

Cerqueira-Adão, Sebastião Ailton da Rosa2

Universidade Federal do Pampa - Unipampa

RESUMO

Apresentam-se neste artigo algumas reflexões sobre a presença das estudantes negras no curso

superior de Administração da Universidade Federal do Pampa e a percepção das estudantes quanto

às situações de racismo e discriminação no âmbito do Curso Superior de Administração da

Universidade Federal do Pampa e a empregabilidade destas alunas no mercado de trabalho, para

atingir o objetivo de identificar as situação de racismo e discriminação. Percebe-se que a presença

de estudantes negras neste curso é uma quase ausência, considerando que em dez anos de existência

do curso, apenas quarenta e quatro alunas eram de etnia negra e destas, seis concordaram em

participar da pesquisa, utilizando-se a metodologia qualitativa Estudo de Caso. Para desenvolver

o tema, recorreu-se a autores tradicionais e contemporâneos. Ao final, conclui-se que há percepção

das alunas quanto não empregabilidade de administradoras negras e o quanto estas estudantes

1 Mestranda PPGA da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA . Especialista em Desenvolvimento em

Regiões de Fronteira. Tecnóloga em Gestão Pública.

2 Professor Doutor da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA. Professor Adjunto Unipampa. doutor em

Educação (Administração e Supervisão do Ensino) pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2003) e

Pós-doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo - USP (2007). Atuou como Analista de Custos e

Gestor de Estoques na Cerâmica Portobello - Tjucas/SC. Atuou como Analista de Custos Hospitalares no Hospital

Universitário da UFSC - Florianópolis/SC. Foi Assessor Técnico, Diretor de Ensino de Graduação e Coordenador do

Curso de Administração do Centro Universitário de Campo Grande - UNAES. Foi professor da Universidade Para o

Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - UNIDERP.

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sentem sobre si uma cobrança maior por eficiência e produtividade, o que revela o quanto se sentem

discriminadas. É importante que a instituição adote medidas de valorização e promova ações junto

às empresas locais para incentivar a inclusão destas profissionas no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Mulheres Negras; Administradoras; Racismo; Discriminação; Empregabilidade.

ABSTRACT

Some reflections on the presence of black students in the administration course of the Federal

University of Pampa and the perception of the opportunities in relation to the situations of racism,

discrimination in the exercise of the Superior Course of Administration of the Federal University

of Pampa and a employability of female students in the labor market. It is noticed that the presence

of black students in this course is a near absence, considering that for ten years of experience of

course degradation, only forty four black ethnic students and the six were agreed to participate in

the research, using to a complete methodology. qualitative Case Study. To develop the theme, a

classic and contemporary custom was used. The evaluation of the ideal they did not perceive in the

employers of blacks administrators and the they they were they were you to miss greater by

efficibility and productivity. It is important that an institution, with this perception, adopt valuation

and promotion measures in local companies for their professional activities in the labor market.

Key-Words: Black Women; Administrators; Racism; Discrimination; Employability.

INTRODUÇÃO

As discussões sobre relações raciais e gênero nas instituições de ensino superior e a

percepção dos estudantes sobre estas relações podem ser analisadas a partir de dois recortes: como

discussão quanto à empregabilidade ou a partir do sexo e/ou cor/raça dos sujeitos. É importante

considerar que as temáticas de relações raciais e gênero apresentam inserções em tempos sociais

diferenciados: primeiro nas discussões sobre a presença ou não de mulheres no meio acadêmico e

somente mais recentemente nas ausências e invisibilidade dos negros nesses espaços, conforme

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Artes e Chalco (2011). Para descobrir a presença e a percepção das estudantes de etnia negra

quanto ao racismo, discriminação e empregabilidade no âmbito dos Curso Superior de

Administração da Universidade Federal do Pampa propõe-se a pesquisar como se dá a presença e

qual a percepção da empregabilidade das estudantes negras na Graduação em Administração na

Universidade Federal do Pampa.

O recorte de gênero e etnia dentro do curso de Administração se faz necessário por não

haverem muitos dados neste campo, o que não se coaduna com todo um leque de políticas públicas

de promoção da igualdade de gênero e racial implementados no Brasil nos últimos governos,

principalmente com a vigência da Lei 12.288 (Estatuto da Igualdade Racial) e da Lei 12.711,

popularmente conhecida como Lei das Cotas. Há dados fornecidos por organismos nacionais como

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada

(IPEA), além de organismos internacionais como Organização Internacional do Trabalho (OIT) e

entidade das Nações Unidades para Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres

(ONU/Mulheres) que subsidiam com fortes elementos a necessidade desta discussão. Dados como,

por exemplo: a jornada total das trabalhadoras negras é exatamente a mesma das brancas, ou seja,

57,9 horas, entretanto as mulheres negras trabalham em média 2,1horas a mais do que as mulheres

brancas nas atividades relacionadas aos afazeres domésticos o que corresponde a 23,0 e 20,9 horas

semanais respectivamente, este dado pode ser traduzido como, além da tarefa laboral, que as

mulheres negras trabalham mais tempo no serviço doméstico.

Com relação ao ensino superior, as mulheres são maioria na graduação, mas o recorte

de mulheres e homens negros que ocupam espaço no ambiente acadêmico é ainda irrisório.

Conforme o IBGE, 9% dos jovens negros na faixa etária de 18 a 24 anos cursam o

ensino superior, enquanto o grupo de brancos na mesma faixa etária o percentual é de 25,6%, dados

que servem para ilustrar a ausência de equidade, bem como a desigualdade no acesso ao ensino

superior. Por essas razões, é necessário investigar a percepção das estudantes de etnia negra quanto

ao racismo, discriminação pela ótica da interação nos espaços acadêmicos e ainda inferir a

empregabilidade destas estudantes no mercado de trabalho.

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Esta necessidade é corroborada pela quantidade de novos grupos de pesquisa e de

investigação que surgiram recentemente e abordam a temática racial dentro das universidades,

citando como exemplo o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros, da Universidade de Brasília (UnB),

do grupo de Pesquisa de Trabalho, Educação e Relações Étnicos Raciais da Associação Nacional

de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPE) e ainda a Associação Brasileira de

Pesquisadores Negros (ABPN), o que se traduz em necessidade de discutir incessantemente o tema

da discriminação racial e do preconceito, bem como se buscar soluções dentro do ambientes das

instituições de ensino superior, oportunizando não só o acesso, mas um ambiente de aceitação e

respeito.

E finalmente, ainda com base nos dados do IBGE, as titulações de mestrado e

doutorado no Brasil, no ano de 2000 eram 137 mil estudantes brancos e 3,7 mil afrodescendentes,

dado que sinaliza a quase ausência de estudantes negros na pós-graduação.

Na tentativa de se buscar uma diferença nesta desigualdade, em 2010, com as políticas

públicas de promoção da igualdade e programas como “Universidade para Todos” (PROUNI) e

Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) o número de estudantes negros na pós-graduação

passou para 11 mil pessoas, enquanto o de alunos brancos na pós-graduação totalizava 186,9 mil

alunos o que sinalizava que a diferença diminuiu mesmo assim ainda existem 16,8 vezes mais

brancos do que não brancos em instituições de ensino superior.

Com esta clara desigualdade de etnia nos espaços acadêmicos é necessária uma

reflexão neste sentido, e a base teórica pode se dar a partir de estudos da dialética da democracia

racial e do racismo institucional.

O conceito de racismo institucional surgiu ainda em 1967 a partir do movimento

Panteras Negras (EUA) para especificar como se manifesta o racismo nas estruturas de organização

da sociedade e nas instituições com o entendimento que é uma falha coletiva de uma organização

em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas em razão de sua cor, cultura ou origem

étnica (CARMICHAEL, Stokely; HAMILTON, Charles, 1967).

Por sua vez, a tese da democracia racial no Brasil teve destaque na escola baiana

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integrada por Donald Pierson, Nina Rodrigues, Thales de Azevedo, que defendiam a ideia de que

o preconceito racial era fraco ou inexistente, ao contrário da corrente teórica paulistas composta

pelos professores Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni, que

abordaram as tensões raciais através do preconceito de racial e de discriminação étnica, conforme

bem sintetizou Bello (2011), teoria esta que se sobrepôs a da democracia racial, a partir de inúmeros

estudos comprovando a existência do racismo e discriminação racial tanto na sociedade quanto nas

instituições.

Além disso faz-se necessário e urgente tratar a temática do racismo, que consiste num

sistema de opressão que privilegia um grupo racial em detrimento de outro, como bem explica

Ribeiro (2018, p.72) e ainda a questão do preconceito de cor que na leitura de Schwarcz (2012),

não está exclusivamente ligado a questão econômica e social, mas como marca abrangente que

quer dizer fazer da diferença (seja ela de cor, sexo, religião, classe) algo mais do que efetivamente

é. Implica valorizar negativamente certos mercadores sociais de diferença e incluir neles uma

análise moral (SCHWARCZ, 2012).

ADMINISTRAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

A Administração do Desenvolvimento é campo de estudo da Administração voltado

para a análise da gestão das relações sociais de produção, distribuição e consumo da sociedade

(SANTOS e SANTANA, 2010). Ela se diferencia dos Estudos Organizacionais (EOs) por dois

motivos: primeiro, por não ter como objeto de estudo a organização, mas a gestão; segundo, porque,

ao passo que os Estudos Organizacionais se centram na investigação de organizações modernas ou

mesmo pós-modernas, a Administração do Desenvolvimento, por sua vez, prioriza o estudo de

sociedades, países, regiões, organizações, que, muitas vezes, encontram-se aquém da modernidade

(COOKE, 2004; SANTOS, 2004; GULRAJANI, 2009). Para isso, revisita-se o pensamento de

Ramos (1983) que foi o pioneiro nas abordagens teórica, ao refletir, sobre o futuro e a função social

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da Administração do Desenvolvimento.

E no que tange ao quesito gênero, raça e classe social no ambiente acadêmico e do

trabalho, muitos estudos mapeiam estas situações, tais como Guimarães (2002), Hirata (2014),

Lima, Rios e França (2013), Schwarcz (2012), que serão revisitados a seguir, bem como dados do

Instituto Ethos, organização não governamental cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as

empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na

construção de uma sociedade justa e sustentável. O Instituto mapeia através de indicadores, a

presença da diversidade de gênero e etnia nas empresas envolvidas e assim, torna-se um dos

referencias no quesito pesquisa sobre a absorção de indivíduos com recorte étnico e de gênero no

ambiente organizacional.

Conforme dados do Instituto. Ethos (2016), verifica-se que a ocupação da presença

negra em cargos de supervisão e gerência nas empresas 4,7% dos cargos executivos, enquanto

6,3% dos cargos gerenciais são compostos por pessoas negras. Dentro deste recorte, a situação é

mais desigual para mulheres negras, onde 1,6% ocupam cargos de gerência enquanto 0,4% ocupam

algum cargo executivo.

Em levantamento do Instituto Ethos, duas mulheres negras num universo de 548

mulheres ocupavam cargos executivos em 2016. Esses dados servem para simbolizar o quanto se

deve avançar nos estudos e nas ações tanto públicas como privadas, de inserção de pessoa de etnia

negra nos ambientes acadêmicos e organizacionais, visando as desigualdades de gênero e etnia.

O que é corroborado pela fala de Carvalho (2066), exposta a seguir:

Elas, as universidades, expandiram seus contingentes de alunos e professores

inúmeras vezes ao longo do século XX, mas não tomaram nenhuma iniciativa para

corrigia a exclusão racial que as caracteriza desde a sua fundação. Ou seja, havia

uma política abertamente racista na hora de iniciar a distribuição dos benefícios

do ensino superior, todavia não houve nenhum protesto ou ação antirracista

posterior por parte dos acadêmicos brancos contra os privilégios que receberam

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em virtude desses racismos estruturais. Pelo contrário, houve grande hostilidade e

rejeição à presença de vários quadros negros importantes nos postos docentes [...]

Nem Guerreiro Ramos, nem Edson Carneiro conseguiram entrar na Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Clóvis Moura também ficou fora das universidades

públicas do estado de São Paulo: Pompílio da Hora, erudito professor do Colégio

Pedro II foi recusado duas vezes de entrar na carreira diplomática descaradamente

por sua condição racial e Abdias do Nascimento somente foi professor no Estados

Unidos e na Nigéria como consequência do seu exilio durante os anos da ditadura:

ao regressar ao Brasil nunca foi acolhido por nenhuma universidade pública,

enquanto a maioria dos acadêmicos brancos exilados conseguir retomar seus

postos anteriores ou foram realocados em outros. O resultado dessa segregação

racial que já atravessou quatro gerações de universitários é uma prática quase

nunca submetida à crítica dos acadêmicos brancos falarem sempre entre brancos

(CARVALHO, 2005-2066, p. 99-10).

CONSIDERAÇÕES SOBRE GÊNERO E RAÇA

Uma das afirmações mais elementares é trazida por Ribeiro (2015, p. 169) quando diz que

a característica distintiva do racismo brasileiro é que não incide sobre origem racial das pessoas,

mas sobre a cor da sua pele. Nesta escala, segundo o autor, negro é negro retinto, o mulato já é o

pardo e como tal, meio branco e se a pele é um pouco mais clara, já passa a incorporar a

“comunidade branca”. Esta fala simboliza o processo de miscigenação social brasileira e traz

consigo a simbologia de como o racismo e a discriminação se dá de forma velada e estrutural na

sociedade brasileira.

Quanto ao gênero, traz-se a percepção apresentada pela filósofa Butler (2016) que

proporciona a possibilidade de se contestar os padrões daquilo que é considerado adequado ou não

para este ou aquele e também para a forma como se relacionam com a sua sexualidade e seu gênero

diante da sociedade. A autora busca desconstruir as ideias de gênero encontradas na sociedade

atual, mostrando que se trata de um constructo social, como se vê nas declarações:

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“O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado

num sexo previamente dado (uma concepção jurídica) tem de designar também o aparato

mesmo de produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos. Resulta daí que

o gênero não está para a cultura como o sexo está para natureza sexuada ou sexo natural é

produzido e estabelecido como “pré discursivo”, anterior à cultura, uma superfície

politicamente neutra sobre a qual age a cultura “ (BUTLER, 2016, p. 27).

EMPREGABILIDADE DA POPULAÇÃO NEGRA.

Empregabilidade tem sido um tema recorrente no meio universitário, visto que a

excelência na formação do futuro profissional parece ser elemento preponderante para o acesso ao

mercado de trabalho.

Entretanto, alguns desafios necessitam ser observados quando o tema empregabilidade

envolve a inclusão da população negra brasileira no mercado de trabalho. Inicialmente, entende-se

por empregabilidade as condições subjetivas da integração dos sujeitos à realidade atual dos

mercados de trabalho. Além da capacidade de integração, também a empregabilidade está

relacionada ao poder que as pessoas possuem de negociar sua própria capacidade de trabalho,

segundo Machado (1998 apud BALLASSIANO; SEABRA E LEMUS, 2005, p. 36).

Na visão de Leite (1997, p. 64) o conceito de empregabilidade é entendido como a

capacidade da mão-de-obra de se manter empregada ou encontrar novo emprego quando demitida.

Na visão de Leite (1997) a empregabilidade tem seu foco no fato de que o desemprego tem como

causa a baixa “empregabilidade” da mão-de-obra, e que esse fato acontece em função da falta de

adequação às exigências do mercado.

Neste sentido, na visão de Hirata (2003), embora mudanças e continuidades coexistam, o

deslocamento hoje na fronteira entre masculino e feminino deixa intacta a hierarquia social que

confere superioridade ao masculino, hierarquia na qual se assenta a divisão social do trabalho.

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Enquanto a conciliação entre a visa profissional e a vida familiar, trabalho assalariado e trabalho

doméstico for delegado exclusivamente as mulheres, as bases em que se sustenta essa divisão

sexual não parecem estar afetadas nos seus julgamentos.

EMPREGABILIDADE FEMININA NEGRA

A crise econômica no Brasil, em seu panorama recente, gerou uma grande perda de emprego

e fez crescer os indicadores de desenvolvimento e captação de mão de obra no mercado de trabalho.

Conforme Foguel e Franca (2018) a taxa de desemprego cresceu mais de 6.6 percentuais e a parcela

de pessoas em busca de trabalho cresceu 5.5 pontos percentuais entre o segundo trimestre de 2014

e o terceiro trimestre de 2017. Segundo o Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em

suas mais recentes estatísticas, o desemprego vai a 13,1% e é o maior desde maio de 2018; 13,7

milhões não têm emprego. O índice subiu em relação ao trimestre anterior (11,8%), mas caiu na

comparação com o mesmo trimestre do ano passado (13,7%). Segundo o IBGE (2018) o número

de desempregados no Brasil nos três primeiros meses de 2018 foi de 13,7 milhões de pessoas.

As mulheres representam 42% da população economicamente ativa do Brasil, sendo mais

escolarizadas que os homens e sua média de participação é de 50,3%, e ainda persistem muita

desigualdade nas faixas superiores de escolaridade, portanto a taxa de desemprego das mulheres é

significativamente mais alta que a dos homens como bem resgata Abramo (2007).

Estes números são impactantes e revelam o momento de crise econômica e social na qual o

Brasil mergulhou recentemente. Para Foguel e Franca (2018) essas variações nos indicadores

agregados de desemprego, no entanto, tendem a encobrir importantes diferenças entre distintos

grupos de trabalhadores às mudanças das condições da economia. Em particular, os efeitos da

recessão recente podem ser bastante heterogêneos para homens e mulheres, brancos e negros,

jovens e adultos e trabalhadores mais e menos qualificados.

E tomando por base os dados constantes da análise da Pesquisa Nacional por Amostra de

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Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no

período entre o primeiro trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2018, disponíveis no site

institucional da pesquisa, constata-se que Entre os grupos de sexo/cor, as mulheres negras

experimentaram o maior aumento absoluto na taxa de desemprego (8 p.p, representando uma taxa

80% maior que antes do início da recessão), ao passo que o menor aumento foi para os homens

brancos (4,6 p.p., ou 99% em termos relativos).

Quanto às áreas em que esta empregabilidade se reflete, não há dados disponíveis,

específicos à área de Administração, foco deste trabalho. Mas pode-se inferir que, à medida que a

captação pelo mercado, de mão de obra de mulheres negras tenha sido menor, consequentemente

a captação das profissionais desta etnia na área da Administração, também tenha se refletido menos

intensa.

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NA UNIPAMPA

O curso superior em Administração da Unipampa é um dos resultados de uma

política pública de Estado, objetivando impulsionar o desenvolvimento da Metade Sul do Rio

Grande do Sul que, conforme o constante no Projeto Pedagógico do Curso, é uma região com

críticos problemas sócio econômicos, inclusive de acesso à educação básica e à educação superior.

A vinda da Unipampa para a região da fronteira oeste do Estado buscou contribuir para a integração

e desenvolvimento da região fronteiriça com o que pode ser constatado pela presença de alunos

procedentes do país vizinho, Uruguai.

O curso em Administração foi reconhecido pela Portaria n° 1.148, de 20 de maio de

2011, publicado no Diário Oficial da União em 23 de maio do mesmo ano, enquanto as atividades

acadêmicas tiveram início antes, ainda em 2006, contando na época com sete docentes, onze

técnicos e cem aluno. Atualmente a graduação em Administração conta com um corpo docente de

quinze professores, sendo sete deles doutores, sete mestres e uma especialista e oferece duas turmas

anuais de cinquenta vagas cada uma.

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MULHERES NA ADMINISTRAÇÃO

A temática de gênero dentro da área da Administração ainda carece de robustez de

estudos. Para se ter uma noção desta carência, os portais institucionais do Conselho Federal de

Administração (CFA) e do Conselho Regional de Administração do Rio Grande do Sul (CRA/RS)

em seus respectivos links que disponibilizam artigos acadêmicos na área, não possuem, nenhum

deles, um artigo que aborde a questão de gênero e tampouco sobre a presença da mulher negra na

Administração.

É encontrado sim, no site institucional do CRA/RS, uma matéria informativa

especial, dedicado ao dia 08 de março, como Dia Internacional da Mulher e nele, a matéria aborda

o reconhecimento feminino no desenvolvimento sócio econômico em várias esferas da sociedade.

O texto dá voz a Conselheira do CRA/RS, e presidente da Associação dos Profissionais e Empresas

de Administração do Rio, que manifesta que as mulheres têm ocupado cada vez mais espaço dentro

da Administração.

No mesmo texto institucional consta ainda que de acordo com a Pesquisa Nacional

do Perfil do Administrador, realizada pelo CFA, 39,5% dos profissionais da categoria no Rio

Grande do Sul são mulheres, enquanto 60,5% são homens. Consultada a base de dados desta

pesquisa, realizada pela Fundação Instituto de Administração, em 2015, é possível constatar que

no Brasil, no ano da aplicação do instrumento, existiam 35,58% de administradores mulheres e no

Rio Grande do Sul o número constante era os 39,53% já mencionados pelo CRA/RS.

No município de Sant'Ana do Livramento, onde fica o campus da Unipampa que

possui o curso Superior em Administração, não há mapeamento pela Delegacia Regional de

Administração quanto aos números de administradoras negras registradas, mas considerando o

número de alunas egressas do curso na instituição pública de ensino, estima-se que sejam um

número muito pequeno.

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METODOLOGIA

O presente estudo do ponto de vista metodológico se baseou em dois procedimentos, a

pesquisa bibliográfica através de livros, artigos, dissertações, sites institucionais disponíveis na

web sobre a problemática abordada e realização de entrevistas semiestruturadas, junto as estudantes

autodeclaradas negras ou pardas, estudantes ou egressas do curso Superior de Administração da

Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).

O caráter da pesquisa é exploratório, uma vez que foram encontrados poucos estudos

sobre a temática na área da Administração.

Os dados qualitativos produzidos nesta pesquisa decorrem da pretensão de se

investigar a presença e trazer à tona o perfil de mulheres negras estudantes ou graduadas integrantes

do corpo discente do curso superior em Administração, na medida em que busca averiguar a

percepção destas pessoas com relação as situações de discriminação e preconceito racial no

ambiente acadêmico e a percepção quanto a sua inserção ou não no mercado de trabalho para o

qual foram preparadas.

Construir o perfil das mulheres negras egressas do curso de Administração é importante,

uma vez que são elas as mais suscetíveis as desigualdades de gênero e sua intersecção com o

racismo, entendendo este como um sistema de opressão que privilegia um grupo racial em

detrimento de outro, como bem explica Ribeiro (2018, p.72).

Para atender os objetivos propostos no estudo, de caráter exploratório e descritivo, foi

adotada a abordagem qualitativa de Método Estudo de Caso. A pesquisa qualitativa responde a

questões muito particulares, diz Minayo (2016, p. 20). Ela se ocupa dentro das Ciências Sociais,

com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das

atitudes, articula a autora, lembrando que a abordagem qualitativa se aprofunda num mundo de

significados. E esse nível de realidade não é visível, precisa ser exposto e interpretado, pelos

próprios pesquisados em primeira instância e em segunda, por um processo compreensivo e

interpretativo contextualizado (MINAYO, 2016, p. 21).

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SUJEITOS DA PESQUISA

Foram contatadas por e-mail, a partir de uma lista fornecida pela Secretaria Acadêmica da

Unipampa, o total de 44 estudantes de Administração que se identificaram como afrodescendentes.

Destas quarenta e quatro mulheres, após inúmeros convites e tentativas de participação na pesquisa,

seis estudantes de Administração de etnia negra efetivamente participaram do estudo.

Como não houve inicial receptividade quanto as entrevistas presenciais, as participantes

receberam por e-mail, um link para responderem a um formulário do Google Drive, com quatorze

perguntas abertas e quatro perguntas direcionadas à identificação de perfil das respondentes, além

disso as entrevistadas foram recebidas numa sala da IES para uma conversa, na qual externaram

suas percepções sobre o tema.

Estas seis estudantes negras, egressas do curso superior em Administração, ao atenderem o

convite para participar, externaram suas percepções objetos deste estudo.

RESULTADO DA PESQUISA

Quanto ao perfil das pesquisadas, relacionado à faixa etária, foi possível identificar que

duas respondentes têm trinta e um anos de idade, uma quarenta e quatro, uma tem trinta anos, uma

vinte e sete e uma, vinte e cinco anos. Quanto à formação, cinco concluíram o curso de

Administração e uma revelou ser cursanda de Pós-graduação, mas não revelou em qual

especialização e uma delas revelou possuir duas graduações completas. Quanto ao local onde

vivem, 66,7% disse estar em Sant’Ana do Livramento, cidade do curso da Unipampa e 33,3%

afirmaram morar em outra cidade.

Questionadas quanto à percepção da presença da mulher no mercado de trabalho, as

entrevistadas afirmaram que acreditam que veem a presença das mulheres crescerem, porém não

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na área da administração. A entrevistanda E6 demonstrou falta de perspectiva ao se manifestar

assim:

“Somos mais respeitadas, mas ainda precisamos provar que não estamos apenas para

tornar o ambiente mais "bonito". É uma luta diária. Os filhos geralmente veem a mulher

mãe como autoridade a qual seguem sem questionar. No local de trabalho, mesmo

demonstrando competência, certeza e razão, continuamos a ser questionadas, quanto a

nossa capacidade, conhecimento... Precisamos ser sempre mais” (E6).

Quanto ao questionamento se as mesmas acompanhavam o mercado de trabalho feminino

na área da administração, as respondentes colocaram que veem melhor receptividade do mercado,

principalmente na área de recursos humanos e atenção ao cliente. Questionadas quanto aos motivos

que as levaram a cursar Administração, uma delas revelou que foi a administração quem a escolheu

e não o contrário. As entrevistas E3 e E4 revelaram que o curso as atraiu por quererem montar

microempresas, E2 disse que foi o curso que melhor se enquadrava nas suas perspectivas de futuro

e E6 disse ter cursado para complementar o conhecimento de uma graduação anterior, em outra

área.

Com relação a etnia negra e se este fato afetou de alguma forma seu relacionamento com

os colegas de graduação ou professores da grade curricular, todas foram unanimes em afirmar que

o fato de serem negras não mudou em nada seu relacionamento com os demais. Mas neste quesito

E4 fez uma ressalva ao afirmar que:

“Este fato não afetou meu relacionamento durante o curso. Mas acredito que de algum

jeito nós negros sempre temos a tendência ao esforço maior seja para apresentar trabalhos,

provas, pois sempre temos que provar que somos "bons", não sei se isso é um fator

psicológico ou até cultural, mas sempre temos que mostrar para os demais que podemos

conquistar espaços (E4).

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Esta manifestação acima revela que, embora não houvesse situações de discriminação ou

racismo entre colegas em função da etnia da respondente, ele sente sobre si a cobrança em executar

os trabalhos e ter rendimento superior aos demais, como se isso fosse um pré-requisito para

ocupação dos espaços no mercado.

Quanto ao questionamento sobre se elas entendiam que a etnia influenciava na inserção no

mercado de trabalho como administradoras graduadas, todas as seis respondentes afirmaram que

sim, acreditam que o fato de serem mulheres negras influencia no momento do recrutamento para

os cargos pretendidos no mercado de trabalho. A entrevistada E5 manifestou o seguinte

pensamento:

“Sim com certeza, entre um chefe olhar pra mim negra e outra colega branca por mais que

não tenha as mesmas qualificações ele irá olhar para um estereótipo e querer esta pessoa

na empresa. Existem pesquisas que se referem a isso, mais uma questão cultural, pois a

questão do negro está marcado na pele é visual “(E5).

Perguntado às estudantes se elas exerciam alguma atividade profissional e se esta, em caso

positivo, estava ligada à área de administração, quatro firmaram estar trabalhando, porém nenhuma

das quatro na área da administração, uma é professora de idiomas, uma atua na área de serviços e

duas são servidoras públicas, uma escriturária e outra na área de administração. As duas demais

afirmaram estar fora do mercado de trabalho, dedicando-se aos estudos. Também foi perguntado

se elas tinham sido vítimas de discriminação ou preconceito em função de gênero ou raça, ou

ambas, no ambiente acadêmico ou profissional, no que as entrevistadas E1 e E5 afirmaram já terem

passado por situações discriminatórias em ambiente de trabalho. Uma delas, E1 afirmou ter sofrido

preconceito quando trabalhou como atendente de farmácia, ao atender em balcão, mas não detalhou

a situação vivenciada.

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Finalmente, ao serem questionadas quanto as estatísticas que revelam a subutilização de

mão de obra feminina negra nos espaços de trabalho, como elas se sentiam em relação ao fato, as

manifestações foram sensíveis a situação, com os seguintes relatos de E1 e E5, respectivamente.

“Bem chateada, pois em muitas vezes meu currículo é bem melhor do que outras pessoas

que tem apenas o ensino médio completo, porém não são negras. E dentro das

organizações as pessoas não estão valorizando financeiramente como deveriam (E1).

Sinto-me impotente, e tenho a todo o momento provar que sou uma boa profissional, ter

o peso de não poder errar entre outras coisas, mas também tenho que lutar de alguma

forma para que as coisas mudem (E5).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo de propôs a analisar a presença e conhecer a percepção da

empregabilidade das estudantes negras dos Cursos de Administração da Universidade Federal do

Pampa. Com a constatação baseada nas estatísticas do IBGE e IPEA, que sinalizam a escassa

presença de mulheres de etnia negra no mercado de trabalho e especificamente nos cargos em que

exigem curso superior, foram convidadas a participar do estudo quarenta e quatro mulheres

egressas do curso de Administração.

Após várias insistências, seis mulheres atenderam ao convite, respondendo aos

questionamentos da pesquisa. Através de suas participações foi possível inferir que, o ambiente

acadêmico não ofereceu situações de discriminação ou racismo as estudantes, embora uma tenha

alegado sentir mais necessidade de mostrar melhor rendimento que as demais. As respondentes

possuem qualificações em outras áreas, principalmente magistério e não atuam em ambientes

empresariais, mas sentem que há uma rejeição no ambiente empresarial quando da captação de

profissionais para o mercado de trabalho, com recorte de gênero e etnia, embora elas defendam que

o fato de serem afrodescendentes não interfere em nada no rendimento profissional ou tenha relação

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com a capacidade intelectual.

As manifestações das respondentes vão ao encontro das inúmeras pesquisas e

estatísticas já publicadas, de que embora cada vez mais qualificada, a força de trabalho feminina

negra é subutilizada pelo mercado, não sendo absorvida pelas empresas em seus processos de

seleção. E ainda exemplificam a presença de manifestações discriminatórias em ambiente

acadêmico, com mais especificidade no curso de Administração, o que ocorrobora a fala de Ribeiro

quanto ao racismo que consiste num sistema de opressão que privilegia um grupo racial em

detrimento de outro.

Nos grandes centros esta é uma realidade ainda mais excludente, que vem sendo

combatida por organizações como o Instituto Ethos e o próprio Ministério Público do Trabalho,

que possui em seus organismos, ferramentas de conscientização para inclusão de mulheres negras

no mercado profissional.

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